Rafael Gabriel Assis As formas de transmissão da cultura: Itão Kuegü: As Hiper Mulheres Título do filme - Itão Kuegü: As Hiper Mulheres (2011) 2. Ficha técnica Coloco as equipes em ordem alfabética, como foram diagramadas no filme. Roteiro: Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro Direção: Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro Direção de fotografia: Takumã Kuikuro Fotografia e som direto: Mahajugi Kuikuro, Munai Kuikuro, Takumã Kuikuro Edição: Leonardo Sette Produção executiva: Carlos Fausto, Vincent Carelli. Co-produtoras: Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu (Aikax), Coletivo Kuikuro de Cinema, Museu Nacional (UFRJ) e Video nas Aldeias Edição de som e mixagem: Carlos Montenegro (estúdio Carranca) e Leonardo Sette Trilha sonora: Mulheres Kuikuro Colorista: Daniel Leite Finalização: CineLab
3. Informações gerais sobre o filme: O filme é co-dirigido por Takumã Kuikuro, indígena da tribo retratada (os Kuikuro), o antropólogo Carlos Fausto e o oficineiro formado no Vídeo nas Aldeias, Leonardo Sette. Desde as interações com o projeto Vídeo nas Aldeias, se instituiu um contexto de produção videográfica e um coletivo no ambiente dos Kuikuro, que produziram “O dia em que a lua menstruou”, de 2004, “Cheiro de pequi”, de 2006, e “Porcos Raivosos”, de 2012. Takumã passa a ser reconhecido internacionalmente e visto como cineasta entre os pares. Faz os filmes “Karioka”, de 2015, e “London as a village”, de 2015, como produtos dessas experiências formativas no Rio de Janeiro e Londres. A sinopse do filme é: “Com receio que sua esposa já idosa venha a falecer, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar mais uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.”
Itão Kuegü: As Hiper Mulheres foi um filme bastante estudado. Entre os campos que situam artigos sobre o filme, cito a antropologia e a comunicação social como os campos com maior número de estudos. Referências importantes podem ser as culminâncias de mestrado em comunicação social: BELISÁRIO, Bernard Pêgo. As hipermulheres: cinema e ritual entre mulheres, homens e espíritos. 2014. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais. BANDEIRA, Philipi Emmanuel Lustosa. Documentário radical ou a ficção como colaboração: invenção, disjunção e cinema compartilhado: devir e cosmovisão em As Hipermulheres. 2017. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.
Sobre o contexto de produção em que a obra se deu e que citam a obra, uma referência interessante pode ser a culminância de mestrado em antropologia: SERBER, Luiza de Paula Souza et al. Regimes de produção e circulação imagética no Território Indígena do Xingu. 2018. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. Alguns prêmios e participações que o filme obteve: – 39° Festival de Gramado, 2011 – Kikito Especial do Júri e Kikito de Melhor montagem (Leonardo Sette) – 44° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 2011 – Candango de Melhor Som (Mahajugi Kuikuro, Munai Kuikuro, Takumã Kuikuro); – Festcine Goiânia, 2011 – Prêmio de melhor longa-metragem documentário;– Janela– Mostra do Filme Etnográfico (RJ), 2011 – Filme convidado – Fora de Competição; – International Film Festival Rotterdam – Official Selection (Bright Future section), 2012; – Cinélatino 24ème Rencontres de Toulouse, 2012; – Festival EDOC, Equador, 2012; – 30th International Film Festival Uruguay, 2012; – BAFICI, Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente, Argentina, 2012; – Olhar de Cinema, Curitiba, 2012 – Prêmio de Melhor Filme (Júri oficial), Prêmio da Crítica – Associação Brasileira do Críticos de Cinema (Abraccine) e Prêmio do Público, junho, 2012; – Hollywood Brazilian Film Festival, junho, 2012 – Prêmio de Melhor Longa-metragem Documentário; – FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental, Goiania, 2012 – Prêmio de melhor filme pelo Júri Popular e Troféu Imprensa; – V Festival de Cinema de Triunfo, Prêmio Menção Honrosa, agosto, 2012. – World Cinema Amsterdam, agosto, 2012 – VLAFF – Vancouver Latin American Film Festival, setembro, 2012 – Prêmio Al Jazeera de Melhor Documentário; – Australian Anthropology Society Conference, setembro, 2012; – Rencontres Internationales du Documentaire de Montréal, Seleção Oficial em Competição, novembro, 2012; – Festival Filmar en América Latina, Genebra, Suíça; – Leeds International Film Festival, Reino Unido, novembro, 2012. 4. Trabalho de Análise: 4.1.Descrição : Como escolhi um longa, coloco a decupagem não por cena ou sequência, mas por modo. Isso quer dizer que se várias cenas estiverem seguidas e forem de um mesmo modo serão agrupadas junto e será totalizada pelo modo documental, como em Nichols (2010). 1 00:00:00 --> 00:07:07 Observativo 2 00:07:07 --> 00:08:39 Participativo
3 00:08:39 --> 00:09:34 Observativo 4 00:09:34 --> 00:11:18 Performático 5 00:11:18 --> 00:12:34 Observativo 6 00:12:34 --> 00:13:15 Performático 7 00:13:15 --> 00:14:04 Observativo 8 00:14:04 --> 00:16:42 Performático 9 00:16:42 --> 00:21:25 Observativo 10 00:21:25 --> 00:24:51 Participativo 11 00:24:51 --> 00:31:03 Observativo 12 00:31:03 --> 00:36:27 Performático 13 00:36:27 --> 00:39:15 Observativo 14 00:39:15 --> 00:41:48 Performático 15 00:41:48 --> 00:44:58 Observativo 16 00:44:58 --> 00:46:13 Performático 17 00:46:13 --> 00:47:03 Observativo 18 00:47:03 --> 00:47:27 Participativo 19 00:47:27 --> 00:47:54
Observativo 20 00:47:54 --> 00:48:13 Participativo 21 00:48:13 --> 00:48:25 Performรกtico 22 00:48:25 --> 00:48:43 Participativo 23 00:48:43 --> 00:48:53 Observativo 24 00:48:53 --> 00:49:19 Participativo 25 00:49:19 --> 00:50:51 Observativo 26 00:50:51 --> 00:51:10 Performรกtico 27 00:51:10 --> 00:52:11 Observativo 28 00:52:11 --> 00:55:17 Participativo 29 00:55:17 --> 01:07:58 Observativo 30 01:07:58 --> 01:13:04 Performรกtico 31 01:13:04 --> 01:13:13 Observativo 32 01:13:13 --> 01:13:55 Performรกtico 33 01:13:55 --> 01:14:01 Observativo 34 01:14:01 --> 01:14:29 Performรกtico 35 01:14:29 --> 01:14:42 Observativo 36
01:14:42 --> 01:15:12 Performático 37 01:15:12 --> 01:16:28 Observativo 38 01:16:28 --> 01:17:23 Performático 39 01:17:23 --> 01:19:18 Expositivo 4.2.Reconstrução: O filme narra a história da construção de um ritual feminino entre os Kuikuro, no Alto Xingu. Ele se inicia com o pedido para que um homem mais jovem auxilie na organização, quando a única mulher que sabe todas as músicas não está bem de saúde. Os recursos na tribo são todos envolvidos, desde os que envolvem saúde, comida, indumentária e os ensaios. O filme tem seu auge na grande performance do ritual e a cena final é a de uma mulher mais velha da tribo transmitindo músicas a uma mais nova com as duas cantando juntas. Estudos sobre a obra podem se enquadrar nos campos da etnologia indígena, de forma mais ampla, além de antropologia do corpo, do ritual, da performance e do gênero. Além dos papéis sexuais de homens e mulheres distintos nas atividades da aldeia e no ritual, aparecem no filme interações com paródias das músicas do ritual em que mulheres brincam com os homens desqualificando aspectos da sexualidade e eles também criam suas versões para retribuir a brincadeira. O filme tem performances impactantes e significativas para a narrativa do filme, tanto nos momentos de ensaio e transmissão, quanto no próprio ritual. Assim, a característica de documentário performático do filme tem um grande relevo, compondo mais que um quarto das cenas, em tempo. A experiência sensível e os afetos ao longo do filme são muitas vezes envolvidas pelos cantos, sons de contas e batidas dos pés, mas ocasionalmente, até o ritmo da enxada trabalhando entra na performance-ensaio. Por outro lado, a característica observativa no filme é, em tempo, o dobro do modo performático e as cenas de interação entre os Kuikuro são extremamente chamativas e envolventes para a representação do mundo que o filme constrói. Além disso, um dos dilemas da análise envolveu muitos momentos de transmissão dos cantos, que penderam todos para o modo performático na análise (já que em muitos casos a transmissão é igual a um entoar junto). Eles poderiam ser analisados com ênfase na interação entre as mulheres da tribo, o que enquadraria as cenas mais no modo observativo do documental, tornando ainda maior o tempo observativo em comparação ao tempo performático. Assim, o modo observativo é o modo predominante no documentário. Um aspecto chamativo dessa característica observativa é o modo como várias cenas-encenações são construídas para estruturar a narrativa documental. Assim, a câmera muda de lugar por meio de um corte, mas o diálogo é fluido como se houvesse uma pausa entre as interações para a nova posição da câmera. Ao mesmo tempo, algumas interações se estruturam para produzir conteúdo para o filme, encenadas mesmo para compor a narrativa, e que nem por isso retiram o caráter documental do filme. Assim, a narrativa envolve um contar através de cenas filmadas num modo teatralizado de transmissão do mundo histórico em várias cenas.
Entendo observação não como uma observação antropológica, mas um modo fílmico que pode estar em oposição ao participativo porque os diretores ou equipe não participam da ação no filme. Eles não dialogam, interagem ou performam no filme, salvo em curtíssimos momentos. Apesar disso, aquilo que se dá no filme é atravessado pela sua interação e a intervenção da equipe resulta no filme e, dessa forma, pode ser notada.