VILELA (2020) Paulicéia Periférica - Análise Fílmica

Page 1

Análise Fílmica Paulicéia Periférica 1. FILME: Cinema de quebrada 2. FICHA TÉCNICA: NTSC, cor, 47 min, 2008 Direção, pesquisa e fotografia: Rose Satiko Gitirana Hikiji Roteiro e montagem: Karine Binaux Teperman Trilha original e design sonoro: Ewelter de Siqueira e Rocha Finalização: João Paulo de Sena Produção: Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA-USP) DIREÇAO: Rose Satiko Gitirana Hikeji Professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo 3. Informações sobre o filme: O documentário foi produzido no Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA-USP), a partir do projeto de pesquisa: imagens compartilhadas – o audiovisual na pesquisa com jovens artistas das periferias metropolitanas . Teve financiamento da FAPESP dentro da linha temática: "Alteridades, expressões culturais do mundo sensível e construções da realidade" 4. Trabalho de Análise: 4.1 DESCRIÇÃO: Cinema de quebrada é um documentário protagonizado por um grupo de jovens da periferia, na trama eles narram as condições do fazer cinematográfico nas regiões pobres de São Paulo: Jardim Ângela, Parque Santo Antônio e Capão Redondo. Com diferentes estratégias a diretora, Rose Satiko, nos mostra o discurso desses jovens. Ela se utiliza de trechos de produções audiovisuais, de registros de oficinas, de reuniões e até mesmo de uma observação do cotidiano deles. As entrevistas não seguem um padrão estético, alguns entrevistados estão dispostos em suas casas, na rua, em locais fechados (tipo teatro) e em centros culturais. O que interliga essas entrevistas é o fio narrativo: o engajamento cultural desses atores sociais. De modo geral todos os jovens questionam como a periferia é representada no cinema e contestam o imaginário de que lá só tem drogas e violências. Com isso, eles trazem ao debate como o cinema pode ser importante para construir um olhar critico sobre a realidade deles e também para fortalecer sua identidade. A representatividade é a motivação principal desses jovens, eles querem fazer sua própria xuxa, com suas próprias câmeras, mostrando seu olhar sobre a periferia. Também reivindicam que seus filmes sejam vistos por toda comunidade e relatam as dificuldades de acessar uma sessão cinematográfica nesses espaços. A construção da montagem leva-nos também a perceber como é difícil viver de cinema, quando se é da


periferia. Ao que parece o filme não é apenas sobre eles, mas também é feito com eles. Um cinema engajado mesmo, feito de modo compartilhado. A partir da reflexão de Nichols (2010) pode-se observar que esse filme tem diferentes nuances, em alguns momentos ele é poético, em outros observativo, mas o modo predominante é o participativo. De forma indireta é possível notar a participação do entrevistador, no caso da equipe da Prof. Rose Satiko, seja nos saraus, nas entrevistas e no cotidiano dos jovens, há uma agencia dessa equipe que mobiliza o desenvolvimento dos diálogos e da performance diante da câmera. 09:02 Nessa cena, em plano médio, podemos notar a presença indireta do entrevistador realizando as perguntas:

19:53 A partir dos dez primeiros minutos começam a ter mais cenas em primeiro plano, talvez seja um modo de aproximar o expectador. Através delas também podemos notar a participação da direção na condução das perguntas. Aqui claramente Vanice, a entrevistada, está olhando para o entrevistador:

20:03 Com esse plano geral é possível perceber que a equipe está querendo fornecer detalhes do cotidiano de Vanice, também podemos inferir que eles estão participando dessa ´´observação´´, pois as pessoas que descem a escada olham para a câmera. Revelando que há mais alguém alí.


21:03 Aqui, nesse plano detalhe, Vanice está mostrando (ao entrevistado) como é difícil produzir um filme na periferia. Essa aproximação com o objeto, (a câmera) nos mostra a relação afetiva que ela possui com essa atividade. Há também uma composição visual entre as cores da cena, que são construídas com o tom pastel do tapete e o caramelo do cabelo da personagem, harmonizando com os tons terrosos da fotografia do documentário.

21:05 há vários trechos observativos mostrando as diferentes configurações urbanas, que contrastam a cidade, com o intuito de revelar o hiato que há entre o centro e a periferia. Essas cenas funcionam como planos de passagem, entre uma entrevista e outra ou quando um entrevistado se refere a algum aspecto da cena.

Quando o entrevistado comenta o significado da ponte como uma fronteira entre o centro e a periferia, essa cena aparece. Ela é uma passagem para o que é o próximo ato do filme, que é mostrar o cotidiano de um jovem que cruza a ponte.


32:45: Para trazer a ideia de movimento, esse plano médio mostra uma das jovens entrevistadas dentro do metrô. Indo para o centro. A janela ganha ênfase devido ao foco da luz no céu azul, de modo que os demais elementos da cena ficam sombreados. Da jovem só é possível ver sua silhueta.

44:29 o filme termina com um plano sequência mostrando o término de uma sessão que aconteceu na praça. A câmera passeia da tela, sendo desmontada, até o público, mostrando-nos a dispersão dos espectadores.

4.2 Reconstrução: a) O filme pode servir como fonte de dados etnográficos para o campo da antropologia urbana, da antropologia do consumo e da antropologia do cinema. Há o registro de um momento histórico em um campo de pesquisa muito específico, a partir do filme pode-se observar as diferentes cidades que compõe a grande São Paulo, ou melhor, a Paulicéia marginalizada, narrada por ela mesmo e falando da sua relação com o centro. Outro aspecto importante que o filme mostra é a relação desses jovens com o cinema, como eles consomem esse bem simbólico. E o terceiro ponto é sobre as produções audiovisuais feitas por esses


jovens, poderíamos afirmar que dentro do campo cinematográfico são produções contra hegemônicas. b) os dados etnográficos são mostrados através das entrevistas, dos trechos dos filmes feito pelos jovens, dos planos realizados nos bairros, dos diálogos observados nas reuniões, nas sessões de cinema. Desse modo, os dados podem ser extraídos tanto da visualidade que as cenas propiciam, mas também através da narrativa que é mostrada ao espectador. c) Classifico o documentário como participativo, pois é a presença ativa da diretora e sua equipe que conduz a narrativa. Mesmo ela não estando em cena, é possível notar sua presença . O filme também possui alguns trechos de observativo, através das tomadas longas nas localidades, é como se fosse´´ a observação espontânea da experiência vivida´´; e Poético ao mostrar algumas intervenções artísticas, e ´´enfatizar mais o estado de animo, o tom e o afeto do que as demonstrações de conhecimento ou ações persuasivas´´ .


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.