Revista Bá número 3

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POR

MARIANA BERTOLUCCI

AGOSTO/SETEMBRO – 2013 – R$ 7,00

CARLOS ARAÚJO O advogado, ex-deputado e ex-marido de Dilma Rousseff fala de juventude, amor e revolução

MODA Tricot, simbiose e cor

JULIA ROBERTS Uma linda, autêntica e talentosa mulher

LUIZ CORONEL “Somos um estado ao Sul de si mesmo. Somos estranhos e nos gostamos assim”.








sumário

VEM PRA BANCA!!! Bá... E o Junho de 2013 com cara de Maio de 1968 não passaria batido nas páginas desta publicação bimestral que quer ser lida por você, que ouvia o que acontecia no mundo pelo rádio em 1968, que pintou a cara em 1992 e que correu do Facebook para a rua agora há pouco. Por isso Carlos Araújo é a capa desta Bá 03. Com o prazer maduro de quem é feliz dividindo pedaços da própria vida, o advogado gaúcho, ex-deputado e ex-marido da presidente da República, Dilma Rousseff, abriu com exclusividade para a Bá sua residência debruçada no Guaíba. Recordou os tempos menos transparentes e reviveu a própria juventude, que também encheu as ruas de pernas para mudar o país. Prestes a entregar a chave da Feira do Livro de Porto Alegre para o próximo patrono, um encantador e encantado das palavras Luiz Coronel nos abre seu doce, leve e peculiar universo. O passeio desta edição ainda inclui o colorido e energético Caminho da Serpente da artista Claudia Sperb, em Morro Reuter, e a história de Zé Ricardo, tanto cativante quanto talentoso músico e artista carioca, responsável pela criação e curadoria do Palco Sunset do Rock in Rio. As Patrícias nos presenteiam em dose dupla: com um primoroso texto da estilista Isabela Capetto e um lindo editorial com a última coleção de Lino Villaventura, que migrou direto das lentes da Alfaiate Filmes para as páginas da Bá. Vem pra banca!

12 ENTREVISTA CARLOS ARAÚJO

editorial

Motor da história paixão, juventude e revolução Mariana Bertolucci

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O caminho colorido das almas

A régua do coração e outras palavras

Editora: Mariana Bertolucci Projeto e ExecuÇão: TAB Marketing Editorial www.tabeditora.com.br

APOGEU DO CRIADOR

FLORIANO SPIESS

Dos tatames às panelas

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A NOÇÃO DA IMPERFEIÇÃO

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Diretoria: Mariana Bertolucci mail: mariana@revistaba.com.br Simone M. Pontes mail:simone@tabeditora.com.br

Consultor Executivo: Eugenio Correa Editora de Moda: Isadora Bertolucci Marketing e Eventos: Denise Dias Tel: (51) 9368.4664 Mail: denise@revistaba.com.br Comercial: Lucas Pontes JC Comunicacoes Tel: (51) 3332.3994 - 9309.1626 Mail: atendimento@ jccomunicacoes.com.br

“Tudo na vida tem sua casinha”

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Tramas e cores para o frio

MODA TRICOT, SIMBIOSE E COR

VOZ QUE VEM DAS VÍSCERAS

LINDAMENTE DESCOMBINADO

Revisão: 3GB Consulting

Tocando para alimentar o fogo

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Colunistas: Aline Matias Ana Mottin Andréa Lopes André Ghem As Patricias Cristie Boff Cláudia Coutinho Claudia Tajes Fabiana Fagundes Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro e Carol Zanon Lívia Chaves Barcellos Marco Antonio Campos Mauren Motta Orestes de Andrade Jr. Pati Leivas Silvana Porto Corrêa Vitor Raskin Impressão:

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GRÁFICA EDITORA

imprimindo inovação


colaboradores

C

AndrĂŠ Cavalheiro

Raul Krebs

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

Ricardo Laje

Tonico Alvares

A gente agradece os cliques! 10 |


AO

NO ESCURO R A C I F R UE EM MAIS Q U G N I N Z U A L ENXERGAR

A SIMPLICIDADE E O ULTIMO GRAU DE SOFISTICACAO

LUZESDOMUNDO.COM.BR

(51) 3333-0032

PORTO ALEGRE

RS


capa

MOTOR DA HISTÓRIA Fotos Tonico Alvares

Um dos símbolos da luta contra a ditadura brasileira, Carlos Araújo lembra sua trajetória política ao lado da eterna parceira e ex-mulher, Dilma Rousseff. À frente do escritório de advocacia da família na capital gaúcha, ele é companheiro de Ana, pai de Leandro, Paula e Rodrigo, e avô de Gabriel. Foi antes mesmo de aprender a caminhar, ainda na cidade natal, que Carlos Franklin Paixão Araújo percebeu algo misterioso nas conversas do pai. Carlos é o mais velho dos três filhos do advogado comunista Doutor Afrânio com a católica Dona Marieta. Quando o Partido Comunista foi cassado, tinha 9 anos, e já naquela época o guri só pensava em ser igual ao pai. A casa em que nasceu, em São Francisco de Paula, serviu de esconderijo ao comunista Luiz Carlos Prestes. Foi uma infância arteira e feliz nos altos de cima da Serra. Ele cresceu respirando revolução e sonhando entrar na Juventude Comunista. Foi preso pela primeira vez em 1954, em um encontro em Pelotas. Aos 20 anos, com o irmão Luiz Heron, partici-

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pou do Festival da Juventude Comunista na União Soviética, com a cobertura do velho Afrânio, que não pensou duas vezes antes de embarcar os dois filhos na terceira classe de um navio italiano para a primeira experiência longe do Rio Grande do Sul. Charles Chaplin era um dos apresentadores do evento realizado num bairro construído como se fosse uma vila olímpica especialmente para a ocasião, com jovens socialistas e simpatizantes de delegações do mundo inteiro. Em frente ao prédio da delegação americana, Elvis Presley cantava quase todos os dias e juntava uma dúzia de fãs. Mas a confraternização acabou 15 dias depois. Carlos foi parar em Berlim, pois faltavam ainda dois meses para voltar a Porto Alegre. Da

Alemanha, ainda dividida, Paris, onde Jorge Amado, que também era do Partidão, ficou de ajeitar um lugar para eles. “Jantávamos sempre no mesmo restaurante uns vários dias, convidados pelo Vinicius de Moraes, que conhecemos então secretário da embaixada brasileira”, conta, lembrando-se da comida modesta, do vinho marroquino e da companhia agradável. O período parisiense incluiu ainda a amizade com uma das cantoras líricas mais importantes da época, a peruana Yma Sumac, forçada pela CIA a casar-se com um agente secreto, para ser vigiada. “Nos conhecemos em Berlim, ela tinha turnê na L’Opéra de Paris e nos convidou para acompanhá-la a restaurantes e boates, para não precisar aguentar o marido.” A


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intensa temporada europeia dos irmãos Araújo chegou ao fim. Uns dez anos depois, em 1964, toda a família foi presa no escritório de advocacia trabalhista do pai e dos dois filhos, mantido por Carlos até hoje no centro da capital: “O Paulinho, o caçula, que não fazia política, vê os policiais à paisana e de coldre e piora: ‘Agora estão fazendo reunião armada aqui também?’”. Solto, o trabalho político foi em defesa dos trabalhadores: “Sabíamos que tínhamos que fazer alguma coisa, que algo tinha que mudar. Mas não sabíamos bem o quê”, lembra Araújo. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência. Carlos e seus amigos queriam só fazer revolução e reivindicar melhores tempos. Isso numa época em que greves e manifestações eram proibidas e muitos sindicatos estavam sob intervenção. Em pleno decreto do AI-5,

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seu grupo encontrou o pessoal mineiro da organização política Colina com a ideia de unir forças. Foi nesse clima, em um ponto no Rio de Janeiro, que Carlos conheceu Dilma Rousseff. Entre uma reunião e um congresso em Teresópolis, Lamarca interceptava um caminhão com armas, e a turma de Araújo assaltava cofre do Ademar de Barros, influente político e empresário brasileiro da época. Assim formava-se a luta armada brasileira. Carlos e Dilma, que eram “Max” e “Vanda”, apaixonaram-se no segundo encontro. Poucos meses depois, seguiam apaixonados. E presos. Bá – Como eram os primeiros encontros políticos? Araújo – Tinha cursos muito interessantes. Um de marxismo durou 15 dias numa granja em Palmares. Jogávamos futebol, dormíamos no mesmo lugar que

as mulheres, trocávamos de roupas um na frente do outro. Eram as primeiras experiências. Quem queria ficar junto, ficava. A dificuldade era onde. Não tinha motel, e achávamos uns cantos. Descobrimos casas em Porto Alegre que cediam quartos. Geralmente casais mais velhos. Matávamos as primeiras aulas. Às vezes eles recém tinham levantado da cama quentinha para nos dar lugar. Iam para a sala e nos esperavam com café. Era bem interessante aquilo. Bá – Chegando à Europa de navio, o que chamou atenção? Araújo – Quase tudo. No mercado de Dakar, colônia da França, aquelas negras lindíssimas de seios de fora, e era normal. A guia francesa explicou que as casas populares eram redondas porque os negros deixavam muita sujeira nos cantos. Foi a primeira manifestação


de racismo gritante que eu vi. Em Viena, num albergue, um colchãozinho ao lado do outro, com homem e mulher se pelando um na frente do outro naturalmente. Não queríamos passar por ignorantes, mas aquilo para nós era assombroso. Bá – E na União Soviética? Araújo – Entrando na União Soviética, as pessoas nas estações de trem nunca tinham visto estrangeiros antes. Éramos como heróis, nos davam bolos, medalhas, comida, bebida, beijos na boca, que é costume lá. Eram camponeses simples. Em minutos, o trem parava e era tudo de novo. Música, alegria, muito legal aquela festa, mas dali a pouco enchia o saco. Bá – Como foi a sua experiência com as Ligas Camponesas?

Araújo – Eu, o Guazzeli e o Adroaldo Streck fomos convidados pela embaixada de Cuba, em 1960, para visitar o país. Eu, louco para conhecer um movimento de Ligas Camponesas no Nordeste, comandado pelo advogado Francisco Julião, famoso como líder das Ligas Camponesas, um movimento que sacudiu o Brasil em defesa da reforma agrária. Não queria ir a Cuba. Fazer o quê, lá? Meu negócio era no Brasil. Queria fazer revolução. O pai me deu a passagem até o Rio. Pousamos no Nordeste para pegar uns parceiros. Um deles, por uma zebra qualquer, ficou sem lugar, e estava numa discussão horrorosa. Cedi meu lugar, disse que a Cuba não precisava ir, mas que não tinha como voltar ao Rio. “Eu pago a passagem”, dis-

se um cara de papo bom. Não é que era o tal Francisco Julião? Cheguei à casa dele no Recife, chorei. Não tinha porta nem janela. Foi emocionante, conversamos a noite toda, foi uma amizade na mesma hora, e fiquei ali de 1959 até 1961, conhecendo as Ligas da Paraíba. Tudo o que eu queria na vida. Bá – E Che? Como ele era? Araújo – É difícil falar de uma pessoa fascinante. Tu ficas fascinado por ela, o que tu vais dizer? Ele era um pouco agitado, meio nervosinho. Mas calmo quando tinha que ficar calmo. Mui“Na cadeia, a revolução é essa, a revolução teórica entre nós mesmos. A revolução do nosso conhecimento.”

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“O papel de quem faz política é estimular, ajudar e colaborar com o movimento, sem ditar cátedra, sem dizer como tem que fazer.”

to incomodado pela asma, sempre com a bombinha. Bá – O povo ouve o líder ou os partidos? Araújo – Nos países de terceiro mundo, o povo não ouve o partido, ouve o líder. O líder é maior que o partido. Ele comunica mais do que bandeiras e propostas. Por que o Fidel fazia discursos de 14 horas? E [por que] Brizola era outro falador? Chaves dava discursos homéricos. Todo grande líder discursa porque sabe que o povo se educa pelo ouvido e pela repetição. Nos nossos países, não se lê. Dá para falar tudo em uma hora ou repetir os mesmos temas em 20 metáforas em mais de dez horas. É a forma mais fácil para as pessoas que não leem aprender. Bá – O Brizola, um líder centralizando tudo nele, errou?

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Araújo – Não, o exílio fez mal para ele. Ele pegou um brilho da social democracia, principalmente a alemã, que causou prejuízo a sua espontaneidade e intuição. Ficou meio europeu, antagônico ao tipo de líder e à figura dele. Bá – Quando aparecia esse Brizola europeu? Araújo – Quando fazia alianças regionais e não conseguia ampliar para nacionais. Foi criativo na educação, na área agrária, e genial na Legalidade. Bá – E o Jango e o Getúlio? Araújo – Jango fez um decreto que se compara à Carta de Testamento do velho Getúlio, que considero o documento mais importante da história do Brasil. Abafa-se, porque sempre querem abafar o Getúlio. Tudo que tem hoje no Brasil tem o dedo do velho Getúlio. Por que isso não é analisado,

nem difundido? Porque há preconceito dos intelectuais com o getulismo, e os conservadores também não querem ouvir falar. Foi imprescindível para o desenvolvimento social e a cultura daquela geração. Chamou intelectuais para o governo, como Mário de Andrade e Gustavo Capanema. A seu pedido, Portinari e Di Cavalcanti pintaram um Brasil colorido de araras e mulatos. Para Villa-Lobos, ele disse: “Tu vais sair por aí e conhecer o povo e a floresta do Brasil”. Voltou e compôs As Bachianas Brasileiras. Chamou Noel Rosa e Francisco Alves e disse: “Mostrem a música brasileira e o samba aos gaúchos, só tocam aquelas rancheiras. Vão ao Mercado Público e fiquem ali tocando e cantando”. Na boêmia porto-alegrense, a dupla conheceu Lupicínio Rodrigues. Disseram ao presidente: “Não precisamos ensinar ninguém


lá, tem um tal de Lupicínio Rodrigues que é um mestre”. Pensava em todos os detalhes. Quem inventou a Carmem Miranda? Mandou ela se vestir daquele jeito e a colocou dentro de um avião para os Estados Unidos. Como é que pode o cara criar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1937? Depois, no segundo governo dele, cria a Petrobras, a Eletrobras, tudo isso que está aí. Tinha uma cultura vinculada às aspirações do povo. Até o derrubarem, Getúlio foi um artista no meio dessa gente para governar. Bá – E a relação dos dois? Araújo – O grande drama do velho Getúlio foi não ter com quem trocar ideia. Nem os irmãos, nem os filhos tinham tino político. Ele pegou o filho do lindeiro, que era o Jango, e se afeiçoou, viu que ele tinha intui-

ção, era o filho que ele queria ter tido. O Jango novinho ia conversar com ele na fazenda. A partir de um momento, só conversava com o Jango e mais ninguém. Imagina que coisa fantástica ele preparando o Jango e sendo correspondido? Jango foi deputado estadual, depois federal e ministro do Trabalho. Seu primeiro ato foi aumentar em 100% o salário mínimo. Houve um manifesto dos coronéis dando 24 horas para o Getúlio tirá-lo do Ministério. O único manifesto da humanidade contra aumento de salário. Getúlio teve de tirar. Bá – E quando começaram as organizações mais sérias? Araújo – A essas alturas trocávamos de cidade porque já estávamos “queimados”. Nos organizamos um pouco, mas a repressão também [se organizou], e ficamos presas fáceis. Nin-

guém durou nada. No segundo encontro com a Dilma, começamos a namorar. O primeiro casamento dela foi mais para sair de casa e ir para a luta. Fazíamos tudo pelos ideais. Ela disse para o marido que ia viver comigo. Eu era o Max. Primeiro fui Leandro, depois Pedro. Dilma era Vanda. Ela foi presa em janeiro de 1970, em São Paulo, cobrindo um ponto. Fui preso em julho do mesmo ano. Bá – Fale sobre a tortura. Araújo – É um troço violento. A gente sabe que não vai aguentar. Quem diz que aguenta mente. O cara não está preparado, na hora, a realidade é outra. É um ser humano frágil. Se a gente olha dentro do olho do torturador, e ele no nosso, ele não vai mais te torturar. Isso é uma regra que aprendi. Sabia que ia acabar falando na tortura, pensei: “Me atiro embaixo de um carro, com

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sorte, fico no hospital até o pessoal debandar, e não morro”. Depois do hospital, já estava de sangue doce para o pau. O máximo que vão fazer é me matar, pensava. Foram quase quatro anos preso. Bá – Conseguia se comunicar com a Dilma? Araújo – Na rua Barão de Mesquita, no Rio, onde ficava o maior centro de tortura do Brasil, a Operação Bandeirantes (OBAN), cruzei com a Dilma um dia, ela num camburão, eu no outro. Escrevia para ela em papéis de seda bem fininhos, uma tirinha daquelas que não rasgam. Enrolava aquilo bem enroladinho e colocava dentro de um chiclete. Nosso advogado colocava o chiclete na boca e ficava quieto. Saía na portaria e tirava o chiclete da boca. De-

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pois entregava para ela. Ali recebi visitas. Emoção em cima de emoção, vi meus pais e o meu filho mais velho, o Leandro, com 9 anos. Bá – Foi nessa época que o senhor começou a estudar? Araújo – Passava o dia inteiro estudando. Preso político tem que estudar. Tu não vais fazer nada de muito interessante. Descobrir o marxismo talvez tenha sido a coisa mais emocionante e fascinante da minha vida. Encontrei um novo mundo, só queria ler e estudar. Me tornei um chato, não queria conversar com ninguém. Fazíamos grupos de discussão, debatíamos, estudávamos. As pessoas enfrentam a cadeia de maneiras diferentes. Uns passam o dia inteiro nervosos, outros quietos, outros choram, tem de tudo. Tem

que estar atento, ter compreensão. Em 1971, fui transferido para São Paulo para o Presídio Tiradentes, onde estava a Dilma. Não tem como o cara não revelar como ele é na cadeia. Ficar 24 horas colados na mesma cela, o cara fica nu intelectualmente e emocionalmente. O primeiro choque que eu tomei foi ver nosso despreparo. Depois de ler Althusser e ler O Capital, eu só queria ler. Cheguei a estudar no Presídio Central de Porto Alegre 14 horas por dia. Sem a cadeia, não teria essa oportunidade. É contraditório, numa situação extremamente adversa, tirar algum benefício dela. Na cadeia, a revolução é essa, a revolução teórica entre nós mesmos. A revolução do nosso conhecimento. Bá – Os torturadores vivos devem ser punidos?


Para condenar um torturador e ser coerente, tenho que condenar a estrutura social que levou a isso.

Araújo – Torturador é um meio, um instrumento que estava ali. Se não é o Pedro, é o Antonio. Se não é o Antonio, é o João. O cara não nasce torturador. Ele é formado torturador. Quem forma? Que sociedade é essa em que vivíamos, que tinha que ter torturadores para se manter em pé? Quem mandava nos torturadores? Quem os ensinou? Não são julgados? O que torturou ali direto é um pobre diabo. Ou eram doentes mentais ou idiotas que muitas vezes se dopavam um ao outro na nossa frente para continuarem torturando. Esse cara é o responsável exclusivo pelas atrocidades que ocorreram? E não toda uma estrutura que existiu para que houvesse tortura? Os mandantes dessa estrutura estão imunes? Para condenar um torturador e ser coerente, tenho que condenar

a estrutura social que levou a isso. É muito simplório e incoerente personalizar. Um famoso torturador que se chamava Jesus Cristo foi o cara que mais me bateu. A Carta Capital deu ele na capa. Não sei hoje, mas na época, ele tinha toda a aparência fisionômica de um demente. Bá – O senhor nunca pediu indenização? Araújo – É delicado porque parece que eu estou querendo ser o diferente, e não é isso. Pedi uma vez aqui no estado, ganhei R$ 20 mil. Depois decidi não pedir mais, poderia ter ganhado bem mais. Não gosto de abordar isso porque acho

que as pessoas devem mais é pedir. Decidi assim porque sei que a política de que eu participei, da forma que fiz, foi incorreta, tenho uma visão crítica. O que não significa que eu me arrependa do que fiz, do que participei e das minhas concepções na época. Me orgulha ter sido uma pessoa desprendida, ter largado tudo e ido para a luta ao lado de outras pessoas iguais. A coisa mais importante da minha vida foi esse processo que eu vivi na cadeia. A leitura, o aprendizado e as descobertas. Foi tão significativo e valorizo tanto o que vivi que não quero ser indenizado por isso. Mas é uma questão absolutamente

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subjetiva. As pessoas fazem muito bem em reivindicar. Bá – Como foi a despedida do seu pai? Araújo – O julgamento começou em agosto de 1973. Cumpria pena em Porto Alegre, e a Dilma, já livre, morava com meus pais. Meu pai doente me visitava todos os dias no Presídio Central. Comecei a envolvê-lo com a teoria e ele a estudar comigo Althusser (o filósofo marxista Louis Pierre Althusser). Cada vez mais doente do coração. Eu vendo a hora de ele morrer, e ele só querendo viver para me ver solto. Faleceu e fui escoltado algemado até o cemitério. Com todos os meus amigos e a família, eu só chorava. Tiraram as algemas no cemitério. Meu julgamento já durava dez meses; dias depois da morte do pai, assinaram o alvará de soltura. Não aguentava mais nem uma hora. Bá – Queria estar ao lado da Dilma presidente? Araújo – Eu queria estar ao lado da Dilma, na retaguarda dela, era meu dever, mas não tenho condições de saúde. Para as decisões do dia a dia, tem de estar perto. Longe, não se consegue ajudar muito. Bá – Qual a sua opinião sobre as manifestações? Araújo – O movimento das ruas é muito saudável. Temos que apoiá-lo. Com exceção dos vândalos marginais e dos aproveitadores políticos de extrema-esquerda e extrema-direita. É um protesto contra a sem-vergonhice que domina este país, que está por todos

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os lados. Ninguém respeita eticamente ninguém. Na esquina, no armazém. Uma sem-vergonhice geral, que as pessoas se dão direito a fazer as coisas mais absurdas tendo consciência da impunidade. Tem outro fator, a juventude sempre é o motor da história. Impulsiona governos, quer avançar, dá novas perspectivas. Isso faz parte da juventude. Sempre foi assim no mundo inteiro. Agora mesmo na Primavera Árabe foi bastante significativo. Temos que saudar. Infelizmente, acredito que será episódico, pela natureza dele, sem lideranças e organização. Essa violência imiscuída no movimento dificulta a sua continuidade. Já murchou, porque não tem uma direção sólida, fica meio sem rumo. O papel de quem faz política é estimular, ajudar e colaborar com o movimento, sem ditar cátedra, sem dizer como tem que fazer. Ele vai escolhendo os caminhos, vai aprendendo. E os partidos têm de participar. Bá – O que mais falta aos jovens? Araújo – Eles não têm onde se encontrar para discutir. Antigamente as universidades eram palcos de discussões. Hoje as entidades estudantis estão

burocratizadas. Vão para as casas com música absurdamente alta para beber, e não sai papo. A internet é fantástica para mobilizar as pessoas, mas não satisfaz integralmente. O Fortunati deveria chamar os jovens e dizer: “O Anfiteatro Pôr do Sol é de vocês, podem ir para lá e colocar música, se encontrar, conversar, discutir”. Não para acabar com as manifestações, mas para saberem que têm um lugar para ir no cotidiano e encontrar quem pensa como eles. Os jovens e a sociedade têm vontade de debater, de conhecer a política. Porque não há mais prática política. Os partidos que deveriam reunir os jovens e pessoas de qualquer natureza não reúnem mais. Só a cúpula. Não há cursos, nem encontros para discutir. Antigamente, quase todos tinham juventudes atuantes, hoje são burocráticas e não atuam. Esse inconformismo é que move essa turma, por não ter perspectivas maiores, por não ter como participar. É da natureza da juventude participar, se mexer, vir com ideias novas e criativas. Meu filho de 18 anos foi a duas passeatas e voltou dizendo que o pessoal em torno dele não sabia por que estava ali. Ele se contagiou com o movimen-

to e está se politizando, começando a despertar. Não pressiono. Ele foi às passeatas sem eu saber. Depois contou. Bá – Qual a diferença entre a sua época e a atual, em que os jovens também foram às ruas? Araújo – Éramos organizados e tínhamos formação política. Os partidos ofereciam cursos. Hoje estamos carentes de práticas políticas. É a contradição da internet. Ao mesmo tempo em que convoca, discute, ela não politiza, e se politiza, é muito pouco. É superficial, e aos poucos os jovens vão percebendo que têm de largar um pouquinho a internet. Quem quer fazer a coisa acontecer mesmo vai atrás de mais informação. Tenho reunido jovens aqui em casa. Sempre gostei, dou cursos e aprendo muito com eles. Uma gurizada de 17 a 20 anos, alguns excelentes, que querem ser políticos. Pouco antes das manifestações, fui convidado para uma palestra para 400 jovens no Unificado. Cheguei e já vi um cartaz escrito “A luta armada no Brasil” (risos). Lotou. Foi a coisa mais linda. Não por ser eu, me emocionaria igual se fosse outra pessoa falando sobre as coisas que eu fa-

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lei com aquela plateia sem um ruído, nem um zumbidinho, de olhos vidrados. Emocionante ver a gurizadinha prestando atenção na minha vida. Depois fizeram muitas perguntas. Contei minha participação nos roubos de bancos, quartel e tal. É o bom debate político. A juventude tem muito interesse, uma curiosidade que não está sendo correspondida em lugar nenhum. A escola já não ensina muito. Os pais não têm muito tempo, e os partidos estão fracassando nessa função. Eles querem um caminho. Se ninguém vai a eles, vão procurar e ver no que dá. Bá – Apesar de o senhor achar que pode ser episódico, o que ficará das manifestações? Araújo – É uma semente que pode não germinar. Mas de qualquer forma, vai deixar algo mais significativo, sem dúvida nenhuma. Já obrigou o governo a se mexer mais. A Câmara de Deputados e o Senado tomaram atitudes. Projetos que havia anos não eram votados foram [votados], em dois dias. Demonstra que, quando querem fazer, tem como. É notável conseguir vitórias como reduzir o preço das passagens de ônibus.

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Bá – Imaginava que isso estava por acontecer? Araújo – Não esperava que aquela movimentação tomasse o vulto que tomou. Fiquei completamente surpreso, e olha que me reúno e convivo com os jovens. Bá – Sentiu nostalgia, já que, por motivações e em épocas diferentes, vocês fizeram a mesma coisa? Araújo – Senti muita identidade com a participação. Estava conversando com a Dilma no último domingo sobre isso, e ela me disse: “Só temos que aplaudir isso aí, fizemos a mesma coisa. Fomos para as ruas protestar como eles estão fazendo”. É muito legal eles fiscalizarem quem faz baderna. Não estão conseguindo completamente, mas estão tentando. Bá – Concorda que a Dilma está tendo uma oportunidade, neste momento, de pactuar com as ruas e não com a pressão que sabemos que um líder nacional acaba sofrendo para governar? Araújo – Concordo. Ela está tentando fazer isso. O plebiscito é uma resposta a isso. Provavelmente não vão aprovar. Ela tem que seguir governando tentan-

do dar passos à frente e respostas aos questionamentos, mesmo com limitações. Nessas horas tem de dar um empurrão no que conseguir empurrar. Bá – Como está a presidenta nesse momento do Brasil? Araújo – Ela está empolgada e achando muito bom o que está ocorrendo. Não há sinal de que os baderneiros e a extrema-direita ou extrema-esquerda vão ser maioria. O que não pode é o povo pegar carona nisso aí e trancar o país. Por exemplo, sabe-se que os caminhoneiros avulsos, que são a maioria, não queriam parar, porque tinham que ganhar o dinheiro deles. Bem que a Dilma fez de desobstruir. Não tem que trancar estrada. Que protestem de outra forma. Isso afeta a produção, a circulação de mercadorias e principalmente o bem-estar das pessoas. Estou contente com o que está acontecendo. Vejo com muita tranquilidade. São as forças progressistas. A tentativa é essa. Vai ter um reflexo forte isso,


que só vai colaborar com as transformações de que o Brasil precisa. Lastimamos as depredações, principalmente das pequenas lojas, em que as pessoas perderam tudo e talvez não tenham condições de repor. É trágico. Bá – Existe a possibilidade de a Dilma se distanciar do Lula e se posicionar

de forma mais independente dele? Araújo – A questão é que o Lula é um parceiro da Dilma. Permanente. A imprensa explora: “O Lula agora manda na Dilma”, “O Lula agora está ausente”, “O Lula está criticando”, “O Lula fugiu para a Alemanha”. O que o Lula fizer não serve. A relação dela com o Lula segue sólida. São parceiros, discutem como tal. Não é o Lula quem manda, é ela, que é a presidente, quem manda. O Lula até é extremamente cuidadoso com isso, para não parecer que quer mandar. Nunca vi sendo invasivo. Ele tem ficado fora, está muito mais na política inter nacional hoje. Essa questão de divergências com o Lula não existe. Uma vez ele declarou: “Não existe divergência entre nós, mas se um

dia existir, podem ter certeza de que ela estará com a razão”. Bá – O Lula perdeu as rédeas e a corrupção aumentou? Araújo – De forma nenhuma. Difícil não acontecerem coisas. Se numa cidade pequena dá rolo toda hora com a prefeitura, imagina em um país como o Brasil. Não temos quadros preparados para governar o país. O Brasil Estado tinha uma burocracia para satisfazer 20 milhões de pessoas, agora tem que satisfazer 80 milhões. Antes era mal e porcamente. Hoje quadruplicou o número de pessoas e continua a mesma burocracia. Os caras não conseguem atender. A ladroagem indigna mais, porque aparece. Mas a máquina pública pesada, sem andar, também tranca tudo. A Dilma manda fazer as coisas, não fazem. É uma herança cultural. Quando deputado em 1990, fomos procurados por uma universidade de Nova York, para formação de cargos técnicos legislativos. Nos Estados Unidos, conhecemos

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o curso para a formação de quadros legislativos. Tinha 5.000 alunos do mundo inteiro. Do Brasil, apenas um, da China eram 500. Acabou não dando em nada, a Assembleia não deu muita bola, a UFRGS ficou desconfiada. Bá – Existe uma forma de não propiciar a corrupção dos partidos pelas alianças eleitoreiras? Araújo – Propicia, sim. Mas isso aí não existe na democracia, só na revolução que tu podes te manter no poder pela força, ou até com apoio popular, mas daí é outra história. No regime democrático, em que o povo escolhe seus dirigentes, o poder econômico tem muita força, elege pessoas que não entendemos como são eleitas. É pela força do dinheiro, que infelizmente deturpa o processo eleitoral. Bá – Concorda com o

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financiamento público de campanha? Araújo – Eu concordo com o financiamento público mesmo sabendo que eles vão continuar dando por baixo do pano. Campanha pública seria fundamental, lutando sempre para o privado não se meter. É difícil a coisa, o privado vai ter sempre grana, vai estar sempre corrompendo. Essa lei que a Câmara aprovou hoje pune as empresas de forma penal quando pegas fazendo falcatruas. Essas coisas todas, acho que só [teremos] no desenvolvimento de uma outra sociedade, a que estamos ainda longe de chegar. Creio que faz parte do regime capitalista. E por outro lado, o regime socialista não tem como sobreviver. É impossível existir socialismo enquanto existir miséria. O socialismo veio para dividir a fartura. Enquanto houver países da África miseráveis, mesmo

os da América Latina, não existe socialismo. Bá – E enxugar um pouco o número de funcionários públicos? Araújo – O quadro é precário em qualidade. Se faz um concurso e aperta muito, não passa ninguém. Precisamos agora é de uma nova concepção. A universidade tem que se qualificar mais. Entrar mais em campo, saber que ela tem de ser parceira da sociedade, fazer projetos. Bá – A sua filha, Paula, soube impor uma eficaz distância do assédio da imprensa? Araújo – Na internet agora inventaram que ela tem 20 empresas. É hilário. A Paula tem uma atitude correta. Não dá entrevista, se protege. Já sabem que ela é assim, que não vai falar. Ninguém procura mais. É o jeito dela e da mãe dela. Elas são autônomas.


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A NATUREZA NA SUA ESSÊNCIA. | 25


Bá, que delícia

A CRIATIVIDADE DO CORAÇÃO Fotos André Cavalheiro

Depois de lutar anos no tatame Floriano Spiess dedica há mais de duas décadas toda a energia para sua segunda vocação: a cozinha.

Depois de uma exitosa trajetória esportiva e culinária, Floriano Spiess completa seu terceiro ano na cidade natal, Porto Alegre. Radicado em Canoas desde a infância, seus pais o colocaram, aos 5 anos, no judô. Ele lutava um pouco porque gostava, o outro pouco porque o pai obrigava. Aos 16 anos era faixa preta e um dos nomes fortes do país, ao lado do colega de quimono e medalhista olímpico Aurélio Miguel. Pentacampeão estadual, com vários títulos nacionais, em 1988 chegou à Olimpíada de Seul e foi 12º do mundo na luta greco-romana, categoria em que Steak Tartare Ingredientes para 4 pessoas: - 200 g de filé mignon, batido na faca até formar um guisado; - 1 colher de sopa de mostarda Dijon; - 20 ml de azeite de oliva; - 1 gema de ovo; - 1 colher de sopa de pepino picado em brunoise (pequenos dados);

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faturou também um terceiro lugar no Pan-Americano. Com muitos títulos, 14 ossos quebrados, uma coleção de lesões e nenhum patrocínio, decidiu investir noutro dom à convite da prima Vera Moreira. Trocou os tatames pelas panelas e, com a mesma dedicação de atleta de alta performance, se reinventou na cozinha do Alecrim Bistrô, do hotel Raposa Vermelha, na Gramado do final dos anos 1990: “Eu mais atrapalhava na administração, mas na cozinha saía bem”. Foi um convite para preparar o jantar de formatura do filho do Professor Castelli que rendeu uma bolsa na faculdade de Gastronomia, em troca - 1 colher de sopa de cebola roxa picada em brunoise; - 1 colher de sobremesa de alcaparras picadas; - 1 colher de sopa de salsinha picada; - sal e pimenta q.s.p. (quantidade suficiente para preparo).

de aulas práticas no curso de Hotelaria. Assumiu em Canela o All Spice, da chef Carol Heckmann, até abrir o Le Monde, uma aposta na cozinha do mundo com sotaque francês. Em 2008 ganhou sua primeira estrela do Guia Quatro Rodas – eram 211 restaurantes com uma estrela. Em abril de 2011, o Le Monde migrou para Porto Alegre. No ano seguinte, Spiess foi o melhor chef de Porto Alegre segundo a Revista Veja e também levou o prêmio de restaurante revelação por unanimidade, além de sua segunda estrela no Guia Quatro Rodas. Ao lado da amada, Giuliana Marques de Oliveira, e do filho, Igor, 15 anos, ele está

à frente do recém-aberto Floriano Spiess, Comida de Autor, na Praça Japão. O romance começou no jantar de aniversário dela: “Quando a vi, pensei, essa mulher vai ser minha. Como eu era meio galinha, ninguém deu bola, acabei indo atrás, armando um jantar, e desde então estamos juntos”. Giu, com quem ele tem também a brigaderia Negrita, não economiza elogios: “Admiro que ele é incansável quando se propõe e quer algo, faz e não entra em pânico”. Floriano, que gosta de ouvir música eletrônica ou um som mais zen quando está no comando do fogão, define a nova fase como muito feliz. “Tudo envolve muito o coração, minha cozinha é contemporânea com uma pegada francesa. Gosto muito do menu degustação, que não prende a criatividade a uma só técnica e um só país.” www.florianospiess. blogspot.com.br Preparo: 1- Bater a gema de ovo, a mostarda Dijon e o azeite de oliva até obter consistência de maionese; 2- Juntar o restante dos ingredientes picados; 3- Temperar a carne com sal e pimenta e acrescentar à mistura; 4- Servir com torradinhas. Enfeitar com tomilho.

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Bá, que viagem

MIRA ATENTA AO ORIENTE A menina dos olhos de Mariella Stock é a China, onde esteve duas vezes nos últimos meses. Empresária especializada em design e proprietária da loja Maiora, Mariella Stock usa sua antenada mira viajante para nutrir seu bom gosto de impressões interessantes dos quatro cantos do mundo. Ela viaja no mínimo cinco vezes ao ano, pelo menos duas delas com o marido, o também empresário Juarez Kanaan, e o único filho, Luis Fernando. Quase sempre une trabalho e diversão em destinos inusitados como Rússia, Lituânia, República Tcheca, Qatar, Cuba e Panamá. Hoje totalmente seduzida pelos mistérios chineses, Mariella tem na ponta da língua um precioso roteiro das cidades de Xangai e Pequim, que divide com os leitores desta terceira Bá.

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XANGAI

PEQUIM

Passeios - Passear pelo The Bund e apreciar os barcos no Rio Huabgpu. - City God Temple para comprinhas e passeio pelo Yu Garden. - Reserve um dia para passeio por galerias de arte, lojas, bares e restaurantes no Tianzifang Art District. - O Rockbund Art Museum e o imperdível Museu do Planejamento Urbano. - Subir no último andar do The Pearl para ver Xangai 360 graus. - No IFC Mall ficam todas as lojas de grife.

Passeios - Ir à China e não ir à Muralha não vale. Suba de teleférico e desça de tobogã. - A Praça da Paz Celestial é a maior praça de cidade do mundo. - Apreciar as iguarias da: Wangfujing Food Market - O Templo do Céu fica na Cidade Proibida e é Patrimônio Cultural Mundial elencado pela Unesco. - Quem curte arquitetura deve ir ao estádio olímpico Ninho de Pássaro, ao Prédio da CCTV New Site e ao Teatro Nacional de Pequim.

Restaurantes - Pedir um Mandarim Fish no Xindalu (térreo do Hotel Hyatt On Bund). - Os bem chineses Yé Shanghai e o Crystal Jade, bom para almoço. - O Mercato é um italiano delicioso com decoração impecável. - O Jean Georges é requintado e tem vista deslumbrante.

Restaurantes - Se for à Muralha da China, não deixe de comer um peixe fresco, que você mesmo pode pescar com a rede, no Trout Restaurante. - Pedir Pan Fried Dumpling no Black Sesame Kitchen. - Para quem gosta de aves, é obrigatório o famoso Pato de Pequim. - Huang Ting, na Península, é excelente

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AnaMottin

NÃO QUERO TER RAZÃO, QUERO É SER FELIZ Ferreira Gullar, falando sobre a guerra entre judeus e árabes, mas utilizando como exemplo as brigas entre casais, disse, sem pensar muito: não quero ter razão, quero é ser feliz (o sem pensar muito ele confessou em entrevista à Folha de São Paulo). Foi um sucesso. Aonde ele ia, as pessoas repetiam a frase. Contavam haver ligado para seus parceiros e feito as pazes, desistido de suas razões em favor da felicidade. Diferentemente deles, estou com a tal frase atravessada na garganta. Ela me atrai, tão mais fácil desistir e apenas ser feliz, não a consigo engolir. O que devemos tolerar por amor? É a minha pergunta e é também o nome de uma palestra do psicanalista Flavio Gikovate (está no YouTube). Ao mesmo tempo em que diz que não devemos criticar nosso parceiro porque a crítica impede a intimidade, Gikovate afirma que o respeito aos direitos

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humanos (de se expressar, de ir e vir e os outros todos, defendidos pela ONU) vale também nas relações amorosas. Não se deve tolerar muito, a tolerância reforça a pior parte na alma da outra pessoa. Se não concordamos, devemos nos afastar. Tudo bem (ou mais ou menos, ir embora dói), mas as perguntas continuam. Até onde podemos abrir mão de nossas convicções sem abrir mão da nossa dignidade? Por que insistir em ter razão quando é tão mais fácil desistir? Maiores ou menores, mais claras ou mais obscuras, todos nós temos as nossas razões. É apenas para manter nossa dignidade que não devemos abrir mão delas? Gikovate ajuda, mas não explica inteiramente. Já o livro Eloge de l´amour (Elogio do amor), do filósofo francês Alain Badiou, diz algo interessante: mesmo sem nos darmos conta, o que procuramos no outro

quando amamos é o ponto exato em que esse outro resiste à submissão, o lugar em que recusa o pensamento idêntico, o momento em que diz “você não vai me dobrar”. Segundo Badiou, nesse você não vai me dobrar existe um convite, não uma recusa. O desejo do fundir-se, ao contrário do que se pensa quando se está apaixonado, não é amor, é apenas simbiose, medo, dependência. Só dois seres não idênticos podem se amar. Ao estabelecer limites, o outro nos convida a viver, não no terreno medíocre da segurança, mas numa região instável, confusa e rara fora da qual, como diz Drummond, o amor será sempre “um contrato entre bocejos e quatro pés de chinelos”. Parece que, ao contrário do que diz Gullar, é possível, sim, ser feliz e sustentar nossas razões. Mais que possível, necessário.



ping-pong

ROUBADINHAS MIL Foto Dulce Helfer

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Sabe aquelas atitudes da vida que todo mundo acha admirável e tem vontade de fazer? Pois é, a Laura Bier Moreira vai lá e faz. Determinada, generosa, autêntica, ela ainda é linda. Formada em Administração com ênfase em empreendedorismo e sucessão, Laurinha cresceu no quintal do Leopoldina Juvenil – jogando tênis e fervendo até a mãe chamar pela telefonista. Líder de turma, foi no colégio que entendeu a importância de ajudar. Ela faz trabalho voluntário com pequenos tenistas no projeto superbacana Wimbelemdon. Dos 8 aos 15, rodou o Brasil de raquete em punho, e por mais de dois anos foi a primeira do ranking brasileiro em sua categoria. As lesões interromperam a carreira de atleta. Hoje atua na empresa de eventos de tênis do pai, a Protenis, e é um sucesso na internet com o perfil @roubadinhas, no Instagram, e no Facebook, onde ela posta delícias de todo tipo.

Em qual sentimento tu mais acreditas e qual tu mais valorizas? Amor e honestidade. O que mudou na tua vida depois do voluntariado? Amadurecimento, uma conscientização automática. Ainda quero contribuir muito na minha vida. Qual o momento mais surpreendente da tua vida? Meu momento é uma pessoa. O meu pai, que mantém a Protenis há mais de 33 anos, construiu há 30 a Copa Gerdau de Tênis, e é o melhor pai do mundo. Sonho? Ter minha própria academia, com um bistrozinho, quadras de tênis, piscinas, academia de ginástica e espaço para eventos. Sempre foi gulosa? Até os 15 não comia nada. Era uma palita. Não provava, era chata mesmo. Como surgiram as Roubadinhas? Algum objetivo com essa ideia ou está apenas deixando ela nascer... Meu namorado me apelidou de “rainha das ‘roubadinhas’”, por gostar de tirar foto de tudo. Inclusive de comida, tinha mais de 500 fotos. Pensei: “Vou compartilhar com pessoas que curtam isso”. Parei de postar no meu perfil pessoal e criei um só para isso. Jamais pensei ter outro objetivo a não ser compartilhar delícias, mas tanta gente já me procurou interessada que eu estou vendo com outros olhos. Um dia perfeito pra ti tem...? Família, amigas, namorado, endorfina e uma boa experiência gastronômica. O que é a cara da Laurinha? Espontaneidade, intensidade e alegria. | 33


ping-pong

BELEZA COMPLETA Foto Raul Krebs

Nascido em Belo Horizonte, aos 12 anos Marco Antonio Ávila Dornelles radicou-se em Porto Alegre. A primeira tatuagem foi aos 14, escondido da mãe. Aos 18, o então vendedor da Vide Bula foi cortar o cabelo na Vídeo Hair e lá ficou: “Em troca de uma torrada por dia, descobria minha vocação”. Designer, figurinista, amante de arte, colagem e reciclagem, Marquinhos Smi transforma o que toca com as generosas mãos: forra paredes com recortes coloridos, faz balaiagem livre com pincel ou comanda mutirões de higiene em crianças carentes. Hoje, aos 43 anos e 57 tatuagens, da saudosa Smiha, personagem a quem deu vida e fama nos anos 80, ele guarda o sobrenome e as boas lembranças. Superou um câncer, é membro do Intercoiffeur e faz stand up paddle: “Meus valores são da essência. Não espere rotina em mim, rotina é com os maridos”.

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Por que tuas suas tesouras tesouras ee tinturas tinturas estão sempre em movimento? As clientes me acompanham porque faço valer a pena, cuido, cultivo. Sou mutante e amo transformação. O que te incomoda? Caráter duvidoso não dá. Não aguento também mulher mascando chiclete de boca aberta. Teu defeito? Perdi a expectativa. Esperava demais e não acontecia. Sonho? Meu maior sonho é a paz. Mulher e homem? Stephanie Sthefany Seymour, Seymour, Kate Moss e David Beckham. Make ou cabelo? Beleza completa. Montar a pessoa, deixar ela linda e feliz. O que é essencial? Autoconfiança, criatividade e técnica. O que te move? Minha crença no meu Deus, um mix de tudo em que acredito. O que estraga as pessoas? A inveja é uma merda, mas a cobiça é pior. Cobiça é a inveja permanente, quando ela não passa. Daí é tragédia. Quem é Smiha? Minha alma, minha dualidade, que externei durante 15 anos. Agora ela deu um tempo de mim, me cansei e a escondi aqui dentro. Preconceito? Minha mãe, mãe me meaceitando aceitando como ela fez, bastou. Não precisava de mais nada. Mas claro que já apanhei na rua, das pessoas. Câncer? Minha mente não se deixou abalar, sem vitimismo, nunca perdi a fé.

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objetosedesejos

HenriqueSteyer

FOTOGRAFIA, ARTE OU DESIGN?

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Para quem não conhece, apresento aqui o fotógrafo holandês que mexe com o imaginário daqueles que apreciam a boa arte. Erwin Olaf já recebeu diversos prêmios, e suas exposições já rodaram o mundo todo, chocando os desavisados com sua estética ímpar e pouco convencional. Em seu trabalho, Olaf faz questão de mostrar o que não é dito. É capaz de levantar, de forma magistral, questionamentos sociais repletos de tabus que representam nitidamente a essência da vida contemporânea. Me encanta essa coragem de falar o que todos querem esconder. Na Europa, já existe uma corrente de intelectuais acadêmicos que chamam esse movimento estilístico de Critical Design. Uma forma de fazer design (ou arte) em que sempre há uma provocação... um convite a pensar as coisas de forma diferente. E por que muitos ainda têm medo disso? Esse gênio já assinou fotografias para grandes marcas como Diesel, Heineken e Louis Vuitton. Ao receber o prêmio Leão de Prata, no Festival de Cannes de Publicidade, teve seu trabalho comercialmente consagrado. Sua obra é provocante, perturbadora e polêmica, e sendo assim, me atrai demais. Não é apenas fotografia, é design, é arte e crítica descarada. Para ele, deixo meu grito de desabafo: Bravo!


Picasso para quem pode A Galeria Franklin Bowles, que fica no Soho, é conhecida pelo vasto acervo de nomes poderosos das artes plásticas. Só lá é possível adquirir uma litografia de Picasso na qual ele retrata sua amante e musa inspiradora Françoise Gilot. A peça vista de perto impressiona até mesmo os menos sensíveis. Por US$ 225.000,00 é possível trazer ela para casa.

Giro em NY Para não dormir nunca mais Para quem já viu todos os musicais da Broadway, a nova opção chama-se Sleep no More, teatro de experiência em que você caminha livremente por um edifício de seis andares, com mais de 1.000 m², em meio a cenas de dança, luta e nudez. Todos os visitantes devem usar máscaras, que são distribuídas na entrada, e são proibidos de conversar. Quem gosta de experiências diferenciadas não pode perder essa!

Para ver gente interessante O Boom Boom Room é um bar na cobertura do Hotel Standard, no Meatpacking. O banheiro é incrível, todo de vidro, com vista para Manhattan. Lá só tem gente interessante de todas as partes do mundo. Madonna, Paris Hilton e Tom Ford são fregueses. É importante caprichar na produção. Após um determinado horário, o porteiro escolhe quem pode e quem não pode entrar de acordo | 37 com o visual.


Bรกnoesporte

ClรกudiaCoutinho

A APOSENTADORIA QUE ESPERE

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FOTO DIVULGAÇÃO - LUCAS UEBEL

Depois de muitos títulos e planos de aposentadoria, Gustavo Endres volta ao vôlei gaúcho. Os apaixonados pelo vôlei brasileiro suspiraram aliviados quando, em junho deste ano, Gustavo Endres anunciou sua decisão de permanecer em quadra por mais uma temporada. Sorte maior para os torcedores da equipe do Canoas / Kappersberg, que continuarão contando com a experiência incontestável desse atleta que coleciona títulos pela seleção brasileira. Entre esses, destaque para duas medalhas olímpicas – ouro em Atenas/2004 e prata em Pequim/2008 –, para o bicampeonato mundial em 2002/2006 e o hexacampeonato na Liga Mundial. Depois de muito conversar com a família e amigos próximos, esse gaúcho de Passo Fundo achou melhor adiar os planos de aposentadoria e dar seus primeiros passos na área de gestão esportiva. Gustavo já cogitava deixar as quadras em 2011, quando recebeu o convite para voltar ao vôlei gaúcho, ingressando em um projeto liderado pelo campeão olímpico Paulão (Barcelona/1992), que montava um time em Canoas com a ambição de colocá-lo na principal competição do país. Os resultados foram além da expectativa: a equipe surpreendeu ao se classificar entre as oito melhores da Superliga Masculina 2012/2013. “Fizemos uma boa temporada, e eu não poderia deixar o projeto. Minha presença em quadra ainda é importante para o time e para os patrocinadores”, explica. Essa, no entanto, não é a única razão para fazê-lo permanecer em quadra: Gustavo, decididamente, adora o que faz. “Eu cresci jogando vôlei. Gosto dessa rotina de treinos, de melhorar na parte física, na parte técnica. O cheiro da quadra me motiva. Bater na bola ainda me motiva, e muito”, vibra o campeão, que com-

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pletará 38 anos no dia 25 de agosto. “Para qualquer atleta, a pior decisão é a de decidir parar com aquilo que ele fez a vida toda, aquilo que ele ama muito”, pondera. A diferença de agora para quando aceitou o convite de voltar ao Rio Grande do Sul está justamente na possibilidade de dar início a outra trajetória profissional. “Nunca tinha pensado em administração. Sempre me preocupei em ser atleta. Nunca me imaginei em uma reunião debatendo o futuro do time, preocupado com custos, com logística, com patrocinador, com taxas”, diz. E, acreditem, apesar de bem diferente, esse mundo da gestão, aos poucos, está encantando o atleta. Aos 17 anos, Gustavo deixou os pais e os dois irmãos mais moços em Passo Fundo para defender o Banespa, em São Paulo. Morava em uma casa com outros jovens atletas e, como seus companheiros, sonhava em vestir a camisa da seleção brasileira. Naquele momento, porém, nem sequer imaginava que, além de defender as cores do país, conquistaria tantos e tão importantes títulos. “Ali, naquela casa, sabia que somente os melhores dos melhores continuariam. E era uma questão não só técnica,

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FOTO DIVULGAÇÃO - FERNANDO POTRICK

Bánoesporte

mas também mental. Era difícil ficar sozinho, ficar longe da família”, recorda. Entre tantas conquistas, Gustavo não hesita em escolher a do Mundial no Japão, em 2006, como a mais especial. No ano anterior, sua mulher, Raquel, descobriu ter Linfoma de Hodgkin, um câncer no sistema linfático, e passou a fazer radioterapia e quimioterapia. “O tratamento terminou quando o Mundial estava começando. Era muito bonito ver todos os atletas preocupados com ela, ver os familiares dos atletas querendo saber notícias”, recorda Gustavo. “Eu guardo essa conquista com carinho não pela vitória em si, mas porque simboliza a vitória da minha mulher”, completa. No retorno do Japão, Gustavo e seus dois filhos, Eric, então com seis anos, e Enzo, com três, rasparam os cabelos para

“Para qualquer atleta, a pior decisão é a de decidir parar com aquilo que ele fez a vida toda, aquilo que ele ama muito.”

que todos ficassem iguais. Apesar de anos defendendo a seleção brasileira e também oito temporadas jogando na Itália, Gustavo pouco conhece de outros países. “É difícil. Nossas viagens se resumem a sair do hotel para a quadra e da quadra para o hotel”, observa. Por isso, entre os planos, assim que for possível, está uma viagem para Nova York com Raquel. Mais adiante, quem sabe, o casal realizará outros projetos, como o de conhecer Bora Bora. Até lá, porém, Gustavo seguirá defendendo as cores do Canoas e aprendendo sobre gestão. Contando sempre, é claro, com o apoio imprescindível da família.


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arte arte

AndréaLopes

VOZ QUE VEM DAS VÍSCERAS Foto Diego Ciarlariello/Divulgação

Intérprete de primeira, Filipe Catto também compõe. Mas quer mais: “Não vale a pena só pela voz, pelo timbre. A troca é o que me move”. Ainda não ouviu? Não sabe o que está perdendo.

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Ele é meio Aracy de Almeida, meio Rolling Stones. Trafega entre samba e rock com a mesma desenvoltura e entrega, sem medo do exagero – e, de fato, não exagera, pelo contrário: carrega o público em sua toada, que também inclui Ednardo, Nelson Cavaquinho, Zé Ramalho, Fábio Jr. e Roberto Carlos. Isso sem falar em suas próprias composições. Sim, Filipe Catto, além de ser intérprete de voz inconfundível, também escreve, compõe. Entre cabelos, olhos e furacões – título de seu CD e DVD, lançados agora pela Universal Music/Canal Brasil –, o artista firma seu espaço e colabora para a renovação da MPB, sem esquecer a história – a sua particular e a da canção brasileira. Guri de Lajeado criado em Porto Alegre, Catto rumou para São Paulo atrás de mais mercado para expor sua arte, isso há três anos. “Lá encontrei jovens fazendo música de qualidade e de braços abertos para me receber”, conta, encostado num latão de lixo em que apoia o café enquanto conversa e solta a fumaça do

cigarro, numa brecha antes do show que fez com a comparsa Cida Moreira no Theatro São Pedro. Catto foi para São Paulo a convite do SESC, para participar do projeto Prata da Casa, e não voltou mais. “Como havia lançado o EP Saga on line, não fiquei restrito geograficamente. Cheguei a São Paulo e já havia uma galera que conhecia meu som.” No boca a boca, lotou o SESC. “Aí as coisas foram acontecendo naturalmente, e têm que ser assim, orgânicas. Arte não tem agenda marcada”, sentencia. O primeiro disco, Fôlego (2011), a estrada, a convivência com a banda, os novos parceiros e amigos – como Pélico, autor da bela Sem Medida, que está no DVD – fizeram Filipe entender melhor sua própria linguagem artística. “Esse novo trabalho marca o que fiz até aqui, e agora sinto que há um retorno ao básico, ao que eu sempre fiz, que é tocar e cantar de forma mais ‘honestona’. O contexto de banda é importante para mim, eles também são criadores, e hoje minha forma de compor

se tornou mais generosa, no sentido de mais abrangente. No palco não sou um ‘canta-autor’, sou um intérprete de canções que são tão valiosas para mim quanto as que eu próprio componho”, avalia. A direção do show, a cargo de Ricky Scaff, ajuda a narrar uma história, que é a do espetáculo, a do próprio Filipe, e será a que o público quiser. “O roteiro parte de uma coisa mais primitiva, de um amor bruto, e vai crescendo em uma trajetória de descoberta, que é a minha também como músico.” Filipe garante que jamais sai de um palco igual a como nele entrou. “Eu me transformo a cada apresentação e acredito que o público também. Quero que as pessoas se sintam tocadas de alguma forma, que não seja uma relação apenas de voyeurismo entre plateia e artista. No meu trabalho, se eu não estou trocando e alimentando esse fogo, para mim não vale. Não vale a pena só pela voz, pelo timbre. A troca constante é o que me move.” Assim é Filipe Catto: entre cabelos, olhos e furacões.

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CristieBoff

NA EUROPA Veneza Uma das maiores exposições internacionais de arte, a 55ª Bienal de Veneza foi batizada neste ano de Il Palazzo Enciclopedico. A curadoria é do jovem italiano Massimiliano Gioni, e a mostra, que reúne 88 países e mais de 150 artistas, foi inaugurada no dia 1º de junho e vai até 24 de novembro. O mineiro Paulo Nazareth é um dos artistas brasileiros participantes.

Anish Kapoor em Berlim A importante retrospectiva do grande escultor Anish Kapoor é composta por 70 obras e está em cartaz no Martin Gropius Bau de Berlim até 24 de novembro. O anglo-indiano nasceu em Mumbai em 1954 e cresceu na Inglaterra. Seu trabalho transita em torno das polaridades do ser ou não ser, do peso e do etéreo.

Florença A Galeria Biagiotti nasceu em 1997 em Florença com a ideia de pinçar novos talentos. Hoje se tornou uma fundação e comemora com a mostra Antologia di um Progetto, reunindo diversos artistas e seus diferentes gêneros, como fotografia, escultura e vídeo. Entre eles, Sissi, Nico Vascellari, Robert Pettena, Sandra Tomboloni. Em cartaz até 15 de setembro.

Yoko Ono: Half-a-Wind Show Yoko Ono: Half-a-Wind Show está em cartaz até 29 de setembro em Humlebaek, no Louisiana Museum of Modern Art, na Dinamarca. A exposição reúne 200 obras da artista japonesa naturalizada americana, hoje com 80 anos. Antes de ser a cara-metade de John Lennon, Yoko já havia contribuído para o nascimento do Fluxus e criado várias obras e a performance Cut Piece (1964), quando convidou o público a cortar roupas em cima de um palco. Conhecida pela maioria como a viúva do Beatle, sua arte se perde nessa fama. A propósito, para quem não sabe, Fluxus é “fluxo” em latim e um movimento artístico libertário marcado pela mistura de diversas artes entre 1960 e 1970. 44 |


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trama

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APOGEU DO CRIADOR Foto Raul Krebs

“Não gostaria de morrer. Queria subir antes, brincar no céu para me acostumar com a ideia. Sou crianceiro e brincalhão.” Basta que exista a palavra para encontrar afetuoso e criativo “pouso” na fértil mente de Luiz Coronel. É engatando uma na outra, em pequenos versos, longos poemas, contos, crônicas, textos infantis, romances, biografias ou lacrimejantes campanhas publicitárias que o atual patrono da Feira do Livro de Porto Alegre se mantém feliz. Muito feliz. Coronel é uma festa com pernas. Foi assim, de forma empolgada e muito gentilmente, que fui recebida no belo casarão na Dario Pederneiras, que ele carinhosamente chama de “avó de minissaia”. O bajeense nascido em 16 de julho de 1938 numa família de sete irmãos é sócio-fundador e diretor da Agência Matriz. Coronel é formado em Direito e Filosofia e dono de uma paixão desmedida pela escrita. Além disso, é exímio sapateador, imitador hilário, tem o senso geográfico das galinhas e uma memória de computador. Tanto que

espanta. Deixou-me boquiaberta entre causos e versinhos que brotavam espontaneamente dele durante nossa conversa. A menina dos olhos é a Coleção Completa, publicação anual do Grupo Zaffari em que transforma em pura arte impressa a vida e obra de autores, ídolos e colegas: “Verissimo e Clarice Lispector são os próximos”. Para o eclético autor, a prosa e verso regionalistas fluem com mais personalidade: “Cresci ouvindo Martin Fierro como se fosse música. O coração interiorano é um coração com mais pausa para pensar e para sentir. Somos um estado ao sul de si mesmo. Somos estranhos e nos gostamos assim”. Tanta inspiração vem de seu peculiar e otimista olhar. Lembra Voltaire e conta que pensa muito caminhando: “Tiro a camisa e chuto latinha. Pulo da cama quando a ideia me visita durante a noite”. Inesperadas e transbordantes, mais “coronelices” surpreendem

minha atenta escuta: “Ah, a poesia é a ourivesaria da literatura. Onde se lida com a palavra com mais cuidado”. E as palavras, seu Coronel? “Elas me encantam. É o ‘ver da vida’, o ‘depor sobre a vida’.” E eis que, em meio a tantas palavras sobre a vida, é a própria existência humana que o presenteia a todo instante. Quando ele ouve um doce “Lá vem o nosso poeta”, ou é aplaudido por sorridentes crianças com câncer, o coração esquenta. Contando-me sobre singelos gestos, Coronel me espia com o olhar de plena realização e fala como quem canta: “É muita intensidade. A régua que mede os momentos da vida é a do coração”. No livro de memórias que deve ser lançado ainda neste ano, Luiz Coronel: Um Cronista Inesperado, ele revisita toda essa história: “Eu vou fazendo, meus colegas já iam a cabarés e eu era coroinha, não tenho pressa para nada”. Os leitores agradecem.

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eutenhovisto

JaquelinePegoraro CarolZanon www.eutenhovisto.com

VIDA FORA DA CAIXA Com a sua Madame Tutu, Heliene Andrade encanta na decoração de festas. É nos detalhes de cada evento que a empresária Heliene Andrade, uma das criadoras do Peixe Urbano, está se aventurando em novos mares. Depois de dois anos incríveis na startup que cresceu mais rapidamente na história do Brasil, Heliene decidiu “sair da caixa” novamente e apostar em uma nova paixão: festas. “Para escolher o negócio, segui apenas um critério: paixão”, diz. Sempre com um sorri-

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so no rosto e energia contagiante, a curitibana de 32 anos é o retrato da mulher moderna, empreendedora, criativa, talentosa e mãe. E foi na festa de três anos da filha Bianca, em setembro de 2012, que surgiu o novo negócio. Desde então, decorou dezenas de festas infantis, chás de bebês, eventos corporativos, show do Lenine e Bailes do Zeh Pretim – a festa mais exclusiva do Rio, que também já passou por

São Paulo e Porto Alegre. O segredo do sucesso, conta a empresária, é pensar “fora da caixa”, buscando sempre o que emociona os clientes e fazendo o que parece impossível virar realidade, lição que aprendeu quando decidiu deixar a vida nos Estados Unidos com os dois filhos. “Em Stanford, respirei o ar do Vale do Silício, vi empresas nascerem de uma ideia. Fui picada pelo bichinho do empreendedorismo”, brinca.


Fazer o bem sem olhar a quem Carlos Eduardo Pedroso é grandes resultados. Por um gauchinho de 11 anos isso comemorou o aniverque gosta de tudo que as sário pedindo de presente outras crianças adoram: jo- aos amigos latas de leite em gar bola, ir à praia, brincar pó, deixando os pais Tatiacom os amigos, se divertir. na e Felipe Pedroso surpreA diferença desse guri é que sos e orgulhosos. A ideia foi ele acredita que pequenos simples, mas com impacto esforços podem se tornar poderoso. Ele arrecadou

246 latas e criou o projeto “Cadu no Instagram” (@cadupedroso) e suas próprias hastags #alegria #vidalonga #projetocadu, para fazer o barulho. Para a mensagem ficar no coração dos convidados, Cadu fez camisetas do projeto como lembrança.

Espaço multiarte O Instituto Kreatori é uma produtora audiovisual independente que abriga uma galeria de Fotografias de Arte e espaço para cursos com foco na imagem. Também tem um espaço externo multiuso para eventos e manifestações artísticas como performances, cinema, lançamentos literários e shows de música, como o Jazz da Escada, que se apresenta mensalmente por lá.

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CláudiaTajes

A BELEZA DO FRIO Chegamos na talvez única época do ano em que o sul desperta a inveja dos cariocas bronzeados, dos baianos apimentados e dos paulistas endinheirados. Sul, a única região do Brasil em que o inverno não existe apenas por mera formalidade do calendário. Aqui, os pés congelam, sai fumacinha da boca e até parece que a gente respira gelo, de tão frio que o ar fica. A serra vira paisagem de cartão-postal e, nas cidades, as mantas de lã colorida quebram o cinza dos prédios, dando um ar poético às ruas. O inverno é uma estação de encantos. Sair cedo da cama para trabalhar ou ir à escola não é o maior deles. Já comer muito fondue, abusar do chocolate, cair de boca nas massas e não passar sem vinho tinto são

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razões mais do que suficientes para todo mundo amar o inverno. Principalmente os personal trainers. O inverno é bucólico. E, às vezes, melancólico. Os cabelos que o digam. Com a umidade que o frio costuma trazer, os cabelos eriçam. Enroscam. Embaraçam. Para domá-los, dê-lhe escova. Mas já sabe: se cair um pinguinho de alguma nuvem, passageira que seja, o efeito vai ser igual ao de um choque elétrico. Crespos, curtos, castanhos, longos, loiros, ruivos, grisalhos, escorridos. Não há fio que resista arrumadinho a toda a água que o céu tem para derramar. A indústria de presilhas, grampos, elásticos, gel, musse e laquê pode projetar um crescimento e tanto para os próximos meses. E a delícia de ficar em casa,

um dos maiores prazeres do inverno? Bem verdade que a energia e o sinal da TV a cabo volta e meia nos abandonam no meio dos ventos e das tempestades da estação. E não se pode esquecer de que é preciso passear com o cão mesmo quando o frio está de renguear cusco. No mais, o clima é agradável e caliente dentro de uma sala. Só cuide para ver se tanta quentura não é o fogo da lareira que subiu demais. Brincadeiras à parte, o inverno tem um quê de romantismo que deixa os dias mais bonitos. E, sem trocadilhos, aquece para valer a economia de muitos lugares, razão suficiente para os que preferem o verão suportarem a friaca no osso. Desde que ela não seja eterna. E nem dure.



Décor Fabiana Bá Fagundes

Por Fabiana Fagundes

ARQUITETURA DE RAIZ Uruguaio de nascimento, brasileiro e gaúcho por opção. O designer Mario Quintana vem há alguns anos modificando com sutileza e senso estético algumas paisagens do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Suas construções marcantes esbanjam charme e bom gosto e já viraram marca registrada de contemporaneidade aliada aos materiais e à rusticidade locais, o que as tornam “muito daqui”. São as charmosas características sulistas, de uma arquitetura que sabe de onde vem e para onde vai, com nome e sobrenome e cheia de raízes. Raízes que mesclam nossos jeitos de ser, viver e receber influências geográficas das belas paisagens também dos nossos vizinhos. Precursores de uma arquitetura diferenciada em relação ao mundo todo, Uruguai, Argentina e Chile são lugares onde “descansamos” os olhos 52 |


em uma arquitetura que conversa o tempo todo com seu entorno, se trança a ele e incorpora os contrastes e as texturas de uma paisagem natural. Mario Quintana reúne um pouco de tudo isso, e faz melhor, quando nos apresenta com a maestria de poucos uma releitura de uma arquitetura cheia de referências, mas que acompanha o passo do tempo e do mundo. Contemporânea na medida exata e cheia de personalidade gaúcha e brasileira. Uma “arquitetura de raiz”, na qual o homem incorpora sua obra aos horizontes e a criatividade sem fronteiras o amplia diante do nosso olhar. | 53


crônica

PÁTRIA AMADA, BRASIL Foto Jefferson Botega

Eis que o gigante acordou depois de longas décadas. Não satisfeito, ele deu carona a uma cambada de bandidos covardes que esconderam o rosto, a muitos vândalos, a uma gurizadinha bagunceira e a um punhado de aproveitadores partidários e extremistas. Depois das dezenas de manifestações de milhares de pessoas pelo Brasil inteiro no inesquecível junho de 2013, o gigante, mal disse a que veio, fez um belo barulho e já teve tempo de tirar um bom cochilo durante as férias de julho. Embora alerta, mas ainda mais disperso, o gigante ainda sacudiu médicos aqui e estudantes ali, que se uniram aos professores, que por anos fizeram inúteis e solitárias greves por melhores condições de trabalho, e seguiram em uníssono nas ruas do país nos últimos dois meses. A verdade é que os ares do outono mexeram com os brasileiros, que não desistem nunca. Arrepiaram de emoção quem foi às

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ruas ou assistiu de casa à massa convocando o país inteiro num vibrante “Vem pra rua”. Feito aquele irresistível amor bandido que você pensa não haver a menor chance de recuperação, tal foi o estrago no seu coração, na sua admiração e no seu respeito. Ressurge gigante e pimpão, como se não fosse com ele, cheio de dignidade e orgulho, dizendo que não é bem assim, que dessa vez vai ser diferente, que a partir de agora vai prestar atenção em cada detalhe para não deixá-la triste ou desiludida. As ligações e mensagens que você viu gravadas no celular ou na internet não eram nada daquilo, é a sua mente fértil que está sempre maquinando contra ele. Você interpreta tudo errado, vê maldade em freira e cabelo em ovo. Porém, assume que sim: no passado, e até, quem sabe, em algum momento bem recente, possa ter sido mal interpretado por alguma sacanagem sem compromisso ou um

inocente jeitinho brasileiro. O amor, o Brasil e suas idiossincrasias. Depois de um tsunami de neurônios e hormônios, você sente medo de nunca mais reencontrar esse amor em você. Afinal, essa entrega toda com outro país, ops, digo, com outra pessoa, não faz nenhum sentido para você. Porque é com esse gigante monstruoso e estabanado que você escolheu viver, amar e respeitar para o resto da sua vida. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Então, diante dele, sedutor e apaixonado, cheio de vigor, força e ousadia, você reage tombada e inundada por uma deliciosa invasão desmedida de esperança. Recebe uma apaixonada e rejuvenescedora injeção de autoestima. Se envolve novamente. A alegria volta a habitar seus dias. Você se anima para cuidar de si e do seu amado, prestando atenção ao que estava de lado, cultivando o diálogo e a responsabilidade


nesse tão longo e complexo casamento. Sente vontade de ficar bonita, mudar a casa, o cabelo, os planos das férias e, acima de tudo, sente uma imensa vontade de gritar para todo mundo ouvir o quanto é feliz por ser brasileira e viver esse grande amor. Cheio de altos e baixos, emoções, sobressaltos e desafios. Porque

amor perfeito mesmo, só aquela florzinha delicada e colorida que deixa a casa da gente mais bonita.

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UMA PROPOSTA ORIGINAL fotos Dulce Helfer

Mais que um hotel, o Modevie é um lugar para se viver. A infância e a adolescência de Julio Chaulet foram observando e fazendo de tudo um pouco na rotina do hotel familiar que, por 40 anos, funcionou no coração de Gramado, quase esquina com a Borges de Medeiros. Com 24 apartamentos, o Hotel Dinda foi fundado pelos pais de Julio. Depois de cinco anos de reconstrução e planejamentos, nasceu, em novembro último, o Hotel Modevie – que do antigo herdou apenas a graciosa fachada, toda remodelada.

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Seu interior tem dois restaurantes (um exclusivo para os hóspedes), um bar bem intimista, uma charmosa enoteca e 15 suítes superbacanas, uma diferente da outra. Formado em Hotelaria com ênfase em Administração pela UCS de Canela, foi em 2005, quando conheceu a Califórnia, que o interesse pelo mercado de luxo começou. Atrás de expertise e informação sobre a gestão de marcas de luxo, teve a certeza de que Gramado e a Serra Gaúcha


estavam prontas para receber essa proposta de negócio: “Havia uma necessidade no mercado turístico da cidade de ter algo diferente, que fugisse do estilo convencional na arquitetura e na gastronomia. Um ‘estar em Gramado’ de outra forma e também original”. Para conceber essa nova proposta, Julio seguiu a consultoria de Cláudio Gioda e a metodologia do “ir fazendo” (Place Branding) – planejar em cima de experiência do que vai funcio-

nando e como vai funcionando. O olhar do Modevie é para o desenvolvimento de um público que consome e cultiva hotelaria classe A, gastronomia e padrão de serviços diferenciados e exclusivos. Proporcionar essas sensações, além da simples hospedagem, é o desafio do “modo de vida” que Julio está estreando e oferecendo aos turistas gaúchos e brasileiros que procuram Gramado. Uma delas será em breve no Golf Club, com prática,

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workshops teóricos e jantar exclusivo em meio à natureza, identidade, cultura e gastronomia regionais costuradas em harmonia com a contemporaneidade. A inspiração colonial e serrana está também no menu elaborado pelo primeiro chef estrelado da cozinha brasileira, Laurent Suaudeau, e executado por outro craque, o chef Fabrício Siocca. Para se afastar um pouco do agito da avenida principal da capital gaúcha do turismo, Julio vislumbra ampliar essas sensações em uma área verde próxima

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ao Lago Negro: “A ideia é também oferecer cultura e experiências com charme e perto da natureza – um piquenique ao som de jazz, ou uma pescaria com passeio a cavalo. Há um público específico que precisa de um novo tipo de serviço”. O espaço de 1,3 mil metros quadrados alia alta gastronomia, atendimento exclusivo e tecnologia. No Modevie tudo é controlado pelo iPad: som, áudio, vídeo, iluminação e climatização, em uma parceria com a empresa norte-americana Savant. Para pedir um pra-

to, por exemplo, o hóspede não precisa usar o telefone. A modernidade e o projeto arquitetônico limpo dialogam em harmonia com a “caseirice gramadense” e o feito à mão. Todos os produtos da cozinha são produzidos no hotel, como pães, geleias, molhos, sucos. O cardápio do restaurante oferece uma versão “modernex” de galeto e do costelão 12 horas, especialidades que se encontram aos montes pela região da cidade de 30 mil habitantes. Deu para entender um pouco desse novo modo de vida?

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A NOÇÃO DA IMPERFEIÇÃO Fotos Dulce Helfer

Com alma de artista, Claudia Sperb rodou o mundo, voltou para as origens e criou seu próprio universo.

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Até encontrar seu recanto de paraíso, batizado de Caminho da Serpente, em Morro Reuter, Claudia Sperb, boa curiosa que é, foi espiar o mundo. Nascida e criada em Novo Hamburgo, a artista plástica estudou na FEEVALE e saiu da cidade natal para cursar Belas Artes na Porto Alegre do início dos anos 80. O dom para os trabalhos manuais também é genético. A mãe pintava porcelana como ninguém, e segundo a humilde caçula de 12 irmãos, uma das irmãs dá de dez a zero nela no mosaico. No entanto, a universidade não supria toda a fome

de arte e conhecimento de Claudia. Foi nessa busca que passou seis meses na Índia, aprendeu a fazer azulejos em Valência, numa Espanha mediterânea em que Ibiza e Mallorca borbulhavam de vanguarda e juventude. Ainda passou por Florença, Barcelona e Tunísia. Mas foi na primeira viagem pela Grécia que foi encantada pela serpente: “É uma crença católica ligar serpente ao pecado. Em Angola representa fertilidade e tem o Deus Serpente, na Índia. Desde a Grécia, a serpente faz parte da minha história artística.” Em 1984, numa das voltas ao Brasil, criou um programa de computador, baseado na arte do mosaico numa máquina daquelas jurássicas!

Ao lado de mais 175 pessoas, Claudia comandou o projeto de mosaico da Praça Vital Brasil, no Instituto Butantã, em São Paulo

Eram as primeiras experiências no Brasil de arte em computação, ineditismo que conferiu à artista viajante um prêmio no Uruguai. Ela teve a oportunidade de conhecer Ravenna, na Itália, e a Turquia, o berço do mosaico. De 1986 à 1989, o destino de Cláudia eram as Bienais do Terceiro Mundo: rodou a América Latina, Cuba, África e Ásia: “Amo viajar porque o mundo e as manifestações artísticas diferentes ficam me puxando, me mudando e ampliando a minha maneira de pensar”. Um problema familiar à trouxe mais uma vez ao Sul do Brasil, e na-

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quele ano nada era mais atraente para a jovem e livre artista do que passar o verão em Ibiraquera: “A minha ideia era logo voltar para Calcutá, onde tinha até sido convidada para um projeto bem bacana, mas me enrolei. Fiquei amiga de uma turma ótima de artistas, como Zeca Baleiro, Chico César e Tata Fernandes. Me empolguei e fui passar uns três dias em São Paulo, fiquei três anos”. Por lá, Claudia abriu seu ateliê-galeria, onde acontecia de tudo um pouco e o pessoal inventava moda, figurino, cenário, arte e música. Foi grávida do único filho, Eduardo, que bateu o olho no terreno nos altos de Morro Reuter. Ali, ela sentiu o desejo de finalmente diminuir os carimbos no passaporte: “Estourou o Mensalão, eu buscava uma espécie de isolamento. Fiz um muro todo em mosaico e sem pretensão nenhuma comecei, ao lado de muitos parceiros e artistas, a transformar tudo por aqui em mosaico, em arte, em cor”. Nasceu o Caminho das Serpentes, onde Claudia mora há mais de dez anos e recebe artistas, mostras, visitantes, workshops, e respira cotidianamente a natureza e o convívio dos animais: “Aqui tem jacu, macaco. Fico impactada diante dessa natureza toda quando dou de cara com um macaco. A grandeza disso em dias como os de hoje me inspira e me faz feliz. A paixão pelo mosaico tem a ver com a nítida noção de imperfeição. De que tudo na vida é uma montagem, uma espécie de encaixe”. A casa é aberta para os amigos, para que eles experimentem e se sintam tão inspirados e livres na hora de criar como a anfitriã. As visitações custam R$ 10 por pessoa e são marcadas por agendamento. De quatro a seis vezes por mês, grupos de alunos, artistas ou curiosos visitam o local para experiências e vivências, além de tudo aquilo que a criatividade, a troca, a arte, a beleza e o som da natureza permitirem: “Sinto prazer em todas as minhas artes, tanto na hora da cobertura por talagaça de cimento dos mosaicos, quanto passando a mão para imprimir uma xilogravura. Também bordo, fotografo e faço colagens, mas se não alimentar outras almas para me alimentar também, não tem conquista para mim.” 62 |

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DISPONÍVEL PARA A VIDA Fotos Adriano Fagundes

O múltiplo Zé Ricardo leva a vida embalado pelo ritmo do Brasil 64 |


Foi no final dos eletrizantes anos 90 que Zé Ricardo e suas canções apareceram no cenário musical carioca. Música genuína brasileira com visitas ao samba-soul-jazz-black-pop-rock. Alma sonora que conhece só a fronteira da liberdade. Filho de Dona Evani, fã de música negra americana, especialmente dos artistas da Motown, e de Seu Chico, violonista amador e criador de passarinhos, o moleque José Ricardo Santana de Farias cresceu na Zona Sul carioca transbordante de alegria e de ginga. Foi entre rodas de samba e choro, ao lado do pai, e doces tardes embaladas por Ray Charles e Otis Redding, na vitrola da mãe, que o menino do Rio começou a cultivar sua eclética bagagem musical. Homônima, sua obra de estreia lança-

da em 1998 já passeava pela mistura de influências, uma adorável característica (das tantas) do compositor, cantor, violonista e produtor musical. A melodia sofisticada e o violão rítmico embalam a voz de Zé Ricardo. Poderosa e macia. Suingada e sensual. Perfeita para interpretar a esperta malandragem carioca que inspira há décadas a MPB da melhor qualidade. O segundo álbum, lançado em 2002, bebe numa fonte mais minimalista, com harmonias caprichadas e levadas de soul e funk com ritmos brasileiros. Nessa época, Zé, que assinou em Tempero os arranjos e a produção musical, iniciava o namoro com a música eletrônica. No terceiro CD e DVD de estreia, Zé Ricardo e Convidados ao Vivo (2005), revisita a trajetória ao lado de

amigos como Djavan, Ed Motta e Sandra de Sá. Com ela e Toni Garrido, criou o projeto Música Preta Brasileira, com shows pelo Brasil. Para cinema, compôs a trilha do longa Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach, e no teatro assina a autoria musical de Cócegas e Minha Mãe é uma Peça. Os múltiplos dons ainda o transformaram em um elogiado diretor artístico de eventos musicais de grande porte. Estão no currículo o Festival de Música e Cinema ao Ar Livre Open Air, em 2003, no Rio de Janeiro, em 2004 no Rio e em São Paulo, e em 2005 em Lisboa, onde recebeu com sua banda grandes nomes da MPB. Em 2008, assumiu a direção artística do Rock in Rio Lisboa, criando o conceito e assinando a curadoria do Palco Sunset,

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que celebra encontros únicos e inusitados de artistas do mundo todo. Em 2010, levou o conceito do Sunset também para o Rock in Rio Madri e para a edição brasileira. A inspiração para seu mais recente trabalho, Vários Em Um, tem a ver com o jeito de ser do artista, que respinga talento e criatividade um pouco em cada gênero, variando parceiros musicais, livre e aberto para toda troca que envolva pessoas, música e verdade. Ainda divide com a mulher, Reka Koves, a mais sublime de todas as funções, a de dar amor e educação a Tom e Nina: “Era tanta coisa ao mesmo tempo para fazer que corri para a casa do poeta Jorge Salomão com a necessidade de escrever sobre multiplicidade”. Nasceu a música Vários em Um, que acabou dando nome ao disco. Que é a cara deste artista, que envolve com maestria na mesma experiência sonora elementos eletrônicos e instrumentos rústicos, como um sedutor samba construído com o digitar de uma antiga Olivetti. Da mesma forma como vai colocar no mesmo palco do Rock in Rio 2013, pela primeira vez, Sepultura e Zé Ramalho. Como vai fazer o rock suingado do

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Living Colour abraçar as levadas de música africana de Angelique Kidjo. Essa diversidade que pulsa no generoso Zé Ricardo é um dos segredos do projeto: “Homenagear Raul Seixas com Detonautas, Zeca Baleiro e Zélia Duncan vai ser maravilhoso. Relembrar os Novos Baianos com Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Roberta Sá também será emocionante. Me envolvo com todos. Cada hora me apaixono mais por um”. Segundo o artista, o novo visual desse verdadeiro templo da música também vai surpreender. O Sunset terá o dobro do tamanho do palco da última edição, com 44 metros de largura e uma cenografia incrível, com pirâmides gigantes simbolizando troca de energia e unidade. Logo depois do Rock in Rio, Zé entra em estúdio para gravar o novo

CD. 2014 é ano da turnê própria por Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos. “Faço tudo com muito amor, foco e delicadeza. Para as misturas no Sunset, disponibilidade e paciência são ingredientes fundamentais. Para fazer um CD, compor, tocar, ser pai, amigo, amante, cantor, enfim... Tudo na vida depende desses ingredientes. Eu tento estar disponível para a vida plenamente. A música traz as respostas de que preciso quando tudo está nublado. Me proporciona um gozo interminável e me faz querer ser melhor todos os dias pra ela. Me faz ver como ser feliz pode ser simples.” Zé Ricardo está à frente do Palco Sunset nas edições do Rock in Rio em Lisboa em 2008, 2010 e 2012; em Madri, em 2010 e 2012; e no Brasil, em 2011 e 2013.


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OrestesdeAndradeJr.

A REVOLUÇÃO NO PAMPA Fotos Eduardo Viero

A vinícola Guatambu surge na Califórnia brasileira Gabriela Hermann Pötter, 33 anos, viveu um mês de junho inesquecível. Foi no sexto mês deste ano que ela ganhou dois filhos. Seu primeiro herdeiro, Pietro, nasceu dia 18. E sua “filha” de 10 anos – a Guatambu Estância do Vinho – debutou 12 dias antes, em 6 de junho. O padrinho foi o ator global Thiago Lacerda, presente na cerimônia de inauguração em Dom Pedrito (RS). Em 2003, recém-formada em Agronomia em Porto Alegre, Gabriela tanto insistiu que ganhou do pai, o médico veterinário Valter José Pötter, uma área equivalente a meio campo de futebol, para plantar uvas Cabernet

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Sauvignon. A ideia era testar uma nova atividade para diversificar os negócios da Estância Guatambu. Na teoria, as condições climáticas se mostravam favoráveis ao plantio de uvas – verões secos, alta insolação e boa amplitude térmica. A pequena área (apenas meio hectare) cedida por Valter José Pötter – dono de mais de 4.000 hectares onde planta arroz, milho e soja, e cria gado e cordeiro – demonstra a aposta modesta na nova atividade iniciada há uma década. Mas rapidamente o sonho de Gabriela contagiou a família toda. Já no segundo ano, o plantio passou para

três hectares, com a introdução de mudas da rainha das uvas, a Chardonnay. Em 2007, veio a primeira vinificação experimental na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves. Um ano depois, em 2008, nasceu o rótulo inaugural – Rastros do Pampa Cabernet Sauvignon. Foi nessa época que Valter Pötter, já embriagado com o mundo do vinho, andava pelo Parque de Exposições Assis Brasil, durante a Expointer, com uma garrafa de seu vinho tinto embaixo do braço. O caudilho que discorria sempre sobre gado, arroz, entre outros temas do agronegócio, estava monotemático –

Vinícola Guatambu, em Dom Pedrito (RS)

só falava sobre vinho! Hoje, na Estância Guatambu, já são 22 hectares que abrigam as uvas Cabernet Sauvignon, Tannat, Tempranillo, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Gewürztraminer. Os vinhedos estão situados na latitude 31 sul – a mesma de países como Argentina, Chile, África do Sul e Austrália, referências na produção de bons vinhos. Do desejo de Gabriela é que agora emerge, na imensidão do pampa gaúcho, a Vinícola Guatambu, um prédio com 3.000 m² distribuídos

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em dois níveis, ao estilo espanhol. O investimento total chega a R$ 10 milhões. Com foco na sustentabilidade, a vinícola foi projetada para funcionar 100% com energia solar e conta com reservatórios que captam a água da chuva, reaproveitando-a no próprio local. Outro destaque é o jardim nativo, formado com mais de 25 plantas oriundas do pampa. A nova vinícola, instalada na entrada de Dom Pedrito, é a primeira da região planejada para o enoturismo. Além da visita para conhecer todo o processo de elaboração de vinhos, é possível fazer cavalgada nos vinhedos e apreciar a criação de ovinos e bovinos da Estância Guatambu, uma propriedade rural com 56 anos de existência. A degustação

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dos vinhos e espumantes da Guatambu é harmonizada com tábua de frios ou parrilla de carne Hereford e cordeiro produzidos na própria estância. A vinícola também tem uma loja para venda da linha de vinhos, produtos típicos da região e cosméticos à base de uva. A inauguração da vinícola dá impulso à nova vocação da região para a produção de uvas e derivados – chamada de a “Califórnia Brasileira”, já conta com 16 empreendimentos vitivinícolas. A região da campanha já é responsável por 15% da produção de vinhos finos brasileiros. A persistência de Gabriela e o envolvimento de toda a família Pötter produziram uma revolução no pampa gaúcho. Que está só começando.

Acima, a casa das cinco mulheres: Raquel, Isadora, Valter, Nara, Gabriela e Mariana. Abaixo, Gabriela na adega da vinícola Guatambu.

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LíviaChavesBarcellos

A ARTE DE MAGLIANI Maria Lídia foi uma artista ímpar, impactante e Renato Rosa, seu seu grande amigo

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O artista não morre, permanece entre nós por meio de sua obra. É o caso de Maria Lídia Magliani, que nos deixou em dezembro último. Uma importante exposição-homenagem na Pinacoteca Municipal Aldo Locatelli foi prorrogada devido ao imenso número de visitantes. Convidei Renato Rosa para dar seu depoimento sobre sua “irmã da vida”. Lívia – Você, que circula no eixo Rio-São Paulo-Porto Alegre, como vê o mercado de arte nesses mundos tão diferentes? Renato Rosa – Sempre afirmei que o mercado de arte é composto de “ilhas”, um enorme arquipélago, em que o que vale para uma região se torna distinto noutra. Muitos valores são apenas regionais. Mas existem profissionais que dominam a ponta do sistema, e a isso se soma uma corrente que abrange desde o moldureiro até a galeria mais destacada do país. E o que baliza esse mercado e regula tudo é o leilão de arte, no qual a lei da oferta e da procura se faz valer.


Lívia – Os quadros da Magliani estão à venda? Rosa – A exposição é institucional e não está à venda. Essas obras foram emprestadas por amigos da artista, colecionadores e instituições culturais, como o Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, a Pinacoteca da Aplub e o MAC-RS. É uma homenagem que celebra a obra e a memória da artista. A maior revelação é a suíte fotográfica, feita em 1971, por Luiz Carlos Felizardo. Lívia – Sei que você tem preferências por alguns artistas. Isso se deve apenas às obras deles ou há também um lado pessoal? Rosa – O lado pessoal conta muito, sempre. Graças a isso convivi com artistas excepcionais como Burle Marx, Scliar – a perfeição em obra, meu santo de cabeça, tudo o que fez é bom –, Glauco Rodrigues, Fuhro – meu maior amigo entre os artistas e, sempre confesso, meu preferido – e Xico Stockinger. Há lugar para muitos outros, como Iberê

Camargo e Magliani. Ela, uma irmã da vida, e Roth, que é outro irmão. Difícil separar o que é humano em cada um, e isso, felizmente, existe e... a arte salva! Lívia – Por que a mudança de marchand para curador? Rosa – Essa migração de um campo para outro aconteceu naturalmente. A maior influência foi o trabalho que desenvolvo desde o início do ano 2000, na Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, editando o site e fazendo pesquisa. Mas o embrião dessa tendência foi a criação, junto com Décio Presser, do Dicionário de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul, que teve suas duas edições esgotadas. Lívia – Conte algumas curiosidades sobre Magliani.

Rosa – Ela era a rainha da frase de efeito. Dizia coisas trágicas à la Nelson Rodrigues, tipo “tenho certeza de que morrerei daqui a cinco anos”, “sonho todas as noites que estou nua numa estação de trem, como nas pinturas de Paul Delvaux”. Tenho cartas e mais cartas dela – seria uma bela escritora. Não foi à toa que era a musa de Caio Fernando Abreu.

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MarcoAnt么nioCampos

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TÃO LINDA COMO TALENTOSA Julia Roberts apareceu para o mundo como Pretty Woman, uma linda mulher, na comédia romântica modelo que Garry Marshall dirigiu em 1990 (puxa, já faz 23 anos), o que lhe rendeu uma indicação para o Oscar e para o David di Donatello de Melhor Atriz, um Globo de Ouro e um Bafta de Melhor Atriz, tudo aos 23 anos de idade. Desde o megassucesso do filme, Julia foi eleita a nova namoradinha da América e apontada como a sucessora de um trono vago há muitos anos: a substituta da eterna Audrey Hepburn, modelo de mulher bela, elegante e ótima atriz. Claro que, depois de um início de carreira arrasa-quarteirão como aquele, vieram altos e baixos, principalmente quando a vida pessoal da moça trazia para os noticiários fatos tão complicados como o noivado acidentado com o jovem Kiefer Sutherland, o namoro com Benjamin Bratt e o casamento com o esquisitíssimo Lyle Lovett. Não faltaram filmes bem do tipo que os produtores certamente considerariam

próprios para dar sequência ao mito Julia Roberts, títulos como Notting Hill (excelente comédia romântica com Hugh Grant), O Casamento de Meu Melhor Amigo (em que ela faz uma vilã adorável) ou Noiva em Fuga (refazendo sem o mesmo sucesso a parceria com Richard Gere e Gerry Marshall). Mas como de acomodada Julia Roberts não tem nada, ela soube colocar em seu currículo nomes de diretores como Woody Allen (Todos Sabem que Te Amo), Robert Altman (Prêt-à-Porter), Steven Spielberg (Hook), Stephen Frears (O Segredo de Mary Reilly) e Neil Jordan (Michael Collins). Quando sua carreira parecia meio sem rumo, Julia fez um filme baseado em fatos reais com Steven Soderbergh, Erin Brockovich, a história de uma mãe solteira desempregada que vai trabalhar em um escritório de advocacia para ajudar em um processo de indenização sobre a contaminação por lixo tóxico de uma grande empresa americana, que resultou em uma

das maiores condenações da história. O filme não somente foi um estrondoso sucesso e rendeu a Julia o Oscar de Melhor Atriz, como firmou sua parceria com Soderbergh (para os filmes da série Ocean’s Eleven, Twelve, etc.). Julia está casada com o cameraman Danny Molder, com quem tem dois filhos de nomes no mínimo pouco comuns: Hazel Patricia e Phinnaeus Walter. Hoje, aos 46 anos, a americana nascida no estado da Geórgia tem 51 filmes como atriz e oito como produtora. Neste segundo semestre de 2013, Julia vai voltar aos holofotes com um projeto antigo: August: Osage County, filme em que contracena com Merryl Streep, Juliette Lewis, Ewan McGregor, Sam Shepard, Chris Cooper e o ascendente Benedict Cumberbatch na adaptação cinematográfica da peça multipremiada com o Pulitzer de 2008, de autoria de Tracy Letts, contando a história de uma família americana e todos os seus dramas. Mais um Oscar no horizonte de Julia Roberts.

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ESPERANÇAS SEM FILTRO Numa jornada distante, onde se corre, caminha, voa, rumando sempre na mesma direção, em que o certo e errado estão distorcidos a ponto de não se saber o que é o quê. Tantas facetas e sensações diferentes nesse caminho podem confundir até os mais calejados. O doce e o amargo convivem tão próximos quanto o doce de leite que recheia o alfajor da confeitaria da esquina. De romântico o mundo já não tem muito. A necessidade de

constantemente usar um filtro imaginário, como esses que tornam um pôr de sol qualquer em obra de arte, me faz chorar. Choro por tê-lo esquecido, desligado. Bateria com dois palitos não significa nada nessa hora. O presente passa desapercebido. Me sinto só. Ao meu redor tudo funciona, sem gentilezas. Apenas a frieza e precisão das máquinas. À minha volta, um cansado rádio a pilha ligado, de um senhor mais cansado ainda, me resgata desse redemoi-

*O autor é tenista profissional 76 |

nho que me girava e afundava. Sua música tinha um vigor por muito já perdido por ele e pelo próprio dono, e mesmo assim soava penetrante a ponto de meu filtro novamente se acender. A música me encheu e me abraçou. Trouxe de volta as cores da esperança ao meu olhar e por fim me pôs de volta ao rumo infinito. André Ghem*


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PatiLeivas

ALMADA ALMA

São muitas as delícias feitas com amor no Almada

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Nessas minhas idas e vindas na ponte “Poa/Sampa”, é natural que eu acabe conhecendo muitos lugares legais, principalmente restaurantes (mesmo mantendo firme as minhas “escolhas saudáveis”, não estou mais em dieta restritiva, então já dá pra frequentar lugares “públicos” de novo). Mas é realmente muito bom e dá um certo orgulho quando eu conheço algo inusitado, incrível e de qualidade nível “Metrópolis” por aqui mesmo... Tá, não é exatamente aquiiiiiii em Porto, até porque o objetivo deste “encontro” mensal é contar sobre lugares de fora, mas é bem pertinho, a exatos 180 km... em Canela! E também não é exatamente uma novidade, pois o restaurante já vem encantando há mais de um ano, mas talvez tu ainda não conheças... O ALMADA cozinha criativa (sim, tem título

e subtítulo o restaurante) tem o requinte da cidade grande com o atendimento de cidade interiorana, somados a um ambiente lindo e supermoderno... Uma delícia desde a entrada! Fica localizado na principal rua de Canela, e a chef Caroline Heckmann é, sem dúvida, a “alma” do Almada! A chef de 38 anos e três filhos emprega criatividade aliada a uma simplicidade que acaba por nos deixar boquiabertos, do tipo “como eu não pensei nisso antes?”! Pratos deliciosos feitos com ingredientes simples mas com o amor que Carola dedica à comida há mais de dez anos fazem com que a experiência no Almada seja única (mesmo que a gente queira repetir sempre)! Recomendado e assinado embaixo: viva a criatividade gastronômica que enche os olhos, a barriga e a alma!


C e rte

za de ser bem-cu idada.

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SilvanaPortoCorrĂŞa

TUDO TEM O SEU LUGAR Fotos Isadora Bertolucci

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Com um coração gaudério e muitos afetos, Magda Landgraf organiza não só a sua casa como também a de quem pedir.

Uma visita apenas à sua casa no Jardim do Sol basta para entender as escolhas profissionais e o jeito de viver de Magda Landgraf. Aquecida por uma enorme lareira de pedras, cada cantinho de sua acolhedora moradia é um convite para o deleite de relaxar com estilo. Numa mistura onde tudo é proposital e lindamente descombinado, charmoso e colorido, ursinhos de pelúcia dividem a cena com coloridas toalhas xadrez e um vaso com alegres margaridas. Tem o coração gaudério, como ela explica as referências e admiração pelos gostos e hábitos interioranos: “Amo tudo, a dança, os costumes, a comida, pelego, a madeira”. É justamente essa pegada rústica e o inusitado moderno que tornam fascinante o lar de Magda. Como a parede de afetos em que estão uma multidão de românticos porta-retratos e miniquadrinhos. Pelo mesmo motivo que uma foto de Kate Moss em cima do piano, uma mesa de sinuca e uma arara de roupas conversam perfeitamente na mesma sala. Aos 18 anos começou a trabalhar com moda como vendedora no Grupo Alfred. Depois passou pela gerência da loja Saco & Cuecão, onde formou uma

equipe com 11 vendedores homens e uma mulher, a Sandra, hoje proprietária da Twin Set. Em 1980, Magda abriu a Levajeito na Protásio Alves, em seguida no Iguatemi, no Praia de Belas e no bairro Moinhos de Vento. Depois teve duas franquias da Zoomp e hoje agrega ao seu universo e expertise em moda e estilo, o eclético leque de atuação de sua empresa, a EmCasa. Que oferece desde treinamentos para capacitação de profissionais do lar, incluindo de boas maneiras, passando por macetes para tirar manchas, lista de supermercado a conselhos nutricionais. Ainda organiza todos os ambientes da casa, álbuns de fotos e afetos, documentações familiares e de escritórios, serviços para noivos, executivos e lojistas (www.emcasa-rs.com.br). Para relaxar das 16 horas que trabalha por dia, Magda corre disciplinadamente três vezes por semana e faz musculação: “Sou feliz porque gosto do que faço, dos detalhes todos. Tudo na vida tem sua casinha, seu lugarzinho. Não gosto de nada fora do lugar”, conta a consultora de estilo e organizadora profissional, enquanto se alonga em frente ao fogo da lareira com sua calça de couro vermelha.

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AsPatrícias

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ISABELA, ALMA DE MENINA, TALENTO DE GENTE GRANDE Estilista carioca mantém a sofisticação do feito à mão, criando estilo singular e desejado mundo afora 82 |

Não à toa, Isabela Capeto tem uma boneca como logotipo, inspirada nos próprios croquis da estilista. O traço é lúdico, fácil, tem um quê divertido, certo aprumo, muita bossa, exatamente como Isabela, carioca faceira que faz moda para mexer com o coração e alma. Nada é neutro e muito menos comum no universo de Isabela. Nem seus bordados. Nem suas estampas. Nem suas

cores. Nem ela. Intensidade é a palavra dessa moça que imprimiu sofisticação ao artesanal e se transformou em um desejo de brasileiras que buscam moda além do vestir. “Tem que fazer moda com paixão, por amor”, diz, vez e outra, a estilista, que brilha sempre que fala de sua trajetória, de suas coleções, de seus projetos – que são muitos, porque ela não para.


Isabela sempre amou moda. Quando criança, gostava de se vestir diferente. Tinha uma costureira de família que transformava os sonhos da menina em roupas coloridas e repletas de muitos detalhes: botões, sianinhas, aplicações. Até luva a guria vampeta usava, provocando cenhos franzidos de quem não tem arco-íris no olhar – mas ninguém, nem pai, nem mãe, nem ela ligava. Ainda bem. E sempre desenhou. Bonecas fofitas e excêntricas, muito particulares, que, por estranho que possa parecer, até travaram seu ingresso em faculdades de moda. “Odiavam o meu desenho e eu nunca passava. Tentei algumas vezes”, lembra, entre um sorriso típico de quem não desiste facinho. Foi depois de rodopiar pela moda do Rio, trabalhando aqui e ali, que decidiu romper fronteiras rumo à Itália, onde se formou em estilismo pela Academia di Moda, em Florença. De volta ao Brasil, trabalhou por quase uma década na equipe de estilo de grifes consagradas. “Trabalhei muito, com toda a dedicação, observando e aprendendo cada detalhe.” Em 2000, decidiu reverter a expertise em bem próprio, criando as primeiras peças bordadas que fizeram su-

cesso no exterior para depois conquistar especialistas nacionais. Essas peças provocaram verdadeiro alvoroço entre os entendidos do tema. Sim. Viraram passaporte de estilo no Brasil, em um primeiro pestanejar do sucesso estrondoso que viria a seguir. Desfiles no Fashion Rio, na São Paulo Fashion Week, loja lindona no Rio, outra bacanérrima em SP, coleções elogiadíssimas, peças disputadas, a Isabela, a espevitada da criação, virou a Isabela Capeto, a estilista consagrada, tanto que um grupo de investimentos decidiu comprar a marca. Deu certo, não. O negócio retrocedeu, lojas fecharam, desfiles acabaram. Por quê?! Ora, que menina marota vai deixar de produzir com carinho ímpar o feito à mão para criar em série e atender uma demanda que nem era seu desejo?! Não esta. Depois de anos de disputas judiciais, a marca voltou à dona, que agora tem autonomia como nos primeiros tempos e conduz múltiplos negócios com força e todo o carinho, acompanhando de pertinho, se dedicando ao máximo, bem feliz. Assim leva sua única loja, no bairro de Ipanema, seleciona multimarcas no país e acompanha coleções as-

sinadas para outras áreas, como uma infantil para a C&A, os óculos incríveis da Chilli Beans e a linha de make-up para a gaúcha Panvel, o que traz a estilista para Porto Alegre com frequência – que a gente adora, é claro! Também resgatou o nome Ibô, apelido de infância que estava lá no comecinho da grife e que agora volta com conceito upcycle, ou seja, com reaproveitamento das próprias sobras de tecidos e aviamentos para criar peças de valores mais acessíveis em uma segunda marca. “Acho o desperdício um absurdo e controlo cada vez mais cada etapa do processo, para evitar que aconteça.” Na grife, ela idealiza, pesquisa, desenha, tá junto na modelagem, na construção da peça-piloto, na costura, na produção, que é muito exigida, já que os trabalhos manuais delicados são a essência de suas peças. “Muitas vezes, acho que se algo der errado, como uma cor que não é exatamente como a que eu esperava, tudo bem, era pra ser assim. A gente também precisa a ter suingue, né?” E alguém duvida que suingue não falta a essa carioca da gema?! A gente tem certeza de que ela tem sobra.

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PaxLuxLuv

IsadoraBertolucci

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A Invisível Zandra Rhodes Nada pode ser mais justo que comemorar os dez anos do Fashion and Textile Museum com uma homenagem a sua criadora, Zandra Rhodes. Até o final de agosto, croquis nunca vistos, rascunhos conhecidos e desconhecidos e parte do processo criativo da estilista estarão expostos. Famosa pelo design eclético, heterodoxo e iconoclasta, a “Princesa do Punk” tem como seguidores Bianca Jagger, Liz Taylor, Tom Ford e Anna Sui, e já vestiu de Lady Di a Fred Mercury. Zandra fundou o museu para que as inovações dos designers têxteis britânicos nunca fossem esquecidas. + ftmlondon.org

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Da Noite para a Passarela Se o MET NY causou alvoroço recebendo a exposição PUNK: Chaos to Couture, agora é a vez do legítimo berço da contracultura pular uma década para falar dos New Romantics. O Victoria&Albert Museum de Londres exibe até fevereiro

de 2014 a mostra Club to Catwalk: London Fashion in the 1980s. Criatividade sem limites e comportamento teatral marcaram esta turma que tinha como vício criar o próprio figurino para sair. Estilistas, dançarinos, músicos e filmmakers andavam juntos

e criavam com abundância provocando a fusão do estilo noturno com a passarela. Além dos looks de Betty Jackson, Katharine Hamnett, e John Galliano, o museu oferece oficinas e palestras sobre o tema durante a temporada. +www.vam.ac.uk

leia, se informe, compre certo, menos e com calma fazem parte das emoções byronescas. A moça é esperta, cercou-se de filósofos de moda contemporâneos e citações de estilistas pró-slow fashion, mergulhou

nas subculturas documentadas em looks lendários. Entre outros mantras da CEO: “A moda está fora de alcance”, “Não esqueça de dormir” e “Não pense que o consumidor é burro”. + www.byronesque.com

Modernizando o vintage Para Gill Linton, a moda não tem ponto de vista; a cultura em volta dela, sim. Com linguagem e estética dark chic, Gill não acredita no modo como a moda vintage é comercializada atualmente. Levemente blasé ela diz: “A nostalgia é inimiga do progresso, criei o Byronesque para modernizar e organizar a informação de moda proporcionando uma nova experiência de compra”. Mandamentos tipo relaxe,

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Vestido com capuz: Nara Lisboa, Jaqueta jeans: Levi’s para Regentag Tenis: Converse para Convexo.

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VOLUME ET SYMBIOSIS Fotos Ricardo Lage

Quando pontos e fios se unem para formar uma segunda pele espessa, colorida e texturizada, encontramos um inverno solar, aconchegante, livre de tabus e repleto de imaginação.

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Pantalona brechรณ: Carla Gallas, casaco, manta e bolsa: Lรฃ Pura (Pandorga), camiseta: Regentag, sandรกlia: Arezzo (acervo)

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Blusão: Nara Lisboa, short em couro com corte a laser: CMINDOV, creeper de cano alto: Converse para Convexo, chapéu: acervo.

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Camisa Jeans: Chapéu de Palha para Pandorga, jeans: Levi’s para Regentag, tênis com pelúcia dentro: Perky + Convexo collab.


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Short de paetĂŞ: Las Nite, camisa jeans: My Fonts, casacos sobrepostos: Milena Pagano (tudo para Pandorga) e Converse para Convexo.


Agradecimentos: Estabelecimentos da Rua Miguel Tostes Kiko Brustolim (Ford Models Sul) lojapandorga.com.br www.regentag.com.br www.cmindov.com www.lojaconvexo.com.br

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Styling: Duda Cambeses e Mariana Pesce Make Up: Bianca Duarte Modelo: Renata Fagundes (Ford Models Sul) Tratamento de Imagens: StilgrafGGK

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VENTURA NO ORIENTE Um enigmático túnel verde que leva à praia de Cidreira e as areias do litoral gaúcho emolduram o tanto dramático quanto belo acervo de Lino Villaventura. Criador intuitivo e extremamente original, o paraense passeia por um eclético universo de inspirações para criar. Puro instinto, usa sem economia a farta imaginação para revisitar o passado, as histórias de vida e os desejos. As roupas são riquíssimas, adornadas por bordados plissados, estampas e tecidos nobres. O make de Bianca Duarte e os cabelos produzidos pelo Cubo foram inspirados nas mulheres retratadas pelo pintor Klimt. A concepção do filme que originou este editorial é da equipe da Alfaiate Filmes, a direção é de Raul Krebs e Ismael Goli, com estilo e produção executiva de Patricia Parenza e direção de fotografia de Pablo Chasseraux. O filme foi feito para divulgar o Lino em alguns paises do Oriente Médio, novo mercado do estiilista. Para ver o filme o endereço é: https://vimeo.com/70554544

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quebeleza

AlineMatias

ESTANTE COLORIDA Falar de beleza é sempre instigante, todas as mulheres querem uma dica valiosa ou um truque mágico. Acho que beleza tem que ser acessível, todas podem aprender o que melhor funciona, para o que serve aquele pincel esquisito ou simplesmente ser lembrada que um copo de água e um poderoso hidratante fazem milagres. E vamos combinar que nem sempre o seu maquiador tem horário para te atender quando surge aquela festinha de última hora. O jeito é se informar. Dei uma passeada na minha estante e elegi meus quatro livros queridinhos que vão, além de um simples truque, ajudar a desmistificar a maquiagem, dando elementos para que cada uma faça a sua escolha por um kit de produtos eficiente, ajudando a estabelecer uma rotina de beleza fácil, rápida e ao alcance de todas.

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Maquiagem Duda Molinos – editora Senac O Duda é demais,organizou uma bíblia simples que ensina desde como usar o pincel certo até escolher a maquiagem adequada para cada ocasião e organizar seu tempo disponível para fazer o seu makeup. Amo de paixão!

O Boticário Maquiagem by Fernando Torquatto Torquatto dá dicas preciosas,neste livro lindo ilustrado com fotos incríveis do Jacques Dequeker, à venda nas lojas O Boticário, achei o livro fácil e super atual.

De bem com o espelho, Automaquiagem por Alice Salazar – editora Belas Letras Adoro Alice Salazar, é a maquiadora pop star da internet, divertida e muito estimulante. Alice tem uma visão própria e única da maquiagem e consegue dar o recado como ninguém. Sou fã #prontofalei.

Scott Barnes About Face – Apple Press Scott Barnes é o maquiador das estrelas. Total “ red carpet”, ele ensina looks incríveis para ocasiões festivas. É para “glamourizar”!


O deck mais charmoso da cidade, agora em plena luz do dia. Agora o Takêdo também abre para almoço, com Buffet Executivo de sushi e sashimi a vontade e Menu A La Carte. Almoço de segunda a sábado das 11:45 às 15:00 Rua Carvalho Monteiro, 397 | Bairro Bela Vista | Porto Alegre Reservas: 51 3388.5097 | 3332.4170 | reservas@takedo.com.br www.takedo.com.br | facebook.com/restaurante.takedo | 101


modaurbana

MaurenMotta

INVERNO TROPICAL Os dias ensolarados de inverno e o clima agradável transformam as ruas de Porto Alegre num delicioso mix de estilos. Do clássico ao rock, as batidas fashionistas são marcadas por diferentes formas de vestir e interpretar as verdades de cada um. O Moda Poa passeou pelas ruas do Moinhos de Vento e encontrou produções deliciosas, típica de lugar com tempero próprio. Enjoy!

A estilista Elisa Chanan deixou o look total Black descontraído com as botas de montaria e a jaqueta biker com shape moderno. A bolsa de nylon Marc by Marc Jacobs completa a produção despretensiosa e charmosa 100 |


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1 - Dani Scalvenzi (E) criou look fresco e confortável sem abrir mão da elegância. A amiga Lela Dias (D) adotou o tom do momento, azul Klein, combinado no blazer e no Ray Ban Aviador espelhado. 2 - As irmãs Victoria e Nathalia Cirio, estilosas, dão twist boho aos looks roqueiros com bolsas colorida e de franjas. 3 - Matteo da Silva, estudante de direito, combinou o traje de trabalho - clássico e bem ajustado - com seu estilo pessoal. 4 – Douglas Burtet e Eduardo Pulita apostaram nas gravatas para compor os looks estilosos. 5 - O look P&B de Ana Flora Bestetti ganha informação com a textura trabalhada no blazer. 6 - Clássica, Fernanda Pigatto deu um toque navy à produção combinando a bolsa vermelha Miu Miu ao blazer marinho. O look do pequeno Pedro, com a barra da calça dobrada, ficou superatual.

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VitorRaskin

SPECIAL GUEST: Em noite de festa, o charme de Caroline Logemann.

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1 - Maria Celina Canario e Lilian Guarita no Country Club 2- O estilo de Guilherme Roth 3 - Carmen Dora Pasqualini 4 - Simone Genz & Luciano Faraco 5 - Thais Birmann e Nelson Sirotsky Dvoskin 6 - FabĂ­ola Chang e Tao Ribeiro Dias 7 - Clarissa FossĂĄ e Tatiana Luft no Plaza

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LULU SANTOS

IN CONCERT

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1 - Daniela Calliari , Lulu Santos e ร ngelo Caleffi

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2 - Ana Paula Terra Machado & Paulo Amaral 3 - Vica Schneider Noll 4 - Fabricio Kroeff & Alessandra Ponzi 5 - Virginia Saint-Pastous Caleffi 6 - Tanara Bier Moreira e Susana Beck 7 - Luciano Mandelli e Alexandre Gerhardt 8 - Greice Boff 9 - Rose Gurski e Maria da Graรงa Coelho 10 - Magda Borges e Silvia Arohns 11 - Andrea Becker & Carlos Paulo Fortuna

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O escritor ARMINDO TREVISAN na Livraria Cultura

MISTURE BÁ Por Dulce Helfer

Com Mariana Bertolucci CLÔ BARCELLOS e RAFAEL GUIMARAENS

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FÁTIMA TORRI e GILSON SANTOS

ANA AITA e LOU BORGUETTI no GNC Iguatemi


Belíssima, VITÓRIA ARMINGER CHAVES BARCELLOS no Plaza São Rafael

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O ator e poeta JULIANO CAZARRร esteve por aqui lanรงando seu livro de poemas

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PHILIPPE REMONDEAU ORESTES ANDRADE JR

Clã Valduga: O enólogo JOÃO VALDUGA entre os herdeiros JONAS e LUÍSA VALDUGA

SADY HOMRICH

DALVA SILVEIRA

SILVIA MALDONALD REIS e ADULCE ZAFFARI

REGINA WALLAUER e MARIA CECÍLIA SPERB

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Elegante como de hรกbito, PAULO GASPAROTTO prestigiou a Festa da Casa Valduga no Plaza Sรฃo Rafael

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MARIA CRISTINA, CARLOS HENRIQUE e ANA EDUARDA SCHMIDT

Abaixo, NORTON FERNANDES e MARIO CHAVES

O lindo sorriso de BÁRBARA SUCASAS POZZEBON

CAROLINE KRELING, JULIO MOTTIN FILHO, DOCA MOTTIN e ANA MARIANO MOTTIN HELENA BEATRIZ CHAVES BARCELLOS MACEDO e SANDRA HERVÉ CHAVES BARCELLOS

FERNANDA MAGALHÃES e MARTA BECKER

GILBERTO e CARMEN CABEDA


Filho de Glauber e também cineasta, ERIK ROCHA, que fez documentário sobre JARDS MACALÉ e REJANE ZILLES

DANIELA NEULS e ISABELA CAPETTO CLÁUDIO BIER com HEITOR e NILSA MÜLLER no Margs Acima, RENATO MALCON e CRISTIANE LÖFF À direita, os DJs DOUBLE S e NICOLE BALDWIN

GLORIA CORBETTA entre ZUNEIDE e BRITTO VELHO no Margs

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RICARDO MACCHI e IVAN CASTRO

A premiada arquiteta gaúcha BETINA GOMES. Com o projeto Casa do Futuro, conquistou o prêmio A’Design Award & Competition durante a Semana Internacional de Design de Milão na categoria Design, Arquitetura, Estrutura e Construção


www.tabeditora.com.br

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Luis Fernando Verissimo, por Dulce Helfer


Pallotti. A griffe das grรกficas.

www.graficapallotti.com.br www.facebook.com/graficapallotti pallotti@pallotti.com.br



AGOSTO/SETEMBRO - 2013


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