Revista Bá número 9

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POR

MARIANA BERTOLUCCI

DEZEMBRO/JANEIRO 2014/2015 - N° 09 - R$ 7,00

EDUARDO BUENO Polêmico, corajoso e genial, Peninha fala (muito) do amor pela escrita, pela família e pelo mato

BÁ, QUE LUGAR Boteco clássico porto-alegrense, o Lourival completa 61 anos

MODA Vestir consciente, cada vez mais tendência

ANDREA PERNA Luxo com atitude: com a filha Giovanna abre as portas da The Perfect Dress GLAUCIA GONÇALVES A estilista gaúcha e seu gracioso mundo particular


por que publicamos?

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porque amamos!

www.tabeditora.com.br

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sumário

UM 2015 COM CORAGEM Abrupto e denso. Hilário e dramático. Exagerado e objetivo. Sensível e rude. Nunca coube tanto assunto e tanta palavra em uma entrevista de 1h14min. Com ensaio do talentoso irmão Fernando Bueno, o papo com meu vizinho de prédio, escritor, historiador e também colega de profissão Eduardo Bueno foi essa deliciosa montanha russa de conversa fiada, histórias de amor, outras do Brasil e uma inconformidade com o rumo do planeta e da humanidade que somente que as pessoas autênticas e corajosas têm. Outra história de coragem é a da chef Lu Agrifóglio, que aos 54 anos fez vestibular para Gastronomia e hoje comemora o sucesso do primeiro ano do seu restaurante Lucca. Fernando Baril foi definido por Ivan Mattos como “único e indiscritível é o seu olhar quando reflexiona, através de suas pinturas, um mundo em convulsão” e integra o mesmo e sedutor coletivo de seres que não temem a inquietude da vida real. Toda ousadia e trabalho, você também vai se deparar na página 68 com a história das irmãs Chissini, que saíram de Vacaria para ganhar Florença. No mês em que a Capoeira virou patrimônio cultural e imaterial da humanidade pela ONU, Andréa Back fala sobre uma exposição bacana que está girando o País: Patrimônio Imaterial Brasileiro – A Celebração Viva da Cultura dos Povos. Por fim, em nossa edição derradeira do tal do 2014, trazemos em nossas páginas um pouco da liberdade múltipla e criativa de Heloisa Medeiros, que à frente da Like tem transformado a cena cultural da cidade com sua peculiar atitude engajada. Não menos corajosa, nossa doce Claudia Tajes sugere um 2015 mais educado e regado a respeito. Quase mais que meio caminho andado mesmo, Claudinha...

Boa leitura e até 2015! Mariana Bertolucci

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FURIOSAMENTE REBELDE

editorial

Peninha passional: escreve, voa e faz cócegas


Estilo no DNA

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32 viajar é surpreender-se

SEM PERDER A CONSCIÊNCIA JAMAIS

Tendência Sustentável

Boemia confirmada

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Editora: Mariana Bertolucci

MAIS QUE PASSAR EM LUGARES

Múltiplo, simples e comovente

UM BOTECO CHAMADO LOURIVAL

LUXO COM ATITUDE

BRAVISSIMA LU

Alquimia, ousadia e paixão

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ARTE SEM PARALELO

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Diretoria: Mariana Bertolucci mail: mariana@revistaba.com.br marianabertolucci@gmail.com Simone M. Pontes mail:simone@tabeditora.com.br

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Projeto e ExecuÇão: TAB Marketing Editorial www.tabeditora.com.br Marketing e Comercial: Denise Dias Tel: (51) 9368.4664 Mail: denise@revistaba.com.br Revisão: Renato Deitos Colunistas: Ana Mariano Andréa Back André Ghem Claudia Tajes Cristie Boff Danilo Aranha Fabiana Fagundes Flavia Mello Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro e Carol Zanon Julia Fleck da Rosa Ivan Mattos Lígia Nery Lívia Chaves Barcellos Marcelo Bragagnolo Marco Antonio Campos Orestes de Andrade Jr. Silvana Porto Corrêa Verônica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno

A revista Bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. Elas são de responsabilidade de seus autores. Todos os direitos são reservados.


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FURIOSAMENTE REBELDE Fotos Fernando Bueno

Jornalista de formação. Escritor, historiador, apresentador, falador e maluco por natureza, Peninha falou (e muito) sobre a infância, a família e suas paixões: Bob Dylan e o Grêmio. Segundo filho de Dona Beatriz e seu Milton, de acordo com o próprio Eduardo Bueno, ele e o irmão fotógrafo, Fernando Bueno, bastavam para transformar a casa num pesadelo. Os pais da dupla adoravam receber e eram muito queridos pelos amigos. Nascido em 1958, quatro anos depois do irmão, o pequeno Eduardo viveu seus primeiros cinco anos numa travessa da Redenção, na rua Vieira de Castro. Quando mudaram para São Paulo porque o pai, que pertencia à alta hierarquia da União de Bancos, foi transferido. Dono de um bigodão de dar inveja a Olívio Dutra, seu Milton era também boêmio, galanteador e recitava Dante: “Foi importante

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porque, embora eu tenha esse sotaque gaúúúúúchoooo (ele espicha ainda mais o porto-alegrês), que é gremiiiiiiista e bábábá, tem um lado que não sou 100% gaúcho. Porque São Paulo lhe dá um verniz cosmopolita, mesmo você sendo criança”. A cidade já era dinâmica, e Higienópolis, o bairro em que moravam, era um lugar de gente moderna. As lembranças da infância na capital paulista são as melhores: “Ainda era a Terra da Garoa. As pessoas não se ‘flagram’ que São Paulo fica a mil metros de altitude. É mais alto que Gramado. Tinha um clima de serra, e por isso que tinha aquela garoa. Lógico que, com a destruição da mata, com a poluição e o efeito estufa, não tem nem garoa, nem uma gota d’água. Mas peguei esse período lá, e até hoje eu tenho esse apreço por São Paulo. Também foi ótimo mudar para Porto Alegre. É uma cidade muito

mais fácil de viver até hoje”. Recorda, não sem antes emendar outro relevante assunto na mesma resposta. Foi cercado de mata da rua Pedro Weingartner que voltou a morar na cidade onde nasceu, bem na semana em que o Grêmio ganhou um Grenal e foi heptacampeão. Ele foi ao campo com o avô: “Meu avô era fanático, mas não era debiloide. Eu e o meu irmão viramos dois debiloides”. A recepção dos colegas do Anchieta não foi das mais simpáticas: “Tem esse mito que o gaúcho é hospitaleiro. O gaúcho é refratário, panelinha, é rude quando quer. Fui considerado meio nerds paulista, mais adiantado porque lá era mais forte. Daí me retraí e me tranquei no mundo dos livros. Passava o tempo inteiro lendo no quarto e meus pais achavam que estava estudando. Quando vinha o boletim, os caras diziam: ‘pô, o guri é débil mental,


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porque ele estuda o tempo inteiro em silêncio, não vai para a rua e vai mal no colégio’”. Ele lembra que nessa época lia basicamente Egito. Já enturmado no colégio, o grande barato do magrão era explorar a natureza, acampar e caminhar sem rumo pelo mato que cercava a sua casa. Quando o Parcão ainda era um terreno baldio gigante: “Desenvolvi essa coisa com a natureza. Tínhamos casa em Canela, onde meu irmão mora até hoje, e era para lá mesmo que eu ia. Sempre lendo muito”. Do Egito passou sem escala para o livro Eram os Deuses Astronautas: “A minha versão acabei vendendo, depois que virei de esquerda. Depois comprei de novo. É um livro ridículo, inclusive, um best-seller internacional que dizia que todas essas civilizações, astecas, maias, incas etc. e tal eram tudo ET. Eu entrei nessa total de ufologia”. Por sorte, foi aos 15 anos que foi apresentado por uma namorada chamada Betina a Rimbaud, Dostoiévski, e a vida virou literatura: “Não pensava em outra coisa que não fosse ler. Literatura de verdade. Como era fanático por futebol, juntou o fato de gostar de escrever e de futebol...”.

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Tinha aquela coisa, atacar o sistema por dentro. Eu estava na TV Globo e dizia: ‘Vou dinamitar por dentro o sistema’.

Quando ficou em dúvida entre História e Arqueologia, escolheu o Jornalismo. Entrou na faculdade e no jornal Zero Hora. Depois da Copa da Argentina (1978), pediu demissão e fez uma longa viagem seguindo os caminhos do Jack Kerouac no On The Road. Da Europa foi até a Turquia, voltou por Londres, embarcou para Nova York e, de lá, de carona, voltou a Porto Alegre. Depois, passou pelas redações da TV Globo, no Rio, e do Estadão, em São Paulo, ao lado de Augusto Nunes, com quem retor-


nou à ZH, dessa vez no Segundo Caderno. Época em que já era casado com a segunda mulher, Ana, mãe das suas duas primeiras filhas, Flora, 30, e Belém, 33 (mãe de seu único neto, Ravi). Na mesma Zero Hora, onde Ana também trabalhou, conheceu Lucia, com quem teve a caçula Lisia. “São bem unidas. Belém é ceramista, se formou em Artes. A Flora é professora de pilates e foi com o marido morar na Gamboa”. Megamultimídia nos últimos 20 anos de carreira solo, Peninha ficou

conhecido nacionalmente com a trilogia best-seller que encabeçou todas as listas dos mais vendidos sobre a Descoberta do Brasil. Desde então, em 1996, escreveu 33 livros. O mais recente foi sobre a história do câncer no Brasil, lançado há pouco: “Foi difícil. Revivi um pouco do sofrimento da minha mãe. Parei com os projetos encomendados um pouco”. A próxima obra é A Carioca, em que vai contar a história do Rio de Janeiro. Com o mesmo “surto verborrágico e desmedido” que o domina imediatamente a cada vez que é chamado à palavra sobre o Grêmio, Bob Dylan ou qualquer outro assunto, ele participou efusivamente de dezenas de programas de rádio e de TV, até ancorar o Extraordinários, desde a Copa do Mundo, no SporTV: “Fui convidado para dar uma palestra lá na Universidade Federal do Ceará por conta desse episódio dos nordestinos. Só podiam me dar a passagem e não cobrei nada, apesar de ser uma roubada, sete horas de voo. Dá para ir para Miami”, conta misturando deliciosamente os assuntos novamente. Eu pergunto: “Puxa, e será que você não tem

um habeas corpus para esses seus furos, hein?”. Ele responde risonho: “Pois é, né, cara! Pô, eu sou o Peninha”. Revista Bá – Qual foi seu primeiro trabalho como jornalista? Eduardo Bueno – Entrei na Zero Hora em 1976 como repórter de esporte e logo me destaquei. Achava a Zero Hora tão ruim nos esportes e tão contra o Grêmio, que quis entrar para melhorar. Ainda é ruim e ainda é contra o Grêmio e cheia de colorado. Tinha que colocar todo mundo na rua (risos e gritos). Cobri a Copa de 1978, fui o repórter mais jovem da história das Copas, condecorado aos 19 anos. Tem um conto do Nelson Motta em que ele conta. Ele trabalhava pelo Globo, nos conhecemos e ele me adotou. Olhou em volta e quis saber quem era o maluco da turma. Bá – Conte um pouco mais sobre essa Copa... Peninha – Foi um pouco depois que larguei a Zero Hora. Foi bem legal, porque eu me demiti por um sedex unidirecional daqueles que só vai e não pode responder. Para economizar, eles alugaram um telex que

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só emitia, não recebia. Durante a Copa, mandei uma matéria enorme. Ela simplesmente não entrou e ninguém me avisou. Os caras telefonaram me xingando que não tinha chegado meu material. Fiquei indignado e me demiti por telex, do mesmo jeito. Daí acabamos conversando. Cobri a Copa até o final. Quando o Brasil foi eliminado, todo mundo voltou e só eu fiquei para a final Argentina e Holanda. Fui para o campo todo de laranja para torcer para a Holanda. Quando vi, tava torcendo para a Argentina, porque eles foram muito heroicos. Estavam todos dopados, estavam todos dopadooooos (gritos). Eles babavam e ganharam na prorrogação. Terminou o tempo regulamentar, 1 a 1, e fizeram dois gols driblando a Holanda com uma baba verde escorrendo

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pelos cabelos. Pareciam o Maradona de tão doidaços. Mas foi tão heroico, tão incrível aquilo. Houve um momento trágico, eu, muito próximo da Tribuna de Honra, vi aquele assassino, o general ditador Jorge Rafael Videla Redondo, entregando a taça para o Passarela. Recentemente, conheci o Passarela lá no SporTV, e, claro, contei essa história. Que aos 19 anos vi ele ganhando a taça da mão do ditador. Como deve ter sempre sido a favor do regime militar, ficou me olhando com uma cara, e eu disse: “Nem vem com essa cara aí, que o cara foi para a prisão, e tá lá na prisão”. Bá – Como foi a sua passagem pela Rede Globo nos anos 80? Peninha – Quando voltei para Porto Alegre, em 1980, fui convidado para

ir para a TV Globo, no Rio, e trabalhei quase durante todo o ano de 1980. Larguei a Globo, porque eu era de esquerda e a Globo de direita, que nem o Xico Sá, meu colega. Eu era repórter de esportes, apesar de curtir mais escrita, e a Globo pagava uma fortuna, além do que eu gostava de me exibir, né? Em tese, tinha sido contratado para cobrir as Olimpíadas de Moscou, em 1980, mas trabalhei com tanta má vontade, com tanto desleixo e descuido, que não fui escalado. Com toda a razão. Tinha aquela coisa, atacar o sistema por dentro. Eu estava na TV Globo e dizia: “Vou dinamitar por dentro o sistema”. E foi uma loucura, porque eu saí da Globo e voltei para Porto Alegre, em novembro de 1980. Eu ganhava 65 mil cruzeiros, que era uma fortuna, uma Brasília, para ter uma ideia, custava 55 mil cruzeiros. Era o carro da garotada, todo mundo queria. Eu ganhava uma Brasília e um pouco mais. Hoje equivaleria a uns R$ 70 mil. Eu tinha 21 anos, me demiti e vim trabalhar no Coojornal para ganhar 6,5 mil cruzeiros. Porque o Coojornal era de esquerda e eu também era. Acabei voltando também


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para casar com a Gigi e morar em Gramado. Bá – Como assim casar com a Gigi? Peninha – Casei com a Gigi, fiquei um tempo aqui e fui morar em Gramado. A Gigi era porto-alegrense e a Ana já morava há anos em Gramado. A Gigi e a Ana eram superamigas e fomos morar numa área rural grande. Eram anos 80, mas vivíamos como se fosse 68. Era 1968 em 1981. Aquela coisa, todo mundo morando junto. Acabei me separando da Gigi e casei com a Ana. Ficamos mais de dez anos. Ela já tinha duas filhas, que são minhas porque o marido dela tinha morrido. As gurias eram filhas minhas mesmo. Bá – Assim segue até hoje? Você pai das meninas? Peninha – Total. Sou avô, uma delas tem um filho. Para mim são como filhas, especialmente porque o pai morreu. Ou não teria como ser tanto assim como é. Elas eram superpequeninhas, uma tinha 6 meses e a outra 3 anos. Quando saí de Gramado direto para São Paulo, convidado pelo Augusto Nunes, elas ficaram no Sul

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Eu sou um falastrão, não é exatamente nem o que eu penso de fato. É que eu não penso antes de falar.

de início. O convite que o Augusto me fez era tão generoso que eu pensei, eu não posso negar, mas ele não vai cumprir tudo isso. Vou lá ver se é verdade, cheguei lá, era verdade. Ele cumpriu com tudo. As três foram para São Paulo e foi maravilhoso, porque elas nunca tinham nem andado de elevador na vida. Quando o Augusto veio para a Zero Hora, voltamos todos, e eu e a Ana começamos a


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trabalhar na Zero Hora, ela era diretora de arte. Bá – Como e quando nasceu o comunicador aí? Na infância? Peninha – Devo muito ao meu pai, que era letrado, muito letrado. Boa parte dessa biblioteca de 7 mil livros é dele. As pessoas perguntam: “Bah, mas como é que você tem 7 mil livros?”. Eu digo: “Mas eu já larguei de 2 mil”. Cresci no meio desses livros. Aos 10 anos, já lia muito. Como a Lisia. A Lisia é inacreditavelmente letrada. É espantoso, ela já leu mais de 400 livros. Passou em Letras lá no topo, entre os cinco primeiros, mas faz Moda, na ESPM, que tem a ver com ela também. Ela é toda estilosa, top model, já desfilou, isso e aquilo, e tem agente. Quer escrever um livro da história da moda no Brasil. E a minha mãe, Dona Beatriz, era carismática, foi conhecida aqui na cidade porque

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tinha uma boutique de cama e mesa na casa dela mesmo. Era chiquésima. Na minha casa tinha festões. Meu pai era da alta hierarquia do banco União de Bancos e lidava direto com o Walter Salles. Pai do Waltinho, com quem eu trabalho hoje. Agora vai filmar um livro meu, com roteiro meu. Eu já tinha feito roteiros que nunca tinham saído do papel. Sei que é impossível não ter mudanças, já estou escaldado e preparado. Ele diz que é certo, pápápá, mas sei como é essa coisa de roteiro. Bá – Sobre o que será o filme? Peninha – É um episódio específico da Coleção Terra Brasilis, chama-se A Coroa, a Cruz e a Espada e é o quarto livro do Descobrimento do Brasil. As pessoas conhecem menos porque saiu muito depois, mas é meu livro favorito da vida. É sobre as origens

da corrupção no Brasil. Conto como começou a corrupção no Brasil. É meu melhor livro. Tem um episódio muito conhecido por quem conhece a história do Brasil, que eu narro de um jeito que eu nunca encontrei com tantos detalhes. Pesquisei muito, tudo que tinha. O primeiro bispo do Brasil foi o Bispo Sardinha. Ele era um bispo corrupto, cobrava pela absolvição dos pecados. Foi um dos primeiros grandes corruptos do Brasil. Na época, houve uma revolta geral e ele se aliou com o Antonio Cardoso de Barros, ministro da Fazenda, que não se chamava ministro da Fazenda, era provedor-mor. O cara que tinha a chave do cofre real, do dinheiro do rei. Que ele roubava, e ainda cobrava mais impostos do que devia. Do outro lado, era o primeiro ministro da Justiça do Brasil, o ultracorrupto e desembargador muito ladrão Pedro Borges, que


se aliou ao governadorgeral do Brasil, Duarte da Costa, que era tipo um vice-rei, o cara que mandava no País. Era o Executivo e o Judiciário contra a Fazenda e a Igreja. Deu uma M gigante e o Sardinha e o Cardoso de Barros acabaram perdendo, e o rei chamou de volta, para que eles se defendessem em Portugal do rol de acusações do Brasil que já tinha chegado por lá. O navio deles saiu de Salvador em direção a Portugal e em Alagoas naufragaram em bancos de areia. Quando desceram para ver... Isso é verdade, hein!!! Aconteceu mesmo. Desembarcaram do barco 80 pessoas e ficaram na praia. Quando os índios chegaram, prenderam todos os portugueses e comeram. Especialmente o bispo. Fui a Portugal várias vezes e conversei com os maiores historiadores portugueses. Ser repórter ajuda muito na entrevista, no contato com as fontes. Não descobri nada novo, só que fui atrás de tudo que todo mundo tinha escrito e misturei de um jeito que ninguém tinha misturado. Bá – Você se arrepende de algo? Aquela sensação de que poderia ter

dormido sem essa... Peninha – Ahhhhh, quase todas. Mais recente essa de que o Nordeste é uma bosta, que também por um lado eu estou cagando. Essa virou uma questão conceitual. Não era isso que eu queria expressar na hora, era zero isso. Até porque o Nordeste não é uma bosta e eu gosto inclusive muito. Bá – Foi o fator televisão? Peninha – Não é nem televisão, foram as redes sociais que eu odeio, abomino, quero que fechem, morram, entendeu? Tem fake meu. É odioso. Tem que falar com advogado e daí odeio advogado, tem que pagar o advogado para entrar com processo. Já falei milhões de vezes que quem é idiota o suficiente para achar que sou eu que vou escrever essas M, então, pelo amor de Deus, né... Mas daí é diferente da tua pergunta, mais no âmbito pessoal... Sim, já falei muito mais do que devia, já causei M em casamentos, nos meus próprios casamentos, casamentos dos outros. Eu sou um falastrão, não é exatamente o que eu penso de fato. É que eu não penso antes de falar.

Escrevi um livro, chamado Náufragos, Traficantes e Degradados, o segundo da trilogia. Para um amigo meu que foi ao lançamento, botei no autógrafo: “Lê só sobre os náufragos e os degradados, porque de traficantes você já sabe tudo...”. E a mulher dele, que estava do lado, daqui a pouco começa a berrar: “Você voltou, você voltou, você voltou!!!!”. E começaram a gritar ali na minha frente mesmo na fila. Bá – O apelido vem do Walt Disney ou de um brinco de pena que você usava? Peninha – Vem do Peninha, que é o amigo do Professor Pardal, primo do Pato Donald e repórter do jornal A Patada. Quando entrei na Zero Hora, era muito maluco e atrapalhado, aí o Boró, o Mauro Toralles, disse: “Ó, aquele lá parece o Peninha”. Se não tivesse dado bola, o apelido teria passado em uma semana, mas me revoltei e pegou para sempre. Até as minhas filhas mais velhas me chamam de Pena. Tinha restrições ao apelido às vezes. O Augusto Nunes dizia: “Peninha, à medida que os anos forem passando e você ficar mais velho, esse apelido vai ficar

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progressivamente mais ridículo”. O que de certa forma era verdade. Mas me acarinhei pelo apelido quando aconteceu uma coisa inacreditável: contei para o Bob Dylan que me chamavam de Little Feather, e ele disse: “Bom apelido”. Eu perguntei por quê. E ele me disse: “Porque uma pena escreve, voa e faz cócegas”. Bá – Como começou a paixão pelo Bob Dylan? Peninha – Começou com essa minha ex-namorada, a Betina, que gostava do Bob Dylan, e um amigo meu, talvez você conheça, o Bingo Matte, que criou o Saúde no Copo. Me lembro direitinho que eu liguei para ele

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A maturidade é o máximo, né, cara? Porque sei que mantenho uma chama que sempre tive, mas sou menos debiloide do que eu era antes. Quando fiz 50 foi sensacional. E dos 50 até agora, tô com 56, anos todos vividos ao lado da Paula, foi maturidade total. Já me imagino com 80.

em fevereiro de 1975 e disse: “Não aguento mais ouvir música comercial, cara”. Ele disse que ia me emprestar um disco e me emprestou um disco do Bob Dylan. Eu curtia Cat Stevens, que era legal, até Barry White, que hoje eu gosto de novo. Mas não tinha nada de referência cultural e rebeldia. Quando ele me emprestou o disco do Bob Dylan, foi um marco na minha vida: ouvi a primeira vez num dia 8 de março de 1975. Lembro da roupa que estava, da luz, da sala. Mudou a minha vida total, letra e música. Decidi que seria rebelde, aí eu disse: “Cara, eu vou ser rebelde, eu vou ser furiosamente rebelde”.


Av. Cel. Bordini, 1665 Loja 4 - Tel.: 51 2111.7541

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Bá – Como foi seu contato com o ídolo? Peninha – Conheci ele anos depois, entrevistei, caminhei com ele por Porto Alegre. Já bati muita boca por causa dele e também pelo Grêmio. Até mais pelo Grêmio, mas as batidas de boca sobre o Bob Dylan são piores. Uma conhecida um dia falou que um show tinha sido ruim, aí eu mandei ela se f... total, até porque não foi ruim. Aí o Nelsinho Motta, para contemporizar, disse: “É, mas também já vi um show dele ruim” etc... Daí comecei a gritar. Com ela eu gritei menos, porque ela entende menos, né? Embora trabalhe com isso, o outro é o Nelsinho (Motta). Aí eu berrava no restaurante com ele. Porque ele estava num lugar de m..., daí assistiu mesmo a um show de m.... Eu e a Paula estávamos nesse show e vimos da primeira fila. Bob Dylan fez um monte de shows ruins na vida, e ele até gosta de dar show ruim, só que nestes não foi o caso, porque eu estava em ambos, e esse que o Nelsinho falava eu estava na primeira fila. Então eu comecei a berrar em pé com ele, e disse: “Bom é a Maria Rita, bom é a Maria Gadú”, bom é aquela m... daquele seu

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livro Noites Cariocas, vai se f..., você é um anão. A intimidade que eu sempre tive com ele permitia um pouco esse excesso, depois ficou tudo bem. Aí ele resolveu explicar que estava em um lugar ruim. Eu disse: “Então, a próxima vez, seu fdp, você diz ‘esse show do Bob Dylan que eu assisti, eu não estou qualificado para julgar porque eu tava num lugar ruim, duma cidade ruim, que é o Rio de Janeiro. Que não tem uma porra dum lugar decente para ver um show, e eu estava numa m... de lugar chamado Credicard Hall, que nem acústica tem. E eu, embora seja vip, ou porque sou vip, fiquei lá no camarote vip e não estou qualificado para julgar o show de um gênio, de um monstro, de uma maravilha como é Bob Dylan’, e não dá opinião que o show foi ruim”. Bá – Você é passional assim na vida pessoal, com as filhas etc... Peninha – Tenho essa coisa passional mais do que gostaria. Só com essas duas coisas sou passional, Grêmio e Bob Dylan (risos), com as minhas filhas sou resolvido. Não que eu não seja resolvido com o Grêmio e o Bob Dylan, mas

daí me atinge pessoalmente. Grêmio, até é diferente, porque é uma paixão clubística, tipo religião e política. O Bob Dylan é uma paixão total. Bá – Em tantas idas, vindas e viagens, como foi escolher viver em Porto Alegre? Peninha – Foi fácil para mim. Porque, se eu fosse embora, eu teria que levar as minhas filhas, sem as quais não consigo viver, e eu jamais roubaria as minhas filhas das mães. Então, eu teria que levar as mães das minhas filhas, um séquito. Nunca tive dinheiro, nem condições para isso. Então, tive que ficar no Brasil, e daí, se você para para pensar, onde é que você vai morar no Brasil? São Paulo é inviável por causa do trânsito. O Rio é violento e perigoso e tem tranqueira também e você tem que morar de frente para o marzão. E morar de frente para o marzão é para bilionário, nem para milionário. Porto Alegre tem seus defeitos, mas também tem vários predicados. Bá – O que encanta você em Porto Alegre? Peninha – O lado provinciano que poderia ser só


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engraçado, mas tem um lado careta também. Mas o lado provinciano é engraçado. O tamanho da cidade. Tem um monte de gente legal, tem o pôr do Sol do Guaíba que é demais, tem a Serra, que é aqui pertinho, né? Tem o Uruguai ali do lado e tem o Grêmio, né, evidentemente. Bá – O que você odeia e lhe faz perder a paciência? Peninha – Cara, a coisa que eu mais odeio na vida é trânsito. É uma coisa que me pira muito. É o que eu mais gostaria de modificar na minha vida, porque eu acho que eu sou uma pessoa legal, entendeu. Às vezes, ou muitas vezes, eu finjo que eu não sou uma pessoa legal, ou que eu sou ferino. Eventualmente, sei que tem gente até que acha que eu sou arrogante, prepotente, que eu sei que não é verdade, mas não me importa. Mas tem um lado que eu vejo que eu tenho um lado horrível, horrível, que é no trânsito. Eu sou a fim de matar. Corno, brocha, gorda estão entre as minhas ofensas, eu já me meti em mil discussões e as pessoas dizem: “Eu sei bem quem você é”. Eu digo: “Pô, mas não era para saber”. Uma

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São Paulo é mais alto que Gramado. Tinha um clima de serra e por isso era a Terra da Garoa. Lógico que, com a destruição da mata, a poluição e o efeito estufa, não tem nem garoa, nem uma gota d’água. Mas peguei esse período lá e até hoje eu tenho esse apreço por São Paulo. Também foi ótimo mudar para Porto Alegre. É uma cidade muito mais fácil de viver até hoje.

coisa aqui para você pôr na sua coisinha, fica só a coisa, tipo politicamente correto, de que aí que as pessoas são agressivas no trânsito. Mas as pessoas agressivas no trânsito são também fruto dos ananás do trânsito. Dos fdp que andam a 20km/h, que andam no meio da faixa, que são uns abobados, que no lugar que dá para fazer duas filas fazem uma. São eles, são esses fdp que não sabem dirigir, que deixam as pessoas doentes, então a culpa não é de quem anda a 100km/h. Como a minha secretária me ama, ganha muito bem, ela está economizando para realizar o sonho do seu chefe, que é dar para ele um carro com quatro bazucas, duas de cada lado. E aí junta com aquela frase do Jaime Lerner, que é bom você pôr nessa sua revista que ninguém lê, reflete sobre ela: “O carro é o cigarro do futuro”. Cara, chega de carro, cara, a questão é que no Brasil não tem metrô, não tem trem, não tem transporte coletivo, então você é obrigado. Um dos motivos por que eu moro em Porto Alegre é que eu vou a pé e volto para a minha casa de mil lugares. A coisa que eu mais odeio


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em mim mesmo é essa, e a que mais me tira do sério. Bá – O que a mulher tem que ter para atrair você? Peninha – Primeiro de tudo, obviamente tem que ser inteligente, o que sempre me atraiu. No meu caso particular, fui casado com pelo menos duas santas, eu sei que a Lucia Brito vai estar lendo essa entrevista, mas a Lucia Brito infelizmente não dá para chamar de santa. Que ela é bem radical... (risos). Inclusive as pessoas diziam: “Não sei como vocês ficaram tanto tempo juntos, vocês são tão diferentes”. As pessoas têm mania de dar palpite sobre o casamento dos outros e não sabem nada. Na verdade, nós somos iguais, né,

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cara!!! Temos o mesmo radicalismo, a mesma teimosia. Ela mais, né? Mas assim, os dois a fim de discutir, conceitualmente. Mas as outras, santas, mas todas com seu tipo peculiar de inteligência, e com personalidade. Cara, eu sou muitíssimo grato a elas, quatro casamentos sensacionais, mesmo com os problemas que todos tiveram. Só não tenho problemas no meu casamento

Foram as redes sociais que eu odeio, abomino, quero que fechem, morram, entendeu? Tem fake meu. É odioso.

com a Paula, e aí não tem mesmo, nossa conexão é especial. Bá – Alguma saudade do tempo de repórter? Peninha – Nada, zero. Espero que Deus me abençoe e eu nunca mais precise ser jornalista. Não, não, não, mentira. Tem uma coisa que eu me ressinto um pouco. De gente. Eu trabalho há muito tempo sozinho. Desde 1996, vão fazer 20 anos. Não tem com quem discutir. Bá – Como você se define? Peninha – Sou geminiano, né, cara? Ligado a Mercúrio, aquela coisa que você não pode conter. Porque não tem forma própria, vai se imiscuindo. Ligado ao ar. Rápido. Ao mesmo tempo, meu ascendente é touro, então não sou totalmente instável, inconstante. Sou meio bravo e um pouco teimoso. Sou teimoso conceitualmente, quando discuto cultura, sou muito teimoso. Me sinto muito preparado, né, cara? Eu já li muito, eu sou um letrado. Então, tenho muita convicção do que discuto. Que nem Bob Dylan. É indiscutível. Porra, vai saber quem é, o que fez, quem ele é. Vem


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dizer que o cara é fanho, vai tomar no c... (e volta a fissura pelo Bob Dylan sem ninguém convidar). Sempre prefiro a minha opinião, pode colocar aí nessa sua revista que ninguém lê, que a minha opinião sempre tá certa (risos). Bá – Esperava esse sucesso estrondoso da trilogia? Peninha – Escrevi o livro para o Brasil e não para Porto Alegre e achava que ia ser um sucesso nacional. Pensei que ia vender 30 mil exemplares, só que vendeu 380 mil exemplares o primeiro, os outros venderam 200 mil cada. Ao todo vendeu quase um milhão de exemplares. Eu sabia que havia no Brasil uma, abre aspas, “demanda reprimida” pela história de verdade. Uma coisa que tirava do colégio e colocava na vida das pessoas. Mas do jeito que foi, nunca pensei. Era um livro que não existia. Bá – O que mudou com a fama? Peninha – Tem uma história dum amigo meu que falou para outro: “Vem cá, como é que o Peninha agora está reagindo com a fama? Ah, cara, mas,

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aqui entre nós, ele sempre se achou o cara mais famoso do mundo. Então, não mudou nada”. Nesse sentido, não mudou nada mesmo. Eu sempre falei com todo mundo na rua. Sou muito mais falador na rua do que em casa. Falo menos com as pessoas da minha relação. Na rua, eu saio falando com qualquer um. Isso é de jornalista um pouco. Bá – O que gosta de fazer? Peninha – Viajar como todo mundo, né? Eu e a Paula temos conseguido viajar umas três vezes por ano para fora do Brasil. Gosto de acampar, esse troço de conviver com a natureza, e não tenho conseguido. Bá – Mas que saco, acampar em 2014, quem é que quer acampar com você? Peninha – Pois é, ninguém. Gosto de caminhar sozinho em ambientes selvagens, mas essas duas coisas eu não tenho conseguido. São as coisas que eu mais sinto falta. Quando consigo, eu vou aos lugares que ninguém conhece. Bá – E o que rola com você nessas ocasiões? Peninha – Inspiração

direta. O livro que estou escrevendo agora, a gente foi para aquele Club Med, do Rio das Pedras, em Angra. A Paula já tinha ido. Ela ficava na praia e eu fui em lugares que nem os caras que tão há dez anos lá conheciam. Escalei três montanhas, fui em quatro praias do lado, corria, e aí tive mil visões do livro que estou escrevendo que é A Carioca, a história do Rio de Janeiro. Bá – Quando você diz que não quer pegar mais projetos encomendados, haverá exceções para os que são a sua cara? Peninha – Haverá. Funciona assim: “Quer escrever a história da Caixa Econômica Federal?”. Querer eu não queria, né? Mas, no fim das contas, é quase sempre história maravilhosa. “Quer escrever a história do câncer no Brasil?”, que foi meu último livro. É outra história incrível. É terrível, você fica apaixonado pelo câncer, pela doença em si, pela mutação, pelo mistério. Fiquei pirado mesmo, enlouquecido, pirei com o livro e eu disse: “Agora chega, cara...”. É que eu me entrego e daí não vale a pena o dinheiro. Porque é muito desgaste pessoal. Então, tive essa


Comemore CONOSCO

as

festas

de

Vinhos Espumantes Felicidade

www.laurentia.com.br | 25


cartola_normal

visão sobre um romance sobre a história do Rio de Janeiro. Eu era apaixonado pelo Rio, era o lugar que eu mais amava na minha vida. E ele me traiu muito. O Rio é como uma mulher má, assim, né? Você se entrega, ela transa com você, transas maravilhosas, aí quando você vê ela o está traindo com o primeiro. Bá – Como assim? Peninha – Assim, enquanto cidade, urbanismo desregrado, a violência, a incompetência, o jeito insolente do cara. Bá – O que mudou na sua vida sendo pai e avô? Peninha – Ah tudo, né, cara... Ser avô é como todo mundo diz, é a melhor coisa do mundo porque é igual ser pai sem responsa. O meu neto fez dois anos em novembro e umas das primeiras palavras foram

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“Guêmio” e Bob Dylan. Moram todos aqui, a Ana, a Belém, aqui, e a Flora há um mês está morando na Gamboa. Bá – Além de Dylan, quem você também admira? Peninha – O tal do Jack Kerouac, do On The Road, que é um cara que influenciou a minha escrita, me fez ser escritor e me devotar a isso. Também a coisa de andarilho, de caminhante. Ele morreu em 69, com 47 anos, que pareciam 200, era uma coisa Bukowski. Que eu quase conheci, pois sou um dos responsáveis pelo Bukowski ter vindo pro Brasil, eu que editei a coleção na época, pela L&PM. Bá – O que melhorou com a maturidade? Peninha – É o máximo, né, cara? Porque sei que mantenho uma chama

que sempre tive, mas sou menos debiloide do que eu era antes. Quando fiz 50 foi sensacional. E dos 50 até agora, tô com 56, são anos todos vividos ao lado da Paula, foi maturidade total. Já me imagino com uns 80. Bá – O que você teme em relação ao mundo das suas filhas? Peninha – Por causa desse meu lado hippie e vida rural e vida no campo, eu tenho uma ligação total com a tal ecologia, que depois virou ecochatice, ah não sei o que, essas m... dessas antenas. Então, você fica pensando, eles não veem, não sabem, não percebem que não tem uma gota d’água em São Paulo? Que o aquecimento global é uma realidade? Que está tudo secando, as tais geleiras secando? Agora, ainda tenho um neto, né? O guri vai ter 20 anos em 2030. 2030!!!, né, meu chapa?


E a cegueira continua, especialmente nos Estados Unidos. Isso me preocupa e me deixa bem pirado, sabe, cara? Bem pirado. Mas é o seguinte, cara, eu vou fugir, eu tenho certeza que em algum momento eu vou morar num mato lá para os lados de Gramado, sabe. Bá – Peninha é careta em algum momento? Peninha – Nunca, né. Até deveria ser um pouco mais, zero careta... Bah, mas não pensa que eu não acho que devesse ter uma pitadinha de careta. Bá – O que você mudaria em você mesmo? Peninha – Eu falaria menos. Me irritaria menos com os humanos, se eu pudesse. Mas, eu não tenho muita paciência para o ser humano, sabe? Bá – E se presidente, qual seria seu primeiro decreto? Peninha – Aquele do Uruguai (risos). Depois eu pensaria também na possibilidade de mandar fechar aquele outro time aqui de Porto Alegre. Fecha! Bá – E a organização política do País, qual a sua opinião?

Peninha – Eu acho que teve um momento da história do Brasil, sabe... Mais de parte do PT, né... Se o PT tivesse a grandeza de perceber o que o PSDB tinha a oferecer, e eu acho que o PSDB teria mais abertura para receber o PT, se a coligação tivesse sido PSDB/ PT e a gente tivesse se livrado desses partidos fisiológicos. Do FH para cá, FH, Lula... Teria sido possível. Bá – Mas grande desse jeito? Com um trilhão de funcionários desse jeito, não é uma questão de partidos. Não é a mentalidade de cada brasileiro e a corrupção pessoal de cada um de nós? Peninha – É, também. É um país difícil de governar, complexo. Que aposta muito na ineficiência. Um país muito na falcatrua. Olha o jeito que as pessoas dirigem em relação a cumprir regras e o jeito que o pedestre se comporta. Porque o pedestre também não gosta de cumprir regras. É um país que não tem apreço pela legalidade, pela correção. Então, só pode dar m.... É um país adolescente. O Brasil

é um guri de 14 anos fazendo m.... Bá – No mundo o que incomoda você? Essa cegueira coletiva que você cita... Peninha – No mundo o que me incomoda é o elenco. O cenário é ótimo, mas o elenco é péssimo e o roteiro também não é muito bom. Bá – Com que personalidade você perderia horas e horas numa ilha a conversar? Sem tédio... Bob Dylan? Peninha – Não, esse não fala. Eu gosto de mulher, né? Então, acho que seria com a Paula mesmo. Mas, se fosse um artista, bem conhecido, o mais incrível de todos que conheci foi o Tom Waits. Um cara pouco pop, eu o conheci ele filmando na Amazônia, tipo Leonard Cohen, sabe... Ele não faz questão de ser conhecido. Bá – Do que você tem medo e o que o emociona? Peninha – Cara, eu tenho medo de mim, né? Inclusive, eu tive há pouco uma briga ridícula com uma pessoa dessas de condomínio, e o cara disse: “Eu não tenho medo de você”,

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e eu pensei: “Bah, mas eu tenho”.

Podia ser um parto sem dor, na água... mas não é.

Bá – Livro da sua vida? Peninha – O livro na minha vida é o On The Road, o livro que mudou a minha vida. Porque daí eu traduzi, foi a primeira vez na minha vida que eu fiquei mais conhecido, comentado. Saíram matérias sobre mim.

Bá – Como Peninha é feliz? Peninha – Sou muito feliz com a minha família, mas também sou muito feliz sozinho. Caminhando na mata acho que é onde eu sou mais feliz.

Bá – Qual sonho ainda não realizou? Peninha – Ah, cara, é escrever sem sofrer, né... Não sei se eu vou conseguir. Pareço um bicho escrevendo, eu escrevo e sofro.

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Bá – Peninha daqui a dez anos? Peninha – Eu no mato, indo e vindo. Zero aposentadoria. Bá – Qual o segredo do Extraordinários? Peninha – Sensacional,

até porque nos demos muito bem, o Xico Sá, a Maitê e eu. Foi uma sacada do Raul Costa Jr. com o Gabriel Moojen encabeçando. O Raul fez tudo, da concepção à escolha das pessoas. Inclusive, a ideia de escolher o Gabriel é do Raul também. Nosso segredo é que é tudo verdadeiro. Só nos conhecíamos de nome. Veio uma naturalidade, uma espontaneidade incrível. Não temos roteiro, tem um espelho e às vezes nem nos lembramos dele porque falamos o que queremos do jeito que queremos. Então, é muito legal. MB


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BĂĄ, que delĂ­cia

BRAV�SSIMA LU Apostando numa pegada mediterrânea, com uma imponente veia italiana, Lu Agrifóglio abriu o Lucca, onde mistura molhos, abusa do azeite de oliva, numa encantada alquimia de massa,

carnes e peixes. Com os sócios Mauricio Olmi e Caroline Martin capitaneia uma democråtica parceria, com sintonia no paladar. No baú da infância, as primeiras recordaçþes são de

olhar para cima e ver o pai Paulo temperando ingredientes na cozinha para em seguida dominar as caçarolas: “Ele adorava cozinhar e eu estava sempre de olhoâ€?, conta Lucilia AgrifĂłglio. Dos

$ 3DSSDUGHOOH FRP UDJX GH RVVREXFR Ingredientes: t J GH ILOH‘ GH DWXP t J GH RVVREXFR t PO GH YLQKR WLQWR t ODWD GH WRPDWHV SHODGRV t PO GH D]HLWH GH ROLYD extra virgem t OLWUR GH FDOGR GH FDUQH t GHQWHV GH DOKR t FHEROD JUDQGH 30 |

t FHQRXUD JUDQGH t UDPR GH WRPLOKR t UDPR GH DOHFULP t UDPR GH PDQJHURQD t J GH PDQWHLJD t J GH SDSSDUGHOOH VHFR t J GH TXHLMR SDUPHVĂ€R UDODGR t 3LPHQWD GR UHLQR D JRVWR t 6DO D JRVWR


irmĂŁos Manlio e Neco, era a menina quem mais gostava de ficar em volta do fogĂŁo do pai. Instigada por essa paixĂŁo, ela criou os trĂŞs filhos, Ramiro, Juliana e Paulo, do casamento de 32 anos com o advogado Roberto Davis. Entre brinquedos, fraldas e tacos de golfe, outro dom nato, ela inventava sabores, combinava temperos, numa inspirada, prazerosa e livre alquimia: “Sempre inventava algo diferente no fim de semana. Quando me separei, decidir fazer gastronomia porque uma coisa ĂŠ cozinhar em casa na informalidade familiar, outra ĂŠ profissionalmenteâ€?. Aluna da primeira turma de Gastronomia da Unisinos, logo se destacou e, formada, foi convidada a lecionar. Para aprofundar os conhecimentos, passou pela Europa, onde na ItĂĄlia fez um curso, onde estĂĄ a origem do conceito do Lucca, restaurante

A alma italiana dos pratos do Lucca nĂŁo GHL[DP GĂ—YLGDV VREUH suas origens.

que comanda ao lado dos sócios Mauricio e Caroline. Os três colocam a mão na massa, discutem cardåpio, que no formato de almoço executivo oferece couvert, prato principal e sobremesa. Sempre flexíveis ao gosto do cliente e usando as

2VVREXFR 2 RVVREXFR GHYH VHU FRUWDGR FRP R RVVR HP pedaços de 15cm. Tire o excesso de gordura e de tecido conjuntivo e tempere com sal e pimenta. Em uma panela de ferro em fogo alto, adicione um ILR GH D]HLWH GH ROLYD R RVVREXFR H SHTXHQRV FXERV de manteiga. Deixe atĂŠ dourar. Em seguida, adicione PDLV PDQWHLJD H FRORTXH D FHEROD H R DOKR SLFDGRV H D cenoura ralada. Refogue-os e adicione o vinho tinto e deixe evaporar. Junte a isso os tomates pelados previamente espremidos com as mĂŁos. Assim que o tomate ferver, coloque o caldo aos poucos. Baixe o IRJR H WDPSH &RORTXH DV HUYDV 3LTXH ILQR DV EDJDV GH ]LPEUR H DGLFLRQH $ FDUQH GHYH FR]LQKDU DWÆ TXH esteja macia e descolando do osso.

peculiaridades e os ingredientes da estação e do lugar. “Misturamos os estilos e pique de cozinha, doces ĂŠ mais com os meninos. Se um pira, o outro corta e coloca o pĂŠ no chĂŁo. Gosto de livros antigos tambĂŠm e de mesclar com tendĂŞncias novasâ€?. Encerramos nosso gostoso papo (eu sempre adoro conversar com a Lu, porque ela tem um olhar otimista e contemporâneo sobre as coisas mais triviais da vida) com a aquela clĂĄssica pergunta do que ĂŠ mais realizador nesse desafio. Ela me responde papo reto, como de hĂĄbito, mas com a doce sinceridade das pessoas corajosas: “Cozinhar para mim ĂŠ tĂŁo apaixonante que me envolve. Com um ano de Lucca, cumpri essa etapa. Sou independente fazendo o que eu gosto. Comecei a faculdade aos 54 anos. Tempo para recomeçar sempre existeâ€?, BravĂ­ssimo Lu (cca)!!! MB

O pappardelle

Em uma panela grande, ferva ĂĄgua para cozinhar o pappardelle. A ĂĄgua deve ser no mĂ­nimo 5 vezes o volume de massa. Assim, para 500g de massa, ferva 2 litros e meio de ĂĄgua. Adicione um generoso punhado de sal.

Finalizando

Assim que estiver macio, separe a carne dos ossos, retire o tutano e misture com a carne. Cozinhe a massa e finalize a massa na panela do ragu. Ao servir adicione queijo parmesĂŁo ralado e folhas de mini rĂşcula ou agriĂŁo. Cozinhe a massa e escorra. Sirva imediatamente. | 31


Bá, que viagem

Colegas desde a Faculdade de Arquitetura da Unisinos, Joana Deicke e Maria Manoela Bento Pereira muito naturalmente estenderam a parceria profissional e tornaram-se ainda mais amigas há cinco anos, quando abriram o escritório Joana e Manoela na capital gaúcha

MAIS QUE PASSAR EM LUGARES

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Joana era uma criança muito tranquila e organizada. As brincadeiras favoritas eram desenhar e montar quebra-cabeças. A sensível e criativa Manoela adorava brincar de casinha e fantasiava muito. Uma com os pés bem no chão e a outra mais sonhadora, essa dupla afinada abriu há cinco anos o escritório de arquitetura Joana e Manoela. O gosto por desenhar, pintar e colorir para Joana veio desde pequena, mas a vocação para ser arquiteta só se confirmou durante o cursinho. Já Manoela lembra que a avó paterna sempre teve bom gosto e fez, durante a vida, muitos cursos de decoração


porque sonhava ter sido arquiteta: “Acho que herdei. Sempre gostei de brincar de casinha, montava a casa e depois a brincadeira não tinha mais graça”, conta a Mano. Como boa parte dos seres humanos, as duas adoram viajar. Joana aproveitou durante a faculdade todas as viagens de estudo e intercâmbio. Em função do ritmo profissional, as escapadas têm sido mais curtas para curtir e descansar, mas nenhuma delas abre mão de conhecer novos países, culturas e visitar os marcos da arquitetura. Como, ultimamente, é o Rio que tem brilhado o olho de Joana, suas dicas são sobre a Cidade Maravilhosa: “Quem não conhece o Rio, não pode deixar de bater perna em Ipanema. Eu

adoro o Astor, e apesar de ser uma filial de um bar paulista, encontrou no Rio uma das esquinas à beira-mar mais charmosas para se instalar”. A arquiteta ainda recomenda um passeio pelo Aterro do Flamengo, o Museu de Arte Moderna (MAM) e a Marina da Glória. A dica noturna do verão carioca são as festas no Morro da Urca: “A diversão começa no bondinho com a vista espetacular da cidade linda a noite”. Apaixonada por Punta, Manoela recomenda reservar uma noite para jantar no Fasano La Piedra, no ponto mais alto de La Barra: “A vista é fantástica e a arquitetura ‘menos é mais’ de Isay Weinfeld também. Também adoro as lojas estilosas da Barra, visitar as galerias e terminar o passeio

olhando o mar e tomando um clericot no Café Flo. Uma praia pequena, mas supercharmosa, é a Le Club”. Ainda que conectadas às formas urbanas e linhas arquitetônicas, Joana cita o sublime Mario Quintana, que dizia que “Viajar é mudar a roupa da alma”, e completa que conhecer não é passar pelos lugares, e sim vivenciar a cultura e se relacionar com pessoas de outros hábitos, e é isso que

nos torna melhores. Manoela completa: “Viajar é inesperado e surpreendente.” Não é que Joana e Manoela têm toda a razão? MB

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AnaMariano

O QUE É O ACASO? POR ONDE ELE ANDA? Na escola, me ensinaram que Pedro Álvares Cabral, quando procurava o caminho das Índias, ficou preso numa calmaria e aí, como uma coisa leva à outra, descobriu o Brasil. Ou seja, o Brasil teria sido descoberto por acaso, sem querer, por pura sorte. Já a Guerra dos Farrapos, a Inconfidência Mineira, a abolição da escravatura, as guerras mundiais, essas tinham causas bem definidas, fáceis de decorar. Foi assim que terminei o colégio, com a certeza de que duas ou três causas, incluindo nessa lista um simples sem querer, bastavam para explicar a vida. Com o tempo, e um pouco de sofrimento, percebi duas coisas: que listar as causas para decorá-las e dar o assunto por encerrado, ainda que servisse para passar de ano, tinha o enorme e inaceitável defeito de ser redutor e que o acaso não acontece por acaso. Os fatos importantes da nossa vida pessoal e do mundo são o resultado de muitas causas – externas e internas, conscientes e inconscientes – e também do acaso. O acaso, de certa forma, harmoniza o mundo. Já notaram como as modas e tendências aparecem em ondas? Não estou falando de moda/roupa, ainda que valha para ela também, estou falando em pensamentos, teorias, ritmos, maneiras de escrever, cinema, ideias e formas de expressar o que nos vai por dentro. Quantas vezes o prêmio Nobel foi dividido entre pesquisadores que, em países e culturas distintas, estavam desenvolvendo a mesma ideia? Muitos gênios anteciparam teorias baseados apenas na intuição. Da Vinci previu o avião. Voltaire já falava numa explosão iniciando o mundo. Mesmo as descobertas revolucionárias modernas são frutos de um passo no escuro, um arriscar-se. Os cientistas caminham até certo ponto guiados pela ciência, dali para frente in-

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tuem causas cuja existência só será cientificamente confirmada muitos anos depois. Agindo assim, não estariam todos eles reconhecendo a existência e a importância do acaso? Confiando nele? Acaso não é sem querer. Acaso já foi definido como um conjunto de pequenas causas independentes ligadas a leis desconhecidas que determinam um acontecimento qualquer. Ou, dizendo de outra forma: ainda que não saibamos suas causas, há pouco de acaso no acaso. Então, eu fico pensando: se as causas que nos governam são múltiplas, entre elas o acaso com suas leis desconhecidas, talvez seja bobagem nos preocuparmos tanto. Bobagem ficar sem aproveitar o presente por medo do futuro. Talvez o melhor seja limpar a prateleira das preocupações, deixando espaço livre para o acaso e suas maravilhas. Sei que não é fácil, mas, quem sabe?


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ping -pong cartola_normal

SIMPLES ELEGÂNCIA )RWR 5DXO .UHEV

Espécie de QG da gurizada, na casa dos pais do publicitário rolavam festinhas, filmagens de super-8 e teatro na garagem. Puro estímulo à diversão e à criatividade da vizinhança que brincava na rua. O pequeno Dudu gostava de imitar comerciais de TV, especialmente os engraçados. Aos 9 anos, o fascínio 36 36 ||

em torno de uma super-8 já demonstrava a vontade de se comunicar e o interesse pela moda foi natural. Acabou ganhando o foco de sua carreira como publicitário, mas nasceu com a mãe e as tias, que costuraram grande parte de suas roupas: “Revistas como Cláudia e Manequim eram as referências


delas e as novidades para mim”, conta Dudu. Com o tempo, passou a buscar títulos ingleses como The Face, Arena, i-D e Blitz, sobre comportamento, cinema, música e, é claro, moda. Foi nessa sede de informação que conheceu o trabalho de estilistas como Paul Smith, Vivienne Westwood e Jean Paul Gaultier. Sua empresa, a Craft Comunicação, é a soma dessas duas vertentes complementares e viscerais que são a moda e a publicidade. Dobradinha que tem rendido desde convites para lecionar, ministrar palestras, fazer editoriais, apresentar programas de rádio e realizar consultorias. Em 2015, é na Craft que ele vai colocar toda sua energia.

Quem você é e o que deseja da vida? Uma pessoa simples e com bom gosto que deseja uma vida simples. Acredito que o bom gosto vem com a informação. Um grande sonho? Profissional ou pessoal... Adoraria ajudar pessoas, como os médicos sem fronteiras, por exemplo. Como não fiz medicina, quem sabe em alguma ONG com este tipo de objetivo. O que pode melhorar a moda brasileira? Confecções importantes já necessitam contar com uma agência de propaganda, pois a maioria das marcas nacionais está sem identidade. Conceito de produto, DNA de marca e linha de comunicação são fundamentais para uma diferenciação. E na publicidade? Vemos anúncios praticamente iguais. Se trocarmos os logotipos nas revistas não saberemos quem é quem. O mercado de moda passa por uma fase de profissionalização. Muitas grifes são jovens, cresceram rapidamente, e algumas nem estruturaram seus departamentos de marketing e varejo. O aprendizado teve que ser muito rápido nessas áreas, e nem sempre bem-sucedido. Arrependimento? Faço o que sei e o que posso. Tendo certeza disso, não tenho como me arrepender. Onde você quer estar e o que quer estar fazendo daqui a dez anos? Conseguir conciliar o trabalho para poder morar na beira do mar. “O mar me cura de quase tudo” é uma frase da Danuza Leão que poderia ser minha. Um medo? De perder os medos (que são muitos). Eles que me fazem lutar todos os dias. MB

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ping-pong

GRAร A PARTICULAR Foto Eduardo Liotti

Quem conhece Glรกucia Gonรงalves sabe que o foco do seu olhar curioso pode escapar lenta e distraidamente em instantes. Basta que um lampejo de criatividade a transporte para seu gracioso mundo particular. Hรก quem pense que vive no mundo da lua, mas Guga se abstrai e troca a mira delicadamente para 38 38 ||


inventar moda. Foi na faculdade o primeiro negócio: “Era um sonho. Lembro da euforia de fazer os primeiros biquínis. De repente, um sucesso!” Nascia a Marguerita, e a sala dos pais transformou-se no colorido e dinamico ateliê. Trancou RP para estudar moda na Itália. A charmosa Marguerita só começava, e, ao lado da ex-sócia e amiga Cristiana Baggio, consolidou uma marca cheia de bossa que caiu no gosto das gaúchas antenadas. Desde 2012: “O couro me instigou, porque me vi com infinitas possibilidades de criação. Modelos em couro leve, com caimento e tecnologias novas”.

Você criança? Sempre sonhando acordada. A cabeça cheia de ideias, não me dava um minuto de sossego. Inventando algo e com ideias o tempo todo, o que me confundia um pouco (e confunde até hoje). Como a moda e a criação surgiram? Não tinha faculdade em Porto Alegre fiz RP com a cabeça na moda. Fazia todos os cursos de modelagem, desenho, costura, história. O que a inspira? Tudo. Carrego um bloquinho e uma caneta e vou anotando e desenhando tudo que me chama atenção. As pessoas na rua, filmes, viagens. Acordo no meio da noite com alguma ideia e anoto para não esquecer. Que valor você quer passar para a Glenda? Coisas simples, olhar no olho, falar a verdade e criar uma relação de confiança. Dar oi, bom-dia, obrigada, por favor, sorrir. O básico da educação. Respeitar e não ferir os outros. O mais bacana que aprendi com meus pais, sempre se colocar no lugar do outro e produzir, fazer algo que realize, senão a vida fica vazia. Ache algo! Todo mundo tem um dom, vá à luta! Ser mãe lhe ensinou a ser melhor? E a assustou? Me ensinou a querer ser melhor. Quero que minha filha sinta orgulho de mim. Fiquei atenta aos detalhes que fazem diferença na educação e na personalidade dela. No começo, tudo assustou. Aprendo todos os dias a ser mãe, e acho que vai ser assim sempre. Não tem fórmula, tem um amor louco e a vontade de fazer o melhor. Pegamos uns conselhos daqui, uns exemplos dali e vamos tropeçando até acertar. MB

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objetosedesejos

HenriqueSteyer

O MAGO HOLANDÊS Usando cores, formas e texturas de maneira incomum, Marcel Wanders vem impressionando com seu trabalho.

Ele afirma que quer tornar realidade os sonhos mais excitantes. E não é que ele consegue mesmo? Marcel Wanders é multifacetado. Designer de interiores, designer de produto, diretor artístico e empresário, ganhou notoriedade mundial em 1996, quando criou a cadeira Knotted

VIP Chair Especialmente concebida para a World Expo 2000 em Hannover, hoje esta cadeira faz parte da coleção da marca Moooi. Completamente forrada com lã, tem as rodas escondidas dentro dos pés. É como se ela flutuasse ao ser movida.

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Chair, que mesclava técnicas de design industrial com técnicas artesanais. A partir daí, ele foi só ladeira acima. Hoje, seu trabalho é onipresente nas principais coleções, incluindo o Moma de Nova York e Stedelijk de Amsterdam. Com tanto reconhecimento, o poderoso Wanders comemora produtos desenvolvidos com empresas de grande porte como Flos, Alessi, B&B Itália, Puma e Moroso. Toda sua genialidade também vem sendo convertida em dividendos, uma vez que ele é cofundador da grife Moooi, que vem impressionando o mundo todo com suas instalações imponentes durante a semana de design de Milão. Para valorizar as peças da empresa e criar uma atmosfera única, a Moooi recrutou o superfotógrafo Erwin Olaf, que usou imagens em grande escala como pano de fundo das ambientações criadas por Marcel Wanders. O resultado surpreendeu a todos. Seu trabalho tem uma teatralidade que é notável. O uso, de forma ímpar, de cores, formas e texturas faz com que seu trabalho seja cada vez mais acla-

mado pelo público e pela crítica. Se a novidade já foi manchete em publicações do gabarito de New York Times e Wallpaper Magazine, resta a nós aplaudirmos de pé os feitos deste criativo holandês enquanto novos produtos devem estar apontando por aí.

Knotted Chair Poltrona fabricada com um emaranhado de cordas de carbono e fibra, com acabamento em resina epóxi. Após montada, ela é pendurada em uma estrutura para secar, deixando que a lei da gravidade defina a forma final da peça.

Lustre Zeppelin Na forma de um clássico chandelier embrulhado em um casulo, a peça proporciona uma luz difusa que emite um brilho intrigante. Um globo de cristal na parte inferior dá acesso à parte interna quando necessária a troca de lâmpada. Impossível alguém não gostar.

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arte arte

IvanMattos jornalista

ARTE SEM PARALELO Fotos Vini Dalla Rosa

Definir o artista plástico Fernando Baril é uma das tarefas mais difíceis a que um jornalista possa se lançar. Múltiplo, ele dispensa qualquer apresentação. Ao mesmo tempo, é de uma simplicidade comovente. O que é único e indescritível é o seu olhar quando reflexiona através de suas pinturas, um mundo em convulsão, como parece ser sua cabeça. Observador atento de absolutamente tudo o que se passa em sua volta, utiliza a passarela da avenida Borges de Medeiros, no centro de

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Porto Alegre, onde mora, como garimpo para muitas de suas interpretações do cotidiano. Tudo serve de pretexto, de motivo, de inspiração. Tudo reverte em

arte. Não sem antes passar pelo seu olhar apurado, crítico, ácido, extremamente lúcido. Ao sonhar acordado, como ele mesmo diz que faz, nos remete ao seu


mundo sarcástico, em uma atitude generosa, a mesma com que recebe suas poucas visitas em casa, desnudando seu universo artístico tão rico e sofisticado. Fernando Baril não é afetado, não é saudosista e tem os olhos no futuro, embora dispense telefone celular e prefira o contato real com a vida, seus cheiros, defeitos, imperfeições e indagações. Seus 50 novos quadros, ainda inéditos em uma exposição, têm nomes e retratam absolutamente tudo o que se passa por sua mente. Não costuma fazer nem croquis nem esboços. Pinta direto na tela, ele mesmo não sabe, muitas vezes, até onde irá cada quadro. Seu trabalho, inclassificável, já serviu de tema inclusive para uma tese em Cambridge em que quase enlouqueceu os ingleses com suas imagens fortes, contundentes, cheias de reflexões e significados ocultos. Um prato cheio para a filosofia e a psiquiatria. Aliás, a psiquiatria é uma de suas tintas, já que fez muitos anos de divã e carrega os resultados em imagens impactantes que guarda nos escaninhos da memória. Mas o melhor divã para este artista tão inquieto parece ser mesmo a vida real. O convite para ser

O rei está nu, e ninguém tem a coragem de falar sobre isso.

padrinho de um casamento da vendedora de jornais da esquina onde mora rendeu 70 novos quadros, provando que seu mote é mesmo a vida e seus desdobramentos. Quem quiser elucubrar sobre sua obra, fique à vontade. Aos 66 anos, ele não tem compromisso com absolutamente nada, a não ser com o que pinta. “O rei está nu, e ninguém tem a coragem de falar sobre isso”, profetiza. Mas ele tem, e de sobra. Seus quadros são inquietantes, figuras nuas e cruas de um realismo perturbador. E, ao mesmo tempo, muito divertido e poético. Coisa de gênio.

Outra faceta de sua personalidade pouco conhecida é sua paixão pela culinária, o que o levou a se formar como chef de cozinha pelo Senac. “Eu cozinho para mim mesmo e adoro inventar e criar pratos”, sintetiza. Acha que seu trabalho é para poucos. Ledo engano. Sua obra é um testemunho do comportamento humano, por mais risível que possa parecer. É tudo verdade. Sexo, tecnologia, religião, tradicionalismo, mulheres, tendências, corpos, história, tudo cabe em sua arte. Hiper-realista, surrealista, pós-modernista, todos os rótulos e escolas restam imperfeitos. Fernando Baril tem um trabalho único na arte brasileira e internacional. Para Cézar Prestes, gestor cultural, ex-diretor do Margs e ex-secretário de estado da cultura do RS, Baril tem uma linguagem própria. “Ele é audacioso, se coloca muito bem em cenas que poderiam ser chocantes, mas se tornam poéticas, surpreendem você”, ressalta. Mas ninguém melhor do que ele para se definir, deixando o jornalista um pouco mais aliviado. “Eu não me levo a sério demais, o que retrato é apenas um testemunho incômodo da atualidade”, finaliza.

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CristieBoff

designer e artista plástica

Picasso e la modernità Chama-se Picasso e La Modernità Spagnola a exposição em cartaz em Florença, no Palazzo Strozzi. Alguns trabalhos inéditos, que viajaram do Reina Sofia, na Espanha, para a Itália, reve-

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lam o gênio Picasso. Umas das joias é a obra Retrato de Dora Maar, que foi uma de suas mulheres, com traços angulares, olhar profundo e uma forte carga passional, parte da personalidade do artista, que nasceu em Málaga, em 1881, e morreu em Mougins, em 1973. Outro momento importante da mostra é a série de desenhos preparatórios para Guernica, incluindo as cabeças de cavalo e o Minotauro (reconhecidas como alter ego de Picasso). Fica visível ali o quanto Guernica é uma forma de protesto contra a violência, a dor, o sofrimento da guerra civil espanhola.

Rothko Grande expressionista abstrato, Mark Rothko é um pintor norte-americano de origem russa que cresceu nos Estados Unidos. Sua forma de pintar é meditativa, chamada de Color Field Painting. Em suas telas ele se exprime exclusivamente por cor em tons indecisos, em superfícies moventes, às vezes monocromáticas e às vezes compostas por partes diversamente coloridas. Ele atinge assim uma dimensão espiritual particularmente sensível. Em cartaz até 18 de janeiro de 2015, a exposição do artista é em Haia, na Holanda, no Gemeentemuseum.


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trama

ALMAS QUASE GÊMEAS Foto Ricardo lage

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O primeiro encontro de Hugo e Gabriela foi numa festa do salão onde ele trabalhou antes de se tornar um dos profissionais mais importantes do mercado de beleza gaúcho e abrir seis unidades de sua rede de salões batizada de Hugo Beauty (são cinco salões em Porto Alegre e um em Punta Del Este, no Uruguai). Os 25 anos de união do hairstylist e empresário Hugo Moser e da também empresária e sua mulher Gabriela Niederauer renderam quatro filhos, uma neta e uma empresa que atende uma média diária de 1,5 mil pessoas. Gabriela – que explica a relação dos dois assim: “Só pode ser amor!” – morava em São Paulo e, depois de três anos de namoro, aos 18, engravidou de Pedro e veio para o Sul ficar com Hugo e aumentar a família.

Vieram depois a mãe de Valentina, Júlia, 22, e os gêmeos Miguel e Luísa, 18. Na capital gaúcha desde os 18 anos, Hugo começou fazendo escovas no Centro, na década de 1970. Foi nessa era de mulheres que viviam de laquê que Hugo experimentou o movimento e a leveza nas escovas. Dono de uma doçura discreta e muito educado, trabalhou por muitos anos das 8h à 1h da manhã, chegando a atender 70 pessoas por dia. Atualmente, pela manhã, ele cuida do projeto das escolas que visa formar profissionais para o mercado da beleza. Já na parte da tarde Hugo manuseia a disputada tesoura no salão de 1,5 mil metros quadrados da Lageado, e passam pela sua cadeira em média 30 clientes. Enquanto isso, Gabriela administra a empresa

imprimindo os valores que regem o casal: fidelidade, responsabilidade, comprometimento e integridade. O fim de semana é em família: “A Júlia chega na sexta à noite e só vai embora segunda. Conversamos, cozinhamos, vemos filmes, futebol, tomamos um vinhozinho, tudo sempre juntos”, conta Hugo. As férias de verão também são em família, sempre uma praia diferente e de preferência com mar quente. No meio do ano, os Niederauer Moser também tentam sair pelo menos uma semana. Pergunto se Hugo tem algum ídolo, e ele me conta mostrando no antebraço uma das sete tatuagens: “É Cristo tatuado, não sou católico, mas gosto da figura dele, acho que ele foi um grande cara”. Certamente, a recíproca é verdadeira. MB

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eutenhovisto

JaquelinePegoraro CarolZanon www.eutenhovisto.com

FLOR FAZ BEM

A primeira ação da Flor Faz Bem foi no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, e envolveu 20 voluntários, com a ideia de levar um pouco de alegria a pessoas especiais e carentes. Foram 30 dias, e o projeto Flor Faz Bem cresceu e está semeando pessoas engajadas. Exigiu, mais do que uma boa ideia, vontade de fazer. O que não falta às suas fundadoras. A empresária Heliene Andrade recrutou Carolina Baptista e Renato Hartz para dividir as tarefas e tornar o sonho uma realidade. A intenção é ser sustentável do início ao fim. Primeiro, a equipe faz uma campanha para arrecadar recipientes que iriam para o lixo. Depois, negocia e busca as flores que seriam descartadas após o uso em algum evento. Encantadas com o projeto, decidimos espraiar o gesto de solidariedade pela capital gaúcha e, em com poucos contatos, agilizamos a doação das flores que enfeitaram o emocionante Baile de Gala das Voluntárias pela Vida para fazerem brilhar os olhos e esquentar os corações também dos velhinhos do Asilo Padre Cacique. O que você está esperando para, à sua maneira, com a flor que você quiser, fazer o mesmo? Flor faz bem! Empório Caradaí Com um ar de empório e delicatessen, a Casa Carandaí tem produtos tanto brasileiros quanto importados e, no menu, uma variedade de receitas exclusivas. Localizado numa casa histórica do Jardim Botânico, a fabricação, a cozinha e a venda se misturam num ambiente aconchegante. Você pode encontrar quase tudo por lá, desde produtos sem glúten até as mais variadas opções de queijos, pães e vinhos, geleias, compotas e carnes exclusivas do Sul. Bem prático e delicioso. 48 |


Desde 1953, o Lourival reúne amigos em Porto Alegre. Mais de 60 anos servindo bons momentos. O clima de boteco, a ceva bem gelada e os clássicos petiscos sempre à sua espera. Então, é só chegar e celebrar a vida.

Fone: (51) 3337.3405 Rua 24 de Outubro, 1624

facebook.com/lourivalbar | 49 instagram.com/lourivalbar


CláudiaTajes

AGRURAS DE PEDESTRE Eu era pequena e, sempre que ia atravessar a rua de mãos dadas com o meu pai, ele dizia: “Vamos rápido que o motorista já nos viu”. Era outro século, havia uma quantidade infinitamente menor de carros nas ruas, talvez as pessoas não fossem tão estressadas e apressadas, mas já acontecia. Ao ver um pedestre esperando para atravessar, os motoristas aceleravam – tal e qual acontece hoje. Corta para 2014, quase 2015. Como tanta gente vem fazendo, também tenho deixado o carro na garagem e andado mais por aí. Bem verdade que o calorão desestimula. A preguiça também aparece como um obstáculo para as boas intenções, mas o negócio é não se entregar. Pernas, para que te quero (o erro de concordância vem junto com o ditado) e

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sebo nas canelas. Só que a saga do pedestre não é nada fácil. Quem caminha nas nossas cidades por opção ou obrigação precisa ser meio highlander, ninja, super-herói que voa, qualquer coisa assim. Nas minhas andanças, é raro encontrar motoristas que parem na faixa de segurança, mesmo para os mais desprotegidos, mães com bebês no carrinho, senhoras e senhores de idade, pessoas com deficiência, crianças de colégio. E o motorista que ousa parar ainda leva um buzinaço do carro de trás. Essa má educação crônica dos motoristas acabou traumatizando o pobre do pedestre. Noto isso quando estou eu de carro e paro na faixa. Passam-se vários segundos antes que alguém acredite que não é pegadinha do Faustão e, enfim, atravesse a rua. Às


vezes, tenho que mandar: mas vai logo, pô. Acaba sendo um favor grosseiro. Esses dias, parei para duas senhoras na esquina da Plínio com a Carlos Trein. Os beijos que elas assopraram foram uma ótima recompensa para os xingamentos do Magal de caminhonetão que vinha atrás – e que foi obrigado a parar também. Certa vez, tranquei a Tobias da Silva para que três loiraças atravessassem. Uma delas abanou e disse: só podia ser mulher. Rapazes, acho que vocês estão perdendo boas chances para ganhar pontos com as loiraças e demais garotas. Não vou falar aqui dos motoristas que, em dias de chuva, passam levantando água nos pedestres que lotam as paradas de ônibus ou se espremem pelas calçadas, porque aí já não é agrura, é desgraceira mesmo.

Não que os pedestres não sejam afobados também. Não são poucos os que atravessam fora das faixas, sinais e passarelas nas avenidas ou em pleno furdunço de uma estrada. Em compensação, há alguns meses, um elefante-marinho saiu do mar pelas cinco e pouco da tarde no Balneário Camboriú, se arrastou determinado pela areia e atravessou a faixa de pedestres da Avenida Atlântica, a mais movimentada da cidade. Onde ele ia, ninguém chegou a descobrir. Mas que a campanha para atravessar na faixa por aquelas bandas deve ser boa, disso não há dúvida. Que 2015 honre as nossas esperanças e seja um ano cheio de educação e respeito. Já é meio caminho andado, vai dizer que não?

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Décor Fabiana Bá Fagundes

COISA NOSSA Dizer que churrasco é uma exclusividade de gaúcho soa exagero. Mas podemos com toda tranquilidade afirmar que o sonho de nove entre dez gaúchos é ter em sua casa, seja ela grande ou pequena, na cidade, na praia ou no campo, uma churrasqueira

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para chamar de sua. O “evento” churrasco, para nós, está longe de ser apenas um “momento gourmet”, significa muito mais que isso. É hora de reunir amigos, família, ou simplesmente de relaxar, assar uma carne acompanhada de um bom vinho ou de uma cerveja gela-

da depois de um dia de trabalho. Precisa mais? Por isso, churrasqueiras em nossas casas são muitos mais que simples “instrumentos culinários”, podem ser o centro das atenções. Quanto mais integradas à casa, melhor. Seja essa casa mais rústica, moderna, clean ou de


decoração eclética, ela irá acompanhar o clima e reinar absoluta. Tecnologias? As mais variadas, depende do estilo e gosto do assador, grelha ou espeto, espeto rotativo elétrico ou as famosas “parrillas”, estilo de churrasqueira que herdamos dos nossos vizinhos uruguaios e argentinos. Os revestimentos também são variados, da madeira ao ferro, do ladri-

lho hidráulico ao concreto, passando pelas cerâmicas com toda sua diversidade de cores, estampas e texturas, chegando nas pinturas especiais, tecidos e papéis. Ou seja, o que não falta são materiais para criar e inventar. Até porque, se nos tornamos “experts” no assunto dessa “paixão regional”, consequentemente nos tornamos referências

nacionais de como fazer uma churrasqueira adaptada à vida e à cara do dono. Com um pouco de pretensão, podemos até dizer que dificilmente se come um churrasco no Brasil tão bom como se come em terra gaúcha. Orgulho gaúcho à parte, se você ainda não conseguiu fazer na sua casa uma churrasqueira com o seu estilo, inspire- se!

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cartola_normal

UM DESAFIO, DEZ PROFISSIONAIS Criatividade sem limites foi o norte da ação realizada pela Império Persa Home Design, que movimentou um grupo talentoso da arquitetura na loja especializada em tapetes artesanais importados. A disputa foi tão acirrada que nada mais justo do que o empate entre dois escritórios: Joana Deicke e Manoela Pereira, Juliana Motta e Priscila Viegas tiveram

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seus projetos mais votados nas últimas semanas. Desde o início de outubro, 10 escritórios de arquitetura e decoração de Porto Alegre foram desafiados a participar de uma disputa colorida, eclética e inusitada. O Desafio Império Persa convidou cada escritório a receber, por meio de sorteio, um tipo de tapete importado para ser utilizado na concepção

de um ambiente ou de uma instalação. Além dos escritórios vencedores, participaram da divertida iniciativa os profissionais Andréia Valmórbida, Carmen Domit, Ediméia Lehn e Liz Ribeiro, Ivan Andrade, Karen Fanti, Lidia Maciel, Michele Moncks e Rogério Pandolfo. Além do criterioso corpo de jurados, a brincadeira ganhou as redes sociais para ajudar nas escolhas.


Convocados a usar a criatividade e a ousar, os arquitetos e designers de interiores desenvolveram espaços únicos, belíssimos e que foram fotografados e filmados para

compartilhar. Além dos seis votos dos jurados, foram contabilizados mais quatro: Facebook, Instagram, Pinterest e YouTube, de acordo com o número de compartilhamentos, curti-

optar entre duas viagens deliciosas: Rio de Janeiro ou Trancoso, no litoral da Bahia. Espia tudo no site: www.imperiopersa.com.br

passar pela avaliação dos jurados. Consuelo Jorge, arquiteta de São Paulo, Eleone Prestes, editora do Casa&Cia, Larissa Ughini, apresentadora do Transit Arquitetura, Lúcia Mattos, apresentadora do ImóvelClass, Mariana Bertolucci, diretora da Revista Bá, e Rafael Terra, CEO da Fabulosa Ideia, escolheram os projetos sem saber a autoria de cada um deles. Em seguida, as fotos e os vídeos começaram a ser publicados nas redes sociais da Império Persa, para o público curtir e

das, pins e visualizações. Autor da ação, Pedram Zamam afirma que os espaços surpreendem pela ousadia e pelo uso inventivo dos tapetes da Império Persa. As vencedoras vão

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crônica

SORRISOS E CHORUMELAS Por Mariana Bertolucci Foto Jonas Adriano

Pensando no que vou escrever aqui nesta última edição de 2014, passa pela minha cabeça aquele filmezinho que todo mundo protagoniza vez que outra internamente. Quando, num ápice de distanciamento nosso de nós mesmos, paramos (ou mesmo sem conseguir parar de fato) e refletimos sobre o que está acontecendo a nossa volta. Pensar no que foi bom ou ruim, nas coisas que não precisavam ter sido ditas, dos resultados que poderiam ter sido diferentes. Mais músicas, menos gritos, mais risos, menos atrasos, mais livros, menos neuras. Finais de ano são propícios a relembrar, avaliar, reescrever, redesejar, agradecer, lamentar, sentir, festejar mais um ano por aqui. Nada em excesso, como exige o equilíbrio tão

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almejado pelo ser humano. Pois eu tenho uma amiga que o mundo podia estar caindo em cima dela (e as notícias do mundo financeiro costumavam fazer isso diariamente há 25 anos) que ela continuava a melhor companhia que alguém pode ter. A essa minha amiga nunca faltou esperança, amor e cuidado desmedido com as pessoas e uma paixão contagiante pela profissão de jornalista. A voz grunhia um: “Vai te catar, não me vem com as tuas chorumelas” e os olhos diziam: “Vem cá, vamos conversar, conta comigo”. Porque para ela tudo era infinitamente mais simples do que para todo mundo. Se tinha mudança, nada além de encarar. Se a mágoa era grande, o jeito era curar. Se a briga era feia, melhor conversar. Se

tinha plantão, a única maneira era se divertir, e era tão bom estar no plantão com ela. Se lhe faltava um pouco de paciência para aquelas coisas que para boa parte das mulheres sobra, como escolher o tom de meia-calça que combinasse mais com as saias, nunca foi problema tomar um café e emprestar de coração aberto aquele ombro gigante dela. Então, como se passasse um monstro malvado e puxasse sem medir a queda coletiva um tapete bem debaixo dos nossos pés, essa minha amiga deixou a mim e outros muitos amigos nossos no chão. Imóveis e mudos para expressar a falta que ela nos fará para sempre. Acho que a minha dor ultrapassa a saudade e tem a ver com o que aprendi a valorizar como pessoa


e como jornalista nesses quase 20 anos de parceria. Essa minha amiga me ensinou da maneira mais bonita e natural do mundo que é possível gritar sem ser só barulhenta, que gargalhadas não são sinônimo de descompromisso, que pouca dedicação não faz bom jornalista. Que o que transforma realmente uma pessoa em alguém bacana, interessante e moderna é a maneira como essa pessoa sabe se doar e se entregar para as outras. Sem preconceitos, pudores ou regras muito rígidas. Ela me ensinou também que sonhos, esperança e sorrisos devem fazer parte da gente porque isso não é chorumela, nem papo de fim de ano. É mais fácil e bem mais divertido de andar por aqui. O nome dela era Bela.

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cartola_normal Bá, quelugar

UM BOTECO CHAMADO LOURIVAL Fotos Ricardo Lage

Sem descaracterizar um dos endereços mais conhecidos da boemia gaúcha, Leandro Rodriguez, Ricardo Veronez e Maurício Falke comandam o Lourival, hoje com música ao vivo, entre outras atrações

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Dos 241 anos de Porto Alegre, há pelo menos 61 deles a boemia da capital gaúcha tem um endereço confirmado na 24 de Outubro, 1624. Inaugurado em 1953, o Lourival Bar e Restaurante segue com louvor a tríade de excelência de um bom boteco: cerveja sempre gelada, petiscos gostosos e atendimento simpático. O nome é uma homenagem ao irmão do

primeiro proprietário, um senhor já falecido chamado Cacildo, que convocou o irmão Lourival para ajudar no expediente. Lourival rimava com Rival, nome do cinema ao lado, de onde a gurizada saía para tomar sorvete da máquina italiana do boteco. Repaginado em 2013 para festejar as seis bem-vividas décadas e a nova parceria do sexto e proprietário há 14 anos Leandro Rodriguez


(também sócio da Contaserv, Liv and Fly, 300 Cosmo Dining Room e da empresa de eventos We Love Poa) com o publicitário Ricardo Veronez (sócio da agência TH Comunicação) e o publicitário e DJ Maurício Falke, o mais legal do “Loriva” (apelido carinhoso de alguns clientes fieis como eu) é que ele conserva o jeito de “botecão”. Informalidade e aconchego foram os nortes dos arquitetos Mario Englert, Paulo Menna Barreto e Maurício Aurvalle para dar nova roupagem ao espaço. As paredes remodeladas, se falassem, não dariam conta de tanta conversa fora, dores de cotovelo, olhares perdidos, arrepios e uma alegria sem fim de encontros e reencontros de tantas gerações. Pois as mesmas paredes seguem recheadas de rótulos de cerveja, fotografias antigas e caricaturas do desenhista Yguá (1994). Se o trio Leandro, Maurício e Ricardo faz questão de conservar todo romance do velho boteco e suas simples características, inovar

e melhorar o que funciona fazem parte das estratégias do contador e empresário Leandro e dos publicitários Ricardo e Maurício, que também é DJ e representante comercial. A Segunda Clássica é o dia do carreteiro, de filé, charque ou linguiça, e o Happy Hour das “Gurias”, em que mulherio que pedir um Clericot ganha o segundo. A cerveja Lourival é outra boa nova do trio, fabricada artesanalmente em Santa Catarina, vende 3 mil garrafas por mês no bar e já tem autorização do Ministério da Agricultura para ser comercializada. A expansão do negócio será inicialmente através de filiais, as franquias virão depois. Os meninos já estão de olho em lugares na Zona Norte e na Cidade Baixa, e em breve você, como eu, poderá ter bem pertinho os tradicionais sanduíches abertos, linguicinhas, pasteizinhos, bolinho de bacalhau e a inconfundível cerveja gelada, marca registrada de um dos botecos mais queridos da cidade. MB

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deolho

MarceloBragagnolo publicitário e agente

BELA E FERA Foto e styling Augusto Carneiro Beleza Carol Almeida Prada

Gaúcha de São Leopoldo, Tatiana Dumenti surgiu no Elite Model Look, mesmo concurso que revelou suas colegas Gisele Bündchen, Ana Beatriz Barros e Alessandra Ambrosio. Na época, a segunda colocação na final nacional e a terceira na mundial a incentivaram trilhar a carreira de modelo. Quase que instanta-

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neamente viu-se viajando pelo planeta, trabalhando com fotógrafos famosos como Peter Lindbergh, Pamela Hanson, Fabrizio Ferri, Gui Paganini, Jacques Dequeker e Bob Wolfenson e com seu rosto em capas de revistas como Marie Claire, Vogue, Elle, a francesa Madame Figaro, em editoriais da Vogue (Italia e America), Dazed and Confused, Nylon e em campanhas de grandes marcas como DKNY, Byblos, Gai Mattiolo, Forum, Wella, Aveda, Redken e Palmolive. Tatiana declara-se dedicada e apaixonada pelo ofício, ao qual atribui recompensas como a experiência de vida precoce, o contato com outras línguas e culturas e, sobretudo, o maior aprendizado: “Valorizar todos os momentos, o presente, pois como modelo, nunca sabemos onde estaremos na semana seguinte, o que pode ser um pouco perturbador e requer foco. Então quando estou com a minha família, estou somente com eles e quando estou trabalhando, procuro estar o mais focada possível. Busco o equilíbrio, um exercício diário, pois, ao contrário

da forma como muitos enxergam, este não é um trabalho fácil, não existe espaço para os ‘baixos’ da vida - é fundamental estar constantemente linda, magra, em forma, disposta e descansada. E a vida real não é assim, não se consegue controlar o mundo à sua volta.” Acredita que, também através da imagem, conseguir passar o melhor para o próximo é o maior exercício diário que uma modelo deve colocar em prática todos os dias: “Quando sou contratada para um trabalho, me comprometo em estar bem para tal, pois vou incorporar e representar o trabalho de uma equipe inteira, são muitos profissionais que depositam confiança em você. Por exemplo, o trabalho de um estilista em pesquisar, criar e desenvolver toda uma coleção junto de sua equipe – é algo gigantesco. Quando visto uma roupa, sinto-me como se estivesse dando vida a um sonho de um grupo de pessoas que colocaram suas energias naquilo para virar realidade. É uma grande responsabilidade, mas muito gratificante. É um trabalho de

amor e dedicação.” Em meio às muitas viagens de trabalho, Tatiana recebeu o convite para um teste de vídeo para um programa de TV. Com o desejo por alguma rotina e a vontade de se fixar no Brasil, não titubeou: fez o teste e passou. Como apresentadora, ficou à frente de diversos programas do canal fechado PlayTV, focado em variedades, seguindo como repórter no programa Auto Esporte, na Globo. Atribui ao seu exercício como modelo, a segurança e desenvoltura em frente às câmeras de televisão. Paralelamente, decidiu cursar a faculdade de Direito, a qual interrompeu em troca do curso superior de Negócios em Moda. Hoje mãe do pequeno Felipe Antonio, tem um olhar bastante determinado sobre seu futuro: “Serei empresária. Me vejo empreendendo, investindo no meu próprio negócio, e aplicando a experiência que adquirí em minha profissão”. Além dos estudos e trabalhos como modelo, escreve em seu site tatianadumenti.com.br, mix de suas experiências pessoais, trabalhos, viagens e pesquisas de moda.

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AndréaBack

Publicitária e Jornalista

HISTÓRIAS VIVAS Fotos divulgação

O que o acarajé tem em comum com Círio de Nazaré? E a arte gráfica dos índios Wajãpi, no Amapá, onde encontra semelhança com o Fandango Caiçara do litoral do Paraná? E o que isso tudo tem a ver com o bolo da sua vó? Estas questões se esclarecem em mil cores, formas e sons na exposição Patrimônio Imaterial Brasileiro – A Celebração

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Viva da Cultura dos Povos, que está circulando o País. A mostra apresenta o povo brasileiro para o povo brasileiro. Ali, traduzidos em um projeto cenográfico que usa o círculo como símbolo de comunhão e de constante renovação, estão os 29 bens imateriais registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Mas

também pode chamar de a identidade cultural do brasileiro. Fernanda Pereira, a relações públicas que começou a idealizar a proposta quando ainda coordenava a comunicação no IPHAN, juntou-se à escritora e pesquisadora Mirna Brasil Portella e ao produtor Luiz Prado para viabilizar o projeto. Ela explica: “O patrimônio material, por ser forma-


O patrimônio não Ê o acarajÊ, mas tudo o que estå envolvido na preparação.

do por bens concretos, como Ouro Preto (MG) ou a Gruta do Lago Azul em Bonito (MS), tem tambĂŠm seu valor e sua necessidade de preservação mais evidente. JĂĄ o patrimĂ´nio imaterial estĂĄ relacionado a saberes, crenças, festas, celebraçþes, prĂĄticas, ao modo de ser das pessoas. Fazendo uma analogia Ă nossa vida pessoal, sĂŁo como as memĂłrias que forjam nossa identidade – o cheiro do bolo da casa da vĂł, o carrinho de lomba com os primos –, nosso “patrimĂ´nio afetivoâ€?. Na mostra, o pĂşblico entra em contato, atravĂŠs de fotos, objetos e recursos interativos com, por exemplo, a arte grĂĄfica Kusiwa, dos povos indĂ­genas WajĂŁpi. Com seus desenhos corporais, eles sintetizam seu modo de conhecer, conceber e agir sobre o universo. “A maioria dos brasileiros nĂŁo tem conhecimento sobre esses bens imateriais, por isso nosso principal objeti-

vo ĂŠ mostrĂĄ-los Ă população: o que sĂŁo, como sĂŁo registrados, qual o valor desse legado para nossa histĂłria e continuidade como povoâ€?, explica o historiador Luciano Figueiredo, curador da exposição. Ele complementa: “O patrimĂ´nio nĂŁo ĂŠ o acarajĂŠ, mas tudo o que estĂĄ envolvido na preparaçãoâ€?. Ou seja, a prĂĄtica tradicional de produção e venda, predominantemente feminina, do bolinho preparado de maneira artesanal, na qual o feijĂŁo ĂŠ moĂ­do em um pilĂŁo de pedra (pedra de acarajĂŠ), temperado e frito no azeite de dendĂŞ e ligado ao culto dos orixĂĄs.

Patrimônio Imaterial Brasileiro. 'H GH GH]HPEUR D GH fevereiro – na Caixa Cultural de Salvador. Depois ela vai para Minas Gerais e Rio Grande do Sul (para a nossa alegria!).

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InBá

FOTO: WAGNER MENEGUZZI

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VINÍCOLA AURORA Fotos Roali Majola

Maior vinícola do Brasil, presente em cerca de 20 países dos cinco continentes, a Cooperativa Vinícola Aurora é a única brasileira a figurar na lista das 100 Melhores do Mundo, e nasceu em Bento Gonçalves. A história da Vinícola Aurora é igualzinha à minha e a de muitos de vocês, gaúchos brasileiros descendentes de italianos. Inicia em 1875 com a chegada de imigrantes do norte da Itália que escolheram a Serra Gaúcha para fincar raízes. Hoje a cooperativa gaúcha é a maior vinícola do Brasil

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e uma bela senhora prestes a completar 85 anos. Os italianos encontraram paisagens e clima parecidos com o país de origem. Logo de início, nem os hábitos e a cultura europeia foram deixados de lado, e a antiga arte da vitivinicultura logo foi incorporada à rotina brasileira. No dia 14 de fe-


vereiro de 1931, 16 famílias de produtores de uvas de Bento Gonçalves lançaram a pedra fundamental do que viria a se transformar no maior empreendimento do gênero no Brasil: a Cooperativa Vinícola Aurora. No ano seguinte, já contabilizava a produção coletiva de 317 mil quilos de uvas. Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora tem mais de 1.100 famílias associadas à cooperativa e a produção é orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com os produtores. Responsáveis pelo acom-

panhamento permanente desde a plantação das mudas ao engarrafamento dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta. Entre os objetivos da Aurora está o de ampliar a exportação. Única brasileira com distribuição nacional de seus vinhos nos Estados Unidos, a Aurora está em 42 estados e com um montante de 70 mil garrafas exportadas para os EUA este ano. Recentemente mais cinco rótulos foram escolhidos para serem os primeiros vinhos brasileiros a entrar no

A Vinícola Aurora conquistou o mundo com sua tecnologia de ponta que gera produtos de alta qualidade.

Grupo Kroger, na rede Harris Teeter, nas 225 unidades da maior rede de lojas de conveniência dos EUA. Conquistando mais esse espaço em solo norte-americano, lança sua marca de

exportação Brazilian Soul, que já vem agradando na Europa e na Ásia há quase dois anos. Se um braço forte dos negócios está na ampliação de mercado, projetos bem voltados para

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a comunidade local também brilham os olhos da Aurora com a decoração natalina inspirada no vinho e com viés sustentável. O Natal di Bacco chega à sua quarta edição, enfeitando o circuito de visitação na Vinícola Aurora. A decoração especial segue até 11 de janeiro, época que atrai

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turistas brasileiros e do Exterior. Todo confeccionado com rolhas e garrafas, se espalha pelo roteiro, entre os tanques de fermentação e as pipas gigantes. Segue atraindo os olhares a “árvore” montada com garrafas vazias, de espumante, unidas na base por uma serpentina de luzes de led. Maior exportadora de vinhos do Brasil em 2014 e a vinícola brasileira que mais exporta para os Estados Unidos (além de liderar também exportações para o Reino Unido, Alemanha e Bélgica), a Aurora está em mais de 20 países, nos cinco continentes. Entre as suas mais recentes premiações está a 45ª edição do concurso The International Wine & Spirit Competition, em Londres, onde três vinhos de Bento Gonçalves foram premiados, entre os sete mil rótulos inscritos de

38 países. Também são três os vinhos brasileiros que fazem parte da lista dos 100 melhores do mundo feita pela Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores (WAWWJ). Os produtos nacionais escolhidos foram o Aurora Espumante Moscatel (56º lugar), o Aurora Reserva Merlot 2011 (65º), ambos da Vinícola Aurora, e o Garibaldi Espumante Moscatel (97º), da Cooperativa Vinícola Garibaldi. O ranking é baseado em 74 concursos mundiais de bebidas, como o Concours Mondial de Bruxelles e o International Wine Challenge, e varia de acordo com a importância do concurso e a posição de cada rótulo. Quatro australianos estão entre os dez melhores. O topo da lista é ocupado pelo champanhe Charles Heidsieck Blanc


des MillÊnaires 1995, da francesa Vranken Pommery Monopole Heidsieck. Em segundo lugar, aparece o argentino Zemlia Himno Malbec Bicentenario 2010, da Bodega Zemlia de Las Casuarinas. A terceira posição Ê ocupada pelo australiano Taylors St. Andrews Shiraz Clare Valley 2010, da Taylors/Wakefield Wines Pty. Entre os dez primeiros colocados, quatro rótulos são australianos, e

três, franceses. Argentina, Canadå e Espanha têm, cada um, um vinho entre os dez melhores. Talvez por resultados expressivos como esse que colocam no mapa a produção brasileira, Itacir Pozza estå entre as 100 personalidades mais influentes do agronegócio nacional, de acordo

com a revista Dinheiro Rural. Pozza, que assumiu a Presidência do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora em abril deste ano, representa o sucesso do cooperativismo, responsåvel por uma safra de 57 mil toneladas ano e que faturou R$ 300 milhþes em 2013. MB

A visitação na Vinícola Aurora Ê gratuita e pode ser feita nos seguintes horårios: 'H VHJXQGD D VžEDGR GDV K ½V K GRPLQJRV GDV K ½V K 3DUD agendamento de JUXSRV RX

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OutBá

IRMANDADE E SORRISOS SOLARES Foto Fernanda Fink

Belas, trabalhadoras e competentes, as irmãs Chissini foram criadas para serem corajosas. Sem temer mudanças, naturais de Vacaria, Adri e Preta chegaram em Firenze há 23 anos, Claudinha, há só sete meses. Hoje o trio está por trás de boa parte do entretenimento noturno de Florença. O segredo? Trabalho árduo e sorriso no rosto

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Uma gostosa e natural gargalhada foi o primeiro ímpeto para a minha pergunta sobre como foi a infância das irmãs Chissini: “A gente era tão feliz...”, relembra suspirando de saudade Claudinha, a irmã do meio. Com a primogênita, Adriane, foi criada até os 5 anos solta na natureza, de pés descalços no mato da fazenda: “Aí nasceu a


Preta e ajudávamos a mãe a cuidar”, completou. As três filhas de Eraclides e Marisa, Adriane, Claudia e Analis Chissini cresceram e tiveram uma infância-adolescência feliz em Vacaria. Foi no ano de 1991 que nasceu a história de amor do trio por Firenze, a encantadora cidade-berço da arte italiana. Um mês depois do casamento de Claudinha, aos 22 anos, no dia 23 de fevereiro, Adriane embarcou para a Itália. O namorado gaúcho da época disse que ela não aguentaria de saudade, lembram Claudinha e Preta: “Realmente, ela tava sentindo falta de tudo. Mas lembro que ficou de teimosa para provar que aguentava sim”. Firme, Adri aguentou os seis primeiros meses, e também os outros 20 e poucos anos. A caçula Preta foi visitar duas vezes e em setembro de 1992 também fincou bandeira gaúcha na Terra de Botticelli e Michelangelo: “Nos primeiros sete anos, com um namorado que era de Caxias, chegava a imaginar que poderia voltar a viver no Brasil,” recorda Preta. Depois, nunca mais cogitou. Com a irmã mais velha, começou trabalhar no balcão do pub Kikuya.

Além disso, tem a beleza da cidade, e o mais importante: a sensação de estar segura à noite, de bicicleta. A qualidade de vida numa cidade pequena da Europa como Firenze fascina quem vem de fora, apesar da mentalidade também ser de cidade pequena. Sair a pé, de bicicleta, criar os filhos aqui não tem preço.

Tempos depois, Adriane ficou sócia de um dos italianos que era dono, e Preta seguia prestando serviços, agora para a irmã. Foi quando surgiu a oportunidade de as duas se tornarem sócias, ao lado do ex-futuro marido, cunhado e sócio da dupla, Eike. Foi assim a configuração do Kikuya por um bom tempo. Até que Adriane e Eike venderam toda a sua parte para abrir o Tijuana e o Tijuana 2, restaurantes mexicanos queridinhos do circuito noturno fiorentino. Hoje, com 33 anos de muita vida noturna, o Kikuya é administrado só por

Preta. O tempo passou, as gurias gaúchas que começaram a ganhar a vida atraindo clientes e olhares italianos transformaram-se em mulheres empreendedoras e bemsucedidas no exigente mercado de entretenimento fiorentino. Além dos restaurantes e o Kikuya, o italiano e marido de Preta, Lorenzo, com quem teve duas filhas, ainda comanda o Zoe e é um dos sócios do Cole Beretto, dois points tradicionais e confirmados da cidade. Há sete meses, Claudinha, que se habituou a visitar as irmãs quase todos os anos, finalmente juntou-se a elas. O que fascinou o trio na Europa foi o prazer de descobrir o que é um trabalho e ser valorizada por ele. O que no Brasil era muito difícil na época em que elas vieram, e de certa forma segue complicado. “Além disso, tem a beleza da cidade, e o mais importante: a sensação de estar segura à noite, de bicicleta. A qualidade de vida numa cidade pequena da Europa como Firenze fascina quem vem de fora, apesar da mentalidade também ser de cidade pequena. Sair a pé, de bicicleta, criar os filhos aqui não tem preço”, explica

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Preta. Diferente de hoje, quando as irmãs Chissini chegaram na Itália, toda a brasileira que aparecia era mal vista, as pessoas se comunicavam por cartas e ligavam para os pais de orelhões estragados. Mesmo apaixonadas pelo dolce far niente italiano e toda a tranquilidade europeia, é o temperamento extrovertido e bem brasileiro o segredo desse trio. “Só ser brasileiro já é quase tudo por aqui. Pois nós somos solares, sorridentes por natureza. Sorriso no rosto é meio caminho andado, e foi por isso que nossos negócios deram tão certo por aqui. Cuidar das pessoas. O segredo é tratar as pessoas como você gostaria de ser tratado por elas. Não tem outro jeito”, conta Preta. Unidas,

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O segredo é tratar as pessoas como você gostaria de ser tratado por elas. Não tem outro jeito.

trabalhadoras e de sorriso farto e franco, sempre receberam o apoio incondicional dos pais. A grande virtude dessa irmandade, em todos os sentidos, é que as parceiras de vida esquecem rápido os motivos pelos quais brigam. Até porque são sempre besteiras: “Também somos as três extremamente sinceras”, explica, Claudinha. Formada em Pedagogia em Caxias do Sul e Psicomotricidade na Itália, Adriane, a Adri, é mãe de um menino e sócia com o

ex-marido dos mexicanos. Separada há quatro anos, a fotógrafa Claudinha, depois de criar os dois filhos hoje adultos, pegou a mochila em 2012 e viajou dois meses fotografando pelo Nepal. Os seis seguintes foram em Nova York, onde sozinha abria e fechava uma cafeteria em Wall Street. Alugou um carro, fez o “S” dos Estados Unidos, até decidir também fixar residência em Firenze, onde trabalha e vive com as irmãs. Preta fez biologia e hoje comanda o Kikuya, além de criar duas lindas italianinhas. Bem prática, ela resume qual é a sensação de dever cumprido: “É bom perceber que teu trabalho faz as pessoas voltarem ao teu bar”. E tem como não voltar, gurias? MB


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Báco

OrestesdeAndradeJr. jornalista e Sommelier

BRINDE DE FIM DE ANO Fotos Divulgação

Brindar momentos especiais sem necessariamente usar álcool e sem perder o sabor é a proposta da Dushy Fest As festas de fim de ano pedem champanhe. Ou espumante, que é como a bebida originária e famosa da França é conhecida aqui. Por definição, um champanhe ou um espumante é um vinho cuja efervescência resulta de uma segunda fermentação alcoólica, na garrafa (método champenoise ou tradicional) ou em tanques de aço inox, chamados de autoclaves (método charmat). Só as borbulhas elaboradas em uma área específica da França podem ser denominadas de champanhe.

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Os demais produtos são os espumantes (no Brasil), cavas (Espanha), Asti, Prosecco, Franciacorta (na Itália) e Sekt (Alemanha). Vários nomes para o mesmo prazer! Mas uma novidade interessante foi criada no Brasil, há exatamente 15 anos. É o “espumante” sem álcool Dushy Fest, desenvolvido em Flores da Cunha, na Serra Gaúcha, na Fante Bebidas, empresa com mais de 40 anos responsável pela produção da famosa vodca Rajska, do malt whisky Black Stone, do vinho e o suco de uva 100% integral e natural Quinta do Morgado e pelos vinhos finos da marca Cordelier, entre tantos outros produtos. A rigor, o Dushy Fest não é um espumante. É sim um coquetel de frutas gaseificado, sem álcool, que pode ser consumido bem gelado por todas as pessoas, de todas as idades. É o produto escolhido para as festas de réveillon por crianças ou adultos que não podem consumir bebidas alcoólicas fazerem o tradicional brinde de Ano-Novo. Com um sabor delicioso, que lembra um refrigerante de frutas com a predominância do sabor de uva branca, confere charme e garante

Abrimos a seção de coquetel gaseificado no Brasil. o ritual de beber e brindar com champanhe sem ser champanhe. Segundo o diretor e proprietário da Fante, o produto surgiu em uma viagem à Europa, em 1995. A inspiração veio de um suco de maçã gaseificado existente na Espanha. Durante três anos

de pesquisas, um produto novo foi desenvolvido especificamente para o gosto do público brasileiro. Ou seja, ele tem menos acidez e é mais doce do que similares encontrados fora do País. Bem ao estilo do que o brasileiro aprecia. “Abrimos a seção de coquetel gaseificado no Brasil”, orgulha-se Júlio Fante. Criado o produto, o desafio era engarrafá-lo em uma embalagem nobre. A grande sacada, conta o empresário, foi escolher uma garrafa de espumante. Atualmente, são vendidas cerca de 300 mil unidades por ano, sendo 80% deste volume no último bimestre do ano. O crescimento segue em um ritmo acelerado de 15% a 20% por ano. “Nosso desafio é aumentar as vendas em outras regiões do País”, revela Júlio Fante. É um case completo, desde o desenvolvimento de um produto original, pensado para o consumidor brasileiro, passando pela embalagem e rotulagem diferenciada, ações de marketing para divulgação, e percepção do valor agregado pelos consumidores. Agora não há mais desculpa para o seu brinde de réveillon não ter o clássico espocar. É só escolher, champanhe, espumante ou Dushy Fest!

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Arte: Graziela Sanvito Andreazza Ramos

Dé LigiaaNery Bán daSilveira cartola_normal cartola

coach

VIDAS EM REDE

Tanto se fala em redes hoje em dia. As redes sociais tomaram conta de nossas vidas e muitas vezes chego a temer certa banalização no que se refere ao conceito associado ao relacionamento humano de forma mais específico. Queria voltar no tempo e abordar a rede no que se refere ao contato com pessoas sem necessariamente referir aos meios digitais. Será que você está deixando de estar junto com aqueles que a vida lhe trouxe para perto por preguiça, comodismo, medo, displicência? Cuidado! Atenção! Quando falamos na roda da vida e suas dimensões, que nos fazem girar em harmonia (ou não!!!), um dos aros que a compõem é a nossa dimensão relacional, nosso networking. É interessante pensarmos também nos outros e avaliarmos que, por exemplo, a saúde é essencial, as dimensões financeira, profissional, espiritual, intelectual, entre outras, nos fazem um ser “possível e in-

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teiro”. No entanto, é interessante concluir que, quando nos falta algo em qualquer uma dessas dimensões, é na rede de relacionamentos que conseguimos ajuda. Ela é o ponto de partida para solução de qualquer limitação ou carência, ela representa a possibilidade de somatório ilimitado, exponencial. Se ficamos doentes, alguém vai nos ajudar, indicar um médico ou alcançar um chá. Na falta de um conhecimento, um amigo certamente pode nos apontar a solução de busca. Nos momentos em que estamos na transição de nossas carreiras, nos períodos em que visitamos o “corredor”, certamente o nosso networking poderá ser a rede de proteção e impulso para nossos saltos de mudança e transformação como a dos trapezistas. Este “patrimônio” que somos capazes de somar durante o decorrer de nossas vidas nos cobra uma postura interessante, não

interesseira, seu gerenciamento requer uma magia responsável, assim teremos nela um valor inesgotável e espontâneo. Como ela está abastecida, estará sempre disponível com créditos quando necessário para apoiá-lo. As regras de respeito e empatia para manter sua rede são as chaves de acesso: trate as pessoas como gostaria de ser tratado. Este não é um lugar onde vamos buscar favores quando precisamos, mas sim um espaço onde recebemos apoio sistemático porque em algum momento fomos capazes de oferecer este suporte a alguém. Não é uma lista de famosos, colunáveis ou celebridades, pois a verdadeira rede não julga por posição social ou financeira, que são transitórias e relativas. Por isso, preste atenção e valorize a cada momento quem cruza sua vida. Aprenda a somar e mantê-los perto de você, porque ninguém se cruza por acaso.


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VeronicaBender

dermatologista

EM DIA COM O VERÃO Mais um ano termina, e o verão está novamente presente aqui no Sul. Nós, gaúchos, que passamos o ano inteiro meio cobertos, agora começamos a nos expor novamente ao astro desta temporada, o Sol. É claro, faço aqui a lembrança do uso do protetor solar, que deve ser utilizado o ano inteiro, mesmo nos dias nublados, pois a radiação não é bloqueada pelas nuvens. Os cuidados devem ser redobrados durante a exposição das crianças ao Sol, pela pele muito sensível dos pequenos. A hidratação é muito importante através da ingestão de muita água e uso de produtos hidratantes para o rosto e o corpo. Nesta época, deixamos

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de lado os ácidos e utilizamos mais antioxidantes e nutritivos, além da proteção através de loções, géis ou cremes com fatores de proteção solar UVA e UVB para proteger a pele da agressão solar. As preocupações estéticas se voltam principalmente ao corpo, e nas clínicas dermatológicas aumenta muito a demanda por tratamentos corporais. Para a famosa celulite estão indicadas a drenagem linfática, a radiofrequência e técnicas mais recentes como o uso do Sculptra. O ácido polilático injetável, que já é usado há muitos anos para tratar a flacidez facial, mais recentemente, vem sendo utilizado também para combater a flacidez cor-

poral e celulite. Vedete dos tratamentos para gordura localizada é a Criolipólise, que utiliza o congelamento para destruir as células de gordura, principalmente as localizadas no abdômen, nos flancos (pneuzinhos), nos braços, nas costas e na parte interna das coxas, sem dor. Os resultados são observados a partir da terceira semana, com a eliminação natural da gordura pelo organismo. A perda é duradoura, principalmente se o paciente mantiver uma dieta balanceada e atividades físicas regulares. O procedimento já é considerado um sucesso mundial e um dos mais procurados nos consultórios. Proteja-se e feliz 2015!


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LíviaChavesBarcellos

A ARTE DE LIANA TIMM Sempre admirei o trabalho de Liana Timm. E, agora, cada vez mais. Porque, além dos quadros maravilhosos, sonho de consumo de muita gente, ela mostra seus outros dons. Ao celebrar os 45 anos de carreira, apresentou uma bela mostra na Galeria

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Arquipélago do Centro Cultural Erico Verissimo, organizada como uma trilogia: Outro(s) de mim/ Vago(s)/ Disperso(s) Recorte(s) Imaginário(s), com a curadoria de sua amiga e companheira de palco Lenira Fleck. O resultado, segundo ela

própria, é uma instalação. Adorei o nome da exposição, Atelier Incessante, que tem tudo a ver com a artista. Ela não para e, de suas mãos, a arte brota livremente, seja na pintura, na música, na literatura ou no teatro. Uma artista múltipla.


Arquiteta, foi professora na UFRGS, PUC e Unisinos, nas décadas de 70 a 90, toca piano nas horas vagas e faz poesias lindas como esta: Paisagens do Interior Arte que te quero arte Arte que te quero toda Arte que te quero parte Arte que te quero viva Arte, não te quero à parte Arte que te quero vida Arte da vida...

Liana Timm é uma artista de muitas artes.

O ano de 2014 foi marcado pelas apresentações, no Theatro São Pedro, de Freud e os Escritores. Sob direção de Graça Nunes e Carlota Albuquerque, Liana Timm, Janaína Pelizzon e Lenira Fleck apresentaram quatro peças que têm como centro Freud e sua filha Anna, recebendo a visitas de convidados ilustres, todos escritores, para discutir a relação humana. Os textos são de autoria de Liana e Lenira Fleck (autora do projeto). Freud & Virginia Woolf, Freud & Schopenhauer, Freud & Hilda Doolittle e Freud & Agatha Christie são as quatro excelentes peças que surgiram deste trabalho. Espero que voltem a ser encenadas no próximo ano, porque são imperdíveis. | 79


MarcoAntônioCampos

DO SPAGHETTI WESTERN AO CULT Clint Eastwood está na fase mais criativa de sua carreira Aos 84 anos de idade, Clint Eastwood está no auge de sua criatividade com realizador cinematográfico. Cada novo filme dele, não somente tem uma forca narrativa raramente vista no panorama do cinema atual, como uma variedade de temas que mostra uma pessoa ansiosa por buscar surpreender suas platéias cativas. Claro que seus temas mais caros sempre são encontrados

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nos personagens centrais ou nos encantadores e inesquecíveis coadjuvantes que seus roteiros elaboram: humanismo, códigos de honra, lealdade, princípios e coragem. O trailer de American Sniper, seu próximo filme, estrelado por Bradley Cooper, traz toda esta categoria, muita tensão e sua assinatura em apenas um minuto e meio. Americano de Los Angeles e filho de operários, Clint


iniciou sua carreira em filmes de terror classe B e séries de TV na década de 50. Mas foi quando se mudou para a Itália e para os “Spaghetti Westerns”, como Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito, todos de Sergio Leone, que acertou o tiro na mosca. Conhecido internacionalmente como astro de ação, voltou aos EUA e iniciou uma série de filmes em que encarnou heróis mais ou menos comprometidos como Desafio das Águias, Guerreiros Pilantras e Perversa Paixão. O novo salto em sua vida se chamou Harry Callahan, um inspetor de polícia de

São Francisco, ex-mariner, que anda com uma Magnun 44, não receia atirar e para quem bandido bom é bandido morto. Seu apelido: “Dirty Harry”. Foram seis filmes como Dirty Harry sob grande sucesso de público e, para variar, vaias da crítica que torcia o nariz para o fascismo do personagem, maior a cada título. Eastwood dirigiu e atuou neste período em dois westerns excelentes: Josey Wales e O Cavaleiro Solitário, quase dois ensaios sobre solidão e fragilidade da humanidade. Quando o divórcio entre Eastwood e crítica parecia definitivo, Clint aparece do nada com o sensível Bird,

um belíssimo filme sob Charlie Parker, estrelado por Forest Whitaker, e que ganhou o Oscar de melhor som, o Globo de Ouro de Melhor Diretor e Ator e dezenas de prêmios importantes pelo mundo. Foi uma nova guinada, um twist ao melhor estilo de um filme de suspense: Clint virou um diretor autoral e cult. Dirty Harry, quem diria! A partir daí, vieram: Os Imperdoáveis (obra-prima, Oscar de Melhor filme), Pontes de Madison, Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro (Oscar de Melhor Filme, Diretor, Atriz, Ator Coadjuvante), A Troca, Invictus, Gran Torino e J.Edgar.

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AndréGhem

NOVOS CLIQUES tenista profissional

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Não era nascido quando inventaram a televisão. O vinil bem que tentou. Teve alguns ensaios na retomada do espaço perdido, mas a modernidade consumiu o bolachão. O celular, lembro bem do início de sua caminhada, de muitos afirmarem que jamais iriam aderir a esse movimento, como moda de início de verão. O mundo se modernizou e épocas douradas estão cada vez mais distantes. Os matutos já não existem mais na capital, onde se compra carro, comida, sapatos e mesmo livros pela própria internet. Tudo com apenas alguns cliques. Um clique de vez, pá, outro. A cada final de rodapé, clico e meu mais novo brinquedo passa para a página seguinte. Já estou no segundo, fascinado não apenas pela leitura, mas pelo conforto e a praticidade e-reader. Dos amigos que mostrei, a nenhum lhes interessou. Bradavam frases como “Gosto de virar a página”, “Gosto de sentir o seu cheiro”, “Gosto de sentir o peso do livro”... Eu também, mas, colocando tudo isso na balança, meu voto vai para a praticidade, e espero que isso não me faça menos romântico...


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LUXO COM ATITUDE SilvanaPortoCorrêa

Ao lado da filha Giovanna Araujo, Andrea Perna acaba de abrir as portas da The Perfect Dress, um showroom de vestidos de festa para alugar na capital gaúcha Vinda de uma família porto-alegrense e italiana pelos dois lados, Andrea Perna é a quinta filha de Julio e Nara Perna. Caçula das meninas, Dedeia sempre espiou as modernices e modelitos das irmãs mais velhas. Gostava de maquiagem e lembra de se empolgar com a faceirice da avó materna Chloé. A veia para vendas vem do avô paterno, Leonardo Julio Pena, proprietário da LJPerna, a maior loja de casemira da época na cidade. Formada em terapia ocupacional, logo percebeu que o envolvimento excessivo com os pacientes poderia não fazer do ofício escolhido uma boa opção: “Cheguei a trabalhar em hospital. Eu me atrapalhava, queria saber deles no fim de semana, não era para mim”. O tino das vendas surgiu numa época em que ter biquínis

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FOTO: DULCE HELFER

que não chiassem carioquês não tinha graça nenhuma. Ela escolhia a dedo marcas bacanas e vendia tudo. Do encanto natural pelas “coisas femininas”, abriu com as duas irmãs uma boutique na Zona Sul, que em seguida fechou as portas. Como o bom pai que queria encaminhar cada um dos seus seis herdeiros, o engenheiro Julio acabou ajudando a filha a montar há 25 anos a Perna Representações de Moda: “Lembro que fomos de porta em porta na primeira viagem para São Paulo em busca de representadas. A Cleo Aidar foi uma das primeiras”. Passaram-se quase três décadas, Andrea é mãe de Giovanna e Rodrigo e casada com Antônio Augusto Velasco. Depois de muita aprendizagem e trabalho, dá a dica para quem deseja seguir passos parecidos no mercado da moda: “Ter foco e segmentar. Não adianta querer vender tudo”. Ensinamentos que só a experiência proporciona e que Dedeia acumulou com o tempo e colocou em prática. Ao lado da filha Giovanna, acaba de abrir The Perfect Dress. Um showroom de vestidos de festa para todos os gostos e para alugar. Abriu oficialmente em dezembro, mas quase dez peças já foram locadas e deixaram suas

A cumplicidade entre mãe e filha gerou a The Perfect Dress. inquilinas deslumbrantes e deslumbradas: “Sentimos necessidade de abrir o leque, e Porto Alegre estava carente exatamente desse tipo de lugar”. Um dos prazeres de Dedeia é falar no “plural”, já que tem sua bela filha advogada ao seu lado: “Adoro conviver com ela e fico feliz vendo que tem muito do meu jeitinho, de atender, de falar com as pessoas. Acho que de tanto me ver trabalhar. É comunicativa, delicada e afetiva”. Giovanna fez um estágio com a mãe bem na época em que estudava para fazer a carteira da OAB, quando tinha tempo. Acabou gostando. O novo espaço queridinho da turma que frequenta eventos sem fim já larga com 200 modelos bem ecléticos, dos tamanhos 34 ao 46, de grifes

nacionais e internacionais. Entre elas Armani, Cavalli, Marchesa, BCBG, Marciano, Calvin Klein, Ralph Lauren, Le Lis Blanc, Bobô, Carlos Miele. Logicamente que ninguém vai sair de lá sabendo quem alugou o que, mas é provável que quem alugar seja informado por onde andou o look. Sensibilidade que para Andrea e Giovanna sobra quando o assunto é o que as mulheres procuram: “Tem a ver com os caminhos que o mundo está tomando. Quem tem personalidade é cada vez mais prática, descomplicada e decidida. Quer saber do que gosta de ser e de fazer. Não mais do que fazer para se encaixar”. A aposta é numa atitude mais ousada, sustentável, econômica e não acumulativa. Mais moderna impossível.

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D Dé éco coAí rBá cartola_normal Bá Por

UMA REGIÃO CHAMADA ALGARVE FlavinhaMello Chef e DJ

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Uns chamam de destino, outros dizem que a energia conspira a favor, mas sei que fui parar na região de Algarve, um pedaço de Portugal cercado de praias paradisíacas e boas ondas. Na minha última viagem, eu e o Pedro (meu namorado) fomos com passagem comprada de ida e volta para Lisboa, e a ideia inicial era pegarmos um voo para Marrocos. Meu primo Marcio Nicoletti, meu personagem da vez, mora na Europa há mais de dez anos. Ele é chef de cozinha, surfista e skatista e, assim como nós, não conhecia Portugal. Chegamos no mesmo dia a Lisboa, foi uma festa o reencontro. Depois de algumas taças de vinho e papo embalado, resolvemos mudar nosso roteiro e ir conhecer o Sul de Portugal. No dia seguinte, alugamos um carro e pegamos a estrada embalados pela música “Another love”, seguida por “My head is a jungle”, felizes observando as oliveiras e vinícolas. Nossa primeira parada foi em Évora, uma cidade que é Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1986. No dia seguinte, fomos para a praia, para nossa surpresa uma das mais bonitas que já visitamos, a Praia Dona Ana. No outro dia, fizemos uma trilha a pé até a Ponta da Piedade, onde andamos de barco entre as cavernas, de beleza surreal. À noite, pesquisei praias para conhecermos, e Odeceixe, na Costa Vicentina, chamou minha atenção. Pegamos o carro e em menos de uma hora estávamos na Guarda de Portugal, praia com boas ondas e onde o rio encontra o mar, perfeito para adultos e crianças brincarem na corredeira. Foram dias incríveis e importantes para perceber que às vezes não ter roteiro definido é o melhor para ter a liberdade de escolher o que se quer fazer e ser feliz! Portugal é um país maravilhoso, com povo acolhedor, boa comida, daqueles que quando saímos dizemos: vou voltar!


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JuliaFleck

A estação mais quente do ano chegou com tudo, e ficar bem vestida em altas temperaturas, cuidar do corpo, pele e cabelos, não é tarefa fácil. Alguns cuidados básicos, como manter-se sempre hidratada, usar protetor solar constantemente e não abusar do Sol já são velhos conhecidos e indispensáveis. O meu projeto verão é entrar na estação com tudo em cima: antenada nas tendências e sem descuidar da saúde e beleza. Curte minhas dicas para arrasar nas praias!

HOT SUMMER TIPS 5 dicas para aproveitar o que o verão tem de melhor 1 Protetor solar de amplo espectro Isdin Esse tipo de produto é mais completo, agindo contra os raios UVA e UVB, protegendo contra queimaduras solares, retardando o envelhecimento da pele e evitando o aparecimento de melanoma. 2 Biquínis Cake&Co A marca de beachwear trabalha apenas com estampas exclusivas inspiradas em balas e doces, sempre explorando o colorido desse tema lúdico, deixando o look deliciosamente alegre. Veja mais modelos no site. www.cakesco.com.br 3 Body Art Flash Tattoo Para incrementar as produções da praia à balada, eu indico abusar das tatuagens metalizadas para contrastar com a pele bronzeada.

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4 Óculos de Sol Le Specs modelo Tweedledee A marca australiana Le Specs é a atual queridinha entre os famosos pelo seu estilo supersexy e está sempre ditando tendências.

5 Drink Cotton Candy Verão é a estação ideal para bons drinks com amigos, e por isso eu elegi o drink Cotton Candy, feito com algodão doce, para ser o destaque da estação em Nova York.


RoubandoaCena

FOTO: TIAGO TRINDADE

Além de lindas, as gaúchas são muito estilosas, sempre elegantes e atentas às tendências, roubando a cena por onde passam! Maria Alice Alvim Ritter e Martina Ritter Angela Xavier

Ana Paula Chitto Juliana Sanmartin Ribeiro

Adeus à gordurinha localizada com a criolipólise A fisioterapeuta Andressa Renon indica a criolipólise para pacientes que gostariam de reduzir a gordura localizada pinçável, diminuindo até 20% da gordura. É uma técnica sem cortes nem cirurgia, que promove redução da gordura localizada da região onde é realizado o procedimento. Consiste no pinçamento da região escolhida seguido do congelamento a temperaturas de até -13°C. Essas células de gorduras cristalizam e explodem, perdendo sua função e sendo metabolizadas e excluídas do organismo nos três meses seguintes, quando aparecerá o resultado.

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maquiagem beleza cartola_normal

A TENDĂŠNCIA DO VERĂƒO DaniloAranha maquiador 1

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O verĂŁo ĂŠ a ĂŠpoca mais libertadora de todas as estaçþes, a temperatura estĂĄ elevada, o suor escorre pelo corpo e as mulheres se tornam muito mais sensuais com o corpo Ă mostra. É claro que a maquiagem faz parte de tudo isso, mas como se maquiar com um calor de 40 graus? Vamos juntos desvendar esse segredo. Seguindo a tendĂŞncia atual de maquiagem, ela deve ser muito leve, ĂŠ uma nivelação da beleza natural. Existem vĂĄrios produtos que sĂŁo bem amigos nessa estação, os famosos BB cream, CC cream, DD cream. Nossa! Quanta

Hidrate a pele, coloque um protetor solar, DD cream QD SHOH EOXVK URVDGR XP EDWRP H XP JORVV URVD em tons mais quentes, XPD VRPEUD URVD PDV acetinada, mĂĄscara preta e o look estĂĄ completo. IRWRV H

Studio D

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coisa! Logo, como saber o que usar? (foto1) Vamos esclarecer: O BB Cream (Blemish Balm Cream) protege, hidrata e prepara a pele para receber a maquiagem (como um primer), alÊm de possuir FPS (fator de proteção solar) e uma leve cor para uniformizar a pele. O CC Cream (Color Control Cream) Ê mais potente, pois, alÊm das funçþes do BB Cream, possui tambÊm antioxidantes, anti-idade e agentes clareadores da pele. O DD Cream (Daily Defense Cream) Ê o mais recente e concentra as funçþes dos demais, alÊm de atuar como autobronzeador. O Rosa serå a cor da estação, sim o ROSA, vamos ver ele muito nos olhos, nos låbios, nas maçãs do rosto, e em todas as tonalidades: rosa claro, escuro, ele estå liberado e combina se for usado de maneira correta em todos os tons de pele. Aproveite!


Tudo para o seu evento

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cartola_normal AsPatrícias

FOTO: DIVULGAÇÃO

www.aspatricias.com.br

SALVE SALTO, SONHO DE TODAS Fotos campanha: Denise Wichmann Fotos produtos: Rogério Wanderley

Quem nunca parou em frente a uma vitrine de sapatos e suspirou por um modelo, mas na hora de provar percebeu que o salto ou o bico poderiam ser um pouquinho diferentes: mais alto, mais fino, mais baixo?! Ou implicou com a textura, com

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a cor, com o forro?! Sim. A gente sempre sonha em aprimorar a moda – e os sapatos, recorrentes em nossas ansiedades Credicard, são foco certeiro desse anseio por personalização. Pena que é impossível. Ops! Era. Sim. O que parecia

difícil de acontecer, a gente produzir um sapato na medida dos nossos sonhos, virou realidade com a iniciativa da designer gaúcha Gabriela Piageti, que acaba de criar o Salve Salto, um e-commerce no qual você pode escolher quase tudo do seu sapato


Pensamos em cada um como se fosse o único.

seguindo algumas opções de modelos-base. Gabriela, uma apaixonada por beleza e com uma longa experiência na área de sapatos, onde começou a trabalhar aos 15 anos, já (pasmem!) estudante de design de produto, fez o Salve Salto daquele jeitinho que se faz as melhores coisas da vida, com muito amor e pensando em responder aos próprios desejos. Sim. Sempre que a gente vê um projeto bacana, é certo que o criador pensou com a cabeça de quem vai consumir, entendeu muito bem para quem está criando, quais são as necessidades, o que o cliente almeja. No Salve Salto, não é apenas pegar um scarpin e pôr textura, cor, palmilha, forro... É mudar o bico, o salto, os acessórios, os detalhes, além desse kit básico que a gente já falou. E ainda se pode optar por meio ponto nos dois ou em apenas em um dos pés. Captou?! E para as pequerruchas e grandonas, outra boa notícia: a numeração vai de 33 a 43. E tudo aparece em 3D, para você visualizar a própria

criação do jeito mais verossímil possível. Vai dizer que não amou?! A gente sim. Outra coisinha que chama a atenção na ideia é que, diferentemente do que a gente pode imaginar diante do distanciamento inerente a um e-commerce, o Salve Salto segue a cartilha do slow fashion, já que tudo é produzido de forma artesanal, por profissionais da área com mais de 50 anos idade, em uma fábrica própria localizada em Novo Hamburgo, usando materiais de primeira linha de fornecedores que se comprometem a afetar o mínimo possível o ambiente. Bacana, né?! E mesmo com planos de expansão, já que em breve a Gabi vai coordenar uma equipe de consultoras que vão fazer os pedidos nas casas das clientes (imagina?! Que maravilha) e também oferecer o e-commerce para a Europa, esse perfil intimista característico do sob medida vai ser mantido. “Pensamos em cada um como se fosse o único”, diz Gabriela. Comprovação de que tradição e qualidade são boas parceiras de negócios do futuro. Salve Salto!

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IA IÊNC JAM SC

Conquistando a preferência de muitas consumidoras, as marcas sustentáveis têm tudo para se alcançar o topo das wish-list e sacramentar o consumo consciente como primeiro tópico dos manuais de estilo.

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Blusa feita à mão através de upcicling de malha de camisetas, da Envido. Saia midi de couro de cabra que aproveita material excedente da indústria calçadista, da PP Acessórios. Echarpe de resíduos têxteis usado como turbante e golas de resíduos têxteis com fios siliconados, da Contextura. Bota em trama de palha e detalhes em couro, confeccionados através da reutilização de excedentes de outras marcas, da Louloux.


T-shirt de algodão e elastano, Hering, acervo. Sobreposição de saia longa e vestido de tule com fios siliconados obtidos por reciclagem têxtil e echarpe, usada como turbante, feita de de resíduos têxteis, da Contextura.

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Casaqueto de tecido tailandes de lã feltrado e acabamentos em organza de seda desenvolvido a partir do aproveitamento de resíduos industriais, da Contextura. Saia de couro de cabra desenvolvida com aproveitamento do couro excedente da indústria calçadista, da PP Acessórios. Shopper bag feita com aproveitamento de câmara de pneu com forro de náilon de guarda-chuva descartado, da Vuelo. Sandália feita a partir do aproveitamento de excedentes de produção de outras marcas, da Louloux.


Vestido moulage de poliéster e algodão com detalhes em dobradura, da Contextura. Náilon de guarda-chuva descartado usado como turbante, da Vuelo, acervo. Broches feitos com resíduos de acrílico e madeira, da 90º Acessórios. Alpargata de lona de algodão orgânico, da Villaget.

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Vestido de cetim e veludo feito a partir do aproveitamento dos materiais de uma jaqueta masculina, de Tatiana Sperhacke (TAT Studio), acervo. Sandália feita a partir do aproveitamento de couros descartados, da Louloux.

Fotos: Raul Krebs e Danilo Christidis Assistente: Luis Krebs Modelo: Victorya Raabe Ford Models Make/hair: Diego Marcon Conceito e Styling: Tanise Haas Coordenação: Evelyn Ruhl - Escola Fluxo

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EM BUSCA DE ALGO MAIS Esse editorial foi construído a partir das inquietações de três artistas após finalizarem o curso “Ensaios inspirados pela fotografia Fine Art”, oferecido pela Escola de Fotografia Artística e orientado pela professora e artista visual Danny Bittencourt. Todos os artistas tinham disponíveis a mesma locação e intérprete, porém cada um parte de um lugar individual para a construção de suas imagens. Buscam evocar sensações e amadurecer suas obras sem se preocuparem em produzir para um cliente ou veículo de comunicação, mas sim pensando em suas próprias questões, doloridas ou não, e expondo através da imagem.

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Título: “Permanência”/ Artista: Danny Bittencourt/ Intérprete: Gabriela Carlotto

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A artista Heloisa Medeiros busca nas suas inquietações a sua inspiração. Neste ensaio ousou fotografar o silêncio. Quanto silêncio cabe em um sentir?

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Escombros e abandono foi instigante. A descontituição do belo, o monstruoso e o sublime, a mstura de todas essas linguagens me encantam! Os escombros da realidade não sufocam o sonho!

Título: “Fada Alada” e “Portas” Artista: Lolô Medeiros/ Intérprete: Gabriela Carlotto | 103


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O artista Evandro Eifler Neto criou suas imagens a partir de uma poesia, que guiou as sensações propostas por ele e que colabora para a conexão do espectador com as obras.

Mantenho-me no escuro para ficar fora da luz Apenas dormindo na luz do sol Desliguei a luz para repousar na sombra Vou salvar o meu rosto e manter minhas mãos firmes na terra Sinto alívio quando cai a noite, ela salva a graça dos meus olhos Quero beber-me, vestida de branco, vestida em um corpo Eu quero os meus sonhos, dormir não vai me salvar da noite. 104 |


Título: “Sombra e luz” e “ Luz, espaço e tempo” Artista: Evandro Eifler Neto / Intérprete: Gabriela Carlotto

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A artista Sabrina Gabana cria a busca do autoconhecimento e da compreensão das questões que norteiam seu imaginário, trazendo significado às sensações que surgem a cada suspiro. A artista também se sentiu inspirada para desenvolver uma poesia a partir das intenções da obra.

“Entre os fragmentos que meu ser carrega, vago solitária. Inundada em sensações outrora ocultas. Sinto, suspiro, exalo. Percebo cor em minhas vidas muitas. Deixo ir aquelas que me foram. Desperto para a luz que em mim habita. Emergindo em vida onde fui escombros.”

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Título: “Fragmentos 1” e “Fragmentos 2” Artista: Sabrina Gabana / Intérprete: Gabriela Carlotto

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PEDRA BONITA: CONECTADO AO ESSENCIAL O convite é irresistível: do alto do Pedra Bonita você vê o pôr do Sol deslumbrante no horizonte. A noite se aproxima delicada e através das lindas cores, despertam a vontade de olhar o céu da Zona Sul e encontrar a sua cidade. A Cyrela Goldsztein escolheu o cenário perfeito para um novo padrão residencial na capital gaúcha, pensado para a família, com espaços de convivência, ao ar livre e que dialogam com o ambiente tranquilo em meio à natureza. Assim é o conceito do empreendimento, um

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novo conceito de qualidade de vida que em meio a charmosas torretas possuem infraestrutura completa de lazer, apartamentos amplos, praças temáticas e mirante com vista para uma belíssima paisagem. Perfeito no verão, aconchegante no inverno e com opções para você relaxar e renovar as energias. A Cyrela Goldsztein acredita que viver em harmonia com a natureza traz retorno imediato, lhe inspirando a começar uma nova maneira de encarar a rotina. Redescobrindo sentidos e

restaurando essências, o Pedra Bonita quer conectar você ao essencial de um jeito natural. É o cenário perfeito para um novo padrão residencial cercado de opções de conveniência e serviços: Experimente a Zona Sul em perfeita harmonia com você.


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VitorRaskin

O estilo de Adriana Cauduro EULOKRX QR ILQDO de tarde elegante em uma das festas chics do final do ano.

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FOTO: TIAGO TRINDADE

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1 - A charmosa Valesca Tartarotti no &RXQWU\ &OXE 0DUFRV 3LQWR 5LEHLUR *HRUJLDQD )DXUL no jantar 1DUD 6LURWVN\ SUHVHQÄD HOHJDQWH QR Veleiros do Sul

&DUOD -DFRQL &DLR &DSSDUHOOL FDVDUDP com festa linda e animada 5- Maria Virginia Vasconcellos foi madrinha dos noivos

0DUWLQ 7HOOHFKHD $QD 3DXOD 1RJXHLUD em noite de festa 2 YLFHJRYHUQDGRU -RVÆ 3DXOR &DLUROL e Góia Cairoli na festa elegante

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FOTO: NATTAN CARVALHO

social

Time feminino que organizou o jantar-baile de VV Gala Beneficente – Voluntários da Vida – que aconteceu na Casa NTX: RENATA CALLAGE, MARIANA ARAÚJO SANTOS CHIES, MARINA SIROTSKY, JOSIANE NOGUEIRA DE CASTRO, NORA LIVONIUS TEIXEIRA, ROSANA DA SILVEIRA, HELENA DAHNE BARTELLE, CLAUDIA NUBIA WARKEN BARTELLE, SABRINA LOPES RIBEIRO e SCHEILA VONTOBEL.

Por Mariana Bertolucci Fotos Vini Dalla Rosa, Jonas Adriano e Nattan Carvalho

FOTO: K3 PRODUTORA

No comando da Oden e Qyns estão três jovens empreendedores: DANILO ALENCAR, TALITHA VIVACQUA CECHET e FERNANDO STEPHANI HERZ

MISTURE BÁ

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FOTO: NATTAN CARVALHO

CLÁUDIA BARTELLE e GRAZI MASSAFERA

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Acima, TARCÍSIO MEIRA FILHO e MOCITA FAGUNDES. Abaixo, CAMILA TERRA

Acima, CÉLIA RIBEIRO autografando. À direita, GABRIELA TEDESCO e VITÓRIA TOMÉ

Abaixo, LISANDRA e LUANA MUNDSTOCK

Abaixo, GIOVANNA DALLEGRAVE

Acima, MARIELA STOCK

À direita, FELIPE HAUCK 114 |

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FOTO: JONAS ADRIANO

JULIANA PEREIRA

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social

Acima, LUCIANO MANDELLI. Abaixo, MAIRA RITTER

Acima, ALINE FUHRMEISTER. Abaixo, IVAN ANDRADE e SANDRA THOMÉ.

Acima, LÍDIA MACIEL E LEANDRO MACIEL. Abaixo, JORGE KARAM, BEZ BATTI, CÉZAR PRESTES e CRISTIANO BERTI

Abaixo, LISANDRA e LUANA MUNDSTOCK

Acima, LISIARA CAMARGO SIMON E ROBERTO PUJOL. A esquerda, LETÍCIA SÁ. | 117


FOTOS: NATTAN CARVALHO

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Acima, FERNANDA E DODY SIRENA .

Acima, BETTINA E LUIS FELIPE BECKER. Abaixo, NARA E MARINA SIROTSKY.

Acima, MARIANA ARAÚJO SANTOS e CICÃO CHIES. Abaixo, ALICE FERRAZ e CAMILA COELHO

Acima, DR FERNANDO LUCCHESE e JOSIANE CASTRO. Abaixo, LAURA GUIMARÃES e NILMAR

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Abaixo, SCHEILA e RICARDO VONTOBEL


a sua assessoria de imprensa no rio grande do sul e no brasil

www.agenciacigana.com

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Acima, PAULINHA MORAES

Acima, CYNTHIA REQUENA e RODAIKA

Acima, BRUNA GUERIN e LÚCIO MAURO FILHO. Abaixo, FERNANDA GUIMARAES e LUCIO MARTINS

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Acima, THAYLA COLLING e ADÃO BELLAGAMBA NETO

Acima, PATI LEIVAS e MILTINHO TALAVEIRA. Abaixo, PATRÍCIA PARENZA e PATRÍCIA PONTALTI


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cartola_normal VitテウrioGheno

FOTO: Nテ.IA RAUPP MEUCCI

artista plテ。stico

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