novembro/dezembro de 2030 | edição 01 | Universidade Federal de Ouro Preto | Ouro Preto - MG
UFOP amanhã UM JORNAL A SERVIÇO DO CAPITAL
UFOP fecha cursos por falta de alunos Com base em estudos feitos na região de Okinawa (Japão), o governo federal declarou que já está pensando em uma nova reforma da previdência.
Segundo as novas regras, que levam em conta a média de expecta iva de vida dos brasileiros residentes nas ilhas japonesas, a idade mínima para aposentadoria será de 90 anos. Nesse caso, o beneficiário terá direito a 50% do teto do INSS. A porcentagem aumenta anualmente até a ingir a integralidade do benefício na idade de 95 anos.
Essa é a realidade dos professores atuais, de acordo com o presidente do sindicato dos docentes, Marcelo Farias. Depois que os professores passaram a ser contratados temporariamente e sem vínculo empregatício, tornou-se comum uma mesma pessoa dar aula em até 5 cidades diferentes. “O problema disso é que eles não desenvolvem mais vínculos com a comunidade, não se interessam pelos problemas locais. Aliás, eles nem tem tempo pra isso mais”, desabafa Marcelo.
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assaram-se quinze anos desde que o governo permi iu às universidades federais a cobrança de mensalidades. A mudança veio logo após a recomendação do Banco Mundial, que à época divulgou um relatório mostrando que o ensino superior era um dos grandes vilões do orçamento no país. Ao longo desses anos, o número de alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) caiu significa ivamente. Diversos cursos foram ex intos, funcionários foram demi idos e a ins ituição deixou de figurar entre as melhores do país. Luís Mat ias, ex-reitor da universidade, explica que, com a cobrança das mensalidades, os alunos de outras cidades não iveram mais condições de se manter fora de casa: “Tinha menino que vinha do interior, de cidades vizinhas ou mais afastadas. Eles vinham na certeza de conseguir moradia
de baixo-custo, nas repúblicas, e muitas vezes conseguiam uma ajuda financeira para se manter no curso”. O ex-reitor explica que, no início, somente pagavam pelos cursos os alunos considerados de alta renda, porém isso foi mudando com o tempo, e o governo passou a des inar cada vez menos recursos à educação, o que levou as universidades a terem que cobrar de todos para sobreviver. José Carlos Silva, engenheiro aposentado, ex-aluno da UFOP, se comove ao contar que teve que escolher qual dos filhos poderia realizar o sonho de seguir os passos do pai. “Não dá pra entender esses critérios de preço. Pela minha faixa de renda, se eu mandasse meus dois filhos pra lá, não iria sobrar nem pra comer aqui. Então foi um primeiro, para depois o outro poder estudar”, declara.
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Restaurante Universitário servirá ração nutritiva O restaurante da UFOP incluirá no cardápio diário dos servidores e estudantes a chamada ração nutri iva, idealizada pelo ex-prefeito de São Paulo, João Dólar.
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ração é composta de alimentos próximos à data de validade e, segundo análises dos órgãos competentes, é considerada “potencialmente segura”. “Com o fim dos incen ivos à agricultura familiar, o restaurante passou a u ilizar
somente alimentos transgênico-defensivos ipo III, que precisam ser processados para diminuição dos níveis de toxicidade, e isso encarece demais o processo”, conta o técnico alimentar responsável, Sr. Ramiro Barros.
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o calendário de eventos de Ouro Preto, que já foi um dos mais ricos e diversificados da região, só restaram a comemoração da Semana Santa e um carnavalzinho sem graça. Este úl imo, com o fim das repúblicas federais e a diminuição do número de estudantes, se resume agora a uma festa fechada com shows sertanejos no campo do Aluminas, no bairro Saramenha. At é o c o n s a g r a d o Fes ival de Inverno deixou de ser realizado depois que a universidade ficou sem recursos humanos e finan-
ceiros. O setor de hotelaria vive dias difíceis. A criminal i d a d e e n t r e o s j ove n s aumentou 45%. A cidade, que antes era chamada de “museu aberto”, está mais para cemitério de portas abertas. Arlete Alvez, presidente da Associação de Moradores do Rosário, desabafa: “os jovens não tem mais uma diversão, um cinema, um lugar pra diver ir, pra aprender a tocar um instrumento. A gente tenta levar eles para o bom caminho, mas assim fica difícil”.
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Diminuição dos alunos prejudica comércio
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diminuição dos cursos e alunos teve re lexo na economia das cidades onde a UFOP estava presente. Em Ouro Preto, por exemplo, havia uma série de serviços que atendiam primariamente aos alunos e funcionários da universidade. Restaurantes, supermercados, lanchonetes, bares, salões, consultórios odontológicos, mercadinhos, lojas de roupa — a maior parte deles não resis iu e fechou as portas. A região do bairro Bauxita foi a que mais sofreu, conta Bernadete Luz, moradora do bairro: “Isso aqui parece cidade fantasma agora. Muita gente inves iu suas economias na construção de qui inetes, prédios e pontos comerciais. E hoje tá tudo aí, fechado.” A cidade histórica sofreu também com a demissão de grande parte dos servidores terceirizados. Os concursados também são poucos agora. Aqueles que conseguiram finalmente se aposentar e aqueles que pediram demissão voluntária não foram devidamente subs ituí-
dos. “Isso significou menos dinheiro circulando na cidade, menos consumidores e menos renda pra cidade como um todo”, comenta o secretário de indústria e comércio, Jadir Malla. “O funcionário da UFOP gastava aqui, comia nos restaurantes, comprava no comércio, ia ao médico, abastecia o carro. Era dinheiro que vinha de fora e ficava aqui”, complementa. Em Mariana e João Monlevade não foi diferente. As cidades passaram a sofrer ainda mais com a dependência da a ividade mineradora, após o fechamento dos campi nas duas cidades, que passaram a contar somente com polos de ensino a distância.
Hoje, aqueles que viveram os anos de ouro da UFOP olham para o passado com saudade e pesar. Lamentam por não terem lutado mais pela ins ituição. Há ainda aqueles que acreditavam que a “priva ização” da universidade seria posi iva. Mas não foi bem assim. Quem ganhou com a perda de qualidade da UFOP foram as grandes universidades par iculares da região, que agora detêm os melhores cursos e professores, mas cobram muito caro por isso. E a UFOP, que já foi carinhosamente chamada de mãe, deixou de acolher e atender aos filhos menos favorecidos da Região dos Inconfidentes.
Atendimento no posto de saúde será feito por alunos Alunos a par ir do 1º período do curso de Medicina serão responsáveis pelo atendimento no centro de saúde do campus universitário.
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trabalho era feito pelos professores do curso e pelos alunos mais experientes. Tudo começou a decair depois que os docentes assumiram uma carga horária muito alta na rede de saúde privada, a fim de compensar as “doações” recebidas para manuten-
ção do curso. Essas decisões cumprem o acordo estabelecido entre os ministérios da Saúde e da Educação. A mesma condição será aplicada aos demais cursos da área, como Nutrição, Farmácia, Ciências Biológicas e Educação Física.
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Deslizamento de terra deixa desabrigados Segundo o porta-voz da prefeitura, 14 famílias foram obrigadas a deixar suas residências na região do Bairro Santa Cruz, devido ao risco iminente de novos deslizamentos de terra.
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desocupação foi realizada uma semana após três pessoas ficaram soterradas na localidade. Ques ionado sobre a falta de fiscalização nos locais de risco, o secretário de obras Levi Leão respondeu que “depois q u e a u n i ve r s i d a d e
parou de ajudar na iden ificação das áreas de risco, ficou difícil prever os deslizamentos”. “Aqui na prefeitura não tem geólogo. E lá na universidade os professores não tem mais tempo pra essas coisas. Eles dão aulas em três, quatro faculdades ao mesmo tempo. É cada
um por si”, ressaltou o secretário. Segundo o porta-voz da prefeitura, 14 famílias foram obrigadas a deixar suas residências na região do Bairro Santa Cruz, devido ao risco iminente de novos deslizamentos de terra.
Servidor é homenageado na Câmara O ex-aluno da UFOP, Jailton Oliveira Sousa, procurou a assistência jurídica do município para tentar conseguir seu diploma de Engenheiro de Serviços Gerais e Esporádicos
O
“ S e u Tu t u ” , c o m o é conhecido o ser vidor Matusalém Soares da S i lva , f o i u m d o s p o u c o s a conseguir se aposentar depois das constantes mudanças nas regras da previdência. Em virtude da ocasião, a Câmara dos Vereadores aprovou uma moção de aplausos e
a construção de um busto, que será instalado na entrada do cemitério do campus. Seu Tutu, aos 90 anos, conta que agora pretende arrumar um trabalho temporário e juntar dinheiro para uma viagem de ônibus a Guarapari (ES).
MENSALIDADES A PARTIR DE R$ 5.000,00
O engenheiro recém formado não está em dia com o financiamento do curso, que ainda será pago por 35 anos, e por isso, segundo normas do Ministério da Educação, não pode receber seu diploma. “Como é que eu vou conseguir pagar a prestação se eu não consigo trabalho? O úl imo que consegui pagava R$4,50 por hora. Não dá pra nada. Sem diploma ainda, fica mais complicado”, disse Jailton. Procurados pela redação, os responsáveis pela emissão dos diplomas na universidade declararam que seguem a determinação do governo federal.
Esta é uma peça de cção produzida pelo Sindicato ASSUFOP, mas pode se tornar realidade se não reagirmos. LUTE PELA EDUCAÇÃO