Jornal Para Casa - Número 2 | Outubro de 2017

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Ano I - Nº 2 - Outubro de 2017

ABANDONO

Com infraestrutura comprometida, escolas estaduais estão interditadas à espera de reforma

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As escolas Dulce Wanderley e Augusto Severo são exemplos desse descaso

rédios antigos, mal cuidados, há anos sem reformas, sob sol e chuva. Essa é a realidade da maioria das escolas do RN. Existem dois casos bem especiais; as escolas estaduais Dulce Wanderley e Augusto Severo, localizadas na Redinha e Petrópolis, respectivamente, em Natal, estão interditadas desde agosto de 2016. O motivo é a precariedade em que se encontram os dois prédios. Os alunos, professores e funcionários da Dulce Wanderley ficaram quase um ano abrigados na Escola Estadual Café Filho, nas Rocas. Porém, a comunidade escolar da Dulce Wanderley enfrentou problemas, como a infraestrutura precária da Café Filho e a insegurança. Hoje, profissionais e alunos encontram-se alojados na escola Sebastião Fernandes, em Tirol, graças à pressão que o SINTE exerceu sobre a SEEC. A Dulce Wanderley foi interditada depois que parte do telhado do pátio desabou sobre cinco crianças que se feriram levemente. Construída nos anos 1980, a escola aguarda uma reforma desde 2010. No prédio, existem diversos problemas estruturais, hidráulicos e elétricos.

Augusto Severo também sofre com abandono Profissionais e alunos da escola Augusto Severo vêm enfrentando dificuldade semelhante. Em agosto do ano passado, a comunidade escolar foi transferida para um prédio na Avenida Junqueira Aires por determinação do Ministério Público. O motivo foi o comprometimento da infraestrutura do prédio. Professores denunciam que o prédio alugado para abrigar a comunidade escolar está em péssimas condições. A pintura, antiga, apresenta sinais de desgaste, as fechaduras das portas estão quebradas e as paredes sofrem com a umidade. Devido à chuva, o reboco do teto de uma das salas caiu. A promessa feita pela secretária de educação estadual Cláudia Santa Rosa é de que uma licitação seria feita para contratar o serviço de reforma. Contudo, até o fechamento desta edição, a promessa não havia sido cumprida. Em outubro de 2016, os alunos ocuparam o prédio da Augusto Severo. Entre outras coisas, exigiam a imediata reforma da escola.

Veja nesta edição: Síndrome de Burnout: a doença que se apresenta com esgotamento físico e mental afeta educadores/as

Falta de material nas escolas obriga educadores/as a tirarem dinheiro do próprio bolso para trabalhar

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Outubro de 2017 I Para Casa DOENÇA DO TRABALHO

Síndrome de Burnout: a doença que se apresenta com esgotamento físico e mental afeta educadores/as

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Profissionais da educação do RN são submetidos a uma carga de trabalho pesada e péssimas condições de trabalho

ansaço físico, mental, desgaste emocional, perda de motivação. Esses são alguns dos sintomas da Síndrome de Burnout, doença que afeta vários trabalhadores, inclusive os profissionais da educação. Especialistas apontam que a falta de condições de trabalho somada a uma carga horária excessiva pode levar qualquer profissional a contrair a doença. Os educadores do RN, a exemplo de outras partes do país, são cotidianamente submetidos a uma carga de trabalho pesada, péssimas condições de trabalho, violência dentro ou fora da escola, indisciplina de alguns alunos, entre outros problemas. Também são muitas vezes pressionados pelas direções das escolas e/ou as secretarias de educação, que exigem o cumprimento de dias letivos e resultados sem oferecer mínimas condições. A professora de Arte, Educação Cultural e Artística, Karina Oliveira, é exem-

plo disso. Ela confessa que até pouco tempo não conhecia a síndrome, mas, ao ouvir falar, foi pesquisar e se identificou: “Parece muito com o que estou sentindo ultimamente. Só tenho 25 anos e sempre fui muito disposta”. Ela conta que é muito cobrada no trabalho e se sente sempre cansada, apesar disso, com insônia. Sofre de estresse excessivo, sensação de fracasso e de impotência profissional. Pensou até em procurar um psicólogo, mas não dispõe de tempo para cuidar da própria saúde. Rotina da professora Karina é intensa E sua rotina não é fácil. Karina é professora da rede estadual. Só tem um vínculo, mas mora em Natal e leciona na cidade de João Câmara: “Passo três dias fora de casa”. Karina acorda às 3h30 nas segundas-feiras, pega o primeiro ônibus que passa nas proximidades da sua casa até o shopping Via Direta, Zona

Sul de Natal. Às 5h20 pega o segundo ônibus. Em seguida, pega outro ônibus para João Câmara: “Chego às 7h40 e entro na sala às 7h50. É escola de tempo integral, então passo o dia inteiro. Nas terças, meu planejamento é feito pela manhã. Apenas alguns horários. Em seguida, volto para sala de aula”. Nas quartas, a professora leciona das 7h às 16h: “Chego em casa por volta das 20h da noite. Fico em uma espécie de alojamento”, conta. Karina também é artista. Por isso nas quintas e sextas-feiras dá aula em uma ONG para complementar a renda, uma vez que os traba-

lhadores em educação ainda enfrentam baixos salários. Os sábados e domingos são reservados para planejar as aulas da semana. Com uma rotina tão desgastante é fácil compreender o porquê de a professora Karina estar sofrendo da Síndrome de Burnout. Primeiro diagnóstico da síndrome foi feito nos anos 1970, nos EUA A Síndrome de Burnout foi diagnosticada pela primeira vez em 1974 pelo médico americano Freudenberger. Ele diagnosticou em si mesmo a síndrome, que também é denominada como doença do esgotamento profissional.

EXPEDIENTE Av. Rio Branco, 790 - Centro - Natal/RN - Fones:(84)3211-4434 / 3211-4432 E-mail: sinte_rn@hotmail.com I www.sintern.org.br Coordenação Geral: Maria de Fátima Oliveira Cardoso, José Rômulo Arnaud Amâncio, José Teixeira da Silva Diretoria de Organização: Francisco de Assis Silva, Eliane Bandeira e Silva Diretoria de Administração e Finanças: Maria Luzinete Leite de Oliveira Pinto, Cristiane Medeiro Dantas Diretoria de A. Jur. e Defesa do Trab. em Educação: Telma Lúcia de Oliveira Alves, Vera Lúcia Alves Messias Diretoria de Comunicação: Miguel Salustiano de Lima, Francisco Leopoldo Nunes Diretoria de Relações Sindicais e In-

terior: Ionaldo Tomaz da Silva, Francisco Alves Fernandes Filho Diretoria de Formação Sindical e Educacional: Marcos Paulo Medeiros da Cunha, Enoque Gonçalves Vieira Diretoria de Cultura e Lazer: José Lavousier Nogueira, Joildo Lobato Bezerra Diretoria de Organização da Capital: Simonete Carvalho de Almeida, Sergio Ricardo de Carvalho Oliveira Diretoria de Relação de Gênero: Maria Inês Almeida Morais, Inalvete Medeiros Lucena Diretoria dos Aposentados: Marlene Sousa de Moura, Simão Pedro da Silva

Diretoria de Org. dos Funcionários de Educação: Ana Lucélia Chaves, Izauro Ribeiro Dantas Neto Diretoria de Adm. da Casa do Trabalhador em Educação: Marilanes França de Souza

Av. Cel. Estevam, 1139 - Cond. CECOM - Sala 09 - Alecrim - Natal/RN Fone/fax: (84) 3212-2388 E-mail: elequatro@uol.com.br

Diretoria de Organização da Educação Infantil: Gidália Ferreira de Andrade. Jônatas de Souza Lima

Produção: L4 Comunicação

Suplente do Conselho Diretor: Inalda Teixeira de Lira, Maria de Fátima Costa, Erlon Valério Silva de Araújo, Josivaldo do Nascimento, Maria Vicência Arimatéia dos Santos, Rafhael de Lima Barbosa, Jucyana Myrna Teixeira da Silva

Denor Ramos DRT/RN 1980

Jornalista responsável: Leilton Lima DRT/RN 579 Fotos: Lenilton Lima Diagramação: Marknilson Barbosa Revisão: Silvaneide Dantas


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Outubro de 2017 I Para Casa DENÚNCIA

Falta de material nas escolas obriga educadores/as a tirarem dinheiro do próprio bolso para trabalhar

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A situação é comum em várias escolas do RN; falta desde papel até máquina de xerox

magine a seguinte situação: sofrer com baixos salários, enfrentar uma carga horária exaustiva, levar trabalho para casa e ter que algumas vezes tirar dinheiro do próprio bolso para poder trabalhar. Duro e injusto, não é? E é isso que muitas vezes acontece com os educadores do Rio Grande do Norte. É comum ouvirmos histórias que dão conta desse ou daquele profissional que se vê obrigado a comprar um material que faltou na escola. O Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica João Faustino, em Pitimbu, Natal, é um exemplo dessa situação. A escola, que tem cerca de 120 alunos e faz parte das 18 escolas no RN que oferecem o modelo de educação de tempo integral, foi inaugurada em março deste ano. Porém, só está funcionando porque professores, a direção e a comunidade escolar se mobilizaram e doaram diversos materiais. A professora de História Helen Costa conta que os materiais da sala

“Até as latas de lixo só existem porque nós, professores, compramos.” de professores e cozinha foram todos doados, assim como os de limpeza e os livros que existem na escola: “Até as latas de lixo só existem porque nós, professores, compramos. Até o píncel atômico que a gente usa é comprado com o nosso dinheiro”. O centro de educação não tem ar-condicionado, nem ventiladores. Internet também não. A biblioteca não funciona e os laboratórios não dispõem de qualquer material. As carteiras que existem demoraram a chegar e são antigas e quebradas, oriundas de outras escolas desativadas. “A gente passa o dia na escola, dois turnos, em uma situação precária”, afirma Helen. Confira o depoimento da professora Helen acessando o link:

http://bit.ly/2xDSkeP A nossa reportagem, quando foi produzir esta matéria, flagrou que não havia merenda. Por isso os alunos foram liberados ao meio-dia. Apesar de inaugurado em 2017 e deter boa estrutura física, o Centro de Educação tem problemas em sua estrutura. O teto da quadra possui algumas infiltrações, e algumas portas das salas já começam a so-

frer os efeitos da corrosão. Além disso, de acordo com os professores, é perceptível que alguns materiais utilizados na construção não são de qualidade. O Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica João Faustino é um triste exemplo dos absurdos que os professores do Rio Grande do Norte enfrentam cotidianamente para seguir a missão de educar.


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Outubro de 2017 I Para Casa

COMPROMISSO

Reposição de aulas pós-greve é um compromisso dos educadores para com alunos e pais

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ma greve é o último recurso de que um trabalhador de qualquer área deve fazer uso para reivindicar seus direitos. Historicamente tal

da educação sabem que, em um movimento grevista, os alunos e alunas serão, de certa, forma penalizados com o atraso de um ano letivo. Porém os trabalhadores têm

plena consciência de que não podem deixar de lutar por seus direitos, e muitas vezes apenas dessa forma é que conseguem pressionar os governos. E, após o término de uma greve, é praxe os profissionais da educação potiguar reporem as aulas não dadas durante a paralisação. Antes de mais nada, fazem isso porque têm um compromisso firmado com os alunos e alunas, que merecem todo o respeito e atenção. Enquanto isso, o Governo não dá a mínima para repor as aulas perdidas pelos alunos por falta de professores, reformas no meio do ano letivo, problemas de infraestrutura e etc. Compromisso, por enquanto, só da parte dos profissionais da educação.

arte do telhado da quadra da Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, em Candelária, Zona Sul de Natal, desabou no dia 14 de setembro. A quadra estava vazia no momento do desabamento, uma vez que acontecia a para-

da da educação estadual e municipal de Natal. Ninguém ficou ferido. Resta saber quando o governo vai fazer os devidos reparos no telhado para corrigir o estrago e impedir que esse tipo de perigo continue ameaçando quem trabalha ou estuda na escola.

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Violência

ais uma escola do RN foi alvo de criminosos. A Escola Estadual Jerônimo Vingt Rosado Maia, no Conjunto Vingt Rosado, em

Mossoró, foi arrombada por dois dias seguidos. Bandidos arrobaram o prédio nos dias 16 e 17 de setembro. Além de merenda, diversos objetos foram levados pelos criminosos.

Imagen cedida

Descaso

Imagen cedida

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instrumento é utilizado pelos educadores do Rio Grande do Norte tão somente quando se esgotam todas as possibilidades de negociação com o/a gestor/a. Os profissionais


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