Jornal do Sinttel-Rio nº 1504

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FOTOS CAMILA PALMARES

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pesar dos grandes e inegáveis avanços conquistados pelas mulheres (estamos na presidência da república em grandes nações, como Brasil, Chile e Alemanha) queremos dizer neste 8 de março, Dia Internacional das Mulher, que nossa luta só terminará com o fim da desigualdade de gênero. Quando não houver no mercado de trabalho mulheres ganhando menos que homens, embora executem as mesmas funções e tenham a mesma capacidade. Quando não mais houver mulheres sendo violentadas dentro de seus lares ou estupradas e desrespeitadas, em ônibus, trens, nos ambientes de trabalho ou nas ruas. Não podemos esquecer que tudo que conquistamos foi graças à coragem e determinação daquelas que nos antecederam, seja na luta sindical, na política, nas artes plásticas, na literatura, na música, na poesia ou no trabalho em qualquer atividade. Mulheres que como a bióloga Bertha Lutz, ícone do feminismo no Brasil, enfrentaram muito mais preconceito, muito mais adversidade do que nós e não se deixaram abater. A garra dessas mulheres que nos permite estar aqui, hoje, dando continuidade a essa luta, ocupando cada vez mais nosso lugar em todos os espaços sociais. E não foi só Bertha. O nosso Sindicato, o Sinttel-Rio, foi fundado há

SOMOS 74 anos por uma mulher, uma telefonista, Ângela Costa Leite. As mulheres trabalhadoras de telecomunicações são donas de seus destinos, estão nos postos de trabalho, nas escolas e nas universidades lutando para abrir novos caminhos e conquistar a liberdade pela autonomia profissional. Estão na porta das empresas fazendo greve, lutando por salário, condições dignas de trabalho e igualdade. E elas estão certas. “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta” foi o que nos ensinou há 49 anos, a filósofa, escritora e feminista francesa, Simone de Beauvoir, no segundo volume do seu livro “Segundo Sexo”, um verdadeiro tratado sobre a condição da mulher.

A maioria das jovens hoje no setor de telecomunicações, bem como nos demais setores da atividade econômica cresceu vendo a mãe e pai saírem para trabalhar (ao contrário de suas avós) e ambos contribuindo para a manutenção da casa. Mas, elas também sabem que suas mães, em geral ganhavam menos do que seus maridos. Essa condição inferior da mulher no mercado de trabalho, embora ainda persista, já melhorou muito, e mudou porque as mulheres hoje não aceitam mais serem tratadas com discriminação, da mesma forma que não aceitam serem delas a exclusividade no cuidado com os filhos ou com as tarefas domésticas. E é, justamente, pela inserção no mercado de trabalho, como previu Simone de Beauvoir, que as mulheres vêm mudando uma história de opressão, violência e discriminação.

MULHERES! E hoje, dia 8 de março, temos o que falar, exigimos igualdade de gênero.

É por tudo isso que hoje temos o que falar e falamos de lutas, amores, sonhos, sexo, liberdade, paixões, encontros, desencontros, afetos, desafetos, família, filhos, esperança e vida. Em entrevista à TVT, no início da semana, Maria Amélia Teles, Amelinha, ex-presa política e autora de vários livros sobre o feminismo no Brasil, militante feminista há 40 anos, comemorou o crescimento do feminismo no Brasil. Ela atribuiu isso as jovens e adolescentes. “O feminismo cresceu muito, principalmente, através das adolescentes. As meninas estão buscando a afirmação do feminismo, a partir de suas próprias vivências, o que é importante. Elas estão dando voz às mulheres da periferia, às mulheres negras, feministas, lésbicas, então, o movimento cresceu numericamente e também na qualidade” observou Amelinha. Veja nas imagens a luta das mulheres trabalhadoras de telecomunicações e das mulheres em geral.


A luta das mulheres ontem e hoje

FOTOS CAMILA PALMARES

De acordo com depoimentos das nossas trabalhadoras em diversas épocas, podemos ter um panorama da luta das mulheres em vários momentos ao longo dos anos. Para as mulheres jovens que hoje têm o direito à creche garantido na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a se afastar do trabalho para cuidar do filho doente, talvez seja difícil imaginar que no passado as mulheres escondiam a gravidez para não perder o emprego.

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as, é importante lembrar que esses direitos e conquistas não caíram do céu ou foram dados de bandeja. Eles são fruto de muita luta de mulheres determinadas que mesmo em minoria nos sindicatos, defenderam a pauta das mulheres. Essa pauta é nossa hoje e continua tão em dia quanto antes. E continuará até que todas as necessidades da mulher trabalhadora, da mulher cidadã e da mulher mãe sejam satisfeitas. A seguir, veja o que dizem as mulheres ontem e hoje sobre isso. SEGURA QUE O FILHO É TEU

Nélia Câmara, telefonista, aposentada da CTB e Telerj, ex-diretora do Sinttel, em depoimento para o Sinttel disse que na sua época era muito difícil para as mulheres com filhos se manterem no mercado de

trabalho. Na CTB eles diziam: “Tem filho, arrume quem tome conta”. Ela recorda as telefonistas que “pediam um berçário e as empresas não aceitavam” e completa: “era ter filhos e começar a ter suspensão, advertência. Muitas tiveram que pedir demissão para tomar conta dos filhos”. Mas elas não se acomodaram e conseguiram a creche. Hoje, as mulheres do setor de telecomunicações nas diversas empresas, operadores ou terceirizadas, call center ou rede, lutam para que o auxílio-creche seja suficiente para manter os seus filhos em creches de qualidade e pela ampliação e melhoria desses direitos. A LUTA SINDICAL

Apesar do Sinttel-Rio ter sido fundado

por uma mulher, a telefonista Ângela da Costa Leite, a participação das mulheres no Sindicato só começou no final dos anos 80, com as grandes greves daquele período. Mas, dos anos 90 em diante, a mulher vem ocupando cada vez mais espaço, tanto na direção da entidade como nas diretorias de base e na militância nos locais de trabalho, de acordo com Marilene Esteves, aposentada da Telerj, ex-diretora do Sinttel. AS GREVES NO CALL CENTER

O setor de teleatendimento é um dos que mais cresce no país, com mais de um milhão de trabalhadores, a maior parte no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esse setor é constituído majoritariamente de mulheres, estudantes, na faixa etária de 19 A 30 anos. É também nas empresas de call center onde há maior precarização, assédio moral, etc. Essas mulheres aderiam as duas greves realizadas no setor no Rio de Janeiro, em dezembro de 2014 e em 17 de fevereiro deste ano. Durante a paralisação, as mulheres se posicionaram, veja algumas de suas falas

em frente às empresas. Não as identificamos para preservá-las de represálias. “Não precisa ficar com medo, não precisa se assustar, ignora se o seu supervisor estiver pressionando, porque vocês têm todo o direito de estar aqui. Porque é o salário de vocês que é uma m...; é o tíquete de vocês que não compra nada, então, não sobe, fica até o fim. Sabe por quê? Porque essa luta é de todo mundo. Não é deles, é nossa.” Trabalhadora da Contax Mauá “Vamos mostrar para o patrão que a gente não tem medo. Que a gente quer aumento de salário (...) Não adianta a gente pedir para o Sindicato que a gente quer melhorias se a gente não fizer nada. A gente precisa reagir!” Trabalhadora da Atento Madureira “Cadê o pessoal do quartil, que reclama do salário? Cadê o pessoal? A gente tá brigando pelo que é nosso, pelos nossos direitos (...)” Trabalhadora da Contax Niterói

Lei Maria da Penha reduz violência contra a mulher Criada em 2006, a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) protege a mulher de espancamento e assassinato e é um grande avanço no campo dos direitos e da proteção da mulher. A lei castiga com rigor os homens que atacam as companheiras ou ex-companheiras e possibilita que agressores sejam presos em flagrante, ou tenham sua prisão

preventiva decretada, quando ameaçarem a integridade física da mulher. Segundo dados do IBGE, a cada ano, mais de um milhão de mulheres são vítimas de violência doméstica no País,). Com a lei, houve uma diminuição de cerca de 10% na taxa de homicídios contra mulheres praticados dentro das residências das ví-

DIRETOR DE IMPRENSA Marcello Miranda marcello13@uol.com.br EDIÇÃO Socorro Andrade Reg. 460 DRT/PB socorroandradde@gmail.com REDAÇÃO Socorro Andrade e Simone Kabarite Reg. 0035866/RJ

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bersot

humor

timas, segundo dados de 2015 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foram muitos anos de luta dos movimentos feministas para chegarmos a essa conquista. Porém, há tentativas de setores reacionários de restringir e alterar direitos das mulheres, como o projeto de lei (PL) 5069/13, que modifica a lei de atendimento

às vítimas de violência sexual. O Projeto de Lei foi aprovado na Comissão de Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e é um risco às conquistas femininas. Em reação, movimentos sociais e feministas foram às ruas em defesa dos direitos, da liberdade e autonomia das mulheres sobre suas decisões.

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