Seminário Turismo Brasil - Caderno especial O Globo

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Sexta -feira 30.5.2014

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO

ESPECIAL SEMINÁRIO TURISMO BRASIL

Designluiz/Ministério do Turismo

Dos 600 mil visitantes estrangeiros esperados para a Copa do Mundo, 400 mil deverão passar pelo Rio de Janeiro. Expectativa é de que o Mundial injete R$ 1 bilhão na economia do município

Na vitrine do mundo A BOLA ESTÁ EM CAMPO PARA QUE O PAÍS GANHE COMPETITIVIDADE E ALCANCE NOVO PATAMAR COMO DESTINO TURÍSTICO Às vésperas da abertura da Copa do Mundo, o brasileiro parece decidido a trocar o choro das imperfeições na organização para se entregar à festa da paixão pelo futebol. Afinal, os maiores craques do planeta estão quase prontos para entrar em campo, os hotéis vão ter acomodações suficientes para todos, o gargalo nos aeroportos e nas telecomunicações já não assusta tanto, o governo modernizou e reforçou a segurança com centros de operações nas cidades-sede e 20 mil homens das forças armadas, os novos estádios se tornaram um espetáculo à parte e os convida-

dos especiais, os torcedores estrangeiros, confirmaram presença. De quebra, o brasileiro tem de sobra um trunfo que os europeus perseguem obsessivamente quando sediam grandes eventos esportivos para aquecer o turismo: a receptividade. ”Ainda há bilhetes disponíveis, mas acreditamos que serão esgotados os 3,1 milhões que foram colocados à venda”, disse o ministro do Turismo, Vinicius Lages, que participou da abertura do seminário “Turismo Brasil – Balanço Pré-Copa do Mundo, os Grandes Eventos e as Perspectivas para o País”, organizado pela Confederação

Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em parceria com O Globo, que reuniu autoridades e especialistas no Rio de Janeiro, na última segunda-feira. A previsão inicial de que o Mundial atrairia mais de 600 mil turistas estrangeiros, movimentaria outros três milhões de brasileiros e injetaria R$ 142 bilhões extras na economia, sem falar nas 73 mil horas em que o país estará em exposição para três bilhões de pessoas, durante um mês inteiro, pode ser como um gol de placa, capaz de alçar o Brasil a um novo patamar na rota turística internacional.

NÚMEROS DO SETOR DE TURISMO NO BRASIL EM 2013 O faturamento do setor de turismo cresceu 8,8%, em 2013, e deve crescer outros 6,6% em 2014. Os dados fazem parte da Pesquisa Anual Conjuntura Econômica do Turismo realizada pela

Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o Ministério do Turismo, divulgada este mês. A pesquisa ouviu 80 líderes das maiores empresas de turismo de nove segmentos de todos os estados brasileiros.

FATURAMENTO

CRESCIMENTO

POSTOS DE TRABALHO

INVESTIMENTOS 2014

CRESCIMENTO EM 2014

R$ 62,7 bi

+ 8%

116 mil

10%

+ 6,6%

do faturamento, em média

COPA DO MUNDO DE 2014 BALANÇO PRÉ COPA-PRINCIPAIS EMISSORES EUA

81.340

22%

Argentina

30.000

8%

Chile

20.000

5%

PREVISÃO DE VISITANTES ESTRANGEIROS PARA A COPA 2014

600 mil

DISTRIBUIÇÃO POR CIDADE-SEDE Rio

S. Paulo

Salvador

34,7% 33,1% 5,3% B.Horizonte

4,1%

Natal

3,2%

Fortaleza

4,7%

Manaus

2,2%

Brasília

4,5%

P. Alegre

2,1%

Recife

4,3%

Curitiba

1,2%

Cuiabá

0,8%

Fonte: Forward Keys e Pires e Associados (Posição a 20 dias da Copa)

Jesper Elgaard /iStock


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Entrevista I Vinicius Lages I Ministro do Turismo Eduardo Uzal

O turismo na pauta econômica do país Há pouco mais de dois meses no cargo, o ministro do Turismo, Vinicius Lages, faz um balanço positivo da atuação do ministério nos últimos 10 anos e anuncia a elaboração de novas políticas públicas para o setor, por meio do PrograEm 2013 o país bateu o recorde de turistas, atraindo 6 milhões de visitantes. Quanto se espera em 2014? Vamos manter a marca de 6 milhões pois, mesmo com a Copa, não deve haver grandes alterações. Até o momento, 365 mil turistas de 186 países compraram ingressos e, considerando-se os acompanhantes, devemos atrair 600 mil visitantes. Os perfis são distintos. O maior contingente é de norte-americanos, que compraram ingressos para todos os jogos. No Brasil, 1,2 milhão de torcedores compraram ingressos. Ainda há bilhetes disponíveis, mas acreditamos que serão esgotados os 3,1 milhões que foram colocados à venda, dos quais 100 mil o governo reservou para os trabalhadores que construíram os estádios e para beneficiários dos programas sociais.

O Brasil é longe demais dos grandes centros emissores e precisamos melhorar a conectividade aérea e internacionalizar para valer a economia do turismo para nos tornarmos mais competitivos

Mesmo sendo um recorde para o Brasil, 6 milhões de visitantes é um número pequeno, se comparado aos de destinos como a França, que recebe 80 milhões de turistas, sendo 18 milhões só em Paris. O que precisamos fazer para atingir os números dos grandes receptores? Há questões estruturais de competitividade do destino Brasil. No início do mês, a presidente Dilma sancionou a regulamentação que permite o visto eletrônico, o que pode ser um início para facilitar, ou mesmo dispensar a concessão de visto. Mas o Brasil é longe demais dos grandes centros emissores e precisamos melhorar a conectividade aérea e internacionalizar para valer a economia do turismo para nos tornarmos mais competitivos. Isso vale, inclusive, para os asiáticos que são os emissores que mais crescem no mundo e são o objeto de desejo da Europa, que vem promovendo uma estratégia agressiva para atraí-los, instalando até máquinas de meios de pagamento chinesas.

Os dez anos do primeiro ciclo de desenvolvimento do turismo - que vai de 2003, com a criação do MTur, até 2013 - tiveram resultados fantásticos em termos de política setorial. Saímos de 4 milhões para 6 milhões de visitantes, as receitas cambiais saltaram de R$ 2,4 bilhões para R$ 7 bilhões. Passamos de 139 milhões para 215 milhões de viagens internas, sendo 113 milhões só de acessos aéreos, com um crescimento de mais de 50 milhões de passageiros entre 2005 e 2013. Os empregos gerados passaram de 1,7 milhão, em 2003, para 3 milhões no ano passado. O financiamento ao setor evoluiu de R$ 1 bilhão, há dez anos, para R$ 13,5 bilhões em 2013. Nesse primeiro ciclo, promovemos segmentação e uma série de normatizações de atividades, como o turismo de aventura. O conjunto de investimentos em infraestrutura do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para a Copa dotaram as cidades de melhorias em mobilidade e equipamentos que impactam diretamente o turismo. Com a construção desses equipamentos, incluindo centros de convenções e estádios, as cidades estarão preparadas para a atração de novos eventos. Vale destacar que passamos da 19ª para a 7ª posição (2012) em atratividade de eventos. Estamos com uma programação de, praticamente, um evento por dia.

Especialistas apontam que todas as cidades que sediaram grandes eventos experimentaram um boom de turismo e depois sofreram uma ressaca. Mas, a partir de ações e políticas públicas, o turismo voltou a crescer. O que faremos após a Copa e as Olimpíadas?

Mas o que o Brasil está fazendo para ingressar na rota do turismo internacional a partir dos grandes eventos? Quais são as próximas políticas públicas? Estamos ouvindo as demandas das entidades do setor. Agora vamos estruturar a política para os próximos dez anos,

ma de Aceleração do Turismo, no qual a exploração do patrimônio natural brasileiro ganha novos estímulos, com a profissionalização dos parques naturais e incentivo à parceria com a iniciativa privada. para colocar o turismo na pauta econômica do país, por meio de um Programa de Aceleração do Turismo. Em primeiro lugar, temos de focar no patrimônio natural brasileiro. Trata-se de nosso principal atrativo, que deve ser tratado como um produto turístico. Em 2003, registramos 1 milhão de pessoas visitando os parques naturais, número que saltou para 6 milhões em 2013. Vamos focar em parques estratégicos como o Parque Nacional da Tijuca, Fernando de Noronha e a Chapada dos Veadeiros, que é pouco visitada, mas tem um enorme potencial. Queremos profissionalizar os parques e licitar a exploração dos rios, promovendo concessões para que operadores explorem o turismo de aventura. Estamos trabalhando com o ministério do meio ambiente e o Sebrae para que 16 parques nacionais sejam abertos à instalação de equipamentos, de modo a atrair mais gente. O segundo segmento é o dos parques temáticos, que vêm dinamizando o turismo na America do Norte, Europa e Ásia. Vamos abraçar as reivindicações do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat), que luta para que se reduzam as restrições para importação de equipamentos. Queremos, inclusive, que os mecanismos de apoio à inovação do país possam beneficiar também o setor de turismo. As empresas poderão importar equipamentos e componentes, agregando valor, como o Parque Snowland, de Gramado, que desenvolveu um equipamento para fazer neve. O terceiro setor é o de cidades históricas. Queremos identificar com o IPHAN as restrições do patrimônio que dificultam a adoção de ações para tor-

O MTur se transformou no ministério da infraestrutura turística. Investimos R$ 8 bilhões em infraestrutura em mais de quatro mil municípios

ná-lo vivo. O que fazemos, hoje, não corresponde a 10% do potencial de exploração deste patrimônio cultural. Vamos conectá-lo à nova economia do conhecimento. O quarto setor é o das orlas. Hoje há uma grande dificuldade para a implantação de resorts pelo temor de que essas atividades possam destruir o patrimônio natural. Enquanto o mundo está criando patrimônio natural por meios artificiais, nós temos um sem número de restrições para explorar o que já temos. Por fim, vamos criar uma política de desenvolvimento do setor de eventos e negócios. O Brasil vai sair da Copa com um conjunto de eventos importantes. É necessário ter oferta turística. Já temos cidades com bons hotéis, bares, restaurantes, mas ainda é insuficiente. E em relação aos investimentos? Vale destacar que o MTur se transformou no ministério da infraestrutura turística. Investimos R$ 8 bilhões em infraestrutura em mais de 4 mil municípios. Agora precisamos ampliar a conectividade aérea para nos tornarmos um hub regional, com voos Cuiabá-Santa Cruz de La Sierra, Amazonas-Bolívia. É o que fazem hoje países emergentes como Dubai, Abu-Dabi e Doha, por exemplo. Temos de ampliar a integração regional porque os países da América Latina são nossos principais emissores. Recebemos 1,5 milhão de argentinos e 250 mil chilenos por ano. Como fica o papel da Embratur ? A Embratur cumpriu seu papel, mas hoje vivemos em um mundo competitivo que exige preço, estratégia logística, conectividade aérea e promoção inovadora. O modelo de promoção em feiras tem de ser repensado. Não adianta um estandezinho numa feira. O perfil do turismo mudou e temos de ir aonde os grandes operadores globais de cruzeiros fazem negócios. A missão da Embratur é promover o Brasil lá fora, mas a empresa tem 400 funcionários no Brasil e 13 no exterior. Há algo errado. Nossa proposta é de um modelo integrado com a Apex e o Itamaraty, que também promovem o país.

Produção: Link Comunicação Integrada / Coordenação e Edição: Cláudia Bensimon / Editor Assistente: Henrique Brandão / Desenho: João Carlos Guedes / Reportagem: Carmen Nery, Márcia Gomes, Paulo Vasconcellos / Imagens: Eduardo Uzal Todas as informações contidas neste suplemento são de responsabilidade da Link Comunicação Integrada


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A bola está em campo A exemplo do agronegócio, O SETOR de turismo SERÁ A NOVA FRONTEIRA DO CRESCIMENTO DO PAÍS Jamais o Brasil esteve tão exposto na vitrine do mundo. Na primeira vez que o país sediou um mundial de futebol, em 1950, a televisão ainda não havia chegado ao país e o evento não era televisionado na Europa e nos Estados Unidos, onde já existiam mais de 5 milhões de aparelhos. Para se exibir aos olhos do planeta e estabelecer um novo marco na atração turística, o Brasil gastou R$ 25,8 bilhões, sendo R$ 8,1 bilhões em mobilidade urbana, R$ 8 bilhões nos estádios, R$ 6,3 bilhões em aeroportos, R$ 1,9 bilhão em segurança, R$ 600 milhões em portos, R$ 400 milhões em telecomunicações e mais R$ 400 milhões com outras despesas. Nem todo o legado será entregue a tempo, mas os investimentos ganham relevância não só para a Copa do Mundo, mas para atender ao crescimento do turismo como um todo. “O turismo será a nova fronteira do crescimento do país. Com instrumentos adequados, principalmente de regulação, poderá seguir a mesma trajetória do agronegócio. A Copa não é um ponto

de inflexão, mas parte de um caminho para que o Brasil ganhe competitividade e se torne a terceira economia turística do mundo”, disse, no seminário promovido pela CNC, o ministro do Turismo, Vinícius Lages. “A atividade turística pode representar uma válvula de escape para economias de regiões deprimidas”, afirmou o presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, senador Antônio Carlos Valadares (PSB/SE), ao lembrar que apenas os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo respondem por 45% do afluxo de turistas internacionais. O secretário-geral da CNC, Eraldo Alves da Cruz, destacou, por sua vez, a importância das discussões empresariais para o desenvolvimento do setor. “Acreditamos nessa mola propulsora de empregos que é o empresariado do comércio de bens, serviços e turismo”, afirmou. Ele também lembrou a importância do Conselho de Turismo e da Câmara Empresarial de Turismo, órgãos consultivos da Confederação. “Foi no

Conselho de Turismo da CNC que nasceram as principais entidades do Turismo nacional”, assinalou. As metas de crescimento do turismo no Brasil, de acordo com especialistas que participaram do seminário, ainda enfrentam gargalos. “Nunca me preocupei com o setor aéreo para os grandes eventos. O problema está na demanda interna. De 2004 a 2012, o mercado cresceu quatro vezes mais do que o PIB. Só 125 dos mais de cinco mil municípios brasileiros têm serviços regulares de transporte aéreo. É preciso aumentar a capilaridade dos aeroportos, mas isso depende tanto de investimento em infraestrutura como em segurança. Não dá para ter um aeroporto sem bombeiro na pista”, ressaltou o engenheiro aeronáutico Jorge Eduardo Leal, professor doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), alertando que só 11% dos municípios brasileiros têm Corpo de Bombeiros. Para a indústria de hotéis, o desafio passa pelo desempenho da economia,

para sustentar os níveis de ocupação: 122 hotéis foram inaugurados desde 2012, ou serão concluídos, até 2016, informa Diogo Canteras, sócio-diretor da HotelInvest. Os participantes do seminário apontaram a flexibilização das leis trabalhistas e a desoneração tributária como medidas essenciais ao crescimento do setor. “A desoneração tributária é um fator de desenvolvimento extraordinário. Aqui reduzimos o ICMS para 2% e a arrecadação dobrou”, afirmou o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que detalhou, ainda, as ações do governo estadual para a Copa e as Olimpíadas. “Estamos preparados. Foram feitas muitas melhorias para desenvolver o turismo, como a criação de estradas-parque e renovação de museus, como o Museu da Imagem e do Som (MIS)”, disse. Dos 600 mil estrangeiros esperados para a Copa, 400 mil devem passar pelo Rio. “O evento deverá injetar R$ 1 bilhão no município”, destacou o secretário Municipal de Turismo do Rio, Antônio Pedro Figueira de Mello, ao encerrar o encontro. Fotos de Eduardo Uzal

O ministro do Turismo, Vinicius Lages e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão

O encontro reuniu empresários, representantes do poder público e de entidades representativas do setor

Alexandre Sampaio, diretor da CNC: maior legado do Mundial é que visitantes saiam querendo retornar

Mais de 370 mil reservas em voos

cidades-sede para acompanhar as partidas e 600 mil turistas estrangeiros viriam ao país. “Temos ainda muito a fazer durante o evento. A expectativa dos estrangeiros sobre o Brasil é baixa, mas podemos surpreender com a paixão do brasileiro pelo futebol. Não precisamos de marketing para mostrar que somos um povo efusivo”, disse Jeanine Pires, da Pires & Associados, uma das palestrantes do seminário promovido pela CNC. Alexandre Sampaio, presidente do Conselho de Turismo da CNC e da Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes, definiu a expectativa do setor com

O risco de os turistas desfalcarem a Copa do Mundo do Brasil é cada vez menor. Uma pesquisa da Forward Keys e da Pires & Associados revela que, a vinte dias do mundial, já tinham sido feitas mais de 370 mil reservas de voos para o Brasil no período de 6 de junho a 13 de julho deste ano. O estudo não inclui os voos charters, nem contabiliza quem chegará por via marítima ou

O Reino Unido não para de comemorar os Jogos Olímpicos de Londres de 2012. O evento esportivo serviu para pôr a Grâ-Bretanha no pódio do turismo mundial. Trinta e três milhões de turistas visitaram a Inglaterra, Escócia e o País de Gales ano passado – quase 10% a mais do que os 30.798 milhões que estiveram por lá em 2011 e dos 31.084 milhões que apareceram no ano da competição. Os visitantes deixaram 21 bilhões de libras esterlinas para a economia britânica. A expectativa é que o fluxo continue crescendo e chegue a 40 milhões de turistas por ano, em 2020. Por trás de todos os esforços para garantir o sucesso dos Jogos Olímpicos prevaleceu uma estratégia política de turismo: mudar a imagem excessivamente reservada dos britânicos. Foram sete anos de planejamento e marketing para que os ingleses aprendessem a se tornar mais receptivos.

rodoviária, como os argentinos, que estão entre os maiores grupos de visitantes estrangeiros. Os primeiros são os americanos. Mais de 80 mil moradores dos Estados Unidos fizeram reserva de avião para a Copa do Mundo. A expectativa é que cada turista estrangeiro fique de 9 a 21 dias no país. A pesquisa também revela que os brasileiros resolveram ficar por aqui para acompanhar ou participar da festa. A reserva de passagens aéreas internacionais no período do mundial caiu 34%, na comparação com 2013. O governo federal estimava movimentação de 3,6 milhões de turistas em torno do mundial. Três milhões de brasileiros viajariam para as

Após Jogos, Londres subiu no pódio do turismo mundial Whitemay/iStock

Após os Jogos de 2012, Grã-Bretanha teve seu melhor ano: recebeu 33 milhões de turistas

a Copa: “O grande legado que podemos esperar é que os visitantes saiam daqui com vontade de retornar”. Na Alemanha, que sediou o Mundial de 2006, a competição serviu para difundir uma nova imagem dos alemães, tidos como frios e sem emoção. O retorno foi um aumento do fluxo turístico, que deixou o país em sétimo lugar no ranking mundial, com quase 24 milhões de visitantes por ano. A África do Sul, que gastou US$ 8 bilhões na Copa de 2010, não registrou o crescimento esperado do turismo no país, mas ganhou em mobilidade e lançou o Plano Nacional de Infraestrutura, com investimentos de US$ 83 bilhões.

“As pesquisas apontam que ganhamos uma posição na avaliação que o mundo faz do Reino Unido e também uma posição por nossas belezas naturais, mas ganhamos três posições quando se trata da receptividade”, diz Samuel Lloyd, diretor do VisitBritain, a agência nacional britânica, que participou da coordenação do evento. Os jogos foram uma oportunidade para divulgar as atrações do Reino Unido e reverter a percepção sobre os pontos fracos de Inglaterra, Escócia e País de Gales. O governo britânico criou a marca “Great” para identificar todas as ações do primeiro evento da era das redes sociais. A campanha envolveu uma parceria com a BBC, a emissora pública de rádio e televisão, para a distribuição de imagens e vídeos sobre o país e aplicativos específicos para celular. “Os Jogos Olímpicos foram uma grande plataforma de comunicação”, afirmou Samuel Lloyd.


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Opção estratégica e promissora Setor de eventos cresceu 5% em 2013, gerou 700 mil empregos diretos e indiretos, e tem potencial de expansão A indústria de eventos, que registrou crescimento acima da média do aumento do PIB do Brasil na última década, de 5% contra 3,5% ao ano, depende de uma política de turismo para mudar de patamar. A falta de promoção do país no exterior, carência de mão-de-obra e o gargalo em equipamentos de convenções estão entre os problemas apontados por especialistas para que feiras, exposições, congressos e seminários atinjam todo o seu potencial. Trata-se de um segmento que atrai público qualificado, com alto poder aquisitivo, e contribui para outros setores da economia, como o agronegócio e a indústria de bens de capital. Os eventos já representam mais de 3% do PIB nacional, com faturamento anual de R$ 56 bilhões. Só no ano passado, geraram mais de 700 mil empregos diretos e indiretos. “Estamos cheios de eventos. Não conseguimos nem respirar, mas o potencial é imenso e ainda pode ser muito melhor explorado. O governo não vê o

turismo como uma grande alavanca do crescimento sustentável, mas também há uma omissão do mercado”, diz Anita Pires, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc-Brasil) e vice-presidente do Conselho de Turismo da CNC. “O Brasil vive um pouco da sua própria solução econômica. Os eventos se alimentam da economia do país, mas têm também um lado social. Todo mundo quer fazer evento no Rio por causa das belezas e da fama da cidade, mas há o gargalo do custo. Foz do Iguaçu também é um ícone do Brasil, mas há limitações de aviação”, afirma Armando Arruda Pereira Campos Mello, presidente da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe). “Uma das questões a ser trabalhada: os estrangeiros querem saber se o país é seguro antes de viajar para cá”, diz Viviânne Martins, ex-presidente da Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev).

A lista de problemas diminuiu, mas ainda é suficiente para atrapalhar essa opção estratégica de turismo. As empresas brasileiras, em sua maioria micro e pequenas, não têm condições de captar um grande evento no exterior e dependem da ajuda do Ministério do Turismo e da Embratur. A capacitação de pessoal também é considerada deficiente. O mercado se ressente, por exemplo, da falta de captadores de eventos internacionais. Os investimentos em infraestrutura, embora tenham melhorado a competitividade do país, ainda são considerados insuficientes para atender o turismo de lazer, de negócios ou de aventura. Algumas cidades-sede da Copa do Mundo, como Belo Horizonte, não têm centro de convenções. Em compensação, Fortaleza, outra cidade-sede, ganhou um centro de convenções que possibilita a criação de um novo polo de turismo de negócios no Nordeste. Outra das conquistas do mundial de futebol é a modernização

dos aeroportos. Os investimentos para reforma e construção de hotéis também são considerados fundamentais. “O crescimento econômico do país e os investimentos em cultura e educação estão dando mais visibilidade ao país. A dificuldade em captar eventos na Europa e nos Estados Unidos diminuiu porque a estrutura hoteleira é boa e os serviços são eficientes. Se não tiver qualidade na rede hoteleira e nos restaurantes o turista não volta”, afirma Anita Pires, da Abeoc-Brasil. “O Brasil é um país global, mas não há cidade global com um centro de convenções para plenárias de 20 mil pessoas. No Brasil, os espaços têm lugar para duas a três mil pessoas. Um bom equipamento é fundamental para aumentar o número de eventos. Para as feiras, nossos equipamentos estão cansados. O ideal seria que o país tivesse novos pavilhões de qualidade”, defende Armando Arruda Pereira Campos Mello. Cezar Loureiro/Agencia O Globo

A Copa das Confederações, em 2013, atraiu 25 mil turistas estrangeiros e 247 mil brasileiros. Foi um laboratório para a Copa do Mundo, assim como a Jornada Mundial da Juventude

crescimento ao ano*

5%

Crescimento do PIB*

3%

faturamento anual

grandes Eventos no Brasil

R$ 56 bi

empregos diretos e indiretos em 2013

700 mil

brasil no ranking mundial

9º lugar

Fonte: Internacional Congress and Convention Association (ICCA)/2013

25 mil

turistas nacionais

247 mil

movimentou

leira que mais recebeu eventos internacionais foi o Rio de Janeiro, seguida de São Paulo. Por ocuparem grande parte e por um longo período de tempo a infraestrutura hoteleira, os eventos esportivos e religiosos dificultam a realização de eventos com público menor. Isso contribuiu para que, no ano passado, na comparação com 2012, houvesse queda de 12,5% no número de eventos realizados no Brasil. Em 2012, o país recebeu 360 eventos e ficou em 7º lugar no ranking do ICCA. A Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) estima que 330 mil eventos sejam realizados anualmente no Brasil com 80 milhões de participantes. Nos últimos dez anos, o setor registrou um crescimento de 51,2%. O crescimento, só no ano passado, foi de 14% na comparação com 2012. O segmento é o segundo maior fator de atração de visitantes estrangeiros: 25,6% dos turistas internacionais vêm ao país atraídos por feiras, exposições, e seminários corporativos. Cada um gasta em média, por dia, US$ 127, quase duas vezes mais que o desembolso dos turistas de lazer.

R$ 20,7 bi

copa das confederações 2013

novos negócios para micro e pequenas empresas

R$ 100 mi

agregou ao pib

R$ 9,7 bi vendas de artesanato

2,7 mi

Fonte: Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Fipe/USP e Sebrae

* Em uma década

Brasil já é nono no ranking mundial Os números só ressaltam a importância do segmento de eventos para o Brasil. A indústria de feiras e exposições e de viagens corporativas tem impacto em 72 segmentos da economia. Em dez anos, os congressos e convenções de negócios realizados no Brasil registraram um aumento de 408%. Dados da Internacional Congress and Convention Association (ICCA) apontam que, entre 2003 e 2013, o país saltou de 62 para 315 realizações. No mesmo período, o número de cidades que sediaram esse tipo de evento subiu 145%, passando de 22 para 54. Os 315 eventos realizados no ano passado trouxeram ao país 126 mil turistas estrangeiros, que permaneceram, em média, 3,8 dias no país e movimentaram US$ 137 milhões. Hoje, o Brasil é o nono no ranking mundial de eventos da ICCA. A classificação não inclui eventos esportivos e religiosos, o que deixou de fora a Copa das Confederações, realizada em junho de 2013 em seis diferentes cidades, e a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu em julho, no Rio de Janeiro. A cidade brasi-

turistas estrangeiros

‘Laboratório’ para a Copa Em menos de um ano, apenas três grandes eventos tiveram impacto de quase R$ 30 bilhões na economia brasileira. Este foi o saldo da Copa das Confederações, da Jornada Mundial da Juventude e do último Carnaval carioca. Os reflexos mais perceptíveis se estendem às vendas do comércio, à geração de empregos e à qualificação de trabalhadores, mas também ajudam em conquistas menos tangíveis, como a difusão da imagem do Brasil e dos brasileiros no exterior e a capacidade para atrair outras produções de grande porte. Laboratório para o mundial deste ano, a Copa das Confederações foi um dos 360 eventos internacionais – quase um por dia – realizados no Brasil em 2013. A competição atraiu para o país 25 mil turistas estrangeiros e provocou a circulação de 247 mil turistas nacionais. Os dois grupos fizeram girar quase meio bilhão de reais na economia. Além das cidades-sede, outros 137 municípios receberam visitantes. Levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Fipe/USP revelou que apenas

a Copa das Confederações movimentou R$ 20,7 bilhões, agregou R$ 9,7 bilhões ao PIB brasileiro. Dados do Sebrae apontam que foram gerados R$ 100 milhões em novos negócios para as micro e pequenas empresas e R$ 2,7 milhões em vendas de artesanato para turistas. Já a Jornada Mundial da Juventude 2013 atraiu 2 milhões de turistas para o Rio de Janeiro e injetou R$ 1,2 bilhão na economia da cidade, de 23 a 28 de julho. O comércio sentiu os impactos positivos nas vendas. A estimativa da CNC era de que o ramo de hiper e supermercados ficaria com 40% dos negócios, seguido pelos segmentos de combustíveis e lubrificantes, com 11,4%, e de vestuário e calçados, com 10,5%. No acumulado do ano, até abril, as vendas do varejo no estado cresceram 4,3% e os preços médios variaram 8,9%, acima da média da região Sudeste (+7,6%) e da média nacional (+7,8%). O Carnaval deste ano pode ter superado R$ 6 bilhões de faturamento. Estudo da CNC apontava a geração de 10,1 mil empregos temporários, até fevereiro.


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Márcia Foletto / Agência O Globo

Ao contrário das competidoras estrangeiras, as empresas aéreas brasileiras arcam com impostos sobre o querosene da aviação. Alguns estados já promoveram uma redução de alíquotas

Impostos nas alturas tributos sobre o combustível aéreo são apontados como principal entrave à competitividade do setor Embora reconheça a importância de propostas como a recuperação dos aeroportos regionais e a concessão dos aeroportos à iniciativa privada, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), defende que há uma série de gargalos que precisam ser eliminados pelo governo para o desenvolvimento da aviação nacional. Entre elas está a redução do preço do querosene de aviação e a desoneração tributária, sobretudo do ICMS, que varia entre 12% e 25% sobre o preço do combustível e é cobrado apenas no Brasil, tirando a competitividade das companhias aéreas nacionais. Isso faz com que uma passagem para Buenos Aires custe menos que outra para o Nordeste. “Esta política tributária exporta turistas e divisas. O preço das passagens segue regras internacionais, queremos que o componente dos custos também reflita o que é praticado internacionalmente. O querosene de aviação representa 42% dos custos do setor no Brasil. No mundo, cor-

responde a 33%, o que significa que aqui é 20% mais caro”, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear. “E ainda há um adicional de 1,5% para atualização da frota da marinha, sendo que o querosene não vem mais de navio”, reclama. Ele conta que o Distrito Federal aceitou baixar o ICMS de 25% para 12% e conseguiu recuperar a perda tributária em nove meses, com 120 novos voos. Já o Ceará aceitou reduzir o ICMS das companhias que oferecessem um voo internacional, o que foi aceito pela TAM (Miami), Gol (Buenos Aires) e Avianca (Bogotá). “Isso mostra que reduzir impostos e apostar no crescimento do tráfego é positivo para o setor”, observa. Sanovicz destaca que o país triplicou o número de passageiros nos últimos dez anos, após a desregulamentação promovida em 2002, quando o preço das passagens aéreas deixou de ser definido pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). Isso promoveu a competição entre as em-

curitiba

rio de janeiro

presas e fez com que a tarifa média caísse de R$ 515, em 2002, para R$ 290, no ano passado. Naquela época, não havia passagens abaixo de R$ 100 e apenas 23% eram abaixo de R$ 300. No ano passado, 13% dos assentos foram vendidos abaixo de R$ 100 e os bilhetes abaixo de R$ 300 representam 65% dos assentos. Transporte e Desenvolvimento - “Agora temos condições de dobrar a demanda caso sejam eliminadas barreiras que emperram o desenvolvimento do setor”, diz Sanovicz. Para isso, será necessário avançar na infraestrutura aeroportuária, o que, na sua opinião, já começou a ocorrer com as concessões dos aeroportos de Guarulhos, Brasília, São Gonçalo do Amarante, Galeão e Viracopos. “Mas seria positivo se fossem concedidos também os aeroportos Santos Dumont, Congonhas, Salvador, Recife e Porto Alegre e que o governo pusesse no ar o Programa de Aviação Regional.

Brasília

2 bi (até 2016)

239,14 mi

1,2 bi

Porto Alegre

Manaus

Guarulhos

444,46 mi

246,30 mi cuiabá

98,68 mi Salvador

93,53 mi

em recursos destinados à melhoria de 13 terminais de passageiros, com aumento de 81% na capacidade de recepção

R$ 2,9 bi

Jorge Eduardo Leal de Medeiros, professor doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e especialista no setor, ressaltou, durante apresentação no seminário promovido pela CNC, que há uma relação direta entre transporte aéreo e desenvolvimento econômico. De 2004 a 2012, enquanto o Produto Interno Bruto crescia a uma média de 4% ao ano, a demanda do transporte aéreo cresceu três vezes mais, atingindo, em média, 14%. “Hoje temos 100 milhões de viagens, o que dá 0,5 viagem per capita. Vamos chegar a 200 milhões de viagens em 2020, mas poderemos avançar para 400 milhões, em 2030, com duas viagens per capita. Mas, para isso, é preciso aumentar a capilaridade e a qualidade dos serviços. A tarifa média caiu nos últimos dez anos e hoje temos um mercado maduro em termos tarifários, mas companhias aéreas já chegaram ao seu limite”, diz Leal.

Aeroportos concedidos

R$ 6,5 bilhões

Recife

-

Viracopos

R$ 2,5 bi em investimentos. A receita de arrecadação obtida com as concessões será aplicada em 270 aeroportos regionais

Fortaleza

311,32 mi

Belo Horizonte

260,04 mi iStock

Investimento cresceu, mas ainda há desafios a vencer A expansão do turismo, em geral, depende da melhoria da infraestrutura. Segundo o ministério do Turismo, a realização da Copa do Mundo promoveu a antecipação de investimentos, como no caso dos aeroportos, que receberão R$ 10,8 bilhões em infraestrutura, sendo R$ 4,3 bilhões da Infraero para melhoria de 13 novos terminais de passageiros – que aumentarão em 81% a capacidade de recepção – e R$ 6,5 bilhões nos aeroportos concedidos – Brasília, Guarulhos e Viracopos. Os aeroportos concedidos geraram, ainda, arrecadação de R$ 20 bilhões com as concessões, recursos que possibili-

tarão a melhoria de 270 aeroportos regionais. O governo também acredita que não haverá problema de mobilidade nas cidades-sede na Copa. Julio Eduardo dos Santos, secretário nacional dos Transportes e da Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, observa que, no Rio, por exemplo, será inaugurada, em 1º de junho, o BRT Transcarioca, que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. Há, ainda, a integração com a estação do metrô de São Cristovão, em frente ao Maracanã. “Quem sair do Santos Dumont pode se conectar com outra estação que leva à

de São Cristóvão. Já estudamos como as pessoas vão se deslocar nos dias de jogos de Copa. Os planos operacionais testados para o transporte público foram um sucesso”, afirma. Nos portos, o valor dos investimentos chega a R$ 587 milhões, com a reforma/construção de terminais de passageiros em portos turísticos, como Fortaleza, Natal, Recife e Salvador. As obras fazem parte da matriz do Programa de Aceleração do Crescimento para a Copa 2014 (PAC/COPA). Setores de aviação e cruzeiro marítimos dizem, no entanto, que há muitos desafios a vencer. Ricardo Amaral, presidente da Clia

Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos) afirma, com base em estudo encomendado à FGV, que houve uma redução de 22 navios, com impacto na economia de R$ 1,4 bilhão em 2010/2011, para 11 navios, com impacto de R$ 1,150 bilhão em 2013/2014. “O cruzeiro tem uma característica de mobilidade, o setor vai para o destino que oferece as melhores condições. “Cidades como Ilhabela e Búzios recebem até 3 mil turistas de um navio, mas não têm infraestrutura em terra”, assinala. Ele diz que, por causa dos altos custos com impostos e taxas, o Brasil tem perdido espaço no mercado mundial.


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Especial Seminário Turismo Brasil

confederação nacional do comércio de bens, serviços e turismo Cataratas do Iguaçu S.A.

O Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939, é um dos poucos em operação no País e um dos mais visitados: recebeu 1,5 milhões de turistas em 2013

Potencial pouco explorado Governo tem plano para recuperação de parques nacionais e ambientais para atrair visitantes Os ministérios do Turismo e do Meio Ambiente querem fomentar a atividade empresarial nos parques nacionais. Segundo Vinicius Lages, ministro do Turismo, a ideia é abrir os parques à exploração da iniciativa privada como forma de torná-los mais sustentáveis. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – autarquia ligada ao ministério do Meio Ambiente responsável pela administração dos parques nacionais – começou a modelar os primeiros projetos de parceira público-privada com a elaboração de um edital de concessão dos parques nacionais de Ubajara e Jericoacoara, no Ceará, e Serra das Confusões e Sete Cidades, no Piauí. Da parte do MTur, já há um plano de recuperação dos parques nacionais. De acordo com Vicente Neto, presidente da Embratur, inicialmente estão sendo investidos R$ 10,4 milhões para a res-

tauração de 16 parques nacionais. “Os recursos serão utilizado na compra de novos equipamentos e recuperação dos existentes. No Parque dos Lençóis, vamos instalar uma pista de pouso para aviões de pequeno porte em Barreirinhas”, diz Neto. O setor privado tem, porém, propostas mais ambiciosas que abrangem não apenas os parques nacionais, mas também todas as unidades de conservação. A ideia é a formação de Parcerias Público Privadas (PPPs) visando ao aumento de visitantes e verbas para a conservação. Esta é a bandeira do Instituto Semeia, instituição sem fins lucrativos criada pelo fundador da Natura, Pedro Passos, que defende a articulação entre o setor público e privado para o desenvolvimento e aplicação de modelos de gestão inovadores e sustentáveis em áreas protegidas. Segundo Ana Luisa Da Riva, diretora

do Semeia, existem no país 1.824 unidades de conservação – federais, estaduais e municipais. Os parques e as florestas respondem por 55% do total de hectares protegidos. “Não acreditamos que o governo seja capaz de manter esses espaços sozinho, pois não tem recursos e a pressão sobre essas terras, num país agrícola como o Brasil, será cada vez maior”, afirma. Segundo dados do instituto, os parques naturais somam 346 mil km² – uma área equivalente ao território da Alemanha. Hoje, porém, 80% deles não geram receita financeira alguma. A proposta é dividir funções entre o setor público e o privado. “O governo definiria o que pode ser feito, inclusive impondo obrigações de conservação, cabendo ao parceiro privado operar e explorar comercialmente a área do parque, Atualmente, o percentual que é aberto à visitação não chega a 3%”, diz. Como contribuição ao debate, o Se-

meia está trazendo ao país operadores americanos de grandes parques nacionais como a Xanterra, que administra o Gran Canyon, e a Delaware, que administra o Yosemite, na Califórnia. Edilaine de Abreu, gerente de comunicação do Semeia, informou durante apresentação no seminário promovido pela CNC que, em 45 dias, o governo de Minas Gerais deverá lançar o primeiro edital para uma PPP de gestão de uma área de conservação. Um bom exemplo dos resultados que podem ser obtidos por meio da parceria com o setor privado é o Parque Nacional do Iguaçu. Criado em 1939, é administrado pelo Instituto Chico Mendes mas, desde 2000, a unidade conta com o apoio na visitação turística da Concessionária Cataratas do Iguaçu S.A.. Em 2013, recebeu 1,5 milhão de visitantes. De janeiro a abril deste ano, 555.152 turistas visitaram o parque.

EdStock/iStock

Na disputa pela Eurodisney, a França levou a melhor. O parque recebe hoje mais visitantes que a Torre Eiffel e o museu do Louvre juntos. As unidades Disney atraem 130 milhões de turistas por ano

Em busca de magia e diversão Uma vez concluídos os investimentos previstos e realizadas a Copa e as Olimpíadas, a continuidade dos fatores positivos dependerá dos esforços do governo e dos demais agentes. Entre as novas oportunidades em análise pelo ministério do Turismo e as principais entidades do setor está o estímulo à criação de parques temáticos e a profissionalização dos parques ambientais, que têm um amplo potencial de demanda ainda inexplorado. Em relação aos parques temáticos, o ministro do Turismo, Vinicius Lages, anunciou que estuda com os ministérios da área econômica uma forma de reduzir os custos da importação de equipamentos e incluir o setor nos mecanismos de incentivo à inovação. “O setor de parques temáticos é o que mais gera fluxo de turistas no mundo. Trata-se de uma atividade que não é usufruída individualmente e sim em grupos e famílias. Atinge a todas as idades e não tem barreira física, nem cultural ou religiosa. Como atividade econômica, exige muito

investimento e tecnologia, mas gera grande retorno. Os parques da Disney, criados na Califórnia, em 1955, e na Flórida, em 1971, dobram de tamanho a cada sete anos”, diz Alain Baldacci, ex-presidente da IAAPA (International Association of Amusement Parks and Attractins) e atual presidente do parque Wet´n Wild e do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas). Juntas, as unidades Disney espalhadas pelo mundo recebem 130 milhões de visitantes, somando-se os parques nos EUA, França, Hong Kong e Tóquio. Em 2016, será inaugurada a unidade de Xangai e, em 2019, a de Pequim, já que a Disney mirou no continente asiático. Baldacci lamenta que o Brasil tenha sido relegado nesse processo, embora seja de brasileiros o maior contingente de visitantes nos parques da Disney. “É curioso que um país no qual o povo adora as atrações dos parques temáticos não desenvolva a atividade. Quando a Disney foi para a Europa, houve uma briga entre a França

e a Espanha e o governo francês investiu US$ 3 bilhões em infraestrutura para vencer a disputa. Hoje a Disney de Paris recebe mais visitantes que a soma dos visitantes da Torre Eiffel e do Museu do Louvre”, diz Baldacci. Em 2012, o Sindepat encaminhou uma proposta ao governo para fomentar a atividade de parques temáticos. Na proposta, os empresários defendem a redução das restrições para importação de equipamentos, uma vez que a atividade é intensiva em tecnologia. “Uma montanha russa nos EUA custa US$ 10 milhões. Para um parque brasileiro importar, ela sai por US$ 25 milhões”, compara. Outra reivindicação é a flexibilização da contratação da mão de obra, já que a atividade é sazonal. Ele observa que, no verão, os parques abrem todos os dias da semana. No inverno, porém, funcionam apenas de sexta a domingo, mas é preciso pagar pelos sete dias da semana e a legislação trabalhista obriga a dar um domingo de folga por mês. O Parque Beto

Carrero emprega mais de mil funcionários, quantas indústrias geram tantos empregos?”, argumenta. Outra queixa é a falta de linhas de financiamento, já que as do mercado exigem garantias reais de até 130%. O setor gostaria de poder contar com garantia evolutiva, que vai sendo formada à medida que o empreendimento vai sendo construído. Além disso, as taxas do ECAD levam em conta a capacidade do parque e não o movimento real. Baldacci diz que este conjunto de limitadores fez com que muitos parques fechassem, no fim dos anos 90, especialmente após a alta do dólar. “Os que passaram pela fase ruim hoje são modelo para o mundo, como o Beach Park de Fortaleza, que encontrou viabilidade no modelo imobiliário associando-se a condomínios e hotéis. O Beto Carrero também é modelo. Esses dois exemplos mostram que, se a atividade fosse estimulada, daria uma resposta gigantesca ao turismo do país”, conclui.


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Especial Seminário Turismo Brasil

confederação nacional do comércio de bens, serviços e turismo

A garantia do sono tranquilo Rede hoteleira do país investe em modernização e capacitação de pessoal, dá salto qualitativo e amplia ofertas Investimentos na ampliação e modernização da rede hoteleira e na capacitação de pessoal jogaram para escanteio o temor de um gargalo na hospedagem dos turistas que vêm para a Copa do Mundo. Às vésperas da abertura da competição, ainda havia vagas nas 12 cidades-sede, embora algumas já exibissem taxas de ocupação de superior a 90%. Nos últimos quatro anos, quase 1 milhão de alunos se formaram ou iniciaram os estudos nos cursos do Senac para as áreas de turismo, hospitalidade e lazer, saúde, gestão de negócios, produção de alimentos e idiomas. A qualificação profissional era outro desafio para atender as expectativas criadas pelo evento. De acordo com o estudo Impacto Socioeconômico da Copa, elaborado em 2010 pela

consultoria Ernst & Young em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, a realização do mundial poderia injetar R$ 142 bilhões extras na economia, além de gerar 3,6 milhões de empregos por ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população. “A hotelaria brasileira está tranquila desde 2007, quando 840 hotéis fecharam contrato com a FIFA já com tarifa em reais definidas e índices de reajustes também”, diz Enrico Fermi Torquato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-Nacional). “Os hotéis vão lotar nas cidades da Copa, mas o restante fica em módulo de espera. Já se percebe a retração que deve durar até vinte dias depois da competição. Megaevento não é fácil”,

Taxa de ocupação nas cidades-sede

Desafio é manter o movimento pós-Copa O desafio da indústria de hotéis é com o pós-Copa. O último Placar da Hotelaria, elaborado pela HotelInvest, indica que a construção de novos hotéis ou a ampliação da oferta de quartos em algumas cidades vai superar a demanda do mercado. São Paulo, que tinha 35.869 quartos em 2011 e registrava taxa de ocupação de 68%, abriu apenas mais 463 novas unidades e deverá registrar taxa de ocupação de 70%, a partir de 2015. O Rio de Janeiro, que tinha 78% de taxa de ocupação com 18.957 unidades, deverá ficar com pouco mais 70%, com o acréscimo de 5.686 novos quartos. Mas Belo Horizonte, que tinha 6.377 quartos, há três anos, e registrava 69% de taxa de ocupação, ganhou mais 6.544 unidades e deverá experimentar uma redução da taxa para 34%. “Não construímos o turismo como produto para ser explorado no futuro. A gente não tem políticas, nem planejamento. Isso faz com que o turismo de lazer seja relegado a segundo plano e a preocupação se volte ao turismo de negócios, que depende do desempenho da economia. Não precisava ter construído hotel para a Copa. Precisava melhorar o que havia e, isso, o BNDES fez, dando financiamento para a reforma e modernização de hotéis”, diz Diogo Canteras, da HotelInvest. Depois que o setor privado investiu em novos hotéis, a expectativa dos empresários é que os governos reduzam o ICMS dos combustíveis aéreos, para ampliar voos e alterem a legislação trabalhista. A falta de flexibilização dos contratos temporários de trabalho é considerada um entrave para tornar a indústria hoteleira, que demanda mão-de-obra intensiva, mais competitiva em preço. “Somos a 6ª economia do mundo, com a 33ª diária mais cara do mundo mas, em compensação, temos a maior carga tributária, que chega a 38%. O turista brasileiro gasta US$ 24 bilhões por ano viajando para fora do país, mas o Brasil só atrai US$ 6 bilhões com a vinda de turistas estrangeiros”, diz Enrico Fermi Torquato, da ABIH-Nacional.

afirma Viviânne Martins, ex-presidente da Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev). “A Copa não será nenhum hexacampeonato para todo o setor hoteleiro”, diz. “O Rio de Janeiro vai estar muito bem. Recife, Natal e Fortaleza também terão uma boa ocupação. Outras cidades vão ter taxas razoáveis, mas algumas vão amargar decepções”, diz Diogo Canteras, sócio-diretor da HotelInvest. “Os níveis de comercialização de diárias de hotel da Copa do Mundo do Brasil são muito bons e estão no mesmo patamar da Copa da Alemanha, em 2006”, diz Enrique Byrom, presidente da Match Events Services AG, que presta serviço de acomodação à FIFA desde a Copa

Rio de Janeiro

Cresce a qualificação profissional

recife

natal

98%

90%

70%

cuiabá

brasília

fortaleza

65%

70%

75%

manaus

Porto alegre

Salvador

65%

80%

68%

Belo Horizonte

Curitiba

São Paulo

60%

65%

62%

da Itália, em 1990, e de tecnologia de informação, desde o mundial de 1998, na França. Garantido o desempenho operacional e a qualidade do atendimento, o setor se preocupa agora com o resultado financeiro. Os hotéis mais bem posicionados do mercado de São Paulo, que tem a maior estrutura hoteleira do país, com mais de 40 mil quartos e sofre com a retração já esperada do turismo de negócios, fecharam contratos para eventos paralelos à Copa do Mundo e também devem registrar resultados positivos. “Algumas cidades estão muito bem, como o Rio. Outras ainda têm oferta considerável, como Curitiba. Fortaleza e Manaus também estão muito bem”, disse o presidente da FOHB, Roberto Rotter.

Fonte: Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes

A realização da Copa do Mundo provocou um movimento inédito de qualificação profissional no Brasil. O Senac, sozinho, capacitou 900 mil alunos nos últimos quatro anos, principalmente agentes de informações turísticas, recepcionistas e organizadores de eventos, cozinheiros, camareiras, auxiliares administrativos e guias turísticos. A pesquisa Senac na Copa 2014 identificou as necessidades de qualificação profissional no mercado por meio de entrevistas com os responsáveis por 716 estabelecimentos distribuídos pelos setores de hospedagem e alimentação, em parceria com a Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes, e definiu as diretrizes do Programa de Educação Profissional Senac em Campo, lançado em 2011. Por meio do Pronatec Copa, o Senac promoveu ações para a qualificação de jovens e adultos, com mais de 18 anos, nos segmentos de Turismo, Hospedagem, Gastronomia, Eventos e Lazer, impactados pela Copa em 120 destinos turísticos no país. Agente de informações turísticas e recepcionista de eventos foram os cursos mais procurados ano passado, mas muitos profissionais também buscaram na instituição conhecimento para agregar valor ao seu negócio e atender melhor os turistas. Em Recife, motoristas de táxi frequentaram aulas para aprender inglês, por exemplo. A qualificação profissional e a demanda por mão de obra elevaram a renda do trabalhador em turismo. Nos últimos seis anos, houve aumento real de 17,7% nos salários. Em 2007, 41,6% dos trabalhadores formais do setor tinham, pelo menos, o nível médio completo. Seis anos depois, a participação de trabalhadores com o mesmo nível de qualificação saltou para 56,1%. Só nos meses de junho e julho, durante a competição, a previsão de uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontava para a criação de 47,9 mil postos de trabalho em serviços de hospedagem, alimentação, culturais e recreativos, além de transporte e agências de viagens. Em 2013, já como reflexo do mundial de agora, o setor gerou 30 mil empregos – um aumento de 3,8%.

O real impacto da atividade na economia O ministério do Turismo anunciou o projeto de criar a Conta Satélite do Turismo do País, para onde seriam contabilizadas todas as receitas direta ou indiretamente ligadas ao setor. Isso vai exigir uma articulação do ministério com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela pesquisa do Sistema de Contas Nacionais, segundo explica Wilson Rabahy, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e coordenador da área de turismo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)

A Fipe realizou, em 2006, em parce(Fipe), que organiza pesquisas para o Mtur. “Hoje, a construção de um hotel, ria com o Sebrae, o único levantamenpor exemplo, é computada no Sistema to disponível que aponta uma parcela de Contas Nacionais como receitas da do impacto do setor em outros setores. construção civil, quando, no nosso enSegundo o ministro do turismo, Vinitendimento, deveria ser computada no cius Lages, o estudo deverá ser refeisetor de turismo. A construção de um to e divulgado em setembro deste ano. aeroporto é contabilizada como forO estudo “Meios de Hospedagem – Esmação bruta de capital, mas pelo metrutura de Consumo e Impacto na Econos uma parcela deveria ser creditada nomia” ouviu 2,5 mil meios de hospedaao turismo. É importante que o IBGE gem das regiões metropolitanas de 13 participe, pois a ideia é de que capitais. A pesquisa mostrou, a conta satélite consolide na ocasião, que o setor titudo o que é devido ao nha um estoque de 615 Impacto da turismo”, diz Rabahy. mil TVs com renovação atividade hoteleira

na economia

de 100 mil unidades/ano; 120 milhões de peças de cama mesa e banho com renovação anual de 10 milhões de unidades; 462 mil unidades de frigobar, com reposição de 61.354 mil unidades/ano; 427,7 mil aparelhos de ar condicionado, com renovação anual de 62.823 unidades; 72.682 fornos de microondas, com mais 12.227 unidades/ano; 412.267 TVs a cabo, com acréscimo anual de 78.398, além de 200 mil veículos em um total de 70 itens pesquisados. Apontou, ainda, que, em termos de geração de valor adicionado, seu desempenho equivale a quase R$ 4,5 bilhões (valores de 2002).


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Especial Seminário Turismo Brasil

confederação nacional do comércio de bens, serviços e turismo

Opções do financiamento público PARA TORNAR crédito MAIS ACESSÍVEl, EMPRESÁRIOS PROPÕEM mudar as GARANTIAS ATUAIS Realizar megaeventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos é uma oportunidade única para que os países aumentem sua visibilidade internacional e incrementem o número de turistas. Entre as estratégias para aproveitar a chance para alavancar o turismo nacional estão as linhas de financiamento público ao setor. Desde a criação do ministério do turismo, em 2003, o montante financiado saltou de R$ 1 bilhão para R$ 13,5 bilhões, em 2013. As linhas oferecidas beneficiaram empresas aéreas, hotéis, parques, transportadoras, agências de turismo, bares e restaurantes. Os empréstimos foram concedidos pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia (Basa), com linhas subsidiadas. As linhas mais atrativas são as oferecidas pelos bancos que operam com recursos de fundos constitucionais. Um exemplo é o Banco do Nordeste, que criou o Programa de Apoio ao Turismo operando linhas que têm como fonte de recursos o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). “Pelo menos 70% das ampliações e melhorias das empresas de turismo do Nordeste foram feitas com recursos do FNE. Dos R$ 30 bilhões de nosso orçamento em 2014, cerca de 10% serão direcionados ao setor de turismo”, diz Nelson Antônio de Souza, presidente do banco. O Banco da Amazônia focou na elaboração e na execução de um Plano de InMinistério do Turismo em 10 anos

MBortolino/iStock

centivo ao Turismo na Amazônia, alinhado com o Plano Nacional de Turismo. Segundo Wilson Evaristo, diretor comercial e de distribuição, a região possui um grande potencial para o desenvolvimento do setor, mas precisa transformá-lo em produtos turísticos de boa qualidade e competitivos. O mercado reconhece que as condições são extremamente vantajosas, especialmente as linhas operadas com recursos dos fundos constitucionais. Mas reclama da burocracia e do rigor das exigências. Luciano Carneiro, proprietário

R$ 13,5 bi

Banco do Nordeste, em 2014

do Hotel Rio Vermelho, de 70 apartamentos, em Goiânia, tentou um financiamento de R$ 1,5 milhão de recursos do FCO junto ao BB, mas desistiu quando soube que tinha de oferecer garantia de 130% do valor do empréstimo e apresentar um projeto de financiamento. “Quem faz o projeto são empresas que pedem 5% do valor financiado, o que não faz sentido, já que a taxa de juros é de 8% ao ano. Acabei realizando a ampliação com recursos próprios de uma herança”, diz Carneiro. Mesmo com uma demanda de R$ 2 bilhões, o programa de financiamen-

R$ 3 bi

to a hotéis BNDES ProCopa Turismo só consegui aprovar R$ 1 bilhão em operações até o seu encerramento. Lançado em 2010, o programa recebeu propostas até junho de 2013 e contratou as últimas operações em janeiro de 2014. Segundo Maurício Neves, superintendente da área industrial (inclui comércio, serviços e turismo), foram aprovados 17 projetos, que somam um investimento total de R$ 2 bilhões (incluindo a contrapartida do empreendedor). “Mesmo com o encerramento do programa, o financiamento ao setor permanece, e a carteira de demanda de R$ 1 bilhão ainda em análise migrou para o Finem, linha regular do banco para operações acima de R$ 20 milhões”, assinala Neves. O FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), associação que reúne as 26 principais redes hoteleiras atuantes no Brasil, com cerca de 600 hotéis em operação e 97 mil unidades habitacionais, considera que os recursos são insuficientes. A principal queixa do setor é a exigência de garantia real de 130%, transformada depois para garantia evolutiva mas, mesmo assim, a linha não agradou a todo o setor. Alexandre Sampaio de Abreu, presidente da Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes, diz que apresentou ao BNDES uma alternativa à garantia real. “Propusemos a garantira evolutiva, que foi adotada há dois anos. Outra saída seria a criação de um fundo garantidor, com uma dotação orçamentária do Mtur e um percentual adicional nas operações de financiamento”, propõe.

BNDES: 17 projetos financiados

R$ 2 bi


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