Lucas no Porto Santo

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LUĂ?S COSTA

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FICHA TÉCNICA edição: edições Vírgula (Chancela Sítio do Livro) título: Lucas no Porto Santo autor: Luís Costa revisão: Sandra Lopes paginação: Alda Teixeira capa: Patrícia Andrade

1.ª Edição Lisboa, dezembro 2015 isbn: 978-989-8821-16-4 depósito legal: 401587/15 © Luís Costa

publicação e comercialização:

www.sitiodolivro.pt

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Aos meus netos, Lucas, David e Elias

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ÍNDICE 1. À procura de cristais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2. Um estranho manuscrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3. Um dia na biblioteca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4. O perigo das almas penadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 5. De caminho para a Fontinha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 6. À conversa com o Diabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 7. A Louise desapareceu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 8. Um lugar diferente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 9. Missão cumprida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

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1. À procura de cristais As férias estavam quase no fim e Lucas começava a estar preocupado com a tarefa que ainda lhe faltava cumprir. Tinha até ficado contente quando, no último dia de aulas, a professora lhes marcara o trabalho de casa: uma composição sobre o que de mais interessante lhes acontecesse naqueles dias. Certamente que temas não lhe iam faltar. Queria voltar ao Pico do Castelo, onde alguns anos antes estivera com a família. Foi nessa altura que o pai lhe explicou o funcionamento dos vulcões, apontando para a forma da montanha. Há muito tempo, tinha sido pela chaminé de um vulcão que o magma do interior da terra se soltara, formando com a lava aquela encosta tão difícil de subir. A princípio tivera medo. Não seria muito arriscado o passeio?! E se o vulcão entrasse de novo em erupção? Mas a mãe logo o sossegou. Aquele vulcão estava morto havia muitos anos e não seria agora que iria renascer. Hoje, Lucas já se sentia mais entendido em vulcões e sabia que toda a ilha tivera uma origem vulcânica a que se juntaram os calcários e as areias. Sabia que os vulcões podem provocar sismos e que, quando cessam a atividade e os tubos 7

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de lava ficam vazios, formam grutas com alguma extensão. Sabia também que a rocha vulcânica pode conter cristais e que o aparecimento destes pode anunciar um recomeço de atividade.

Apontando para a forma da montanha

Estava, então, decidido. Subiriam até ao topo da montanha à procura de cristais. Mas desta vez com a Louise, uma amiga e colega de escola, em Berlim, que os acompanhava nesta visita ao Porto Santo. Ah! E com o mano David que se colara a eles, assim que soubera do passeio. Lucas nunca 8

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queria levar o irmão. Achava-o demasiado garoto para o poder levar nas muitas aventuras em que se via metido… À primeira cavadela, minhoca, como o avô costumava dizer. Naquela manhã, toda a procura tinha sido em vão. O terreiro continuava limpo e ajardinado, com a pequena estátua lá no meio. E a um recanto, a tombar pela encosta, um amontoado de pedras que teriam pertencido a uma anterior construção. Foi lá que, numa breve pausa, aproveitaram para se sentar enquanto a Louise sacava da mochila umas saborosas sandes de presunto e queijo e uns sumos de aloé vera, bem fresquinhos, com que retemperaram as forças. Tinham preparado tudo de véspera e o que ontem lhes parecera muito, hoje soubera-lhes a pouco!... Logo que terminou o repasto, e depois de despejar o lixo no contentor, o David preparava-se para se esticar sobre uma pedra alongada que vinha do fundo e se destacava das outras. – Nem penses – gritou-lhe o Lucas – ainda há muito que fazer! Só nesse momento é que repararam. Parcialmente tapada, saía da pedra uma pequena armação em ferro do feitio de uma argola. E, embora fizessem tudo para a tirar, ela teimava em resistir, até que o Lucas, sendo o mais forte, resolveu retesar os músculos e puxar pelo aro. A pedra mal se moveu, mas girou ligeiramente para a esquerda, fazendo aparecer um outro objeto de metal bastante corroído. Foram aos poucos escavando a toda a volta 9

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até que ele finalmente se soltou, deixando perceber uma pequena caixa de tal modo enferrujada que lhes pareceu impossível de abrir. Com uma enorme paciência, a Louise pegou no canivete suíço que já usara durante a merenda e foi desgastando a ferrugem do encaixe, descolando a tampa que, pouco a pouco, começou a ceder. Foi então que algo de totalmente inesperado aconteceu…

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2. Um estranho manuscrito Foi como que um relâmpago. No meio de súbita confusão surgiu de entre as pedras uma figura humana de aspeto estranho, volátil, mas com feições muito nítidas, e serena, apesar da forte expressão. E como apareceu, assim se esfumou... Só passados alguns segundos é que, lentamente, começaram a recuperar do valente susto e foi outra vez o Lucas que, mais ousado, se adiantou para a caixa e a destapou. Continha apenas uns pedaços de papel quebradiço, já muito desgastados pelo tempo e pelas intempéries, com uma escrita certa mas praticamente ilegível. Nalguns conseguiam-se descortinar palavras soltas, como MAGESTADE e PASSAPORTE. Apenas num outro, maior e manuscrito numa caligrafia cheia de arabescos, o texto mantinha alguma continuidade, apesar de esborratado e de difícil leitura. Mesmo assim, passado algum tempo, pareceu-lhes entender o seu sentido. Tratava-se de uma carta escrita por um militar prisioneiro que, apesar de recear a morte, recusava render-se aos inimigos.

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Numa caligrafia cheia de arabescos

Mas, o que mais lhes chamou a atenção foi o desenho já desbotado de um mapa que trazia, anotado com o que muito provavelmente era uma legenda: Crypta dos Amazilhados. Tudo aquilo lhes parecia um enigma. Porém, era capaz de esconder uma boa estória e de prometer uma ainda melhor aventura. Assim, apesar do medo que sentiam, não quiseram deixar tudo por mãos alheias. Havia que deitar mãos à obra e seria aquele velho papel o ponto de partida. Crypta dos Amazilhados, o que quereria dizer crypta dos amazilhados?! O sol já começara a descair do lado direito do Pico de Ana Ferreira quando a meio da descida resolveram parar num pequeno café do Dragoal, para matar a sede. E que bem que lhes soube aquela pausa para desentorpecer as pernas e, 12

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sobretudo, aquele lento saborear de um sumo quase gelado, a acompanhar uma grossa fatia de bolo preto que o David tanto insistira que comessem!

Um mapa que trazia …

Este, parecia perdido de cansaço. Mas, esvaziado o copo e recuperado o ânimo, atirou de surpresa, com a sua habitual simpatia: – Crypta dos amazilhados! Alguém sabe o que é a crypta dos amazilhados?! Ninguém se manifestou e todos pareceram um pouco intrigados. Apenas um deles, que seria o mais velho, chegou a responder: 13

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– Esse nome, crypta, não me é estranho. Mas não deve ser cá no Porto Santo! Foi então que a Louise, que pouco entendia de português, se lembrou de um pequeno dicionário que trazia consigo, onde talvez pudessem encontrar aquelas palavras. Amazilhado nem sequer aparecia. Eram com certeza palavras muito antigas! O nome crypta também não. Em contrapartida, um pouco antes aparecia cripta que podia muito bem ser uma nova ortografia. E a Louise, que até aí se mantivera calada, leu com um acento berlinense: – gruft! – Gruta! – reagiu um dos presentes – Gruta dos Amasiados, Furna dos Amasiados! Isso é para o outro lado, mesmo em frente ao Ilhéu das Cenouras! É uma gruta grande, meio escondida pelas marés. Mas é um sítio perigoso, não vos aconselho a lá ir!

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3. Um dia na biblioteca Naquela noite mal conseguiram pregar olho, apesar de se terem deitado já bastante tarde. Mas não quiseram ir dormir sem primeiro estabelecer um plano. O avô estranhou toda aquela espertina para quem se tinha levantado tão cedo e manifestava evidentes sinais de cansaço. Ainda fez algumas perguntas mas eles, temendo alguma indiscrição do David, tinham combinado não abrir o jogo. Falaram vagamente de uma gruta, na costa norte, que um dia gostariam de ir visitar: a Furna dos Amasiados. Quanto à figura humana resolveram não dizer nada. O avô até costumava ser muito paciente quando lhe contavam as aventuras. Mas quem podia acreditar que tinham visto um fantasma?! Como iriam as pessoas reagir? Teriam que ser muito cautelosos se queriam saber qualquer coisa. Escutaram com a atenção possível as muitas recomendações sobre os cuidados a ter, depois de o avô lhes ter mostrado a localização da gruta numa velha carta militar: Nunca poderiam ir sozinhos. E, quando quisessem ir, teriam de avisar primeiro para que a expedição fosse devidamente preparada.

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