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JOÃO PEDRO LOPES OLEAR A GERINGONÇA
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FICHA TÉCNICA edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) título: Olear a Geringonça autor: João Pedro Lopes capa: Ana Braz paginação: Alda Teixeira 1.ª Edição Lisboa, Maio 2016 isbn: 978-989-8821-25-6 depósito legal: 408704/16 © João Pedro Lopes
publicação e comercialização:
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Aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua prĂłpria opiniĂŁo. Shakespeare, William
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ÍNDICE
Centen(o)as de dúvidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Olear a geringonça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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“Allahu Akbar”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Triunvirato de esquerdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Gaiola Dourada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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O croissant andaluz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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“Ménage a trois” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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“Austeridade necessária” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Roleta Russa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Este ano, há PEC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Duas Rainhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Danos colaterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Situação explosiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Depois façam as contas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Petróleo nuclear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Quem cabras não tem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Morreu Carolina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Costa Concórdia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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“Costa Time”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Imploda-se o ministério!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Poucochinho e irrevogável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Regresso do passado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Envergonhar o DAESH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Não cresce, engorda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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“Kosta contra Kosta”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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“Orçamentira de Estado” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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PREFÁCIO
Ter opinião é sempre uma atitude que indica carácter. E ter carácter é um atributo infelizmente escasso nos tempos do presente. Felizmente para mim, que aceitei o honroso convite de prefaciar o livro que agora se edita, e felizmente para os seus leitores, o autor dos textos aqui compilados é um testemunho vivo dessa qualidade. Podemos concordar ou discordar do que pensa e escreve, sentirmo-nos mais próximos ou mais distantes dos seus pontos de vista, mas não deixaremos nunca de lhe reconhecer a identidade própria de quem não cede às tentações do momento, nem muda ao sabor de modas ou conjunturas. As suas ideias, base fundamental e única das posições que ao longo do tempo tem assumido, são o ponto de partida para a inquietação que demonstra nas páginas que se seguem. Da inquietação e também da crítica acutilante que nelas faz, às opções políticas do presente. Compreendo-o! Penso compreendê-lo, atendendo desde logo quer à formação política que sempre o orientou, quer às raízes que o mantêm ligado a uma dada forma de ver a Cidade e o Mundo. Compreendê-lo contudo, não significa sempre acompanhá-lo ou sempre ter a mesma visão sobre as imagens e as mensagens que nos chegam. Mas será talvez por isso mesmo, que a leitura dos seus textos se aconselha. Eles tomam partido, não são anódinos, assumem posição clara, não são indiferentes, esclarecem posição, não são tudo e o seu contrário. Características afinal sempre necessárias para uma sociedade que se quer plural, que afasta o pensamento único, que não aceita a inevitabilidade do fatalismo, quase sempre apresentado como solução intransponível e irrevogável. Numa época de tempos cada vez menos claros é positivo e saudável que saibamos ter a coragem de dizer ao que vimos e que do mesmo modo que podemos dizer sim, possamos também dizer não ao facilitismo e não à corrosão de valores. É isso que aqui faz João Pedro Lopes com a entusiástica militância que o caracteriza, com a força que o anima, com o entusiasmo que o move. Desejo a todos uma boa leitura! MANUEL MONTEIRO 9
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CENTEN(O)AS DE DÚVIDAS
Se as previsões macro-económicas de Mário Centeno estiverem alicerçadas em pressupostos tão sólidos quanto os conhecimentos de Costa sobre a fundação da NATO ou a adesão da Turquia, estamos desde já, todos esclarecidos sobre o quão difícil será virar a página da austeridade. Por mais que gostássemos de flagelar este Governo pelos seus desaires, a nossa subordinação financeira continua umbilicalmente submissa às decisões de Bruxelas. Qualquer dívida embaraça a liberdade do devedor. E Portugal não está imune a esta equação. Restará convencer-nos que austeridade terminou e deu lugar a processos de ajustamento, necessários para reformar a economia. O princípio da reversão disse Mário Centeno, avança depois de estudados os custos para as contas do Estado. O que na maioria das promessas, bem poderá significar, nunca. Assim, a indigitação de António Costa pode parecer um milagre considerando os resultados eleitorais mas tenhamos presente que esses não ocorrem no campo da economia e finança.
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Ganso-das-neves (Anser caerulescens)
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Olear a geringonça Tanto Paulo Portas como Augusto Santos Silva cedo compreenderam que este executivo poderá mesmo beneficiar da estabilidade suficiente entre parceiros e assim cumprir toda a legislatura. Perante este cenário, o primeiro, preferiu anunciar a sua saída. Já o segundo, adquiriu logo um faqueiro para o protocolo de Estado. O que seria aliás uma pena investir tanto num faqueiro novo e não ter tempo sequer de usá-lo. Contudo continuamos assistir ao berrar de uma direita que almeja um presidente salomónico que deste modo – e provavelmente só por este – lhe permita cobiçar novas eleições, até ao verão. Possível ainda que pouco, senão muito pouco, provável. Ao novo Presidente resta-lhe a responsabilidade de exercer o seu mandato procurando olear a geringonça para que os partidos que a constituem se entendam ou deixar que ela escorregue e se desmonte, oleando cirurgicamente aqui e ali. Seja qual for a postura do próximo Presidente e os seus propósitos, olear a geringonça tornou-se inegavelmente o seu maior desafio.
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Cobra-de-escada (Rhinechis scalaris)
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“Allahu Akbar” Não será seguramente matando todas as pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza que nos poderemos orgulhar de ter erradicado a pobreza no mundo. Ainda que se obtivessem os efeitos desejados. É um facto. Ora de igual modo, não é garantidamente bombardeando todas as cidades sob domínio do autoproclamado estado Islâmico, ou aniquilando todos os seus seguidores que o conseguiremos extinguir. Somos Paris, Charlie ou Beirute mas nunca seremos suficientemente livres enquanto formos incapazes de aceitar a diferença e integrá-la. Mais do que controlar fronteiras, temos procurado controlar culturas. Por mais que o cenário seja de atrocidade e frieza, os ataques desafiam-nos e confundem-nos. Um quadro frágil em que muçulmanos passam a terroristas, árabes a suicidas e imigrantes a jihadistas. Importa estimar se não fomos nós que criamos barreiras à nossa própria liberdade, querendo ser ainda mais livres e seguros, sem certezas de que maior liberdade e mais segurança conseguem mesmo coabitar.
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Flamingo (Phoenicopterus roseus); Colhereiro (Platalea leucorodia)
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Triunvirato de esquerdas Não se antevê que o triunvirato das esquerdas nos vá deixar melhores recordações nem mais saudades do que outros triunviratos que por cá estiveram. Amontoam-se porém, e na primeira fila, os que pagariam para ver erguer-se o primeiro governo com socialistas, comunistas e bloquistas. Assustador só mesmo o facto de que é muito provável que venhamos mesmo a pagar, daqui a uns meses. Os últimos anos evidenciaram como é sabido, dificuldades e tensões na coligação de direita. Todos nos recordamos de como foram angustiantes de ultrapassar algumas das divergências entre Passos e Portas. Não será diferente à esquerda. Refém do bloco, do partido comunista e certamente sob olhar torturante do Eurogrupo, Costa sabe que conseguir acordos pontuais para as questões de fundo estará muito longe de lhe dar acordos de fundo nas questões pontuais. Deste modo, Costa encontra-se encurralado no seu próprio labirinto, o que deveria levar a sua consciência aceitar que desta vez, deveria mesmo colocar… Portugal à Frente.
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Grifo (Gyps fulvus)
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Gaiola Dourada Paulo Portas teve indiscutivelmente muito mais êxito do que Paulo Futre na atracção de investimento chinês. Ao introduzir um mecanismo que visa atribuir uma autorização de residência para investimento |os tão conhecidos vistos “Gold”| a quem se predisponha a investir no nosso país, o então ministro dos Negócios Estrangeiros tinha perfeita noção que somaria ao aumento da receita a possibilidade de capitalizar para Portugal novos investidores para quem nosso país seria um destino improvável à data. Diplomacia económica tão-somente. Vulgar em muitos países, a iniciativa propõe-se revitalizar a economia, atraindo capitais não-europeus a troco de uma autorização de residência. Nada de novo. Portugal, mercê deste instrumento económico-diplomático, passou a usufruir de uma nova vaga de investimentos fortemente centrados, é certo, no sector imobiliário, mas por sinal, acabou beneficiando um dos sectores mais afectados pelo momento de retracção da economia. É certo, como sempre, que logo se ergueram as vozes da desgraça sobre a perda de soberania do conceito e propósito originário do espaço Schengen. Portugal tornar-se-ia num paraíso de bandidos e branqueamento de capitais, abrindo-lhes as portas da Europa. Financeiramente poderosos encontrariam agora uma nova e larga porta de entrada. Alarmismos que o tempo se encarregou de desmistificar. Paulo Portas abriu o país a investidores – a medida, essa, atraiu já mais de 300 milhões de euros – colocou Portugal no radar de novos parceiros, criou barreiras à vulgarização da medida e permitiu nomeadamente acelerar a retoma de muitos sectores. Em suma, criamos mais emprego, capitalizamos mais depósitos e vendemos mais. À espreita fica porém a retoma do investimento produtivo de origem estrangeira, esse sim o reduto de esperança, já não da saída da crise, mas do relançamento económico do País. 18
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Gralha-de-nuca-cinzenta (Corvus monedula)
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O croissant andaluz Não obstante os repetidos apelos à construção de uma alternativa ao partido no poder, as eleições no passado fim-de-semana em França e em Espanha, confirmaram as preocupações dos eleitores em confiar em novos movimentos partidários ou ideais radicais que possam pôr em causa harmonia e bem-estar social. Deste modo e apurados os resultados, nem Marine Le Pen, Pablo Iglesias ou Albert Rivera tem grandes motivos de festejo. Apontados à partida e face a todas as sondagens como grandes vencedores da noite eleitoral, os novos Tsipras franco-espanhois, testemunharam da cautela e receios do eleitorado. Os números da abstenção são aliás a profunda percepção da indiferença gritante perante estes novos movimentos. Em Paris, Sarkosy – que há anos até chamou de energúmenos [“racaille”] aos jovens de um bairro referenciado da capital, anunciado aos moradores que se livraria deles – obteve a confiança de uma França temerosa dos excessos da extrema-direita, demasiado preocupada em romper os acordos Schengen e radicalizar as suas políticas de emigração e vizinhança, deixando atemorizados muitos dos seus potenciais eleitores. Já em Espanha, os recém-criados Podemos e Cuidadanos pareciam poder constituir-se como a preferência dos eleitores, o que não veio acontecer pelas mesmas razões que levaram ao fracasso do resultado da extrema-direita francesa. Ainda que todas as sondagens apontassem no sentido inverso, subsiste uma enorme desconfiança quanto à real capacidade de serem alternativa mais do que uma moda. Assim, aproximação das eleições em Portugal deixa antever o surgimento de várias réplicas destes fenómenos. Genuinamente cívicos ou barrigas de aluguer, mas serão muitos. Resta saber se Passos, Costa e Portas estão mais preocupados em focar-se no combate aos resultados que possam ter estes movimentos e as matemáticas a que possam obrigar ou continuar indiferentes e convencidos da marginal expressão eleitoral dos mesmos. 20
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Garรงa-branca-grande (Egretta alba)
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“Ménage a trois” Os resultados das eleições municipais francesas fizeram ecoar os alarmes do partido socialista gaulês. Em profunda agonia e face à mais que provável possibilidade de nova hecatombe eleitoral nas europeias de Maio, assim como consciente da necessidade extrema de um tónico de popularidade, o Presidente francês vira-se forçado a ceder à tentação de formar um governo que agradasse à direita sem retirar a esquerda do poder. Tão frontal quanto directo, o novo inquilino do Palácio de Matignon é uma profunda ameaça à sucessão de Hollande. Valls é um espanhol naturalizado francês, que não gosta do nome socialismo. Fez-se conhecido entre os seus pares como socialista de direita e reconhece que esteve farto da vida política, especialmente da do seu próprio partido, que estava a ser conduzida pela relação de um casal. Inflexível na forma como tratou os assuntos da imigração ilegal e a deportação dos ciganos, permitiu-lhe granjear uma simpatia ímpar na direita francesa. Não é aliás infrequente encontrarem-se referências a Valls como o novo “Sarkosy socialista”. Mas será suficiente para aguentar o descontentamento generalizado de uma França fortemente vergada às disposições de Berlim e Bruxelas? A escolha de Ségolène Royal completa este ménage a trois, numa tentativa desesperada de agradar a gregos e troianos. Poderemos acreditar que Hollande, tão odiado quanto desesperado, procurou arrastar Valls para a impopularidade do cargo e das decisões que tomará e permitir-lhe renovar a sua imagem junto do eleitorado. A história essa, encarregar-se-á de nos desvendar o final deste complexo triângulo em pouco amoroso, na evidente certeza porém que ao procurar ganhar a direita sem perder a esquerda, François Hollande perderá a esquerda sem nunca ter ganho a direita. 22
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Abelharuco (Merops apiaster)
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