PELOURINHOS ALÉM TEJO
ANTÓNIO LACERDA NOBRE
PELOURINHOS ALÉM TEJO
edição:
Edições Ex‑Libris ® (chancela Sítio do Livro)
título:
Pelourinhos Além Tejo
autor:
António Lacerda Nobre
capa:
Patrícia Andrade
paginação:
Paulo S. Resende
1.ª edição Lisboa, junho 2015 isbn:
978‑989‑8714‑20‑6
depósito legal:
395283/15
© ANTÓNIO LACERDA NOBRE publicação e comercialização
Rua da Assunção n.º 42, 5.º Piso, Sala 35 | 1100‑044 Lisboa www.sitiodolivro.pt
Este livro é dedicado à minha família. A ti, Xana e a vocês, Tiago e Francisco.
Um agradecimento especial à minha mãe, Teresa Brito, pela revisão deste trabalho, e ao meu pai, Fernando Lacerda Nobre e a seu primo Frederico George Matos Rodrigues, pelo trabalho fotográfico desta publicação. Um agradecimento também muito especial à Fernanda e ao Zé. Agradeço ainda aos meus amigos: Elisabete Valgode, Isabel Oliveira, João Oliveira, Ricardo Vieira, Fátima Cândido e Vítor Dionísio. Ao Raul Gouveia e Irene Bañon que contribuíram com as fotografias e coordenadas de alguns Pelourinhos e ao Carlos Cunha, com quem comecei a redigir estas linhas e que me ajudou e incentivou nas várias etapas deste trabalho. Agra‑ deço ainda à querida Luísa Moreno, com quem partilhei a aventura da edição desta publicação. A todos o mais sincero obrigado. Agradeço também ao Dr. André Madrugas Coelho, Dr. António Jerónimo, Dr. Barreiros, Dr. Carlos Varão, Dr. Emílio Moitas, Dr. Francisco Galego, Dr. Gentil Cesário, Dr. Homero Flor, Dr. José Pereira Malveiro, Dr. Luís Barros, Dr. Luís Santos, Dr. Nuno Beja, Dr. Nuno Leitão, Dr. Rui Jesuíno, Dr. Valter Santos, Dr.ª Ana Isabel, Dr.ª Ana Morais, Dr.ª Ana Tendeiro, Dr.ª Helena Ribeiro, Dr.ª Isabel Gordo, Dr.ª Júlia Silva, Dr.ª Madalena Guer‑ reiro, Dr.ª Maria Augusta Valente, Dr.ª Maria de Lurdes Galvão Rodeia, Dr.ª Milene Carvalho, Dr.ª Alexandra Quitalo, Dr.ª Olga Ribeiro, Dr.ª Paula Ribeiro, Dr.ª Paula Santos, Dr.ª Teresa Cunha Sardinha, Dr. Joaquim da Junta de Freguesia de Lavre, Dr. Luís Galvão, Dr. Manuel Galvão, Eng.º Gonçalo Crisóstomo, Dr. José Caldeira, Fundação Alfredo Calado, Museu Municipal de Alcochete, Museu Municipal de Ferreira do Alentejo, Museu de Marinha de Almada, Direção Geral do Território, Museu Municipal de Faro e Museu Municipal de Lagos.
“Mas o homem não via nele a obra de arte, nem a sua antigui‑ dade, nem o seu préstimo – a não ser para prender à coluna a arreata do jumento. Pobre Pelourinho que tão dolorosamente foi compreendido por essas terras de Portugal.” Luís Bonifácio (1955)
Índice Introdução 15 A Pesquisa
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Composição do Guia
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Estado de Conservação
21
A História
25
O Foral
27
O Símbolo
29
Distrito de Santarém
31
Distrito de Setúbal
43
Distrito de Portalegre
79
Distrito de Évora
137
Distrito de Beja
183
Distrito de Faro
223
Conclusão 259 Créditos Fotográficos
261
Introdução Durante os anos em que se prolongou este trabalho, fui perce‑ bendo que o interesse está no estudo dos Pelourinhos desapareci‑ dos ou dos quais há pouca informação. Isto acontece especialmente pela possibilidade que nos é dada de podermos elaborar uma história em torno da investigação, que poderá culminar com uma verdadeira interpretação dos factos históricos. Pouco haverá por dizer sobre uma povoação que ergue o Pelourinho na praça pública e que o mantém no lugar certo. A procura pelos fragmentos da História aguça o interesse da des‑ coberta. Permite um maior envolvimento, no sentido de levar‑nos a querer perceber melhor o que se nos escapa. A investigação começa na biblioteca, procurando a interpretação dos textos, análise de notas e apontamentos de autores com a consulta das suas obras. A reunião do material para estudo é uma das tarefas de maior importância para o desenrolar das investigações. Depois de concluída esta fase, segue ‑se a pesquisa nos museus, arrecadações e arquivos, onde é vulgar encontrarmos muitas referências importantes. Quando finalmente chegamos ao terreno propriamente dito, junto das populações, ruínas e lugares há muito esquecidos, e onde as informações que pesquisá‑ mos diferem das locais, procuramos perceber e interpretar os factos à nossa maneira. Elaboramos um esquema local e imaginamos o pas‑ sado recorrendo ao presente. Construímos a História. Os motivos, as histórias, os argumentos, os factos são muitas vezes alvo de reformulação para encontrar o rumo certo para a descoberta do paradeiro dos Pelourinhos desaparecidos, chegando mesmo a ser usada a argumentação e romantização dos textos para dar melhor ênfase aos mesmos. Esta pesquisa deve ser encarada, como um trabalho elaborado por um amador, entusiasta da História de Portugal, que procura, 15
através da leitura e análise de textos de outros autores, adicionar algu‑ mas pistas que poderão contribuir para descobertas que nos levem no caminho certo. Para aumentar a veracidade deste trabalho, quis garantir que as observações locais por mim efetuadas se basearam sempre no próprio local, contribuindo para uma observação mais direta e verdadeira dos locais observados, assim como uma melhor caracterização dos espaços envolventes. A escolha das povoações a sul do rio Tejo foi determinante para a elaboração deste trabalho. É aqui que se encontra o maior número de Pelourinhos derrubados e desaparecidos, daí que a sua pro‑ cura se torne mais interessante. Nesse sentido, procurei reunir todas as povoações que têm ou tiveram Pelourinho. Quanto às que tiveram, procurei perceber se ainda existem essas pedras e qual o seu paradeiro. A preservação e conservação do nosso Património estão longe de ser uma prioridade. Desta maneira, é natural que se extinga este legado, uma vez que o seu fim é frequentemente a degradação e a perda de muitas e importantes peças. Este descuido a que está votado o Património, facilita o roubo, o saque, o aproveitamento para fins pessoais daquilo que deveria ser conservado, reedificado e recons‑ truído, para bem de todos e do país. O Património histórico é uma herança que deve ser conservada, garantindo às próximas gerações o seu usufruto, como testemunho da história desta nação. Durante as viagens de pesquisa que tenho feito por este país fora, verifico com preocupação o que tem sido feito com os nossos Pelouri‑ nhos e o valor que lhes é atribuído. Se é verdade que há quem se dedi‑ que à sua conservação, a realidade é que se trata de uma minoria. Felizmente hoje, cada vez mais, Juntas de Freguesia e Câmaras Muni‑ cipais estão empenhadas em exibir o seu símbolo de autonomia administrativa local – o Pelourinho, defronte do edifício camarário ou mesmo recuperado e exposto nos museus.
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A Pesquisa Numa tentativa de melhorar as investigações e não deixar de pesquisar pontos que poderiam ser importantes, segui as anota‑ ções de outros autores, como quem segue pistas deixadas nos seus trabalhos, numa intenção de conseguir perceber melhor o que moti‑ vou o desaparecimento de alguns Pelourinhos. Em certos casos, posso dizer que o resultado dessa minha persistência foi compensador, dando novas informações para a investigação. No entanto, por outro lado, apenas serviu para aumentar a necessidade de mais investigação que culminará com a descoberta de mais factos históricos. Depois resolvi ir ao terreno, investigar, sentir, observar, pesquisar e procurar para dar forma e volume à investigação, para poder con‑ cluir sobre as minhas teorias. Saí da biblioteca e do arquivo, para poder compreender melhor a história. Percebi que é no terreno que se conhecem os lugares e que se encontram as respostas a muitas interrogações, mesmo oitocentos anos depois…
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Composição do Guia Tratando‑se de um guia de campo com aspetos historiográficos, pretende ser leve nos seus conteúdos, de fácil consulta e identificação. Introduzi as coordenadas de GPS para facilitar a localização e visualização do Pelourinho no meio, hoje em dia muito utilizadas, principalmente quando se procuram referências pouco descodifi‑ cadas em lugares pouco urbanizados, ou pouco acessíveis e de con‑ sulta rápida. Quero no entanto fazer uma chamada de atenção para a possibilidade de haver um desfasamento entre a coordenada de GPS e o local marcado, apenas nas povoações que não têm Pelourinho erguido. Isto porque, não havendo monumento na praça, torna ‑se difícil determinar o local onde este estaria erguido. O trabalho está dividido por distritos permitindo uma perceção mais fácil da localização. Haverá coordenadas que indicarão museus, armazéns, Câmaras e até habitações particulares, por serem esses os locais de depósito dos fragmentos dos Pelourinhos derrubados. Uma vez que o importante nesses casos é referir a existência de frag‑ mentos que estão referenciados, saber do paradeiro é peça chave. O território nacional está dividido em dezoito distritos. Para este trabalho, vamos mencionar apenas aqueles que se encontram a sul do rio Tejo, com três exceções. A primeira, o distrito de Lisboa, que, a sul do rio, tem as lezírias, as ilhas, os mouchões, onde não há povoa‑ ções. A segunda exceção, o distrito de Portalegre, que faz uma ansa a norte do rio, onde se insere a povoação de Belver, e, finalmente a última exceção, o distrito de Santarém que se encontra dividido pelo Tejo. Serão referidos os distritos de Santarém, Portalegre, Setúbal, Évora, Beja e Faro. Esta publicação refere‑se às povoações que têm, tiveram ou suponho que tenham tido Pelourinhos. É importante referir que apesar de ter recorrido à bibliogra‑ fia disponível para a elaboração deste trabalho, resolvi incluir 19
principalmente notas pessoais e conclusões por mim retiradas da leitura de publicações de outros autores, bem como da minha per‑ ceção intuitiva local, tão importante, como atrás já tive oportunidade de referenciar.
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Estado de Conservação Para melhor compreensão resolvi distinguir os Pelourinhos em vários estados de conservação. −− Pelourinho primitivo, quando há mais do que um e a referência indica que se trata do primeiro; −− Pelourinho fragmentado, quando restam fragmentos do Pelou‑ rinho e há conhecimento do seu paradeiro; −− Pelourinho desaparecido, quando não há qualquer conheci‑ mento da localização dos seus fragmentos, ou restantes pedras que o compunham; −− Pelourinho restaurado, quando há conhecimento de que o Pelourinho sofreu reparação ou obras de recuperação; −− Pelourinho réplica, quando existe uma cópia do Pelourinho totalmente nova; −− Pelourinho desconhecido, quando não há qualquer refe‑ rência à existência de um Pelourinho, mas há uma intuição da sua existência.
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Mapa de Portugal Continental, com os distritos pesquisados para o presente trabalho. Adaptado de mapa cedido pela Direção Geral do Território (www.dgterritorio.pt) como fonte da informação original.
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A História Devemos recuar aos anos do início da fundação do reino de Portu‑ gal, para perceber a importância atribuída aos Pelourinhos. Segundo os relatos mais antigos, é no reinado de D. Dinis, que aparecem os primeiros Pelourinhos. Há referências que indicam que estes eram construídos em madeira, e só mais tarde, passou a usar‑se a pedra, tornando‑os mais resistentes e com uma duração mais verdadeira em termos de tempo. Podemos pensar que terão seguido a ideia das colunas levantadas por todo o império romano, e que têm durado uma imensidão de anos. Há algumas referências ao levantamento de colunas de pedra, por parte dos romanos, na Roma antiga, utilizado para marcar distâncias, ou para servir de suporte a outras estruturas, ou ainda para o embe‑ lezamento dos grandes centros e foruns, e casas particulares como refere Vilhena Barbosa (1874), “… Para que a sua família podesse ver commodamente os actos públicos e ceremonias festivas, que tinham por theatro o Forum, mandou ahi levantar, próximo da sua casa, uma columna de pedra, ou grosso pilar, de pouca elevação, a fim de servir de base a um camarote ou estrado de madeira, que, nas occasioes opportunas, fazia armar em cima da referida columna. O povo dando a esta obra o nome do fundador, denominou‑a columna Moenia.” 1 Em Portugal houve continuidade no levantamento dessas colu‑ nas por parte da nossa monarquia, quer para aplicação dos casti‑ gos, quer para uso como símbolo de autonomia administrativa local, sob a forma de sede de concelhia. Em ambas as situações, chamava ‑se Pelourinho.
1
J. Vilhena Barbosa, (1874), Tomo I, p.255
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No nosso país, e não sabemos desde quando, esta coluna Moenia teve a designação de Picota, tal como refere Vilhena Barbosa (1874), “…chamava‑se picota, o que hoje denominamos pelourinho…”. 2 A Picota, ou Pelourinho, quando servia para castigos era pratica‑ mente para castigos menores. Resolvi incorporar aqui um pequeno excerto retirado das Ordenações Afonsinas, que retrata alguns exem‑ plos destes castigos menores que refiro. Importa ainda mencionar que a tradução deste excerto para língua portuguesa atual, foi gentilmente cedida pelo Dr. André Madrugas Coelho. “... como entrarem, dêem peso às pateiras e às candieiras e depois saibam se elas vendem por esse peso que lhes foi dado, e se provarem que é por menos, pela primeira vez pague trinta reis e pela segunda pague cinquenta e pela terceira seja colocada na picota [ou pelourinho]; e esta mesma pena tenha a candieira se pesar a candeias menos que o peso que lhe for dado; e o carni‑ ceiro se pesar mal a carne e a regateira que não cumpra a almo‑ taçaria que lhe for posta e os que pesarem ou medirem mal. E se o carniceiro pesar por peso falso ou o medidor medir por medida falsa, que sejam presos e condenados e que tenham as penas que são mencionadas no título do corregedor da corte”. 3
2 3
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Idem, Tomo I, p.263 Eduardo Nunes, (1924), Ordenações Afonsinas, Lisboa, ed. Fund. Calouste Gulben‑ kian, imp. 1984 Fac‑simile da ed. de Coimbra: Real Imprensa da Universidade, 1786, Livro 1, tit. XXVIII, item 7, p.182
O Foral Segundo Joaquim Veríssimo Serrão (2001) “A instituição do conce‑ lho assentava num foral ou carta de foral, diploma que regulava a admi‑ nistração, as relações sociais e os direitos e encargos dos moradores. (…) A carta de foral pressupunha a existência de uma terra ou a sua imi‑ nente fundação, o que definia sempre o nascimento de um concelho.” 4 O foral era atribuído geralmente pelo rei, que dava desta maneira a determinada povoação direitos e deveres. Assim se determinavam os pagamentos, as terras, as portagems, as obrigações, etc, enfim, tudo minuciosamente escrito e aplicado. “ A carta de foral constitui, pois, o melhor garante do direito e da liberdade das povoações, pois ele repre‑ senta o contrato feito diretamente entre o rei e as populações, senho‑ ras da sua vontade e do seu destino, confiantes e seguras que estavam de que o rei lhes faria justiça e as protegia das opressões.” 5 Há também registos de atribuição de foral a povoações, por parte de Senhorios, quer sejam Condes ou Senhores de grandes terras, onde se implantaram pequenas povoações.
4 5
Joaquim Veríssimo Serrão, (2001), I, p.185 Faria e Barros, (1780), in Maria Bigote Chorão (1999)
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O Símbolo Era nos Pelourinhos que se castigavam os condenados e depois de lidas as sentenças, era ali que as primeiras condenações eram apli‑ cadas. Ainda antes de haver casa da câmara, ou prisão, os infratores eram presos no Pelourinho, onde permaneciam durante o tempo esti‑ pulado para a pena. Normalmente, os ferros existentes nos Pelouri‑ nhos, tinham como função, ali estar presas as correntes que prendiam os condenados. Enquanto perdurasse a pena, eram os seus familiares que cuidavam dos presos, sendo os mesmos que limpavam e davam de comer ao condenado, que permanecia ao sol e à chuva e princi‑ palmente, à vergonha e humilhação públicas. Devemos lembrar que, apesar da existência do Pelourinho, havia também a forca, para cum‑ primento das condenações à morte. Os primeiros Pelourinhos erguidos eram constituídos por madeira, serve de exemplo o Pelourinho de Évora. Acabaram substituídos por pedra. A utilização da madeira nos Pelourinhos não tem idên‑ tica prática noutros países, nem mesmo na Roma antiga, há conheci‑ mento desta prática. O que poderá constituír uma divergência sobre a origem dos Pelourinhos como sendo romana. De um modo geral, os Pelourinhos eram erguidos no centro da praça da vila, colocados ao nivel do pavimento. Terá sido depois levantado sobre degraus para lhe dar um ar de destaque e mais altivo, sobressaindo no meio da população ali reunida. Deverão ter come‑ çado por ser degraus redondos, seguindo‑se uma coluna, com uns ferros. Só anos mais tarde, houve necessidade e interesse em desen‑ volver um Pelourinho mais perfeito e mais rico do ponto de vista arquitetónico, à medida que o próprio meio urbano evoluía. De um modo generalizado, a constituição do monumento Pelouri‑ nho segue o seguinte raciocínio, descrito por Ataíde Malafaia (1997). A plataforma constituída por degraus (em número variado, mas 29
habitualmente três ou quatro), era seguida de uma base do Pelouri‑ nho. Segue‑se a coluna, na qual se insere a base desta, o fuste, o capi‑ tel e em alguns casos, existe ainda a gripa. Esta gripa, compunha ‑se de elementos leves como espadas, pequenos ornamentos onde por vezes surge a esfera armilar.6 Segundo Pinho Leal (1875), a construção dos Pelourinhos não obrigava a seguir determinada linha, eram simplesmente erguidos pela mestria do pedreiro que em determinadas povoações, terão apli‑ cado os mais básicos saberes da arte de trabalhar a pedra e em outros casos, obras dignas de concurso de belas artes. Muito dependia dos dinheiros da câmara local. 7 “A palavra Pelourinho, símbolo augusto e idolatrado da auto‑ nomia e das franquias locais, vem do latim pila, piloria, pilorium, piloritim, e, como já dissemos, corresponde à antiga colunna moenia dos romanos, erguida em frente da domus municipalis, também chamada Paço ou Casa da Câmara. (…) Além do docu‑ mento oficial, o pelourinho servia para nele se exporem e punirem os réus de certos delitos, a ver se, por vergonha, havia arrependi‑ mento e emenda.” 8 O Pelourinho também era conhecido como símbolo de opres‑ são, visto servir para junto dele serem expostos à vergonha pública os condenados, como refere José Ladeiro (1955), “Assim ao pelouri‑ nho amarrava‑se o merceeiro, que roubava no peso, tendo o delinquente as balanças penduradas ao pescoço.” 9
6 7 8 9
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Ataíde Malafaia, (1997), p.59 Pinho Leal, (1875), VI, p.552 José Manuel Ladeiro, (1955), ano 1, n.º 18, p.7 Idem
Distrito de Santarém
Mapa do distrito de Santarém. Adaptado de mapa cedido pela Direção Geral do Território (www.dgterritorio.pt) como fonte da informação original.
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pelourinhos além tejo
Concelho de Benavente Freguesia de Benavente Praça do Município
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Pelourinho erguido N38º 59.017’ W8º 48.588’
d i s t r i to d e s a n ta r é m
Em 1180 a povoação de Benavente foi entregue à Ordem de Avis, como prémio da ajuda prestada pelos seus cavaleiros durante a con‑ quista do castelo de Porto de Mós.10 Dois anos depois, foi constituído o segundo concelho a sul do rio Tejo, Benavente.11 Recebeu foral de D. Sancho I em 1200 e de D. Afonso II, em 1218, recebeu também foral de D. João I, em 1404.12 Recebeu ainda foral novo de D. Manuel em Lisboa a 16 de janeiro de 1516.13 Em 1874 houve necessidade de remover o Pelourinho, para se efe‑ tuar obras na praça, nomeadamente no edifício da Câmara. Diz José Manuel Ladeiro (1955) que “…durante muitos anos se guardou um fragmento [do Pelourinho] no edifício da Câmara…”14 Há ainda a indicação de que houve um terramoto em 1531 que causou grande destruição em Benavente, pelo que a reconstrução do Pelourinho poderá ter sido feita ainda depois deste desastre.15
10 11 12 13 14 15
Joaquim Veríssimo Serão, (2001), I, p.172 José Manuel Ladeiro, (1955), ano 1, n.º 7, p.7 Ataíde Malafaia, (1997), p.124 Pinho Leal, (1873), I, p.384 José Manuel Ladeiro, (1955), ano 1, n.º 9, p.7 Idem
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pelourinhos além tejo
Concelho de Benavente Freguesia de Samora Correia
Pelourinho desaparecido
Teve foral dado por D. Manuel, em Santarém, a 13 de abril de 1510. Foi comenda da Ordem de Santiago.16 A povoação pertenceu aos Duques de Aveiro. Até 1834, teve uma companhia de ordenanças com os respetivos oficiais. 17 Em 1836, foi extinto o concelho de Samora Correia, tal como muitos outros.18 Ataíde Malafaia (1997) refere a existência de uma carta da junta de freguesia, onde há conhecimento por parte dos habitantes mais idosos, de ter havido Pelourinho na vila.19 José Manuel Ladeiro (1955) faz referência “… aos sismos que em 26/1/1531 e 23/4/1909, assaltaram furiosamente a vila (…) fez das suas em Benavente, Salvaterra de Magos, Samora Correia, e Santo Estevão”20, mostrando assim a grande devastação que deverão ter provocado nestas vilas, e muito provavelmente a destruição dos seus Pelourinhos.
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Ataíde Malafaia, (1997), p.547 Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, (1912), VI, p.518 Batista de Lima, (1932), I‑II, p.452 Ataíde Malafaia, (1997), p.547 José Manuel Ladeiro, (1955), ano 1, n.º 9, p.7
d i s t r i to d e s a n ta r é m
Concelho de Coruche União das freguesias de Coruche, Fajarda e Erra Largo do Pelourinho
Pelourinho restaurado N38º 57.504’ W8º 31.619’
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pelourinhos além tejo
Coruche foi conquistada por D. Afonso Henriques em 1166, mas perdida para os mouros em 1180. Foi reconquistada dois anos mais tarde, em 1182.21 Foi o primeiro concelho a sul do rio Tejo a ser constituído.22 Neste ano, D. Afonso Henriques mandou‑a povoar, dando‑lhe foral e muitos privilégios, que foram confirmados por D. Sancho I em 1189. Em 29 de Janeiro de 1218, D. Afonso II, con‑ cedeu foral novo em Santarém, o qual confirmou e ampliou todos os privilégios concedidos anteriormente. Em 28 de março de 1513, D. Manuel concede foral novo, confirmando os antigos e aumentando ‑os.23 Em 2013, com a nova reorganização administrativa do territó‑ rio, as freguesias de Coruche, Fajarda e Erra, juntaram‑se para consti‑ tuir uma só freguesia. Diz Gustavo de Matos Sequeira (1949) o seguinte sobre o Pelouri‑ nho da vila, “ Cabeça e remate do antigo pelourinho da vila, desman‑ chado hà vários anos, e cuja coluna se meteu numa construção recente.” O autor diz ainda que a coluna foi embutida numa construção da vila. Em 1941 reconstruiu‑se o Pelourinho, com elementos pertencen‑ tes ao primitivo. Foi recolocado no seu local de origem.24 Quanto à coluna, deve continuar embutida na parede da referida habitação, assim como outras peças a ele pertencentes.
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Gustavo de Matos Sequeira, (1949), III, p.32 José Manuel Ladeiro, (1955), ano 1, n.º 7, p.7 Francisco Câncio, (1939), III, p.5 Gustavo de Matos Sequeira, (1949), III, p.34
d i s t r i to d e s a n ta r é m
Concelho de Coruche União das freguesias de Coruche, Fajarda e Erra Largo do Pelourinho
Pelourinho desaparecido
Recebeu foral de D. Manuel, em Lisboa, a 10 de julho de 1514.25 “Em 1832, era concelho na comarca de Santarém.” 26 Segundo Francisco Câncio (1939), foi sede de concelho, com hospi‑ tal e Pelourinho. “Dêste seu passado nada existe, nem sequer ruínas.”27 Já em 2013, com a nova reorganização administrativa do território, as freguesias de Coruche, Fajarda e Erra juntaram‑se para constituir uma só freguesia. Quando estive na povoação, um residente falou‑me da antiga vila, da cadeia que foi derrubada há dois anos, do antigo hospital e da praça do Pelourinho. Foi aliás esta praça, que encontrei ajardi‑ nada, com uma bica e um palco para festas. Tantas vezes se substituiu o Pelourinho pela bica...
25 Francisco Câncio, (1939), III, p.20 26 Batista de Lima, (1932), I, p.319 27 Francisco Câncio, (1939), III, p.20
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pelourinhos além tejo
Concelho de Salvaterra de Magos
União das freguesias de Salvaterra de Magos e Foros de Salvaterra Praça da República Pelourinho desaparecido
A povoação recebeu foral por D. Dinis em 1295 e foral novo por D. Manuel em Lisboa, a 20 de agosto de 1517.28 Em 1821, era concelho da comarca de Santarém. Em 1837, foi constituído um novo conce‑ lho, mantendo Salvaterra à cabeça, segundo carta de Lei de 23 de abril de 1837. Em 24 de outubro de 1855, foi extinto o concelho.29 Em 2013, com a nova reorganização administrativa do território, as freguesias de Salvaterra de Magos e Foros de Salvaterra, juntaram‑se para cons‑ tituir uma só. José Manuel Ladeiro (1955) faz referência “… aos sismos que em 26/1/1531 e 23/4/1909, assaltaram furiosamente a vila (…) fez das suas em Benavente, Salvaterra de Magos, Samora Correia, e Santo Estevão.”30 Hoje a Praça da República, onde deverá ter estado o Pelourinho, está ajardinada. No lado norte desta praça está o edifício da Câmara. Na mesma praça está também a igreja Matriz e a biblioteca. Do Pelou‑ rinho não há indício, a não ser os fragmentos que fazem parte da esca‑ daria de acesso à porta das traseiras da própria igreja. Quem sabe ao que pertencerão…
28 Ataíde Malafaia, (1997), p.546 29 Batista de Lima, (1937), V‑VI, p.271 30 José Manuel Ladeiro, (1955), ano 1, n.º 9, p.7
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d i s t r i to d e s a n ta r é m
Concelho de Chamusca União das freguesias da Chamusca e Pinheiro Grande Praça da Câmara
Pelourinho desaparecido (réplica em madeira) N39º 21.596’ W8º 28.844’
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