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PONTE SOBRE O TEJO UM CONTRIBUTO PARA A SUA HISTÓRIA
ALBERTINO ALVES
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FICHA TÉCNICA edição: Edições Ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro) título: Ponte sobre o Tejo – Um Contributo para a sua História autor: Albertino Alves capa: Patrícia Andrade paginação: Alda Teixeira 1.ª Edição Lisboa, julho 2016 isbn: 978-989-8714-81-7 depósito legal: 412741/16 © Albertino Alves
publicação e comercialização:
www.sitiodolivro.pt
O autor não escreve conforme com o Acordo Ortográfico.
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RAZÃO DE SER – O PORQUÊ DESTE LIVRO
A Ponte sobre o Tejo foi a Obra da minha Vida. Deixei o Gabinete da Ponte em meados da década de 70. Após a conclusão da 1.ª Fase da Obra era habitual uma troca de cumprimentos com o então Director Eng.º Canto Moniz todos os anos, a 6 de Agosto, data da sua inauguração. Recordo o jantar de confraternização no Restaurante Mónaco, na Estrada Marginal, nos 20 anos da Inauguração da Ponte, com a Ponte sobre o Tejo como pano de fundo iluminada com o seu colar de pérolas, destacando-se no Tejo. Pelos 50 anos verifica-se um esquecimento da Obra cada vez maior. Muitos dos colaboradores já não estão entre nós. Surgem registos de discursos formais, opiniões de Embaixadores e até fait-divers encontrados num diário de Obra dos Americanos. Da História da Ponte e da participação Portuguesa, quási nada. É verdade que existem registos sérios e de muito valor com elementos técnicos importantes e fiáveis nos livros editados pelo Gabinete da Ponte sobre o Tejo. 5
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Mas, da História vivida, do ambiente que houve durante a sua construção, praticamente nada. Por isso, e apesar de não trazer grandes novidades, atrevo-me a transmitir as minhas impressões pessoais de uma experiência única que me marcou para sempre, vivida intensamente durante a década de 1960-70. É um contributo que vos deixo e que tentei tornar claro e acessível a todos usando uma linguagem simples, um tanto brejeira, mas séria. Por outro lado, é uma forma de deixar uma singela Homenagem Póstuma ao Eng.º José do Canto Moniz, o Obreiro número um da Ponte sobre o Tejo, um Homem que muito lutou para a construir, contra tudo e contra todos. Que me desculpem a linguagem brejeira, mas ela permite-nos humanizar o nosso relacionamento com os materiais. E reduz o afastamento que existe entre nós, os técnicos, e os outros em geral. Nós temos uma linguagem fechada, hermética, rebuscada, que por vezes nos dificulta a aproximação aos outros. Quando um Engenheiro entra num convívio social em que normalmente se fala de futilidades e começa a discorrer sobre Momentos Flectores e Esforços Transversos, fica tudo estragado. E nós dificilmente conseguimos evitar. Se já foi criado um estatuto especial para os animais, porque não para os materiais? É que os materiais, como os animais, também são bons companheiros. E, em verdade vos digo: Nós, os Técnicos, sem Eles, Materiais, não somos ninguém!
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DEUS QUER O HOMEM SONHA A OBRA NASCE! Fernando Pessoa
Nos cinquenta anos da Ponte uma romagem de nostalgia Recordações Pessoais da década 1960-70
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HOMENAGEM PÓSTUMA
Ao Engenheiro José do Canto Moniz Obreiro número um da Ponte sobre o Tejo
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E Vós, TÁGIDES minhas Calem-se Ítalos, Galos, Germanos, Checos, Teutões Ingleses, Americanos, Canadianos, Nipões A Fama das BELAS PONTES que fizeram Que Eu canto A PONTE SOBRE O TEJO Que, em BELEZA a todas suplantaram Com as estéticas curvas que os Engenheiros projectaram E com muito Engenho e Arte executaram!
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INTRODUÇÃO Deixo-vos este contributo Para a História da Ponte sobre o Tejo É a minha versão Inconveniente E incorrecta Politicamente E, como uma leitura Com jargão de Engenheiro Pode ser uma chumbada. Com um estilo brejeiro Fica amenizada. Que me desculpem, pois A linguagem ligeira Mas é mais directa E é mais certeira Que a linguagem formal E um contributo Para que a História da Ponte Se mantenha viva E actual. É que a verdade oficial É sofisticada. Fala de tudo Mas não diz nada! 13
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É feita por gente avisada Que actua com tino Gente ilustrada Que bebe do fino!
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A CONSTRUÇÃO DA PONTE Na realização de um sonho Há imaginação. Uns laivos de loucura E determinação. Nem mesmo Salazar Construir a queria Na sua obsessão De Produzir e Poupar Como a pagaria? E depois havia O Ultramar. E uma guerra sem fim Que era preciso travar. Construir uma Ponte sobre o Tejo? Nem pensar! Até que um dia O Homem que sonhou Veio junto de Salazar E a medo explicou: Se em mim confiares Eu construo-te a Ponte Sem nada pagares! Eu não sou charlatão. Mas nem Orçamento de Estado Nem despesas militares Te irão afectar! Nem juros nem amortização. 15
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Não pagas nem um tostão! E os teus auxiliares Para trabalhares? Eu reúno uns jovens Que andam por aí Desenraizados E mal aproveitados Tu és de confiança Ficas por fiador Junto da Finança! Aqui não há enganos Com portagens reduzidas A Ponte paga-se por si Em menos de vinte anos. A Ponte será tua! E terás uma consolação. Do Orçamento do Estado Não pagas nem um tostão! Esta tentadora promessa Teve aprovação E a realidade Superou a ficção. Calaram-se os Velhos do Restelo Calou-se a oposição E já era muito a medo Que havia contestação. E então da parte do Povo Houve sempre aceitação! 16
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ACTUALIDADE Cinquenta anos passados A imagem que passa É de uma desilusão. O Herói consagrado Na Inauguração Não mais foi falado. E, com ironia Foi despedido Das funções que exercia Com um simples cartão Com palavras fatais: “Vossa Excelência, Senhor Engenheiro, Trabalha demais” Esta foi a vingança Dos seus rivais. Este despedimento Foi uma heresia O obreiro numero um da Ponte Não o merecia. E agora aparecem Umas utopias: Elevadores para passear turistas na Ponte É uma fantasia!
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Prever para o futuro da Ponte Corridas de peões e bicicletas Polos de convívio social E a Meia Maratona de Lisboa Nem sequer é utopia É uma tonteria! Outra imagem que passa É a de uma Ponte Cuja História é feita Com citações de jornais Conversas de políticos E cerimónias oficiais. A Ponte merecia mais! No que à estética diz respeito Procura-se o Número de Ouro Como quem anda Na demanda De um Tesouro. Na minha modesta opinião No Parthenon ou nos Caracóis Até mesmo nos Dedos ou no Umbigo Qualquer Zé dos Anzóis Consegue encontrar o Phi. Mas, em verdade vos digo, Na Ponte sobre o Tejo Em que me vejo e revejo Foi coisa que eu nunca vi! 18
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E a ideia feita Que só os Americanos Trabalharam na Ponte. Até os políticos Com os seus diários E os seus discursos A fizeram passar. Rivalidades internas Verdades oficiais Já temos que basta. Não queremos mais!
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COLABORAÇÃO LISBOA – SAN FRANCISCO Nas minhas recordações Tenho em memória O ANEXO 3 Da Revisão do Projecto Da Ponte sobre o Tejo. É um estudo tipo Para as Passagens Superiores Na Ponte sobre o Tejo Elaborado por nós em Lisboa E levado à TUDOR em San Francisco Como colaboração. E foi seguido Com muita atenção! Podem consultar Para confirmação! Recordo a missão Que foi a San Francisco Para a apresentação. E ainda com o estudo Do Viaduto de Alcântara Na zona de transição Entre os Pilares em H E os outros Pilares Mais rentes ao chão. E a curva para o comboio Passar no futuro Sem obstrução. 21
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Estruturas diferentes Diferentes comportamentos Difícil conciliação Mas há sempre Uma solução E nós encontramo-la Na Junta de Dilatação Da transição. Foi uma solução estudada Com o Engenheiro Ferry Borges Que integrava a missão. Foi num quarto de Hotel em San Francisco À noite, ao serão Que preparamos os elementos Para a apresentação. E uma garrafa de Bom Whisky Ajudou-nos a encontrar A solução! Mais tarde o ZÉ Juntou-se à missão Veio de Nova York E seguiu os trabalhos Com muita atenção! Em San Francisco visitamos A Golden Gate e a Bay Bridge De San Francisco Voamos para o Estado de Michigan Para visitarmos A Ponte de Makinac na zona dos índios 22
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Era ainda tenrinha Por uma questão de idade E toda verdinha! Para não destoar E se integrar Numa floresta Que era lindinha! Daí seguimos para Nova York Ponte George Washington a trabalhar E a Verrazano-Narrows ainda a começar! Tudo em oito dias. Só na BROADWAY Consegui descansar! Eu lembro-me bem Foi em Julho de 1961 Uma semana antes De me casar! E, para cumprir A disciplina do ZÉ, Ainda tive que fazer O relatório da missão Antes de me ausentar! Atrasar o relatório da missão Uma semana Por causa da minha Lua de Mel? Nem pensar!
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Isto é só um exemplo De como o ZÉ nos fazia Trabalhar!
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O AMBIENTE EM LISBOA O ambiente em Lisboa Na fase da construção Era de curiosidade Muita simpatia E admiração. As visitas guiadas Eram o dia a dia. E, de fazer perguntas Ninguém se coibia. A Imprensa Diária Seguia com atenção A construção da Obra E a sua evolução. Fotografias Imagens Muitas reportagens. As Torres no Rio a crescer Os Pilares do Viaduto a subir 24 horas por dia, sem parar A aranha os cabos da Ponte a fiar Num contínuo vai-vem Os Tês do Viaduto a crescer Suspensos no Céu. A viga de rigidez da Ponte a aumentar Suspensa pelos pendurais. A Imprensa sempre a fotografar E a publicar. Os Oh! Oh! de espanto foram tais Que era demais! 25
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EPISÓDIO DO 1.º DE ABRIL Até que um dia Em 31 de Março Um jornal Fez uma fotografia Mostrando a Ponte Com um pequeno troço Da viga de rigidez Já colocada. E, no Primeiro de Abril Publicou outra fotografia Com a viga de rigidez Já acabada! Meu Deus! Milagre! O que é que se passou? E o jornal explicou: Nas Obras da Ponte Há muita pressão Foi preciso fazer um forcing Toda a noite ao serão Para cumprir os prazos Com determinação. Foi esta a razão! Os passageiros dos comboios Da Linha de Cascais Pensaram ter tido Alucinações. E o mesmo se passava Com os peões. 26
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A Ponte estava igual Não aconteceu nada. Era tal o espanto Que o jornal Teve que explicar: A fotografia não é da Ponte sobre o Tejo É da Ponte FORTH ROAD na ESCÓCIA Uma Ponte Britânica quási geminada Numa fase de construção mais avançada. Toda a gente compreendeu E admirou O sentido de humor Que o jornal Mostrou.
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PRÉMIOS LIMÃO E LARANJA A Imprensa várias vezes O Eng.º Canto Moniz limonou. Isto é, concedeu-lhe o “PRÉMIO LIMÃO” Prémio que muito o honrou Pela agressividade e acidez Que mostrou. Mais tarde, Quási quando a Obra acabou, O Eng.º Canto Moniz alaranjou. Isto é, teve o “PRÉMIO LARANJA” Pela simpatia e doçura Que aparentou. Muita popularidade entre o Povo Grangeou. Sempre os seus colaboradores Considerou. Respeitou, E apoiou.
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