Da Tragédia à Felicidade

Page 1

John Mota

Romance

Da Tragédia à Felicidade

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

Da Tragédia à Felicidade

C

John Mota

John Mota nasceu em Tomar em 1960. Filho de pais católicos, estudou na escola Jácome Ratton da mesma cidade. Aos dezassete anos emigrou para a Suíça, onde vive actualmente. Exerceu várias profissões na hotelaria e restauração. Hoje em dia é motorista profissional e autor nos tempos livres.

www.sitiodolivro.pt

Depois de perder a mulher amada, Paulo consegue ultrapassar este período trágico da vida através do budismo zen. Anos mais tarde, o seu filho, Daniel, conhecerá igualmente um começo de vida conjugal muito complicado e cheio de dissabores… No caminho da vida, pai e filho vão aprender a deixar ir o sofrimento para, assim, agarrarem a felicidade.


w

ie

ev

Pr


w

Pr

ev

ie

Da Tragédia à Felicidade


w ie ev EDIÇÃO: edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro) TÍTULO: Da Tragédia à Felicidade AUTOR: John Mota REVISÃO: Liliana Simões CAPA: Ângela Espinha PAGINAÇÃO: Susana Soares

Pr

1.ª EDIÇÃO Lisboa, novembro 2018

ISBN: 978-989-8821-80-5 DEPÓSITO LEGAL: 446957/18 © John Mota

PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt


Pr

ev

ie

w

Da Tragédia à Felicidade

John Mota


w

ie

ev

Pr


w

1

ie

“A mudança é a lei da vida. Aqueles que apenas olham para o passado de certeza que perderão o futuro.”

Pr

ev

John Kennedy


w

ie

ev

Pr


w

1

ie

Situada no vale de Santarém, a Quinta das Oliveiras era uma propriedade de cinquenta hectares composta por oliveiras, vinhas, lezírias, uma vivenda e um enorme pavilhão, que servia de abrigo aos animais e ao armazenamento de cereais. Entre os dois edifícios, existia um grande tanque em cimento, que no Verão servia de piscina a Paulo de Carvalho, filho único de Aloísio e Esmeralda de Carvalho, proprietários da quinta.

Pr

ev

Paulo era um jovem de vinte cinco anos; moreno, de cabelos pretos e olhos escuros; um metro e oitenta; com ombros largos e cintura delgada; sério, trabalhador e responsável. Sempre que voltava à quinta da família, ajudava os seus pais. Contrariamente ao desejo destes, resolveu seguir uma profissão bastante diferente de agricultor. Quando terminou os estudos de Agronomia, fez um curso profissional de Fotografia.

Fazia um ano que vivia em Lisboa e quatro meses que havia perdido o seu emprego. A revista para a qual trabalhava fechou as portas. Ao visitar um site da internet de fotografia, encontrou um anúncio para um posto de fotógrafo em Tóquio, no Japão, país que desde muito novo o fascinara. Decidiu concorrer e, para sua surpresa, a sua candidatura foi a escolhida, pela prestigiada revista de

9


John Mota

moda Gendai Fasshon. Facto muito raro no mercado da fotografia que é muito fechado. Tinha enviado alguns dos seus trabalhos e estes gostaram. De malas feitas, estava de partida para a terra do sol nascente.

w

— Tens a certeza que queres partir para tão longe? — perguntou Esmeralda.

ie

— Sabes que eu sempre desejei visitar o Japão, e não é tão longe quanto isso. Hoje em dia, podemos viajar para qualquer parte do mundo em poucas horas. Agora que tenho uma oportunidade não vou largá-la. Aliás, vou exercer a minha profissão. — Se não conseguires adaptar-te, volta logo meu filho — disse Esmeralda.

ev

— Sabes que podes contar connosco? — perguntou Aloísio. — Eu já vos expliquei que não quero viver dependente de vocês.

Pr

— Está bem, não leves a mal, mas sabes que os pais preocupam-se sempre com os filhos. Desejo-te boa viagem, filho — disse o Aloísio. — Quando chegares, telefona-nos — pediu Esmeralda. — Quando chegar telefono, prometo. Abraçaram-se longamente. — Papá e mamã, até breve. — Até breve — disseram em uníssono.

A viagem durou quinze horas. Paulo estava em Tóquio, uma cidade com uma cultura bem diferente da portuguesa. 10


Da Tragédia à Felicidade

w

Tinha comprado um pequeno livro de hiraganas e katakanas para aprender alguns rudimentos de japonês, uma boa parte dos japoneses não fala inglês. A revista tinha-lhe disponibilizado um pequeno apartamento durante sete meses, mais um que a duração do contrato, com quarto, cozinha e casa de banho, um luxo em Tóquio. Estava situado no bairro Shinjuku, que tinha muita animação tanto de dia como de noite. Os estúdios da revista, para a qual iria trabalhar, situavam-se no bairro Daikanyama. Dispunha de um mês para se familiarizar com a cultura e os costumes do país.

ev

ie

Ayumi Katô, a directora da revista, aconselhou-o a visitar as principais cidades do país. Quioto foi a escolhida para começar a sua peregrinação. Dirigiu-se à estação dos caminhos-de-ferro de Shinjuku e comprou um Japan Rail Pass, que lhe permitia viajar em comboios de alta velocidade para qualquer parte do Japão durante vinte e um dias. Em seguida, foi ao centro comercial comprar uma caixa de bentõ, que é uma caixa elaborada artisticamente que contém carne ou peixe, arroz e legumes, muito apreciadas pelos japoneses, algumas são obras de arte.

Pr

Chegou a Quioto já era noite avançada, hospedou-se no hotel da estação dos caminhos-de-ferro. No Japão, em quase todas as estações dos caminhos-de-ferro encontra-se um hotel. No dia seguinte, acordou cedo, desejava visitar os locais mais importantes da cidade. Visitou Nijo-jo, castelo imperial com um dos mais belos jardins japoneses, Adashino Nenbutsuji, templo budista com oito mil estátuas que simbolizam os espíritos dos mortos.

11


John Mota

Já passava do meio-dia, quando se dirigiu a um restaurante Hyotki. Desejava provar Kio Kaiseki, uma especialidade japonesa. Pela tarde deu uma volta pelo bairro de Gion que estava situado na parte histórica da cidade.

w

Nos dias seguintes, continuou a sua peregrinação pelas principais vilas: Nara, Osaka, Kobe, Takayama Hida, Hiroshima e a ilha de Miyagima com a sua Torii vermelha implantada no mar, que simboliza a fronteira entre o mundo profano e o mundo sacro, é um dos locais mais fotografados do Japão.

ie

Três semanas mais tarde, estava de volta a Tóquio. Dirigiu-se directamente para o seu apartamento, desejava repousar um pouco, pois tinha percorrido uma boa parte do Japão.

ev

Durante estas semanas, tinha apreciado muito a maneira de viver dos japoneses. O que mais o impressionara fora a delicadeza e o respeito que todos tinham uns pelos outros. Faziam filas enormes para visitar os monumentos, cada um na sua vez. Ninguém reclamava ou criticava.

Pr

Após uma bela noite de repouso, dirigiu-se aos estúdios da revista Gendai Fasshon. Ayumi Katô apresentou-o ao seu futuro assistente, Nobu, que lhe mostrou o seu local de trabalho. Deveria igualmente trabalhar em desfiles na sala internacional Shibya First e nos grandes hotéis de Tóquio.

12


w

2

Pr

ev

ie

“Durante a nossa vida: Conhecemos pessoas que vêm e que ficam, outras que vêm e que passam. Existem aquelas que vêm, ficam e depois de algum tempo se vão. Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar…”

Charles Chaplin


w

ie

ev

Pr


w

2

ie

«Dentro de aproximadamente trinta minutos, aterraremos no Aeroporto Internacional de Narita, Tóquio», anunciou o comandante do voo. Adeline, meio sonolenta, levantou as costas da cadeira e penteou os cabelos. Fazia dezasseis anos que vivia em Tóquio, na companhia do seu tio, François Lefebvre, que era o proprietário de um restaurante de gastronomia francesa.

ev

Tinha vinte oito anos, cabelos loiros, olhos de um azul-vivo e um corpo perfeito, não era por acaso que era manequim profissional. Viajava entre Nova Iorque, Milão e Paris. Sempre que regressava ao Japão, era convidada para desfilar.

Pr

Tinha decidido fazer uma pausa na sua carreira. Sabia que a carreira de manequim é muito curta e gostava muito do seu trabalho, mas estava cansada de andar a saltar de um avião para outro. Presentemente, desejava aproveitar ao máximo a sua vida, talvez mais tarde voltasse a trabalhar. A Gendai Fasshon gostara muito do trabalho de Paulo e, por isso, tinham decidido prolongar-lhe o contrato por mais um ano. Ele possuía, naturalmente, o que alguns fotógrafos levavam anos a adquirir: conseguia meter em primeiro plano as roupas, deixando o sujeito para segundo plano, ou seja, o manequim. 15


John Mota

Paulo regressava ao Japão, após ter feito uma visita aos seus pais. Viajava no mesmo avião que Adeline, que se encontrava ao seu lado direito. Tinha dormido durante quase toda a viagem e não tinha reparado nela, mas agora apercebia-se que ela era extremamente bela. Como por impulso decidiu dirigir-lhe a palavra:

Ela sorriu e respondeu:

w

— Desculpe se sou um pouco atrevido, mas gostaria de saber como é que os seus pais fizeram para meter o oceano nos seus olhos?

ie

— A minha mãe era uma sereia. Ele sorriu igualmente.

— Tenho de a felicitar, é muito bela. — Obrigada.

ev

— Se não for muita indiscrição, posso perguntar-lhe o que faz na vida? — Sou manequim profissional, mas presentemente vou fazer uma pausa na minha carreira. — Vão ser as plateias a perder. Eu também vivo no mundo da moda.

Pr

— É manequim?

— Não, sou fotógrafo profissional. Trabalho para a Gendai Fasshon, conhece? — Conheço, é das melhores revistas de moda japonesas. Eu já desfilei para eles. — Vive aqui no Japão? — Sim, há dezasseis anos. — Deve falar bem japonês. Estou aqui há pouco tempo

16


Da Tragédia à Felicidade

e a maior parte das vezes falo inglês. Já conheço algumas palavras de japonês, mas tem sido um pouco difícil. — Sim, como vê, falo inglês. O francês é a minha língua materna e o japonês aprendi na escola. — Desculpe, não me apresentei. O meu nome é Paulo de Carvalho. Sou português.

w

— Adeline Lefebvre. Ao dizer o seu nome, estendeu a mão, e Paulo apertou-a com prazer.

ie

O avião acabava de parar na plataforma de estacionamento. Todos os passageiros preparavam-se para sair.

— Gostaria de voltar a encontrar-me consigo — disse Paulo.

ev

— Este fim-de-semana vou desfilar na sala Shibya First.

— Então, ver-nos-emos. Eu também vou lá estar, será um prazer voltar a encontrar-me consigo. Quando saiu, o tio estava à sua espera. — Olá tio, prazer em ver-te — abraçou e beijou o tio.

Pr

— Correu bem a viagem? — perguntou François.

— Sim, tínhamos acabado de aterrar, quando um jovem muito simpático falou comigo. É fotógrafo profissional e trabalha para a Gendai Fasshon. É extremamente atraente. Vamos voltar a ver-nos, ele também vai trabalhar na Shibya First. — Eu não quero intervir na tua vida pessoal, mas ficaria muito triste ver-te outra vez infeliz. — Não te preocupes. Está na altura de meter a minha vida pessoal à frente da profissional. Como te expliquei ao telefone, quero aproveitar a minha vida ao máximo. 17


John Mota

— Não gostaria que passasses pelo mesmo como com o Louis. Louis era o ex-chefe de cozinha do restaurante gastronómico do François. — O Louis já não faz parte da minha vida há muito tempo. Este rapaz parece diferente, tem um olhar irresistível.

w

— Sabes que não é pelo olhar que se definem as pessoas. — Eu sei tio, mas podemos juntar o útil ao agradável. Eu gosto do olhar dele, mas também da maneira como fala inglês. Tem um sotaque adorável, é português.

ie

— Acabei de dizer-te que não é por aí que se definem as pessoas.

ev

— Eu sei, mas temos que começar por algum lado, não? E quando encontras uma pessoa que te agrada, deves arriscar e tentar conhecê-la melhor. — Tens razão, quem sou eu para me intrometer na tua vida. Além disso, sempre ouvi falar bem dos portugueses. — Não tens que te desculpar, eu sei que tu queres o meu bem, tio. Não te preocupes.

Pr

Dirigiram-se para a zona residencial de Setagaya, onde François possuía uma vivenda.

18


Pr

ev

ie

w

3 «Não interessa quem tu amas, onde é que amas, porque é que amas, quando é que amas ou como é que amas, o que interessa é que amas.»

John Lennon


w

ie

ev

Pr


w

3

ie

Paulo estava a conversar com o director do evento, na sala Shibya First, quando as viu entrar. Adeline estava acompanhada por cinco amigas japonesas, todas elas manequins. — Konnichiwa — cumprimentou Paulo.

— Konnichiwa — retorquiram elas em uníssono. — Prazer em vê-la, Adeline — disse Paulo.

ev

— Igualmente. Espero que não me façam desfilar com um vestido excêntrico como da última vez que aqui desfilei. Ele sorriu.

— Faz parte do seu trabalho. Penso que a beleza da Adeline se sobrepõe a tudo o que vestir.

Pr

— Obrigada, espero que tudo corra bem.

— Se desejares posso tirar mais fotos e ofereço-te. Posso tratar-te por tu? — Sim, mas não és obrigado a tirar mais fotos.

— Não é nenhuma obrigação. Quando se trata de beleza, para mim é um prazer. No final, convido-te a beber um chá. Estás de acordo? — Pode ser. Deixa- me só telefonar ao meu tio a dizer que não é preciso ele vir. — Peço desculpa, se me estou a intrometer. 21


John Mota

— Não precisas pedir desculpa, estava previsto ele passar por aqui para me levar a casa, mas sendo assim vou de táxi. O desfile decorreu como de costume. Várias marcas francesas e japonesas estavam presentes. No final, Adeline foi ao encontro de Paulo, que lhe perguntou:

w

— Tu conheces melhor do que eu onde poderemos tomar um chá tranquilamente?

ie

— Eu adoro o chá matcha. Se quiseres podemos ir a um salão de chá perto da rua Takeshita-Dori. É um local calmo, o patrão é um apaixonado pela cerimónia do chá. Todos os seus chás são de cultura, sem pesticidas. Verás que o sabor especial do matcha vai surpreender-te. — Então vamos, estou desejoso de provar esse chá.

ev

A sala da cerimónia do chá, cujo nome é Chá No Ma, tem uma grande importância nesta mesma cerimónia. Na sua origem, era praticada num pequeno pavilhão, separado da residência principal, que estava quase sempre rodeado de um jardim de inspiração zen.

Pr

Vestido a rigor, o dono do salão falava, e a Adeline traduzia para o Paulo. — A cerimónia do chá, chamada Chanoyu, chegou ao Japão, no século XII. Oriunda da China, juntamente com a religião do budismo, muitos pensam que é simplesmente um chá verde. No entanto, esta cerimónia é bem mais que isso. O principal objectivo é atingir uma certa forma de espiritualidade zen, ou seja, harmonia, respeito, pureza e tranquilidade de espírito, para todos os presentes, tanto os visitantes como os praticantes.

22


Da Tragédia à Felicidade

Fez uma pequena pausa e a seguir purificou todos os utensílios com um pano em seda. Pegou numa espátula em cana, colheu um pouco de chá, que depositou numa taça de barro, a que dão o nome de Chawan, e foi juntando água, que deve estar na temperatura adequada. Depois, bateu com um batedor em cana até o chá ficar em espuma.

w

Para começar, serviu-lhes um pequeno bolo de pastelaria japonesa, embrulhado em papel tradicional. Em seguida, serviu-lhes o chá matcha, que deve ser bebido lentamente.

ie

Saíram do estabelecimento, e quando se encaminhavam lentamente para uma praça de táxis, Paulo agradeceu-lhe:

— Obrigado Adeline, é uma bela cerimónia. Estou impressionado, nunca vi nada igual.

ev

— É sobretudo uma grande tradição japonesa — disse Adeline. — Mudando de assunto, vives em casa dos teus tios?

— Sim, os meus pais faleceram quando eu tinha dez anos.

Pr

— Peço desculpa, se com as minhas perguntas te fiz recordar os maus momentos que passaste. Lamento pelos teus pais. — Não faz mal, já lá vão muitos anos. Na altura, o meu tio não era casado e vivia no estrangeiro. As autoridades não aceitaram que eu fosse viver com ele, mas ele era a única família que me restava. Estive em casa de várias famílias de acolhimento que me tratavam como se fosse uma criada e não como um membro da família. — Deves ter sofrido. — Podes crer, em dois anos estive com cinco famílias,

23


John Mota

em todas me revoltei. Devo dizer que eu também não fazia nenhum esforço para me integrar, sentia muito a falta dos meus pais. O meu tio sabia que eu era infeliz. Cada vez que me telefonava, eu não fazia mais nada se não chorar. Mais tarde, contratou uns advogados que fizeram o necessário para ele ser o meu tutor. Desde essa altura que vivo na casa dele. E tu?

ie

w

— Comparada com a tua, a minha infância foi um paraíso. Vivi sempre com os meus pais e tive uma infância muito feliz. Quando terminei os estudos de engenheiro agrónomo, decidi fazer um curso profissional de fotografia e aqui estou eu. Ela olhou para o relógio, já passava da meia-noite.

— Nem vi o tempo passar. Tenho de ir. O meu tio deve estar preocupado, nunca chego tão tarde.

ev

— Tenho dois dias de folga, que dirias se eu te convidasse para almoçar amanhã? — Aceito, mas com uma condição?

— Desde que aceites o meu convite, eu aceito todas as tuas condições.

Pr

Ela sorriu.

— A única condição é que quero ser eu a escolher o restaurante. — Estou totalmente de acordo toma o meu número de telefone. — Então, até amanhã Paulo. — Até amanhã, Adeline. Separaram-se. Ela apanhou um táxi, e ele encaminhouse para o seu apartamento. 24


Da Tragédia à Felicidade

No dia seguinte, o almoço foi no restaurante Tsukiji Kiyomura, onde serviam um sushi delicioso. Em seguida, fizeram um passeio pelo Gyoen Park. A certa altura, Adeline tomou a palavra: — Aprecio muito a tua companhia. — O mesmo se passa comigo.

w

Ao dizer isto atraiu-a para si, abraçou-a e beijou-a nos lábios. Foi um beijo intenso e cheio de paixão.

ie

— Não achas que estamos a ir depressa demais? — perguntou ela.

— Desculpa, não sei o que se passa comigo, mas creio que estou irreversivelmente apaixonado por ti. Tu ocupas todos os meus pensamentos.

ev

— O mesmo se passa comigo, mas penso que devemos nos conhecer melhor, antes de termos uma relação séria. — Eu não consigo fingir. Tenho a certeza que te amo e isso para mim basta. — Mas ainda mal nos conhecemos.

Pr

— O mais importante é vivermos o dia-a-dia, o resto o futuro o dirá. — Está bem, se é assim que tu queres. — Queres viver comigo?

— Sim, tenho de ter uma conversa com o meu tio. Ele tem receio de me ver outra vez infeliz. Sabes, já tive uma relação que acabou mal. — Comigo isso não vai acontecer. Se não tivesse a certeza de que te amo, não estaria aqui. Tu és o meu primeiro verdadeiro amor, seria incapaz de te fazer sofrer. 25


John Mota

Beijaram-se outra vez intensamente e continuaram o passeio pelo parque. Quando se separaram, combinaram encontrar-se no outro dia, no mesmo restaurante.

w

Paulo foi o primeiro a chegar, estava sentado na mesma mesa do dia anterior. De vez em quando olhava para o relógio. Adeline estava atrasada. Assim que a viu entrar, os seus olhos brilharam de alegria. — Desculpa, atrasei-me. Beijaram-se.

— Sim.

ie

— Não tem importância, já aqui estás. Não parei de pensar em ti. A seguir ao almoço, queres ir à minha casa?

ev

Almoçaram, e de mãos dadas dirigiram-se para o apartamento do Paulo. Mal entraram, começaram a beijarse e, em silêncio, despiram as roupas que ficaram espalhadas pelo chão. Sem pararem de se beijar, deitaram-se na cama. A cor da pele branca dela contrastava com a dele, que era morena.

Pr

— Amo-te Adeline. Desde o primeiro dia que te conheci, soube que é contigo que quero viver até ao resto da minha vida. Ela tremia de desejo e ofereceu-se a ele totalmente, com os seus sonhos, o seu coração e o seu corpo. Fizeram uma viagem de amor e paixão. Os dois sabiam que era impossível resistir, estavam destinados um ao outro. Sentiam uma imensa felicidade. Ficaram muito tempo agarrados um ao outro, como se fossem um só corpo.

26


Da Tragédia à Felicidade

— Quero viver contigo para sempre, meu amor — disse Adeline. Ele beijou-a e disse: — Eu também, meu amor.

w

Com a ajuda de Deus viveriam muitos anos e seriam felizes para sempre, mas o destino reservava-lhes um futuro que eles nem sequer imaginavam.

Pr

ev

ie

27


w

ie

ev

Pr


ev

ie

w

4 «Não, não quero mais gostar de ninguém porque dói. Não suporto mais nenhuma morte de ninguém que me é querido. Meu mundo é feito de pessoas que são as minhas — e eu não posso perdê-las sem me perder.»

Pr

Clarice Lispector

29


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.