José Rodrigues Duarte
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Caderno de Saudades - Histórias de Emigrantes Portugueses na Suíça
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José Rodrigues Duarte é casado, tem 4 filhos e reside na Suíça. No início da década de 60, fez a sua entrada na indústria hoteleira e de restauração em Portugal, o seu país de origem. Começou a trabalhar em vários estabelecimentos (restaurantes e hotéis) na sua aldeia natal e em várias cidades no norte de Portugal. Os seus patrões e clientes ficaram contentes com o seu trabalho, o que lhe confirmou a sua escolha pela profissão. Em seguida, adquiriu diplomas na área da cozinha e serviço, entrando para a Escola de Hotel Porto para completar a formação. O dever para a pátria chamou-o para o serviço militar em África, onde ficou durante três anos na área de administração e intendência. Após o seu retorno, começou uma nova formação em hotelaria e administração. Para se aperfeiçoar, foi estagiar para a Suíça e acabou por lá ficar. Formou-se em professor profissional, o que lhe deu a possibilidade de ser professor nas áreas de cozinha, serviço e acolhimento em algumas escolas profissionais suíças. Hoje é consultor hoteleiro independente. Foi candidato nas eleições de 18 outubro de 2015, ao Conselho Nacional Suíço pela lista 5 do PS Suíço. Hoje é consultor hoteleiro. Autor autodidático, tem vários livros escritos em português e francês, nomeadamente: • L’amour de partager un repas • Rodrigues et le retraité • L’art de la table moderne • Zezé do café Central • Casimiro, o colhedor de trevo a quatro • Arte de mesa moderna • O doente cardiovascular www.joseduarte.ch
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José Rodrigues Duarte
Caderno de Saudades
Histórias de Emigrantes Portugueses na Suíça
Outrora a imigração era uma fuga de um mau estar para a incerteza de um bem-estar! Com o único objetivo de melhorar a situação financeira. Mas isto é do passado! Atualmente, num mundo cada vez mais globalizado as pessoas viajam para trabalhar e melhorar as suas economias, mas também para estudar ou obter novos conhecimentos, tornando-se a emigração uma nova forma de viver a Vida. Mas as pessoas têm de estar preparadas mentalmente para ir além-fronteiras. Na opinião do autor este espírito GLOBAL deveria ser incutido nos ensinamentos da escola para que as pessoas fossem mais abertas, responsáveis e atentas ao que se passa à sua volta em termos migratórios. Na história da emigração o Homem sempre lutou para melhorar a sua integração, praticando a tolerância para encontrar a felicidade.
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FICHA TÉCNICA EDIÇÃO:
Edições Ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro) Caderno de Saudades – Histórias de Emigrantes Portugueses na Suíça AUTOR: José Rodrigues Duarte TÍTULO:
REVISÃO:
Alexandre Costa Ângela Espinha PAGINAÇÃO: Alda Teixeira CAPA:
1.ª Edição Lisboa, Março 2018 ISBN:
978-989-8867-21-6 DEPÓSITO LEGAL: 434789/17 © JOSÉ RODRIGUES DUARTE
PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:
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O Homem ĂŠ um viajante sempre Ă s conquistas dos cantinhos, onde pode ganhar mais.
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INTRODUÇÃO
Quatro amigos encontram-se no bar da Associação Portuguesa de Bienne à noite, duas ou três vezes por semana, para jogar à sueca e falar dos seus problemas ligados ao trabalho e vida privada. Os amigos são João, o pintor, Carlos, o esticador, e António com a alcunha de “quebra-calhaus”, porque trabalhava na construção, o Joaquim, o Quim do Jardim, um homem sempre pronto para ajudar nos pequenos trabalhos, e Manu, o empregado de mesa num restaurante, conhecido pelo Dom Juan da banda, sempre que podia fazia-se se ver com bonitas raparigas da região, conhecido por conta-tretas. Mais tarde juntou-se Júlio, que não gostava de jogar, mas que gostava de ver quando os seus amigos jogavam. Este interessava-se pelas histórias dos imigrantes de todas as nacionalidades, para dar ideias e informações sobre os direitos dos imigrantes. Conhecido pela alcunha de Político, era uma pessoa muito prestável que fazia quilómetros só para ajudar os outros, gostava de escrever nos jornais locais, também fazia política e era a voz dos sem voz, uma personagem dos anos novos da imigração, gostava de dizer: “os bons imigrantes devem ser responsáveis e não mendigos de trabalho, vender as suas competências e não oferecer os seus saberes.” 7
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Júlio, um homem com uma visão sobre o social futurista, dizia que todos nós temos de nos adaptar, a vida é cheia de coisas más e belas, mas somos nós que as podemos escolher, e não deixar aos outros a liberdade de escolher por nós. Júlio ajudou muitos compatriotas a instalarem-se na Suíça, na região de Bienne e Jura. Júlio foi um dos portugueses mais ativos de 1978 a 2011, na região de Bienne, pois foi diretor de um hotel no centro da cidade, e depois patrão de dois restaurantes na cidade, onde teve muitos colaboradores compatriotas, fazendo os primeiros contratos a muitos portugueses, para que estes obtivessem a permissão B. Foi, também, patrão, formador e conselheiro para muitos compatriotas, dos anos 80 até 2011. Júlio sente orgulho de encontrar alguns compatriotas que conseguiram içar-se na sociedade helvética, com força, coragem e perseverança. O autor faz uma viagem com estas personagens típicas e modelares da vida do imigrante fora do seu país, mas que vivem em permanência dentro da sua casa natal. O imigrante pensa, vive e sonha em relação à saudade, e espera um milagre para concretizar o seu sonho. Como que o seu corpo fosse dividido em muitos fragmentos, sempre em busca da sua composição. O imigrante quando passeia vê os seus familiares na cara dos outros estrangeiros, e os lagos transformam-se nas ribeiras da sua terra, sempre em busca de uma reposta às suas perguntas de esperança para os dias melhores. O trabalho é o seu passatempo, como se fosse o único caminho para a felicidade, a sua força e energia ocupa o lugar da dor e do amor. O imigrante trabalhador trabalha 8
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para se enganar e justificar, dizendo que a saudade existe, mas que não se sabe explicar. Todos tratam a imigração pelo mesmo nome, mas todos somos diferentes para a argumentar, dizemos que talvez seja o destino que assim o quis, ou que não tinha mais nada aqui para buscar. Boa leitura!
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NUMA SEXTA-FEIRA
Eram cerca de 21 horas quando o “quebra-calhaus” chegou ao bar e se dirigiu à dona Alice, responsável com o seu marido pelo bar do centro. O quebra-calhaus, no seu estilo, pergunta: -“Então, minha senhora, os outros ainda não chegaram?”. Dona Alice respondeu: – “Como vê não!” –“Oh mau…”, diz António. Pega no seu telemóvel e liga para um amigo. Entretanto o Manu chegou e disse: “desde quando se dá uma coisa tão frágil para as mãos de um quebra-calhaus?”. António não reagiu e respondeu, ao telemóvel, dizendo: “– Então pá, já estou aqui há uma hora e vocês onde estão? (…) Não, só cheguei aqui agora, o lindinho Manu já me está a pintar a pele. Venham, eu fico à espera.”. O quebra-calhaus desligou o boneco, como chama ao telemóvel, e diz ao Manu, “– Então pá, quando é que trabalhas normalmente a esta horas? Os carrega-pratos (empregados de mesa) estão a trabalhar.” Manu responde: “– Não, esta noite vou carregar uma lindinha menina, não fiques com ciúmes, pois eu trago-te depois um cheirinho.” “– Cala-te, porco” – diz o António – ”Tu és sempre um conta histórias”. Entretanto, dona Alice chega e António diz: “– Duas bonecas (duas pequenas cervejas sagres) para nós enquanto os outros che11
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gam”. Entretanto os amigos chegaram e a jogatana começou, e de um momento para o outro as emoções do jogo cortavam o silêncio reinante na sala, e as mais bonitas palavras das obras de construção saíam da boca desta gente simples e brava! Carlos, passado algum tempo disse: – “Rapaziada, vamos à ultima, eu tenho de ir para casa, amanhã também é dia de cega”. E assim os amigos terminaram de jogar, cada um pagava a sua despesa, ficavam alguns minutos a falar das situações privadas e de trabalho. Carlos estava muito ansioso pela sua família, pois queria trazer para junto dele a família, mas não conseguia que o patrão lhe fizesse o contrato ao ano. Esta situação era muito frequente nos anos 70 e 80, na Suíça reinavam na construção e na agricultura (jardins) os contratos sazonais. Há um país que é bem, é a Suíça. A Suíça é um país limpo. Não se pode apanhar uma doença, Podemos só apanhar os medicamentos: Coluche
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O QUE ERAM AS PERMISSÕES TEMPORÁRIAS (SAZONAIS) DE TRABALHO?
A Suíça sempre teve uma certa artimanha para receber a mão-de-obra estrangeira. As autorizações temporárias foram sempre um conforto para a economia suíça, e em especial para o estado, pois este tirava partido da força do trabalho, mas não gastava um cêntimo com a educação das crianças e família dos trabalhadores, ficando estes no país de origem. Os patrões eram também os grandes beneficiados, porque sabiam que os seus colaboradores regressam para o país de origem alguns meses depois, e assim não beneficiavam do subsídio de desemprego. Muitas dores e muitas tristezas estes contratos traziam para a família de muitos trabalhadores, eram verdadeiras injustiças, que hoje mesmo alguns “chupadores de sangue humano” querem ver de em vigor...
Um pouco sobre a história das permissões em Suíça até hoje A política de emigração na Suíça foi sempre um tema a discussão desde os anos 1888 até 2017. Houve sempre, dentro da política 13
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Suíça, políticos que souberam explorar a emigração como um tema de eleições, pode-se dizer mesmo que os imigrantes são transportadores de votos. As primeiras emigrações foram entre os anos 1888-1917, e foi nesta altura a causa do aumento das receitas da Suíça. O país abriu as portas à imigração, e isto deu também origem a muita discussão. Durante a primeira guerra mundial, a imigração baixou muito. Depois dos anos 60, uma política de imigração temporária surgiu, e com as famosas autorizações temporárias (sazonais), que foram até 2005 a maior injustiça social no meio dos trabalhadores. Todos os trabalhadores na Suíça eram submissos a uma autorização. As leis no fim dos anos 60 eram que um sazonal trabalhasse nove meses, saía três meses, e quando atingisse quatro anos de trabalho, 36 meses estacionais, recebia a permissão anual B, que lhe dava a autorização para trazer a família. Mas o pior, é que muitos patrões não deixavam os trabalhadores atingir os nove meses de trabalho, e assim tinham os trabalhadores ligados às empresas cinco ou seis anos, e em muitos casos mesmo ao longo de dez anos. Os trabalhadores sazonais nos anos 60 eram italianos, espanhóis, portugueses, jugoslavos, franceses e alemães. Os italianos, franceses e alemães podiam ter a autorização de fronteira que hoje ainda está em vigor, os restantes não. Durante este período a população estrangeira atingiu 15%, e isso causou muito medo na população Suíça. A partir desta situação, o governo suíço foi contactado para pôr uma solução ao aumento da população estrangeira, e foi em 1970 que apareceu o movimento xenófobo liderado por Schwarzenbach, e o povo foi 14
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chamado a votar nos anos 70 contra a imigração! Foi, no entanto, refutada com cerca de 54% votos contra. Nesta altura houve grandes manifestações, e a paz do trabalho quase esteve comprometida. Mais tarde em 1974, existiram de novo votações, também uma iniciativa do partido de Schawarzenbach, e o povo recusou. Felizmente para a Suíça, porque em 1974 se o povo suíço tivesse aceitado, mais de 300 000 imigrantes seriam enviados de volta para o seu país natal, e isto resultaria na maior crise de sempre na economia suíça. Existiram muitas empresas que deixavam de funcionar, como na construção civil, que pararia uma grande parte, mas também bancas, escolas, fábricas, restaurantes e supermercados, que fechariam de um dia para o outro. Como o povo suíço é um povo que vive no conforto, e atento aos seus adquiridos, não aceitou a iniciativa. Os efeitos das duas últimas iniciativas foram recusados, mas causou um traumatismo na população emigrante, abriu uma grande ferida que mesmo hoje ainda não cicatrizou. Muitos imigrantes sentem-se ofendidos de tantas ameaças, o pior é que estas atitudes e comportamentos dos partidos da direita têm como efeito de intimidar as possíveis reivindicações da parte dos emigrantes, estes perdem a coragem de exigir melhores situações para melhorar as competências profissionais, mas também familiares. O acordo de Schengen que entrou em vigor na Europa em 1990, sendo aceite em 5 de junho de 2005 pela Suíça. Com este tratado, as permissões sazonais acabaram, e assim acabaram os sofrimentos de muitas famílias de emigrantes, que estavam separadas durante anos, como um apartheid de regalias de trabalho, os trabalhadores até esta data não tinham todos os mesmos valores na 15
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Suíça, a maioria dos trabalhadores sazonais, em especial da construção civil viviam em barracas sem condições de higiene, em que coabitavam quatro a seis homens. Os ordenados eram muito inferiores aos dos outros trabalhadores, os que não viviam em barracas viviam em pequenos apartamentos ou quartos postos à disposição pelos patrões, porque os sazonais não podiam trazer a família, nem os filhos, e não podiam alugar nada, nem mesmo uma garagem. A situação atual de imigração em Suíça é muito diferente dos anos 60 e 70. Os imigrantes não são só candidatos ao trabalho, mas procuram também qualidade de vida, e isso provoca muitos conflitos de interesse e organização nos meios de trabalho e administração. A Suíça, contrariamente ao que se diz, depende da mão-de-obra estrangeira, e pela sua politica de não aderente à EU, faz com que surja fraca em matéria de população jovem. O imigrante jovem não tem necessidade de uma adaptação ao país, como nos anos 60 ou 70, pois devido às facilidades de mobilidade, podem trabalhar na Suíça e viver fora do país. O preço de uma viagem entre Suíça e Portugal custa menos de 60.00 CHF. Para trabalhar na Suíça hoje, é só preciso ter uma profissão que seja reconhecida ao nível EU, e falar francês ou inglês, porque os suíços sabem que mesmo em matéria de línguas há mudanças profundas. O alemão deixa de ser um trunfo, como também o francês, pois nas grandes empresas a língua de comunicação é o inglês. Outras características da emigração, em 2016-2017, em relação aos anos 70, é que a maioria dos emigrantes, resolveu ficar na Suíça a viver, mesmo depois da sua reforma, e isto é uma novidade dos últimos anos. 16
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Esta situação traz para a Suíça um outro problema económico e social, porque a maioria destes emigrantes tem uma reforma baixa, sendo obrigados a pedir auxílio suplementar ao estado. A principal razão é que a maior parte dos reformados emigrantes chegaram à Suíça com mais de 24 anos, e não tem o tempo completo de trabalho, ou seja, 42 anos, para ter direito a uma reforma a 100%. Como pensavam um dia partir, foram investindo nos países de origem, e hoje este dinheiro faz-lhes falta. Hoje os novos pobres da Suíça são os reformados oriundos da imigração. Hoje existe uma permissão, chamada L, que é um pouco à imagem das permissões temporárias. Com estas autorizações os titulares não podem alugar apartamentos, nem mesmo uma garagem, e não podem trazer a família, salvo casos particulares.
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O QUE É QUE NOS DIZ A LEI SOBRE A PERMISSÃO L? (TEXTO SEGUNDO A LEI SUÍÇA)
A permissão L é emitida aos trabalhadores da União Europeia que desejam residir na Suíça a curto prazo, ou seja, por menos de um ano, sob um contrato de trabalho ou não. Dá-lhes o direito de viver na Suíça com um pequeno contrato de trabalho ou uma declaração de emprego.
A permissão L para quem? A permissão L é emitida para os cidadãos da União Europeia que tenham encontrado um emprego, ou que tenham uma declaração de emprego, por um período mínimo de quatro meses. Esta autorização é atribuída às pessoas que têm um contrato de trabalho de duração determinada, isto é, quando trabalham temporariamente. A permissão L é válida mediante o contrato de trabalho que não ultrapasse os doze meses. Esta autorização também pode ser renovada, após os doze meses, sem ter de ir ao seu país de origem. Desde o momento que tenha um contrato de trabalho pode efetuar 19
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um pedido de permissão, que será emitido com um prazo de validade, consoante o prazo determinado do seu contrato de trabalho. Os documentos necessários para esse pedido são: – O contrato de trabalho conforme; – O seu passaporte; – Bilhete de cidadão; Para efetuar um pedido de residência na Suíça, basta apenas beneficiar de um contrato de trabalho determinado ou indeterminado, e pode o próprio efetuar o pedido de permissão, não sendo obrigatório que seja o patrão a pedir.
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O QUE É A PERMISSÃO B?
Se tiver um contrato de trabalho de duração indeterminada, ou de mais de doze meses consecutivos, de um patrão e não de uma agência para trabalhadores temporários, poderá então obter diretamente a permissão B. Desta forma terá mais direitos! As vantagens da permissão B A permissão B é uma autorização de residência anual. Dá-lhe a possibilidade de viver na Suíça durante doze meses ou mais, consoante o seu contrato de trabalho ou situação financeira. Com uma autorização B, pode trazer a sua família (esposa/o e filhos menores de 18 anos) para residir consigo na Suíça. Assim, através de si, a sua família também pode obter a permissão B. Outras informações Os impostos diretos são descontados do salário todos os meses, segundo a lei suíça, Com a permissão B não pode mudar de “Can21
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ton” (distrito) sem perguntar. Com a permissão B, não pode abrir uma empresa individual na Suíça.
Quem pode obter a permissão B A permissão B é emitida aos cidadãos da União Europeia que tenham encontrado emprego, ou que tenham uma declaração de compromisso de trabalho escrita, contrato de duração indeterminada, ou num período mínimo de doze meses. Depois desses doze meses de autorização, será então prolongado por cinco anos se o cidadão tiver as condições requisitadas. Porém, a prolongação pode ser limitada a um ano, se a pessoa se encontrar desempregada involuntariamente durante doze meses consecutivos. Os estrangeiros que não exercem uma atividade lucrativa têm direito a uma permissão B, destinada as pessoas sem atividade lucrativa, com a única condição de provar que dispõem de meios financeiros suficientes e de um seguro de saúde e acidentes, cobrindo todos os riscos. Além disso, a permissão B é válida durante cinco anos. Se deseja ficar na Suíça depois desse período de tempo, poderá então obter uma permissão C, equivalente a um cidadão suíço.
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O QUE É A PERMISSÃO C
A permissão C é uma permissão de domicílio indeterminada. Emitido aos estrangeiros da Comunidade Europeia depois de cinco anos, e aos estrangeiros de fora da Europa de 5 a 10 anos. Tem de ser renovado a cada cinco anos. Esta autorização permite-lhe viver na Suíça como um cidadão suíço, simplesmente não tendo o direito de votar nas eleições federais, e cantonais. Alguns cantões estão a abrir as votações às permissões C, mas são ainda uma minoria.
Quem tem direito à permissão C? A permissão C é emitida aos cidadãos da União Europeia que tiveram uma permissão B com mais de cinco anos. Depois desses cinco anos pode ser pedida a autorização C, sem precisar de pedir ao patrão. Automaticamente o estado suíço vai enviar, caso não seja reclamado. Ainda assim, o emigrante tem o direito de não aceitar logo à primeira vez que lhe é proposto.
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As vantagens da permissão C A permissão C dá-lhe certos benefícios, tais como os mesmos direitos que os suíços. Tirando o direito de voto, como anunciado no parágrafo anterior. Ou seja, o que lhe vai facilitar a vida para numerosas coisas, tais como: – Criar a sua própria empresa; – Comprar casa ou outros valores imobiliários; – Alugar casa, mais facilmente; – Efetuar créditos ou leasings; – Entrar e sair da Suíça sem preocupações;
Consequências da permissão C Depois de ter a permissão C, começará a fazer a sua declaração de impostos, como os suíços, e deixará de pagar os impostos diretos “à la source”. O seja, o salário que vai receber não terá os impostos reduzidos. Terá então de preencher a sua declaração de impostos e pagá-los no ano a seguir. Fontes do texto: www.admin.ch e www.portugal suica.ch.
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AS MESAS REDONDAS ENTRE AMIGOS NO CENTRO PORTUGUÊS
Entre estes amigos imigrantes, as conversas sobre os direitos dos imigrantes, reformas, impostos, etc. são sempre o prato do dia, mas o problema é que todos trazem a sua verdade e às vezes esta está longe da realidade. Quando se fala do segundo pilar, da reforma, do desemprego, quando se fala de voltar para Portugal, viver na Suíça, ou se fala da família que ficou lá em baixo, como eles dizem, são conversas ricas de emoções, mas muitas das vezes ficam sem repostas exatas! Cada um inventa as suas repostas, de acordo com o que pensa.
Onde trabalham os nossos compatriotas Os emigrantes mais antigos, aqueles que chegaram nos anos 70 e 80, trabalham na sua maioria construção civil, nos túneis, na agricultura ou jardinagem, na hotelaria, nas fábricas, limpezas e hospitais. Os mais jovens, após formação, já se encontram noutras profissões. Temos emigrantes na Suíça bem colocados profissionalmente, mas ainda temos muita falta de formação no meio dos 25
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nossos compatriotas. Este é ainda um problema em Portugal, mas também no meio migratório. Na Suíça encontram-se muitos portugueses patrões de cafés e restaurantes, pode-se dizer que o bichinho do comércio está sempre na cabeça do português, os suíços dizem que um português pode-se lançar num negócio mesmo sem conhecimento, eu sou testemunho que este dito é verdadeiro! Claro, há muitos que fazem sucesso, mas também se cria muita miséria, por falta de conhecimentos profissionais, ou mesmo por falta de noção das leis.
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ALGUMAS PESSOAS QUE MARCARAM A NOSSA COMUNIDADE EM BIENNE
Manu, o homem das histórias O Manu: quem não conhece ou conheceu? O Manu, para os amigos, é uma pessoa que merece a nossa atenção. A sua história é rica em emoções. As aventuras de um imigrante jovem, já pai, mas não homem maduro ou responsável. Quando Manu chegava, todos gostavam de lhe perguntar, como vais tu Manu? Isto era a primeira velocidade para uma longa viagem de Manu. Misturava as suas criatividades e fantasias com a realidade, mas eram tão bem-apresentadas que todos passavam uns momentos de alegria e de bem-estar. Manu casou-se em Portugal e veio muito cedo para a Suíça, para trabalhar num hotel-restaurante, como muitos dos seus compatriotas, através das tais permissões de escola criadas nos anos 80 pela Gastro-Suíça. Manu adaptou-se muito bem e aprendeu rápido a falar francês, ao contrário da maioria dos portugueses. Manu tinha um cabelo louro e uma estatura elegante alto, magro, e sempre
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bem vestido, de fato e gravata, era um empregado de mesa como os clientes gostam de ver, bom vendedor e muito comunicativo. Estas qualidades deram-lhe a possibilidade de ser o menino bonito de certas clientes, e então Manu transformou-se em “Dom Juan”. Começou a desfrutar destas novas situações, e a parte negativa que impediu o prolongamento destas relações foram a sua falta de cultura geral, pois com Manu as conversas ou eram de fantasia e histórias de amor, ou nada mais, devido à formação profissional muito curta., Assim, Manu tornava-se limitado, e ao mesmo tempo frágil, uma situação que se via e vê em muitos os trabalhadores no exterior!
Manu foi de férias ao Brasil Manu, certo dia, encontrou uma senhora jovem que o convidou para passar duas semanas em sua companhia no Rio de Janeiro, assim dito e assim feito, esquecendo-se que era casado e com um filho, resolveu pedir duas semanas de férias ao patrão e foi para o Brasil com a sua amiga. O cúmulo da história é que ele enviou fotografias à mulher das suas aventuras em terra Brasileira e a passear nas praias de Copacabana, acompanhado pela sua nova amiga, esquecendo-se completamente de enviar dinheiro para a alimentação do filho! Como se esta lição não chegasse, passado algum tempo fez a mesma coisa, indo de férias para a Madeira, partindo acompanhado pela primeira-dama de companhia, que lhe apresentou o convite. Assim, Manu começou a ser um mau marido e 28
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mau pai, sendo que com o tempo, Manu se tornou um bom pai e um bom divorciado. Manu conduzia carros sem carta de condução, não estamos a falar dos anos 40, estamos a falar dos anos 90, na Suíça, Bienne (Berna). Manu levava mesmo amigos polícias a casa com o carro, mas um dia vinha numa auto-estrada e houve um controlo, tendo sido apanhado, dizendo que não tinha carta, um dos polícias ficou muito admirado porque conhecia o Manu. Este deixou o carro, e no dia seguinte teve de se apresentar na polícia, pagando uma multa e ficando condenado a pena suspensa ou a fazer a carta. Por fim, resolveu tirar a carta. Com a idade, deixou de ser tão atraente, e as dificuldades também começaram a chegar. Conheceu o desemprego, tendo sido a falta de formação o seu grande problema. A mulher pediu-lhe o divórcio, tendo de pagar a alimentação obrigatória do filho. Assim, o menino bonito dos anos 80 começou a ficar mais moderado. Manu começou a ficar mais calmo, sendo sempre um grande falador. Os amigos não o abandonaram, sendo sempre participante nas mesas redondas dos jogadores de sueca.
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