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Prefácio
PREFÁCIO Se A literatura, que é a arte casada com o pensamento, citando o génio literário de Pessoa, na pena de Bernardo Soares, a linguagem é pensamento, como afirmou Wittgenstein; mas é-o quando assume múltiplas formas, nomeadamente quando se plasma em linguagem literária. A literatura é feita de língua num expoente distinto, prazeroso e desafiante para nos fazer sonhar, sentir, raciocinar como seres pensantes. Sem literatura, não há enriquecimento vocabular, abertura de horizontes, entre tantas e múltiplas viagens que um texto literário potencia. Assim, literatura também é sinónimo de educação; logo, deve ser acessível a todos. O trabalho que agora se publica sugere obras literárias numa perspetiva plural: desde as escolhas para além das diretrizes programáticas, até à proposta de algo inusitado, paradoxal, como indicia o título do primeiro capítulo. Na realidade, a educação de surdos carece de uma abordagem aberta e transdisciplinar e esta obra tem o arrojo de propor isso mesmo. O ensino de Português como língua segunda é fundamental e está estatutariamente reconhecido, porém, está na altura de ser um ensino digno, sólido e em equidade. As crianças e jovens surdos não precisam do Português apePreview nas como ferramenta de comunicação. A comunidade surda deve conhecer a riqueza literária do seu país, acedendo de forma plena à cultura nacional. Desta forma, é salutar propor o domínio da
Educação Literária no 2.º Ciclo do Ensino Básico
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educação literária também para crianças surdas. Contudo, e como este livro o demonstra, é necessário ter em mente os ensejos das crianças e as suas expetativas, por isso, o acesso à literatura deve considerar a vertente bilingue e, até, ultrapassar as fronteiras nacionais. A criança surda precisa de aceder à linguagem literária para se tornar num jovem pensante e num adulto autónomo e capaz de ter fruição literária. Este livro aponta propostas interessantes e de revisão programática que urge levar a cabo. Para além disso, também se questiona a fruição literária para além de programas. espartanos, sugerindo-se outros horizontes complementares para todas as crianças se tornarem leitores capazes, mas sobretudo, leitores felizes. Considerar o devir dos tempos, propor estratégias de didática da leitura e da literatura inovadoras é, também, outro dos méritos dos autores desta obra. Enquanto cidadão surdo português, apraz-me ler propostas que respeitam a minha identidade de pessoa bilingue e que me propiciam momentos de reflexão sobre a educação de crianças, surdas e ouvintes, todas elas o futuro do meu país. Por essa razão, espero que esta obra seja a pedra angular de muitas reflexões e mudanças no ensino do Português, levando a que se repense que uma língua é mais do que uma ferramenta, é sobretudo um veículo de pensamento. A isso, chama-se literatura . armando baltazar Coordenador da Comissão Instaladora e primeiro Presidente Preview da Federação Portuguesa das Associações de Surdos Fundador e atual Presidente do Conselho Fiscal da Associação de Surdos do Porto Medalha de Mérito Internacional de II Classe da Federação Mundial de Surdos