Diogo Aloendro
edição: Edições Vírgula®
(chancela Sítio do Livro) Horizonte da Vida autor: Diogo Aloendro título: No
capa:
Patricia Andrade Paulo R. Sousa
paginação:
1.ª edição Lisboa, setembro 2018 isbn:
978‑989‑8821‑75‑1
depósito legal:
442914/18
© Diogo Aloendro
PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:
DedicatĂłria Ao meu pai e meu irmĂŁo que partiram sem terem tido tempo para se despedirem
Não procures a felicidade no vento A angústia que o tempo não levou
I Sinto triste quem nunca ousou sonhar ignorando que a vida sem sonhos, nĂŁo ĂŠ vida
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A força do vento Podes evitar a força do vento Podes correr à toa e sem tino Podes iludir a dor e o sofrimento Mas nunca a força do destino Podes iludir-te sobre quem és Podes até pensar-te divino Podes até obter boas marés Mas não contrariar o destino Podes rir quando te apetece chorar Podes odiar a quem devias amar Mas não podes ludibriar o destino Podes passar pela vida a correr Podes até, não querer mais viver Mas não podes ignorar o destino 03/01/2003
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A rosa é uma flor Entrei pela noite adentro Procurando a brisa do teu respirar, Tão próximo me sentia aproximar Que a tua beleza podia tocar Como se tivesse entrado, Num admirável jardim celeste Repleto das mais lindas flores. Porém, apenas uma rosa De entre tantas, me prendia a atenção. E essa rosa tinha a tua feição Senti vontade de a cortar E com ela, no espaço sideral, flutuar Bem aprisionada ao coração. Porém, tive receio que pudesse secar E isso não o conseguiria suportar Decidi então não lhe tocar Para que jamais possa murchar. E sempre que a queira admirar, Prefiro ao jardim celeste voltar. 30/08/2011
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Amar o que se sente Desprendia-me de mim para admirar A tua capacidade de tudo compreender, Muito para além do meu entender, Tentando saber o que tu sabias amar Quantas vezes olhando o mesmo mar, Tu vias o voo das gaivotas a descrever Trajetórias coloridas ao entardecer, E eu apenas via brancos pássaros a voar. De quando em vez dou comigo a sorrir Tentando ver o que tu conseguias ouvir Esforçando-me para te acompanhar A tua capacidade de me surpreender Nas coisas mais ínfimas. Dava prazer Tentar compreender o que tu sabias amar. 16/03/2016
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O comboio do Tempo Fui apanhado pelo tempo que passou, Na paragem onde se espera pelo tempo. Não observei o seu destino a tempo, E agora ninguém me diz para onde vou. Apenas me perguntam porque aqui estou, Pois já não é possível mudar de tempo; Tivesse eu visto o destino do tempo, Não teria entrado no tempo que vou Grito, quero o tempo que há-de vir! Ninguém houve o que estou a sentir? Não vêem que este tempo é passado? E que embarcámos no tempo errado! Devem pensar que vos estou a mentir. Então esperem até que a porta se abrir. 24/07/2003
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Compreensão Das palavras que podemos conhecer Alimentadas pelo coração, A principal só pode ser, A palavra compreensão Ela ensina-nos a compreender E o incompreensível entender, De que é feito o verdadeiro amor E sentir-lhe o autêntico sabor Compreender é, Dar espaço para crescer A todos os que sabemos amar, Indicar-lhes o caminho a percorrer Intervindo apenas se os vemos sofrer Compreender é, Sentir a nossa felicidade No reflexo dos olhos de quem amamos, E entender que parece ser tudo, O melhor que sempre sonhamos Compreender é, Toda a diferença aceitar, De ninguém se sentir diferente Pois é impossível poder acreditar, Sentir-se melhor que toda a gente 15
Compreender é, Amar sem sufocar, Todas as ideias respeitar. Oferecer asas para voar A felicidade dos outros, viver Compreender é, Rir quando apetece chorar, A incompreensão compreender. A alegria de quem amamos sentir E tudo fazer para não entristecer, Os olhos que nos fazem viver Mesmo que saibamos ter razão, Podemos sempre condescender; Porque ao não fazermos sofrer, Preenchemos de amor o coração Como o mundo seria diferente Se todos soubessem compreender Que quem mais fazemos sofrer, São aqueles que mais amamos Nunca devemos esquecer Que a felicidade está no compreender E a tolerância praticar e entender. Se alguém nisto querer, não acreditar, Lamento, mas já é tempo de acordar. 24/12/2017
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Dentro da noite Os meus olhos foram atingidos Por uma luz forte de néon Que cortou a noite nua, Antes alumiada pela luz dos teus olhos Estendo os braços e não te sinto. Apenas toco no silêncio do teu respirar Ao ritmo do tic-tac do coração Fico sem palavras, caídas como Pingos de chuva silenciosos No chão, que antes dividias comigo, Sem nos vermos ou tocarmos Sentia-te tão perto que podia Sentir, o calor das tuas mãos suadas, Provocado pela proximidade de mim. Moldava palavras para te sussurrar, Quando ecoou neste poço de silêncio, Precedido de forte clarão, Um raio que nos atinge A ambos no coração. 02/05/ 2011
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Flores do Faial Faço apelo ao meu passado Que entre no meu presente, Sentindo ter já cá estado, Não o posso dizer afirmativamente Paisagens lindas sem igual Como tela de jardim florido, Não se sente decerto o Faial Como Van Gogh teria sentido Porém, sinto-o à minha dimensão Expondo bem aberto o coração, Para toda esta beleza abarcar Quero a certeza, de não esquecer Quando mais tarde quiser saber Ou, quando o futuro, o presente chamar 26/07/ 2001
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Folhas caídas As folhas desprendem-se já sem vida Dos ramos das árvores que lhe deram o ser, Caindo no passeio inerte da avenida Com a melancolia de quem parece sofrer A enigmática tonalidade colorida Que sempre o outono faz aparecer, Com o movimento de chegada e ida Lembrando o que queremos esquecer Do chão, observando o ninho materno E a distância que separa a vida da morte Atribuindo àquela o seu real valor Sabendo que na vida nada é eterno E a todos caberá a mesma sorte, Resta cumprir o destino com amor 18/12/ 2000
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Iguaçu Iguaçu, foz de celestiais vistas, Destino de inúmeros turistas, És um paraíso natural Inspirador de tantos artistas Que te irão imortalizar. Até esse dia podes crer Que jamais te vou esquecer Seja através de pintura, Eventualmente em poesia Ou talvez em partitura, De génio, que algum dia Na tua beleza inspirado, Fique como eu encantado 13/08/2002
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O canto da alegria Canta, é jovial no seu lindo cantar É uma voz dos anjos, dá para entender Na sua voz passa o murmúrio do mar Das aves, do sol e da lua ao entardecer Como uma coluna de fumo a erguer Toda a grandeza do seu triunfo no ar. É uma memória no espaço, quero crer, Para se medir quando ao céu chegar Canta, é jovem e bela e sabe cantar Como os passarinhos pela madrugada, Todo o tempo é pouco para a ouvir. Sempre que a oiço sinto-me sentir Uma alegria triste, quase desejada Capaz de ir ao fim do mundo e voltar 17/03/2016
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Lugar Encantado Sonhando, estava sendo levado Por entre ramos de várias cores Verdes como túnicas de amores Para lugar celeste encantado Senti como que celestiais sabores Entre esbeltos corpos deitado Cuja cama, me haviam preparado Para enfim sentir os seus odores. Nesse lugar tão longo e distante, Onde a vida é apenas um instante E tudo se sente sem dor Ignorando-se toda a forma de riqueza Esquece-se totalmente a tristeza, Reconhecendo-se apenas o amor Jan./2002
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Lutar Eu quero, mesmo sem acordar, partir, Levando o corpo para outro lugar Espero encontrar-te quando chegar Sonhando que não estou a sonhar Não quero ficar, não vou permitir Que me aprisionem quando acordar Fico apenas com o que vou recordar No coração, para mais tarde sentir Não me permito que me vejam sofrer Sem mais forças para poder correr E assim possam ter pena de mim Asseguro, não vou desistir de lutar Mil forças ganho, para não desanimar Neste caminho de luta sem fim 26/03/2002
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Nevoeiro Nevoeiro, peço-te, não me deixes ver Leva-me tão-somente a tocar Aquilo que me queres esconder E que eu sei que posso enxergar Na tua omnipotente magia De tudo nos querer esconder Não consegues evitar a fantasia Que na alma conseguimos ter Nevoeiro, peço-te, não vás, fica Porque a beleza vai-se contigo Não a beleza que todos vêem Mas apenas aquela que eu sinto Por fim em gotas se dissolveu Descobrindo o que já havia visto Por força do sol que bebeu Levou a magia, deixando isto! 27/07/2001
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Noite de Silêncio Dentro do som deste silêncio Caminho por esta rua estreita, De pedras alumiadas Pela luz de um poste escurecido. Viro a minha gola por causa do frio E da humidade que atinge Os meus olhos cansados de não te ver, Oiço palavras não ditas e oiço Músicas não cantadas Enquanto procuro em cada canto O som do teu respirar. Acaba a noite e foge o silêncio Deste sonho por acabar; Talvez outro dia, as tuas mãos As minhas possam encontrar. 28/04/2011
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Novo ano No seu virar de página sem cessar Cada folha caída é nostalgia Dos anos já vividos, dia a dia Nos quantos sonhos por realizar! Os anos sucedem-se sem parar Morrem tristezas, nasce alegria Tudo acontecendo em um só dia Só os sonhos não se deixam acabar Por mais que alguém possa sofrer, Sofrimento que não saiba entender Ao sonho, terá então que se agarrar Mesmo que difícil seja entender Não se pode deixar o sonho morrer Porque a utopia não pode acabar 01/01/2003
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O calor do coração Lá longe onde o sol costuma poisar Para lá do imenso mar e adormecer Deixando-nos sós, mas sem esquecer Que finda a noite voltará a acordar Confiantes ficaremos a esperar Que pela manhã o Sol se volte a erguer Para nossos corações tornar a aquecer Dias após dias, meses e anos sem cessar Durante o tempo que estiver escondido Procura em mim o cálido abrigo, Para o teu coração não arrefecer Não quero que o calor te possa faltar E assim reduzir o brilho do teu olhar Sem o qual me é impossível viver 09/10/2011
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O Tempo que parte Sinto o tempo como que fugindo, Pela janela que não consigo fechar. Docemente, pedi-lhe para esperar, Respondeu-me: não, tenho de ir indo Com o tempo, sinto algo saindo Deste ser que se recusa a acordar. Sabendo, que não estou a sonhar, Pressinto que algo está partindo Quero partir com o tempo que vai E nesse lugar, ficar esperando; Pois sei que quem entra não sai, Desse universo celeste e estrelar. Ao acordar, senti-me chorando, Pelos amores que deixei ficar 02/11/2000
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Porquê? Desprendeu-se suavemente da vida Para calma e vagarosamente cair Sobre o empedrado da avenida Deslizando no espaço sem fugir Sabendo que cumpriu o seu dever Prepara-se para depois renascer Tal como esta folha se desprendeu Do materno leito que lhe deu o ser Assim o meu “mano novo” pereceu Antes do Outono da vida acontecer E com ele se abalou na tristeza A voz que pronunciava princesa Por mais que procuremos entender Válidas razões desta força divina Torna-se impossível compreender Se é Deus quem manda, ou será sina. 24/11/2004
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