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Beatriz Helena Ramos Amaral

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM A ESCRITORA BEATRIZ HELENA RAMOS AMARAL-------------

Doutoranda em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Mestre em Literatura e Crítica Literária PUC-SP, formada em Direito pela USP e em Música pela FASM. Escritora, poeta, contista, ensaísta e compositora, publicou “ A Transmutação os quais “A Transmutação Metalinguística na Poética de Edgard Braga”, “Primeira Lua”, “Peixe Papiro”, “Os Fios do Anagrama” e “O Avesso do Arquipélago “

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CLARA NUNES, A ESTRELA

CANTO DE LUZ NA CULTURA DO BRASIL

Aarte da excepcional e premiada intérprete, pesquisadora (e também compositora!) Clara Nunes caracteriza-se por um expressivo conjunto de elementos que inserem, para sempre, sua vitoriosa trajetória estética na música popular brasileira e na cultura do país num panteão de poucos, ao lado de figuras proeminentes como Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha, Chico Buarque de Holanda, Mário de Andrade, Tom Jobim, João Gilberto, Edu Lobo, Dorival Caymmi, João Guimarães Rosa, entre outros. A inserção se dá, de um lado, pelo imenso talento, inteligência, rigor, sensibilidade, competência, audácia, dedicação e pioneirismo, e, de outro, pela singularidade de um incomparável percurso que reúne o que há de mais genuíno, autêntico e espontâneo em nossa cultura de raiz e, de outro lado, pela beleza da voz, do refinamento e da sofisticação do tratamento musical dado às obras em sua produção fonográfica altamente significativa. A obra atemporal da grande cantora brasileira nasceu para permanecer, para consolidar valores, para educar, ensinar, denunciar, alertar e inspirar nos brasileiros o respeito à sua própria cultura. Clara Francisca Gonçalves nasceu em 12 de agosto de 1942, no distrito de Cedro, município de Paraopeba, no interior de Minas Gerais - e que hoje, emancipado, tem o nome de Caetanópolis. Sua terra natal é vizinha da célebre Cordisburgo, berço de Guimarães Rosa, cuja magnífica literatura Clara viria a tangenciar de modo magistral na interpretação de Sagarana, bela canção de Paulo César Pinheiro e João de Aquino criada em homenagem a Guimarães Rosa e batizada com o nome do livro de contos de estreia do escritor. Está sediado em Caetanópolis o Instituto Clara Nunes e também o Memorial Clara Nunes, que reúne impressionante acervo de cerca de 10 mil itens – prêmios, CDs, discos de ouro, vestimentas, acessórios, fotografias, santos barrocos, imagens religiosas africanas, reportagens, móveis, livros, correspondência, jornais, revistas, álbuns – referentes à vida e à obra de Clara. Uma visita a este rico acervo é uma porta de entrada

para o universo estético e humano da artista e para a polifônica cultura brasileira. Do encontro entre a afinação perfeita, o timbre vocal terno e agradável, os recursos vocais ilimitados e o bom gosto do repertório, resulta um conjunto precioso para a música. A ele se conjugam a ética, a versatitilidade, a valorizaçâo das três etnias que compõem o povo brasileiro (indígena, africana e portuguesa), e o primoroso trabalho não só musical e estético mas também de profundo e notável alcance social, com a valorização da igualdade entre os gêneros, da diversidade religiosa, da tolerância religiosa e da beleza do ecumenismo que Clara viveu e que transborda em seu belo legado. Foi ela a primeira cantora brasileira a alcançar a cifra de meio milhão de discos vendidos. Conquistou todas as faixas etárias e sociais do Brasil e conquistou todos os países em que esteve a apresentar sua arte, entre os quais Suécia, França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Argentina, Venezuela, Costa do Marfim, África do Sul, na maioria dos quais lançou discos. Neste mês em que se celebra a mulher, deixo uma sugestão, que é convite e exortação. Ouçamos a voz de Clara, registrada em seus 16 LPs individuais, cerca de 100 compactos-simples e dezenas de participações em obras coletivas, além de 12 coletâneas póstumas. Seus CDs-solo foram remasterizados em Abbey Road e lançados pela EMI, acompanhados de um CD com belas raridades. Ouçamos e vejamos o DVD CLARA NUNES, lançado pela Globo. Vejamos o belíssimo documentário “CLARA ESTRELA”, dirigido por Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir. E façamos a leitura dos livros até agora publicados sobre a artista: “O Canto Mestiço de Clara Nunes”, coordenado pela historiadora Sílvia Maria Jardim Brügger; “Clara Nunes- Guerreira - o livro do disco”, da ensaísta Giovanna Dealtry (Ed. Cobogó); “Clara Nunes – Guerreira da Utopia”, sua biografia, escrita pelo jornalista Vagner Fernandes (Ed. Agir); “O Mistério da Terra de Clara Nunes”, de Adriana Andrade, Edna Pires e Jones Silva; “Clara Nunes nas memórias de sua irmã dindinha Mariquita”, de Maria Gonçalves da Silva Silva e Josemir Nogueira Teixeira (lançado em 2020). Clara é um enorme sopro de luz sobre o Brasil e o mundo. Nos tempos de hoje, é preciso ouvi-la. Estejamos em sintonia com seu canto.

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