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Anastácia Quintanilha Bastos

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Simara Sá

Simara Sá

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM A ESCRITORA ANASTÁCIA QUINTANILHA BASTOS------------

EU MULHER!

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Ah sou Mulher, mais qual Mulher eu sou? Negra, Branca, Parda, Amarela, vermelha... Qual Mulher eu fui ontem? Qual Mulher serei amanhã? Não sei! Será que sei? Qual Mulher eu sou hoje? Será que sou filha, irmã, tia, mãe, avó, bisavó? Ou só Mulher? Mulher de um homem ou de mais ou sem nenhum? Sou Mulher que trabalha, luta, briga, combate, pilota, cozinha, cuida, chora, ri, brinca, cai, levanta, ajuda, grita, sussura, amiga, inimiga, confiável, ou não, amável, companheira ou não. Eu Mulher mais qual Mulher? Aquela que nesta pandemia usou a máscara para disfarçar a falta de dinheiro, a falta de comida para os seus filhos, a falta de vergonha dos nossos governantes que deixou o Brasil nesta situação! Eu Mulher que hoje olha para os seus avós, pais, filhos, netos, irmãos, amigos, e não sabe o que dizer a não ser fiquem em casa, usem a máscara, use álcool gel! Eu Mulher que nesta luta não tem tempo para se olhar. Eu Mulher sem tempo de comer. Eu Mulher sem tempo de sorrir para si, e consigo mesma. Eu Mulher sem tempo de ser Mulher! hoje e o meu dia, o seu dia, o Dia da Mulher! Mais qual Mulher é vc hoje? A médica que deixou a sua família para cuidar do pai de família e que perdeu a vida? A enfermeira que tem o rosto marcada pela máscara? A faxineira que não pode faltar no serviço mais está com o coração apertado por que volta para casa no ônibus lotado e pensa em seus filhos? E assim e eu Mulher, cozinheira, cuidadora, babá, e muitas mais, eu Mulher! Qual Mulher eu sou? Hoje Mulher se olhe, se veja, se cuide, se ame! Por que nós somos essenciais para nós mesmas em primeiro lugar! Eu sou Mulher, sou lutadora sou guerreira e me amo! E eu Mulher amo a Mulher que você é! Se ame você também hoje e sempre.

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM A ESCRITORA ANASTÁCIA QUINTANILHA BASTOS------------

MULHER NA MENOPAUSA

Hoje, eu estava a olhar a chuva, como ela é linda, forte, devastadora. Segue devorando tudo a sua frente, por onde passa sem dó e nem piedade. Ali nesse instante, parei, e me coloquei a pensar, que como a chuva, algo em mim estava devastando, destruindo algumas amarras, que ao longo da minha vida, deixei que colocassem em mim. Não vou contar tudo! Por que já passei e alguns dilemas, ainda não acabaram. Só vou compartilhar o meu despertar, em relação a uma sexualidade, que em mim imaginei estar morta ou extinta. Por amarras que eu permitir que me colocassem, por medo, preguiça de lutar, por vergonha de sentir ou desejar e ser desejada, ou mesmo por culpa de ser amada. Mas isto não vem ao caso! Me deparo com meu eu de agora, me encontrando finalmente. Em 2017 entrei para faculdade de Enfermagem. Nesse mesmo ano iniciei uma análise, e conversando com o meu analista, o mesmo me falou, que eu tinha uma trava em relação a homens, que eu teria que enfrentar isso um dia, e me propôs, que eu fizesse uma massagem tântrica, que me ajudaria a saber onde eu se encontrava esta trava. Procurei a massagem, e por coincidência ou não, marquei com um japonês. Quando cheguei você fica em uma suíte com um colchão no chão e um banheiro. Nesse instante, entra um japonês, estatura pequena, vestindo apenas uma cueca. Já me travei na hora, a voz não saia embargada com aquela situação em que me encontrava. Ele olhou para mim e perguntou, se eu queria ir embora, a voz não saiu. Ele começou a conversa e perguntando o que eu fazia dentre outras perguntas pessoais sobre mim e sobre minha vida. Ele disse: Você pode tomar um banho e ficar só de toalha, e pode se deitar de bruços assim que terminar. E se eu queria que ele ficasse de cueca ou sem. Pedi que permanecesse de cueca. Me pediu para ficar de olhos fechado, e que eu sentisse o toque de suas mãos. Ele mal tocava em minha pele, porque mais parecia que ele passava fogo sobre mim. Senti um turbilhão de sentimentos, entre, raiva culpa, ódio, vergonha. Tive vontade de sair correndo, mas a curiosidade falou mais alto, eu queria saber em que isto iria me ajudar, ele ia falando que eu ouvisse o meu corpo por que ele estava falando comigo. Que eu me permitisse sentir os meus próprios sentimentos, que deixasse eles virem á tona, aflorasse sobre a minha pele. Fui me permitindo, sentir mais e mais, cada vez com maior intensidade. Para mim, parecia que eu estava ligada em uma rede elétrica, de onde saiam faíscas das minhas mãos e dos meus pés. Fui longe, me recordei de quando eu era uma moça de 19 anos e estava com o pai da minha filha, que a nossa relação para mim era uma descarga elétrica que eu ficava acesa. E me lembrei que ele começou a me podar, que isto não era coisa de mulher decente, que isto não podia que aquilo era feio, sempre criticando minhas escolhas e fantasias. Quando percebi, que o que me dava prazer, eu já não fazia mais, e o que me dava alegria, me causava muitas vezes frustração e raiva. Que fazer amor ou sexo para mim já não tinha o mesmo sabor, o mesmo prazer. Nesse momento, me assustei com ele tocando a minha vagina, com um vibrador, dei um grito baixo. Ele disse só sinta, só sinta. Me permiti a sensação e a nova experiência, posso recordar de todos os detalhes perfeitamente. Quando terminou minha sessão, antes de sair, conversamos um pouco. Ele muito cordial, me disse, prestou atenção em seu corpo? Onde você tem mais sensibilidade? Que é no seu bumbum? Você viu que ao menor toque ele reage?

Você vai ficar pensando, analisando, mesmo que inconsciente, por um bom tempo em tudo que você viveu aqui e com as ferramentas que você adquiriu hoje, você será capaz de lidar com tudo isto. Confesso que não queria pensar ou analisar por que não sabia o que eu estava sentindo. Mais os pensamentos não paravam de vir e toda hora eu ficava com raiva, outra hora alegre, hora triste, outras pensativa. Me pus a pensar tenho um homem que só dá as caras uma vez ou outra passa até mais de um ano sem vim e eu ficava à espera. Decidi, não esperar mais nada dele, e resolver os meus dilemas e conflitos. Comecei a procurar um massagista novamente, especialista em massagem relaxante. Olhei vários anúncios, onde dois me chamaram atenção. Marquei e fui, não gostei da pessoa, e então não fiz a massagem, decidi vir embora. Marquei com o outro, em um hotel onde poderia contar com auxílio caso eu estivesse em perigo. O Ser apareceu e na hora nos simpatizamos, me deixou muito à vontade. Disse que ficaria de cueca, e se eu não quisesse não finalizaria, tudo bem. Fiquei com a toalha no meu bumbum, ele começou pelos ombros e foi descendo, quando ele chegou no meu bumbum a massagem ele fez com a língua, aí foi um misto de susto com desejo, tesão, me deixei ser levada, nenhum homem nunca havia feito isto comigo. Descobri que amo tocar, beijar, cheirar um corpo suado, misturado com perfume, tendo uma mistura do cheiro natural do outro. Descobri que gosto de ser tocada, beijada, mordida em meu bumbum, em minhas partes mais íntimas, que vou ao delírio, com a língua em meu clitóris. Nossa uma loucura! Posso te garantir. Descobri que gosto de sexo, me sinto solta, relaxada. Tirei minhas amarras, já não me importo com as opiniões, se me rotulam como velha, por me permitir essas experiências. Posso dizer que estou mais alegre, mais solta, mais viva do que nunca. As minhas coisas estão fluindo, a minha vida tem um novo sentido, me permito viver, me permito a felicidade que há dentro de mim e que irradia essa imensa felicidade a todos em minha volta. Estou fazendo mais por mim. Se eu tive que me redescobrir através de uma massagem relaxante, já não me culpo, já não me envergonho de tal atitude em minha vida. Mesmo que seja um momento que me proporciono, sendo pago a alguém, esse alguém me ouve, assim como também compartilha sobre sua vida. Olhando nesse instante para a chuva que cai lá fora eu acabo fazendo uma breve reflexão sobre outras mulheres, que assim como Eu, acabou tendo seus desejos ceifados por alguém, podados por pessoas que não estavam preparadas para uma intimidade. E vejo que essas mesmas mulheres, hoje têm uma velhice amargurada, repletas de bloqueios. Mulheres que aos seus 50 anos, no auge de toda sua experiência de vida, não se permitem sentir seus hormônios, seus sentimentos, já não ouvem seus corpos, gritando por algo a mais. Que acham pecado, se permitir ter prazer, tesão durante uma relação, vergonha do próprio corpo, e muitas vezes do que sente. Hoje estou bem, porque retirei, um fardo pesado sobre mim, sobre a minha vida. Entendo que posso tocar, beijar, acariciar, morder, sentir o outro, sem nenhuma culpa ou bloqueio, que nada disso tem de errado ou de pecado. Só demonstra que somos mulheres e que estamos vivas no auge dos nossos 50 anos. Voltando a chuva que cai, consigo entender, ela não se culpa pelo dia anterior, ter devastado um quarteirão, apenas cai serem no dia seguinte, linda e calma, molhando a terra, e exalando o cheiro de terra molhada. Me permito sentir, e experimentar tudo aquilo que me foi negado, tirado, roubado, sem nenhuma culpa, sem nenhum constrangimento. Ainda tenho muito que viver e aprender, e tenho certeza que ainda tenho muito o que me permitir.

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