Primeira Pauta nº 80

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produção dos alunos de jornalismo do Bom Jesus / Ielusc Joinville, maio de 2010 Divulgação Marcus Carvalheiro

Processo auxilia o meio ambiente

Copa do Mundo

Brasil, favorito sempre

Página 3 Margaret Paim

Histórias de Ruy O escritor e jornalista Ruy Castro conversou com o PP sobre sua ligação com a literatura, o jornalismo e a arte de construir uma biografia.

Contracapa

Habitação é tema de caderno


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Os sofismas no Centro seguro jornalismo EDITORIAL.

Com a prorrogação da Operação Centro Seguro, o movimento na região central limita-se até às 22 horas, quando bares e restaurantes precisam fechar as portas e a população está impedida de transitar. O objetivo é acabar com o crime, porém, a ação viola o direito de ir e vir dos cidadãos. Além disso, mascara os problemas sociais que geram a violência e o uso de drogas. Criase, a partir daí, a ilusão de que a criminalidade diminuiu, quando, na verdade, está sendo escondida. A polícia é treinada para tomar medidas paliativas, sem considerar a origem da questão. Baseada na exclusão de quem não se enquadra nos padrões sociais, a abordagem policial envolve encarceramento ou transferência para longe

Primeira Pauta Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo

dos olhares públicos. Como você pode checar na matéria “Operação continua”, na página 6, já foram centenas de suspeitos cadastrados, mas a minoria portava drogas ou armas. Esse conceito de “suspeito”, porém, é questionável e, geralmente, pautado em preconceito racial e sócio-econômico. Em um país de etnia tão variada, a própria população não se dá conta de que corrobora com a discriminação e a elaboração de um perfil (supostamente) criminoso. É preciso ter consciência de que segurança pública é um problema social e não apenas policial, que deveria ser resolvido através de medidas educacionais e de melhor distribuição de renda. Afinal, Joinville é muito maior do que o Centro.

Coordenação do Curso de Jornalismo Prof. Sílvio Melatti Disciplina Produção e Difusão em Meios Impressos II

Edição 80- Maio de 2010

Professor responsável Luís Fernando Assunção

Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

Chefe de Reportagem Monique Moreira

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Thomas Michel

Acadêmico de Jornalismo na UFSC

O jornalista tem a função social de informar, analisando de forma mais correta possível os fatos para depois tornar os resultados desse trabalho públicos. Mais importante é a publicação, pois só assim os espectadores/leitores/ouvintes terão conhecimento sobre os relatos jornalísticos. O ideal é que as informações sejam relatadas de forma imparcial para que o consumidor da publicação possa tirar suas próprias conclusões sem ser manipulado intelectualmente. Um modo de manipulação é o dos sofismas (“sutileza de sofista” em grego ou “impostor” em latim). Quando um jornalista vai entrevistar, ele pode ser muito bem enganado ou não conseguir a informação que necessita. Basta que o entrevistado tenha algum domínio da retórica. No filme Frost-Nixon, essa relação é clara. O apresentador quer que o ex-presidente Richard Nixon, que havia renunciado há pouco, faça um pedido de desculpas aos Estados Unidos através da admissão de seus erros e possíveis desvios de conduta como chefe da nação. Durante os três primeiros dias de entrevista o que Frost consegue são apenas respostas que fugiam da questão principal. Nixon, reconhecidamente um grande orador, sempre “escapa pela tangente” e faz uso de exemplos de sua vida particular para justificar seus atos presidenciais,

Edição de textos Carolinne Sagaz Kamila Schneider Tuane Roldão Diagramação Natália Trentini Vanessa Vitória de Barros Fotografia Bruno Isidoro Margaret Pain Marcus Carvalheiro

Reportagem Bruna Borgheti Carlos Marciano Débora Kellner Jeferson Corrêa Ludimila Castro Nelyana Girardi Rafaela de Mira Edição de imagens Bruno Isidoro Marcus Carvalheiro

o que, além de dar uma “aparência” de boa índole ao ex-presidente, parece justificar, retificar e dar toda a razão a Nixon. No Brasil, é comum vermos, nos jornais, um pré-julgamento de crimes através de sofismas e fatos inconclusos pronunciados majoritariamente por delegados, políticos e outras autoridades (jornalistas também). São casos como o da Escola de Base, em que o delegado argumentava que os donos da escola eram culpados quando na verdade não eram. As declarações foram publicadas e sustentadas por jornalistas, tornando inocentes em culpados pela opinião pública. Opinião pública que foi influenciada pelas notícias dos jornais, que, por sua vez, foram enganados pelo delegado. O jornalista deve ter conhecimento dessa forma de retórica para que possa fazer seu trabalho da melhor maneira possível. Para que os sofismas sejam rebatidos ou anulados pelo repórter é necessário que ele se municie de informações, o máximo possível, antes da entrevista para não deixar brechas em que possa ser manipulado. Mesmo que tenha conhecimento dos sofismas, se não for bem informado, o jornalista pode até negar as falácias, mas corre o risco de terminar a entrevista insatisfeito, sem o mínimo necessário para sua matéria.

Contato com a redação Rua: Princesa Isabel, 438 Centro Caixa Postal: 24 CEP: 89201-270 Joinville/SC Telefone: (47) 3026.8000 E-mail : nossoprimeirapauta@gmail.com Tiragem e impressão Jornal A Notícia - 2 mil exemplares


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Economia sustentável Aposentado adapta sistema que reduz conta de água em 40%

Marcus Carvalheiro

Carlos Marciano Um empreendimento humano sustentável precisa atender quatro requisitos básicos: ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. O aposentado Hilário Neumann, 55 anos, adaptou um sistema para economizar água em sua casa: uma caixa d’água como cisterna, uma motobomba e uma mangueira, ao custo de R$ 400. A ideia é simples, mas de retorno imediato: uma redução de 40% na conta. Na fábrica onde trabalhava, havia um método de reaproveitamento, o que o motivou a fazer algo semelhante em casa. Tudo é muito prático: a água da chuva e a da máquina de lavar é armazenada na caixa d’água. Em seguida, a bomba faz com que o líquido chegue até a mangueira e seja utilizado na lavação do piso, dos carros e até para abastecer um segundo reservatório que leva água para os banheiros. Todo o material utilizado é reaproveitado. “A bomba, peguei de um ferro velho e fiz manutenção. Ela consome pouquíssima energia, pois não adiantaria economizar água e gastar mais com eletricidade”, explica. Embora utilizado há mais de um ano, o projeto ainda não está concluído. Hilário pretende também construir um sistema para filtrar a água suja que sai da máquina de lavar, aumentando ainda mais o rendimento. Hoje, a água da cisterna é levada pela mangueira até o reservatório que abastece os banheiros. Se a filtração der certo, pretende colocar mais um reservatório e fazer uma ligação através de canos entre os reservatórios e a cisterna, abastecendo toda a casa com água reaproveitada.

“A bomba, peguei de um ferro velho e fiz manutenção. Ela consome pouquíssima energia, pois não adiantaria economizar água e gastar mais com eletricidade”

Uma caixa d’água, uma motobomba e uma mangueira

Empresas aderem à moda A sustentabilidade pode ser viável economicamente também dentro das empresas, segundo a consultora empresarial, Vera Lúcia Hoffmann Pieritz, mestre em desenvolvimento regional e coordenadora do Curso de Serviço Social do Grupo Uniasselvi. Em entrevista ao Jornal Folha de Schroeder, ela explica que as organizações, quando desenvolvem projetos de responsabilidade social, acabam gerando um valor agregado a seus produtos, sua marca e sua imagem institucional. “Hoje, qualquer negócio deveria estar em busca da realização dos

seus objetivos sociais, ambientais e econômicos, para assim contribuir no desenvolvimento sustentável de sua comunidade, região e a si mesmo”, defende. Para a professora, a sustentabilidade é uma das mais importantes características da sobrevivência de uma organização: permite, através dos processos de tomada de decisões, satisfazer as necessidades atuais da empresa, sem comprometer a sua perpetuação ao longo dos tempos e a capacidade das futuras gerações de também satisfazerem suas necessidades.

“Hoje, qualquer negócio deveria estar em busca da realização dos seus objetivos sociais, ambientais e econômicos”

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Brasil

Favorito de todos os tempos Débora Kellner Faltam menos de dois meses para a Copa do Mundo e o Brasil já está no clima da maior competição de futebol de campo do planeta. Em 2006, a Seleção Brasileira chegou até as quartas-de-final, quando foi derrotada pela França. Na classificação final, o Brasil ficou na quinta posição. Depois da decepção passada, o jornal Primeira Pauta quis saber como anda a popularidade do Brasil e as expectativas dos brasileiros para 2010. A Seleção Brasileira é praticamente favorita ao título todos os anos, não só pelos jogadores e técnicos, mas também por ser o único time a participar de todas as edições do evento. E este ano, tem gente apostando todas as chances no time verde e amarelo. Na área de marketing, o número de patrocinadores do Brasil é quase três vezes maior que o da última Copa do Mundo. Até agora já são dez empresas, com chance de entrar mais uma. O interesse em atrelar suas marcas ao time tornou o Brasil dono da seleção com o maior número de patrocinadores do mundo. O mercado do marketing esportivo estima que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tenha arrecadado, este ano, mais de US$ 200 milhões em contratos de patrocínio. Estão na mesma categoria de patrocínio as empresas Nike, Itaú, AmBev, Vivo e o frigorífico Marfrig. Com exceção da Nike, cuja verba de patrocínio é bem superior à média, os patrocinadores master pagaram cerca de US$ 15 milhões por contratos anuais. Há valores mais modestos, mas com menos regalias para uso da marca seleção. Giram em torno de US$ 6 milhões e foram assinados com Volkswagen, TAM, Gillette, Pão de Açúcar e Nestlé. Outro ponto que mostra que a Seleção Brasileira é uma das “queridinhas” é o investimento que as emissoras de televisão estão fazendo para transmitir os jogos do Brasil para o mundo todo. A Federação Internacional de Futebol (Fifa) revelou, no dia oito de abril, quais partidas da Copa pretende exibir em 3D, em parceria com Sony e ESPN. O Brasil será p.p | maio, 2010

o único time cujos três jogos da primeira fase serão exibidos em três dimensões. Argentina, Alemanha, Espanha e Holanda, por exemplo, terão apenas dois. Atuais campeões do mundo, os italianos verão apenas uma partida de sua seleção transmitida com a nova tecnologia. Também estão programados para transmissão em 3D três jogos das oitavas de finais, três das quartas de finais, as duas semifinais, a disputa pelo terceiro lugar e a final, no dia 11 de julho. No Brasil, a Rede Globo se movimenta para reproduções públicas das partidas 3D em cinemas e ginásios do país.

Bom no gramado? E na opinião de quem entende mesmo de futebol, os que escolherem apostar no Brasil, terão uma boa chance de vencer. De acordo com o jornalista esportivo, Julimar Pivatto, o Brasil é o principal time dessa Copa do Mundo. “As chances de o Brasil levar o título são grandes. Apesar das críticas, o técnico Dunga conseguiu dar padrão de jogo e conquistou a Copa das Confederações. Além disso, quando enfrentou outros times candidatos ao título, como Argentina, Inglaterra e Itália, venceu todos. Dunga também tem o grupo nas mãos, como Felipão tinha em 2002, e isso pode fazer a diferença”, completa. Os principais concorrentes da Seleção Brasileira são Argentina e Espanha. “Se Lionel Messi repetir na seleção o que vem fazendo no Barcelona, a Argentina é fortíssima candidata ao título. A Espanha vem com a melhor seleção de todos os tempos, mas precisa se livrar do complexo de ‘amarelar’, ou seja, de perder justamente nas fases decisivas. Além deles, Alemanha e Itália são sempre favoritas, pela tradição”, ressalta Julimar. O jornalista esportivo do jornal ANotícia, Jeferson Cioatto, também acredita que a Argentina pode ser um dos maiores rivais por causa da boa fase do jogador Messi. “A Argentina tem um

time bem treinado pelo Vicente Del Bosque e jogadores decisivos como o Fernando Torres. Mas quem faz o time andar são outros dois: Xavi e Iniesta. A Argentina pode ir bem por causa da grande fase do Messi. E quando um jogador assim se destaca é difícil parar. É só lembrar do Romário, em 1994, do Zidane, em 1998, do Rivaldo, em 2002. Um só jogador faz diferença sim”. A convocação dos jogadores para a Copa do Mundo 2010 ainda não saiu e o técnico Dunga ainda não deu dicas de quem pretende escalar. Para Julimar, alguns novatos e experientes formariam o time. “Eu levaria o Ronaldinho Gaúcho. Até porque, se Kaká se

machucar, não temos um substituto para ele. Na Copa precisamos de gente que tenha a genialidade para decidir um jogo difícil em um lance. Também queria ver Neymar, do Santos. Ele tem só 19 anos, mas Pelé, em 1958, tinha 17. Júlio César é com certeza o melhor goleiro do mundo na atualidade, os zagueiros Lúcio e Juan passam uma confiança que não víamos há muito tempo. Meu time titular seria Júlio César, Maicon, Juan, Lúcio e Daniel Alves; Gilberto Silva, Ramires, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Robinho e Luís Fabiano”, explica.


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Cinco vezes campeão do mundo Divulgação

Brasil supera os favoritos ao título e se torna o primeiro time sul-americano a levantar a taça em solo europeu, com vitória de 5 x 2 da Suécia.

1958

Amarildo, Zito e Vavá foram responsáveis pelos três gols que deram a vitória para o Brasil, no jogo contra a Tchecoslováquia, atual República Tcheca.

1962

Com a vitória de 4 x 1 sobre a Itália, o Brasil é o primeiro time a conquistar três títulos na história da Copa.

1970

Primeira vez que uma final da Copa do Mundo é decidida nos pênaltis. Brasil se consagra campeão após defesa do goleiro Taffarel e um chute para fora do atacante Baggio.

1994

Mesmo desacreditados, Brasil e Alemanha chegam à final, mas a vitória é verde e amarela com o placar de 2 x 0.

2002

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6 Ludimila Castro

Patrulhamento policial ganha intensidade durante o turno da noite e comerciantes têm hora certa para fechar bares e lanchonetes

Operação continua

Polícia adia fim da ação Centro Seguro, mas diminui o número de agentes Ludimila Castro

“Tive que dar água com açúcar para um cliente quando os policiais entraram armados na lanchonete para fazer uma revista”

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Depois dos primeiros 20 dias de Operação Centro Seguro, a Polícia Militar decidiu prorrogar a ação por tempo indeterminado. Porém, houve uma redução no número de profissionais atuando: de 90 para 21 policiais. Eles trabalham em duplas, distribuídos pela região em sete viaturas, motocicletas e bicicletas, com o objetivo de combater o tráfico e outros crimes. Porém, esta ação divide opiniões na cidade. Ao ver alguma atitude suspeita, os policiais cadastram os suspeitos e fotografam cada um deles. Se há mandado de prisão ou se a pessoa é flagrada com algum tipo de droga ilícita, é levada para a delegacia. No banco de dados, já constam 300 cadastros. O patrulhamento da Polícia Militar dura 24 horas,

contudo, é durante a noite que a ação se intensifica. Há quatro pontos onde ocorrem a maioria das abordagens: travessa do Terminal Urbano, Praça Lauro Müller, rua das Palmeiras e Via Gastronômica. A primeira semana de execução foi a mais movimentada, com cerca de 30 abordagens diárias em média Uma das medidas de segurança adotadas pela PM interferiu na rotina dos comerciantes da região central, pois a operação determina que, às 22 horas, todos os bares estejam fechados. Quando os estabelecimentos ultrapassam o horário, a polícia intervém. “Na questão da segurança, melhorou. Mas agora temos que fechar mais cedo e fomos prejudicados com isso”, explica Luiz Gonzaga da Silva, funcionário da Lanchonete Palmeirão, localizada na

rua do Príncipe. A mesma reclamação é feita pelo proprietário de um bar em frente ao Terminal Central, que prefere não se identificar. “A operação ajudou de um lado e prejudicou do outro. Eu tive que dar água com açúcar para uma cliente quando os policiais entraram armados na lanchonete para fazer uma revista”, afirma. Há trabalhadores noturnos que apoiam a operação. Entre eles, o recepcionista Amauri Maciel, 58 anos. “A presença da polícia trouxe benefícios. Na minha opinião, era para ter feito isso há tempos”, enfatiza. Maciel já foi assaltado e, depois disso, passou a fechar a porta do hotel onde trabalha às 23 horas. Segundo ele, a rua Jerônimo Coelho, está mais segura. Agora, a Polícia Militar estuda a proposta de levar a operação a outros bairros.


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Cor define riscos

Sistema de classificação indica a prioridade no atendimento dos pacientes Rafaela de Mira Após sete meses com o atendimento baseado na classificação de risco, o Hospital Materno Infantil Dr. Jeser Amarante Faria sente a necessidade de iniciar uma campanha de conscientização e conhecimento das pessoas em relação a esse sistema. A assessora de imprensa do hospital, Talita Rosa, justifica a iniciativa ao relatar que apesar do tempo de existência, poucas pessoas conhecem o atual método de atendimento. No início do mês, a campanha começou a ser divulgada nas rádios e jornais e se estendeu ao hospital no dia dezenove. Para Talita, isso ajudará a promover a ideia de que o atendimento não é mais feito por ordem de chegada e deixará as pessoas cientes de que algumas vezes será necessário aguardar na sala de espera. O atual sistema de atendimento implantado objetiva assistir os pacientes de acordo com a intensidade de agra-

vo do paciente. Dessa forma, as crianças que apresentam sintomas de emergência são atendidas imediatamente. Já as outras, aguardam atendimento após uma triagem feita por enfermeiros para classificar o grau de risco. Em seguida, elas recebem uma pulseira com a cor da gravidade do caso, indicando o nível de urgência do atendimento. Segundo o técnico em radiodiagnóstico do hospital, José Luiz Caldeira, este atendimento é mais correto e humano. Ele explica que, embora pacientes com diagnóstico de casos menos urgente permaneçam na sala de espera, eles não deixam de ser observados. Caldeira acredita que a cultura imediatista dos brasileiros faz com que muitas pessoas não gostem de esperar, mas afirma que este é o processo de atendimento ideal. Segundo o técnico, anteriormente à implantação do sistema existia, inclusive, casos de convulsão na sala de espera. “Hoje esses pacientes são imediatamente atendidos”, afirma.

O Hospital Materno Infantil Dr. Jeser Amarante Faria é o primeiro e único hospital de Joinville a atender com o processo da classificação de risco seguindo a Política Nacional de Humanização. Hoje, esse método de atendimento é realizado em vários hospitais do Brasil e em breve deve ser aplicado em outros hospitais da região. Segundo o coordenador do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), Thiago Faustino, o chamado Protocolo de Manchester consiste em uma metodologia de trabalho implementada na cidade de Manchester, na Inglaterra, em 1997. Expandido em vários outros países, o projeto está creditado pelo Ministério da Saúde, CRM (Ordem dos Médicos), COREN (Ordem dos Enfermeiros) e é entendido como suporte na melhoria do atendimento a quem recorre a um serviço de urgência. “O protocolo foi testado e aprovado internacionalmente, o que também garante a segurança do serviço”, afirma.

“O Hospital Materno Infantil Dr. Jeser Amarante Faria é o primeiro de Joinville a utilizar a classificação de risco”

Divulgação

“Com este sistema o atendimento é mais correto e humano, afirma o técnico em radiodiagnóstico José Luiz Caldeira”

Para concientizar a população, o Hospital Infaltil intensifica a divulgação no atendimento por classificação de risco

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8 ENTREVISTA. Ruy Castro

Escrevendo vidas Margaret Paim

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Segundo Ruy, fazer uma biografia exige anos de pesquisa e estudo do personagem, e apenas meses de escrita

Tatiana de Souza

“Há algum tempo atrás eu descobri que não sou eu quem descobre o personagem, mas eles que me descobrem”

“Eu sempre disse que o melhor biografado é aquele que já morreu, era órfão, brocha e foi solteirão”

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Com 62 anos, Ruy Castro encantou estudantes, amantes da literatura e fãs durante a 7ª Feira do Livro de Joinville. Ruy é considerado, por muitos, jornalista por ter exercido durante muito tempo essa função. O escritor, reconhecido nacionalmente por suas biografias, concluiu o curso de Ciências Sociais, mas nunca retirou o diploma. Mineiro, da cidade de Caratinga, entrou para o jornalismo aos 22 anos, em 1967. Entre as biografias e livros escritos por Ruy, destacam-se “Chega de Saudade: A história e as histórias da Bossa Nova” (1990), “Estrela Solitária: Um brasileiro Chamado Garrincha” (1995) e “Carmen: Uma biografia” (2005). Primeira Pauta - Qual é o melhor tipo de biografado? Ruy Castro - Eu sempre disse que o melhor biografado é aquele que já morreu, era órfão, brocha e foi solteirão.

PP - Alguém já ligou encomendando uma biografia? Ruy - Eu recebi uma ligação de um assessor da Dercy Gonçalves. Ele me disse: “Ruy, a Dercy quer que você faça uma biografia dela”. E eu respondi, “olha, eu sou o maior fã da Dercy e não quero que ela morra jamais, e eu só biografo gente morta”. E um dia ela foi ao programa da Hebe e a apresentadora perguntou porque ela não fazia uma biografia. Ela disse: “Eu já falei com esse tal de Ruy Castro, mas ele só gosta de gente morta.” PP - Das biografias que você já escreveu, qual mais se identifica? Ruy - A que eu mais me identifico é com a da Carmen Miranda, porque sem saber eu já vinha colecionando materiais há muitos anos, como recortes de jornais e discos. Além disso, essa foi uma das mais demoradas, passei cinco anos só levantando entrevistas. Eu imaginei que se eu fosse biografar ela, eu daria maior ênfase à carreira e à vida dela

no Brasil, porque a estrangeira, qualquer um faz. PP - Como apareceram os personagens Garrincha, Carmem e Nelson Miranda? Ruy - Há algum tempo atrás eu descobri que não sou eu quem descobre o personagem, mas eles que me descobrem. A ideia vem de repente. E eu me identifico com eles. Quando eu penso um personagem faço meio que uma pauta na minha cabeça. E depois saio pesquisando. Vendo o que eu tenho guardado. PP - Como é o processo de escrita de uma biografia? Ruy - u levo anos pesquisando, entrevistando e apurando, e meses para escrever, porque escrever é mais fácil que apurar. PP - O que precisa para ser um bom biógrafo? Ruy - Eu não acho que precise ser só jornalista para ser biógrafo. Tem que ter muitas outras coisas. Se houvesse um curso para formar biógrafos, o aluno teria que ter aula de jornalismo, história, letras, antropologia, sociologia e muito mais. É preciso ter uma certa bagagem. PP - Como você ganha a vida? Ruy - Eu não vivo de literatura, eu vivo de escrever. Escrevo para jornal, revista. Tenho programas de comentários em rádio e TV. PP - O que você acha do jornalismo que é feito hoje, pelos veículos diários de comunicação? Ruy - Embora seja bem editado, é mal escrito, mal apurado. PP - O que você está achando da feira do livro de Joinville? E o que mais gostou aqui? Ruy - Eu estou adorando. A feira é ótima. E o melhor é o público.


especial

Habitação Suplemento do Jornal Primeira Pauta

Joinville, maio de 2010

R A Z I L A C I T R E V ? O Ã N OU

A verticalização é a questão discutida na Câmara de Vereadores de Joinville, e que vem causando polêmica. A medida é uma das muitas ações que alteram as regras de uso e ocupação do solo.

Páginas 4 e 5

A maneira certa de construir em Joinville Página 7

Nem todos têm acesso ao “Minha Casa” Contracapa


2 Artigo. Sérgio Gollnick

Verticalizar para quem? U

O processo de ocupação indiscriminada de áreas residenciais para atender a interesses imobiliários fazem, há muito, Joinville perder suas referências da memória da construção urbana formadora da nossa identidade. Rapidamente, a nossa memória vai sendo demolida por conta de novas construções, num modelo de reprodução volumétrica rudimentar, carente de soluções inovadoras e sustentáveis que apenas se diferenciam pelo revestimento externo, sem agregar valor, salvo aos que especulam. Este contexto segue ignorado pelo poder público, sempre muito displicente com nossas heranças culturais, arquitetônicas, ambientais e sociais, formadores da nossa identidade. Ao aceitar verticalizar áreas da cidade que apresentam singela harmonia entre o ambiente natural e o construído, o poder público colabora com o aumento da segregação sócio-espacial, reduzindo possibilidades de maior coesão social, característica que é relevante nos bairros residenciais unifamiliares. Estas ações demonstram a inexistência de um planejamento reconhecido e se suportam num discurso equivocado de que a infra-estrutura disponível (qual infra-estrutura?) é suficiente para justificar a verticalização, ignorando fatores históricos, ambientais ou padrões de ocupação urbana que deveriam pressupor maior coesão social. Enfim, nosso modelo de urbanismo é clientelista e enfadonho.

Sérgio Gollnick Arquiteto e Urbanista Charge: Sidney Azevedo

m fator que pouca gente percebe e que nos últimos anos toma conta de Joinville é a pressão pela verticalização de nossas construções em bairros tradicionais, especialmente para fins de moradia de médio e alto padrões, motivadas pelo grande apelo da qualidade ambiental e urbana que estes sítios sugerem. O propósito é usar este predicado como apelo de venda para novos empreendimentos imobiliários. A qualidade destes locais foi conquistada ao longo de décadas, mantendo áreas residenciais unifamiliares com predomínio de jardins arborizados e floridos (que nos conferiram o título de “Cidade das Flores”) e de uma vida pacata, característica dos lugares bucólicos. Se permitidas as alterações propostas, iremos transformar estes locais num amontoado de construções, sintetizadas por prédios que eliminarão as qualidades dos bairros mais bucólicos. A cada nova construção, áreas verdes serão suprimidas, edificações antigas serão demolidas, eliminar-se-ão os jardins, as árvores, a condição de insolação e permeabilidade do solo. Após serem ocupados e descaracterizados da qualidade que hoje dispõe, os especuladores buscarão outro novo território, até que eles se acabem. Sem a menor cerimônia, a memória e a ambiência dos bairros residenciais de Joinville vem sendo destruídas. A preservação deste equilíbrio sensível entre áreas construídas, áreas verdes, áreas de passeios com sombreamento e a tranquilidade peculiar nestes sítios, são absolutamente necessárias em qualquer cidade do mundo.

Especial Habitação Maio de 2010

Suplemento do Primeira Pauta

Coordenação do Curso de Jornalismo Prof. Sílvio Melatti

Jornal Laboratório do

Disciplina Produção e Difusão em Meios Impressos II

Curso de Comunicação Social - Jornalismo

Professor responsável Luís Fernando Assunção

Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

Chefe de Reportagem Jacqueline de Vasconcellos

Especial Habitação | maio, 2010

Edição de textos Maellen Muniz Pedro Henrique Leal Sidney de Azevedo Diagramação Fabiane Ribeiro Luiza Martin Fotografia Luiza Martin Ingrid Passos

Reportagem Andrini Vieira Ariele Cardoso Carolina Veiga Gisele Krama Karina Z. Souza Karoline Meier Patricia de Melo Luiza Martin

Contato com a redação Rua: Princesa Isabel, 438 Centro Caixa Postal: 24 CEP: 89201-270 Joinville/SC

Edição de imagens Fabiane Ribeiro Luiza Martin

Tiragem e impressão Jornal A Notícia - 2 mil exemplares

Telefone: (47) 3026.8000 E-mail : nossoprimeirapauta@ gmail.com


3 Ilustração/Divulgação

Apartamentos de 60m² já foram vendidos no bairro Jarivatuba; no detalhe, área de recreação e lazer prevista

Casa própria para todos Ariele Cardoso

A

oferta crescente de financiamento, redução de impostos e burocracias está fazendo muitas pessoas voltarem a acreditar no sonho da casa própria. O programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, está entre os mais populares. Ajuda o futuro proprietário com parcelas em até 25 anos e também as empresas do ramos da construção, baixando os impostos cobrados pelos produtos e incentivando novas construções. A assistente administrativa Fernanda Brasil, 30 anos, há 5 procurava um apartamento. Sonhava em sair da casa dos pais e morar sozinha com a filha Isabela. Ela foi beneficiada com R$ 8.500,00 de desconto no financiamento do imóvel. “Isso facilitou bastante, pois os juros cobrados são muito altos. Assim, reduz um pouco o valor total que se paga em um imóvel”. O valor subsidiado pelo programa, segundo Fernanda, será usado na compra de móveis. “Não adianta

só comprar o apartamento, tem que mobiliar. O valor descontado do financiamento vai ajudar muito nessa questão.” No total, o governo federal investiu R$ 34 bilhões, e pretende auxiliar na construção de um milhão de casas. Para isso, propõe várias facilidades ao consumidor. Algumas delas são: aporte de valor pela união, isenção do seguro e de custos cartoriais para registro de imóveis, além do refinanciamento em caso de perda da renda, através do Fundo Garantidor, um seguro próprio do programa, que reduz o risco do financiamento. Existem três faixas salariais possíveis de serem beneficiadas: famílias com até três salários mínimos, de três a seis salários mínimos ou de seis a 10 salários mínimos. A quantidade de aporte pela União e parcelas do financiamento são condizentes com a renda do solicitante. Luciana Aparecida da Silva, 32 anos, é técnica bancária da Caixa Econômica Federal e diz já ter feito financiamentos em até 25 anos

Uma das grandes vantagens do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” são as condições facilitadas de financiamento, como o valor mínimo mensal de R$ 50,00. O novo proprietário compra o imóvel na planta (D), com espaço entre 60 e 100 m². Em Joinville, geralmente, esses empreendimentos são encontrados na estrutura de condomínios (E).

pelo programa. “Nós já beneficiamos muitas pessoas com o Minha Casa Minha Vida, principalmente jovens que vão casar e ainda não têm uma renda muito boa.” A quantidade de documentos exigidas pode assustar, mas garante um bom desempenho do projeto, além de segurança ao novo proprietário. Fernanda constatou que a burocracia é normal de qualquer tipo de financiamento, e disse não ter queixas quanto a isso: “A caixa é bem burocrática, eles pedem muitos documentos, mas no final deu tudo certo”. São muitas as exigências do programa. “São financiados apenas imóveis novos já averbados ou terrenos com construção”, segundo Luciana. Além disso, o interessado no programa não pode ter nenhum outro imóvel registrado em seu nome. “Eles fazem um tipo de investigação lá na Caixa pra saber se você já tem outro imóvel”, afirmou Fernanda. Para ela, as burocracia não incomoda. O importante é o resultado.

Jovens, com baixo poder aquisitivo, que pretendem casar, encontram chance de moradia no “Minha Casa Minha Vida”.

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Especial Habitação | maio, 2010


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Concreto se ergue aos céus Proposta leva a conflito entre preservação e crescimento urbano Karoline Meier

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Fotos e m

ontagem

: Luiza M

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erticalizar ou não verticalizar? Esta é a questão discutida na Câmara de Vereadores de Joinville, e que vem causando polêmica. Em outras palavras, existem aqueles que são a favor da construção de prédios acima de 12 andares nas áreas centrais e eixos viários da cidade, e também aqueles que são totalmente contra. Joinville, nos últimos anos, tem atraído pessoas de todos os cantos do país,

Especial Habitação | maio, 2010

o que fez com que a população aumentasse rapidamente. A verticalização é uma das muitas medidas que alteram as regras de uso e ocupação do solo. A diferença é que desta vez um número maior de pessoas terá a oportunidade de viver na área central da cidade. Morar no Centro de Joinville, tendo da janela uma bela vista panorâmica, pode ser realidade para um número maior de pessoas. A aprovação da proposta que aumenta de 12 para 18 o número de andares em áreas centrais significará mais moradias para venda. É este o objetivo do projeto que o vereador Sandro Silva (PPS) apresentou para ser analisado na Comissão de Urbanismo, da Câmara de Vereadores. Joinville está crescendo muito rápido para os lados. Por esse motivo, Sandro afirmou que um dos ideais seria buscar as alturas para encurtar as distâncias e concentrar os estabelecimentos comerciais, serviços e áreas residenciais em um único edifício. “Além disso, iríamos economizar recursos, como água e luz”, argumentou. Mas, como todo projeto de lei, existem defensores e opositores. Os primeiros, alegam que Joinville não pode perder espaço para outras ci-

dades que investem fortemente nesse tipo de construção com a finalidadede concentrar serviços como os de saúde, jurídicos, bancários, entre outros. Os opositores afirmam que prejudica o visual da cidade, além de aumentar a poluição e gastar mais com saneamento e outras obras. É importante que a verticalização se dê de forma moderada e racional, observando os limites na altura das edificações, nos recuos, em preservação de jardins, número mínimo de vagas para estacionamento e na acessibilidade. Precisa ser democrática, no sentido de que não beneficie apenas uma minoria, e sempre tendo por norte a preservação do meio-ambiente e a qualidade de vida da cidade. Atualmente, Joinville se depara com problemas urbanísticos complexos de difícil solução: ruas estreitas, trânsito constantemente congestionado em vários pontos da cidade, inundações, rede de esgoto insignificante. Com tudo isso, a ocupação horizontal do solo está se tornando cada dia mais limitada, cara e inviável. O arquiteto Gilberto Lessa dos Santos, gerente do Ippuj (Fundação Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville), é um defensor do projeto de lei. “Joinville precisa de adensamento na área urbana, e isso


5 Foto: Ingrid Passos

Se a mudança no plano diretor for aprovada, prédios mais altos podem ocupar América e Centro é uma das formas da verticalização”, disse. Segundo ele, as vantagens são infra-estrutura aproveitada por um maior número de pessoas, redução no custo de vida e aumento da população urbana. A desvantagem são as vias saturadas. Com a verticalização, é possível, por exemplo, em um terreno que hoje é ocupado por dez famílias seja ocupado por cem, mantendo ainda dentro desse imóvel área de lazer, área verde e garantindo aos moradores mais segurança. Alguns moradores que não quiseram se identificar, do bairro América - alvo da verticalização – afirmam que o processo de ocupação indiscriminada para atender a interesses imobiliários, faz Joinville perder as referências da memória e da construção urbana que formaram a identidade municipal. O crescimento desordenado da cidade torna difícil administrá-la, por exemplo, Joinville não tem mais como se expandir para o leste, pois é li-

mitada por manguezais e pela Baia da Babitonga. E a oeste é limitada pela serra. “Como se vê, a cidade não tem mais como se estender”, afirma Sandro. Com a verticalização, o município e o Estado poderiam reduzir suas despesas na ampliação de estruturas como: redes de esgoto, pavimentação, redes de água, redes de luz e rede de coleta das águas pluviais, pois pode ser aproveitada a infraestrutura pré-existente. Crescimento vertical, cobertura de mangues e expansão sobre morros. Quase 500 mil habitantes precisam morar em algum lugar. No decorrer de mais de um século e meio foi esta necessidade a responsável pela mudança de paisagens na área urbana e rural de Joinville.

Agora, o concreto alcançará os céus para abrigar mais moradores e poupar o meio ambiente. “Este projeto está sendo analisado a partir de um olhar que seja positivo para a maioria. Estamos pensando no crescimento de Joinville, que é uma cidade que deve pensar no futuro”, afirma Sandro S i lva.

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Foto: Ingrid Passos

Problemas urbanos afligem secretário Gisele Krama

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uitos fatores permeiam a realidade das moradias joinvilenses, que vão desde os luxuosos apartamentos da área central e bairros nobres, até os casebres feitos de pedaços de madeiras, encostados sobre o mangue. Para falar sobre falta de moradia, especulação imobiliária e verticalização, a equipe do Primeira Pauta foi conversar com

A região central de Joinville demorou para verticalizar. Obriga-se a verticalizar para baratear o custo da moradia.”

Primeira Pauta: Como está o trabalho na Secretaria da Habitação? Alsione Gomes: O volume de serviço é grande. Temos bastante atendimento acontecendo. Alguns não estão em andamento, mas tiram o sono porque ficam tramitando na justiça. Temos áreas que foram adquiridas na gestão anterior e em uma dessas áreas, mais precisamente no José Loureiro, existe uma ação do Ministério Público dizendo que houve superfaturamento na compra. Isso nos impede de fazer melhorias, drenagem, por não saber se vai ficar para a prefeitura ou não. PP: A questão da habitação, hoje, é um problema em Joinville? AG: É um problema nacional. Não é só de Joinville. Nós temos um fator a mais que complica o problema. As áreas próprias para construção estão nas mãos de poucas pessoas. Tem um proprietário que disse que tem 37,4% das áreas disponíveis para a construção em Joinville. PP: Quem é esse empresário? AG: É a imobiliária Hacasa que tem essas áreas disponíveis. Realmente, nem os Sarneys no Maranhão e nem os Magalhães na Bahia têm tantas áreas assim disponíveis para construção. É a força do capitalismo muito selvagem. E as pessoas são cada vez mais deslocadas para a periferia. PP:Houve um boato de que as pessoas do Morro da Formiga seriam realocadas no Cubatão. É verdade isto? AG: No Cubatão há o seguinte: foi feita uma parceria com a Cohab e

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o secretário da Habitação Alsione Gomes de Oliveira, 59 anos, que ocupa o cargo desde janeiro de 2009. Ele assumiu, além da pasta, a responsabilidade por dar moradia a 13 mil pessoas que estão na lista de espera por um lar, realocar outras 230 que fazem parte de diversas ocupações em área de mangue, além de regularizar dezenas de loteamentos feitos, inclusive, pelo governo municipal.

veio dinheiro federal de quase R$ 400 mil, mas não foi utilizado em tempo hábil para o empreendimento. São 225 lotes. Lá tinha que fazer tudo, aterro inclusive. A prefeitura não teve interesse de fazer. A contrapartida do município era anormal. O dinheiro que veio da Cohab e do Governo Federal não dava para tocar aquele projeto até o fim. A prefeitura deixou esse projeto de lado e devolveu o dinheiro. Agora o fundo da Habitação toca com recursos próprios, devagar, aquele projeto. Lá é um lugar em que nós vamos fazer a distribuição de lotes. Já tinha sido até assinado um pré-contrato com 160 famílias. PP: E a questão da verticalização? AG:Eu vejo assim: a região central de Joinville demorou para verticalizar. Eu não sou contrário à verticalização – até pelo valor que as áreas têm. Obriga-se a verticalizar para baratear o custo da moradia. Nos bairros, principalmente os mais afastados, acho que é um caminho legal a verticalização. Esses prédios de três ou quatro andares, que não permitem o uso de elevadores, são interessantes para multiplicar a oferta de moradia. PP: Quantas casas populares foram feitas entre 2009 e 2010? AG: Nós não fizemos nada no ano passado. Ficamos atendendo o pessoal das enchentes. Atendemos dois casos que foram exigência do Ministério Público. Não estamos atendendo no momento. Nós não temos nenhum imóvel para entregar e nenhum terreno para ofertar para as pessoas. Há muito tempo não há projeto de construção de

casas populares. Para pessoas de zero a três salários mínimos, no Brasil, não havia sido nada feito em matéria de habitação. PP: Você concorda com as ações de ocupação? AG: Eu não poderia dizer que concordo. Sou um homem da lei. Existe uma lei que deve ser respeitada e obedecida. Tanto que, quando houve ocupações, fomos lá com intenção de impedir. Aqui em Joinville são 230 famílias. PP: No ano passado vazou uma informação de que estava sendo arquitetada outra ocupação. O que aconteceu? AG: Houve realmente uma reunião que, coincidentemente, aconteceu numa das cozinhas comunitárias. Estiveram presentes algumas lideranças que estavam cadastrando pessoas para fazer uma ocupação em Joinville. Não conseguimos saber o local correto. Acionamos a Polícia Federal porque o objetivo da ocupação era trazer gente de fora. Falava-se em 500 famílias para a ocupação, sendo que 150 eram de Joinville. Conseguimos inibir o movimento. PP: Não há uma contradição no ato de mandar derrubar as casas do Juquiá? AG: Nós temos que cumprir a lei. A constituição é bem clara nesta questão. É área de preservação. Foi uma tarefa difícil, mas o prefeito foi bem claro nesta situação. “Tem que coibir as ocupações”. Com essa questão das ocupações, senti que, aqui, ia passar um inferno.


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A maneira certa de construir Foto: Luiza Martin

Andrini Vieira

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PROJETOS É nesse momento que se procura a Prefeitura Municipal para saber se a área é desapropriada, se há algum tipo de tubulação passando pelo terreno e informações gerais sobre o bairro. Uma consulta amarela,

Para regularizar o imóvel, deve-se primeiramente terminar a construção solicitada na Secretaria de Infra-estrutura Urbana, resolve o problema. Depois da escolha do terreno, o próximo passo é elaborar o projeto da casa. Para isso, é preciso contratar um profissional especializado, como um engenheiro civil ou um arquiteto, que será cadastrado no INSS para ter o número do contribuinte. Geralmente, cada município tem suas próprias exigências em relação ao projeto, que devem ser seguidas e respeitadas.

LICENÇAS E TAXAS Com o projeto concluído, é preciso providenciar a licença para começar a construção do imóvel. Esse documento é emi-

tido pela Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), mediante pagamento de uma taxa. Então, a construção pode ser iniciada com base no projeto aprovado pela Prefeitura, que periodicamente inspeciona a edificação. Casa pronta. Agora o momento é de procurar a prefeitura e solicitar o auto de conclusão, conhecido por “habite-se”. De acordo com uma tabela organizada pela prefeitura, a obra será classificada e, a partir da metragem do imóvel, definido o valor. É apresentar as guias recolhidas do Imposto Sobre Serviços (ISS). Caso se apresente diferença no valor do imóvel, o pagamento deverá ser realizado no momento da solicitação do auto de conclusão.

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esmo que haja desgaste financeiro e físico para conseguir a regularização de um imóvel, ela é muito importante, pois são esses documentos reunidos que comprovam que o imóvel é realmente seu. Para quem compra uma casa pronta isso é fundamental por dois motivos. Primeiro porque sem a documentação nenhum banco financiará a compra. Depois, se você não tiver acesso a esses registros, não terá a procedência do imóvel e corre o risco de vir a se incomodar com a possível perda da propriedade. Afinal, nem você e nem o antigo proprietário terão como provar que o imóvel é seu de fato. Pensando nisso, o Primeira Pauta vai resumir os passos fundamentais para construir esse sonho, compartilhado por muita gente. Antes de qualquer providência, analisar as condições do terreno é essencial. Uma boa dica é conversar com vizinhos para descobrir como a área se comporta durante as chuvas, pois nesse caso será necessário fazer fundações mais profundas e caras. Outra questão importante é busca por uma região ocupada com vizinhos e avenidas próximos.

Documentos necessários: * Consulta amarela; * Projeto arquitetônico do imóvel; * Licença para o início da construção; * Guia recolhida do ISS (Imposto sobre serviço de qualquer natureza); * Habite-se; * CND (Certidão Negativa de Débito); * Carnê do IPTU; * Averbação (registro da propriedade em cartório).

Regularizar imóvel garante posse Para a regularização da obra, a primeira ação é solicitar ao INSS a Certidão Negativa de Débito (CND), que comprova que durante a construção você depositou a contribuição necessária de acordo com a quantidade de profissionais que trabalharam no local. Com a CND, o carnê do IPTU e o habite-se, é só ir ao cartório e

solicitar a averbação da construção. A averbação é o registro da propriedade do imóvel. Qualquer atualização física, como reforma ou ampliação, e de cadastro do proprietário, como divórcio ou falecimento, deve constar no registro. Também é neste documento que será especificado se a casa está penhorada ou financiada.

Procure sempre um profissional especializado, que construa o imóvel de acordo com as normas especificadas para cada região da cidade, e, principalmente, não desista frente às dificuldades. O processo pode até ser complexo e cansativo para o interessado, mas é o meio mais seguro para a concretização do sonho de ter uma casa.

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8 Foto: Valmir Fernando

Joinvilense de baixa renda pode ter casa própria? Karina Z. Souza

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moradia é um direito do cidadão brasileiro, garantido por lei e registrado na constituição federal. Assim também é a educação, a saúde e o trabalho de qualidade e, no caso das duas primeiras, gratuito. Mas quem espera pelo Governo para suprir os direitos do artigo sexto da constituição, espera sentado. A morte é capaz de chegar antes que a vaga no hospital, por exemplo. Quem consegue pagar por estes serviços básicos sofre um pouco menos. E quem não consegue? Vile Leoni, brasileiro, operário, 44 anos, está há três inscrito no programa público de habitação. Sua esposa, Fátima Marcelino Leoni, 48 anos, vai periodicamente à Secretaria Municipal de Habitação de Joinville, na esperança de ser a próxima convocada para receber a casa própria. A dona de casa reclama que é recebida com impaciência e certo preconceito por parte das atendentes da secretaria. Atualmente a família mora de aluguel no Jardim Iririú, conjunto habitacional Dom Gregório, em uma transversal da rua onde estão sendo construídas onze casas

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populares, subsidiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) do Governo Federal. “Gostaríamos de receber a casa aqui no bairro mesmo, mas essas aí são para quem ganha mais do que eu”, lamenta o Sr Vile. “Parece que o dinheiro deles vale mais do Apenas dez que o meu! Duvido metros separam que eles estejam há Fátima do sonho mais de três anos da casa própria inscritos [no programa]”, indigna-se. A renda dele é de aproximadamente R$900,00 e sua esposa faz alguns bicos esporádicos. O filho deles casou-se há seis meses com uma moça e construiu uma meia-água de dois cômodos no fundo do quintal da meiaágua de dois cômodos, um pouco maior, de seus pais. Resumindo, a renda da família só chega a três salários mínimos se juntada a do filho independente. Famílias com renda de zero a três salários mínimos representam o maior déficit habitacional do país, 90,9%, segundo dados oficiais de 2009, do MCMV. Paradoxalmente, a maioria das construções de habitação popular é direcionada para famílias de três a seis salários, que compõem apenas 6,7% da pesquisa (2,4 % são de famílias entre seis e dez s.m.). Em Joinville não é diferente. O Residencial Iririú, que está se formando a dez metros da casa da família Leoni contempla famílias com renda superior a três salários. Na secretaria de habitação, fui atendida por uma assistente social que pediu para não ser identificada. Com respostas evasi-

vas e nervosas ela disse que três anos é pouco tempo de espera para as famílias joinvilenses. Sobre os critérios de contemplação das famílias pelo programa, ela informou haver uma pontuação gerada automaticamente pelo sistema da secretaria, que analisa renda, número de pessoas que compõem a renda e a família, tempo de espera, idade, entre outros. Há previsão para ser lançado em Joinville um residencial que vai contemplar famílias de zero a três salários, mas o local da obra e data ainda não foram divulgados. A prefeitura de Joinville pretende construir 4 mil casas populares até 2012. Os bairros contemplados serão Itinga , João Costa, Vila Nova, Jardim Iririú, Aventureiro, Morro do Meio, Paranaguamirim e Cubatão. A prefeitura de Joinville vai doará um terreno de 40 mil metros quadrados, no Jardim Iririú, para a construção de moradias de 480 famílias de baixa renda.

Condições do programa habitacional de Joinville • Ter renda familiar de até 6 salários mínimos. • N ão possuir residência própria. • Ter família constituída, ou ser solteiros e ter mais de 60 anos. • M orar na cidade no mínimo há três anos, comprovadamente. • Levar RG, CPF, comprovante de renda e residência dos familiares para registrar no dossiê da secretaria. • N a contemplação, os proponentes que comporão renda não podem ter restrições impeditivas de crédito registradas no SPC, Serasa ou Cadin.


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