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O Silêncio do Aprendiz | ORIGEM

Fernando Pessoa disse que "Existe no silêncio uma tão profunda sabedoria que às vezes se transforma na mais perfeita das respostas".

“O Silêncio do Aprendiz” e não só

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por Joaquim Mendes

O silêncio na nossa vida profana tem em traços gerais por definição: estado de quem se abstém ou deixa de falar, cessação de som, término de uma de comunicação, sossego, quietude, calma, segredo ou sigilo.

A comunicação, ao senso comum, é associada imediatamente a fala, ao elemento verbal.

Seria redutor ficar por aqui. Silêncio é muito mais que a sua simples definição e ausência da verbalidade. Pelo que temos que aprofundar os seus mais profundos e verdadeiros significados.

A interpretação do silêncio, nas mesmas circunstâncias, pode ser interpretado de diferentes maneiras, quer no que que se quer transmitir, pela parte do emissor, quer de quem recebe, o recetor, já aqui se pode perceber a complexidade do silêncio. É neste “jogo” que nos apercebemos que o silêncio “fala” e muito.

Quantos de nós avançamos para a interpretação do silêncio de outro? O difícil e o desafio que essa tarefa representa. Por outro lado, o silêncio absoluto não existe na vida terrena.

Existem inúmeras representações do silêncio. O silêncio pode ser sábio, angustiante, aterrador, melancólico, em tudo isto depende de quem o representa e de quem o interpreta.

Quanto ao silêncio do aprendiz, o primeiro contacto com a regra de silêncio acontece na iniciação, através da reflexão silenciosa na câmara de reflexão, o silêncio verbal das viagens que “obrigam” à necessária interpretação silenciosa das mesmas.

São inúmeras as referências ao silêncio ou a oportunidade de assim ficar durante a iniciação. É assim desde o início o contacto do Aprendiz com a oportunidade única de permanecer em silêncio.

O silêncio do Aprendiz deve ser visto como uma oportunidade de interiorização do pensamento, de observação sem ter a necessidade de intervir ou verbalizar. O silêncio deve ser um permanente trabalho interior.

É importante compreender que estar em silêncio é totalmente diferente de estar calado. Estar calado é sinal de regressão, permanecer em silêncio é trabalho interior, é sinal de progresso.

Sendo o principal trabalho do Aprendiz o seu aperfeiçoamento, o trabalhar a pedra bruta, deve para isso permanecer em silêncio já que não tem ainda a capacidade e conhecimento necessários para falar. Deve em silêncio apreender e reflectir e, através deste, fazer o seu aperfeiçoamento interior.

Assim, não é com o intuito de não reconhecer ao Aprendiz capacidade de falar, ou que se lhe atribua um reconhecimento inferior que permanece em silêncio, mas sim porque o período de silêncio é de extrema importância para se aperfeiçoar.

Deste modo, o silêncio defende o Aprendiz, dá-lhe segurança, levando a sua atenção para a simbologia e tudo o que o rodeia em loja construindo e definindo o seu processo de aperfeiçoamento. O facto de estar em silêncio e não a pensar na resposta a dar ou intervenção a fazer leva a que se concentre e absorva plenamente os significados à sua volta.

O silêncio do Aprendiz é confortante, nesta fase nada lhe é pedido que diga, apenas que observe e apreenda. Em fases de aprendizagem plena o que se espera é que se aprenda e que se foque em si mesmo, que no silêncio seja ativo e interessado.

É deste diálogo com si mesmo que nasce a evolução do aprendiz, é neste estado de silêncio que vai desbastar a sua pedra bruta em busca do seu interior e melhoramento do mesmo.

A sigla VITRIOL (Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem) “Visita o Teu Interior, purificando-te, encontrarás o Teu Eu Oculto”, ou, “a essência da tua alma humana” é um bom exemplo de como o silêncio está refletido, olha para dentro de ti e descobrirás a tua verdadeira essência, que melhor forma para o fazer do que em silêncio.

O silêncio é assim um processo decisivo no aperfeiçoamento interno e não uma limitação. É uma ferramenta poderosa que permite talhar a pedra bruta.

“Se os homens tivessem no silêncio a mesma capacidade que têm no falar o mundo seria muito mais feliz.” Baruch Spinoza

Joaquim Mendes Aprendiz Maçom R:. L:. Marechal Teixeira Rebelo

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