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Curiosidades Maçónicas - Desmistificando algumas Fakenews | Luciano J. Urpia

Por Luciano J. Urpia

O mundo maçónico está repleto de informações, internas e externas, que verdadeiramente acabam por se tornarem um desafio para qualquer um que resolva mergulhar em pesquisas desta temática. Tanto a história como a simbologia ou ainda a liturgia maçónica são assuntos que se construíram ao longo dos séculos, com características muitas vezes distintas, a depender da região e da época, e possuem origens que se perdem na poeira do tempo.

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É muito difícil situar a origem exata da Maçonaria e é muito complexo determinar os conceitos exatos de toda a simbólica ou ritualística utilizadas, pois, algumas regiões do mundo criaram, modificaram, excluíram ou inventaram elementos que compõem a Maçonaria atual. Basta lembrarmos da Letra G, que começou a aparecer nas representações maçónicas americanas do Esquadro e do Compasso em 1850, embora existam registros isolados antes dessa data.

Diante da velocidade da informação no mundo atual e a preocupação, cada vez menor, de verificar a veracidade dos factos, as informações erradas envolvendo a Ordem Maçónica multiplicam-se de forma absurda, inclusive pelos próprios irmãos maçônicos, que repassam e espalham informações inverosímeis, envolvendo inclusive personalidades que nunca entraram num Templo e, mesmo assim, são apontadas como iniciados.

Separamos então algumas das clássicas fakenews mais comuns nos tempos que correm.

Hoje circula entre os Irmãos que a Flor de Miosótis (també chamada de “Forget-me-not” ou “Não me esqueça”) foi o símbolo perfeito que os maçons encontraram para se reconhecerem nos locais de ocupação nazi, já que a Maçonaria supostamente foi proibida, assim como seria um perigo usar os seus símbolos: tudo não passa de uma lenda! O uso da Flor de Miosótis já era prática dos maçons muitos anos antes da guerra e não se sustenta a ideia de sua utilização como provável símbolo durante a mesma.

O CASO LUTHER KING: ERA MAÇOM OU NÃO?

Em 1968 e apenas com 39 anos de idade, Martin Luther King Jr. foi assassinado a tiro. Nesse ano, ele próprio já tinha passado por todas as sindicâncias para a sua entrada na Ordem, inclusive com data de iniciação marcada, mas foi surpreendido pela morte antes que isso acontecesse. O curioso é que o Grão Mestre da Grande Loja Prince Hall da Geórgia, o Ir. Benjamin P. Barksdale, tentou dar o título de Maçom a Luther King Jr., postumamente, por comunicação (quando um Grão Mestre torna uma pessoa maçom sem cerimónia de Iniciação), já com a aprovação da viúva. Essa história criou uma grande controvérsia, críticas e confusão, o que fez o Grão Mestre (que era amigo pessoal de Luther King) sabiamente recuar na sua decisão.

Em 1999, o nome de Martin Luther King Jr. finalmente ganhou o título “Membro Honorário” na Galeria de Honra da Maçonaria Prince Hall - Geórgia, o que, porém, NÃO lhe confere o título de Iniciado ou Maçom por Comunicação.

OS TEMPLÁRIOS DERAM ORIGEM À MAÇONARIA?

Tudo não passa de uma lenda. Depois de o Rei Felipe, o Belo, da França, ter convencido o Papa Clemente V a excomungar os Templários, estes foram perseguidos e exterminados. O Rei Roberto I da Escócia, que já havia sido excomungado (bem como toda a Escócia), não se importou com as ameaças do Papa de excomungar qualquer país que desse abrigo a Templários fugitivos e a Escócia tornou-se, assim, um destino de refúgio dos cavaleiros perseguidos.

É ai que a lenda dos Templários e dos Maçons se cruza. O autor John Robinson, no seu livro “Born in Blood” defende que esses Templários que se escondiam na Escócia foram, na verdade, criadores da Maçonaria Especulativa. Além dele, também o popular escritor Chevalier de Ramsay, no século XVIII, na França, foi um defensor dessa teoria. O raciocínio de Robinson era de que esses templários, fugidos e se escondendo dos católicos fiéis capazes de traí-los, criaram senhas secretas e métodos de reconhecimento. Os Templários usavam um “cinto” de pele de carneiro em torno de suas cinturas como um símbolo de castidade e talvez essa prática possa ter dado origem aos aventais que os maçons usam durante as reuniões. Como os Templários eram uma ordem francesa que falava francês em suas atividades diárias, Robinson também atribuiu possíveis origens francesas para muitas das palavras em comum associadas à Maçonaria.

No entanto, a maioria dos historiadores maçônicos desconsidera a teoria de Robinson e até mesmo a atual ordem de maçons Cavaleiros Templários não reivindica uma ligação direta com os cavaleiros originais. Mas Robinson não deixou de levantar umas questões interessantes e algumas coincidências sem respostas. BAPHOMET, UMA DIVINDADE MAÇÔNICA

O escritor e ocultista francês Eliphas Levi, no seu livro Dogma e Ritual de Alta Magia, datado de 1855, discutia o personagem Baphomet. O agora clássico desenho de Levi mostra uma criatura com a cabeça de um bode com barba e chifres, seios femininos, cascos fendidos, asas e um pentagrama sobre sua testa. Uma mão feminina aponta para o sol e a masculina para baixo, para a lua escura, uma ilustração do dito hermético «o que está em cima é como o que está em baixo» e um símbolo do bem e do mal. O bastão empertigado com duas cobras enroladas subindo no seu colo é símbolo da vida eterna. Baphomet também contém antigos elementos alquímicos da Terra (ele está sobre um globo), como fogo (chama da inteligência arde sobre a sua cabeça), ar (tem asas) e água (escamas cobrem o corpo). O nome Baphomet veio do julgamento dos Templários durante o início do século XIV, quando foram acusados de adorar essa criatura demoníaca. Levi encontrou gárgulas nos edifícios templários nas quais baseou seu desenho, porém não considerava Baphomet como Satanás. Ele descreveu esta entidade peculiar como a personificação ilustrada de todas as forças do Universo pois, como pode se ver, é uma figura conceptualmente carregada. Infelizmente para Levi, muitas pessoas olham a imagem e dizem: “Satanás”! Graças ao desenho, as cartas de Tarô que apresentam o Diabo mostram uma figura muito parecida com Baphomet.

E qual a conexão disso com a Maçonaria? Na realidade, ABSOLUTAMENTE NENHUMA, mas isso nunca impediu uma boa lenda urbana.

FORGET-ME-NOT: UMA FLOR QUE SERVIA DE IDENTIFICAÇÃO ENTRE MAÇONS

Hoje circula entre os Irmãos que a Flor de Miosótis (também chamada de “Forget-me-not” ou “Não me esqueça”) foi o símbolo perfeito que os maçons encontraram para se reconhecerem nos locais de ocupação nazi, já que a Maçonaria supostamente foi proibida, assim como seria um perigo usar os seus símbolos: tudo não passa de uma lenda!

Para começar, em 1926 (13 anos antes do início da guerra), os maçons produziram, em larga escala, pins com a Flor de Miosótis, numa convenção anual em Bremen, Alemanha. A florzinha foi entregue aos participantes com o objetivo de mobilizar todos em torno da necessidade de ajuda aos desempregados, já que o país enfrentava uma grave crise econômica na época. Em 1938 (um ano antes da guerra), os próprios nazistas produziram os mesmos pins como forma de premiação e atos de caridade (em geral, auxílio ao exército). Já depois do início do conflito, os nazistas enviaram muitos maçons para campos de concentração, mas não há qualquer registro de uso do pin da Flor de Miosótis, nem dentro, nem fora dos campos e muito menos entre cidadãos alemães maçons. Com o ressurgimento da Maçonaria no pós-guerra, os maçons encontraram a vasta produção de 1926 e passaram a utilizar a Flor de Miosótis como símbolo de renascimento (este é o sentido de seu verdadeiro uso). Na Inglaterra, por exemplo, em momentos atuais ela é presenteada a mestres maçons. Portanto, o uso da Flor de Miosótis já era prática dos maçons muitos anos antes de guerra e não se sustenta a ideia de sua utilização como provável símbolo durante a mesma.

A LETRA G: SIGNIFICA “GOD” OU “GEOMETRIA”?

Em algumas partes do mundo, o símbolo universal da Maçonaria (o Esquadro e o Compasso) aparece com a letra G no meio. No entanto, na maioria dos países europeus a letra G não aparece entre as ferramentas. Na própria simbologia maçônica, o Esquadro e o Compasso nunca são associados à letra G. A letra começou a aparecer nas representações

maçônicas americanas do Esquadro e do Compasso em 1850, embora existam registros isolados de antes desta data. Não se sabe onde esta prática teve origem, mas desde a Guerra Civil tornou-se a forma aceite do símbolo na América do Norte. O “G” pode estar associado a Deus (God) ou Geometria, mas diferentes línguas não usam a letra G para escrever Deus ou Geometria, portanto a prática não faria qualquer sentido em todos esses diferentes lugares.

OS ILLUMINATI: UMA ORDEM QUE SE INFILTROU NA MAÇONARIA E HOJE DOMINA O MUNDO

Foi na Baviera que um professor de direito canônico chamado Adam Weishaupt teve uma grande ideia. Em 1776, formou um grupo chamado “Ordem dos Perfectibilistas” (perfeccionistas), com a noção de que, por meio de ajuda mútua, de discussões filosóficas e de cuidadoso aconselhamento, ele aperfeiçoaria a moralidade e a virtude, opor-se-ia ao mal, melhoraria a sociedade e, assim, reformaria o mundo. Weishaupt era um intelectual. Nasceu judeu, foi batizado como católico e educado por jesuítas. À procura de novos recrutas para o seu grupo associou-se a uma Loja Maçônica, em 1777. Por intermédio de sua Loja, cativou vários colegas maçons que se imaginavam intelectuais e rapidamente mudaram o nome da nova ordem para “Illuminati” (que significa “inspirado intelectualmente”). Passaram a adotar nomes e códigos secretos (o dele era Spartacus) para comunicarem uns com os outros e delinearam um plano para se infiltrar entre os maçons, derrubar os governos das nações e igrejas, dominar o mundo e criar uma Nova Ordem Mundial de tolerância e igualdade. Os Illuminati chegaram a ter 2 mil membros entre alguns países europeus mas tudo começou a declinar quando os jesuítas descobriram quem era seu criador e convenceram o governo da Baviera a persegui-lo. A trama foi amplamente divulgada na Europa e os Illuminati, que nunca foram populares e, na realidade, representavam sim um grupo insignificante e sem efeito algum sobre qualquer sociedade, desapareceram por completo no final do século XVIII. Mas, mesmo assim, teóricos da conspiração ainda insistem que eles sobreviveram como uma força secreta e que hoje controlam a Maçonaria e o mundo.

Luciano José Antunes Urpia é Mestre Maçom da R.L. General Correia Barreto - GLSP. Bacharel em Direito, professor, historiador, pesquisador maçónico, escritor e criador do canal @curiosidadesdamaconaria e do site www.famososmacons.blogspot.com

“A trama foi amplamente divulgada na Europa e os Illuminati, que nunca foram populares e, na realidade, representavam sim um grupo insignificante e sem efeito algum sobre qualquer sociedade, desapareceram por completo no final do século XVIII.”

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