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As vEdEtEs dA ENGENhARIA ‘INvIsívEl’

Durante décadas, um dos marcos mais tradicionais da Avenida Paulista foi a mansão da família Maratazzo, numa esquina onde a valorização comercial a tornou o metro quadrado mais caro do País. Agora, depois que o tempo se encarregou de transformartudoemruínaserecordações, o local está prestes a ressurgir novamente como centro das atenções, desta vez em formato de um complexo composto por torre comercial e shopping Center.

O empreendimento terá uma área verde aberta ao público, de 2.380 m², com projetoarquitetônicoepaisagísticoúnico, e foi iniciado em maio de 2011 pelas incorporadoras Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) e a Cyrela Commercial Properties (CCP). Ao todo, são aproximadamente 43 mil m2 de área locável, sendo 22 mil m2 de área privativa de escritórios e 21 mil m² de área bruta locável de shopping.

Mas a protagonista desta fase da obra é a fundação, parte construtiva que chega a consumir 1/3 do tempo total de execução de um projeto e, mesmo assim, ficará invisível depois que o prédio estiver erguido. Hoje, a engenharia aplicada em obras de fundaçõesegeotecniarompemfronteiras, colocam o Brasil entre os principais países difusores de conhecimento técnico em projetos desse setor.

Em todo o Hemisfério Sul, o País conseguiu realizar todas as obras de fundações sem a necessidade de importar profissionais. No caso de um empreendimento como o da Avenida Paulista, além de chamaratençãopelopontodevistageotécnico,oscuidadoscomasegurançasãoredobrados, já que o fluxo de pessoas é intenso nas ruas e no subsolo, pois o metrô está próximo às escavações. “Além da fundação de toda a estrutura, estamos fazendo asparedesdediafragmasegurasatravésde tirantes,paracontençãodosolo”,explicao engenheiroLucianoJoséMartins,superintendentedeobrasdaGeosonda,empresa responsável por essa etapa da obra.

“Escavamos uma área de cerca de 9.000 m² de em um terreno com área da ordem de 11.700m² entre as ruas São Carlos do Pinhal, Pamplona e Avenida Paulis-

W Imagem em 3D do empreendimento Torre Matarazzo, que está sendo erguido na Av. Paulista, onde havia a mansão dos Matarazzo taeaprimeiraatividadefoiconstruirasparedesdiafragmas, paraemseguidafazermosaescavaçãodacaixadosubsolo”, informa Luciano. Elas são feitas em concreto moldado no local, em formato de painéis, cada um com 3,20 m x 40 cm. Devido à proximidade com o túnel do metrô, na Paulista as placas medem 2,5 m x 50 cm de espessura, a parede tem 33 m de profundidade e o desnível é de 6 m para a São Carlos do Pinhal, no lado oposto. A distância da obra até a Rua Pamplona, na lateral, é de 13 m. de São Paulo para a Sapucaí

Ostirantesquefazemacontençãodessasparedessãofeitos com cordoalhas de aço, inclinados, com comprimento que chega a 40 m.

No projeto inicial, Luciano conta que a parede que sustentará o corpo do prédio – no lado da Rua Pamplona – estava prevista para ser construída com 1 m de espessura x 46 m deprofundidade.“Masoelevadovolumedeconcretonecessário para cada lamela, na região da Paulista, e a necessidadedeseatravessarcamadasespessasdelimonita(concressionado do terreno com óxido de ferro), característico do substrato no local, fez com que a Geosonda sugerisse uma nova alternativa técnica. A solução é composta por estacas escavadas com 1,20 m de diâmetro, justapostas, formando uma parede, impermeabilizadas entre si, com a técnica de Jet Grouting”, descreve.

Entre essas estacas escavadas, os espaços foram preenchidos com as colunas Jet Grouting de 80 cm de diâmetro, onde através de jatos de calda de cimento de alta pressão mistura-se o solo local com o cimento, criando se colunas impermeáveis.

Na cota 75, a 25 m abaixo da Paulista, será erguido o prédio, que terá como fundação 161 estacas escavadas – o empreendimento terá ao todo 289 estacas escavadas, com diâmetros que variam entre 1,20 m e 1,80 m.“Considerando-se como cota 100 na Av. Paulista, elas atingirão a cota 46, na maior profundidade. Na fundação de todo o empreendimento, haverá um total de 29 m de profundidade útil das estacas”.

A fundação vai suportar os 13 pavimentos de lajes corporativas que possuem entre 1.500 e 2.000 m² e podem ser divididas em dois conjuntos. Serão 16 elevadores no total – oito sociais, dois de serviços e outros seis para descer ao subsolo.Oprojetocontatambémcomacessoparaportadoresdenecessidadesespeciais,saladesegurança,automação e supervisão predial.

Oshoppingéprojetadoparadarmaisopçõesdeserviçose lazerparaopúblicoqueresideetrabalhanaregião,comcinco pisos e aproximadamente 21 mil m², 142 lojas, praça de alimentação,noverestaurantes,seissalasdecinema,teatro, alémdeserviçosdeapoioeconveniência.Serãosetesubsolos e aproximadamente 1.500 vagas de garagem. O projeto está previsto para ser entregue no 1º semestre de 2015.

Outro local que passa por uma repaginada na estrutura é o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.

A obra foi orçada em R$ 30 milhões e, segundo a Prefeitura, terá sido concluída até o carnaval de 2012. Para se ter ideia, tudo o que existe de um lado da Marquês de Sapucaí está sendo construído do outro, com algumas diferenças estruturais. Os camarotes, por exemplo, terão varanda e vão ocupar dois andares em cada um dos quatro blocos de arquibancadas e frisas.

O trabalho de fundação teve início no mês de agosto de 2011 e foi concluído em outubro.“Foi feita cravação de estacas pré moldadas de 42 cm e 50 cm de diâmetro, de 12 m a 16 m de profundidade, num total de 7.500 m lineares”, informa Luiz Gonzalez, diretor de engenharia daTerratest Brasil, empresa que realizou o trabalho de fundação das novas arquibancadas.

Ele explica que, inicialmente, os projetistas pensaram que o terreno seria bom, sem muitas dificuldades do ponto de vista geotécnico, ou seja, o solo seria muito mole mas consistente para cravação.“Fizemos até 200 m lineares por dia, emboascondiçõesdetrabalho,semchuva. No entanto, à medida que a profundidade era atingida, começamos a sentir dificuldades, em algumas zonas os solos eram mais duros, de maior resistência. Ainda assim, conseguimos manter boa produtividade sem qualquer quebra de estaca”, explica Luiz.

Como o metrô passa próximo, foram necessários vários testes para certificar queaobranãocausariaimpactosnasedificaçõeseoutrasestruturaspelosarredores. Constatada a viabilidade, aTerratest utilizouestacascomhélicecontínua,que medem desde 300 mm a 1.000 mm de diâmetro e comprimento de até 20 m.

OprojetodereformadoSambódromo é de Oscar Niemeyer e tem como objetivoretomarotraçadooriginaleprepararo espaçoparaabrigarcompetiçõesdosJogos Olímpicos, como provas de tiro com arco e a maratona.

No Setor 2, haverá um novo bloco com trêsmódulosdearquibancadas,camarotes e frisas, incluindo áreas para a instalaçãodebanheirospúblicos,acessospara

X Os tirantes que fazem a contenção das paredes diafragma são feitos com cordoalhas de aço, inclinados, com comprimento que chega a 40 metros portadoresdedeficiências,postosmédicos, sala de segurança, áreas de serviço e um espaço destinado aos jurados. Com a ampliação, o Sambódromo passará a receber um público de 77.800 pessoas. estabilização de encosta para construir edifícios

Apreocupaçãocomasquestõesgeológicasdeumempreendimentoantecedem a concepção do projeto, de forma a harmonizar construção e engenharia e ter o quesito segurança como chancela. Mas no empreendimento Acqua Play, na cidade de Santos (SP), está havendo uma adequação da obra com a geologia local, deformasegura,tecnologicamenteavançada e, de acordo com seus realizadores, sem danos naturais.

Ao lado da encosta do morro Santa Therezinha, a aproximadamente 30 m a 40m,estãosendoconstruídasoitotorres residenciais, sendo sete com 23 andares e uma com 22, e 1.464 unidades residenciais de dois a três dormitórios.“Mesmo com margem de segurança, o Ministério Públicoexigiuquefossefeitaaestabilização da encosta antes do início da execução da obra”, explica o diretor executivo técnico da Tecnisa, Fábio Villas Bôas.

Essa encosta tinha vários componentes que precisavam ser estabilizados. Existiam blocos rochosos grandes e pequenos, e locais de inclinação negativa onde funcionava uma pedreira.“Alguns blocostiveramdeserderrubados,outros foram fixados no local”, explica Fábio. “Foi feito trabalho com drenos DHPs para retirar a água alojada em camadas mais profundas das rochas – ou seja, se há fissura numa profundidade de 80 m, a água empossa e deve ser drenada – além de serem utilizados tirantes ou chumbadores com ou sem tela”, diz.

Mais para cima, a uma altura de 95 metros, está o grande desafio – aplicar telas de alta resistência para fazer a estabilização na parte da encosta onde há vegetação em terra e não apenas nas rochas. Foram aplicados 130 metros de telas importadas, normalmente utilizadas em áreas onde é preciso conter avalanches,commontantescravadosna horizontal em rocha, tirantes e colunas. “Quandohádeslizedepedra,madeiraou qualquer outro material, a tela faz a contenção com elos que funcionam como molas, impulsionando o material de volta”, descreve Fábio.

No intuito de determinar as trajetórias de blocos em queda livre ao longo da encosta, foram realizadas simulações porprogramascomputacionais,asquais consistiram em análises em duas e três dimensões,usandocomobaseolevantamento topográfico de detalhe da encosta nordeste do Morro Santa Terezinha e suas adjacências.

As análises em duas dimensões foram desenvolvidas utilizando o método CRSP (Colorado RockFall Simulation Program), desenvolvido por Pfeiffer e Bowen (1989), que descreve o comportamentodosblocosaplicandoequações de trajetória parabólica de corpos em queda livre e o princípio de conservação de energia.

Arugosidadedaencostaeageometria dos blocos são utilizadas como parâmetrosadicionaisnamodelagemdoevento deimpacto.Ométodoconsideraascom- binações de movimentos de translação, rotação e ricochete dos blocos. Como dadosdeentradasãoutilizadasaposição inicial do bloco na encosta, com massa e módulo de elasticidade definidos, e sua velocidadeinicial.Essasinformaçõessão fornecidaspelousuário,juntamentecom ageometriaeoscoeficientesdeabsorção de energia (rugosidade) na direção normaletangencialdasuperfíciedaencosta. A velocidade do bloco durante a queda é entãocalculadaapartirdaenergiacinética para todos os pontos da trajetória. O cálculo é finalizadoquandoavelocidadecaiabaixode um valor pré-definido.

O programa permite simular a instalação de valas de captura de bloco e de barreiras formadas por aterros e/ou outros tipos de estruturas maciças (muros de concreto, gabiões, etc.). Permite tambémsimularainstalaçãodebarreiras

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