A Galeria Impressa

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Sofia Coeli

Fotografias que saem de uma galeria e ganham paredes que se ajustam às mãos, ao toque e a análise do olhar.

A GALERIA IMPRESSA



Agradeço à equipe do Circuito de Imagens por ceder o material do projeto e dar auxílio quanto às informações necessárias. Foi vendo mais de perto o trabalho deles e conhecendo a cidade no Vale do Jequitinhonha que me interessei em abordar junto ao design editorial, as fotografias e suas relações com aquele ambiente. Agradeço aos professores, pelas orientações e às colegas que estão sempre dispostas a ajudar com opiniões e novas perspectivas. Belo Horizonte, 2013.

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A Galeria Impressa Sofia Coeli Livro em couché - 322 mm x 230 mm - Editora Cosac Naify Trabalho Acadêmico, 5º Período, Design Gráfico Universidade do Estado de Minas Gerais Escola de Design - Belo Horizonte

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Sumário O Circuito de Imagens Grid A Leitura de Páginas Anatomia da Página Grids Ambientais Formas nas Páginas Agrupamento Perímetro Ênfase ao Horizontal Orientação por Eixo Passe Partout

Layout Alinhamento

Hierarquia Arranjo Justaposição A Cor na Parede Impressa O Espaço Branco 5


O Circuito de Imagens O projeto Circuito de Imagens, proposto por Ana Clara Silva e Nilmar Lage, inicia-se a partir da escolha de um local que é explorado fotograficamente e de uma posterior exposição dessas imagens. Esta exposição é montada nos arredores de onde as fotografias foram compostas, gerando um circuito a ser feito a pé pelos visitantes, que poderão apreciar as imagens em uma espécie de galeria a céu aberto.

Nas fotografias, a intenção dos fotógrafos foi mostrar uma realidade com outro olhar, da forma que ninguém fez. Mostrar as pessoas, suas belezas e seus arquétipos, assim como representar Araçuaí por meio de imagens que imprimam o olhar dos fotógrafos e, por meio da exposição, tentar chamar a atenção da população para sua gente e para o seu patrimônio histórico que está indo embora aos poucos.

O Circuito de Imagens é a tentativa de voltar o olhar da população para o lugar em que vive. Em 2012, a equipe do projeto escolheu a cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha para resgatar a história por meio da fotografia e de um documentário. A exposição recebeu o nome de “Rua de Baixo: Novos Olhares” e o documentário “De baixo do Rio e das Mulheres”.

A equipe do projeto é composta por Nilmar Lage (fotógrafo); Ana Clara (fotógrafa); Leila Cunha (produtora e pesquisadora); Thiago Moreira (diretor do documentário); Andressa Moreira (assessoria de comunicação); Leandro Calixto (Iluminador) e Pedro Bastos (designer gráfico). A partir do projeto, o tema Design Editorial aborda neste livro as análises de layout e grid, as composições de imagens nas paredes impressas e a leitura dessas imagens diante da interferência do design. Mais precisamente, trata-se da transposição da fotografia exposta em galeria, para a publicação impressa, a fim de criar possibilidades de leituras.

Araçuaí possui uma história peculiar, pois foi fundada no século XIX por uma mulher que era dona de uma casa de prostituição: Luciana Teixeira. O surgimento da cidade ocorreu a partir da região que hoje é conhecida como “Rua de Baixo”. O documentário pretende contar essa e outras histórias da cidade tendo como fio condutor Maria Cheirosa, figura conhecida de Araçuaí por ter sido proprietária do bordel “Para Todos”, que funcionou na Rua de Baixo até a década de 1990.

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O Circuito de Imagens

7 Fotos: http://www.facebook.com/CircuitoDeImagens

Imagens da exposição que foi recebida em Araçuaí, Ipatinga, Sete Lagoas e Ouro Preto.


Grid A criação do grid tem como função organizar as informações nas páginas. Além da facilidade para quem produz a página ou parede, o grid permite guiar o olhar dos que serão leitores.

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A Leitura de Páginas O uso do grid pode se dar de forma super flexível, sua construções e formação junto ao layout também. Mas, essa construção e o bom planejamento levam em conta a leitura do olho humano, como ele examina uma imagem ou bloco de texto. Assim, a página tem áreas mais ou menos visadas, onde certamente o leitor irá pousar melhor sua análise e outras áreas com menos importância. Trabalhando em cima disso, a transposição da galeria com espaço físico para o impresso sofre essa tradução do grid ambiental para o grid impresso ou virtual.

A partir do entendimento dessa leitura habitual, não quer dizer que o grid e o posicionamento devem ser sempre regulares, com a hierarquia sempre cruzando a linha diagonal da página. É exatamente aí, que os focos de atenção a partir das informações a diagramar podem se dispor de maneira dinâmica, supreendendo o leitor e guiando sua atenção de maneira diferente.

Diante da página o olho humano geralmente entra em processo de leitura no lado superior esquerdo, e segue uma linha imaginária diagonal, chegando até o canto inferior direito. O foco de atenção é maior onde essa leitura começa.

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Anatomia da Página Margens são os espaços negativos entre o limite do formato e o conteúdo que cercam e definem a área viva onde ficarão os tipos e as imagens. Guias Horizontais são alinhamentos que quebram o espaço em faixas horizontais. Elas ajudam a orientar os olhos no formato e podem ser usadas para criar novos pontos de partida ou pausas para o texto ou imagens. Módulos são unidades individuais de espaço separadas por intervalos regulares que, repetidas no formato da página, criam colunas e faixas horizontais.

Zonas espaciais são grupos de módulos que juntos formam campos distintos. Cada campo pode receber uma função específica.

Marcadores são indicadores de localização para textos secundários ou constantes, como cabeçalhos, nomes de seções, fólios ou qualquer outro elemento que ocupe sempre a mesma posição em qualquer página. Colunas são alinhamentos verticais que criam divisões entre as margens. A quantidade de colunas é indeterminada; ás vezes têm a mesma largura.

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Grids Ambientais A composição da galeria, assim como qualquer informação gráfica disposta em um espaço físico destinado à pessoas leva em conta o grid ambiental. Le Corbusier, um arquiteto suíço criou uma escala de proporções arquitetônicas baseada na altura de um homem de 183 centímetros. Resultando 160 centímetros para a altura da visão, há aí uma impotante linha para sinalização.

226 cm 183 cm 140 cm 113 cm 86 cm 43 cm 27 cm

Altura humana dividida em proporções, segundo a Le Modulor.

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Grids Ambientais Tanto no design gráfico, como na arquitetura, as colunas são estruturas de apoio para posicionar blocos de informação ou materiais concretos. O grid criado para este livro pode ser usado na galeria física, se levada em conta as proporções e o público.

226 cm

140 cm

183 cm

113 cm

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Proporções de uma figura humana cuja altura é dividida, a partir do umbigo, em medidas na seção áurea. A altura de um homem com o braço estendido para é 226 centímetros. As várias medidas da Le Modulor fornecem um grid vertical que pode ser usado como guia para posicionar diferentes estruturas e informações de modo que os itens fiquem confortavelmente acessíveis e ergonômicos.


Formas nas Páginas As diferentes formas criadas a partir da composição das fotografias nas páginas estabelecem relações que complementam a mensagem da fotografia e seu contexto.

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Agrupamento 2

Os elementos agrupados formam uma unidade, ou blocos de informações automaticamente relacionadas. Alinhar as bordas aumenta ainda mais a conexão. Funciona em página dupla, ou menos em zonas distintas na página.

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1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva 3. Ana Clara Silva 4. Ana Clara Silva 5. Nilmar Lage 6. Nilmar Lage 7. Nilmar Lage

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Perímetro

O agrupamento acontece, mas as imagens são sangradas usando o perímetro da página. Pode ser usado para criar dinamismo e movimento.

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As bordas das páginas, muitas vezes são tratadas como espaço vazio e nulo, e quebrar o uso comum, pode dar mais vida à imagem e ao contexto fotográfico. Sangrar uma foto é dar a entender que há muito mais para ser mostrado, ali mesmo, na página seguinte ou não.

1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva

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Ênfase ao Horizontal Os elementos são posicionados de forma a ganhar ênfase ao horizontal. O olhar do leitor é guiado dessa forma, através das páginas, que podem ou não sangrar a imagem. Esse movimento é obtido quando os maiores blocos marcam a linha horizontal da página. Quando as imagens sangram também no sentido horizontal, esse movimento ganha ponto de entrada e saída.

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1. Ana Clara Silva

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Orientação por Eixo Eixo é a linha invisível de equilibrio ou tensão que atravessa o design. Decidindo o foco ou deslocamento, os elementos se sustentam em uma linha imaginária. Isso permite que o designer controle a linha de visão do observador e a ordem da informação, levando em conta a leitura de uma página pelo olho humano.

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1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva 3. Ana Clara Silva 4. Ana Clara Silva 5. Ana Clara Silva

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Em um eixo diagonal ou com elementos de tamanhos diferentes, o design oferece tensão e movimento. Em um eixo central a composição se mantém equilibrada.

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Passe Partout É uma das técnicas mais comuns, a imagem domina o espaço na página e é marcada por uma borda. A borda, como moldura trata a fotografia de forma cuidadosa, porém comum, sem inovações. Geralmente a borda é vista como um espaço morto, nulo, que serve para uniformizar as imagens, se o passe partout for aplicado em diversas imagens seguidas. Quanto maior a borda, menor a sensação de entrega em detalhes e importância.

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1. Ana Clara Silva 2. Nilmar Lage

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Layout O layout organiza os elementos da página, de maneira que a combinação de texto e imagem seja eficaz para a melhor leitura. Essa organização, com alinhamentos de conteúdo textual, posicionamentos de imagens e informações gráficas é o ponto chave da inserção do design gráfico na produção de um livro.

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Alinhamento O alinhamento de imagens e texto, é muito abordado no design editorial. Na Galeria, esse alinhamento é feito apenas com imagens, pois não há interferência gráfica nas “paredes” impressas. O posicionamento das imagens, de certa forma, pode realçar sua dramaticidade. Quando a fotografia está no alto da página, com a margem superior estreita e a margem inferior maior, a leitura ganha intensidade no contexto fotográfico. Se a fotografia sangra na borda direita, cria-se um movimento, uma ideia de continuidade, o que pode sugerir surpresas na próxima página. O layout pode ficar dinâmico também, se, as imagens forem alinhadas continuamente pela borda inferior.

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1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva

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Hierarquia Hierarquia é como outros fatores do layout que são definidos e usados mais propriamente para texto. Para hierarquizar informações textuais juntamente com gráficos, além de mudança no corpo, variações tipográficas, o uso de cores ou grafismos como indicadores visuais também são recursos que podem dar dinamismo e organizar com precisão. Traduzindo os recursos de tratamento a fim de hierarquizar informações textuais para imagéticas, o posicionamento das fotografias, a frequência de imagens e claro, a variação de escala entre elas pode gerar hierarquia.

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1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva 3. Ana Clara Silva

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Arranjo

Os elementos que compõem um design podem ser tratados como componentes diferentes. Este livro é um grande exemplo. Organizar as informações a fim de destacar as distinções, sem misturar texto com imagens mas, não necessariamente deixar de relacionar as informações. Essa manipulação ajuda a criar e controlar um ritmo na publicação. Como se o livro dividisse os momentos em que o leitor deve ler o texto e posteriormente fazer análises, ou observar outro tipo de discurso gráfico.

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1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva

Outros livros e mesmo em uma galeria, podem dividir as informações ao longo do design através de capítulos ou pontos de entrada.

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Justaposição 1

Justaposição é o posicionamento de duas imagens que se contrastam, lado a lado, a fim de sugerir uma relação entre elas. Sangrando na página ou ganhando margens, criando proporção. Implicando semelhança, diferença ou misturando contextos diversos de forma não clara, as relações e conexões são feitas por cada leitor e sua decodificação.

1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva

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A Cor na Parede Impressa As galerias que recebem as fotografias, têm diferentes configurações. Altura, cores das pareces e iluminação interagem com o contexto fotográfico e com a leitura de cada parte.

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Na galeria “original” da cidade de Araçuaí, as paredes cor de terra, com tijolos expostos, destaca ainda mais a identidade do projeto, com intenção de resgatar a história da cidade através da fotografia. Em outras galerias, as fotografias podem ganhar outro contexto ou uma leitura diferente, dispostas em paredes brancas, pretas, junto a blocos de cor ou em texturas de maideira. Inserir blocos de cor junto à fotografia, como moldura ou em justaposição, faz com que o leitor aumente seu tempo de análise, relacionando os dois elementos. No caso de texturas ao fundo, essa análise pode ser ainda mais detalhada, contando com o fato de que, quanto maior a foto e seu recorte junto ao fundo, maior o nível abstração da composição.

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1. Nilmar Lage 2. Nilmar Lage 3. Ana Clara Silva 4. Ana Clara Silva 5. Ana Clara Silva 6. Ana Clara Silva

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O Espaço Branco O espaço branco entre textos e imagens é, muitas vezes valioso tanto no espaço físico da galeria, quanto no material impresso.

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Tudo depende do contexto dos projetos, a necessidade de grande volume de conteúdo imagético e textual ou da pequena quantidade de informação. A disposição de muitas fotografias juntas, sem espaço branco entre elas, gera um ritmo de leitura frenética e compacta. A inclusão de espaços brancos, traz tranquilidade, como uma pausa para respiro e até absorção das últimas informações retidas.

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1. Ana Clara Silva 2. Ana Clara Silva 3. Ana Clara Silva 4. Ana Clara Silva

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Referências AMBROSE, Paul Harris e Gavin. Grids. Bookman, 1ª Edição, Porto Alegre 2009. AMBROSE, Paul Harris e Gavin. Layout. Bookman, 2ª Edição, Porto Alegre 2012. Circuito de Imagens. Disponível em: www.circuito deimagens.com.br Acesso em: 29 de maio de 2013. Página do Circuito de Imagens no Facebook. Disponível em: http://www.facebook.com/CircuitoDeImagens Acesso em: 03 de junho de 2013. Blog Onhas. Disponível em: http://blog.onhas.com Acesso em: 03 de junho de 2013.

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