Curso de auxiliar em saúde bucal ergonomia e segurança no trabalho

Page 1

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA SEÇÃO DE MINAS GERAIS

Curso de Auxiliar em Saúde Bucal - ASB

MÓDULO I – DO PROCESSO SAÚDE DOENÇA A BIOSSEGURANÇA NA ODONTOLOGIA

DISCIPLINA: ERGONOMIA E SEGURANÇA NO TRABALHO


SUMÁRIO OBJETIVOS................................................................................................................................................. 4 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................................. 4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................................... 4 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 4 ETIMOLOGIA ............................................................................................................................................. 5 CONCEITOS IMPORTANTES EM ERGONOMIA................................................................................... 5 A – Tempo ................................................................................................................................................ 5 B – Ações: ................................................................................................................................................ 5 C – Movimentos: ...................................................................................................................................... 5 OS MEMBROS SUPERIORES NO TRABALHO E A ERGONOMIA DOS INSTRUMENTOS MANUAIS ................................................................................................................................................... 6 O FUNCIONAMENTO DOS MEMBROS SUPERIORES NO TRABALHO, PONTOS CRÍTICOS E LESÕES OCASIONADAS PELAS MÁS CONDIÇÕES ERGONÔMICAS ............................................. 7 PAUSA ..................................................................................................................................................... 8 EFEITOS HORMONAIS ......................................................................................................................... 9 COMPRESSÃO DAS RAMIFICAÇÕES NERVOSAS DOS DEDOS POR CABOS DE INSTRUMENTOS ..................................................................................................................................... 11 DEFINIÇÃO DE REPETITIVIDADE ....................................................................................................... 12 POSIÇÕES DE TRABALHO EM ODONTOLOGIA ............................................................................... 12 VANTAGENS DA POSIÇÃO COM O PROFISSIONAL SENTADO E O PACIENTE DEITADO. ..... 14 CLASSIFICAÇÃO DAS POSIÇÕES DE TRABALHO E ZONAS DE ATIVIDADES .......................... 15 ZONAS DE ATIVIDADE ..................................................................................................................... 15 POSIÇÕES DE TRABALHO ISSO/FDI ............................................................................................... 16 TRABALHO A QUATRO MÃOS ............................................................................................................ 18 OBJETIVOS DO TRABALHO A 4 MÃOS .......................................................................................... 18 PRINCÍPIOS DO TRABALHO A 4 MÃOS .......................................................................................... 18 APREENSÃO E PASSAGEM DO TIPO PALMA-POLEGAR ................................................................ 20 VARIAÇÕES ......................................................................................................................................... 21 TROCA DE INSTRUMENTOS ............................................................................................................ 22 NECESSIDADE DO USO DE LUVAS................................................................................................. 23 ESPAÇO FÍSICO ....................................................................................................................................... 23 RISCOS OCUPACIONAIS EM ODONTOLOGIA E SUA PREVENÇÃO ............................................. 24 AGENTES MECÂNICOS ..................................................................................................................... 24 POSTURAS FORÇADAS DOS MEMBROS SUPERIORES ............................................................... 25 AGENTES FÍSICOS .............................................................................................................................. 26 AGENTES QUÍMICOS ......................................................................................................................... 27 AGENTES BIOLÓGICOS ..................................................................................................................... 29 FATORES PSICOLÓGICOS ................................................................................................................. 30 MEDIDAS DE PREVENÇÃO ............................................................................................................... 31 ACIDENTES DE TRABALHO ................................................................................................................. 31


DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT): PREVENIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO ........................................................................................................... 31 TRABALHAR MUITO É PREJUDICIAL À SAÚDE? ............................................................................ 32 ORIENTAÇÃO ÀS PESSOAS PARA PREVENIR ESTAFA POR EXCESSO DE TRABALHO .......... 33 GINÁSTICA LABORAL: UMA ALTERNATIVA NA BUSCA POR UMA VIDA SAUDÁVEL ......... 34 RECURSOS HUMANOS .......................................................................................................................... 35 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O DESCOMPROMISSO: ........................................................ 36 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A DEFORMAÇÃO DA MOTIVAÇÃO: ................................ 36 CONCLUSÃO............................................................................................................................................ 37 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 38


OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Desenvolver as ações de atenção à saúde bucal segundo os princípios ergonômicos e da segurança do trabalho. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

Reconhecer os princípios ergonômicos na realização do trabalho.

Identificar as posições e movimentos de trabalho, segundo as normas de ergonomia.

Desenvolver as ações de atenção à saúde bucal segundo os princípios ergonômicos e da segurança do trabalho.

Identificar os riscos ocupacionais e as formas de prevenção.

Conhecer a ginástica laboral.

INTRODUÇÃO O termo ergonomia é definido como o estudo do homem em relação ao seu ambiente de trabalho, buscando conseguir uma perfeita interação entre eles (homemtrabalho). Este estudo envolve várias áreas do conhecimento científico, tais como anatomia humana, psicologia, antropologia, sociologia, filosofia, física, matemática, dentre outras, com o objetivo de alcançar as condições ideais de ambientação e integração do homem ao trabalho, melhorando sua qualidade e produtividade. Na Odontologia estes estudos visam, principalmente, a “simplificação do trabalho, a prevenção da fadiga física dos operadores e pacientes obtendo maior rendimento e conforto para os profissionais”. Os princípios da ergonomia odontológica se baseiam na organização e distribuição adequada dos elementos de trabalho (equipamentos, espaço físico, recursos humanos, instrumental, materiais, técnicas e organização do processo do trabalho).


ETIMOLOGIA A palavra ERGONOMIA tem suas raízes na língua grega, na qual existem as seguintes palavras: Ergo: trabalho; Nomos: regras.

CONCEITOS IMPORTANTES EM ERGONOMIA A – Tempo É a quantidade de segundos, minutos ou horas que levamos para executar um trabalho. 1. Tempo profissional: É o tempo que o profissional dedica ao exercício da profissão. Pode ser o tempo que ele está no consultório, vai ao laboratório de prótese, faz cursos em sua área de atuação, etc... 2. Tempo operatório: É o tempo que o profissional dedica ao paciente em seu consultório. É o tempo produtivo em termos de remuneração. Quanto maior o tempo operatório, maior a produção, maior a remuneração. 3. Tempo de espera: É o tempo que o profissional interrompe o tratamento à espera de alguma coisa. Ex.: espera do efeito da anestesia, do paciente cuspir, da troca de algum instrumento, etc. É um tempo que deve ser reduzido ao máximo. B – Ações: 1- Ações diretas: São aquelas que exigem a intervenção do Cirurgião Dentista na boca do paciente e exigem um conhecimento especializado. São partes do tempo operatório e são ações fundamentais no produto final do trabalho. 2- Ações indiretas: São ações realizadas dentro ou fora da boca do paciente, que não requerem um conhecimento universitário especializado por parte de quem executa, podendo ser delegadas ou transferidas. Podem anteceder uma ação direta (ação preparatória). Aqui entra o trabalho dos auxiliares. C – Movimentos: É o esforço físico que fazemos em todo o corpo ou parte dele, para executar um trabalho. São classificados de acordo com o esforço que exigem do corpo humano em: 1. MOVIMENTO DE DEDOS.

ENDOBUCAIS: Executados quando

2. MOVIMENTO DE DEDOS E PUNHOS.

se trabalha na boca.

3. MOVIMENTO DE DEDOS, PUNHOS E COTOVELOS EXTRA BUCAIS: Executado para a (Espaço ideal de pega – ante braço).

pega de instrumentais e pontas no


4. MOVIMENTO DE TODO O BRAÇO (Espaço máximo equipo e tudo o que for necessário no de pega-braço)

consultório.

5. MOVIMENTO DE CORPO-DESLOCAMENTO (É eliminado pelo dentista que trabalha sentado e com auxiliar).

O Cirurgião Dentista deve procurar limitar seus movimentos aos movimentos de dedos, punhos e antebraços, para um melhor rendimento do trabalho. O trabalho a quatro mãos com pessoal auxiliar, é imprescindível para o aumento do conforto, produtividade, qualidade e diminuição do esforço e fadiga. OS MEMBROS SUPERIORES NO TRABALHO E A ERGONOMIA DOS INSTRUMENTOS MANUAIS Um dos maiores desafios para os fabricantes de robôs é conseguir mecanismos capazes de imitar a potencialidade de movimentos e de precisão da mão humana. A mão representa o ponto distal de um sistema de extrema complexidade, no qual estão envolvidos centenas de músculos, tendões e de ramificações nervosas, cujo resultado final é a conjunção perfeita e harmônica de movimentos que vão desde a grande intensidade de força existente numa prensão forte de um alicate até a mínima força exercida ao se montar um sistema eletrônico delicado ou se fazer uma microcirurgia; desde o fechamento total até a abertura da mão em qualquer grau; desde os movimentos de pronação e supinação, até praticamente toda e qualquer forma que dela se exige. Este complexo arranjo anatômico e funcional é muitas vezes mal utilizado na rotina de trabalho. Aquilo que é um delicado e harmônico arranjo de peças nobres, frequentemente é mal usado com pancadas, com ferramentas grosseiras e com movimentos forçados. É bem conhecido o fato de haver supervisores de fábrica cujo teste de aptidão de trabalhadores operacionais consiste em olhar para as mãos dos mesmos: quanto mais calejadas estiverem suas mãos, melhor é considerado o trabalhador. Apesar de todas as formas de uso inadequado das mãos, o organismo ainda possui mecanismos naturais de recuperação e de regeneração dos tecidos lesionados. Mas o mau uso das mãos tem um preço caro: as lesões por traumas cumulativos (LTC) dos membros superiores, que representam a segunda maior causa de despesas médico-ocupacionais. Elas não ocorrem diante de um simples esforço: geralmente são a somatória de esforços e traumas repetitivos, em grande intensidade, ou sem que tenha havido tempo suficiente para uma recuperação dos tecidos da região. E o que mais impressiona é verificar que o aparecimento destas lesões, em trabalhadores obrigados pelas condições de trabalho a usar inadequadamente suas mãos, costuma ser uma questão de tempo: mãos calejadas, que representam aptidão hoje, podem amanhã significar incapacidade funcional às vezes irreversível!


O FUNCIONAMENTO DOS MEMBROS SUPERIORES NO TRABALHO, PONTOS CRÍTICOS E LESÕES OCASIONADAS PELAS MÁS CONDIÇÕES ERGONÔMICAS Os membros superiores são um arranjo complexo e delicado de estruturas. Conta-se nos membros superiores dezenas de ossos, centenas de músculos, 3 nervos principais e suas respectivas ramificações e dezenas de articulações, o que o capacita a fazer movimentos tão variados quanto:  Abertura e fechamento da mão  Abertura e fechamento lateral dos dedos (figura 8-2 )  Flexão, extensão e oposição do polegar (figura 8-3)  Prensão de objetos  Pinçamentos de objetos  Flexão, extensão, desvio radial e desvio ulnar do punho (ou carpo) (figura 81)  Pronação e supinação  Flexão e extensão de braço  Adução e Abdução do braço (figura 8-4)  Flexão e rotação do ombro Para a realização de todo este potencial, uma estrutura supercomplexa de nervos, tendões, ossos e articulações interage numa área pequena, passando os tendões por roldanas naturais, numa relação de tal proximidade e tal complexidade que, se por um lado permite todo o potencial citado, por outro lado confere ao membro superior do ser humano uma grande vulnerabilidade às lesões. Felizmente o organismo humano, ao lado da grande fragilidade dos membros superiores, possui alguns mecanismos naturais de recuperação e que ajudam a prevenir a ocorrência delesões. São eles:


Movimento de abertura e fechamento lateral dos dedos

Movimento de flexão e extensão do antebraço

PAUSA O organismo tem duas formas naturais de se recuperar das sobrecargas: através daas pausas e por efeitos de hormônios. Durante a realização de um esforço físico, a existência de uma pausa ajuda a prevenir lesões por 3 mecanismos: Durante a pausa, se estiver havendo um esforço muscular estático, com produção de ácido lático, haverá o fluxo normal de sangue que irá “lavar” o ácido do músculo, prevenindo possíveis lesões;


Durante a pausa, se estiver havendo alta repetitividade de um mesmo movimento, haverá o tempo suficiente para que os tendões voltem à sua estrutura natural, uma vez que eles são visco elásticos, e demoram certo tempo a readquirem a formação natural; Durante a pausa ocorre a lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial (uma espécie de óleo existente entre o tendão e sua bainha sinovial), evitando-se assim o atrito entre as duas estruturas;

EFEITOS HORMONAIS Durante o período de sono, particularmente no primeiro período de sono de ondas lentas (sono profundo), ocorre à libertação do hormônio somatotrófico (STH, também chamado de hormônio do crescimento), que vai até todas as estruturas lesadas e promove o crescimento dos tecidos sadios, fazendo assim uma reparação das estruturas lesadas. Em outras palavras, os membros superiores são altamente propensos a lesões pelos mecanismos que apresentaremos a seguir; o resultado final de preservação de integridade ou de lesão dos tecidos dependerá da possibilidade dos mecanismos de reparação compensar em a velocidade dos mecanismos de lesão. Os membros superiores, na evolução da espécie humana, deixaram de ser elementos de sustentação do corpo e passaram a ser elementos de realização de atividade útil, principalmente através da utilização das mãos. De todas as atividades laborativas, é extremamente difícil imaginar qualquer uma delas que não exija as mãos. Das suas funções no trabalho, as mãos atuam como elementos de prensão, de pinçamente ou de pressão. As mãos tem 6 funções: pinça palmar, compressão digital, pinça lateral, pinça pulpar,compressão palmar e pressão; mas só uma delas pode fazer força sem risco de lesão: a prensão.

Os seis movimentos funcionais da mão.

A função de prensão é aquela que dá às mãos maior capacidade de força. A função de pinça não nos habilita ao desenvolvimento de muita força, mas neste tipo de atividade o que mais se caracteriza é a precisão do movimento.


Mais recentemente, tem sido introduzida em maior escala a outra função das mãos, que é de atuação como elemento de pressão, e principalmente a pressão decorrente do comprimir teclados de computadores ou de telefones celulares. Mas também é bastante utilizada a pressão da palma da mão contra um objeto, principalmente em linhas de produção. Assim como no restante do corpo, os músculos, ossos e articulações do membro superior se organizam principalmente sob a forma de alavancas interpotentes, nas quais a distância da força ao ponto de apoio é sempre menor que a distância da resistência ao ponto de apoio. Isto resulta numa condição mecânica desfavorável para se fazer força, pois sendo o braço de resistência sempre maior que o braço de potência, para vencer uma determinada resistência sempre será necessário que o músculo faça um esforço bem maior que a resistência a ser vencida. Movimentos vigorosos e repetidos dos membros superiores resultam em isquemia, inflamação e dor; a repetitividade leva à calcificação, que perpetua a inflamação. O ombro é uma articulação de extraordinária mobilidade onde suas bolsas sinoviais representam o segundo ponto de fraqueza: se inflamado causa uma dor forte, é a bursite. Tanto a sobrecarga estática como a sobrecarga dinâmica contribuem para a existência das LTC nos ombros. Manter os braços acima do nível dos ombros, independente de movimentos vigorosos, gera principalmente bursite, pois nesta posição as bolsas sinoviais estão muito comprometidas devido à instabilidade da cavidade glenóide. A inflamação inicial, se repetitiva, pode resultar em calcificação, que perpetua a inflamação. Finalmente, deve-se destacar que carregar cargas pesadas, dependuradas nas mãos funciona como um peso crônico tracionando o osso úmero para fora da cavidade glenóide, com tendência a lesões crônicas de ligamentos articulares. Apesar da alta capacidade de velocidade dos movimentos, certamente aceitamos a ideia de haver um limite nesta velocidade. Este limite não é determinado pela capacidade de uma pessoa em desenvolver os movimentos em velocidade extremamente rápida, como ocorre com um digitador bem treinado, mas pelas características visco-elásticas dos tendões, que, como elementos não puramente elásticos, demoram um pouco mais de tempo para se relaxar.Objetos de bordas e quinas vivas podem comprimir os delicados tecidos dos membros superiores. Os nervos podem ser comparados aos cabos elétricos que levam até todos os músculos as ordens motoras vindas do encéfalo e do cérebro, e que também recolhem dos tecidos periféricos as sensações de dor, temperatura, tato e pressão provenientes de todos os tecidos periféricos. São capazes de conduzir os estímulos em alta velocidade (mais de 60 metros por segundo), e são constituídos, fundamentalmente, por neurônios (ou células nervosas); por sua natureza de célula altamente especializada, o neurônio tem baixa capacidade de regeneração, e por isso, quanto ocorrem lesões de nervos, estas geralmente são de difícil recuperação. Felizmente, no caso dos membros superiores, bem antes de haver lesões irreversíveis, ocorrem sintomas importantes de formigamento, dormência, e perda de força. Os membros superiores, e particularmente as mãos e pontas dos dedos, se constituem em uma das áreas mais inervadas do nosso corpo.


COMPRESSÃO DAS RAMIFICAÇÕES NERVOSAS DOS DEDOS POR CABOS DE INSTRUMENTOS Pode acarretar lesões crônicas dos nervos, que irão se manifestar sob a forma de uma dificuldade de realização das tarefas por “anulação” das extremidades comprometidas, colocação de muito mais força ao pegar um objeto (resultando em fadiga) e ausência de sudorese, prejudicando o atrito. As causas mais comuns são as tesouras e os objetos ocasionadores de vibração como os motores de bancada dos laboratórios de prótese. As lesões por traumas cumulativos nos membros superiores são decorrentes da interação inadequada de 4 fatores biomecânicos principais: 1. força – quanto mais força a tarefa exigir do trabalhador, tanto mais propenso estará o mesmo a desenvolver as LTC. 2. posturas incorretas dos membros superiores – ocasionam desde o impacto de estruturas duras contra estruturas moles (como no caso do ombro), até fadiga por contração muscular estática (como no caso do pescoço) e até mesmo compressão de nervos (como no caso do punho). As 9 posturas críticas dos membros superiores são:  Pescoço excessivamente estendido;  Pescoço excessivamente fletido;  Braços abduzidos;  Braços elevados acima do nível dos ombros;  Membros superiores suspensos por muito tempo;  Sustentação estática dos antebraços pelos braços;  Flexão exagerada do punho;  Extensão exagerada do punho;  Desvio ulnar da mão (também chamado de desvio lateral). 3. repetitividade – quanto maior o número de movimentos desenvolvidos pelo trabalhador em determinado intervalo de tempo, tanto maior será a probabilidade do mesmo sofrer as lesões por traumas cumulativos. 4. Compressão mecânica – especialmente importantes são as formas de compressão mecânica da base das mãos, no local onde passa o nervo mediano. Conforme destacamos anteriormente, qualquer esforço mais intenso dos membros superiores pode ser acompanhado de lesão, porém também destacamos a existência de três mecanismos de recuperação e de prevenção das lesões. As lesões por esforços repetitivos e traumas cumulativos nos membros superiores acontecem quando o ritmo de lesão ultrapassa a velocidade de recuperação das estruturas; em outras palavras, quando não dá tempo suficiente para a recuperação dos tecidos. Existem ainda os chamados fatores contributivos para as lesões dos membros superiores: 1 tensão excessiva – este fator costuma estar sempre presente em situações de alta incidência de LTC; ela pode estar associada ao sistema de trabalho, mas também pode estar associada ao sistema de trabalho, mas também pode ser decorrente de um relacionamento tenso ou mesmo agressivo entre trabalhador e seus níveis de chefia. Este assunto será tratado especialmente no capitulo sobre Ergonomia do Método e dos Sistemas de Trabalho. 2 frio – ocasiona uma constrição (fechamento) dos vasos sanguíneos na periferia do corpo, dificultando os processos de reparação.


3 vibração – especialmente deletérias são as formas de vibração ocorrendo em frequência de 8 a 100Hz, com aceleração excessiva. 4 gênero – as mulheres são 2 a 3 vezes mais predispostas a estas lesões, por 3 motivos básicos:  Menor resistência das estruturas;  Inter-relação com hormônios, especialmente estrógenos, que acumulam líquidos nos tecidos e dificultam a reparação da inflamação;  Carga extra de trabalho proveniente das atividades domesticas muitas delas com alto potencial deletério para os membros superiores. 5 trabalhar em postura tensa – especialmente grave é trabalhar sentado com a coluna ereta, sem possibilidade de adquirir uma postura mais confortável.

DEFINIÇÃO DE REPETITIVIDADE Considera-se como trabalho altamente repetitivo:  Quando o ciclo de trabalho é menor que 30 segundos;  Quando, mesmo sendo maior que 30 segundos, mais que 50% do ciclo é ocupado com apenas um tipo de movimento. Os movimentos-padroes são classificados de diversas formas: atualmente estamos classificando-os assim: alcançar/mover, pegar, preposicionar; montagem mecânica, montagem de superfície, prender/firmar, usar, soltar e trabalho mental. Naturalmente, o simples fato de ser um ciclo menor que 30 segundos caracteriza uma moderada predisposição para as lesões por traumas cumulativos, predisposição esta que será aumentada se houver postura inadequada no trabalho se houver compressão mecânica sobre as delicadas estruturas dos membros superiores e se houver força excessiva. POSIÇÕES DE TRABALHO EM ODONTOLOGIA A primeira posição de trabalho adotada pelos dentistas foi de pé, ao lado da cadeira, com o paciente sentado. Nessa posição, há uma grande carga de pressão concentrada sobre os membros inferiores, o peso do corpo fica repartido de maneira desigual, há sobrecarga dos tendões, ligamentos, músculos e articulações: o retorno venoso fica dificultado, e o sangue pode ficar estagnado nos pés e pernas, há aumento dos batimentos cardíacos, havendo sobrecarga do sistema circulatório. A posição do corpo é alterada com frequência e o apoio quase sempre é realizado sobre um único pé de cada vez. Isto provoca esforços anormais sobre a coluna, ombros e braços, ocasionando dores e sérios danos à coluna vertebral. Muitas pesquisas têm demonstrado que a posição horizontal da cadeira beneficia tanto o operador quanto o paciente. O operador tem seu campo de visão aumentado, e trabalhando corretamente sentado no mocho, alcança uma postura adequada para a coluna vertebral, pernas, pés, braços e mãos. O paciente, por sua vez, fica mais bem acomodado, sem tensões nem contrações musculares indevidas e, portanto, mais relaxado. Além disso, a posição deitada provoca a acomodação da língua mais para trás, fechando completamente a faringe e protegendo o paciente contra a deglutição de restos


de materiais ou outros objetos estranhos que possam cair na cavidade bucal durante o atendimento. Com o surgimento do mocho, o dentista passou a trabalhar sentado, mas em condições bastante desfavoráveis, já que o equipamento odontológico não permitia a posição deitada do paciente. As cadeiras antigas não abaixavam o suficiente, não oferecendo boa visão da boca, o cabeçote da cadeira impedia que o dentista colocasse as pernas embaixo do encosto, impedindo-o de aproximar-se do paciente, os braços da cadeira, geralmente muito largos, obrigavam o dentista a flexionar demasiadamente a coluna, além disso, o profissional era obrigado a fazer movimentos de torção com o corpo e alongamento dos braços para alcançar as pontas e os instrumentos de trabalho. O

aperfeiçoamento das cadeiras, que permitem colocar o paciente deitado, o desenvolvimento do equipo móvel, dos sugadores e refletores, bem como a formação da equipe de saúde bucal, puderam mudar completamente as características do trabalho odontológico.

A - Posição do Paciente: O paciente é levado à cadeira pela auxiliar e colocado em posição horizontal, ou seja, durante o tratamento o paciente permanecerá deitado e não sentado como nos consultórios antigos. A altura da cabeça do paciente deitado deve estar a 85 cm do solo, podendo esta altura variar 5 cm para menos ou para mais. Esta altura deve corresponder à altura da crista ilíaca do profissional corretamente sentado, e coincidir com a altura do cotovelo do mesmo. Devemos ainda salientar, que a bandeja de instrumentos e as pontas do equipamento devem estar em um plano à altura, ou seja, num mesmo plano horizontal de trabalho. A posição da cabeça do paciente também deverá ser ajustada para a direita ou esquerda, conforma o lado de trabalho, com uma inclinação de 54º no sentido vertical. B – Posição do Auxiliar: O auxiliar deverá se posicionar a esquerda da cadeira (do lado esquerdo do paciente), assentado no mocho de modo que tenha acesso à bandeja de instrumentais e que possa entregar e receber os mesmos sempre que o dentista necessita, sem que para isto seja necessário fazer esforço. Deve se posicionar de modo que possa visualizar todo o campo de trabalho. C – Posição do Operador (Dentista): Deve se posicionar de maneira semelhante ao auxiliar, porém do lado oposto. Seu mocho deverá estar mais baixo do que o do auxiliar.


VANTAGENS DA POSIÇÃO COM O PROFISSIONAL SENTADO E O PACIENTE DEITADO.      

Permite uma melhor acomodação do paciente, sem tensões, nem contrações musculares indevidas, portanto mais relaxado; Permite a acomodação da língua para trás, fechando a faringe e protegendo o paciente contra a deglutição ou ingestão de materiais odontológicos; Permite ao operador um aumento do campo visual (na postura sentada o ângulo visual é de 21 a 38º e em pé de 25 a 30º); Permite uma postura adequada para braços, pernas, pés e coluna vertebral do operador (a coluna reta reduz a pressão entre os discos vertebrais); Diminui o desgaste energético dos profissionais (com o operador sentado o desgaste é de 4%, em pé é de 12%). Aumenta a produtividade, na medida em que elimina esforços desnecessários. A postura sentada, ergonomicamente correta, para o trabalho em odontologia é também chamada de “postura de controle de dedos” ou “postura de pianista”, figura 01, que é caracterizada por:

    

 

Garantir que a cadeira odontológica mantenha totalmente a posição horizontal do paciente, de forma que o apoio da cabeça e a face do mesmo permaneçam na posição horizontal; Garantir que o tronco do operador permaneça o mais vertical possível, e que a linha do ombro fique horizontal; Garantir que a altura do paciente permita ao operador permanecer com os braços verticais e com os cotovelos tocando seu corpo; Garantir que as coxas do operador permaneçam em um plano horizontal, com uma inclinação mínima de 10º no sentido horizontal; Permitir que as pernas do operador fiquem abertas, formando um triângulo equilátero, chamado triângulo fisiológico de sustentação, cujo vértice é o cóccix, e a base, uma linha que passa pela parte anterior das rótulas; a boca do paciente deve estar no centro deste triângulo. Os pés do operador devem estar totalmente apoiados no chão; Garantir que a distância focal adequada, ou seja, a distância de conforto para a visão (em torno de 30 a 35 cm) seja obtida, sendo que a cabeça do operador não deve inclinar mais do que 20º para baixo; Garantir um assento com um diâmetro mínimo de 20 cm, de preferência retangular, que permita o apoio de toda região do ísquio. A consistência do assento deve ser


firme (semi-dura). Superfícies macias cedem com o peso e provocam imediato arqueamento da coluna. Os mochos devem ser giratórios, com altura regulável entre 42 a 70 cm, e ainda possuir 5 rodízios para maior estabilidade de movimentos; Garantir que todos os instrumentais e equipamentos a serem utilizados permaneçam próximos ao operador e instrumentador, em um espaço com um círculo de raio de 50 cm, cujo centro é a boca do paciente, ou seja, dentro da chamada zona de transferência. Para tanto, é fundamental a utilização de princípios da simplificação e racionalização do espaço físico em odontologia.

CLASSIFICAÇÃO ATIVIDADES

DAS

POSIÇÕES

DE

TRABALHO

E

ZONAS

DE

Para a análise do equipamento segundo sua localização no consultório, a ISSO/FDI convencionou dividir a sala em áreas. Para demarcar estas áreas, devemos idealizar um mostrador de um relógio, onde o centro corresponde ao eixo dos ponteiros tomando a partir da boca do cliente na cadeira odontológica, deitada na horizontal (figura 2). Em torno do centro, são traçados três círculos concêntricos, A, B e C de raios 0,5; 1,0; 1,5 metros respectivamente. A posição de 12 horas é sempre indicada pela cabeça do paciente, ou seja, atrás da cadeira. Desta forma, o eixo 6-12 horas, divide a sala em duas áreas: à direita da cadeira (área de cirurgião-dentista) e à esquerda da cadeira (área da auxiliar). ZONAS DE ATIVIDADE A área limitada pelo círculo A de 0,5 de raio ou 1,0 metro de diâmetro, corresponde à chamada Zona de Transferência onde tudo que se transfere à boca do paciente deve estar situado, como os instrumentos e as pontas do equipo. Aí devem estar situados os dois mochos para operador e auxiliar. O círculo B de 1,0 metro de raio limita a área útil de trabalho (espaço máximo de pega), que pode ser alcançado com o movimento de braço esticado. Aí devem estar às mesas auxiliares e o corpo de equipos. O círculo C, limita a área total do consultório, que não deve portanto, ter mais que 3 metros de largura para não ser antiergonômico. Nesta área ficam as pias e armários fixos, sendo que as gavetas destes, quando abertas, devem cair dentro do segundo círculo.


POSIÇÕES DE TRABALHO ISSO/FDI 1. Posição de 7 e 5 horas O dentista trabalha com as pernas paralelas à cadeira, com as costas voltadas para os números 7 ou 5 do gráfico ISSO/FDI. Inclina-se lateralmente para trabalhar, com prejuízos posturais, sendo esta posição contra-indicada (fig. 3 e 4).

2 - Posição de 9 e 3 horas Esta é a posição mais usada pelos dentistas brasileiros, o que lhes permite trabalhar com visão direta, mesmo em regiões de difícil acesso (pré-molares e molares superiores). Nesta posição, as costas do dentista estão voltadas para os números 9 (destro) ou 3 (canhoto) do gráfico ISSO/FDI (próximas figuras 5 e 6).


3

Posição de 11 horas e de 1 hora

Nessa posição, as costas do dentista estão voltadas para os números 11 ou 1 do índice gráfico ISSO/FDI, isto é, atrás do paciente. Esta concepção de trabalho é mais difundida nos Estados Unidos e Japão, onde os dentistas trabalham com visão indireta (espelho). Há visibilidade direta para a mandíbula e indireta, com uso de espelho, para maxila (figuras 7 e 8).


TRABALHO A QUATRO MÃOS OBJETIVOS DO TRABALHO A 4 MÃOS   

Construir uma prática de melhor qualidade; Possibilitar melhor atendimento ao usuário que procura o serviço; Melhorar as condições de trabalho da equipe odontológica, diminuindo os riscos da exposição aos agentes de carga de trabalho em odontologia.

PRINCÍPIOS DO TRABALHO A 4 MÃOS O termo “trabalho em equipe” não significa simplesmente que duas ou mais pessoas trabalhem juntas, mas um trabalho onde existe uma inteligente distribuição e realização do trabalho, a fim de propiciar ganhos qualitativos e quantitativos em todos os aspectos. Quando um operador trabalha a quatro mãos com o auxiliar, é importante que:  

A auxiliar conheça os passos da técnica que está sendo desenvolvida pelo operador, a fim de que se antecipe às necessidades do mesmo (condições ideais); A comunicação entre operador e auxiliar deve ser precisa (o tempo de solicitar algum objeto e sua nomenclatura são fundamentais);


     

A colocação simultânea de instrumentos (pela auxiliar e pelo operador) dentro da boca do paciente deve ser coordenada de modo que não prejudiquem o ato operatório, nem machuquem o paciente; A troca de instrumentos deve ser realizada em área própria e de forma que possibilite seu uso imediato pelo operador; Os movimentos do operador e da auxiliar devem ser contínuos e suaves; A bandeja deve ser pré – preparada e colocada a uma altura que fique mais ou menos 5 cm abaixo do nível do cotovelo de quem vai manuseá-la; As posturas ergonômicas devem ser rigorosamente respeitadas pelos trabalhadores; A iluminação deve oferecer boas condições de visibilidade (se possível, usar luz fria, que não produza sombras).

O ASB realiza ações antes, durante e depois do atendimento clínico do paciente. Recepcionar o cliente prepará-lo para o atendimento, montar bandejas e separar materiais são exemplos das ações executadas. Os procedimentos realizados durante a intervenção clínica no paciente são ações intra e extrabucais que devem ser executadas pela TSB com o máximo de sincronia com as ações do operador. A TSB precisa conhecer o trabalho da ASB e do CD. Observações:  Quando se trabalha no arco inferior, a cabeça do paciente deve permanecer inclinada para baixo o suficiente para que o operador visualize as superfícies oclusais dos dentes. A posição do operador deve ser a de 12 horas e a da auxiliar de 3 horas;  Quando se trabalha no arco superior, a cabeça do paciente deve estar inclinada para trás e ligeiramente voltada para o lado em que se está trabalhando (direito ou esquerdo). Muitas vezes, é necessário colocar um apoio sob o pescoço do paciente, a fim de facilitar esta posição. A posição do operador pode ser a de 12 horas (usando-se visão indireta) ou há de 9 horas; a da auxiliar deve ser a de 3 horas;  Ao realizar a sucção, a ASB deve ter o cuidado para que a ponta do sugador não interfira na colocação das pontas. Quando o operador utiliza a posição de 12 horas para trabalhar no arco superior, a auxiliar é responsável por manter o espelho limpo e seco. Para isto, podem ser usados algodão, gaze ou a seringa de ar, segurados pela mão direita;  Quando se trabalha em algumas áreas da boca, principalmente no lado superior esquerdo em bocas muito pequenas ou musculosas, é quase impossível o operador e a ASB trabalharem ao mesmo tempo. Neste caso, eles devem alternar-se.  Para passar para o CD instrumentos como os fórceps (fig 3), o auxiliar deve retira-lo da bandeja e segurando-o em um ponto perto da sua parte ativa,


deixando todo o cabo livre para a apreensão pelo operador (fig 4). O auxiliar deve ter conhecimento da posição no arco onde acontecerá o procedimento e posicionar a parte ativa segundo esta.

APREENSÃO E PASSAGEM DO TIPO PALMA-POLEGAR Este é o tipo de apreensão de instrumentos em que se utiliza a palma das mãos e o polegar, como por exemplo, a seringa anestésica (fig 5) e ao serem entregues devem ser seguros pelo auxiliar entre a sua parte ativa e o seu cabo para facilitar a apreensão pelo operador, durante a sua passagem (fig 6).


VARIAÇÕES

Alguns instrumentos são seguros de forma diferente das tipificadas acima, como por exemplo, as seringas (fig 7) e as pinças clínicas (fig 8) e resultam em passagens de maneiras específicas.

Seringa – a passagem do tipo semelhante à palma-polegar deve permitir a retirada da tampa protetora da agulha descartável.


Pinça Clínica – deve ser passada e recolhida com o auxiliar segurando-a, por motivo de segurança, perto da ponta ativa quando esta estiver transportando algo. TROCA DE INSTRUMENTOS Na troca ou transferência de instrumentos, o auxiliar transporta o instrumento a ser entregue e utiliza o dedo mínimo para recolher o instrumento a ser retornado à bandeja (fig 9).

.

Em todas as áreas da prática odontológica, ocorrem certas especificidades no processo de trabalho, que implicam em novas concepções e ou adaptações para o trabalho em


equipe. Em cirurgia, por exemplo, o uso de instrumentais mais pesados e setores de alta potência, quase sempre de forma concomitante, ou e, endodontia, pela especificidade e delicadeza de seu instrumental, é necessária a criação de novos modos de passagem e apoio na instrumentação durante o ato clínico. Mesmo em procedimentos comuns a várias áreas, como o isolamento absoluto do campo operatório, algumas variações são usadas. Alguns profissionais delegam ao auxiliar as funções de fixar o lençol de borracha no arco e perfura-lo, assumindo os demais passos. Em outros casos, o operador executa todos os passos, cabendo ao auxiliar apenas o suprimento do instrumental e dos materiais. Também no caso de atendimentos em odontopediatria, os cuidados especiais que o contato com as crianças demandam, condicionam novos passos e movimentos. Este é, sem dúvida, um campo onde novas e importantes pesquisas ampliarão os horizontes da aplicação do modelo. NECESSIDADE DO USO DE LUVAS

Toda tarefa que exige prensão manual ou pulpar é dificultada pelo uso de luvas, obrigando o trabalhador a exercer uma força bem maior; naturalmente se o trabalhador usa luvas, mas estas luvas deixam a ponta dos dedos livres, não se deve penalizar o posto de trabalho neste item; assim também, se a pessoa usa luvas cirúrgicas, não se deve penalizar, pois as luvas cirúrgicas não exigem maior força de compressão.

ESPAÇO FÍSICO O espaço físico de trabalho deve ser planejado de maneira que a colocação das cadeiras, mochos, refletores, cuspideiras, bancada, pias, rede elétrica e hidráulica, localização de portas e janelas, disposição de móveis, arquivo, compressor, etc, atenda às necessidades ergonômicas do trabalho. Os riscos ocupacionais que a profissão odontológica oferece podem ser bastante minimizados quando as condições de trabalho são compatíveis (não agressivas) ao corpo do trabalhador. Portanto, ao se projetar uma clínica odontológica é fundamental que um estudo do espaço físico e da distribuição dos elementos de trabalho seja efetuado e, que a equipe de profissionais da saúde bucal participe de sua montagem, a fim de que se obtenha o máximo de racionalização e integração do trabalho com o trabalhador. Para que as configurações do espaço físico e das bancadas favoreçam o trabalho em equipe, estas devem contar com um prolongamento em “L”, onde o instrumental estejam sempre ao alcance das mãos do auxiliar. Deve possuir também espaço suficiente para manipulações e manuseio dos aparelhos selecionados no planejamento da sessão.


RISCOS OCUPACIONAIS EM ODONTOLOGIA E SUA PREVENÇÃO

Os profissionais de saúde bucal estão expostos a uma série de fatores que colocam em risco sua saúde, provocando acidentes de trabalho ou o aparecimento de doenças profissionais. Na prática odontológica, estes fatores são os que acarretam acidentes ou doenças nos trabalhadores:     

Mecânicos Físicos Químicos Biológicos Psicológicos

A esses fatores somam-se:    

O baixo gasto de energia que a profissão impõe; A falta de pausas para repouso satisfatórias; A relativa imobilidade O uso de grandes grupos de músculos para manter a posição de trabalho.

AGENTES MECÂNICOS São os fatores ocupacionais propriamente ditos, aqueles diretamente relacionados com o uso do corpo do trabalhador. O trabalho odontológico requer dos profissionais ações que exigem coordenação motora, raciocínio, discernimento, paciência, segurança, habilidade, delicadeza, firmeza, objetividade, etc. A postura de trabalho é um problema ocupacional que merece um destaque especial, pois dela derivam situações graves para a saúde do trabalhador, tais como:


     

Dores musculares (região dorsal, lombar, pernas, braços e pés); E cefaleias; Perturbações circulatórias (varizes); Bursite dos ombros e cotovelos; Inflamação de tendões; Problemas de coluna (alterações cervicais, dorsais e lombares), com dor intensa e mesmo deformidades;  Fadiga dos olhos;  Desigualdade da altura dos ombros (artrite cervical). Muitos estudos estão se desenvolvendo nessa área a fim de estabelecer uma melhor relação homem-máquina, onde um mínimo de esforço de energia seja necessário para se obter um máximo de trabalho. Diogo P. Nogueira cita algumas medidas que devem ser adotadas:  A cadeira ajustável, com o paciente na posição horizontal (isto facilita o acesso a boca do paciente e a postura do operador);  A cadeira do paciente deve ser inclinada para trás, quando o trabalho for executado no arco superior, e para baixo quando for no arco inferior;  O operador não deve permanecer sentado ou de pé por um longo período de tempo;  Os cotovelos do operador devem permanecer o mais próximo possível do longo eixo do seu corpo;  A posição sentada deve obedecer aos seguintes critérios:    

Pés devem permanecer totalmente apoiados no chão; As pernas devem permanecer separadas; As coxas não devem ser apoiadas no assento do mocho (para facilitar a circulação sanguínea); Os movimentos dos braços, mãos, tronco e cabeça devem ser o mínimo possível. Para tanto, a posição de a mesa auxiliar, da bancada e a disposição do instrumental e material na bandeja devem ser bem planejados. A iluminação deve ser de foco duplo.

Um aspecto que muito contribui na prevenção das doenças profissionais por agentes mecânicos é a formação da equipe de trabalho, que possibilita aos profissionais um maior relaxamento e consequentemente menos “stress” e fadiga muscular, uma vez que facilita a concentração do operador durante o desenvolvimento das atividades, e diminui a necessidade de movimentação constante na clínica. POSTURAS FORÇADAS DOS MEMBROS SUPERIORES Consideram-se posturas forçadas dos membros superiores:  Braço fletido ou abduzido durante um tempo significativo – contribui para o aparecimento da tendinite do ombro;


 Antebraço fletido sobre o braço, associado a supinação – gera sobrecarga tensional sobre o bíceps, com possibilidade de tendinite do bíceps;  Membro superior elevado como um todo, e sem apoio – leva a contração estática de todo o membro superior, podendo resultar em fadiga; favorece as tendinites do ombro;  Movimentação frequente de supinação e pronação – leva a hipertrofia/ inflamação do músculo pronador redondo;  Flexão frequente do punho – leva a tenossinovite dos flexores, compressão do nervo mediano no túnel do carpo e a epicondilite medial;  Extensão frequente do punho – leva a tenossinovite dos extensores, compressão do nervo mediano no túnel do carpo e epicondilite lateral;  Desvio ulnar frequente – leva a tendinite de DeQuervain;  Pinça pulpar associada a força – leva a Tendinite de DeQuervain e miosite dos músculos do polegar;  Compressão digital fazendo força – leva a Tendinite de DeQuervain;  Cabeça excessivamente extendida – leva a fibromialgia do trapézio e esternocleidomastóideo;  Cabeça excessivamente fletida – leva a cercobraquialgia.

AGENTES FÍSICOS São considerados os ruídos e as radiações ionizantes provenientes da utilização dos raios-X. Diogo P. Nogueira cita em seu trabalho uma pesquisa realizada com um grupo de dentistas que trabalhava com brocas de alta rotação, mostrando que havia uma perda moderada de audição entre eles. Este estudo mostrou que o nível de intensidade física do ruído encontra-se entre 74 e 88 Db (decibéis – índice de ruído) e que sua frequência estava na faixa de 4.800 a 9.600 Hz (Hertz – índice de frequência), que são as frequências mais perigosas para o ouvido humano. Somando ao ruído da caneta de alta-rotação, que pode causar lesão auditiva e surdez, há outras fontes de barulho, como as provenientes do compressor, sugadores, rádio, conversas, etc. Tudo isso tem efeitos gerais sobre o indivíduo, tais como dificuldade de concentração, irritabilidade, agitação, etc, comprometendo a saúde do trabalhador, a qualidade de seu trabalho e até mesmo alterando o comportamento dos pacientes (aumenta o “stress”). A medida preventiva, com relação aos motores de alta rotação, seria através do desenvolvimento de um equipamento que não gerasse ruído, o que ainda não foi conseguido. Com relação ao compressor, o ideal é que ele seja colocado fora do ambiente clínico, em local construído para este fim, onde haja possibilidade de circulação do ar e proteção contra chuva, sol, etc. Os sugadores devem ser usados de forma racional, evitando-se que permaneçam ligados além do tempo necessário ou durante atividades que dispensam o seu uso constante (restaurações no arco superior anterior, paciente com baixa salivação, raspagens coronárias ou polimentos com pasta profilática, sendo que o paciente pode fazer uso da cuspideira, etc). O rádio, quando ligado, deve permanecer em volume baixo, e de preferência sintonizado em músicas suaves, que acalmem o ambiente. As radiações ionizantes pelos raios-X são uma fonte de risco bastante conhecida e cabe aos profissionais que lidam com este aparelho terem um conhecimento amplo dos princípios e das normas técnicas para a sua utilização. Muitas vezes os operadores se expõem aos raios-X, segurando o filme com os próprios dedos durante a tomada


radiográfica. Estudos realizados em dentistas com este hábito mostraram que lesões digitais estavam sempre presentes nos dedos desses profissionais, e que, com o prosseguimento das exposições, apareciam úlceras, consideradas como a primeira fase do câncer cutâneo. Num outro extremo, existem profissionais, que por temor e pouco conhecimento das proteções existentes, se negam a radiografar. Ainda há outros casos em que, ao se protegerem, os profissionais chegam a assustar os pacientes, saindo correndo da sala clínica. Um estudo mais aprofundado sobre os raios-X e seu efeito no organismo humano será feito posteriormente, e aqui somente algumas considerações serão apresentadas:  A permanência do operador na sala durante a ativação do raios-X é contraindicada;  O uso do biombo de chumbo é aconselhado para proteger o operador durante a descarga do raio;  Pacientes grávidas e crianças devem ser protegidas com avental de chumbo;  Onde não haja a proteção pelo biombo de chumbo, o operador deve manter-se, no mínimo, a dois metros da fonte de radiação; Efeitos da radiação ionizante sobre os tecidos vivos:  Provoca alteração nas células, podendo causar a sua morte;  No indivíduo, pode provocar esterilidade, cancerização e morte;  Pode provocar alterações genéticas (mutações).

AGENTES QUÍMICOS Durante o trabalho os profissionais de saúde bucal entram em contato com muitas substâncias químicas que são perigosas para sua saúde. Dentre estas substâncias, o mercúrio merece destaque pela alta toxidade que apresenta e pelo seu largo uso em odontologia. Mercúrio: É um metal amplamente utilizado em restaurações dentárias (amálgama de prata) que por ser volátil (evaporar) a temperatura ambiente, é inalado e pode provocar graves distúrbios ao organismo. O mercúrio evaporado contamina o ambiente e sendo freqüentemente inalado pode provocar:  Gengivites, estomatites e gosto metálico;  Alterações digestivas (náuseas e diarreias);  Perda de apetite e fraqueza;  Alterações no sistema nervoso (tremores, perturbações mentais como irritabilidade, perda de autoconfiança, depressão, perda de memória, falta de concentração);  Alterações cutâneas (dermatites);  Alterações renais (nefrite tóxica). Diogo P. Nogueira cita um estudo realizado entre dez dentistas, quinze auxiliares, trinta estudantes de odontologia e três THD’s , na Suécia. Neste estudo o grupo que apresentou maiores concentrações de mercúrio no sangue foi o de THD’s, por ser o grupo que estava continuamente ligado ao mercúrio. Esse mesmo autor apresenta um outro estudo onde um acidente no consultório dentário provocou um derrame de 250 gr


de mercúrio no chão. Cerca de 100gr não puderam ser recolhidos, caindo em local próximo à uma fonte de calor (estufa), com temperatura de 50º a 70ºC. Dois meses após a ocorrência deste acidente, as janelas do consultório foram fechadas e assim permaneceram devido à chegada do inverno. O ambiente passou a ter um aquecimento central, três meses após o acidente. Duas semanas após o início do funcionamento do sistema de aquecimento central, o dentista e sua auxiliar apresentaram intensas dores de cabeça, náuseas, irritabilidade, diplopia (visão dupla) e falta de coordenação muscular fina, impossibilitando a continuação do trabalho de ambos os profissionais. Outro caso é relatado, de uma auxiliar de consultório odontológico com 20 anos de profissão e 42 anos de idade, que apresentou incidência renal aguda que a levou à morte. A preparação do amálgama é a atividade que oferece maiores riscos de contaminação ambiental, principalmente se ele cair no chão. Sendo manejado com as mãos, o amálgama provoca a formação de milhares de gotículas do mercúrio que contaminam o ambiente. Como este procedimento é repetido muitas vezes ao dia, durante toda a semana de trabalho, o risco aumenta acentuadamente sendo mais grave quanto mais quente for o ambiente, pois a elevação da temperatura favorece o desprendimento de maiores quantidades de vapores do metal.

Medidas de proteção ao mercuralismo:  Se possível, fazer dosagens frequentes da concentração de mercúrio no ambiente e promover a renovação do ar no consultório a cada uma ou duas horas, durante alguns minutos;  Manter o máximo de cuidado com a limpeza, higiene e manutenção do consultório;  Fazer exame médico periódico do pessoal exposto com dosagem do teor de mercúrio na urina ou nos sangue;  Depositar restos de mercúrio ou de amálgama em recipiente fechado, contendo água;  Nunca tocar o mercúrio ou amálgama com as mãos desprotegidas (usar luvas e pinças clínicas);  Usar máscaras e cobrir os cabelos durante a manipulação do amálgama (manual ou mecânica) para evitar a deposição de gotículas de mercúrio sobre os cabelos e sua inalação;  Manipular o amálgama sobre uma bandeja de aço inoxidável, a fim de facilitar o recolhimento de gotículas que caírem;  O chão do consultório deve ser impermeável e liso (não poroso), sem frestas.  Se houver derrame de mercúrio, arejar o local e limpá-lo imediatamente;  Não armazenar mercúrio próximo à estufa ou em locais quentes;  Manter o amalgamador longe de fontes de calor;  No caso de ocorrer derrame de mercúrio na mesa ou no chão, lançar sobre ele uma quantidade abundante de enxofre em pó (“flor de enxofre”), que se combinará com o mercúrio formando uma substância que não oferece riscos.


AGENTES BIOLÓGICOS Os agentes infecciosos que contaminam os profissionais e pacientes no consultório odontológico, o fazem através de três maneiras principais:  Através de inalação;  Através de ferimentos na pele;  Por contaminação de instrumentos. O uso da caneta de alta rotação refrigerada, da seringa de ar-água e de aparelhos de jatos de água bicarbonatada (usados para polimentos coronários) provocam salpicos de líquidos emanados da boca do paciente. Esses salpicos são formados por gotículas, partículas pequenas e aerossóis. Desses três elementos, os aerossóis representam um grande risco, pois têm grande poder de penetração, chegando até aos brônquios de quem os inala. Muitas bactérias (como por exemplo, o estafilococo) estão presentes na cavidade bucal e são inofensivas mas, ao serem inaladas através dos aerossóis e atingirem os pulmões, tornam-se muito nocivas para o organismo. Além disso, os aerossóis se depositam sobre várias superfícies (chão, pias, cadeiras, bancadas, foco, etc) permanecendo muito tempo com suas bactérias e vírus ativos. Muitas infecções podem ser transmitidas por meio do contato do sangue e saliva do paciente com os ferimentos na pele do profissional. Muitos estudos têm demonstrado que os profissionais de saúde bucal correm maior risco de infectar-se com o vírus da hepatite B do que a população em geral. Outra contaminação se dá por instrumentos contaminados por um paciente portador, que podem transmitir doenças aos profissionais ou a outros pacientes. Os cuidados pessoais que o profissional de saúde bucal deve obedecer são:        

   

Usar óculos, cabelos presos e gorro; Usar máscaras (trocá-la no máximo a cada duas horas de trabalho); Usar avental (trocá-lo no máximo a cada jornada de trabalho); Usar luvas durante o atendimento clínico e luvas apropriadas para a lavagem do instrumental; Usar sugadores sempre que a formação de aerossóis for muito grande (polimento com jatos de água bicarbonatada, por exemplo); Manter a higiene cuidadosa das mãos, usar escovinha para lavar as mãos, limpando bem a região sob as unhas (mantê-las curtas); Não usar anéis, pulseiras e relógio durante o atendimento clínico; Solicitar ao paciente que faça um bochecho com um antisséptico bucal ou mesmo com água pura antes de efetuar qualquer intervenção clínica no mesmo (isto reduz bastante a quantidade de bactérias geradas pelos aerossóis); Manter os instrumentos e materiais estéreis (devem ser mantidos fechados até o momento de sua utilização); Desprezar os tubetes anestésicos que não foram totalmente utilizados; A vacinação contra a hepatite B é recomendada para todos os membros da equipe; Não reencapar as agulhas descartáveis, colocá-las por 30 minutos em uma solução desinfetante antes de desprezá-las; as agulhas devem ser colocadas


em um recipiente de vidro com tampa, rotulado “contaminado”, antes de serem jogadas no lixo. Os tipos e as técnicas de limpeza, descontaminação, desinfecção e esterilização usados em odontologia para prevenir doenças provocadas por agentes biológicos, serão amplamente discutidos em outro momento. FATORES PSICOLÓGICOS Normalmente o trabalho odontológico envolve muita tensão e “stress” uma vez que os profissionais de saúde bucal trabalham com o paciente consciente e, muitas vezes, apreensivo. O aparecimento de urgências médicas em pacientes odontológicos, o manejo de instrumentos cortantes e potencialmente com risco de causar ferimentos aos pacientes, o medo, nervosismo e ansiedade de adultos e crianças frente ao atendimento odontológico, levam os profissionais a exercerem suas atividades em constante tensão, que aumenta ainda mais quando o número de horas de trabalho é elevado. As quebras e defeitos nos equipamentos e as precárias condições de trabalho de muitas clínicas também são fatores que aumentam a insatisfação e o “stress” nos profissionais de saúde bucal. Todos esses fatores levam a uma fadiga mental que pode ser consciente ou inconsciente e que se manifesta como irritabilidade, dificuldade de relacionamento, sentimento de solidão, medo do fracasso, sentimento de culpa, ansiedade, insônia, depressão, debilitando o organismo e predispondo-o a contrair doenças. Fadiga: Muitos trabalhos qualificados envolvem a percepção de uma informação pelo indivíduo (geralmente através da visão ou audição), o entendimento dessa informação (através da comparação com padrões aprendidos previamente), a tomada de decisão sobre o passo seguinte; e a transformação da decisão em ação motora, seja através das mãos, seja através da voz. Este processo pode envolver graus de complexidade diversos, desde situações muito simples até situações em que todo o processo se passa em alto grau de complexidade. Quando esse processo de percepção, comparação e tomada de decisão envolve um grande grau de complexidade ou de responsabilidade na decisão, ou quando o volume de informação a ser processado é muito grande, podem aparecer dois fenômenos: a ansiedade e a tensão neuromuscular. Ansiedade: é a sensação de vazio, lacuna, hiato entre o agora e o futuro associada a uma apreensão em relação ao futuro. Tensão neuromuscular; é a situação em que os músculos encontram-se em estado de prontidão para a ação. Pode-se dizer que toda situação de ansiedade é acompanhada de tensão neuromuscular; a ansiedade é o componente físico daquele mesmo momento. As dores musculares comuns nesses trabalhadores podem ser consequentes tanto do quadro de tensão por ansiedade quanto do alto grau de imobilidade ligada a uma forte concentração mental. A rigor, nos tempos atuais, trata-se de uma das formas mais frequentes de fadiga, principalmente porque com as novas tecnologias gerenciais, com a redução de número de empregos e com o avanço impressionante do conhecimento científico, as pessoas estão tendo que ser cada vez mais polivalentes, e isso tem se traduzido numa grande sobrecarga mental para se estar à altura da demanda imposta pelas exigências de


trabalho. Uma categoria especialmente vulnerável a esse tipo de fadiga são os responsáveis por atendimento ao público.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO  Organização do Trabalho: trabalho em equipe, limitação do tempo de trabalho, respeito aos horários;  Organização do Repouso (pausas) no consultório, sala destinada ao descanso, pausa para o cafezinho, em casa respeito às horas de sono, etc, atividades de lazer, esportes, passeios, encontros, etc. O importante é que toda a equipe de trabalho assuma com serenidade seus pacientes e tarefas, autovalorizando-se e respeitando-se, tendo consciência das necessidades do corpo e do espírito. Conhecendo os danos que a prática odontológica pode causar é fundamental saber se proteger, praticando atividades compensadoras para se equilibrar.

ACIDENTES DE TRABALHO

Os profissionais da saúde bucal manejam uma série de instrumentos que oferecem risco permanente de acidentes: brocas de alta rotação, instrumentos pontiagudos de corte, objetos metálicos afiados (peças metálicas, por exemplo), fragmentos de dentes ou de metais pontiagudos projetados durante atividades clínicas, podendo causar lesões cutâneas e oculares que às vezes se agravam provocando infecções, inflamações ou conjuntivite tóxica nos olhos. A prevenção a esses acidentes pode ser efetuada com o uso de luvas, máscaras e óculos protetores. Em caso de ferimentos nos dedos, mão, braços, etc, a conduta imediata deve ser a lavagem com água e sabão, água oxigenada a 10 volumes, aplicação de antisséptico e proteção do ferimento com esparadrapo. Os fragmentos que atingem os olhos devem ser removidos com lavagem abundante com soro fisiológico. Às vezes uma consulta ao oftalmologista pode ser necessária.

DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT): PREVENIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO A insatisfação com o trabalho e o estresse são importantes fatores para que as pessoas adquiram “DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO” (DORT). Essa constatação, feita por pesquisadores e estudiosos do setor foi levada em consideração para altear a abrangência e nomenclatura desse mal, que representa mais de 80% do total de benefícios concedidos por doenças ocupacionais em Minas Gerais, segundo dados, referentes a 1997, do Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social (NUSAT). Até o ano passado, a doença era denominada LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO (LER), mas foi verificado que não é apenas a repetição de movimentos que dá origem à inflamação dos tendões, principalmente dos membros superiores, que


ocasionam, inicialmente, desconforto, dor e formigamento, até chegar à limitação dos movimentos, desuso da musculatura e atrofia. Segundo os especialistas em fisioterapia lotados na rede Sarah de Belo Horizonte, onde os mesmos trabalham com doenças do aparelho locomotor, os sintomas presentes na maioria dos casos de DORT são, entre outros, a insatisfação com o trabalho, o estresse, a ergonomia inadequada dos equipamentos utilizados, as condições de trabalho desfavoráveis, o perfil psicológico de auto cobrança e perfeccionismo. “Se a repetição de movimentos apenas fosse o causador desse mal, todos os atletas, músicos e trabalhadores seriam atingidos, o que não acontece; por várias questões externas e internas ocasionam predisposições para os problemas”. Na Odontologia, a profissão exige muita fixação de musculatura para gerar movimentos precisos. Com o tempo esse condicionamento vai gerando uma série de contrações estáticas muito dolorosas e prejudiciais ao organismo, porque a musculatura fixa não recebe oxigênio suficiente e tem o fluxo sanguíneo comprometido. “Mas isso não caracteriza que esse profissional esteja no grupo de risco para o DORT, haja vista que as tensões geradas pela corrida contra o tempo, as insatisfações do dia-adia e a falta de ergonomia para o trabalho podem ser mais lesivas ao organismo que a movimentação continuada e repetitiva por causar a tendinite”. Dado muito importante sobre o DORT é de que atinge muito mais mulheres do que homens, causada, sobretudo, pela dupla jornada de trabalho. Segundo as estatísticas, 79% dos casos registrados de DORT em 1997, atingiram o sexo feminino e 21% o masculino. As mulheres, comprovadamente, são mais atingidas devido exercer, na maioria das vezes, funções mais desqualificadas, repetitivas e de ciclos mais reduzidos, que exigem maior atenção. Habilidade manual e destreza, somando-se a isso salários mais baixos, maior rotatividade e a responsabilidade pelas tarefas domésticas ajudam demasiadamente para aumentar os casos. A pesquisa informa que a faixa etária predominante dos trabalhadores atendidos com DORT/LER em 1997, foi a de 30 a 39 anos, com 39,55% dos casos ocorridos, em segundo lugar a de 20 a 29 anos com 29,64%. Foi observado, também, que trabalhadores que recebem na faixa de 5 a 10 salários mínimos foram mais atingidos, com 25,71% dos casos, sendo seguido pela faixa entre 1 a 2 salários, com 23,95%.

TRABALHAR MUITO É PREJUDICIAL À SAÚDE? Trata-se de um dos pontos mais polêmicos em toda e qualquer discussão sobre trabalho, sendo um campo propício para raciocínios maniqueístas, de um lado de pessoas que consideram que trabalhar muitas horas por dia não tem nada de prejudicial; e de outras que renegam o trabalho em número excessivo de horas acusando-o de causar males e sofrimentos na vida da pessoa. Para que possamos chegar a uma conclusão, é necessário alguns esclarecimentos:  Certamente um dos aspectos muito importantes envolvidos é o fator cultural quanto a trabalho: nos países de formação religiosa protestante, desde a mudança básica ocorrida no século XVI com Calvino e Lutero, trabalhar passou a significar um meio do homem chegar a Deus; já nos países de formação católica,


trabalhar ficou reservado durante muitos séculos aos escravos e às camadas sociais inferiores, tendo essa posição seu exemplo máximo na origem latina da palavra trabalho (tripalitus, instrumento de tortura).  Não é sem razão que na nossa cultura estranha-se que pessoas muito ricas trabalhem (“essa pessoa poderia até para de trabalhar... por que trabalha se tem tanto dinheiro?”) e estimula-se ideais de felicidade que permitam à pessoa parar de trabalhar (concursos, loterias, prêmios). Além disso, existe o fator político relacionado ao para quem se trabalha, fator esse explorado a partir do final do século passado, que apresenta às pessoas o “conflito inerente à relação capital-trabalho” ou, em fala mais moderna, o conflito inerente à relação empregado-empregador. Independe de todos esses aspectos, é claro, evidencia-se casos de fadiga e mesmo de estafa em pessoas que trabalham excessivamente. Mas, por outro lado, não podemos nos esquecer dos quadros impressionantes de fadiga e embotamento mental que vivem pessoas que não conseguem emprego ou trabalho. Onde estaria a verdade nessa questão? Não há uma verdade absoluta, mas há sim, diversas facetas na questão, e que devem ser conhecidas no sentido de se poder orientar às pessoas e às organizações quanto a trabalhar sem fadiga excessiva ou estafa.

ORIENTAÇÃO ÀS PESSOAS PARA PREVENIR ESTAFA POR EXCESSO DE TRABALHO 1. Boa atitude mental em relação a trabalhar: “vivemos para trabalhar” ou “trabalhamos para viver”? Trabalhar é parte importante e fundamental de nossas vidas. A atitude mental adequada deve ser a de considerar trabalhar como algo positivo, desafiador, fonte de instigação, de criatividade e de crescimento e acreditar firmemente nisso. Uma atitude mental desse tipo tem um efeito forte sobre o indivíduo, levando-o a encarar as obrigações com muito mais tranquilidade. Essa primeira recomendação tem um corolário: procurar gostar do que faz. 2. Atitude mental neutra em relação ao “para quem está trabalhando”. Pessoas que, no limite, consideram absurdo uma pessoa trabalhar a serviço do lucro de outra ou de uma organização ou do capital, nunca deveriam entrar para esta forma de relação de trabalho. Se isto não se constitui num ponto importante para você, tire esse dilema da cabeça. 3. Eliminar o senso de ampla responsabilidade sobre tudo, deixando de se julgar o responsável pela solução de todos os problemas do mundo. Considere que você deve ajudar as outras pessoas, mas a partir do ponto em que elas tiverem feito suas respectivas partes. 4. Eliminar o senso de perfeccionismo, e procurar considerar normal que nunca se consiga fazer tudo o que se tem para fazer. E considerar alguma margem de imperfeição nos seus resultados, principalmente em itens não fundamentais do seu desempenho. 5. Procurar se motivar com o trabalho: geralmente um trabalho é mais motivamente para a pessoa quando ela está identificada com a tarefa, quando


tem autoridade sobre o que faz quando executa ciclos completos, quando tem criatividade sobre o processo e quando tem retroinformação de seus resultados. 6. Procurar sempre manter as tarefas que você faz dentro de seus limites técnicos. Nunca assuma uma responsabilidade bem acima desses limites, pois a partir daí você irá se tensionar muito para dar conta dos resultados, sem estar devidamente embasado, e isto é uma causa de sofrimento muito grande, de alto nível de tensão, podendo resultar em estafa. 7. Aprender técnicas de administração de tempo e usa-las. 8. Procurar manter sempre um bom método de vida, principalmente: 9. Identificar os seus sinais de tensão excessiva e reprogramar-se em termos de prioridades nessas ocasiões. Os principais sinais e sintomas que uma pessoa sente quanto está além dos limites são: dor de cabeça por tensão, dor nos músculos do ombro e pescoço, esquecimentos ou “brancos” com coisas banais, irritabilidade fácil, nervosismo, dificuldade de dormir, sono entrecortado e vontade frequente de urinar. 10. Procurar manter uma boa forma física, fazendo ginástica cerca de 30 minutos 3 vezes por semana.

GINÁSTICA LABORAL: UMA ALTERNATIVA NA BUSCA POR UMA VIDA SAUDÁVEL O mercado de trabalho expõe os profissionais a momentos de muita tensão e estresse. No entanto, existem mecanismos que auxiliam na busca por uma vida mais saudável. Estas alternativas são muito estudadas à medida que o mercado de trabalho observa a influência positiva e os benefícios que a saúde e a boa qualidade de vida oferecem para um melhor desempenho dos profissionais. A ginástica laboral é um desses mecanismos muito utilizados e pesquisados, pois é uma atividade física praticada, na maioria das vezes, durante a jornada de trabalho e tem como objetivo minimizar os danos sofridos no trabalho. Esta ginástica é muito indicada para os profissionais que não se preocupam com a postura, realizam movimentos repetitivos e utilizam a força muscular para desenvolver algumas de suas tarefas. Os Cirurgiões-Dentistas são profissionais que tendem a desenvolver problemas musculares por permanecerem na mesma posição durante toda a jornada de trabalho. Além disso, muitos odontólogos não se preocupam com a postura no atendimento aos pacientes, algumas vezes se utilizam de força para realizarem o tratamento dentário e possuem uma jornada de trabalho que pode chegar a mais de 12 horas. As lesões mais comuns causadas pela prática de uma mesma atividade são conhecidas como LER (Lesão por Esforço Repetitivo) ou DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). Os exercícios melhoram a disposição do trabalhador ao iniciar a atividade e quando retornam ao trabalho, diminuem as patologias e os casos de LER e DORT e reduzem os níveis de estresse e tensão geral. A professora de educação física e uma das autoras do livro Ginástica Laboral para Cirurgiões-dentistas, Claudia Regina Cuastelli, garante que após dez minutos de exercícios os profissionais sentem-se muito mais motivados para retornarem às suas atividades. “Os profissionais de Odontologia sentem dores por que seus músculos ficam


encurtados, devido à posição incorreta, e não são alongados e nem estimulados aos uma longa jornada de trabalho. Isso gera inflamações e lesões futuras”, afirma Claudia. A ginástica laboral inicia-se por meio de uma análise biomecânica, para que sejam observados os grupos musculares mais sobrecarregados na tarefa diária de cada profissional. Depois de realizada esta análise, são criados exercícios específicos para cada grupo muscular sobrecarregado. Segundo Claudia, “as partes que devem ser mais enfatizadas nos exercícios para os Cirurgiões-Dentistas são os braços, os dedos e a coluna cervical, mas é preciso lembrar que o corpo inteiro necessita de alongamento”. A ginástica laboral é benéfica para todos os trabalhadores, principalmente para aqueles que trabalham com movimentos repetitivos. Os interessados na prática desses exercícios (alongamento) devem, preferencialmente, procurar um professor de educação física; caso se queira realizar os exercícios sem o acompanhamento de um profissional, alguns cuidados devem ser tomados, como: fazer os exercícios até o seu limite, de maneira confortável e com calma; se for preciso, alargar a roupa durante a série; durante os exercícios, preocupar-se com a respiração (inspirar e expirar); não pensar nos problemas e colocar uma música agradável. Caso o Cirurgião-Dentista possua algum problema muscular, o recomendável é consultar um médico antes de realizar qualquer exercício. A prática de um alongamento regular poderá proporcionar grandes benefícios físicos para o praticante, como a redução da tensão muscular, a melhora da circulação sanguínea, a redução do estresse e da fadiga muscular em geral, a melhora da concentração e do estado de vigilância, a redução de possíveis lesões e, principalmente, a melhora da qualidade de vida. RECURSOS HUMANOS

O indivíduo calejado ou amargo respeita os valores éticos, mas aprendeu com a vida a não se envolver no que não é de sua conta, a “não dar murro em ponta de faca”. Trata de fazer a sua parte, bem feita, mas mostra-se cético em relação ao que extrapola as suas obrigações. Amargo em relação as perspectiva de melhoria das coisas, não denuncia o errado e nem procura melhorar a empresa, tratando apenas de fazer a sua parte.


Os indivíduos descompromissados : “pessoal frustrado, desiludido, egoísta, apático, sem ânimo, sem vida, pessoal que procura, não a alegria autogratificante do trabalho, mas apenas o emprego. O passo seguinte é a deformação da motivação, o que, na prática, costuma vir junto com algum grau de deformação do caráter: neste ponto, nesta passagem sutil, o indivíduo passa a perseguir a vantagem pessoal, e para tal os preceitos éticos se tornam secundários. O estágio de se tornar agressivo, é muitas vezes uma consequência natural, quando o indivíduo de motivação deformada não consegue obter a vantagem pessoal.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O DESCOMPROMISSO: Não cobrança de resultados, incompetência da chefia, falta de resposta dos níveis superiores, nomeação de dirigentes sem compromisso com a empresa ou com a instituição, atitudes inconsequentes dos dirigentes (muito comuns em empresas estatais e órgãos da administração pública), impunidade diante de irresponsabilidade, o fenômeno do “colocar à disposição” (alguém que não atende às necessidades do serviço é devolvido à administração, continuando a receber o salário sem fazer nada).

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A DEFORMAÇÃO DA MOTIVAÇÃO: Impunidade diante de furtos e corrupção; a procura dos dirigentes em usar o cargo para vantagens pessoas; não se perceber nenhum tipo de controle administrativo que coíba o descompromisso com a organização; forçar-se para que o pessoal estude ou arranje qualificação para subir na empresa; agir de forma claramente desreipetosa em relação ao ser humano. Chamo a atenção para três fenômenos deformadores da motivação particularmente graves (capazes até mesmo de levar à deformação do


caráter): pessoas de caráter deformado sendo promovidas, pessoas sabidamente desonestas ocupando cargos de chefia, e o protecionismo. Neste último caso, à medida que o empregado de qualquer nível percebe não ser o esforço um critério capaz de levalo a subir na empresa, sua atitude mais normal será de abandonar o esforço e de procurar subir usando o pistolão. A fase de motivação deformada agressiva nada mais é do que uma decorrência natural de quando o indivíduo de motivação deformada não consegue levar vantagem pessoal. E devemos lembrar que um empregado com motivação deformada é capaz de boicotar a empresa, sabotá-la, ocasionando sérios prejuízos (geralmente às escondidas ou aproveitando fenômeno de massa).

CONCLUSÃO Esta visão é preocupante, pois como deve ter o leitor percebido, muitas empresas não têm se primado por manter um ambiente de trabalho favorável ao desenvolvimento de uma motivação sadia. Nada mais natural estarmos vendo tantos e tantos casos de operários calejados, que não se integram na vida da empresa; de tantos funcionários descompromissados, principalmente na administração pública, para quem o esforço não faz diferença, pois o salário será depositado no fim do mês de qualquer maneira; de tantos funcionários deformados que já abandonaram definitivamente o esforço como caminho natural para progressão e procuram fórmulas alternativas, todos são sintomas da empresa-doente, onde cada um faz o possível para tirar o máximo, esforçando-se o mínimo para a organização, e onde a última coisa a se esperar é que as pessoas se envolvam como deveriam para desenvolver a qualidade no produto ou no serviço. À empresa moderna compete ser também responsável quanto às suas atitudes em relação aos recursos humanos visando uma motivação saudável, fundamental para qualquer programa de qualidade total. Antes que seja tarde e que o homem caia num processo de calejamento, descompromisso ou mesmo de motivação deformada, num estágio em que pouco sabemos a respeito da reversibilidade do processo. ................................................................................................................................

CRÉDITOS DESTA APOSTILA: CD/PROFESSORA Elizabeth Sandra Souza Xavier


REFERÊNCIAS

- Guia Curricular para a Formação de Técnicas em Higiene Dental para Atuar na Rede Básica do SUS – Áreas I e II. Brasília: Ministério da Saúde, 1998.

- RIO, Licínia M. Souza Pires do Rio; RIO, Rodrigues, Pires do. Manual de Cronograma Odontológica. 1ª ed. – Belo Horizonte.

- COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia Aplicada ao Trabalho - Manual Técnico da Máquina Humana, volume II – Belo Horizonte: ERGO Editora, 1995.

- Apostila de Técnica Auxiliares em Odontologia da Escola Técnica de Saúde – Unimontes.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.