Revista Sou Catequista - 9ª Edição

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CONFIRA NESTA EDIÇÃO: A CATEQUESE EM MINHA VIDA

PÁG. 14 RITOS E CELEBRAÇÕES NA CATEQUESE – PARTE II

PÁG. 30 A QUESTÃO DO JESUS HISTÓRICO

PÁG. 36

E MAIS:

PARA QUÊ SER CRISMADO? PÁG. 54


Guia de Navegação para Tablets e Smartphones


Editorial

CONFIRA NESTA EDIÇÃO: A CATEQUESE EM MINHA VIDA

PÁG. 14 RITOS E CELEBRAÇÕES NA CATEQUESE – PARTE II

Olá, leitor(a)! Meu nome é Luiz Guilherme Martins e eu sou o novo coordenador editorial da revista Sou Catequista. Significa que tenho a imensa responsabilidade de gerenciar todo o conteúdo que é direcionado com carinho e entusiasmo até você. A partir desta edição, nos encontraremos por meio deste espaço, o Editorial, e esporadicamente em artigos dentro da revista.

PÁG. 30 A QUESTÃO DO JESUS HISTÓRICO

PÁG. 36

sou catequista

Antes de recepcioná-lo, peço humildemente para que acolha-me e reze para que este trabalho jamais deixe de surpreender positivamente às suas expectativas – afinal de contas, ele é voltado exclusivamente a você, que nos acompanha bimestralmente.

E MAIS:

PARA QUÊ SER CRISMADO? PÁG. 54

Agora, sim: seja bem-vindo à nona edição da Revista Sou Catequista!

Como se trata de meu primeiro trabalho, colher os frutos de um intenso período de dedicação às pautas e ao conceito multimídia (falaremos sobre isso numa outra oportunidade) é um motivo de felicidade – e de realização – ainda maior. O fato é: nas páginas a seguir você encontrará uma gama de conteúdo que poderá auxiliar a preparação dos encontros catequéticos e enriquecer o conhecimento dos catequizandos. Essas duas características são, para a equipe Sou Catequista, pilares fundamentais, e ter a oportunidade de apresentá-los a você, buscando alimentar o conhecimento cristão, é tarefa de contentamento imensurável. Espero, de coração, que este tomo eletrônico possa auxiliá-lo(a) na propagação do Evangelho, prepará-lo(a) para os desafios da missão do catequista e formar seres humanos verdadeiramente cristãos de corpo e alma. Luiz Guilherme Martins, Coordenador editorial

Edição 9 | Ano 3 | Abril/2015 Direção geral: Sérgio Fernandes Coordenação editorial: Luiz Guilherme Martins Consultor Eclesiástico: Pe. José Alem Revisão: Marcus Facciollo Projeto gráfico: Agência Minha Paróquia Diagramação: Renan Trevisan Desenvolvimento WEB: Matheus Moreira Atendimento: Ana Carolina Silva Comercial: Adriana Franco Banco de imagens: Shutterstock

sou catequista

A revista digital Sou Catequista é uma publicação da agência Minha Paróquia, disponível gratuitamente para smartphones e tablets nas plataformas IOS e Android. Os conteúdos publicados são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a visão da agência Minha Paróquia. É permitida a reprodução dos mesmos desde que citada a fonte. O conteúdo dos anúncios é de total responsabilidade dos anunciantes.

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NESTA EDIÇÃO 8

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CATEQUESE INCLUSIVA

NOSSOS LEITORES

70

O OLHAR DO CATEQUISTA DIANTE DAS PESSOAS COM AUTISMO Thaís Rufatto dos Santos

DE CATEQUISTA PARA CATEQUISTA

A CATEQUESE EM MINHA VIDA Anizete Alves

78 INICIAÇÃO CRISTÃ

18

VOZ DA IGREJA

A PÁSCOA

26

CORRA O RISCO E QUEIME-SE! Liana Plentz MATÉRIA DE CAPA

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36

ROTEIROS CATEQUÉTICOS

RITOS DE ENTREGA NA CATEQUESE Ângela Rocha

CRISTOLOGIA

A QUESTÃO DO JESUS HISTÓRICO

A NOVA COMPREENSÃO DO MINISTÉRIO DA CATEQUESE Pe. José alem

88

Márcio Oliveira Elias

90 PERSEVERANÇA

40

O CATECISMO RESPONDE CATECINE

DEUS NÃO ESTÁ MORTO

E DEPOIS DA PRIMEIRA EUCARISTIA? João Melo

TEATRO

94

TEATRO PARA FAZER PENSAR Erivandra Marques

CRISMA

54

PARA QUE SER CRISMADO? Pe. Paulo F. Dalla-Déa

96

DICAS DE LEITURA MENSAGEM DO PAPA

98

CRIANÇAS, DOM PARA A HUMANIDADE



Caro leitor, seja bem-vindo ao Desafio Sou Catequista, uma parceria entre a revista Sou Catequista e a editora Ave-Maria. Nesta edição, sortearemos a “Bíblia Católica do Jovem”. Para conquistá-la você deverá formular uma resposta para a pergunta que preparamos e publicá-la neste endereço em forma de comentário: http://ow.ly/M5gdt

O mês de maio é o mês de Maria. Portanto, queremos saber: o que representa Maria para você, como catequista? Use seu conhecimento e criatividade à vontade, mas não se esqueça de ser objetivo. Nossa equipe analisará cada resposta e escolherá um(a) vencedor(a). Portanto capriche e, é claro, boa sorte!


Nossa equipe tem se dedicado bastante para trazer de presente a vocĂŞ uma revista tĂŁo caprichada. E o que pedimos em troca? Pedimos apenas que #compartilhe, curta a nossa fanpage e divulgue este trabalho ao mĂĄximo de pessoas.

E obrigado pela amizade!


NOSSOS LEITORES

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Que Deus abençoe a vocês por esse aplicativo, que me ajuda muito! Dirlei Ribeiro Eu não podia deixar de parabenizar vocês pela bela iniciativa da criação da revista. Acabei de ler algumas matérias e fiquei feliz com a qualidade do conteúdo e com as pessoas que contribuem com ela, nomes muito bons. Gostei da participação de vários catequistas. Meus parabéns! Sou catequista há 16 anos de uma das principais periferias de Fortaleza, comunidade do Lagamar. Ser cristão e catequista pra mim é um estilo de vida, é nadar contra a maré diariamente, mas é sem dúvida o que deu sentido à minha vida e de todos do Grupo em que eu participo. Paz e Bem para todos! Emanuel

AJUDE-NOS A CHEGAR A MAIS CATEQUISTAS! AVALIE E DEIXE O SEU COMENTÁRIO SOBRE O APLICATIVO NA APPSTORE: < CLIQUE AQUI A SUA AVALIAÇÃO NOS AJUDA A MELHORAR DE POSIÇÃO NO RANKING E TER MAIS DESTAQUE NAS LOJAS.

Quero parabenizar a Revista pelo excelente material! Sou cordenador da catequese em minha comunidade rural, pequena, distante da paroquia, onde temos poucos subsídios para uma boa formação. Ao encontrar a revista virtual, pude organizar o primeiro encontro de catequistas na minha comuidade, com diversos artigos. Já aguardo ansioso pela proxima edição! Meus parabéns! Paz e bem! Valdimar Adoro a revista! Parabéns por mais este material de apoio que temos e pela total qualidade do produto! Muito show! Fiquem com Deus! Paz e Bem! George da Silva Pereira


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Olá, paz de Cristo! Estou escrevendo para elogiar a iniciativa maravilhosa da revista digital “Sou catequista”. Tenho 18 anos, estou há três anos na catequese e sentia uma profunda falta de formação, procurando por apoio em leituras. Conheci o aplicativo e com as revistas eu me maravilhei! Está me ajudando muito a crescer com os testemunhos, as dicas de filmes, livros, histórias de outros catequistas e tantas outras riquezas. Estarei sempre rezando pelas pessoas que estão por trás dessa iniciativa, e sempre aprendamos mais de Jesus pela escola de Maria! Deus os abençoe! Monique Veloso Gostaria de parabenizar os criadores da Revista Sou Catequista, pois ele é muito importante, cheio de conteúdo que nós auxilia com a catequese. Obrigado a todos! Odair José

NOSSOS NÚMEROS

38.200 1.890.000 22.896 5.330 assinantes

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visitantes únicos/dia no site

Parabenizo a equipe pela iniciativa desse brilhante e rico trabalho, pois nos ajudou bastante na Catequese. É um subsídio muito bom para a coordenação dos encontros. Obrigada por nos ajudar, nos orientar com temas belíssimos para passar para os nossos catequistas. Abraço a todos, fiquem com Deus! Marilucia Gomes Guimarães Carvalho

ENVIE SUA MENSAGEM PARA

contato@soucatequista.com.br




DE CATEQUISTA PARA CATEQUISTA

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Análise

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á 12 anos que venho realizando esse trabalho de catequista junto à minha comunidade, Nossa Senhora do Rosário. Essa missão passou a ser necessária em minha vida. Comecei como aprendiz de catequista e fui me especializando com cursos de formação, sendo o de Teologia o mais recente.

Contextualização

Projeções

Agora tenho um horizonte amplo para me encontrar com as crianças e falar sobre Deus, Sua Criação e a história da Salvação.

Meu maior sonho, assim como o de todo catequista, é conseguir realmente evangelizar essas crianças segundo a vontade de Deus. Crianças cujos pais nos confiam essa tarefa cheia de responsabilidades e, ao mesmo tempo, tão gratificante.

Falar de Deus para os pequeninos me enche o coração e a alma de tanta satisfação, tanta alegria, que sinto uma realização profunda. Ser catequista não é simplesmente reunir uma turma para falar de Deus, pois temos que nos preparar, estudar, preparar encontros... Exige muita responsabilidade, disponibilidade, muito amor e muita fé. Afinal, vamos apresentar Deus a essas criaturinhas tão amadas pelo Pai do Céu.




VOZ DA IGREJA

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O FATO DA RESSURREIÇÃO DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN, Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)


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revista VEJA da Semana da Páscoa (8 de abril) trouxe interessante reportagem sobre a Ressurreição de Jesus, “o grande dogma do cristianismo”, ressaltando que a comemoração do domingo de Páscoa reafirma o poder da fé na Ressurreição do Filho de Deus morto na Cruz, “ideia”, constata a reportagem, “que se fortalece com a passagem dos milénios”. E pergunta: “por que, depois de pouco menos de 2000 anos, a crença na ressurreição de Jesus Cristo, um dos mais extraordinários mistérios da fé, ainda exerce efeito tão arrebatador?” E constata que, se nada houvesse ocorrido na Páscoa daquele ano, ou seja, se a Ressurreição do Senhor não fosse um fato extraordinário atestado e comprovado, não se conseguiria explicar a miraculosa e extraordinária expansão do cristianismo diante de tantas forças contrárias do paganismo. Houve tentativas modernas de se negar a Ressurreição de Jesus como fato histórico. Segundo algumas dessas teorias, Jesus teria ressuscitado “dentro do Kerigma”, segundo a fórmula de Rudolf Bultmann, famoso teólogo protestante, ou seja, a ressurreição significaria apenas que os discípulos haviam reconhecido que “a causa de Jesus continua”! Por isso, torna-se muito elucidativa para nós a tese de Heinrich Schlier, discípulo de Bultmann, sobre a Ressurreição de Jesus, provando o fato histórico, base da fé cristã. Heinrich Schelier era pastor luterano, professor de exegese na Alemanha, e, depois, fez parte da “Igreja confessante”, ou seja, a parte da comunidade evangélica alemã que tentava salvaguardar a

substância cristã do luteranismo, não aceitando que esse se desintegrasse no movimento que apoiava o nazismo. Depois da guerra, lecionou Novo Testamento e História da Igreja na Faculdade Teológica Evangélica de Bonn. Em 1953, para surpresa do seu mestre Bultmann, converteu-se à Igreja Católica e disse que sua conversão ocorrera de uma forma completamente protestante, ou seja, a partir de sua relação com a Escritura, segundo nos conta Ratzinger. Em 24 de outubro de 1953, foi recebido na Igreja Católica. No dia seguinte, recebe a primeira comunhão e, depois, a confirmação. Tem inúmeras obras teológicas, especialmente essa sobre a Ressurreição de Jesus, prefaciada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger. Baseado na história e na Escritura, Schelier demonstra que “a Igreja primitiva não falou da ressurreição de Jesus Cristo com distanciamento e de modo descompromissado, mas com emoção e num ato de profissão de fé”. E ele argumenta tratar-se de um fato incontestável, embora conserve seu caráter de mistério. Segundo ele, os textos neotestamentários entendem a Ressurreição como um evento, um acontecimento histórico concreto. A Ressurreição não veio da pregação, mas sim a pregação partiu do fato da Ressurreição. E da sua Ressurreição deriva a conclusão lógica de que Ele é o Senhor, como se lê no discurso de São Pedro aos judeus: “De fato, Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas... Portanto, que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2, 32-36).


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PAZ PARA OS CRISTテグS DOM ODILO PEDRO SCHERER, Arcebispo de Sテ」o Paulo


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N

o período da Páscoa, os cristãos saúdam com frequência desejando a paz: “paz a você!” “A paz esteja contigo!” Foi assim que Jesus Cristo saudava os apóstolos nos encontros com eles, depois da sua ressurreição: “a paz esteja com vocês! Não tenham medo!” (cf Lc 24,36; Jo 20,19-26). Com estas palavras, Jesus Cristo queria serenar o ânimo dos discípulos, muito assustados com o fato de verem o Mestre novamente, depois de ele ter sido crucificado e sepultado há vários dias... Estavam apavorados também com o temor de que algo de pior também pudesse acontecer a eles, pois eram bem conhecidos como o grupo de seguidores do Nazareno. Jesus devolve-lhes a paz e a alegria, dando-lhes a certeza de estar novamente com eles. Sabemos que essa paz durou pouco para os apóstolos, pois bem depressa desabaram sobre eles e os primeiros cristãos ameaças, prisões, torturas e mortes violentas. Tudo porque anunciavam o Evangelho de Cristo, partindo da sua ressurreição dentre os mortos. E assim continuou ao longo dos dois mil anos de Cristianismo, durante os quais houve poucos momentos de paz e tranquilidade... Em alguma parte do mundo, sempre houve perseguições, repressão e martírio para os cristãos. O próprio Jesus havia advertido que a vida de seus seguidores não seria fácil: “o discípulo não é maior que o mestre: se perseguiram a mim, perseguirão também a vós” (Jo 15,20). Atualmente, os cristãos são, de longe, o grupo religioso mais perseguido ou reprimido no mundo. Só para lembrar

alguns fatos mais recentes: no último dia 2 de abril, alguns guerrilheiros do grupo Al Shebab, provenientes da Somália, entrou na Universidade de Garissa, no leste do Quênia, e escolheu especificamente os cristãos, deixando os demais irem embora. Foram mortos ao menos 147 pessoas, só porque eram cristãs. Em março de 2015, houve o seqüestro de 150 cristãos no noroeste da Síria; ainda em março, 14 cristãos foram mortos e mais de 70 ficaram feridos em conseqüência de dois atentados suicidas numa igreja católica e noutra, evangélica. Ainda em março passado, um grupo adentrou um convento e, entre outras violências, estuprou uma freira idosa, de 72 anos de idade no estado de Bengala Ocidental, na Índia. E são constantes as notícias sobre atentados contra igrejas cristãs na Nigéria, com numerosas vítimas; no Iraque, os mártires cristãos são numerosos, por conta do avanço do grupo “Estado Islâmico”. E o mundo assistiu horrorizado o degolamento de um grupo de cristãos na Líbia, também em março. No Egito, Sudão, Congo e Nigéria foram muitas as igrejas cristãs atacadas, com numerosas vítimas. Não é diferente no Paquistão. No próprio domingo da Páscoa dos cristãos, 5 de abril, duas igrejas foram atacadas e incendiadas na Síria pelo grupo radical que domina boa parte daquele país. Mas refresquemos um pouco a memória, para não esquecer os numerosos mártires da guerra civil espanhola, padres, freiras e leigos, trucidados pelo único motivo de serem cristãos; nem devem ser esquecidos os inumeráveis cristãos, que


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foram vítimas dos regimes totalitários do século 20, os quais sempre viram na Igreja e nos cristãos fieis a ela um atrapalho para suas pretensões de poder total. E, só para lembrar, vamos retroceder um século na história, para encontrar mais de um milhão e meio de cristãos da Armênia, mártires de repressão político-religiosa, um verdadeiro genocídio, ainda mal reconhecido. Não ignoro que também há perseguição, repressão e martírio em relação a grupos religiosos, não cristãos. Eles merecem meu respeito e solidariedade. Minha reflexão, no entanto, refere-se à atual repressão sofrida pelos cristãos em várias partes do mundo. No conceito cristão, martírio não é suicídio, nem vida perdida em confronto com adversários; menos ainda, vida sacrificada por motivos ideológicos, em ato de violência contra outras pessoas. Mas é morte sofrida por causa das convicções religiosas. Os mártires cristãos, para serem assim reconhecidos pela Igreja, não devem manifestar ódio ou desejo de vingança contra quem os martiriza mas, a exemplo de Cristo na cruz, perdoar: “Pai, perdoailhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34). A Igreja valoriza a fé heróica e a fortaleza dos seus mártires. Existe até certa convicção formada entre os cristãos de que, quando não há mártires durante um período, isso poderia significar que as convicções cristãs ficaram diluídas e perderam vigor, acomodando-se às circunstâncias e ao ambiente: deixaram de ser “sal da terra e fermento na massa” (cf Mt 5,13).

Se assim é, por que motivo, então, preocupar-se com as perseguições e martírios que os seguidores de Cristo sofrem? Os cristãos submetidos a violências, talvez, teriam a possibilidade de fugir, emigrar, mudar de religião, continuar cristãos deixando-se explorar como escravos; ou então, mantendo firme a sua fé, de perder a vida. No entanto, isso não pode ser exigido de ninguém. Atrás dos martírios, há um problema político-ideológico de violação grave dos direitos humanos, diante do qual, em boa parte, a comunidade internacional está se mantendo surda, calada e de braços cruzados. Nem mesmo tenho conhecimento de alguma manifestação de Autoridades brasileiras em relação a esse drama evidente. A liberdade de consciência e a liberdade para professar a própria fé, ou de não ter fé ou religião alguma, deveria ser garantida a todos. Trata-se de um direito humano fundamental, reconhecido pela ONU. Infelizmente, esta liberdade, talvez, é vista como secundária e, por isso, ou sacrificada diante de interesses estratégicos “maiores”... Cálculos perversos levam a violências sempre maiores. Não haverá paz verdadeira enquanto a liberdade religiosa não for respeitada e assegurada a todas as pessoas.


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O QUE SE CELEBRA NA SEMANA SANTA DOM PEDRO BRITO GUIMARテウS, Arcebispo de Palmas (TO)


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A

Igreja Católica abre liturgicamente, com o Domingo de Ramos e da Paixão, a Semana Santa. Esse Domingo, portanto, é a porta de abertura e de entrada da Semana Santa. De forma muito breve, podemos afirmar que as ações litúrgicas da Igreja são, ao mesmo tempo, ações rememorativas (fazem memória litúrgica de um evento salvífico), demonstrativas (atualizam seus efeitos salvifícos) e prognósticas (abrem as portas do futuro escatológico). No Domingo de Ramos e da Paixão os dois mistérios centrais da vida de Jesus e, por conseguinte, da vida cristã, são rememorados, demonstrados e prognosticados. Na celebração da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a Igreja faz, solenemente, o anúncio pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Vejamos:

Primeiro, Paulo, na Carta aos Filipenses, descreve o esvaziamento de Jesus, ao assumir a condição de escravo, fazendo-se igual ao homem, obediente até a morte de cruz (Fl 2,6-8). Marcos completa a tragicidade desta paixão, ao afirmar que Jesus entra em Jerusalém pequeno, humilde e pobre, montado num jumento (Mc 11,1-7). E em seguida, anuncia a sua paixão com todos os detalhamentos que ela comporta (Mc 15,1-39). Segundo, por causa disto, diz também Paulo que Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de qualquer nome. E diante do nome de Jesus todo joelho se dobra no céu, na terra e nos inferno e toda língua proclama: Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai (Fl 2,911). Marcos completa esta informação dizendo que o povo, ao ver Jesus entrar triunfalmente em Jerusalém, estendeu

seus mantos, espalhou seus ramos e gritou: Hosana (que literalmente significa: “dá-nos a salvação”)! Domingos de Ramos e da Paixão é, neste sentido, didático, catequético, litúrgico, pedagógico e propedêutico. Ao longo dos outros dias da Semana Santa, sobretudo a partir da quinta-feira santa, nas outras celebrações adicionais, tais como a bênção dos santos óleos, o lavapés, a adoração eucarística, a via-sacra e a encenação da paixão, o mistério da morte e ressurreição de Jesus, serão rememorados, demonstrados e prognosticados. Destacaremos, aqui, de forma muito breve, somente as três Páscoas:

A Páscoa da Ceia: Na quinta-feira, celebramos a ceia do Senhor, a instituição do mandamento do amor fraterno e do sacerdócio ministerial. João, o evangelista, interpreta o sentimento mais profundo de Jesus, na última ceia, com as seguintes palavras: “tendo Jesus amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Durante a ceia, Jesus cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos. Em seguida, comeu a páscoa com eles. Nesta celebração, comumente chamada de “Páscoa da Ceia”, Jesus se dá no pão e no vinho. Seu corpo e seu sangue já não são mais seus. Já foram dados. Portanto, Jesus sai da ceia literalmente morto. A Páscoa da Cruz: Na sexta-feira este sentimento de doação de Jesus chega ao seu ápice. Jesus não somente anuncia, introduz e simboliza, mas também realiza e expressa, de forma total e radical, esta sua sede de doação. É na celebração da adoração da cruz que a Igreja faz memória litúrgica da Páscoa da Cruz.


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Os evangelistas traduzem, com palavras muito fortes, o que aconteceu na hora da morte de Jesus, ao afirmar que houve uma celebração fúnebre, da qual participou inteiramente a criação: “uma escuridão cobriu a terra, o sol escondeu-se, o véu do templo rasgou-se em dois, a terra tremeu, os mortos ressuscitaram” (Lc 23,45; Mc 15,38; Mt 27,51-52). Importante também foi a profissão de fé do centurião romano: “verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). A morte na cruz, segundo o papa emérito Bento XVI, “é um acontecimento cósmico e litúrgico”. Depois disso, inicia-se o grande silêncio litúrgico.

as vigílias. O clima litúrgico se transforma totalmente quando a comunidade cristã proclama, solenemente, a ressurreição de Jesus. Trata-se, pois, de uma solene celebração de vigília. Destacamos aqui a celebração da luz, da água, da renovação das promessas batismais, da Palavra, em abundância, na qual se faz memória da criação, da libertação do Egito e em crescendo, se passa por todas as fases salientes da história da salvação, até chegar à glória da ressurreição. Quem chega a crer na ressurreição, crê no mistério final e sublime da fé cristã e chega ao ponto mais alto da espiritualidade cristã.

A Páscoa da Ressurreição: Todos os sentimentos de luto, de vigília, vividos em profundo espírito de contrição, comoção, obediência, luto e oração, são quebrados pelos brados de alegria e de aleluia, cantados nesta da vigília pascal que, segundo Santo Agostinho, é a mãe de todas

É tudo isto que celebramos na Semana Santa. Depois desta solene noite santa, tudo passa a ser páscoa, ressurreição e vida nova, até que se complete cinquenta dias.


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INICIAÇÃO CRISTÃ

“Eu vim atear fogo ao mundo!”

CORRA O RISCO E QUEIME-SE! Que o fogo do coração de Jesus se propague por toda a terra! por Liana Plentz


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Será que deixar que esse fogo de Jesus vá se apagando em nós não será o nosso grande pecado?

Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos:

“E

u vim atear fogo ao mundo: e oxalá já estivesse ardendo! Preciso pas¬sar por um batismo, e como me angustio até que se cumpra!” (Lc 12,48-49). Jesus se esforçava por transmitir o “fogo” que ardia em Seu coração enquanto caminhava pela Galileia. Certamente, a Sua vontade é que esse fogo queime realmente, que se propague por toda a Terra e que o mundo inteiro se inflame. Jesus quer que ninguém o apague, mas principalmente que ele não se apague no coração de Seus discípulos missionários! Esse “fogo” que arde em Seu interior é a paixão por Deus e a compaixão pelos que sofrem. Só quem se aproxima de Jesus com os olhos abertos e o coração desperto pelo Seu amor é capaz de compreender essa paixão que o move e o faz viver buscando o reino de Deus e Sua justiça até à morte.

“Para que serve uma Igreja de cristãos instalados comoda¬mente na vida, sem paixão alguma por Deus e sem com-paixão pelos que sofrem? Para que se precisa no mundo de cristãos incapazes de atrair, trans¬mitir luz ou oferecer calor?” Para conhecer o poder transformador que o Mestre quis introduzir na Terra é preciso deixar-se queimar por Jesus. Só assim pode-se descobrir o aspecto mais apaixonante do Evangelho. E irradiar o mesmo fogo ao redor, na comu-nidade, na Igreja.


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Olhemos para Jesus e deixemo-nos queimar, deixemos o nosso coração arder: • Quando escutarmos Sua palavra viva e penetrante; • Quando o frescor de Suas ima¬gens e parábolas tomar conta de nossa mente; • Quando nos dermos conta da Sua linguagem concreta e imprevisível que não engana; • Quando nos deixarmos contagiar pela Sua paixão pela vida: uma vida íntegra, vigorosa, sadia, a vida vivida em abundância: “Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância’’; • Quando conseguirmos sentir Deus como Pai e assim nos dermos conta de que todos os outros são nossos ir-mãos; • Quando desistirmos de buscar o êxito, o útil, o razoável, e nos libertarmos do que os outros acham e do que os outros fazem e buscarmos uma vida feliz para todos, sem exceção, uma vida pautada no amor. Jesus nos chama a viver o amor sem restrições. Não basta buscar a perfeição, vivendo corretamente. É preciso escutar a voz do coração. Ir além do esperado: “Amai os inimigos”¬. Buscai o bem de todos. A mensagem de Jesus, se acolhida em nosso coração, em nossa vida, sacode, causa impacto e transforma. Mostra-nos um estilo de vida, um caminho a seguir, um caminho de transformação.

Quem segue Jesus traz a “revolução” do amor em seu coração, e vai buscar uma sociedade mais justa. Vai viver buscando ardentemente que o fogo aceso por Ele arda cada vez mais neste mundo. Mas, como isso pode acontecer sem uma transformação radical? O “fogo” que Jesus deseja ver “arden¬do” sobre a Terra, é o amor que está no centro do Evangelho. Um amor que não combina com passividade, mediocridade ou rotina da boa ordem. Não podemos esquecer em nenhum momento de que Deus está perto de nós. Ele é que faz germinar, crescer e frutificar o amor e a justiça do Evangelho. É justamente essa presença de um Deus que não fala de vingança, mas de amor apaixo¬nado e de justiça fraterna, o que há de mais essencial no Evangelho. Assim Jesus contempla o mundo: cheio da graça e do amor do Pai. Essa graça e esse amor são a força criadora que vai fermentando a mas¬sa, como um fogo aceso que deve fazer arder o mundo inteiro.


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Qual o sonho de Jesus? • Uma família humana na qual habita o amor e a sede de justiça. • Uma so¬ciedade que busca apaixonadamente uma vida mais digna e feliz para todos. Nós, seguidores de Jesus, não deveríamos perder a confiança e o ânimo. Esta sociedade está necessitada de testemunhas vivas que nos ajudem a continuar acreditando no amor, porque não há horizonte para o ser humano se ele acabar perdendo a fé no amor.

O importante é que você, leitor, não permita que este seja apenas mais um texto de reflexão que você leu. Tome uma decisão! Aceite a transformação radical que Jesus quer fazer em você! Aceite deixar que o Seu amor tome conta de você! Totalmente! Corra o risco e queime-se! Aceite ser uma testemunha viva que ajuda os outros a acreditar no amor!

Eu vim atear fogo ao mundo: e oxalá já estivesse ardendo! • Coloquemo-nos diante de Jesus, em oração, e demos-Lhe uma resposta a esta sua convocação. • Como estamos alimentando esse fogo dentro de nós? Em nossa vida e testemunho? Temos espalhado esse fogo ao nosso redor? • O que pode aumentar em nós o amor a Jesus? • Com o que nos compromete essa Palavra de Deus refletida hoje? • Como podemos aumentar o fogo nos irmãos de fé e caminhada?

Liana Plentz Jornalista, catequista, especialista em ensino religioso. Coordenadora da iniciação à vida cristã do Vicariato de Porto Alegre. Secretária da Animação Bíblico-catequética do Regional Sul 3 da CNBB.


ROTEIROS CATEQUÉTICOS

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Parte II

RITOS DE ENTREGA NA CATEQUESE por Ângela Rocha Resgatando o assunto dos ritos e celebrações na catequese que iniciamos na 7ª edição da revista http://goo.gl/05QmQE, vamos falar agora das FESTAS E CELEBRAÇÕES!

ACESSE O SITE


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A

s celebrações possibilitam um ambiente rico em símbolos litúrgicos e sinais que manifestam os valores fundamentais do Evangelho e levam ao entendimento do momento sagrado que se vive. Portanto, é necessário que se crie um itinerário celebrativo que proporcione aos catequizandos viver a fé de um modo mais ativo e prático. Dessa forma o “aprendizado” se dará tanto pelas palavras que ouvem, quanto pelo ambiente de fé que os rodeia. É a união da “teoria” com a prática. Durante muito tempo vivemos uma catequese exclusivamente “teórica”, o que ocasionou uma separação entre catequese e liturgia. Em princípio, vamos pensar esse itinerário como intrínseco à própria implantação da IVC nos moldes do catecumenato na paróquia. Onde isso ainda não é possível, gradualmente, podem-se inserir pequenas celebrações e entregas no processo catequético. Para isso, é necessário que os catequistas e presbíteros conheçam intimamente o RICA – Ritual de Iniciação Cristã de Adultos. O RICA, apesar de ser um ritual basicamente para adultos, pode ter seus rituais e celebrações adaptado para as crianças (cf. item 312). Aliás, ele traz um capítulo dedicado à iniciação de crianças em idade de catequese. Mas, vamos separar as celebrações em três tipos:

- Celebrações catequéticas (momentos celebrativos): podem iniciar

ou concluir um conjunto de temas dos encontros catequéticos. São celebrações que podem acontecer no ambiente dos encontros com ou sem a presença da família, líderes das pastorais e da comunidade catequética. Essas celebrações resgatam os principais temas do itinerário catequético. Ex.: acolhida dos novos catequizandos e famílias, celebração mariana (mês de maio), celebração dos Sete Sacramentos, dos Mandamentos, do Mandamento do Amor, das Bem-aventuranças, etc.

- Celebrações de entrega (festas): são

celebrações de caráter mais público, feitas perante a comunidade eclesial e que expressam o compromisso pessoal com a Igreja/comunidade. O ideal é que sejam celebrações eucarísticas, com monição especial do padre e participação da assembleia. Nelas podem ser feitas as entregas: da Cruz, da Bíblia, do Painosso, do Credo, conforme a caminhada catequética e o amadurecimento dos catequizandos ao entendimento de cada um desses símbolos da fé. Normalmente essas entregas adaptam-se a cada uma das etapas da catequese (anos/séries/ tempos). Essas celebrações devem se moldar à estrutura da Santa Missa, sem comprometer seu caráter litúrgico, em seus quatro grandes momentos: ritos iniciais, liturgia da palavra, liturgia eucarística e ritos finais.


Folha

- Celebrações de preparação próximas dos Sacramentos: são

celebrações que proporcionam um aprofundamento mais intenso sobre o sacramento que será celebrado. O RICA orienta que essas celebrações sejam feitas na Quaresma, por ser o tempo próprio da “Iluminação”, tempo para se preparar para os sacramentos de iniciação desde a Igreja primitiva. Orienta-se também que os sacramentos da Eucaristia e a Confirmação sejam celebrados no tempo pascal, assim, o ano catequético fica desvinculado do ano escolar, valorizando a catequese como processo de iniciação à vida cristã e tirando seu caráter de “aula de religião” ou “escola de sacramento e doutrina”. Exemplos de celebrações: celebração penitencial (confissões, tanto para Eucaristia quanto para a Crisma), celebração do pão (para valorizar a Eucaristia); para a Crisma as celebrações da água, da luz, da Ressurreição, vigília crismal, etc. Todas essas celebrações e momentos celebrativos devem ser entendidos como expressão orante dos conteúdos trabalhados na catequese. É necessário encontrar o momento ideal, dentro do itinerário anual (planejamento), para realizar a celebração. Lembrando que não se “celebra” aquilo que não se entende e que, além dos catequizandos, a família também precisa ser preparada para estes momentos. O objetivo principal da catequese e das celebrações é levar o catequizando a uma verdadeira experiência de encontro

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com Jesus Cristo. Deve-se cuidar com muito zelo para que as celebrações não se transformem em apenas leituras e encenações. A acolhida deve ser fraterna e verdadeira, o ambiente deve ser bem preparado e agradável, os catequizandos devem ser envolvidos de forma a serem participantes ativos e não expectadores ou “atores” que decoraram a fala. É essencial, também, que se proporcione um ambiente de profunda espiritualidade, de profunda oração, usando recursos e leituras adequadas: as Sagradas Escrituras, símbolos, mantras (refrões), músicas, orações, etc.; que se “ensine” os catequizandos a “conversar” com Deus, a sentir a presença Dele em suas vidas, a entender Jesus Cristo e a valorizar a devoção mariana. Em todas as celebrações o ambiente deve estar preparado e adequado ao tema que


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se quer celebrar, sempre com a presença dos símbolos cristãos: a Bíblia, a cruz, flores, velas, trigo e pão, uva e vinho, imagem de Maria, etc. Em cada uma das celebrações a organização deve nomear previamente o comentarista (catequista, pai, mãe, catequizando, membro da comunidade) e distribuir previamente a cada um a sua participação, para que não se faça nada de improviso. Os comentários devem ser uma referência e não devem inibir a espontaneidade, importante para a celebração. No entanto, há que se cuidar, também, para que não aconteçam “discursos longos” e desnecessárias “explicações” sobre os símbolos apresentados. Símbolo não se “explica”. Se o fizermos, significa que ele não “simboliza” aquilo que queremos.

FONTE: SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. RICA – Ritual da Iniciação Cristã de Adultos. São Paulo: Paulinas, 2003.

Também se deve escolher músicas e cantos adequados ao momento que está sendo celebrado. Mantras e refrões ajudam a interiorização e conduzem à oração. Quando as celebrações forem integradas à celebração litúrgica (Missa) deve-se cuidar para que elas não interfiram no ritual da Santa Missa, mas, sim, complementem a liturgia. O padre celebrante deve estar perfeitamente integrado ao processo de catequese de iniciação à vida cristã e conhecer o RICA para que as celebrações não sejam comprometidas. As celebrações de entrega na Missa não podem, de forma alguma, ser motivo de “estresse” entre catequistas e padre. Na PARTE III, começaremos a falar das principais celebrações a ser realizadas: acolhida dos catequizandos e entrega dos símbolos, Pai-nosso e Credo.

Ângela Rocha Catequista e formadora na Paróquia N. Sra. Rainha dos Apóstolos em Londrina-PR. Especialista em catequética pela FAVI, Curitiba-PR. Administradora do grupo Catequistas em Formação.


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CRISTOLOGIA

por Mรกrcio Oliveira Elias


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A

dificuldade da moderna historiografia é a sua recusa em reconhecer a superioridade da base histórica do cristianismo, tal como o conhecemos, bem como o fundamento bíblico sobre o qual está edificada a pessoa de Jesus, em contraposição ao conjunto de informações de tantos outros personagens aceitos como históricos, apesar de pautados somente em indícios. Os escritos do Segundo Testamento são o testemunho autêntico da caminhada histórica de uma comunidade, embasada em fatos e acontecimentos vividos por um homem-Deus: Jesus Cristo. Percebemos nos relatos dos Evangelhos que em Jesus interagem harmoniosa e, paradoxalmente, a humildade e a sublimidade, o humano e o divino. Nele, a humanidade é o portal de entrada para a divindade; o transcendente que se manifesta no meio terreno, numa integração de reconhecimento e alteridade. Envolver Jesus com auréolas ou magnanimidade celestes seria privá-Lo do mais humano, pois o divino irrompe exatamente por meio de Seus passos terrestres. Sua filiação divina não o retira do tempo e do espaço, nem o torna distante do comum dos mortais; ao contrário, solidariza-o em amorização com todos, sem exceção. O Deus Criador se fez um ser humano, criatura: chorou, sorriu, alimentou, sofreu, amou, compartilhou de todos os sentimentos, fraquezas e grandezas humanas. Sendo homem, evidenciou Deus; sendo Deus, proclamou uma humanidade que transcende a matéria e nasce no espírito: o amor ágape da autodoação. Sua humanidade semeia

a fé por Sua divindade; mais do que conflitivas, a humanidade e a divindade são completivas. O astrônomo e pensador Galileu Galilei nos deixou uma sábia reflexão sobre o desprendimento divino: “Todo homem quer ser rei; todo rei quer ser Deus; só Deus quis ser homem.” A presença de Jesus no contexto histórico da humanidade veio mostrar que todos nós podemos nos tornar divinos. Mas o caminho de nossa divinização exige de nossa parte a mais profunda humanização. É difícil para alguém perceber que Sua proposta de amor, perdão, justiça, igualdade e fraternidade encontrou uma grande resistência, justamente por parte daqueles que falam e agem em nome de Deus. Ele fez, antes de tudo, um enfrentamento religioso com as autoridades religiosas de Sua época, mas também estremeceu os acomodados e injustos alicerces sociais e políticos instalados. Carregar a cruz, como escolha no caminho de Jesus, é abraçar a responsabilidade da missão que ele próprio aceitou. Sua adesão ao compromisso do projeto de vida plena não O desviou das dificuldades que podiam ser modificadas, mas que não seriam extintas. Carregar a cruz foi romper com os milênios de animalidade sedimentada na estrutura da alma humana, principiando acender a luz pela fidelidade em servir e amar incondicionalmente. Não recebemos a redenção por intermédio de nossos méritos, mas em razão da pura misericórdia que Deus nos concedeu. No empreendimento histórico que está sendo analisado, observamos que o judaísmo não era somente uma religião,


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mas uma estrutura sagrada com bases em ligações hierárquicas, econômicas e de direito social. Distanciando-nos do sentido moderno da religião, o judaísmo era uma estrutura de sacralidade familiar, em que os padrões existenciais de conduta formatavam as relações interpessoais na morada judia. Assim sendo, nesse contexto, em um momento de intensa desintegração social, que se distanciava de uma economia de subsistência familiar para uma nova economia mercantil, o “evento Cristo” aconteceu para conduzir um movimento messiânico, especialmente interessado na comunhão de todos, principalmente junto aos excluídos sociais; essa movimentação implicou uma ruptura com a estrutura de sacralidade familiar judia, que assim marcou toda a Sua caminhada.

As afirmações de que os judeus eram intransigentes, defensores de um Deus caracterizado pela falta de misericórdia, são historicamente equivocadas. Os judeus daquela época, de uma maneira geral, eram partidários de uma ordem social justa e exigente, ao encontro da conformidade da lei mosaica relacionadas ao Templo e ao sagrado. Nessa perspectiva, Jesus não aceita as normas tradicionalistas promulgadas pelas autoridades religiosas, buscando inserir na comunidade os marginalizados e párias excluídos, que eram abundantes naquele momento de intensa crise econômica, cultural e familiar. Dessa maneira, Jesus desponta como um homem conflituoso e perigoso em face da ordem religiosa e social vigentes. Exatamente por isso foi rejeitado e condenado pelas autoridades como “subversivo”.


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Ao refletirmos sobre as atitudes de Jesus, reconhecemos o melhor de nós mesmos enquanto criaturas criadas, sustentadas e habitadas por Deus, já que todos nós temos a nossa chance de progredir na consciência do bem, pois nascemos pelo sopro divino para progredir, para sermos melhores do que jamais fomos. Essa é a ordem natural que Jesus aponta em Sua caminhada redentora. Somos parte de Deus, temos as virtudes e as qualidades divinas em nosso interior, portanto, há que se compartilhar esses dons com todos, por todos e por nós mesmos. Não há como se aproximar de Jesus sem sentir-se atraído e fascinado por Sua pessoa, pelo carinho, pela delicadeza e ternura com que trata os outros, independentemente de seu gênero, etnia ou religião. O que importa é o contato vivo com sua pessoa, sem cair em abstrações metafísicas ilusórias ou analgésicas, pois o que ocupa o lugar central na vida de Jesus não é Deus simplesmente, mas Deus com seu projeto sobre a história humana. A transcendência e a ação caminham conectadas ao plano salvífico proclamado na encarnação. A fé em Jesus Cristo não deveria limitar-se a uma simples confissão doutrinal da Sua divindade, muito menos o conhecimento de Jesus se limita ao conhecer exterior e racional de Sua pessoa. Crer em Cristo de maneira concreta é viver como cristão, no seu seguimento completo ao projeto de Deus para a humanidade. A fé nesse homem só pode ser entendida como vida configurada segundo o seu evangelho, numa aderência existencial à sua pessoa e ao reino por ele proclamado, como resposta ao sentido da existência humana.

Jesus foi um homem de extraordinários dons, influenciando a comunidade de Seu tempo, partindo da periferia da Galileia em direção ao centro social e religioso: Jerusalém. Os “milagres” ou “sinais” são o gérmen da Sua vida, que são reconhecidos por muitos e renegados por outros tantos, mas essencialmente compreendidos por seus discípulos como compromisso de vida e liberdade aos excluído e oprimidos, ou seja, como um sinal da chegada do Reino de Deus. A interpretação dos sinais (milagres) apontados em Jesus pode variar, mas eles são o pano de fundo de qualquer pesquisa em todos os tempos. A Palavra encarnou na história, tornando-nos assim partícipes da gloriosa caminhada salvífica. REFERÊNCIAS: • BARBAGLIO, G. Jesus, hebreu da Galileia. 19 ed. São Paulo: Paulinas, 2008. • BINGEMER, M. C. Jesus Cristo: servo de Deus e messias glorioso. São Paulo: Paulinas, 2008. • BOFF, L. Jesus Cristo libertador. Petrópolis: Vozes, 2011. • LIBANIO, J. B. Linguagem sobre Jesus. São Paulo: Paulus, 2011. • RATZINGER, J. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007.

Márcio Oliveira Elias Mestre em teologia bíblica pela Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma.


PERSEVERANÇA

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E DEPOIS DA

PRIMEIRA EUCARISTIA? Perseverança na catequese

por João Melo


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G

rande é o empenho de nossas comunidades na tarefa de catequizar. E isso é muito bom! Porém, é bem verdade que a maior parte dos esforços dos catequistas de hoje estão voltados para a catequese de crianças, principalmente de Primeira Eucaristia. As crianças dessa fase merecem e precisam da nossa atenção, acolhida e carinho. Mas, e depois da Primeira Eucaristia? Por que há poucos catequistas dedicados as iniciativas com pré-adolescentes e adolescentes que terminaram a catequese de Primeira Eucaristia e ainda não têm idade para a catequese de Confirmação? Na verdade, nós é que voltamos a nossa atenção quase que exclusivamente às crianças que se preparam para a Eucaristia e acabamos por desvalorizar as outras modalidades e fases de catequese. Podemos destacar duas razões para isso ocorrer:


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1 CATEQUESE SACRAMENTALIZADORA Trata-se da compreensão de que a catequese tem como maior objetivo preparar para receber os sacramentos. Ora, isso não é verdade, o objetivo da catequese é sempre evangelizar, isto é, fazer novos discípulos de Jesus Cristo. É preciso passar de uma catequese sacramentalizadora para uma catequese evangelizadora. Infelizmente percebemos que uma catequese que não “resulta” em um “sacramento” tem pouco ou nenhum esforço da comunidade. Receber os sacramentos é consequência de um caminho de seguimento de Jesus;

2 ESCOLARIZAÇÃO DA CATEQUESE CATEQUESE SACRAMENTALIZADORA

Por mais que se diga o contrário, a nossa prática pastoral denuncia que a maior parte dos catequistas do Brasil ainda encara e organiza o processo de catequese como “curso” de inspiração escolar. Isso é tão verdade que insistimos em ritmar a catequese de acordo com o período escolar – quando começa, tempo de férias, quando termina, etc. – e não conforme o ano litúrgico. Essa mentalidade acaba por transformar a grande celebração da Primeira Eucaristia em conclusão de curso. Como na catequese com adolescentes que já terminaram a iniciação eucarística não acontece uma celebração desse tipo, o interesse dos catequistas por essa etapa diminui muito.


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O GRANDE DRAMA É CONTINUAR O CAMINHO...

Há inúmeras iniciativas de propostas catequéticas com esses adolescentes pelo Brasil afora e no fim desse texto pretendo elencar algumas. No entanto, para a maior parte das comunidades o desafio permanece: qual itinerário temos para oferecer aos adolescentes que terminam a catequese de iniciação à eucaristia? É comum ouvir catequistas dizendo que depois da Primeira Eucaristia – que às vezes lamentavelmente parece mais uma formatura de conclusão de curso – os iniciandos vão-se embora e não aparecem mais. Existe uma série de elementos que causam essa dificuldade, mas, em geral, essa atitude é resultado de um processo de catequese falho que não conseguiu iniciar na fé e na vida cristã os iniciandos e suas famílias. Aqueles que durante a catequese de Eucaristia apaixonaram-se por Jesus e aprenderam a amar a Palavra de Deus certamente vão perseverar nas iniciativas que a comunidade lhes oferecer.


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O QUE GERALMENTE ACONTECE DEPOIS DA PRIMEIRA EUCARISTIA: Para planejar e então propor um itinerário catequético a esses pré-adolescentes e adolescentes é necessário descobrir o que exatamente acontece com eles depois que terminam a catequese de Eucaristia. Costuma ser assim:


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1

“Os de malas prontas”. São aqueles iniciandos que você percebe desde os encontros de catequese eucarística que, assim que a catequese acabar, eles irão “zarpar” para bem longe e não dar mais as caras... Dificilmente voltam para a catequese de Confirmação;

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“Os com a mão na massa”. São engajados nas pastorais ou movimentos, têm grande disposição e vontade de doar-se. Gostam de estar na igreja e logo fazem amizades com os membros da comunidade. É comum que iniciandos com essa atitude tenham grande maturidade e facilidade de relacionar-se. Sem dúvida farão a catequese de Confirmação;

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“Os turistas”. Esses aparecem de vez em quando. Você sabe que um dia vão voltar... Em casamentos, Missas de sétimo dia, festas, eles aparecem. Alguns acabam fazendo a catequese de Confirmação.

2

“Os que não largam o osso”. A catequese de Eucaristia acabou para eles, mas a realidade não é bem assim. Eles continuam vindo aos encontros. Muitos acabam por serem “ajudantes” em novas turmas. Normalmente os iniciandos “que não largam o osso” fazem isso porque a comunidade não tem uma proposta de catequese adequada para sua fase;

4

“Os telespectadores”. Esses vêm religiosamente à Missa do domingo. Mas é isso. Grande parte está acompanhada da família. Preferem não tomar parte das atividades pastorais da comunidade. A maior parte faz catequese de Confirmação;


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O EUNUCO ETÍOPE E FILIPE (AT 8,26-39) O episódio bíblico do encontro entre o eunuco e Filipe é de especial importância porque a partir dele podemos estabelecer um roteiro para a catequese com préadolescentes e adolescentes que terminaram a catequese de Eucaristia. Nesse trecho o personagem com quem Filipe dialoga já possui alguma experiência de fé que, no entanto, precisa ser aprofundada, assim como nossos iniciandos, que, terminada a catequese eucarística, precisam aprofundar no seguimento e discipulado de Jesus Cristo. Vejamos o trecho:


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26 Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: “Prepara-te e vai em direção do sul. Toma a estrada que desce de Jerusalém a Gaza. Ela está deserta”. Filipe levantou-se e foi.

IGREJA EM SAÍDA por Papa Francisco http://goo.gl/OwahpD

Filipe é um evangelizador itinerante que parece estar à procura de novas pessoas para evangelizar. Nos dias de hoje, diríamos que ele compreende bem o que o Papa Francisco diz sobre uma “Igreja em saída”. A estrada de que o texto fala é um caminho deserto de aproximadamente 100 km. Filipe prepara-se e vai. “Prepara-te!”: para nós isso significa pensar, estudar e planejar a proposta de catequese que queremos propor. Daí é que nasce o objetivo da nossa proposta. Filipe sabia que devia ir “em direção do sul” e como lá chegar, tomando a “estrada que desce de Jerusalém a Gaza”. Onde queremos chegar com a catequese de pré-adolescentes e adolescentes iniciados à Eucaristia? Qual o caminho, isto é, como fazer? Qual o método? 27 Nisso apareceu um eunuco etíope, alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, e administrador geral do seu tesouro. Ele tinha ido em peregrinação a Jerusalém. 28 Estava voltando e vinha sentado no seu carro, lendo o profeta Isaías. Um eunuco era um servo, preparado desde cedo para ser um funcionário por toda sua vida. Esse eunuco era o tesoureiro da Etiópia, uma posição de prestígio, sob o reinado da rainha. Candace era o título real da rainha, assim como faraó era o título real do rei do Egito. Sem dúvida o eunuco era um homem culto e também muito religioso, pois viajou centenas de milhas através de montanhas e desertos para adorar em

“EU VOU” Música Garotada Missionária

Jerusalém, cidade onde ficava o templo dos judeus. Além disso, é alguém que tem contanto com as Sagradas Escrituras, pois está lendo Isaías durante a viagem. Tudo isso nos ajuda a perceber que é preciso sempre começar a catequese a partir da pessoa concreta, em sua realidade. É preciso conhecer pessoalmente e levar em consideração a vivência e as experiências de vida de cada pessoa. O catequista de pré-adolescentes e adolescentes iniciados à eucaristia conhece cada um dos seus iniciandos e sabe o suficiente da experiência religiosa de cada um. Os iniciandos dessa modalidade ou fase de catequese já passaram por uma etapa de catequese de iniciação antes. É preciso ter isso em conta. Não faz sentido agir como se toda a catequese anterior não existisse ou fosse vã. É preciso valorizar as experiências que eles tiveram e partindo delas, aprofundá-las.


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29 Então o Espírito disse a Filipe: “Aproxima-te desse carro e acompanha-o”. 30 Filipe acorreu, ouviu o eunuco ler o profeta Isaías e perguntou: “Tu compreendes o que estás lendo?” O coração do eunuco parece vazio; sentando-se na carruagem, procurou as Escrituras em busca de sentido. A frequente insuficiência evangelizadora das catequeses de iniciação à Eucaristia, sobretudo aquelas que ainda seguem um modelo tradicional de doutrinação que tem pouca ou nenhuma ligação com a vida, geram cristãos vazios de fé e de esperança. “Acompanha-o!” Essa é a recomendação do Espírito Santo para a ação evangelizadora de Filipe e também à nossa! Aproximarse, fazer-se próximo, amigo, caminhante, nem que seja preciso “acorrer” um pouco. Colocar-se lado a lado para “ouvir”, ser sensível à realidade e então despertar e aprofundar a fé. 31 O eunuco respondeu: “Como poderia, se Ninguém me orienta?” Então convidou Filipe a subir e a sentar-se junto dele. Aqui já é possível perceber a adesão de fé do eunuco e os frutos que produzirá. Ele sentiu uma profunda necessidade de encontrar-se, pois é ele quem chama Filipe para sentar-se a seu lado. A Palavra de Deus o seduz (cf. Jr 20,7), a sede (cf. Jo 4, 15), a paixão e o gosto pelas “coisas do alto” (cf. Cl 3,1) fazem com que o próprio eunuco busque aprofundar a Palavra de Deus. Que alegria para um catequista quando ele percebe o amor de seus iniciandos pela Palavra de Deus e pela catequese!

32 A passagem da Escritura que o eunuco estava lendo era esta: “Ele foi levado como uma ovelha ao matadouro, e, qual um cordeiro diante do seu tosquiador, emudeceu e não abriu a boca. 33 Eles o humilharam e lhe negaram justiça. Seus descendentes, quem os poderá enumerar? Pois sua vida foi arrancada da terra”. Era um trecho do profeta Isaías (53, 7-8) que Filipe também conhecia. O episódio desse encontro mostra a importante de “conhecer” a Sagrada Escritura e “interpretar a Palavra”. O eunuco queria conhecer a Sagrada Escritura, ele precisava de alguém para auxiliá-lo em explicar o texto. É isso que é catequizar. A Sagrada Escritura é o livro por excelência da catequese, por isso é preciso que o catequista conheça a Palavra de Deus, busque os ensinamentos da Igreja. Diz o Papa Emérito Bento XVI: “Na base de toda a espiritualidade cristã autêntica e viva, está a Palavra de Deus anunciada, acolhida, celebrada e meditada na Igreja” (Verbum Domini, n. 121). 34 E o eunuco disse a Filipe: “Peço que me expliques de quem o profeta está dizendo isso. Ele fala de si mesmo ou se refere a algum outro?” 35 Então Filipe começou a falar e, partindo dessa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus. É graças à interpretação da Sagrada Escritura feita por Filipe que o eunuco adere à fé em Jesus Cristo. Filipe conhece e interpreta o texto de tal maneira que conduz ao encontro pessoal com Jesus Cristo.


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Nenhuma catequese esgota o conhecimento ou o aprofundamento da Palavra de Deus. De fato, aqui estão também o núcleo e o conteúdo fundamental da catequese com préadolescentes e adolescentes iniciados à Eucaristia: o anúncio de Jesus Cristo. Por meio das Sagradas Escrituras, sobretudo pelo Novo Testamento, anuncia-se a Páscoa de Jesus, Sua morte e ressurreição, enquanto com o Antigo Testamento se aprofunda o início da história da Salvação. 36 Eles prosseguiram o caminho e chegaram a um lugar onde havia água. Então o eunuco disse a Filipe: “Aqui temos água. Que impede que eu seja batizado?” 37 Respondeu Filipe: Crês de todo o coração? Respondeu o eunuco: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. O texto narra que eles “prosseguiram o caminho”. Não sabemos com precisão quanto tempo foi que caminharam e assim está bom. Não há um tempo determinado para amadurecer e aprofundar a fé, há, na verdade, um caminho a ser feito. O tempo que se gasta nesse caminho – itinerário catequético – não pode ser definido porque não é igual para todos. Cada um caminha ao seu tempo, assim também é a catequese com pré-adolescentes e adolescentes iniciados à Eucaristia. “Aqui temos água”, diz o texto. Ora, o caminho de Jerusalém a Gaza (At 8,26) é um caminho deserto. Mas agora surge água. Do mesmo modo, no texto sagrado incompreensível que o eunuco lia, agora

brota um sentido iluminar que sacia a sua sede de Deus. O que era estéril ganha vida nova! As experiências de catequese anteriores podem ganhar novas cores a partir da catequese pós-iniciação eucarística. 38 O eunuco mandou parar o carro. Os dois desceram para a água e Filipe batizou o eunuco. 39 Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe. O eunuco não o viu mais e prosseguiu sua viagem, cheio de alegria. Filipe agiu pela ação do Espírito Santo, que o arrebatou. Isso significa que ele era movido e agitado pelo Espírito com rapidez e perspicácia, ou seja, sua catequese é antes de tudo resultado do seu testemunho de fé e da sua comunhão com Deus. Nesse trecho é evidente que a recepção do sacramento é consequência de um caminho de evangelização e não fim último em si mesmo. “A viagem continua” para o eunuco e também para Filipe da mesma forma que o caminho de seguimento de Jesus Cristo de nossos iniciandos e igualmente o nosso também continua. O eunuco é claramente a imagem de quem nos dias de hoje continua buscando a Deus. O sinal de vida nova que traduz a sua experiência de encontro com Cristo é a alegria que como nos ensina o Papa Francisco, “enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (Evangelii Gaudium, n. 1).


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PASSOS PARA UMA CATEQUESE COM PRÉ-ADOLESCENTES E ADOLESCENTES INICIADOS À EUCARISTIA: 1) Reunir os envolvidos e bem planejar a proposta de catequese que se quer propor; 2) Conhecer pessoalmente cada iniciando tendo em conta a vivência e as experiências religiosas de cada um; 3) Propor um itinerário que aproxime catequistas e iniciandos e estes entre si, que possa suscitar a amizade e a estima entre todos; 4) Provocar o desejo e o gosto dos iniciandos pela catequese e pela intimidade com a Palavra de Deus;

5) Promover encontros envolventes e dinâmicos que ao mesmo tempo sejam de profunda experiência de contato com a Palavra de Deus; 6) Privilegiar o anúncio da Boa Nova Pascal de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, mas também de toda a história da Salvação, desde o Antigo Testamento; 7) Respeitar e estar atento à maturidade de fé de cada iniciando, sem ter pressa para passar para a catequese de confirmação; 8) Abrir-se à ação criativa do Espírito Santo que inspira-nos a abraçar novos métodos e técnicas de acordo com a faixa etária e a linguagem dos adolescentes;


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O QUE JÁ FAZEM POR AÍ... A catequese de iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal sugere um tempo mistagógico após a celebração dos sacramentos; na prática, isso significa dizer que os encontros de catequese não se enceram no dia da Primeira Eucaristia, eles continuam por um período suficiente para aprofundar os mistérios celebrados. Só depois é que efetivamente se conclui essa fase de catequese iniciática e dá-se início ao tipo de catequese de que aqui estamos falando. QUADRO GERAL DA INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ http://goo.gl/OssxJF

Essa modalidade de catequese com adolescentes já iniciados à Eucaristia, em muitas comunidades, é chamada de “catequese de perseverança”, que normalmente é um período catequético para pré-adolescentes e adolescentes que ocorre entre a catequese de iniciação eucarística e a catequese de Confirmação. Trata-se de uma proposta válida de crescimento de fé, sabedoria e graça diante de Deus (cf. Lc 2,52). A natureza dessa catequese tem que ser entendida à luz do seu nome, “perseverança”... Do latim perseverantia, diz respeito ao ato de manter-se constante e firme ao longo de um projeto já iniciado. O projeto é seguir Jesus Cristo! Perseverança é sinônimo de luta, esforço e sacrifício e seguir Jesus é muito disso tudo mesmo... Mas a perseverança é, sem dúvida também, um caminho para a satisfação, pelo prazer e pela felicidade que proporciona. Dessa forma, a catequese de Perseverança não pode ser vista como uma catequese menos importante, negligenciada ou pouco pensada e estruturada.


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PROPOSTAS QUE DERAM CERTO: Infância e Adolescência Missionária; CANAL DE VÍDEOS DO BLOG DA “GAROTADA MISSIONÁRIA” http://goo.gl/xaEqbk Ministério de leitores infantojuvenis que se reúnem semanalmente para a leitura orante da Bíblia; Ministério dos acólitos (coroinhas): na Paróquia Santo Antônio de Pádua, da Vila Mafra, em São Paulo, os iniciandos só podem ingressar no grupo dos coroinhas depois da catequese de Eucaristia. Além da saudável expectativa, essa medida pedagógica realça a ligação entre servir o altar e a Eucaristia, pois os adolescentes que são acólitos também comungam do Corpo e Sangue do Senhor;

Grupos por afinidades: grupos de teatro, de música, coral infantojuvenil, de vivências missionárias, etc. Isso não significa que não possa haver um único grupo que faça um pouco de todas essas coisas. O Projeto Lectionautas, que propõe orientações para a leitura orante comunitária da Palavra de Deus, sobretudo entre os jovens é válido também para adolescentes. PROJETO LECTIONAUTAS http://goo.gl/2IDrbl

Momentos de oração e espiritualidade: realização de encontros querigmáticos e retiros periódicos;


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O projeto Alerta, que foi apresentado durante o 1º Seminário Nacional de Iniciação à Vida Cristã, mostra como os adolescentes e jovens são pouco a pouco inseridos na catequese de Crisma de inspiração catecumenal. Liana Plentz, colunista da revista Sou Catequista, disponibilizou na internet toda a apresentação do projeto. Hoje, quando se fala em catequese com adolescentes e jovens, não se pode esquecer da linguagem das redes sociais. A utilização das mídias virtuais, como grupos no Facebook e no WhatsApp são poderosos instrumentos de evangelização. Por tudo isso, não cabe aqui um catequista despreparado ou um grupo que se reúne de forma aleatória e sem saber o que fazer. É verdade que a sistematização da catequese dessa fase pode ser “mais leve”, mas isso não significa desorganização ou falta de objetivo. É mais do que “ficar com os iniciandos na Igreja para não se perderem até a Crisma”, é preciso enxergar esse tempo como verdadeira proposta catequética de continuidade da vivência cristã e de autêntico crescimento no discipulado de Jesus Cristo.

AS PARTILHAS NO SEMINÁRIO NACIONAL DE INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ http://goo.gl/gZ2D06 APRESENTAÇÃO PROJETO ALERTA http://goo.gl/91N3X8

WHATSAPP (GOOGLEPLAY) http://goo.gl/XHjDd

WHATSAPP (ITUNES) http://goo.gl/O1gvS

João Melo Seminarista da Arquidiocese de São Paulo. Especialista em Catequese pelo UNISALSP e acadêmico do curso de pós-graduação em Ensino Religioso Escolar pelo mesmo instituto. É membro da Comissão Arquidiocesana de Animação Bíblico-Catequética da Arquidiocese de São Paulo.


CRISMA

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Para quê ser crismado? por Pe. Paulo F. Dalla-Déa

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uero refletir um pouco sobre a razão de ser crismado hoje: creio que – mesmo não falando – temos muitas perguntas a esse respeito, sejam feitas pelos crismandos (que muitas vezes vão empurrados pelos pais e avós para a catequese de Crisma), sejam pelos catequistas ou pelos católicos de nossas comunidades de fé. Este texto não quer ser uma resposta oficial da Igreja Católica, mas uma investigação de fé feita para nós, hoje, do século XXI. Espero que ajude você, leitor, a se motivar mais e a passar as razões de sua fé para quem tem dúvidas, fortalecendo e motivando as pessoas que precisam receber a Graça e a Presença de Deus na sua vida, por meio dos sacramentos.


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Não é para a salvação

Quem vai receber a Crisma já foi batizado. Então, o sacramento da Crisma é visto como uma espécie de “luxo” para alguns católicos apenas de nome. Ou seja, Jesus disse que seria necessário o Batismo para entrar no céu: então não preciso ser crismado, já que tenho a “entrada” garantida. Seria o mínimo do mínimo para o objetivo proposto. Esse é um grande reducionismo. Para se ter uma família não basta apenas saber quem é o seu pai, sua mãe e seus irmãos: também precisa conviver com eles. Formando laços que se cria uma família, realizando convivência que se criam vínculos e geram-se amor e dedicação. Ou seja: ter uma família exige dedicação, tempo e dinâmica positiva de convivência. Não é algo mágico ou instantâneo, como muitos gostariam que fosse. Mas quem diz que não é necessário ser crismado está certo, como não e necessário ser feliz para viver. Conheço muitos que vivem sem serem felizes, mas seria melhor se eles fossem felizes, não? A felicidade não é automática para quem vive, mas se realiza em quem se esforça por ser feliz, assim como a confirmação não é necessária, mas é muito desejável que haja os dois na vida de um cristão.

Quem recebe a Crisma e a Eucaristia é porque já foi batizado e quer progredir/ aprofundar-se na fé e na vida cristã. Assim como quem é feliz hoje trabalhou para que a felicidade fosse acontecendo em pequenos gestos de amor e de dedicação.

Não serve para receber o Espírito Santo Há muitos catequistas (até padres) que dizem que esse é o sacramento do Espírito Santo. Em parte isso é verdade, em parte não. Ou seja: o crismando não vai receber o Espírito Santo, como um Pentecostes particular, porque já o recebeu no Batismo. Lembra qual é o último rito do ritual do Batismo? É a imposição do óleo do crisma, que confere ao batizado a unção (= crisma) do Espírito para que ele seja sacerdote, profeta e rei do Novo Testamento. Ou seja: o Espírito é dado todo no Batismo (já que não se consegue dar metade do Espírito Santo agora e metade mais tarde, na crisma).


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Nota histórica:

nos primeiros séculos da Igreja, Batismo, Confirmação e Eucaristia eram sempre feitos juntos, na mesma cerimônia da Vigília Pascal, que era presidida pelo bispo. Como isso começou a se tornar impossível pelo número de pessoas a ser batizadas, pela criação de comunidades rurais sem a presença do bispo (paróquias) e pela introdução do batizado de crianças, a separação de funções acabou se tornando necessária. O diácono batizava, o bispo crismava e o padre dava a eucaristia. O bispo era sempre a garantia da comunhão eclesial do fiel com a comunidade cristã. Aqui está a origem histórica da dissociação dos três sacramentos básicos para ser cristão. Entendese isso historicamente, mas não se deve fazer confusão teológica e sacramental: o Espírito Santo é recebido completamente já no sacramento do Batismo.


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Um critério para dentro da comunidade

Temos que falar da confirmação então como um sacramento da unidade e da plenitude da Igreja. Assim como toda Graça parte de um único ponto (da Trindade), todo sacramento deve estar ligado a um único ponto de partida: o bispo. Ele tem a função de congregar todo o rebanho, como um bom pastor de suas ovelhas. Ele é o pai espiritual da sua comunidade de fé cristã. Ele é o nó que une os vários ministérios e carismas da Igreja. Ele é o anjo que vela pela fé de todos nós, segundo o livro do Apocalipse (cf. Ap 1,20) A Crisma é sempre ligada ao bispo: o óleo do crisma é por ele consagrado (com todos os padres da diocese reunidos) uma única vez ao ano para ser administrado a todos os cristãos que serão confirmados. Uma única vez para todos: unidade de fé, de graça e sinal visível de comunhão espiritual.

O bispo é o pastor das ovelhas de Cristo: ele é a plenitude dos dons do Espírito Santo. No ritual antigo, o altar da Eucaristia tinha seis velas durante todo o ano, mas no momento em que o bispo presidia deveria haver sete velas, em sinal da plenitude do Espírito Santo naquele lugar. Assim, ser

crismado pelo bispo é ser ligado a um único fundamento visível de fé na graça e na unidade dos cristãos. Mas isso não confere ao sacramento uma dimensão de mais presença de Deus. É um critério interno. Tanto que, em vários casos regulados pelo Código de Direito Canônico, o padre da comunidade pode conferir a confirmação a um fiel ou a um grupo de fiéis. Um crismado é sempre alguém ligado à sua comunidade, alguém chamado a fazer a sua vida ligada a uma construção de uma unidade de vida e de oração. Alguém chamado a ser construtor de uma unidade entre os seguidores de Cristo, alguém chamado a construir uma fraternidade para dentro da comunidade de fé. Por causa de minha fé, a comunidade deve crescer e ser mais fiel ao evangelho de Cristo.


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“Sonhar é acordar-se para dentro” Mário Quintana


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Desafiados como cristãos: do dentro para o fora da comunidade de fé Embora seja prerrogativa do bispo, já vimos que um padre também pode crismar, em circunstâncias regulamentadas. Poderíamos aqui falar sobre muitas coisas, o significado do óleo, das leituras, das vestes, da cor litúrgica, etc. Tudo isso é sempre muito explorado nas nossas catequeses e nos comentários ao ritual da confirmação. Mas quero me ater a um rito menos comentado e sempre feito de forma superficial. O tradicional tapinha no rosto que os crismados recebem do bispo. O ritual da confirmação, porém, tem um momento pouco explorado, que é o tapa no rosto do crismando. É o que confirma que o faz. Dá um tapa no rosto e diz: “A paz esteja contigo”. O que recebe o sacramento deverá responder: “E contigo também”. Numa visão superficial, parece um arcaísmo (= algo passado e sem significado), mas podemos explorar melhor esse gesto. Num mundo com tantas guerras e violências de todo tipo, o que significa o tapa na cara? Sem dúvida, um gesto

antigo de desafio. Quem recebe o tapa deve se considerar desafiado para uma disputa. E qual o teor da disputa? A paz, que deve estar comigo e contigo. Ser desafiado à paz não é um gesto corriqueiro se considerarmos a situação do mundo, em constante guerra, pelos mais variados motivos. Sempre em guerra, o cristão que recebe o sacramento da Crisma é desafiado por ser um construtor da paz, na linguagem de São Francisco. Ou um bem-aventurado (Mt 5,9) que será chamado e conhecido como um Filho de Deus (o mesmo título do Messias). Quem desafia aquele cristão a ser um construtor da paz? Ninguém menos do que o bispo, o edificador da comunhão da comunidade de fé, o bom pastor em nome de Cristo, o Anjo da Igreja loca (segundo o Apocalipse). É oficialmente desafiado a ser construtor da paz pelo próprio Apóstolo da comunidade de fé. De agora em diante, ser cristão deve ser continuamente um risco a ser assumido a cada dia. Um risco calculado de martírio, de testemunho. Que se dará nos pequenos gestos (e pode em


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alguns lugares exigir a doação da vida por Cristo como ele a doou por nós). O gesto ritual faz a passagem do dentro para o fora da comunidade de fé (ad intra para ad extra, na linguagem tradicional da teologia). Desafio dado, desafio aceito. A partir daí só se poderá reconhecer o cristão no campo de batalha pela construção de uma paz real a ser construída no serviço humilde a uma sociedade que precisa do Evangelho quanto mais grita contra ele. O gesto ritual do tapa na cara faz o convite à uma missão essencial e possível. Um gesto que mais do que tudo nos coloca como missionários do Reino. Missionários humildes e artesãos de uma paz trabalhosa. Uma paz que não se constrói com grandes teorias, mas que se constrói visitando as periferias existenciais na linguagem do atual Papa Francisco.

VÍDEO DO PAPA FRANCISCO NO DOMINGO DE PENTECOSTES, RESPONDENDO A PERGUNTAS DOS FIÉIS. Veja, a partir dos 50 minutos, quando ele fala da Igreja e da sociedade. É sobre a dimensão de uma fé que testemunha PARA FORA. Uma Igreja desafiada pelo Espírito Santo a construir uma paz difícil no contemporâneo da história.


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Crisma para adolescentes: uma proposta de falar à juventude

A Igreja crismou crianças durante séculos. A partir do Concílio Vaticano II optou por esperar até a idade da adolescência pra administrar o sacramento da confirmação, alterando a tradicional ordem Batismo-Crisma-Eucaristia. Por que essa mudança no século XX? A Igreja optou por ter uma proposta, por falar para os jovens, já que eles foram assumidos como protagonistas (= atores principais) com um papel importante na Igreja. A mudança de rumo da catequese foi uma opção pelos jovens (no documento de Puebla (1979) será feita uma opção preferencial pelos jovens também). Uma opção de quem quer valorizar e dar voz e vez aos jovens. De quem quer assumir os jovens. De uma Igreja que queria e quer ser jovem com os jovens. A mudança na data da Crisma não foi ingênua ou fruto da sorte. Foi uma decisão de uma Igreja que se importa com os seus filhos mais jovens e que quer arriscar falar a sua língua. Mudar a data da Crisma para a idade da adolescência foi uma proposta de enculturação, uma vontade de mergulhar no universo que os adolescentes e jovens estão imersos para nadar com eles, junto com o Cristo.

JUVENTUDE E VATICANO II http://goo.gl/a4t0P2 Entrevista on-line do Pe. Paulo Dalla-Déa sobre a posição adotada pelo Vaticano II em relação à juventude, tão menosprezada nos meios eclesiais ainda hoje.


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A solução italiana: o crescimento na Graça Você, leitor, deve estar se perguntando para que serve então ser crismado? Posso passar muito bem sem esse sacramento. Poder pode, mas não é conveniente que um cristão comece e não termine o que começou. Se ele começou na Graça, pelo Batismo, persevere na Graça, pela confirmação, e chegue até a plenitude da Graça, o Cristo da Eucaristia. Santo Tomás de Aquino, teólogo do século XII, diz que a Crisma é o momento do crescimento e do fortalecimento da graça cristã. Citando o Papa Melchíades, diz:

“O Espírito Santo, na fonte batismal, dá a plenitude da inocência; na confirmação, concede o aumento da graça”1. E também diz:

“A graça que faz o homem agradável a Deus não se recebe pois só para remissão dos pecados, mas também para aumentar e firmar a justiça.”2

1 AQUINO, T. Suma Teológica III Parte, questão 72: o sacramento da confirmação, São Paulo: Loyola, 2006, p. 223 2 Idem, p. 223. 3 Idem, p. 211.

Para ele, o sacramento deve ser recebido por todos (homens e mulheres, crianças e velhos, incluindo pessoas em estado terminal) para o fortalecimento da Graça na pessoa que o recebe. Deve ser um sacramento universalmente distribuído, não a apenas alguns privilegiados porque ele faz parte integrante da saúde da alma de todo cristão. A quem recebe o sacramento torna-se superior a si mesmo, entrando na categoria do crescimento em vista da estatura de Cristo. Para quem diz que a Crisma não é necessária para a salvação, ele também rebate: (...) deve-se dizer que todos os sacramentos são de alguma forma necessários para a salvação. Mas há alguns que sem os quais não há salvação, enquanto outros atuam para a perfeição da salvação. Deste modo, a confirmação é necessária à salvação, embora sem ela possa haver salvação, contanto que não se deixe de recebê-la por desprezo do sacramento3.


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A solução francesa: colocar as forças do Espírito em movimento

Para o grande teólogo francês Jean Daniélou (século XX), a confirmação serve mesmo para colocar em movimento o Espírito Santo que o crismando tem dentro de si e que precisa ser expandido e colocado para voar. É sabido que Deus é educado e não força as pessoas, mas exige, já desde o Batismo, que o cristão precisa da confirmação para que os dons e os frutos da sua presença se manifestem em nós. É preciso ativar a Graça/Presença de Deus em nós para que ela comece a escorrer como um rio, que não pode mais ser detido. Nas palavras dele:

“Nós dizemos que o objetivo da confirmação era a comunicação do Espírito Santo. Mas o novo cristão já é batizado no Espírito. Ora, o nosso texto precisa que o que falta após o Batismo é a “perfeição”. E essa perfeição consiste nos dons do Espírito Santo. Chegamos, pois ao próprio objetivo da confirmação. Esse não se trata da doação do Espírito Santo, já concedido no batismo. Mas é uma nova efusão do Espírito. Uma efusão que tem por finalidade conduzir à perfeição as energias espirituais suscitadas na alma pelo batismo. Como escreve Mme. Lot-Borodine: ‘é a colocação em movimento dos poderes sobrenaturais de todas as energias infusas no banho sagrado.” 4 “A tradição oriental manterá esse aspecto, vendo na confirmação o sacramento do progresso espiritual enquanto o batismo é o do nascimento espiritual.” 5

Creio que poderíamos trocar a palavra perfeição (termo tradicional em teologia e espiritualidade, mas hoje desgastado) por fortalecimento na Graça. Ou por fortalecimento da vida espiritual. Fortalecimento parece ser mais entendido, pois remete a um “corpo sarado”, metáfora perfeita para o corpo espiritual e a vida na Graça.

4 DANIELOU, J. Bíblia e Liturgia: a teologia bíblica dos sacramentos e das festas da igreja – trad. e pref. Geraldo Lopes – São Paulo: Paulinas, 2013, p. 140. 5 Idem, p. 140.


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A Crisma como uma das etapas da iniciação cristã Hoje, especialistas concordam com a afirmação de que é necessário haver uma visão e um trabalho conjunto, vendo os sacramentos como blocos, mais do que separados e em si mesmos. Precisamos pensar nos sete sacramentos em três blocos:

1. Sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia; 2. Sacramentos de cura: Confissão e Unção dos Enfermos; 3. Sacramentos de serviço: Matrimônio e Ministério Ordenado.


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Assim, superaremos uma visão tradicional e muito individualista da recepção dos sacramentos, como se eles fossem gavetas separadas de recepção individual, onde o aspecto comunitário-social ficaria como um complemento. Isso posto, precisamos pensar em uma ação catequética que vise: • A evangelização mais de adultos do que de crianças; • Uma visão e um trabalho conjunto de uma iniciação cristã; • Os momentos fortes de evangelização, de oração litúrgica e orante; • A vida individual e familiar para provocar uma autêntica mudança comportamental. Ou seja, o trabalho hoje deve ser muito mais complexo e integrado. Como fazer isso? Os catequistas e catequetas estão apenas começando na reflexão e na transformação das fórmulas antigas, na renovação dos manuais e no convencimento das pessoas. Ainda temos muito trabalho pela frente. Na verdade, estamos voltando à prática da Igreja antiga, em que a catequese era uma dinâmica que integrava as etapas da recepção dos sacramentos da iniciação cristã e que se estendia pelo período necessário ao catequisando até depois da recepção dos sacramentos da iniciação cristã, quando era neófito (= novo na Luz) acompanhado por três anos. Ou seja: um processo muito mais individualizado e aprofundado, adaptado às necessidades da comunidade e do que ia ingressando na fé.


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A catequese de Crisma é para deixar o Espírito Santo agir

Se como falamos, a catequese de Crisma é para deixar o Espírito Santo agir e liberar os dons e os seus frutos na vida espiritual do cristão, que sentido tem repetir todo o conteúdo da Primeira Eucaristia? Não deveria ser um treinamento na oração e na leitura da Bíblia? Ou um treinamento de fortalecimento dos dons e das virtudes cristãs? Esse parece ser um objetivo muito mais necessário de se perseguir na nossa catequese e na vida espiritual dos nossos adolescentes e jovens. Métodos de oração, de concentração, de oração vocal em grupo e de meditação/contemplação. Meios de entender o sentido e a prática de participação litúrgica (tanto pessoal como comunitária) estão em ampla falta nas catequeses de nossas comunidades, muito focadas em conteúdo e pouco preocupadas em expor nossos jovens crismandos à rica espiritualidade de 21 séculos da Igreja. O que eu tenho visto por aí são catequistas, padres e pais preocupados apenas com a memorização de verdades de fé que já foram explicadas e expostas na catequese de Eucaristia. Não é à toa que tenho visto muitos adolescentes e jovens fugirem dessa “chatice” como eles mesmos se expressam. Também o fato de focarmos pouco a espiritualidade e a liturgia em nossas catequeses de Crisma explica a necessidade de nossos jovens irem procurar uma espiritualidade em grupos de oração carismáticos ou achar espiritualidade entre budistas e espiritualistas de todo o

CANÇÃO PARA O ESPÍRITO SANTO

A ORAÇÃO CARMELITANA http://goo.gl/hpGK4W ESPIRITUALIDADE JESUÍTA http://goo.gl/hohi8a ORAÇÃO INACIANA por Lilian Carvalho


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tipo. Se não oferecemos uma coisa que temos de sobra e com profundidade como a espiritualidade, eles vão procuram onde podem matar a sua sede, mesmo que em águas nem sempre potáveis. Só de exemplo, coloquei alguns vídeos e textos de da riquíssima espiritualidade católica de séculos. Aqui temos as famílias carmelitana, jesuíta, franciscana, beneditina. Fiz questão de colocar também uma corrente de espiritualidade mais nova: a espiritualidade libertadora da Pastoral de Juventude, que, embora não tenha os séculos das outras, é absolutamente legítima e nascida na América Latina. Sei que você pode não concordar comigo, mas precisamos dar um passo com relação à oração e à espiritualidade dos nossos católicos que se iniciam na fé. Se a catequese de crisma não incorporar e aprofundar a espiritualidade e a rica tradição de variados métodos de oração da Igreja, ficaremos eternamente deitados em berço esplêndido, sem conseguir afirmar os pés no chão e caminhar com as próprias pernas. Se focarmos a catequese de Crisma e o Pai Nosso6, a espiritualidade e as formas de oração que temos na Igreja, 6 O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (http://goo.gl/GWxfCn) é construído sobre quatro pilares: a profissão da fé batismal (o Símbolo), os sacramentos da fé (7 sacramentos + ação de Deus na liturgia), a vida de fé (os Mandamentos), a oração do crente (o “Pai-Nosso”). Sobre o Creio (Símbolo), sobre os Sacramentos, sobre os Mandamentos, a catequese trata sempre e bem. A grande lacuna de nossas catequeses se dá sobre a Liturgia e sobre o Pai-Nosso: sobre a vida espiritual e sobre a oração, que acaba se resumindo em uma oração superficial, decorada e apressada em muitos lugares (nos melhores lugares se ensina a rezar o Rosário de Nossa Senhora). Assim, recém-saídos da catequese, nossos católicos já estão anêmicos e sem forças espirituais, precisando recorrer a outras tradições religiosas (até pagãs) para se abastecer interiormente. Essa falta de fé na oração tem sido a fonte de muitos transtornos na Igreja Católica e a causa de muitos tropeçarem na participação eclesial, querendo sair da Igreja rica de tradição e profundidade espiritual que temos.

ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA

VOCAÇÃO BENEDITINA

ESPIRITUALIDADE LIBERTADORA


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vamos ajudar nossos jovens a crescer na fé e na sua vida espiritual. Respondendo à pergunta que me fiz no início do nosso artigo: a catequese de Crisma serve para desenvolver e fortalecer os músculos da fé e da oração. É para que os jovens e adolescentes tenham um corpo sarado, saudável. Portanto, é preciso:

CATEQUESE COM LEITURA ORANTE PAULINAS

• Ser crismado para se tornar uma pessoa em que o Espírito Santo toma conta, jorrando os seus dons e os seus frutos na minha vida, de minha família e de todos os que entrarem em contato comigo; • Ser crismado para que a minha comunidade cresça na fidelidade ao Evangelho de Cristo, dentro e fora, em direção à sociedade;

LEITURA ORANTE DA BÍBLIA http://goo.gl/gaAtxg

• Ser crismado para ser saudável no meu corpo espiritual; • Ser crismado para me desafiar a viver com Cristo num mundo que tem medo dele. Se você ou seu grupo ainda tiverem medo de fazer diferente, deixo aqui um vídeo motivacional que pode ajudar a pensar diferente. Vamos arriscar a acertar o passo? O melhor vídeo motivacional já feito

Pe. Dr. Paulo F. Dalla-Déa Padre diocesano, palestrante, pós-doutor em ciências da religião, doutor em educação e religião pela Escola Superior de Teologia (EST) de São Leopoldo-RS, mestre em teologia pastoral pela Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, com especialização em catequese de crisma. Trabalha há mais de 20 anos com pastoral da juventude e catequese de crisma. É membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) e da Sociedade Brasileira de Catequetas.


CATEQUESE INCLUSIVA

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O OLHAR DO CATEQUISTA DIANTE DAS PESSOAS COM AUTISMO por Thaís Rufatto dos Santos


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O

presente artigo visa a abordar a metodologia necessária a ser utilizada pelo catequista para evangelizar o catequizando com algum tipo de deficiência diante da nova realidade encontrada nas paróquias. Colocando em prática os ensinamentos deixados por Jesus ao anunciar o Reino de Deus, o catequista por meio do seu testemunho de fé, vai ao encontro daqueles que mais precisam de amor e acolhida e os acolhe, além de resgatar sua dignidade; a pessoa com deficiência é vista pelo catequista além das suas aparências. A garantia das leis é um dever do Estado, enquanto a atitude profética do cristão catequista está acima da lei. Jesus quando realizou a cura no dia de sábado, para muitos descumpriu a lei, mas esta fazia referência apenas às ações relacionadas a trabalhos.


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A atitude de Jesus com os excluídos é exemplo para o catequista A atitude do catequista que vê a pessoa com deficiência além das suas aparências traz o testemunho da sua experiência de vida que aprendeu com Jesus a amar o pobre, o aleijado, o coxo (cf. Mc 8,23-25; Mt 15,30-31; Lc 7,22; Jo 1,8), o cadeirante e também os excluídos por algum motivo, por situações financeiras precárias, deficientes visuais, com paralisia cerebral, deficiência intelectual, os analfabetos e todos aqueles que por algum motivo foram e ainda são rejeitados na sociedade, acolhe-os, além de resgatar sua dignidade. O cristão chamado a ser catequista, recebe da Igreja a missão de exercer sua vocação escolhida a dedo por Deus antes mesmo do seu nascimento (Jr 1,5), conduz os catequizandos sem deficiência a olharem o catequizando com algum tipo de deficiência como imagem de Jesus.

Atualmente, as pessoas com deficiência na sociedade vivem de maneira paradoxal se comparadas às realidades enfrentadas por essa mesma população no passado. É comum de um lado depararem com o avanço da medicina nessa área e melhoria da qualidade de vida, e de outro o aumento das barreiras atitudinais que impedem a contratação ou viabilização da permanência de um empregado com deficiência numa dada empresa. A lei de cotas1 nº 8.213, de 24 de julho de 1991, de contratação de deficientes nas empresas dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência e dá outras providências à contratação de pessoas com deficiências. No artigo 93, a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas com de deficiência, na seguinte proporção: até 200 funcionários, 2%; de 201 a 500 funcionários, 3%; de 501 a 1000 funcionários, 4%; acima de 1.001, 5%. 1

Essas pessoas com algum tipo de deficiência são preparadas pelo catequista para a recepção dos sacramentos e também para a vivência da fé, na Igreja e na sociedade.

http://goo.gl/CeqJkh acessado em 4/11/2012.


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As principais barreiras encontradas no ambiente de trabalho 5-Comportamento de generalização: não se vê o indivíduo como um todo, vendo-se apenas sua def iciência; 7-Atitudes de medo mantêm um empregado com def iciência “afastado”, com medo de que ele venha a dizer ou fazer algo que vá ofender um cliente, ou às vezes acontece de mantêlo afastado para “protegê-lo” do contato com o empregado com deficiência e este f icar constrangido;

1-Atitude de inferioridade; 2-Pena;

3-Exaltação do heroísmo;

4-Ignorância ou desconhecimento; 6-Crença em estereótipos: inventam-se comportamentos estereotipados em vista da def iciência do colega de trabalho, por exemplo, pessoas deficientes intelectuais são dóceis, as cadeirantes são agressivas; 8-Vantagem ou favorecimento.


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Muitos empregados acreditam que indivíduos com deficiência recebem vantagens especiais, ou exigências menores no trabalho. As mesmas condições precisam ser asseguradas a todos. O respeito às necessidades do trabalhador com deficiência exige oportunidades iguais para eles. As pessoas com deficiência vivem em uma sociedade em que se valoriza o corpo escultural e a pseudo-perfeição, tornandose essas pessoas à margem de oportunidades sociais. A sociedade que ao mesmo tempo se abre para receber as pessoas com deficiência acaba por excluí-las quando no seu interior ainda existem as barreiras atitudinais. O mesmo acontece na educação quando essas barreiras atitudinais e físicas atinge essa parte da população, segregada pela sociedade, com direitos ao ingresso a universidades por meio da lei de cotas. E nos mais variados serviços: saúde, estabelecimentos comerciais e religiosos dificultam o exercício pleno da cidadania e impedem essas pessoas de chegarem ao mercado de trabalho com a qualificação exigida pelas empresas.

Inclusão na Igreja Com o objetivo de alicerçar a evangelização inclusiva, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no Documento 842, intitulado de Diretório Nacional de Catequese, no capítulo 6, parágrafos 202 a 207, aborda a catequese com deficientes. Em unidade com o que é abordado no documento, na catequese a acolhida da pessoa com deficiência irá resultar em futuros catequistas e agentes de pastoral com algum tipo de deficiência. Para que essa acolhida aconteça de maneira satisfatória, faz-se necessário proporcionar à pessoa com deficiência uma acolhida com qualidade, olhando para ela, como imagem de Jesus e também que aconteça uma catequese apropriada com recursos e conteúdos adaptados. A catequese junto às pessoas com deficiência destina-se à todas as idades, desde as crianças até os adultos. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Diretório Nacional de Catequese. DOCUMENTOS DA CNBB – 84 Texto aprovado pela 43ª Assembléia Geral Itaici – Indaiatuba (SP), 9 a 17 de agosto de 2005 Paulinas – São Paulo – SP 2006

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Evangelização das pessoas com def iciência Evangelizar as pessoas com deficiência é um papel de evangelização dupla, o catequista também é evangelizado por elas através da sua história de vida e experiência que já adquiriram com Deus e pela maneira como lidam com a realidade da causa das deficiências. É preciso perceber também quanto essas pessoas têm a ensinar com sua própria experiência e com o modo como lidam com a sua situação. Com elas, como com os demais catequizandos é grande a troca de experiências e aprendizados. A participação das pessoas com deficiência na catequese deve ser feita em união aos demais catequizandos para evitar a segregação no interior da Igreja e, com isso, o contra testemunho das pregações feitas por Jesus. Atitude como essa está fundamentada para que não se crie a ideia de que as pessoas com deficiência necessitam de uma catequese voltada apenas para elas. O ambiente para a catequese junto às pessoas com deficiência deve ser adaptado, de acordo com a legislação vigente, que favorece o acolhimento e acesso a elas no interior das paróquias no que diz respeito a rampas de acesso e banheiros adaptados.

Essa catequese necessita de uma preparação específica dos catequistas em cada deficiência, a metodologia e a didática a serem utilizadas são diferentes. Pode-se também pedir ajuda de profissionais que trabalham com a causa da deficiência, sejam eles psicopedagogos, fonoaudiólogos, professores, fisioterapeutas, intérpretes, etc. Para que o catequista atinja os objetivos propostos no Documento 84 da CNBB é necessário que ele faça em sua diocese cursos de preparação voltados à catequese inclusiva, para aprender mais sobre o assunto e trocar experiências com outros catequistas que também estão enfrentando essa realidade. O catequista tem em seu um rosto cristão a fisionomia de Deus. Segundo o Gênesis, fomos criados “à imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1,26s). Diante da sua fisionomia, ele enxerga pela ótica de Deus no catequizando com algum tipo de deficiência a imagem de Jesus excluído de nossa sociedade e o acolhe com amor reportando-se ao evangelho de Mt 25,40 (“Quando fizestes isso ao menor dos meus irmãos, é a Mim que o fizestes”).


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Para ref letir “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10, 42-45).

Para saber mais Lei de Cotas para contratar Deficientes http://goo.gl/hzJV80 Cotas para inclusão de deficientes no mercado de trabalho não são cumpridas http://goo.gl/amKhjv

Thaís Rufatto dos Santos Thaís Rufatto dos Santos é Pedagoga, Psicopedagoga, Pós Graduada em Educação Especial, Consultora em Educação Inclusiva. Coordenou a Pastoral da Pessoa com Deficiência, na Diocese de Santo Amaro - SP. É autora de livros voltados à Catequese Inclusiva. Ministra palestras em Paróquias e Dioceses. Contato: thaisrdossantos@gmail.com


MATÉRIA DE CAPA

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A NOVA

COMPREENSÃO

DO MINISTÉRIO DA

CATEQUESE Por Pe. José Alem

ASSISTA A APRESENTAÇÃO


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CATEQUESE A SERVIÇO DA INICIAÇÃO CRISTÃ Este longo processo de iniciação, chamado catecumenato, concluía-se com a imersão no mistério pascal através dos três grandes sacramentos: o Batismo, a Eucaristia e a Confirmação. A situação do mundo de hoje leva a Igreja a retornar a esse modelo catecumenal. A catequese é um processo exigente, um itinerário prolongado...

• Participação na comunidade (dimensão comunitário-participativa); • Interação vida-fé e serviço fraterno (dimensão socio-transformadora e inculturada); • A formulação da fé (dimensão racionalintelectual); • Diálogo com outras experiências religiosas (dimensão ecumênica e de diálogo inter-religioso); • O relacionamento de cuidado com o cosmos (dimensão ecológica ou cósmica); • Natureza da catequese;

SOBRE AS EXIGÊNCIAS E CARACTERÍSTICAS DA INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ Aspectos essenciais da fé cristã: • Descoberta de si mesmo (dimensão antropológica); • Experiência de Deus (dimensão afetivointerpretativa); • Anuncio e adesão a Jesus Cristo (dimensão cristológica); • Vida no Espírito (dimensão pneumatológica); • Celebração litúrgica e oração (dimensão celebrativa);

• Catequese é uma ação eclesial; • A Igreja transmite a fé que ela mesma vive e o catequista é um porta-voz da comunidade.


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Características fundamentais da catequese:

A finalidade da catequese:

• Ser um aprendizado dinâmico da vida cristã;

• Levar o catequizando ao conhecimento, celebração e vivência do mistério de Deus manifestado em Jesus Cristo que nos revela o Pai e o Espírito Santo;

• Fornecer uma formação de base essencial; • Possibilitar a incorporação na comunidade; • Proporcionar formação orgânica e sistemática da fé; • Suscitar o compromisso missionário e transformador; • Fomentar o diálogo com outras experiências eclesiais.

• Aprofundar o primeiro anúncio de Jesus Cristo;

• Levá-lo à comunhão com a Igreja, corpo de Cristo e à participação em sua missão.

A comunidade é: fonte, lugar e meta da catequese. É o ambiente natural da catequese. Faz parte do processo da educação da fé, por meio da interação de três elementos: o catequizando, a caminhada da comunidade e a mensagem evangélica.


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TAREFAS DA CATEQUESE Conhecimento da fé: a

catequese introduz o cristão no conhecimento do próprio Jesus, das Escrituras.

Iniciação litúrgica: Cristo está

vivo em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas (SC 7).

Formação moral: colocar as

atitudes de Jesus como modelo de comportamento.

Vida de oração: ensinar a rezar

com Jesus, com os mesmos sentimentos e disposições com as quais Ele Se dirigia ao Pai.

Vida comunitária: a fé pode ser

vivida em plenitude somente dentro da comunidade.

Missão: o verdadeiro seguidor de

Jesus é missionário do Reino.

CATEQUESE INSPIRADA NO PROCESSO CATECUMENAL É uma ação gradual e se desenvolve em quatro etapas:

O pré-catecumenato: é o

momento do primeiro anúncio, em vista da conversão, quando se explicita o querigma (primeira evangelização);

O catecumenato: destinado à

catequese integral e em cujo início tem lugar a entrega dos Evangelhos;

O tempo da purificação e iluminação: fornece uma

preparação mais intensa (recebem o Pai Nosso e o Credo) e recebem-se os sacramentos da iniciação;

O tempo da mistagogia:

progride-se no conhecimento mais profundo do mistério pascal. Participação integral na comunidade.


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RICA - RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS

RITOS DO CATECUMENATO: • Celebração da entrada no catecumenato;

Introdução

• Ritos para o tempo do catecumenato;

“O Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), reformado após o Concílio Vaticano II, oferece extraordinária riqueza litúrgica e preciosa fonte pastoral, especialmente na catequese com adultos e particularmente no que se refere ao restabelecimento do Catecumenato na Igreja.

• Celebração da eleição (no 1º domingo de Quaresma);

É bom recordar a obrigatoriedade do Catecumenato e do uso do Ritual no Batismo de adultos. Deve-se usar com criatividade e senso pastoral as diversas opções e alternativas oferecidas neste ritual.”

(Dom Geraldo na apresentação introdutória do RICA- 24/06/2001)

• Ritos para o tempo de purificação e iluminação (Quaresma); • Ritos de preparação imediata (na manhã de Sábado Santo); • Celebração dos sacramentos de iniciação (na Vigília Pascal); • Rito simplificado para a iniciação de adultos; • Rito abreviado de iniciação de adultos (em perigo de morte); • Preparação para a Confirmação e a Eucaristia de adultos que, batizados na infância, não receberam a devida catequese; • Ritos de iniciação de criança em idade de catequese; • Textos diversos na celebração de iniciação cristã de adultos; • Apêndice: rito de admissão na plena comunhão da Igreja Católica das pessoas já batizadas validamente.


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QUADRO DE EXPLICAÇÕES: O que é o catecumenato? Conforme o RICA, é a iniciação dos adultos na fé e na vida cristã: • “Tempo de comunhão e participação na comunidade cristã” (RICA 18); • “Tempo de catequese” (RICA n. 19); • “Tempo de conversão aos valores cristãos” (RICA n. 19); • A comunidade cristã acompanha as etapas da caminhada de fé de seus catecúmenos com celebrações e ritos.

O pré-catecumenato: É a etapa do acolhimento na comunidade cristã. • Primeira evangelização. • Inscrição e colóquio com o catequista. • Celebração da entrada. O catecumenato: Etapa suficientemente longa para: • Catequese; • Vivência cristã (conversão); • Entrosamento com a Igreja; • Ritos; • Celebração da eleição.

VÍDEO EXPLICATIVO SOBRE A INICIAÇÃO CRISTÃ E O RICA


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Purificação e Iluminação: • Quaresma.

Preparação próxima para: • Catequese; • Práticas quaresmais; • Ritos;

VÍDEO EXPLICATIVO SOBRE A MISTAGOGIA

• Celebração dos sacramentos de iniciação cristã na Vigília Pascal.

Mistagogia Aprofundamento e vivência do mistério cristão (mistério pascal).

Consideração final A missão do catequista consiste não apenas em exercer a “missão para”, mas a “missão entre”. O catequista missionário participa da realidade do outro e celebra a fé e a vida em comunidade.

Pe. José Alem Sacerdote membro da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria. Educador e comunicador, Professor de Filosofia, Espiritualidade, Comunicação, Psicologia da Religião. Especialista em Logoterapia. Filósofo clínico. Assessor de cursos e formação através de palestras, retiros, encontros, oficinas. Escritor e assessor de projetos de comunicação e educação.




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O CATECISMO RESPONDE

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Uma Nuvem de Testemunhas

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§ 2683 As testemunhas que nos precederam no Reino, especialmente as que a Igreja reconhece como “santos”, participam da tradição viva da oração pelo exemplo modelar de sua vida, pela transmissão de seus escritos e por sua oração hoje. Contemplam a Deus, louvamno e não deixam de velar por aqueles que deixaram na terra. Entrando “na alegria” do Mestre, eles foram “postos sobre o muito”. Sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao plano de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam por nós e pelo mundo inteiro. § 2684 Na comunhão dos santos, desenvolveram-se, ao longo da história das Igrejas, diversas espiritualidades. [...] Há uma espiritualidade igualmente na confluência de outras correntes, litúrgicas e teológicas, atestando a inculturação da fé num meio humano e em sua história. As espiritualidades cristãs participam da tradição viva da oração e são guias indispensáveis para os fiéis, refletindo, em sua rica diversidade, a pura e única Luz do Espírito Santo. O Espírito é de fato o lugar dos santos, e o santo é para o Espírito um lugar próprio, pois se oferece para habitar com Deus e é chamado seu templo.

Servidores da Oração

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§ 2685 A família cristã é o primeiro lugar da educação para a oração. Fundada sobre o sacramento do matrimônio, ela é “a Igreja doméstica”, onde os filhos de Deus aprendem a orar “como Igreja” e a perseverar na oração. Para as crianças, particularmente, a oração familiar cotidiana é o primeiro testemunho da memória viva da Igreja reavivada pacientemente pelo Espírito Santo. § 2686 Os ministros ordenados também são responsáveis pela formação para a oração de seus irmãos e irmãs em Cristo. Servidores do bom Pastor que são, eles são ordenados para guiar o povo de Deus às fontes vivas da oração: a Palavra de Deus, a Liturgia, a vida teologal, o Hoje de Deus nas situações concretas. § 2687 Muitos religiosos consagraram toda a vida à oração. Desde o deserto do Egito, eremitas, monges e monjas consagraram seu tempo ao louvor de Deus e à intercessão por seu povo. A vida consagrada não se mantém e não se propaga sem a oração; esta é uma das fontes vivas da contemplação e da vida espiritual na Igreja.


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Lugares Favoráveis à Oração

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§ 2691 A Igreja, casa de Deus, é o lugar próprio para a oração litúrgica da comunidade paroquial. E também o lugar privilegiado da adoração da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. A escolha de um lugar favorável é importante para a verdade da oração: Para a oração pessoal, pode ser um “recanto de oração”, com as Sagradas Escrituras e imagens sagradas, para aí estar “no segredo” diante do Pai. Numa família cristã, essa espécie de peque no oratório favorece a oração em comum; Nas regiões onde existem mosteiros, a vocação dessas comunidades é favorecer a partilha da Oração das Horas com os fiéis e permitir a solidão necessária a uma oração pessoal mais intensa; As peregrinações evocam nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver “como Igreja” as formas da oração cristã.


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CATECINE

ASSISTA AO TRAILER: DEUS NÃO ESTÁ MORTO


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“Para a pessoa errada você nunca terá valor nenhum, mas para a pessoa certa você será tudo.”

Sinopse: Josh Wheaton (Shane Harper), um jovem cristão e estudante, matricula-se em uma universidade onde decide cursar aulas extracurriculares de filosofia administradas pelo professor Jeffrey Radisson (Kevin Sorbo), ateu. Josh é o único aluno da classe que se recusa a assinar uma espécie de formulário solicitado por Radisson, o que não lhe dá outra escolha, a não ser apresentar suas convicções aos outros alunos, contrapondo Jeffrey e provando que Deus existe.

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ançado nos cinemas norte-americanos em 21 de março de 2014, pela Pure Flix Entertainment, e em 21 de agosto do mesmo ano nos circuitos brasileiros, sob distribuição de Graça Filmes, “Deus não está morto”, filme dirigido por Harold Cronk e produzido por Michael Scott, Russell Wolfe e Anna Zielinski, além de apresentar aos espectadores uma proposta de perseverança na fé diante das dificuldades físicas, espirituais e sociais, é uma referência (e homenagem) aos estudantes das principais universidades científicas, onde a religiosidade, ainda hoje, é motivo de intolerância entre mestres e alunos.

Para tanto, o professor dá a Josh um seminário de vinte minutos ao final de três aulas. É nesse momento que Wheaton busca interiorizar-se, ouvir o Espírito Santo e apoiar-se em estudos e artigos a respeito do tema, sob auxílio da Sagrada Escritura. Fora do contexto dos debates, uma série de subtramas periféricos desenvolvem-se no decorrer da história. A conclusão do enredo, é claro, você poderá descobrir junto aos catequizandos em um de seus encontros.




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TEATRO

TEATRO PARA FAZER PENSAR por Erivandra Marques

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sar teatro em eventos de evangelização será sempre uma boa pedida para instigar o pensamento crítico. Catequistas que têm facilidade de expor suas ideias por meio de esquetes devem fazêlo sempre que houver oportunidade. Textos criativos, dramáticos ou divertidos podem descontrair e ativar o botão da crítica de crianças, jovens e adultos. Basta ter o cuidado de adequar a mensagem à capacidade de entendimento do público-alvo.


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Jesus deve ser nosso maior exemplo de contação de histórias, pois sua habilidade em contar histórias continua estimulando o pensar, e, mais ainda, atraindo corações. Não se deve desperdiçar esse anzol que a tantos alcança. Lanço um desafio aos irmãos catequistas para que exercitem a criação de histórias escritas partindo de uma ideia central que desejam abordar, unindo personagens às suas características e fazendo com que a história que faz pensar ganhe vida com a interpretação. Se essa parte – de atuar – ainda não for algo simples para o catequista executar, ele pode buscar formação ou aproveitar, por exemplo, jovens de uma turma de preparação para Crisma, que gostem de teatro, para ensaiarem e apresentarem histórias baseadas na Palavra de Deus, tais como estão na Bíblia, ou mais contemporâneas, que demonstrem comportamentos atuais, mas que sejam iluminadas pelo Evangelho. Nesta edição, apresento o “Julgamento de Demóstenes”, uma história que fala de mentira, intolerância, injustiça, com uma pitada de bomhumor e um final trágico que faz pensar: “Poderia ser diferente, se...”.

O julgamento de Demóstenes TOQUE PARA

BAIXAR

Erivandra Marques Catequista de Primeira Comunhão Paróquia Senhor do Bonfim - Maceió, AL


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DICAS DE LEITURA

EU! FALANDO EM PÚBLICO? SIM. AGORA É A SUA VEZ. De Sílvio Luzardo, editora Paulus “Eu, falando em público?” Geralmente é o que dizemos quando somos convidados a discursar para uma plateia, grande ou pequena. Apesar das dúvidas, da insegurança e do medo que impomos sobre nós mesmos nessas ocasiões, podemos superar com tranquilidade a todos esses sentimentos.

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O livro escrito por Sílvio Luzardo tem o objetivo de ajudá-lo a realizar essa tarefa de uma maneira simples e objetiva. Com dicas e segredos sobre como comportarse diante dos ouvintes, seja em uma palestra ou nas reuniões catequéticas, “Eu! Falando em Público?” transformará a maneira como você se dirige às pessoas, com técnicas básicas e fundamentais para uma grande apresentação.


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CATEQUESE INFANTIL De Alaice Mariotto Kater, editora Ave-Maria Conduzir a catequese infantil é uma missão que requer cuidado e atenção no planejamento e execução dos encontros e atividades. Pensando nisso, Alaice Mariotto Kater escreve a respeito da preparação final para a Primeira Eucaristia, a fim de que esse seja um processo objetivo. “Catequese Infantil” destaca os principais temas bíblicos, mandamentos e sacramentos em um verdadeiro resumo da fé cristã. ACESSE O SITE

SYMBOLUM Organizado por Maria Rosa Poggio, Edições CNBB “Symbolum” propõe uma leitura sintética, por relevância e centralidade dos temas, de todo o articulado patrimônio de fé contido no Catecismo da Igreja Católica. Seu objetivo é aproximar o máximo possível o fiel dos conteúdos fundamentais do Cristianismo, que infelizmente permanecem, para muitos, um “grande desconhecido”. As páginas do volume também pretendem, de algum modo, responder àquelas que são possivelmente as mais frequentes e também mais específicas questões que a prática cotidiana e o ensino da fé põem para cada um. ACESSE O SITE


MENSAGEM DO PAPA

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CRIANÇAS, DOM PARA A HUMANIDADE


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AUDIÊNCIA GERAL DO PAPA FRANCISCO 18/03/2015

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m primeiro lugar, as crianças nos recordam que todos, nos primeiros anos da vida, fomos totalmente dependentes dos cuidados e da benevolência dos outros. E o Filho de Deus não poupou esta etapa. É o mistério que contemplamos a cada ano, no Natal. O Presépio é o ícone que nos comunica esta realidade no mundo de forma mais simples e direta. Mas é curioso: Deus não tem dificuldade em se fazer entender pelas crianças, e as crianças não têm problemas em entender Deus. Não por acaso, no Evangelho há algumas palavras muito belas e fortes de Jesus sobre os “pequenos”. Este termo “pequenos” indica todas as pessoas que dependem da ajuda dos outros e, em particular, as crianças. Por exemplo, Jesus diz: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos”

(Mt 11, 25). E ainda: “Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10). Então, as crianças são em si mesmas uma riqueza para a humanidade e também para a Igreja, porque nos chamam de volta constantemente à condição necessária para entrar no Reino de Deus: aquela de não nos considerarmos auto-suficientes, mas necessitados de ajuda, de amor, de perdão. E todos precisamos de ajuda, de amor e de perdão! As crianças nos recordam uma outra coisa bela; recordam-nos que somos sempre filhos: mesmo se a pessoa se torna adulta, ou idosa, mesmo se se torna pai, se ocupa um lugar de responsabilidade, abaixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos somos filhos. E isso nos reporta


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sempre ao fato de que a vida não fomos nós que a demos, mas a recebemos. O grande dom da vida é o primeiro presente que recebemos. Às vezes arriscamos viver esquecendo-nos disso, como se fôssemos nós os patrões da nossa existência, e em vez disso somos radicalmente dependentes. Na realidade, é motivo de grande alegria sentir que em cada idade da vida, em cada situação, em cada condição social, somos e permanecemos filhos. Esta é a principal mensagem que as crianças nos dão, com sua própria presença: somente com a presença nos recordam que todos nós e cada um de nós somos filhos. Mas há tantos dons, tantas riquezas que as crianças levam à humanidade. Recordo apenas algumas. Levam seu modo de

ver a realidade, com um olhar confiante e puro. A criança tem uma confiança espontânea no pai e na mãe; e tem uma espontânea confiança em Deus, em Jesus, em Nossa Senhora. Ao mesmo tempo, o seu olhar interior é puro, ainda não poluído pela malícia, pela duplicidade, pelas “incrustações” da vida que endurecem o coração. Sabemos que também as crianças têm o pecado original, que têm seus egoísmos, mas conservam uma pureza e uma simplicidade interior. Mas as crianças não são diplomatas: dizem aquilo que sentem, dizem aquilo que veem, diretamente. E tantas vezes colocam os pais em dificuldade, dizendo diante de outras pessoas: “Eu não gosto disso porque é ruim”. Mas as crianças dizem aquilo que


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veem, não são pessoas duplas, ainda não aprenderam aquela ciência da duplicidade que nós adultos, infelizmente, aprendemos. Além disso, as crianças – em sua simplicidade interior – levam consigo a capacidade de receber e dar ternura. Ternura é ter um coração “de carne” e não “de pedra”, como diz a Bíblia (cfr Ez 36, 26). A ternura é também poesia: é “sentir” as coisas e os acontecimentos, não tratálos como meros objetos, somente para usá-los, porque servem. As crianças têm a capacidade de sorrir e de chorar: algumas, quando as pego para abraçá-las, sorriem; outras me veem vestido de branco e acreditam que eu sou um médico e que vim para vacinálas, e choram mas espontaneamente! As crianças são assim: sorriem e choram, duas coisas que em nós grandes muitas vezes “são bloqueadas”, não somos mais capazes. Tantas vezes o nosso sorriso se torna um sorriso de papelão, uma coisa sem vida, um sorriso que não é vivo, um sorriso artificial, de palhaço. As crianças sorriem espontaneamente e choram espontaneamente. Depende sempre do

coração e muitas vezes o nosso coração se bloqueia e perde essa capacidade de sorrir, de chorar. E então as crianças podem nos ensinar de novo a sorrir. Mas, nós mesmos, devemos nos perguntar: eu sorrio espontaneamente, com frescor, com amor ou o meu sorriso é artificial? Eu ainda choro ou perdi a capacidade de chorar? Duas perguntas muito humanas que as crianças nos ensinam. Por todos esses motivos, Jesus convida os seus discípulos a “se tornarem como crianças”, porque “quem é como elas pertence ao Reino de Deus” (cfr Mt 18, 3; Mc 10, 14).



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