Pardela 51

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Berlengas ArquipĂŠlago com vida

Florida uma atraente variedade

Novo projeto LIFE Rupis


SWAROVSKI OPTIK COM A NATUREZA

Distribuidor exclusivo

SWAROVSKI OPTIK quer devolver à Natureza tudo o que esta lhe deu. Durante 2015 os compradores de qualquer instrumento ótico da SWAROVSKI OPTIK, em Espanha e Portugal, poderão decidir a que projetos de conservação querem que a SWAROVSKI OPTIK faça uma doação em seu nome*. Assim, com a sua compra poderá patrocinar projetos de três organizações conservacionistas: SEO/BirdLife: App para o projeto do “Atlas de aves reprodutoras de Espanha” ICO: Apoio à página www.ornitho.cat SPEA: Campanha contra a captura ilegal de aves Mais informação sobre os projetos e como apoiá-los em www.esteller.com/swarovskioptiknaturaleza *A importância em dinheiro estabelecida para a doação será em função do instrumento adquirido.

SEE THE UNSEEN WWW.SWAROVSKIOPTIK.COM


Anhinga © Luís Custódia

Armeria-das-berlengas © Joana Andrade

Novo projeto LIFE Rupis

9

Berlengas, arquipélago com vida

19 Florida,

uma atraente variedade

Hugo Sampaio

25 São Tomé e Principe Três anos de parceria

28

As aves da Ria de Aveiro

Editorial

4

Breves

5

Parabéns Pardela 20 anos Novo projeto protege britango e águia-perdigueira

Falcão-peregrino © Joaquim Pedro Ferreira

Britango © Luís Rodrigues

ÍNDICE

13

Painho-de-monteiro: símbolo das «Ilhas de Bruma»?

23

7

Florida, uma atraente variedade

25

9

São Tomé e Príncipe. Três anos de parceria pela preservação da biodiversidade

28

Um investigador português em São Tomé e Príncipe

30

Caixas-ninho, como ajudar as aves no seu jardim

32

Juvenis

34

A Ciência das Aves

36

Fura-bardos, uma ilustre menos desconhecida!

11

As aves da Ria de Aveiro

13

Listas Vermelhas: avaliar o perigo de extinção das aves

17

Berlengas, arquipélago com vida

19

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EDITORIAL Na área em que trabalho, este é o momento de fazer um balanço do que foi o ano e de perspetivar os próximos 366 dias. Para a SPEA, 2015 foi mais um ano intenso, mais até do que têm sido todos os anos. Depois de um exigente período que testou os nossos limites e a capacidade de ultrapassarmos qualquer adversidade, o ano trouxe alguma bonança e muitos resultados marcantes. Foi o ano do fura-bardos (Ave do Ano 2015) e em que se consolidou o trabalho feito nas ilhas através de grandes projetos nas florestas de laurissilva de Madeira e Açores, mas em que arrancaram em plena velocidade importantes projetos no continente, tanto no nordeste transmontano com o novo Life Rupis a juntar nove parceiros para a conservação de aves de rapina do Douro, como nas Berlengas, onde as aves marinhas e todas as espécies características desse frágil ecossistema são as estrelas. Ainda sobre as aves marinhas, concluímos o projeto nos ilhéus do Porto Santo, foi publicado o Atlas das Aves Marinhas de Portugal e iniciados os trabalhos para a conservação do painho-de-monteiro nos Açores, além de que, finalmente, foram designadas as áreas marinhas da Rede Natura 2000. Um ano cheio. Outros grandes desafios foram alcançados ou lançados. O Festival de Observação de Aves em Sagres é cada vez mais um marco de participação do público e da promoção da atividade e da região algarvia; o portal de observação de aves é uma referência para quem quer descobrir as aves do país; a campanha contra as capturas ilegais de aves, denominada de “Diga NÃO aos passarinhos na gaiola e no prato” teve já os seus efeitos de mobilização da sociedade e das autoridades. Foi ainda fundada a coligação C6, que juntou as principais Organizações Não Governamentais de Ambiente e que se traduziu, num primeiro ano, na campanha com a maior participação de sempre a favor da conservação da natureza na Europa – 520 000 pessoas manifestaram-se a favor da campanha “SOS Natureza” por toda a Europa para manter as Diretivas que nos permitem manter uma Europa sustentável. Todos estes factos trouxeram uma ainda maior projeção, nacional e internacional, das atividades da SPEA e dos resultados de conservação e de divulgação. Recebemos a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico pelo trabalho feito em 12 anos de atividade nos Açores e o reconhecimento pelos grandes projetos Life, entre os mais significativos na Europa. Este é um trabalho que vai continuar em 2016. Um Ano Novo que vai assistir ao próximo Congresso de Ornitologia em Vila Real e a eleições na SPEA. E em que esperamos finalmente que todos possam consignar 0,5% do seu IRS a favor destes resultados, numa época em que é cada vez mais difícil assegurar todo este esforço. Espero que seja mais um ano positivo, e um Bom Ano Novo para todos os sócios e simpatizantes da SPEA. Clara Casanova Ferreira, Presidente da Direção Nacional

FICHA TÉCNICA

PARDELA N.º 51 | 2/2015 DIRETORA: Vanessa Oliveira COMISSÃO EDITORIAL: Clara Casanova Ferreira, Joana Domingues, Luís Costa, Manuel Trindade e Mónica Costa FOTOGRAFIA DE CAPA: Arméria-das-berlengas Armeria berlenguensis, uma das três espécies de plantas endémicas das Berlengas, que o projeto LIFE Berlengas está a proteger © Joana Andrade FOTOGRAFIAS: Ana Berliner, Bruno Maia, Edgar Soares, Faísca, Filipe Viveiros, Gabriel Cabinda, Gustavo Simões, Hugo Sampaio, Inês Catry, Javier Tomás, Joana Andrade, João Carrilho, Joaquim Pedro Ferreira, Joaquim Teodósio, José Viana, Luís Custódia, Luís Ferreira, Luís Rodrigues, Milene Matos, Município de Almada, Nuno Barros, Nuno Oliveira, Pedro Geraldes, RIAS/ALDEIA, Sandra Hervías, Sara Saraiva, Tânia Pipa, Teresa Catry, Thijs Valkenburg e Toni Mullet TEXTOS: Clara Casanova Ferreira, Helder Costa, Hugo Sampaio, José Pedro Tavares, Julieta Costa, Luís Costa, Luís Custódia, Maria Dias, Milene Matos, Nuno Oliveira, Sandra Hervías, Sara Saraiva, Tânia Pipa, Teresa Catry ILUSTRAÇÕES: Amélia Dinis, ICNF, João T. Tavares/ GOBIUS, Juan Varela e Pedro Alvito PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Susana Costa IMPRESSÃO: SIG - Sociedade Industrial Gráfica, Lda. TIRAGEM: 1200 exemplares e digital ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as precauções necessárias para minimizar o grau de perturbação das mesmas. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. Contactos: Vanessa Oliveira | vanessa.oliveira@spea.pt | 213 220 434/0 | www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Clara Casanova Ferreira Vice-presidente: José Manuel Monteiro Tesoureiro: Michael Armelin Vogais: Adelino Gouveia, Vanda Coutinho, José Paulo Monteiro, Manuel Trindade Avenida João Crisóstomo, n.º 18 4.º Dto. 1000-179 Lisboa Tel. 213 220 430 | Fax 213 220 439 E-mail: spea@spea.pt | Website: www.spea.pt A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas ações.

a sua voz à nossa e apoie a Torne-se sócio! Junte conservação das aves e dos seus habitats

Esta edição contou com o apoio publicitário de: Esteller/Swarovksi Optik; Opticron

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Gustavo Simões

BREVES

Canhão da Ota agora mais conhecido O Canhão Cársico de Ota é um vale escarpado, que resultou da ação erosiva do rio na rocha calcária do Jurássico Superior, constituindo um dos mais valiosos tesouros do património natural, histórico e cultural do concelho de Alenquer. Atualmente, está em curso um projeto financiado pelo Orçamento Participativo de Alenquer 2014 que pretende caracterizar a área do ponto de vista da flora, fauna, geologia e arqueologia, realizar um diagnóstico, definir um plano de ação para a sua proteção e a sua divulgação junto das populações locais. A SPEA é um dos parceiros do projeto e tem estado no terreno a fazer o inventário de vertebrados terrestres e das comunidades de aves. www.facebook.com/canhao carsicodeota

Nos últimos meses, o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA-GNR) realizou diversas apreensões de aves detidas ilegalmente, contribuindo assim para os objetivos da campanha «Diga NÃO aos passarinhos no prato e na gaiola», promovida pela SPEA e parceiros desde 2014. Algumas das apreensões efetuadas na zona do Algarve resultaram na libertação de cerca de uma centena de pássaros (incluindo chapim-rabilongo, bico-grossudo, muitos pintassilgos e também lugres) pelo RIAS/ALDEIA - Centro de Recuperação e

www.spea.pt/pt/participar/ campanhas/captura-ilegal

RIAS/ALDEIA

Mais passarinhos apreendidos em 2015

Investigação de Animais Selvagens. Outras dezenas já não tiveram tanta sorte porque foram apanhados mortos e prontos para o petisco - um dos destinos destas aves. Foram também feitas algumas apreensões no Norte do país, na conhecida feira dos pássaros no Porto e, mais recentemente, no concelho da Guarda. Este aumento de apreensões é um sinal encorajador para todos os parceiros da campanha que, com a sua ajuda, vão continuar a trabalhar pela causa!

Passarinhos apreendidos em Faro

Ajudar estudantes no seu percurso profissional A SPEA é parceira de um projeto europeu financiado pelo Erasmus+ que pretende criar, melhorar e atualizar as informações dadas a nível de orientação profissional aos estudantes de cursos relacionados com a gestão da biodiversidade. Os objetivos são facultar aos alunos conhecimentos práticos, competências e ferramentas úteis na procura de emprego, havendo a oportunidade de selecionar alguns alunos para participarem em workshops formativos nos países parceiros - Hungria, Reino Unido e Portugal.

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Cagarra © luis-ferreira.com

BREVES

Novas Zonas de Proteção Especial para aves marinhas Foi aprovada este ano, em Conselho de Ministros, a criação das Zonas de Proteção Especial (ZPE) do Cabo Raso e de Aveiro/Nazaré assim como a alteração dos limites das já existentes ZPE do Cabo Espichel e da Costa Sudoeste. A SPEA há muito que esperava esta decisão, que tem por base os dados recolhidos nos últimos anos acerca da distribuição das aves marinhas ao longo da nossa costa. A expetativa é que esta decisão seja o primeiro passo para uma maior proteção do oceano e das aves marinhas.

e outros parceiros locais serão envolvidos em diversas ações, que pretendem estimular a participação cívica em prol da conservação da natureza e dar a conhecer a importância destes locais ricos em biodiversidade. O projeto tem a duração de dois anos e é financiado pelo Programa de atividades de âmbito ambiental da Toyota Motor Corporation.

Faísca

Toyota e SPEA apostam na cidadania ambiental

Educação ambiental, voluntariado e sensibilização são os motes para o mais recente projeto conjunto entre a Toyota e a SPEA. Será uma iniciativa piloto com atuação em duas Áreas Importantes para as Aves e Biodiversidade (IBA): a Lagoa dos Salgados e a Barrinha de Esmoriz. Os colaboradores da Toyota, as escolas

Agenda em destaque Censos 1 dez a 31 jan: CANAN - Contagens de Aves no Natal e Ano Novo, todo o país 1 dez a 15 jun: Noctua - Programa de Monitorização de Aves Noturnas, todo o país 6 fev: Censo de grous, Alentejo 16 a 24 jan.: Censo de milhafre-real invernante, todo o país 1 abril a 31 maio: Censo de Aves Comuns, todo o país Outras atividades 13 fev, 12 mar: Mini curso de identificação de aves, Porto 27 fev., 26 mar.: As aves do Parque Verde, Torres Vedras 23 a 25 abril: IX Congresso de Ornitologia da SPEA & VI Congresso Ibérico de Ornitologia, Vila Real-UTAD

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Grous


Parabéns Pardela | 20 anos

1995

2002

2007-2015

Em 2015, a Pardela completa 20 anos da sua existência. São 51 números, que revelam muito da história da SPEA e das suas gentes, e foram também acompanhando os novos tempos da era digital. E ninguém melhor do que Helder Costa, autor assíduo e um dos ex-diretores da revista, para nos falar da sua evolução.

L

ogo após a sua fundação, em 1993, uma das primeiras preocupações da SPEA foi a de criar mecanismos de comunicação com os associados. Nesse sentido, foi criada uma Folha Informativa que era produzida em papel e enviada por correio para casa dos sócios, com a regularidade possível. Os conteúdos eram variados, para além de matérias de interesse meramente associativo, incluiam também pequenos artigos de âmbito mais geral com conteúdo de divulgação

em diversas áreas da ornitologia. Cedo se chegou à conclusão que era conveniente separar as coisas. Ou seja, manter a Folha Informativa para divulgar de forma mais ou menos versátil as atividades da associação e criar um espaço onde, de forma mais elaborada, se pudesse disponibilizar informação sobre matérias interessantes relacionadas com a observação de aves, os projetos da associação e com a ornitologia de uma forma geral.

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Foi assim que, após bastantes discussões, nasceu em 1995 a revista Pardela. O nome não foi escolhido ao acaso. É certo que era mais ou menos consensual que teria de ter o nome de uma ave - a questão era qual. Ambicionando a SPEA ser desde o princípio uma organização de âmbito nacional entendeu-se que a melhor escolha seria a de uma espécie que pudesse fazer a ponte entre as diversas parcelas do território nacional. Pardela, nome genérico de diversas aves marinhas, permitia não só fazer isso mas englobar também de forma simbólica a extensa área atlântica sob jurisdição portuguesa.

"Os 15 primeiros números da Pardela tinham o formato 240 mm x 168 mm e eram a preto e branco no seu interior."

A evolução da Pardela

Os 15 primeiros números da Pardela tinham o formato 240 mm x 168 mm e eram a preto e branco no seu interior. Nesta sua fase inicial, a revista chegou a ser utilizada por três ocasiões para divulgar os relatórios do Comité Português de Raridades tendo para isso sido publicados números especiais. Em 2002, foi tomada a grande decisão de aumentar o formato da revista e passar a publicá-la a cores. Uma ideia arriscada, dados os elevados custos envolvidos, mas que se revelou acertada. O número 16 foi o primeiro a ver a luz do dia sob esta nova imagem em 2007, acompanhando a mudança do logotipo da SPEA, a Pardela número 30 surgiu com cara renovada que, com alguns retoques, ainda se mantém nos dias de hoje. Em 2012, a Pardela também passou a ser publicada em formato digital. Ao longo dos tempos, a Pardela tem cumprido de forma exemplar o seu papel de informar, divulgar e estabelecer elos com os sócios. Largas dezenas de associados têm colaborado com a revista e pela sua coordenação passaram diversas pessoas. Com o seu trabalho desinteressado todos contribuíram para a sua manutenção e engrandecimento. Vários são os desafios que se colocam para o futuro. No entanto, tal como até aqui, a SPEA saberá encontrar as formas mais adequadas para manter e se possível melhorar esta publicação. A Pardela, ao longo dos seus 20 anos tem-se revelado fundamental para manter o contacto com os sócios e divulgar a riqueza das aves da natureza em geral, e do esforço da sua investigação e conservação no nosso país. Autor: Helder Costa

www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela

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Alguns artigos de edições anteriores


Luís Rodrigues

Novo projeto LIFE Rupis protege britango e águia-perdigueira no Douro Internacional

Britango ou alimoche, como é conhecido do lado de lá da fronteira

LIFE Rupis é o nome do mais recente projeto liderado pela SPEA, que pretende retirar o britango e a águia-perdigueira da lista das espécies ameaçadas de extinção. Um desafio ibérico que junta nove parceiros no Douro Internacional.

C

onhece o Parque Natural do Douro Internacional e o Parque Natural de Los Arribes del Duero? Estes são dois locais extremamente importantes por muitas razões, entre as quais porque aqui nidificam o britango Neophron percnopterus, a águia-perdigueira Aquila fasciata, o milhafre-real Milvus milvus e o abutre-preto Aegypius monachus. O que têm estas quatro espécies em comum? Estão globalmente ameaçadas, em particular na Península Ibérica. O projeto LIFE Rupis Conservação de britango e de águia-perdigueira iniciou-se em 2015 e destina-se a melhorar o estado de conservação das populações transfronteiriças destas duas espécies, beneficiando também o abutre-preto e o milhafre-real .

Liderado pela SPEA, a iniciativa é uma parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, a Junta de Castilla y León, as organizações não governamentais Associação Transumância e Natureza (ATN), Palombar e Vulture Conservation Foundation (VCF), a GNR/SEPNA e a EDP Distribuição. Cada um destes nove parceiros desempenha um papel fundamental. Destacam-se a fiscalização contra o uso de venenos, a correção de linhas elétricas perigosas para as rapinas, a aquisição de propriedades destinadas exclusivamente a fins de conservação da natureza, a instalação ou reativação de alimentadores de abutres e a revitalização de pombais tradicionais.

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Um desafio ibérico

O britango e a águia-perdigueira estão em declínio, tanto em Portugal como em Espanha. O britango é o abutre mais pequeno da Europa. Está classificado como «Em Perigo» no território europeu, onde as suas populações registaram um decréscimo de 50% nos últimos 40 anos, e uma elevada perda de habitat. A águiaperdigueira tem um estatuto de «Quase Ameaçada» na Europa, devido ao decréscimo populacional e à pressão sobre as suas populações. Na área abrangida pelo projeto existem 13 casais de águiaperdigueira e uma das mais importantes populações de britango da Península Ibérica, com 116 casais. O envolvimento das populações locais e a divulgação ao grande público compreendem ações educativas e visitas de campo para o público escolar, a comunicação para agricultores, caçadores, pescadores e operadores de turismo e a criação de uma rede de «propriedades livres de veneno». O britango foi, entretanto, escolhido como imagem do próximo congresso da SPEA, também ibérico, que decorrerá em terras transmontanas (Vila Real), entre 23 e 25 abril de 2016. Com o projeto espera-se melhorar o conhecimento sobre as rotas de migração/zonas de invernagem em britangos, alimentadores artificiais para britango, censos atualizados das espécies, contaminação direta e indireta nas aves de rapina, etc. Como resultados finais, em 2019, pretende-se que exista um plano de ação transfronteiriço para o britango, guias de boas práticas para as atividades económicas e infraestruturas e uma proposta de ampliação da Zona de Proteção Especial do Douro Internacional.

Coordenação Coordenação Coordenação rceiros Parceiros

Coordenação Parceiros Julieta Costa (SPEA)

Cofinanciamento Cofinanciamento Cofinanciamento Coordenação

Parceiros Parceiros Parceiros CofinanciamentoCoordenação

Coordenação

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Cofinanciamento

Cofinanciamento

Vale do Águeda

Parceiros

Cofinanciamento Parceiros

Parceiros

Parceiros

Ana Berliner

Cofinanciamento Autora:


Sandra Hervías

Fura-bardos, uma ilustre menos desconhecida!

Nomes comuns: fura-bardos (Madeira), gavilán (Canárias) Nome científico: Accipiter nisus granti Estatuto de conservação: Portugal/Madeira - Pouco Preocupante (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2005; lista IUCN, 2001); Espanha/Canárias - Vulnerável (lista IUCN, 2001). Laurissilva da Madeira

O fura-bardos Accipiter nissus granti, ave de rapina pouco conhecida e dependente de ambientes florestais,facilmente poderia passar despercebido.Mas,desde 2013,o LIFE Fura-bardos tem permitido conhecer melhor esta subespécie endémica da Macaronésia escolhida pela SPEA como Ave do Ano 2015.

S

endo o gavião Accipiter nisus uma ave relativamente comum na Europa, muito pouco é sabido sobre a distribuição da subespécie da Macaronésia, conhecida por fura-bardos na Madeira e gavilán nas Canárias. Sendo endémica desta região, encontra-se listada no Anexo I da Diretiva Aves e está restrita à ilha da Madeira e a cinco ilhas do arquipélago das Canárias – Tenerife, Gran Canaria, La Gomera, El Hierro e La Palma. Na Madeira, esta ave dependente de ambientes florestais nunca antes tinha sido estudada e a falta de informação não tem permitido aferir o estado de conservação das suas populações. No entanto, algumas pistas indicavam que a perda de

floresta, «consumida» pelos violentos incêndios dos últimos anos, e a dominância de espécies invasoras nestes habitats naturais estavam a reduzir de forma dramática a disponibilidade de locais de nidificação e de alimento para o fura-bardos. Desde julho de 2013, o LIFE Fura-bardos tem permitido estudar, pela primeira vez na Madeira e, paralelamente, nas Canárias, esta ave de rapina desconhecida de muitos madeirenses. O projeto visa conhecer a distribuição e abundância do fura-bardos e identificar as suas ameaças, assim como contribuir para a recuperação do seu habitat natural – a Laurissilva. É coordenado pela SPEA, em parceria com a Direção Regional de Florestas e Conservação da Natureza, o Serviço do

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Javier Tomás

Javier Tomás

Fura-bardos adulto no ninho

O fura-bardos é uma ave de rapina diurna própria de ambientes florestais, que preferencialmente apresentem um sub-bosque arbustivo (urzes, azevinhos ou faias). Pode ainda ser observada próximo de campos agrícolas, em áreas abertas ou urbanas, que utiliza como áreas de caça. O fura-bardos é facilmente reconhecível. Tem cerca de 28 a 37 cm de comprimento e 60 a 80 cm de envergadura, asas curtas, largas e arredondadas, cauda comprida e patas amarelas. O macho é mais pequeno (137 g) e tem o abdómen castanho-avermelhado, sendo a fêmea maior (234 g) e o seu abdómen cinzento-acastanhado. O período de reprodução ocorre de fevereiro a julho e os seus ninhos são construídos em árvores. A incubação dura de 32 a 45 dias e é realizada pela fêmea, a qual é alimentada pelo macho. As crias abandonam o ninho com 32 dias mas continuam ao cuidado dos adultos durante aproximadamente um mês.

Parque Natural da Madeira e a Sociedad Española de Ornitología, sendo financiado pelo programa Life+ da Comissão Europeia.

Dois anos de trabalho

Os dois primeiros anos de projeto estão cumpridos e os resultados preliminares são promissores! Na Madeira, foram já encontrados mais de 40 territórios de nidificação com cerca de 70 ninhos, dos quais apenas 25 estiveram ativos em 2015. Os ninhos são construídos em árvores de grande e médio porte junto a ribeiras e, por vezes, em terrenos fortemente inclinados. Entre as espécies arbóreas mais utilizadas destacam-se duas endémicas à Laurissilva, o loureiro Laurus novocanariensis e a faia Myrica faya e uma conífera Pseudotsuga menziesii, exótica na ilha. Os mais de 370 desplumadouros (zonas com restos de presas comidas) já encontrados pela equipa do projeto têm permitido aferir da dieta do fura-bardos, sendo que as presas mais comuns são o pombo-trocaz Columba trocaz, espécie

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Sandra Hervías

Participantes no 2.º aniversário do projeto e 22.º aniversário da SPEA, em novembro

Cria de fura-bardos no ninho

endémica da ilha da Madeira, e passeriformes, como o melro Turdus merula e o tentilhão Fringilla coelebs maderensis. Entre as ameaças detetadas para a sua conservação estão a perda ou degradação do habitat de nidificação, devido aos incêndios e ao abate de árvores durante o período reprodutor do fura-bardos, e a invasão de espécies arbustivas introduzidas, como a giesta Cytisus striatus e a carqueja Ulex minor, que formam manchas de vegetação homogéneas e pouco atrativas para as presas do fura-bardos. Para restaurar o habitat natural do fura-bardos, três áreas dentro da ZPE Laurissilva estão a ser alvo de intervenção do projeto. A recuperação significativa de uma fração de 76 ha de Laurissilva e a plantação de mais de 60 000 plantas indígenas são apenas alguns exemplos dos bons resultados obtidos ao longo destes dois anos. Mas, para alcançar o sucesso de preservação do fura-bardos e da Laurissilva de forma duradoura, o compromisso dos madeirenses é indispensável.

Por esta razão, temos levado o fura-bardos e a Laurissilva a mais de 50 escolas na região e dinamizado mais de 30 atividades de sensibilização com o público em geral.

Mais dois anos

O LIFE Fura-bardos tem ainda mais dois anos pela frente e até ao final do projeto pretendemos obter uma estimativa da população de fura-bardos, identificar em detalhe as suas ameaças definindo o seu estado de conservação. Esta informação será de extrema utilidade na promoção de medidas que nos permitam promover a preservação do fura-bardos e do seu habitat. O nosso esforço será seguramente recompensado com o respeito e valorização desta espécie única da Macaronésia e da Laurissilva da Madeira! Autora: Sandra Hervías (SPEA) life-furabardos.spea.pt


Joaquim Pedro Ferreira

Voando entre a terra e o mar… As aves da Ria de Aveiro

Galinha-d´água, típica de ambientes aquáticos

Muito antes de D. Afonso Henriques conquistar os territórios para o reino de Portugal, já outra luta histórica se travava por terras alavarienses. Era a ria que procurava a sua identidade. Esta formação geológica de relevância internacional ocupa cerca de 45 km2 e é hoje um local de contraste de paisagens que merece especial atenção dada a sua elevada riqueza ecológica e é um verdadeiro paraíso para birdwatchers e fotógrafos de natureza.

R

emontam ao séc. X as primeiras referências à Ria de Aveiro e a um povo que vivia do sal e do mar. Na verdade, cientificamente o termo ria é incorreto, pois a génese desta formação não resulta da inundação de um vale fluvial pelo mar. Trata-se de uma laguna, ou seja, uma vasta extensão de águas pouco profundas que comunica com o mar. No entanto, pelo entendimento comum, chamemos-lhe então Ria de Aveiro.

A ria que hoje vemos, com o cordão dunar identitário, abrange vários municípios da região do Baixo Vouga e é o resultado de um longo processo de avanços e recuos da terra e do mar que finalmente estabilizou no final do séc. XVIII, com a abertura da Barra. Esta regula a comunicação das águas interiores com as do mar, permitindo a navegabilidade de grande importância económica e social para as gentes aveirenses. A mistura das águas do mar com as águas dos rios Vouga, Antuã,

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Bruno Maia

Garça-vermelha, uma das espécies emblemáticas da ria

Jardim, Cáster, entre outros, na planície costeira, resulta num complexo ecossistema com vários níveis de salinidade. Assim, a hidrologia, conjugada com outros fatores naturais como a geologia, a litologia e o clima, mas também com a histórica mão humana, proporcionaram à ria a sua identidade ecológica única.

A sua área de abrangência é caracterizada por uma heterogeneidade paisagística que inclui, entre outros biótopos, dunas, ilhas, ilhotas, extensas áreas de sapal, salinas, caniçal e outros habitats paludícolas, lagoas, floresta, galerias ripícolas, áreas consideráveis de bocage associado a áreas agrícolas onde se cultiva, por exemplo, o arroz e o milho. Esta riqueza de biótopos, alguns considerados prioritários em termos de conservação, ao nível europeu, bem como a presença de muitas espécies de fauna e flora de grande valor ecológico e conservacionista, levaram à classificação da ria como Sítio de Importância Comunitária (SIC, Diretiva Habitats) e Zona de Proteção Especial (ZPE, Diretiva Aves). Desempenha ainda uma influência direta nos SIC Barrinha de Esmoriz, SIC Rio Vouga, e SIC Dunas de Mira, Gândara e Gafanhas, e em áreas protegidas através de outros instrumentos legais: a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto e a Pateira de Fermentelos (Zona Húmida classificada ao abrigo da Convenção de RAMSAR). O mosaico de habitats da ria, entrecortado por esteiros e valas, proporciona paisagens de rara beleza, convidando ao passeio e à contemplação. É um local de visita obrigatória especialmente para os amantes das aves, uma vez que alberga cerca de duas centenas de espécies, com principal destaque

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Milene Matos

Diversidade de paisagens

Zona de Salreu, Estarreja


Joaquim Pedro Ferreira

ICNF

Flamingos

para as aves aquáticas, que regularmente se apresentam na ordem dos 20 000 indivíduos. Algumas das espécies mais emblemáticas são a águia-sapeira Circus aeruginosus, a águia-pesqueira Pandion haliaetus, a garça-vermelha Ardea purpurea, o garçote Ixobrychus minutus, o pernilongo Himantopus himantopus, a chilreta (ou andorinha-do-mar-anã) Sternula albifrons, o pilrito-de-peito-preto Calidris alpina, o colhereiro Platalea leucorodia, a íbis-preta Plegadis falcinellus, o pisco-de-peito-azul Luscinia svecica, entre tantas outras aves de rapina, marinhas, limícolas, passeriformes migradores de bosques e matos, assim como paludícolas.

local interessante para o birdwatching. A abundância de aves atrai também predadores, não sendo difícil de aqui observar aves de rapina, como o falcão-peregrino Falco peregrinus.

Sendo impossível aqui expor toda a riqueza da ria, sugerem-se alguns locais de visita (também na web) ou eventos a não perder.

Com uma área superior a 5 km2, é a maior lagoa natural da Península Ibérica. É um exemplo de como as atividades humanas se podem harmonizar com a natureza. A agricultura drenante e a apanha do moliço para fertilizar os terrenos impediu o avanço do pântano, mantendo a zona húmida dinâmica e estável. No entanto, há alguns anos uma forte invasão com jacinto-de-água, planta aquática ornamental, gerou sérias preocupações, sendo o plano de água atualmente sujeito a regulares ações de controlo. A pateira dispõe de equipamento para a observação de aves, sendo aqui abundantes o guarda-rios Alcedo atthis, várias espécies de patos, a garça-branca Egretta garzetta, a garça-real Ardea cinerea e a garça-vermelha.

Marinhas de sal, Aveiro

Outrora parte fundamental da economia da região, a produção artesanal de sal nas marinhas aveirenses regressou em força, após um longo período de decadência e abandono. Flor de sal e plantas halófitas como a salicórnia são apenas dois exemplos de toda uma estratégia de valorização sustentável dos recursos endógenos do salgado aveirense. As salinas, ricas em nutrientes e invertebrados, constituem local de nidificação para o pernilongo, a chilreta e o borrelho-de-coleira-interrompida Charadrius alexandrinus, e um importante local de alimentação para muitas espécies de aves, principalmente durante os períodos de maré cheia, pelo que são um

• • •

Marinha de Santiago da Fonte | Univ. Aveiro | www.ua.pt/ visitas Ecomuseu Marinha da Troncalhada | CM Aveiro | mca.cmaveiro.pt/rede-de-museus Ilha dos Puxadoiros | www.ilha.ilhadospuxadoiros.pt

Pateira de Fermentelos, Águeda

• •

CM Águeda | www.cm-agueda.pt Clube Pateira Nascente / ARCEL | www.pateiranascente. blogspot.pt

n.º 51 pardela • 15


Parque Ambiental do Buçaquinho e Barrinha de Esmoriz, Ovar

Muito mais do que um parque urbano, o Buçaquinho foi pensado como um projeto vanguardista e sustentável, tendo resultado da revitalização da antiga ETAR de Esmoriz/Cortegaça. São 24 ha que incluem zonas relvadas e arborizadas, lagoas, observatórios de aves, um parque infantil, um jardim de plantas aromáticas e uma cafetaria, com um programa cultural e de animação invejável. Mesmo ali ao lado, e também integrado no projeto CicloRia, está a Barrinha de Esmoriz, muito em breve com passadiços de visitação que permitirão observar o cordão dunar e os extensos caniçais onde nidificam a águia-sapeira e inúmeras espécies paludícolas, como o rouxinol-pequeno-dos-caniços Acrocephalus scirpaceus e a escrevedeira-dos-caniços Emberiza schoeniclus. • •

CM Ovar | www.cm-ovar.pt PAB: www.facebook.com/bucaquinho

NaturRia, Murtosa

O NaturRia consiste numa rede de percursos pedestres ou cicláveis localizados no coração da ria. Com infraestruturas de apoio e sinalética, poderá usufruir das magníficas paisagens com uma bicicleta previamente solicitada, ou mesmo marcar uma visita guiada gratuita através do projeto «Murtosa Ciclável». No município português com a mais alta taxa de utilização de bicicletas, sugerimos mesmo que se atreva a pedalar. Ribeiras e ancoradouros como a Ribeira de Pardelhas, o Cais do Bico ou a Boca da Marinha esperam por si. Aí poderá observar

guincho Larus ridibundus, maçarico-das-rochas Actitis hypoleucus, maçarico-galego Numenius phaeopus, perna-vermelha Tringa totanus, rola-do-mar Arenaria interpres, entre tantas outras espécies. •

CM Murtosa | www.cm-murtosa.pt

BioRia, Estarreja

O BioRia é um grande projeto de valorização e promoção do Baixo Vouga Lagunar, integrando a rede de percursos pedestres e cicláveis do concelho de Estarreja, bem como um Centro de Interpretação Ambiental, no início do Percurso de Salreu, que funciona como ponto de receção dos visitantes e pólo de dinamização de inúmeras atividades de sensibilização ambiental. Poderá marcar uma visita em carro elétrico, pedir uma bicicleta emprestada, ou simplesmente caminhar. Atualmente com oito percursos, o BioRia cobre uma parte significativa da Ria de Aveiro, sendo intitulado como “o paraíso dos birdwatchers”. Algumas aves mais características são o abibe Vanellus vanellus, cigarrinha-ruiva Locustella luscinioides, cuco-rabilongo Clamator glandarius, peneireiro-cinzento Elanus careuleus, cegonha-branca Ciconia ciconia, flamingo Phoenicopterus roseus e águia-sapeira, espécie vulnerável que aqui regista cerca de 20% dos casais reprodutores em Portugal. Autora: Milene Matos (Unidade de Vida Selvagem, Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro; Projeto BIO Somos Todos)

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Pernilongo

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Feira ObservaRia, Estarreja

Nos últimos anos, o BioRia com um conjunto de parceiros, entre os quais a SPEA, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Universidade de Aveiro, tem organizado em Estarreja a ObservaRia, feira dedicada ao turismo de natureza e à observação de aves. A ObservaRia pretende celebrar a biodiversidade da Ria de Aveiro, proporcionando inúmeras atividades ao ar livre (por exemplo passeios em barco moliceiro, kayak, voo cativo em balão de ar quente), oficinas e workshops, tendo como pano de fundo a beleza natural do Baixo Vouga Lagunar. A próxima já está agendada para abril 2017 e a organização promete muitas novidades.

Paisagem do Baixo Vouga Lagunar

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Milene Matos

CM Estarreja | www.bioria.com


Nuno Barros

Listas Vermelhas: avaliar o perigo de extinção das aves

Pardela-balear Puffinus mauretanicus

O nosso planeta enfrenta atualmente uma crise de biodiversidade em que, por diversas razões, as taxas de extinção têm sido aceleradas. E, com efeito, das cerca de 10 000 espécies de aves conhecidas em todo o mundo, aproximadamente 1300 estão ameaçadas de extinção, integrando as chamadas listas vermelhas.

A

informação sobre o estatuto de conservação das espécies está traduzida na Lista Vermelha, ferramenta criada pela International Union for the Conservation of Nature - IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza - UICN, na sua denominação portuguesa) que, em colaboração com a BirdLife International, no caso das aves, avalia com critérios objetivos qual a possibilidade e o grau de ameaça de extinção para cada espécie. Sabemos assim que existem 197 espécies em estado Criticamente Ameaçado de extinção, que necessitam de ação urgente de recuperação e de conservação e devem ser, portanto, prioridade para as entidades que se preocupam com a conservação. Estas espécies distribuem-se por 136 países ou territórios, sendo o Brasil o país com maior número de espécies em risco:

22. A maioria destas espécies estão restritas a um único país, mas existem também várias espécies migradoras, com áreas de distribuição bastante alargadas e implicam a ação concertada de vários países para assegurar a sua sobrevivência. A lista completa de espécies, de aves e outros grupos animais (e também plantas), pode ser consultada na plataforma www. iucnredlist.org.

Categorias de ameaça

São definidas oito categorias de ameaça, desde o Extinto até ao desejável estatuto de Não Preocupante (ver figura) A classificação de uma espécie em qualquer dos três graus de espécie ameaçadas (Vulnerável, Em perigo ou Criticamente em perigo) deve fazer desencadear ações de conservação urgentes

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Pardela-balear

Nuno Barros

Figura 1 - Estrutura das categorias de ameaça, segundo a IUCN

Puffinus mauretanicus Estatuto: Criticamente em Perigo (CR) Embora seja presença relativamente regular nas águas portuguesas, esta espécie apenas nidifica nas ilhas Baleares e é a ave marinha mais ameaçada da Europa, tendo sofrido um decréscimo acelerado da sua população devido à predação por ratos e gatos e à captura acidental nas artes de pesca. A recente designação das Zonas de Proteção Especial marinhas, defendidas pela SPEA, ao abrigo da Diretiva Aves (e assim incluídas na Rede Natura 2000), visam contribuir para a conservação desta espécie, que se limita a 9000-13 000 aves reprodutoras.

Faísca

Britango

Autor: Luís Costa (SPEA)

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Filipe Viveiros

Freira-da-madeira

Pterodroma madeira Estatuto: Em Perigo (EN) Espécie marinha endémica da Madeira. Onde nidifica exclusivamente no maciço montanhoso central da ilha, acima dos 1600 m de altitude. As principais ameaças são a presença de predadores (ratos e gatos), e o recente incêndio de 2010 afetou toda a sua área de distribuição conhecida. Esta espécie tem beneficiado dos trabalhos de conservação efetuados pelo Parque Natural da Madeira e estima-se que a população atual se limite a 130-160 aves.

Priolo

Joaquim Teodósio

sendo para isso fundamental o papel da monitorização das populações de aves, como acontece em Portugal através do Censo de Aves Comuns ou censos específicos para determinadas espécies. Em Portugal temos atualmente uma espécie em risco crítico, que partilhamos com Espanha: a pardela-balear Puffinus mauretanicus, e três Em Perigo. Mas já tivemos mais, que felizmente já viram a categoria de ameaça diminuída graças a esforços de conservação, entre as quais o priolo e a freira-da-madeira (ver caixa). Porém, existem ainda sete espécies com o estatuto de Vulnerável, que se encontram em risco de aumentar o risco de extinção se não forem tomadas medidas de conservação: a águia-imperial Aquila adalberti, o painho-de-monteiro Hydrobates monteiroi, a abetarda Otis tarda, a freira-do-bugio Pterodroma deserta, a rola-brava Streptopelia turtur, o zarro Aythya ferina e a felosa-aquática Acrocephalus paludicola. Em Portugal, existe também o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, publicado pelo Instituto da Conservação da Natureza, que adapta estes critérios para o país; no entanto, a sua última edição foi feita já há 10 anos e carece de atualização. A SPEA tem liderado ou participado em projetos que permitiram recuperar a população, o habitat e a área de distribuição de algumas destas espécies e monitorizar as populações de aves ajudando a definir o seu estatuto na Lista Vermelha.

Neophron percnopterus Estatuto: Em Perigo (EN) É a mais pequena das espécies de abutres que ocorrem em Portugal e a única tipicamente migradora, nidificante no nosso país. O envenenamento e a falta de alimento devido à proibição de deixar carcaças de animais domésticos ao ar livre reduziu a população europeia a 3300-5050 casais reprodutores. A SPEA iniciou recentemente um projeto para a conservação desta espécie, com oito parceiros no Nordeste do país e Castilla y León (Espanha), zona conhecida como Douro Internacional, visando diminuir o seu grau de ameaça, o LIFE Rupis (ver artigo pág. 9).

Pyrrhula murina Estatuto: Em Perigo (EN) Espécie endémica restrita à parte oriental da ilha de São Miguel nos Açores. Encontra-se ameaçada sobretudo pela substituição do seu habitat de floresta de laurissilva por plantas exóticas invasoras, que limitam a sua disponibilidade de alimento. A sua população deve ter cerca de 800 casais, números mais animadores do que os 120 casais estimados em 2003, antes do início do conjunto de grandes projetos de conservação da SPEA e seus parceiros, e que em 2010 resultou na saída do estatuto de Criticamente em Perigo.


Joana Andrade

Berlengas | arquipélago com vida

Forte de São João Baptista, também conhecido como Fortaleza da Berlenga

Localizado a apenas 10 quilómetros ao largo de Peniche, o arquipélago das Berlengas surge em pleno oceano Atlântico, representando cerca de 100 hectares de área terrestre. Devido ao seu rico ecossistema e geomorfologia única, este conjunto de ilhas tem sido alvo de um projeto LIFE, coordenado pela SPEA, que visa promover a gestão sustentável dos recursos.

A

s Berlengas, classificadas como Reserva Natural desde 1981, apresentam um património biológico com elevado interesse de conservação, quer ao nível do seu ecossistema insular terrestre, que engloba plantas endémicas, habitats protegidos e acolhe a nidificação de várias espécies de aves marinhas, quer ao nível do vulnerável ecossistema marinho envolvente, um dos mais ricos das águas portuguesas. Também a sua complexa e única geomorfologia traduz uma interessante história geológica, na qual o granito rosa da Berlenga é um dos protagonistas. O valioso património histórico e arqueológico demonstra a importância das Berlengas nas rotas marítimas desde o tempo dos Celtas e uma ocupação humana continuada na Idade Média. Atualmente, é reconhecida a importância das atividade económicas desenvolvidas na Reserva, como o turismo e a exploração dos recursos marinhos. Por todas estas características, as Berlengas são desde 2011 reconhecidas pela UNESCO como Reserva da Biosfera.

LIFE Berlengas 2014 | 2018

O arquipélago das Berlengas, formado pela ilha da Berlenga e por dois grupos de ilhéus e rochedos (as Estelas e os Farilhões-Forcadas), representa uma oportunidade única para desenvolver um plano de gestão sustentável que integre a conservação dos valores naturais com as atividades turísticas e as pescas. A Zona de Proteção Especial (ZPE) das Berlengas, classificada em 1999 ao abrigo da Diretiva Aves da Rede Natura 2000, foi alargada ao meio marinho em 2012, aumentando para 10 vezes a área inicialmente classificada como resultado do projeto LIFE IBAs Marinhas (2004-2008), também coordenado pela SPEA, demostrando assim a sua importância para a conservação das aves marinhas. O projeto encontra-se em pleno desenvolvimento, tendo já decorrido um ano de trabalho. Eis alguns aspectos que têm vindo a ser estudados e desenvolvidos e sobre os quais se pretende aprofundar mais:

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Toni Mullet

O projeto Life Berlengas «Gestão sustentável para a conservação de espécies e habitats ameaçados na ZPE das Berlengas» (LIFE13/NAT/PT/000458) teve início em junho de 2014. É coordenado pela SPEA e conta com a parceria do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, da Câmara Municipal de Peniche, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo ainda a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria como observador convidado. É cofinanciado a 50% pelo Programa LIFE da Comissão Europeia, sendo os restantes 50% contribuição dos parceiros.

Recolha de biometrias de coelho pela equipa e voluntários

1. Flora endémica

Entre as cerca de 100 espécies de plantas descritas para o arquipélago, há três que merecem um especial destaque: as endémicas. Estas, devido ao isolamento e distância ao continente, tornaram-se diferentes das espécies continentais e existem unicamente nas Berlengas. São a arméria-das-berlengas Armeria berlengensis, a herniária-das-berlengas Herniaria berlengiana e a pulicária-das-berlengas Pulicaria microcephala. As

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maiores ameaças são a pressão exercida pelas gaivotas-de-patas-amarelas Larus michahellis e pelo pisoteio, os dejetos que promovem a nitrificação do solo em demasia e a expansão de chorão Carpobrotus edulis, planta invasora que ocupa áreas extensas de solo.

2. Aves marinhas

As populações de aves marinhas nidificantes nas Berlengas são ainda pouco conhecidas, havendo muitas lacunas de informação importantes para a con-

servação da cagarra Calonectris borealis, do roque-de-castro Hydrobates castro e da galheta Phalacrocorax aristotelis. Com este projeto pretende-se conhecer melhor a dinâmica das suas populações, as ameaças que enfrentam, a utilização do mar, as interações com as artes de pesca e os impactos causados por outras atividades humanas. A população nidificante de airo Uria aalge teve um declínio dramático - de 6000 casais, em 1939, para apenas um casal reprodutor observado em 2002.


Pedro Geraldes

Recolha de biometrias de coelho

Nuno Oliveira

Pedro Geraldes

Thijs Valkenburg

Cagarra

A cagarra é uma ave marinha essencialmente pelágica. No mar, a espécie ocorre em quase toda a Zona Económica Exclusiva portuguesa, sobretudo durante a época reprodutora entre fevereiro e novembro. Nas Berlengas, onde se reproduz em praticamente todas as ilhas e ilhéus, a população foi estimada em cerca de 1000 casais, em 2011. Algumas das ameaças à conservação da cagarra nas Berlengas são a falta de cavidades para construir o ninho, a captura acidental em artes de pesca e a predação dos juvenis não voadores por rato-preto Rattus rattus e por gaivota-de-patasamarelas. No LIFE Berlengas estão previstas ações para melhor compreender e minimizar estes problemas: remover os ratos-pretos da ilha da Berlenga, testar novas técnicas de controlo da população de gaivota-de-patas-amarelas, construir 100 novos ninhos artificiais e testar métodos para reduzir a mortalidade acidental nas artes de pesca.

Roque-de-castro

Nas Berlengas, o roque-de-castro nidifica apenas nos Farilhões. Aqui, a população reprodutora foi estimada em cerca de 100 a 200 casais em 2012, mas é possível que seja maior. Um dos objetivos do LIFE Berlengas é aferir melhor a dimensão da população nidificante no arquipélago. Outro objetivo é construir 60 ninhos artificiais para colmatar a falta de disponibilidade de cavidades apropriadas à nidificação no Farilhão Grande. A presença/introdução de predadores como o rato-preto, o aumento da pressão por parte de predadores naturais e a perturbação humana são as principais ameaças à conservação desta espécie.

Galheta

Com cerca de 80 casais, a população reprodutora de galheta na Berlenga representa a maior parte da população nacional. Esta espécie é potencialmente vulnerável a algumas artes de pesca como é o caso das redes de emalhar. Para melhor avaliarmos a sua interação com as embarcações de pesca é fundamental perceber onde é que as galhetas se alimentam dentro da ZPE. Para isso o projeto irá seguir 40 indivíduos com dispositivos de geolocalização, identificando assim as áreas vitais para a galheta.

3. Medidas de conservação

Neste ecossistema insular e meio marinho envolvente são várias as ameaças que as espécies de flora e fauna nativa enfrentam, e para minimizar ou eliminar essas ameaças serão desenvolvidas as seguintes ações: • Teste de novas técnicas de controlo da população de gaivotas e implementação de áreas de exclusão (onde se prevê a recuperação da vegetação nativa); • Estudo das populações de mamíferos introduzidos de modo a proceder à sua remoção; • Remoção do chorão da ilha da Berlenga; • Avaliação do impacto das pescas e redução da mortalidade de aves marinhas pela interação com as artes.

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A erradicação de espécies introduzidas espécies invasoras do mundo. A erradicação de roedores é uma ação de gestão utilizada para a conservação de ecossistemas insulares com grande sucesso (utilizada globalmente em centenas de ilhas, incluindo várias ilhas portuguesas). O chorão, outra espécie introduzida na ilha, está a ser retirado de forma faseada nas áreas de maior ocupação, tendo sido já arrancadas todas as manchas isoladas que se encontravam espalhadas pela ilha. Nos locais de remoção de chorão será feita sementeira direta com sementes de plantas nativas. As vertentes mais inclinadas ocupadas por chorão não serão intervencionadas sem a garantia da manutenção das condições de segurança, prevenção da erosão e queda de pedras.

Toni Mullet

As espécies introduzidas invasoras presentes no arquipélago das Berlengas contam-se entre as principais ameaças ao seu frágil ecossistema, causando impactos negativos sobre a sua fauna e flora nativas. Em curso estão os estudos de avaliação e caracterização das populações de ambas as espécies de mamíferos introduzidos na ilha da Berlenga, o rato-preto e o coelho Oryctolagus cuniculus, que posteriormente serão alvo de um plano para a sua remoção da ilha. Está amplamente e globalmente demonstrado o impacto negativo de ambas as espécies em ecossistemas insulares, estando listadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como duas das 100 piores

Remoção de chorão pela equipa e voluntários

4. Gestão da ZPE das Berlengas

Um dos principais objetivos a alcançar é a conclusão e implementação de um plano de gestão eficaz para a ZPE das Berlengas, que compatibilize as atividades económicas com os valores naturais existentes. Os principais agentes locais serão envolvidos neste processo, de forma a identificar as mais-valias, os problemas e as expectativas e assim contribuírem para tornar o arquipélago das Berlengas num exemplo de turismo sustentável e desenvolvimento económico responsável. Papel central neste projeto são também os aspetos relativos à visitação da

Coordenação

Cofinanciamento

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Parceiros

ilha e os seus impactos, pelo que será levado a cabo um esquema de monitorização que permitirá conhecer os seus visitantes. Um ano depois do arranque do projeto foi inaugurado o Centro de Visitantes, na ilha da Berlenga, um espaço localizado no Bairro dos Pescadores, que visa contribuir para a melhoria das condições de visitação. Estão previstas ainda a recuperação dos trilhos, colocação de sinalética, painéis informativos e a promoção dos valores naturais da ZPE das Berlengas através de um variado leque de atividades. Entre elas destacam-se os eventos de divulgação e ações de sensibilização para vários públicos-alvo, informação na página web e através de uma aplicação interativa, produção de

folhetos, exposições, guia de aves marinhas e merchandising diverso, colocação de um modelo tridimensional do arquipélago em Peniche e seguimento de ninhos de cagarra e galheta através de uma câmara web. Para desenvolver todo este trabalho, o projeto tem contado com dezenas de voluntários e estagiários, oriundos de vários países. As inscrições para as semanas de campo de 2016 já estão abertas, e esperamos poder continuar a contar com a preciosa colaboração de todos. Autora: Joana Andrade (SPEA) www.berlengas.eu


Tânia Pipa

Painho-de-monteiro: símbolo das «Ilhas de Bruma»?

Trabalhos de campo no Corvo

Recebendo o seu nome de um investigador que o distinguiu de uma outra espécie de painho, o painho-de-monteiro é alvo de conservação através de alguns programas das quais a SPEA é parceira. Esta ave marinha de pequeno porte é, assim, mais um dos habitantes do magnífico território açoriano.

O

painho-de-monteiro Hydrobates monteiroi é a mais pequena ave marinha dos Açores. É parente dos cagarros Calonectris borealis e, juntamente com as restantes nove espécies de aves marinhas nidificantes no arquipélago, à exceção do estapagado Puffinus puffinus, faz dos ilhéus da Graciosa - mais precisamente o da Praia e o de Baixo -, a sua casa. Outrora conhecido como painho-da-madeira de estação quente, em 2008 foi reconhecido como espécie distinta e recebeu o nome em homenagem ao falecido Luís Monteiro (investigador do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores - DOP/UAç), o primeiro a observar que era diferente do roque-de-castro Hydrobates castro.

O painho-de-monteiro é, assim, «adepto do bom tempo», nidificando de maio a setembro e possui uma morfologia e vocalizações diferentes - características que a evolução foi separando. Como todas as aves marinhas pelágicas, põe apenas um ovo por ano e ambos os progenitores se vão revezando na incubação (45 dias) e alimentação da cria que, em meados de agosto se começa a aventurar no mar pela primeira vez e que se reproduz dois anos depois. Ao deambular no mar faz lembrar um melro, sendo por vezes, por essa razão, denominado de melro-da-baleia, pois durante a época da baleação era frequentemente encontrado a alimentar-se dos desperdícios. A sua população é estimada em 250 a 300 casais, que se distribuem pelo mar dos Açores durante todo o ano.

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João T. Tavares/GOBIUS

Missão: Species Guardian

A SPEA tem colaborado na conservação da espécie como Species Guardian, no âmbito do programa Preventing Extinctions da BirdLife International. Primeiro, através do projeto «Painho-de-monteiro fase 1 (2014/15)» e agora no recentemente aprovado LIFE EuroSAP coordenado pela BirdLife International, e no qual é a parceira portuguesa. Este projeto pretende avaliar a situação atual da espécie e definir o plano de ação desta e outras espécies europeias com estatuto de conservação prioritário. O projeto foi lançado em abril de 2015 na ilha Graciosa durante o Workshop Painho-de-monteiro: oportunidades e desafios que teve a colaboração das entidades parceiras - o Parque Natural da Ilha Graciosa (PNIG), a Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, o DOP/UAç, a Universidade de Coimbra, Joël Bried (antigo colaborador do DOP e especialista em aves marinhas), o Turismo dos Açores - e da SPEA como entidade organizadora. Além destes trabalhos, a equipa da SPEA construiu 51 ninhos artificiais no ilhéu de Baixo (Graciosa) e procedeu à anilhagem de 126 indivíduos, recapturando oito aves marcadas em anos anteriores e oriundas desta população. Foi também colocado um gravador sonoro automático para, através de metodologias específicas, calibrar a estimativa populacional de painho-de-monteiro. Durante a amostragem noturna, foram ainda encontradas três almas-negras Bulweria bulwerii e um casal no ninho, indicando a possível nidificação desta ave marinha que «ladra» como um cão.

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Findos os trabalhos na também apelidada de ilha branca, que contaram mais uma vez com o apoio do PNIG, a equipa partiu em expedição para as ilhas rosa e preta, como são conhecidas as Flores e Corvo, respetivamente, para confirmar as suspeitas de nidificação da espécie no Grupo Ocidental. Aqui, é de salientar o apoio do Hotel Ocidental, dos Bombeiros Voluntários de Santa Cruz das Flores, Vítor Silva, Pedro Domingos e Orlando Rosa. E foi precisamente nos ilhéus da Alagoa (ao largo das Flores), que ao tocar das doze badaladas, a confirmação se fez ouvir: com painhos-de-monteiro a sobrevoarem o local. Já no Corvo, as condições meteorológicas não estiveram a favor da equipa e, apesar das vocalizações ouvidas, estas não foram suficientes para confirmar a presença da espécie. No entanto, ficou a esperança de que o painho-de-monteiro possa ser não só um símbolo da Graciosa, mas de todas as três Reservas da Biosfera do arquipélago, dando ainda maior valor às «ilhas de Bruma» - nome por que também são conhecidas as ilhas açorianas, e título de uma popular canção do início da década de 1980 do músico açoriano Manuel Medeiros Ferreira. Autores: Tânia Pipa e Nuno Oliveira (SPEA)

Cofinanciamento


Florida, uma atraente variedade Conhecida sobretudo pelas atrações turísticas das praias de Miami, a Florida é também um local interessante para o observador de aves. Dispõe de uma grande variedade de habitats, tem um clima subtropical e possui uma rica avifauna, e foi o destino eleito para mais uma viagem ornitológica do autor.

Q

Luís Custódia

uando ouvimos falar na Florida, nos Estados Unidos da América, é quase impossível não lembrarmos as cenas de perseguições policiais pelas praias e ruas de Miami ou pelos Everglades, trazidas até nós pelas populares séries televisivas Miami Vice ou CSI - Miami. Caracterizada por um clima subtropical assente em duas estações – húmida e seca, e por uma avifauna muito

diversificada constituída por residentes, com espécies neotropicais, e migradores reprodutores e invernantes, foi este o local escolhido pelo nosso grupo de amigos para uma introdução à avifauna do Neártico. Contamos, neste breve relato, como foi a nossa viagem e experiência pelo meio dos mais variados habitats, desde mangais a pradarias costeiras, até aos espetaculares pântanos.

Uma lista diversificada

A viagem consistiu numa expedição de dez dias pela Florida. Começámos pelos habitats da costa atlântica, seguindo para oeste, com uma breve paragem no Lago Kissimmee, até ao Refúgio da Vida Selvagem de Ding Darling no Golfo do México. Depois, rumámos em direção ao sul, entrando nos Everglades até às Florida Keys.

Colónia de aves aquáticas em Wakodahatchee

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Visitando as zonas húmidas

Foram diversos os habitats especialmente ligados às zonas húmidas que percorremos. Além dos famosos Everglades, há pântanos com florestas de coníferas, lagos, pinhais e uma linha de costa com mangais e pradarias costeiras. Perto de Palm Beach situam-se dois reservatórios de água doce - as zonas húmidas de Wakodahatchee e de Green Cay, criadas com os objetivos de conservar água e de sensibilizar as pessoas para uma coexistência harmoniosa com a vida selvagem. Autênticos refúgios para garças, cegonhas, patos, anhingas e corvos-marinhos, são locais de visita obrigatórios.

Ilha de Merrit

Na costa atlântica, perto do cabo Canaveral fica o Refúgio da Vida Selvagem da Ilha de Merrit, que partilha os limites com o centro espacial John F. Kennedy. É um mosaico de lagunas, pântanos e mangais, albergando uma rica comunidade de aves e, onde já foram registadas 360 espécies. Nas lagoas, foi possível observar o bailado da garça-avermelhada Egretta rufescens nas suas atividades piscatórias, à qual se juntaram o íbis-branco Eudocimus albus e a garça-tricolor Egretta tricolor. Também vimos populações invernantes de limícolas, como o alfaiate-americano Recurvirostra americana e o maçarico-marmoreado Limosa fedoa, e

Zonas Húmidas de Green Cay

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Luís Custódia

Luís Custódia

Gaio-da-florida Aphelocoma coerulescens

Quando regressámos à Europa, encantados com a diversidade de aves, deleitámo-nos com a lista das espécies observadas, das quais salientamos as 12 espécies da família das garças (Ardeidae), desde a garça-grande-azul Ardea herodias até ao abetouro-pequeno Ixobrychus exilis e o mítico pato-da-carolina Aix sponsa. Mais de 10 espécies de rapinas, entre as quais duas de abutres, o endémico e ameaçado milhafre-dos-everglades Rostrhamus sociabilis plumbeus, o inconfundível milhafre-cauda-de-andorinha Elanoides forficatus, a águia-pesqueira Pandion haliaetus, muito comum, e o símbolo dos Estados Unidos (EUA) a imponente águia-de-cabeça-branca Haliaeetus leucocephalus. Observámos ainda espécies típicas da avifauna neotropical, cujo limite norte da distribuição geográfica alcança esta parte do sul dos EUA - o carão Aramus guarauna, a cegonha-dos-bosques Mycteria americana, o caracará-de-crista Caracara cheriway, o colhereiro-róseo Platalea ajaja, a anhinga Anhinga anhinga e o talha-mar-americano Rhynchops niger. O fascínio estendeu-se aos passeriformes adicionados à lista, representantes de famílias exclusivas das américas: Mimidae, Parulidae, Tyrannidae, sendo de destacar a diversidade da família Icteridae, da qual observámos rabos-de-quilha Quiscalus sp. (grackles, em Inglês), melro-de-asa-vermelha Agelaius phoeniceus e aves-das-vacas Molothrus sp. e da família Cardinalidae, como o «flamejante» cardeal-vermelho Cardinalis cardinalis.


Parque Nacional dos Everglades

Os famosos Everglades são uma vasta planície inundada que corre muito lentamente a partir do Lago Okeechobee em direção ao sul, desaguando na Baía da Florida. Durante a estação seca, grande parte dos Everglades chega mesmo a secar, restando água apenas em canais profundos e nos buracos dos jacarés Alligator mississippiensis. Nestes locais, os peixes congregam-se aos milhares servindo de banquete aos jacarés e às aves. Um local ideal para anhingas e outras aves nidificarem, e para ser visitado, percorrendo, por exemplo, o «Trilho da Anhinga». No sul, diante da Baia da Florida, e já no domínio dos mangais, fica outro ponto de paragem, o Centro de Visitantes Flamingo, onde termina a estrada principal do parque. Aqui observámos pelicanos-brancos-americanos Pelecanus erythrorhynchos, talha-mares e garajaus-reais Sterna maxima, com garças e íbis a alimentarem-se freneticamente nos baixios. Na sombra dos mangais ainda avistámos, em repouso, um crocodiloamericano Crocodylus acutus.

Na zona oeste dos Everglades prosperam vastos pântanos de coníferas (nomeadamente ciprestes), onde fica o santuário Corkscrew Swamp da National Audubon Society, o parceiro da BirdLife International nos EUA. Esta floresta que se ergue num terreno inundado é um mundo de epífitas, musgos e fetos que serve de habitat a inúmeras espécies de aves e à pantera-da-florida Felis concolor coryi, entre outras espécies ameaçadas. Esta área faz fronteira, a sudoeste, com o Big Cypress Swamp, que também visitamos. Sobre esta expedição, organizada em março de 2014 pela Birds and Nature (www.birds.pt), muito mais haveria para contar, como o avistamento de um pequeno bando de perus-selvagens Meleagris gallopavo a passear-se tranquilamente na berma de uma movimentada autoestrada! Mas, para melhor poder absorver toda esta beleza natural, só mesmo indo até lá! Autor: Luís Custódia

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Adelaide Alfaiate

Luís Custódia

de patos como o zarro-pequeno Aythya affinis, que se reúnem em grandes bandos nas lagoas antes de iniciarem a viagem rumo ao Norte. Perto da Ilha de Merrit existe uma zona de pinhal e palmeiras, o Scrub Ridge Trail, que serve de habitat a uma espécie endémica ameaçada - o gaio-da-florida Aphelocoma coerulescens.

Cegonha-dos-bosques Mycteria americana

Visitar a Florida

Sugere-se a estação seca, especialmente no período de final de janeiro a março, durante o qual é possível observar migradores invernantes e estivais, e é período de nidificação. A melhor opção será contactar previamente um guia local, ou optar por alugar uma viatura e percorrer os locais de observação. Guia de campo: The Sibley - Field Guide to birds of Eastern North America, de David Allen Sibley. Websites de interesse: - National Park Service: www.nps.gov - Sociedade Ornitológica da Florida: www.fosbirds.org - Florida Birding Trail: www.floridabirdingtrail.com - Corckscrew Swamp Sanctuary: corkscrew.audubon.org

Zonas Húmidas de Green Cay

n.º 51 pardela • 27


Gabriel Cabinda

São Tomé e Príncipe Três anos de parceria pela preservação da biodiversidade

Entrevista a caçador local

Muitos já ouviram falar de São Tomé e Príncipe, apesar de nem sempre saberem situar o país no mapa. Alguns já tiveram a sorte de pisar o arquipélago e de serem recebidos pelo seu povo alegre. Mas poucos saberão o valor que estas ilhas do Golfo da Guiné têm em termos de biodiversidade única e o quão urgente é investir na conservação das suas florestas, onde ocorrem várias espécies ameaçadas de extinção.

S

ão Tomé e Príncipe continua a ser pouco explorado, mantendo-se fora dos principais roteiros ornitológicos. A situação é quase inacreditável, dado que o arquipélago é o berço de pelo menos 28 espécies de aves endémicas, apresentando diversos exemplos de evolução de espécies em ilhas. Quatro estão «Criticamente em perigo» de extinção: a galinhola Bostrychia bocagei, o anjolô Neospiza concolor, o picanço-de-são-tomé Lanius newtoni e o tordo-do-príncipe Turdus xanthorhynchus. E quando se fala da conservação destas aves ameaçadas equivale a falar da proteção dos seus habitats - as florestas tropicais insulares.

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Para evitar que se agravasse o risco de extinção destas espécies, em 2012, a BirdLife International decidiu intervir em São Tomé, onde um projeto para produção de óleo de palma estava a desflorestar áreas com muito interesse para conservação. Desde então, a SPEA (parceiro português da BirdLife) tem vindo a desenvolver diversas ações nesta ilha, em parceria com a BirdLife Africa, a Royal Society for the Protection of Birds (parceiro do Reino Unido) e o investigador Ricardo Lima da Universidade de Lisboa.


Conhecer as espécies

No início de 2014, foram lançados os Planos de Ação para a conservação das quatro espécies citadas anteriormente, elaborados pela BirdLife com o contributo de diversos especialistas, e que identificam as ações prioritárias para a sua proteção. Um dos maiores entraves à implementação de ações de conservação era a falta de informação sobre a ecologia, efetivo populacional, área de distribuição e ameaças a estas espécies. Devido à escassa informação, a prioridade inicial foi realizar censos em todo o PNO. Percorreram-se áreas de difícil acesso e redesenharam-se os mapas de distribuição, obtendo-se muita informação relevante, alguma da qual veio alterar aquilo que se sabia sobre estas aves e os seus habitats. Foram também apoiados mestrados sobre a seleção de habitat e densidade populacional da galinhola e a seleção de habitat pelo picanço-de-são-tomé. Em julho de 2015, começou-se também a estudar a área de distribuição do tordo-do-príncipe, com expedições à ilha do Príncipe, classificada como Reserva da Biosfera pela UNESCO. Uma das principais ameaças à conservação da galinhola é a caça furtiva. Apesar de não ser diretamente procurada, esta espécie é frequentemente morta por caçadores de porco e macaco, ou até por outros utilizadores da floresta. Para avaliar a extensão da caça furtiva foram entrevistados 93 caçadores: 40 admitem já ter morto galinhola e 23 destes afirmaram fazê-lo regularmente. Dados bastante preocupantes, pelo que uma das principais prioridades é sensibilizar os caçadores para a fragilidade da espécie.

Hugo Sampaio

Utilização de recursos florestais

Plantação de óleo de palma

Impactes da produção de óleo de palma

Apesar da mobilização da sociedade civil e do caso ter ganho bastante visibilidade na comunicação social, o cenário negativo pouco se alterou. Para produzir óleo de palma foram destruídos, pelo menos, 125 ha de habitat da galinhola e de outras espécies ameaçadas. Rapidamente se fizeram sentir impactes secundários: a abertura de acessos e a exploração dos recursos florestais pelos habitantes locais em áreas que antes não eram perturbadas e que ficam no interior do Parque Natural do Obô (PNO), a única área protegida da ilha. Apesar dos graves danos feitos à floresta e à população de galinhola, surge agora a possibilidade de serem implementadas ações de compensação que permitam conferir alguma proteção ao PNO, algo que por enquanto só está no papel.

A população de São Tomé e Príncipe está intimamente ligada à floresta, que proporciona diversos recursos e desempenha um importante papel ecológico, por exemplo na regulação do clima. Muitas pessoas dependem deste bem comum, mas a sua utilização desregrada tem tido efeitos negativos. Foram feitas entrevistas em comunidades para compreender melhor os mecanismos sociais que levam à desflorestação e degradação florestal, e iniciou-se o mapeamento de atividades humanas no PNO. Tanto a agricultura como a produção de carvão têm destruído área florestal, e a criação de gado e a extração de vinho de palma têm degradado e gerado perturbação na floresta. Mas, o abate desregrado de árvores para construção constitui a maior ameaça ao PNO. Nestes três anos de trabalho foi construída uma relação de confiança entre a BirdLife e o governo santomense, algo fundamental para que se alcance o próximo objetivo: a implementação de ações a longo prazo que tragam maior proteção às preciosas florestas de São Tomé e Príncipe e às gentes que dela dependem. Autor: Hugo Sampaio (SPEA)

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Ricardo Lima em Cascais

FALTA LEGENDA Expedição ao Pico de S. Tomé

Numa pequena localidade, encaixada na serra de Sintra, Ricardo Lima desde muito cedo revelou o gosto pela natureza, enquanto se aventurava a explorar os montes, as linhas de água e os trilhos pedestres que a delimitam. Biólogo de formação, descobriu há seis anos as ilhas de São Tomé e Príncipe para desenvolver a sua investigação e parece ter feito deste arquipélago, onde tem colaborado em diversos projetos da SPEA, a sua segunda casa.

R

icardo Lima cresceu em Almoinhas Velhas, uma localidade próxima da Malveira da Serra, a caminho do cabo da Roca. «Tínhamos o mato, a terra e a praia», relembra a sua prima Susana. Desde muito pequenos que passeavam e desciam sozinhos até ao Guincho onde Ricardo já «reconhecia os pássaros pelo cantar». «Fui autodidata, aprendi sozinho», conta Ricardo Lima, sobre alguns dos passeios que fazia. Sempre que «arranjava um livro, ia apanhando ou observando uma espécie e tentando

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perceber se era uma coisa ou outra». Escolheu a Biologia e, em 2005, após ter concluído a licenciatura, partiu para Castelo Branco onde participou, pela Quercus, no projeto de monitorização do impacto das linhas elétricas na avifauna - então uma parceria com a SPEA, a EDP e a REN. Conta que ainda durante o seu primeiro ano em Castelo Branco desenvolveu um estudo sobre a seleção do habitat de nidificação do abutre-preto Aegypius monachus, tendo também apoiado o Centro de Recuperação de Animais Selvagens, gerido pela Quercus.

Edgar Soares

Sara Saraiva

Ricardo Lima Um investigador português em São Tomé e Príncipe


Sara Saraiva

Sara Saraiva

Nova Moka, a roça onde Ricardo permaneceu a maior parte do seu tempo durante o doutoramento

STP I | Doutoramento

Em 2008, ganhou uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), dividida entre S. Tomé e Inglaterra, com tudo definido: as instituições, os orientadores, o tema e a área de estudo. «Só não conhecia São Tomé, nem Lancaster; foi claramente um risco», admite o biólogo. Mas «Kwá ku ê dá, ê dá, o que der, deu», soletra de seguida em Forro, mais conhecido por Santomense, uma língua crioula falada em São Tomé, e que tem estado recentemente a aprender. «O meu doutoramento foi sobretudo a trabalhar com aves e, como se sabia tão pouco sobre a ecologia e as ameaças que pesavam sobre estas espécies, acabei por me tornar num especialista nas espécies que apenas ocorrem em São Tomé», conta um entusiasmado Ricardo, à medida que descreve o seu trabalho naquele país. São Tomé e Príncipe tem sido sistematicamente identificado como uma área prioritária para a conservação da biodiversidade ao nível global. O seu trabalho tem servido de base para poder «definir quais as ações prioritárias essenciais para assegurar a sobrevivência das espécies e ecossistemas únicos que S. Tomé possui», declara. No terreno, conta com a ajuda de alguns assistentes de campo santomenses. Esse apoio é essencial: «aprendi a identificar as espécies com eles, e a conhecer a floresta», explica Ricardo.

STP II | Pós-doutoramento

Atualmente, é investigador de pós-doutoramento, financiado por uma bolsa da FCT, no CE3C - Centre for Ecology, Evolution and Environmental Change da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Dissociar o impacto das múltiplas formas de perturbação humana sobre a biodiversidade nas ilhas de São Tomé e Príncipe é o objetivo do trabalho sob a orientação do professor Jorge Palmeirim. «O Ricardo tem tido um papel importantíssimo em São Tomé», refere Jorge Palmeirim, que adianta: «é capaz de ser das pessoas que melhor conhece o território de S. Tomé. Quadrícula a quadrícula». Considera-o um importante ponto de ligação para a BirdLife International e define-o como um investigador persistente, com interesses e preocupações que estão para além da investigação. Neste momento, o investigador encontra-se envolvido em

Pico de Cão Grande

três projetos. O de maior dimensão, em parceria com uma iniciativa da BirdLife, SPEA e RSPB, preocupa-se com a conservação das aves criticamente ameaçadas de São Tomé e seus habitats. «Criámos um plano de ação para três espécies: o anjoló, o picanço e a galinhola e temos vindo a procurar financiamento», explica Ricardo. Um segundo, que tenta recolher informação para servir de base a uma estratégia de exploração sustentável dos recursos madeireiros em São Tomé. Através da Conservation Leadership Programme (promovido pela BirdLife, World Conservation Society e a Fauna & Flora International), este projeto consiste especificamente em «dar formação, caracterizar o setor madeireiro com base em transetos e entrevistas, e disseminar esta informação de forma a promover o diálogo entre os interessados», acrescenta. O terceiro projeto pretende caracterizar a biodiversidade existente em duas zonas de mangal e envolver as comunidades locais na sua gestão sustentável. «Está a ser desenvolvido em parceria com a ONG italiana ALISEI e com o MARE da FCUL», refere Ricardo Lima.

A vida em São Tomé

Afastado dos amigos e da família, o que parece ser o mais difícil, ao longo destes anos Ricardo foi conquistando amizades e já tem «muitas famílias» que o fazem sentir em casa, quando está em São Tomé. «Aliás, o bom acolhimento por parte dos santomenses tem sido uma razão acrescida para querer continuar a trabalhar no país», revela. Mas está consciente que «sendo um país tão pequeno e com uma investigação tão incipiente», é difícil garantir o futuro do seu trabalho. Por isso, está atento a outras oportunidades. Interessado, cada vez mais, não só em compreender as implicações ecológicas das atividades humanas, mas também quais as causas socioeconómicas das más práticas de gestão de recursos naturais, Ricardo Lima pretende alargar os seus horizontes e estabelecer novas parcerias «com expertises diferentes» e que possam complementar o seu trabalho. Porque como se diz em São Tomé: «tlabá zuntádu só ká dá tê»: o trabalho só dá resultado se concretizado em parceria. Autora: Sara Saraiva (Mestranda em Comunicação de Ciência na UNL/FCSH)

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Município de Almada

José Viana

Caixas-ninho Como ajudar as aves no seu jardim

Chapim-real (ninho em prédio urbano) Chapim-azul no Parque da Paz/Almada

Muitas espécies de aves constroem os seus ninhos em cavidades e buracos nas árvores. Infelizmente, estes são cada vez mais raros, porque a tendência é para substituir árvores velhas ou mortas por outras mais novas pelo que, frequentemente, certas espécies estão ausentes de jardins e parques. As caixas-ninho podem ser uma boa ajuda para aumentar a diversidade destes espaços.

M

uitas aves têm habitats e condições de alimentação favoráveis mas, nem sempre encontram cavidades naturais nas árvores - o local adequado para muitos pequenos pássaros procuram para construir os seus ninhos. Caixas-ninho feitas de madeira são excelentes substitutos para os buracos nas árvores, pelo que a sua colocação pode atrair algumas aves para o seu jardim, como já aconteceu, por exemplo, em algumas das caixas colocadas no Parque da Paz pelo Município de Almada, com o apoio da SPEA. Mais de 60 espécies de aves podem nidificar em caixas-ninho – mas tudo depende do tipo e tamanho das caixas e da sua localização. As espécies que mais frequentemente ocupam caixas-ninhos são os chapins Parus sp. (real, azul, carvoeiro), as trepadeiras-azuis Sitta europaea, os pardais Passer domesticus e os estorninhos Sturnus sp. – espécies comuns nos jardins e habitats humanizados do nosso país.

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Onde e quando colocar a sua caixa-ninho

Em geral, as caixas-ninho devem ser colocadas a uma altura de 2 a 4 metros, numa árvore ou parede, se possível virada a norte para evitar uma maior exposição solar direta. O mais importante é haver um espaço aberto na parte da frente da caixa, para que as aves possam voar diretamente para ela, sem obstáculos ou vegetação densa à entrada. Não coloque qualquer ramo ou poiso na frente da caixa, pois isso poderá atrair predadores (gatos, outras aves, etc.). Notamos que pregar uma caixa a uma árvore com pregos pode danificar a mesma – pelo que sugerimos utilizar corda ou arame à volta do tronco para o efeito. As caixas-ninho podem ser colocadas em qualquer altura, mas no outono/inverno, as aves terão oportunidade para as


Juan Varela

Como construir a sua caixa-ninho Uma tábua de madeira com 15 mm de espessura, 15 cm de largura e 133 cm de comprimento é suficiente. É melhor escolher madeira não tratada, caso contrário os químicos podem causar efeitos adversos nas aves. Isto significa que terá de substituir a caixa ao fim de alguns anos, mas esta irá adquirir uma cor e aspetos mais naturais. Corte as secções de acordo com o diagrama (ou encomende a madeira já cortada) e utilize parafusos ou pregos galvanizados. O buraco deve estar, pelo menos, a 12,5 cm da base da caixa – para evitar que as crias saiam para fora do ninho antes do tempo, ou que um gato meta uma pata na cavidade. O tamanho do buraco é extremamente importante, porque dele vai depender a espécie que eventualmente a ocupará. Buracos com 25 mm de diâmetro são óptimos para chapins-azuis e chapins-carvoeiros, com 28 mm para chapins-reais, com 32 para pardais, enquanto 45 mm de diâmetro poderão atrair estorninhos. Na base da caixa-ninho deve perfurar pelo menos dois buracos para drenagem. A tampa não deverá ser fixa, uma vez que no outono terá de abrir a caixa-ninho para a limpar – use uma dobradiça de aço ou plástico (para evitar a ferrugem) para permitir a abertura. Mas, mantenha a caixa fechada, podendo utilizar um sistema simples de tranca.

explorar e até para pernoitar, sobretudo em noites mais frias, podendo escolhê-las depois mais tarde na altura da reprodução. No entanto, não é de esperar resultados imediatos – as aves precisam de algum tempo para explorar melhor esta nova adição ao seu ambiente, e levarão algum tempo até entrar na caixa! A maior parte das espécies defende um território, pelo que se colocar várias caixas muito juntas no seu jardim não atrairá mais do que um casal de uma determinada espécie. Espécies diferentes podem nidificar lado a lado, mas tente espaçar um pouco as caixas-ninho e, se possível, colocar caixas-ninho com buracos diferentes para tentar atrair mais do que uma espécie.

Manutenção e problemas

Os ninhos das aves podem ter pulgas e outros parasitas; por isso, é recomendável que em setembro a caixa seja verificada e limpa, através da remoção dos restos dos ninhos ou qualquer material lá existente. Depois de tirar o ninho, ponha um pouco de água a ferver no interior da caixa, para matar qualquer pulga

– não utilize inseticida! É possível que encontre ovos que não eclodiram, ou restos de crias que morreram no ninho – estes devem ser também removidos. As caixas-ninho que forem ocupadas não deverão ser abertas ou verificadas durante a reprodução, pois isso pode causar o abandono pelas aves – mas pode e deve observar as entradas e saídas dos progenitores, a uma distância segura, e deliciar-se com o vai e vem constante dos pais, cheios de larvas e insetos no bico para a sua prole! Por vezes, as caixas-ninho são ocupadas por vespas ou outros insetos – nesse caso não há muito a fazer, o melhor é deixar que estes usem a caixa durante a primavera-verão, e depois remover qualquer estrutura (vespeiro, etc.) no inverno. E boa sorte! Comece agora a preparar as suas caixas-ninho, e diga-nos se estas foram ocupadas por alguma ave (ou envie-nos as suas fotos)! Autor: José Pedro Tavares

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Olá! Nesta edição, o que propomos é pura diversão! Põe à prova as tuas qualidades de observador com uma bio-adivinha, um sudoku especial e não só. E enquanto esperas pela próxima Pardela, diverte-te e participa na página do Facebook do Clube dos Juvenis SPEA. Pede ajuda aos teus pais!

Pedro Alvito

www.facebook.com/Clube.Juvenis.SPEA

1 Por Pedro Alvito

Adivinha...

O RaFlEPex é um animal inventado que vive nos lugares mais estranhos e adora comer sopa. Consegues adivinhar quais os animais que constituem as várias parte do corpo deste nosso amigo? Observa bem a imagem e em baixo faz corresponder as partes do corpo ao animal.

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Animal

SOLUÇÕES: cabeça - rato; tronco - flamingo; patas - elefante; cauda - peixe.

Parte do corpo


Sudoku das aves

Por Pedro Alvito e Sílvia Nunes

SOLUÇÕES

2

Conheces o jogo sudoku? Não? Então, não te preocupes porque nós ajudamos e vais ver que é divertido! O objetivo deste jogo é descobrires os três símbolos do logotipo do «Clube Juvenis SPEA» que estão em falta em cada um dos pontos de interrogação (?). Como? É muito simples e as regras são as seguintes: não podes repetir nenhum símbolo na mesma linha, coluna ou quadrícula (limitada pelas linhas mais escuras). Agora, é só juntar os pais ou os avós e mãos à obra!

Leitores Juvenis

A Amélia, que agora já tem 5 anos, gostou muito de participar na Pardela com uma foto da sua tartaruga feita de castanhas. Desta vez aceitou o desafio de ilustrar as suas observações e enviou-nos o seu «pássaro de Natal». E tu, quando aceitas o desafio? Envia-nos os teus desenhos, adivinhas, histórias ou outras propostas para a revista Pardela (ver contactos na página 4).

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Faísca

A ciência das aves O que sabemos hoje das aves limícolas do estuário do Tejo? Coordenado por Teresa Catry e Maria Dias Fuselo Limosa lapponica

C

Inês Catry

om uma área de cerca de 320 km2, o estuário do Tejo é uma das zonas húmidas mais importantes para as aves, na Península Ibérica. Zona de invernada e migração de milhares de aves, o maior estuário português tem sido também palco de muitos projetos de investigação científica. As aves limícolas são as espécies mais emblemáticas do estuário e, também por isso, as mais estudadas. Muitos investigadores, de diferentes equipas, aqui passaram (e continuam a passar) muitas horas de observação ao telescópio, com lama até aos joelhos. E ao longo dos últimos 20 anos foram sendo publicadas muitas teses e artigos científicos, dos quais destacamos aqui alguns resultados (a lista completa dos trabalhos pode ser vista em sites.google.com/site/acienciadasaves).

Localização estratégica

Todos os anos, milhares de aves limícolas chegam ao estuário do Tejo durante o outono, «fugidas» das condições adversas das áreas de reprodução no norte da Europa e Ásia. Aqui encontram temperaturas mais amenas e alimento abundante, que as mantém «em forma» durante todo o inverno. Para aqueles que invernam mais a sul, o estuário do Tejo serve apenas como local de passagem, estando muito convenientemente localizado no centro da rota migratória, entre as áreas de reprodução e as zonas de invernada na costa ocidental africana.

Ao ritmo das marés

Qualquer observador de aves mais experiente sabe bem que, quando quer observar aves limícolas, tem de consultar primeiro uma tabela de marés para saber onde e quando as pode encontrar. E no estuário do Tejo isso é particularmente verdade – com uma área entre-marés de cerca de 100 km2, as aves chegam a mover-se 20 km por dia entre as zonas de alimentação (os bancos de vasa que ficam expostos na maré vazia) e de descanso (geralmente salinas ou sapais, localizadas

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logo acima do nível da maré cheia). As aves tentam, no entanto, minimizar esta distância. Um estudo feito nas salinas de Vasa-Sacos e de Vale-de-Frades, no qual foram marcados 570 pilritos-comuns Calidris alpina, mostrou que as aves preferem comer nos bancos de vasa localizados perto dos seus refúgios de maré-alta (em geral num raio inferior a 5 km), desde que estes tenham alimento em quantidade. Para algumas espécies, a maré dita também os movimentos das aves no estuário durante o período de baixa-mar. Estudos detalhados mostraram que o milherango Limosa limosa, o pilrito-comum ou o alfaiate Recurvirostra avosetta tendem a seguir a maré, alimentando-se preferencialmente junto à linha de água.


Teresa Catry

O impacto humano no estuário

Teresa Catry

Localizado às portas de Lisboa, o estuário do Tejo tem vindo a sofrer, nas últimas décadas, um aumento bastante acentuado da presença humana. Isso é particularmente óbvio na margem sul, que compreende uma extensa área fora dos limites da Reserva Natural e da Zona de Protecção Especial e, portanto, sem qualquer proteção legal, mesmo sendo utilizada por uma grande percentagem de aves limícolas durante o Inverno. Um dos impactos mais negativos do crescimento populacional foi o desaparecimento e degradação dos refúgios de preia-mar, geralmente localizados em salinas ou sapais. Esta terá sido provavelmente uma das causas do declínio de algumas espécies de limícolas, no estuário nos últimos 30 anos, como o pilrito-comum, a tarambola-cinzenta ou o perna-vermelha. Quem visita o estuário, há pelo menos 10 anos, não pode deixar de notar o aumento do número de mariscadores nas zonas entremarés. A sua presença no habitat de alimentação das aves pode também ter um impacto negativo, sobretudo pela perturbação direta que causam. As espécies de maior dimensão, que tendem a ser mais sensíveis à presenca humana, são as mais vulneráveis. No entanto, esta atividade não parece ter grande impacto nos stocks de lambujinha, a principal espécie de bivalve consumida pelas aves, não sendo assim uma fonte de competição direta por alimento.

Margem sul do estuário do Tejo: a possível coexistência entre as aves e o homem do Tejo: a possível coexistência entre as aves e o homem

As lamas são todas iguais?

Diferentes espécies de limícolas têm preferências distintas no que respeita ao tipo de sedimento (mais ou menos vasoso), à presença de bancos de ostras e de canais, ou ao tempo de exposição das suas áreas de alimentação, sendo por isso encontradas em algumas zonas do estuário do Tejo mas não noutras. Naturalmente, esta distribuição é resultado da abundância e disponibilidade das presas preferenciais. Estas escolhas podem também dividir machos e fêmeas de uma mesma espécie, como é o caso do milherango, em que as fêmeas tendem a concentrar-se em áreas mais ricas em minhocas, a sua presa preferida, enquanto os machos, que comem maioritariamente bivalves e gastrópodes, estão mais homogeneamente distribuídos.

Predadores especializados

No estuário do Tejo, o alimento para limícolas é, de facto, abundante. Os vários estudos já feitos revelam que a maioria das espécies tem um apetite especial por minhocas-de-pesca, lambujinhas e burriés, mas várias espécies de crustáceos, como caranguejos e camarões, são também petiscos apreciados. As táticas para capturar estas mesmas presas diferem, no entanto, entre as várias espécies. Algumas limícolas, como a tarambola-cinzenta Pluvialis squatarola ou os borrelhos Charadrius sp. usam maioritariamente pistas visuais, enquanto outras, como as seixoeiras Calidris canutus e os milherangos dependem principalmente da informação tátil obtida através de um enorme número de mecanoreceptores presentes no bico.

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De uma forma geral, para estes predadores táteis, a taxa de sucesso de alimentação num dado instante dita o que as aves fazem nos momentos seguintes: quando encontram uma presa tendem a diminuir a sua velocidade e a descrever movimentos mais tortuosos. Uma vez que a distribuição das presas é muitas vezes agrupada, este comportamento tende a potenciar um maior sucesso na sua captura.

Quando anoitece no estuário

Não no seu objetivo maior, que continua a ser a divulgação do trabalho científico realizado sobre as aves em Portugal e/ou por investigadores portugueses, promovendo a conservação da natureza. Mudou, no entanto, o seu formato. A produção científica cresceu significativamente, tornando-se mais difícil e menos interessante publicar listas exaustivas de artigos sem dar ao seu conteúdo verdadeiro destaque. Começa agora uma nova fase em que destacaremos trabalhos de médio-longo termo sobre espécies ou locais, temáticas estudadas ou metodologias adotadas, com o objetivo de divulgar informação científica mais abrangente. Em complemento, manteremos um website com bibliografia de apoio a cada novo número: sites.google.com/site/acienciadasaves/. Boas leituras!

Teresa Catry

Mesmo durante a noite, a atividade não para. A baixa-mar diurna é insuficiente para obter toda a energia necessária e, assim, as aves são obrigadas a alimentar-se também durante a noite. A tarambola-cinzenta parece ser a espécie mais bem adaptada à atividade noturna, devido, provavelmente aos seus enormes olhos, que permitem uma melhor visão na escuridão. De uma forma geral, as limícolas movem-se mais devagar durante a noite, uma vez que não conseguem detetar as presas à distância e mover-se rapidamente para esses locais. Algumas espécies passam mesmo a utilizar preferencialmente estratégias tácteis à noite, o que lhes garante um maior sucesso na alimentação. Curiosamente, algumas limícolas procuram as áreas iluminadas pelos candeeiros públicos, nas margens do estuário, para se alimentarem durante a noite, o que lhes permite o uso de pistas visuais.

A rubrica «A Ciência das aves» mudou...

Pilritos-das-praias Calidris alba

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Teresa Catry

Bando misto de aves limícolas em repouso durante a preia-mar nas salinas de Vasa Sacos, estuário do Tejo.



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