As aves em revista
REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES NÚMERO 54 | 1/2017 | 2,00 € | GRÁTIS PARA SÓCIOS
Galheta AVE DO ANO 2017 P.09
Onde observar aves... NO MAR P.12
Biomimetismo INOVAÇÃO INSPIRADA NA NATUREZA P.18
Galheta © Tom Marshall (rspb-images.com)
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09
Ave do Ano 2017 A Galheta
ÍNDICE Editorial
5
Breves
8
Telescópio Opticron MM 60 ED
9
Ave do Ano 2017
Biomimetismo
A Galheta
A inovação inspirada na natureza
10
© João Martins
4
18
Observar Aves O desafio!
12
Onde observar aves... no mar
15
Panamá
18
© Vanessa Oliveira
Sinónimo de abundância
Biomimetismo A inovação inspirada na natureza
21
Terras do Priolo
Carreiras em Conservação da Natureza
23
Douro Internacional Perceção do uso de veneno na região
25
© Harum Koh
Destino sustentável em torno de uma ave
33
Berlengas Porque está a ilha da Berlenga a ficar sem chorão
27
Cabo Verde A reserva marinha de Santa Luzia, Ilhéu Branco e Ilhéu Raso
30
A Ciência das Aves
33
Carreiras em Conservação da Natureza
35
Madeira Porta de desembarque para estagiários
37
Juvenis
© Luís Custódia
O papel das aves nas redes ecológicas
Panamá Sinónimo de abundância
15 n.º 54 pardela | 3
EDITORIAL FICHA TÉCNICA
PARDELA N.º 54 | 1/2017
Relançar o “E” da SPEA Domingos Leitão Diretor Executivo da SPEA © Liberty Bird
Lembram-se, certamente, do início da SPEA, com apenas 200 sócios. Apesar de pequena, e apenas com trabalho voluntário, a SPEA dos primeiros anos realizou inúmeros eventos e projetos que revelavam a imensa capacidade dos seus sócios: Atlas das Aves Invernantes do Baixo Alentejo (1992/95), III Campanha de Monitorização de Aves Planadoras em Sagres (1994), Comité Português de Raridades (CPR) e primeira edição da Pardela (1995) e I Congresso de Ornitologia, em Vila Nova de Cerveira (1996). Este viria a ser o cunho da SPEA durante mais de 10 anos. Após a adesão à BirdLife International, em 1999, a SPEA cresceu em número de colaboradores e capacidade de intervenção, alargando a sua atividade à conservação da natureza. A segunda década da SPEA foi a dos grandes projetos de conservação, como o LIFE Sisão e o LIFE Priolo, o lançamento de programas de monitorização, como a rede de Áreas Importantes para as Aves (IBA), o Censo da Aves Comuns (CAC) e o portal PortugalAves. Estes projetos, que transformaram a SPEA numa referência nacional e internacional, foram possíveis devido, acima de tudo, aos sócios. Foram eles que maioritariamente integraram os 500 colaboradores do 2.º Atlas das Aves Nidificantes, que assumiram as 80 quadrículas do CAC, que constituíram o corpo de vigilantes das IBA Terrestres e que fizeram muito do trabalho do CPR e do Noticiário Ornitológico. Depois veio a crise económica. A SPEA tem conseguido superar a crise, muito à custa dos grandes projetos LIFE e similares, que permitiram à organização manter a estrutura e continuar a produzir resultados de conservação. Mas o mesmo não tem acontecido nas áreas da produção científica e do envolvimento dos observadores, onde a crise económica teve um duplo efeito negativo. Por um lado, os cortes de financiamento levaram à redução da capacidade de promover, formar e mostrar resultados da monitorização das aves e, por outro, a crise em Portugal levou à redução da disponibilidade dos colaboradores voluntários. Chegámos à terceira década da SPEA com um défice de concretização em projetos como o Atlas das Aves Invernantes, CAC, IBA e CPR. Uma prioridade da SPEA para os próximos anos será, sem dúvida, apostar na monitorização das aves e da produção científica. Não estamos a zero nesta matéria, pois temos os congressos, que continuam a ser marcos na ornitologia nacional, o PortugalAves/eBird, onde muitas pessoas partilham informação, e acabámos de reativar a revista Airo, que tem agora um novo formato digital e aguarda mais artigos. Mas é necessário mais para revitalizar a componente do «Estudo» na atividade da SPEA. Publicar o Atlas das Aves Invernantes, reativar o CPR e a rede de vigilantes de IBA, CAC e Atlas das Aves Nidificantes, são grandes desafios. A estratégia passa por mobilizar mais recursos internos e obter mais financiamentos. Mas, acima de tudo, necessitamos de maior envolvimento dos ornitólogos e observadores de aves. Para isso, só podemos contar convosco! Esta edição contou com o apoio publicitário de: Esteller/Swarovski Optik; Living Place; MiratecArts; Opticron
4 | pardela n.º 54
DIRETORA: Vanessa Oliveira | vanessa.oliveira@spea.pt COMISSÃO EDITORIAL: Clara Casanova Correia, Domingos Leitão, Joana Domingues, Manuel Trindade e Mónica Costa FOTOGRAFIA DE CAPA: Galheta Phalacrocorax aristotelis, Ave do Ano 2017 e uma das espécies-alvo do projeto Life Berlengas © Tom Marshall (rspb-images.com) FOTOGRAFIAS: Adelaide Alfaiate, Akos Klein, Alexandre Vaz, Ana Isabel Fagundes, Ana Almeida, Ana Cruz Correia, Daniel Montesinos, Diogo Oliveira, Don Faulkner, Eduardo Mourato, Festo, Fotojonic, Gilberto Neto, Harum.Koh, Jailson Oliveira, João Martins, João Teixeira/APBG, Joaquim Teodósio, Jorge Meneses, Joshua Taylor, Júlio Neto, Katerina Varnakova, Lennart Lennuk, Liberty Bird, Luís Custódia, Madalena Boto, Marisa Arosa, Mark Hogson, Nuno Barros, Nuno Oliveira, Pedro Geraldes, Pedro Monteiro, Ricardo Brandão, Ruben Heleno, SPEA, Stefan Berndtsson, www.thewallpapers.org , Tom Marshall (rspb-images.com) e Vanessa Oliveira. TEXTOS: Ana Almeida, Akos Klein, Ana Isabel Fagundes, Azucena de la Cruz, Carlos Godinho, Cátia Gouveia, Daniel António, Domingos Leitão, Emanuel Caires, Francisco LópezNuñez, Joana Andrade, Joana Domingues, José Miguel Costa, Joshua Taylor, Luís Custódia, Luís Pascoal da Silva, Manuel Trindade, Marta Correia, Mónica Costa, Nuno Barros, Paul Stancliffe, Pedro Geraldes, Ruben Heleno, Rui Machado, Sérgio Timóteo e Vanessa Oliveira. ILUSTRAÇÕES: Frederico Arruda, Manuel Tavares, Pedro Alvito, Pomarious (www.behance.net/Pomarious) PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda IMPRESSÃO: SIG - Sociedade Industrial Gráfica, Lda. Rua Pêro Escobar, 21 2680-574 Camarate TIRAGEM: 1200 exemplares e digital ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. PROPRIEDADE / EDITOR: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Clara Casanova Ferreira Vice-presidente: José Manuel Monteiro Tesoureiro: Michael Armelin Secretário: Vitor Paiva Vogais: Vanda Coutinho, José Paulo Monteiro, Manuel Trindade A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.
BREVES por Joana Domingues | SPEA
O festival dedicado à natureza em Sagres
Agenda em destaque ATIVIDADES E EVENTOS Biologia no Verão | todo o país 15 de julho a 15 de setembro Yoga na Lagoa Pequena 5 de agosto
Estamos a preparar o melhor festival de sempre. Serão 5 dias inteiramente dedicados à Natureza de Sagres e arredores, com atividades de observação de aves, passeios para conhecer a flora e a geologia local, passeios no mar para observar mamíferos marinhos, iniciativas para crianças, entre outras surpresas. Não
perca esta oportunidade e celebre connosco a migração das aves! Escolha as suas atividades favoritas e inscreva-se online. Esta iniciativa é uma organização da Câmara Municipal de Vila do Bispo em parceria com a SPEA e a Almargem.
De Olho nas Aves no Cabo Carvoeiro 19 de agosto e 16 de setembro
British Birdfair | Egleton, Rutland Water, UK 18 a 20 de agosto
Feira ObservaNatura | Setúbal 15 a 17 de setembro
www.birdwatchingsagres.com
World Owl Conference | Évora 26 a 30 de setembro
Eurobirdwatch17 | todo o país 30 de setembro a 1 de outubro de 2017
SPEA oferece saída pelágica aos sócios
Festival de Observação de Aves e Atividades de Natureza | Sagres 4 a 8 de outubro
24.º Aniversário SPEA 25 de novembro
CENSOS DE AVES Dias RAM
(contagens de aves marinhas)
© Nuno Oliveira
A SPEA quer continuar a motivar os observadores de aves a submeterem as suas listas de observação no PortugalAves/eBird. Desta vez iremos premiar os 15 sócios com mais espécies observadas e submetidas ao PortugalAves/eBird, em 2017, com uma saída pelágica ao largo das Berlengas, que se irá realizar em setembro de 2018.
Aproveite esta oportunidade fantástica para observar aquelas espécies menos acessíveis para a maioria dos nossos sócios, especialmente a pardela-de-barrete, a pardela-preta, o casquilho, a alma-de-mestre, o moleiro-pequeno, o moleiro-do-árctico e o alcaide, ou ainda os tão ambicionados moleiro-rabilongo e gaivota-de-sabine.
5 de agosto | 2 de setembro 7 de outubro | 4 de novembro 2 de dezembro Locais: Portugal Continental – Cabo S. Vicente (Sagres), Faro (ilha do Farol), Sines, cabo Espichel (Sesimbra), Cabo Raso (Cascais), Cabo Carvoeiro (Peniche), Praia da Vagueira (Vagos); Madeira – Porto Moniz; Açores - S. Miguel e Corvo.
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BREVES por Joana Domingues | SPEA
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Revista científica Airo com website próprio
DESCONTO 10% para sócios SPEA
Mais de 800 pessoas no 1.º ObservArribas Miranda do Douro foi o palco do ObservArribas, festival ibérico de Natureza das Arribas do Douro, entre 23 e 25 junho. Foram três dias de descontração e usufruto da natureza e cultura da região do Douro internacional. Esta iniciativa partiu de uma parceria entre o projeto Life Rupis e a Câmara Municipal de Miranda do Douro, unindo os dois lados da fronteira numa celebração Ibérica da natureza dos parques naturais do Douro internacional e de los Arribes del Duero. 6 | pardela n.º 54
A revista Airo é a publicação científica da SPEA. A revista publica artigos científicos originais sobre ecologia e conservação das aves da Península Ibérica, Macaronésia e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). A Airo foi publicada pela primeira vez em 1990 (pelo então Instituto para a Conservação da Natureza), tendo a SPEA passado a ser a sua editora em 2001 (a partir do volume 11). A Airo teve uma versão anual impressa até 2015 e a partir de 2017 passou a ter edição exclusivamente online, estando os artigos disponíveis gratuitamente num website próprio. Esta alteração visa dar maior visibilidade à publicação (com um site dinâmico e com uma
imagem renovada), mas também acelerar significativamente a publicação e disseminação dos artigos, esperando que isso constitua um incentivo para a submissão de manuscritos por toda a comunidade ornitológica. A submissão de artigos à Airo estará continuamente aberta e estes serão colocados online logo que a edição estiver concluída. Todos os artigos publicados no mesmo ano serão posteriormente incluídos num volume anual. Os primeiros artigos do Volume 24 (2016-2107) estão já disponíveis online. Visite a Airo em: www.airo-spea.com
Os novos «ninhos» da SPEA Em 2017 foram várias as mudanças de escritórios da SPEA. Primeiro foi em Lisboa, depois no Funchal e mais recentemente na ilha da São Miguel. As mudanças ocorreram por diversos motivos, mas estiveram sempre relacionadas com uma melhoria dos locais de trabalho e redução dos custos. Em Lisboa, convidamos os nossos sócios, e não só, a visitarem a nova sede e loja
na Av. Columbano Bordalo Pinheiro. No Funchal, a mudança foi para outra zona da cidade, mais moderna e com melhores condições. Neste caso, ficou apenas a tristeza de ter de deixar para trás a nossa porta personalizada dedicada ao fura-bardos. Em São Miguel, as instalações foram cedidas pelos CTT Correios de Portugal, e localizam-se na vila do Nordeste. Venha visitar-nos!
BREVES por Joana Domingues | SPEA
Cidadãos europeus querem ver mudanças na Política Agrícola Comum
Caras novas à frente dos departamentos
© Marisa Arosa
A adesão do público foi decisiva para os resultados obtidos numa primeira fase da campanha Living Land. Em 320 mil respostas ao questionário da Comissão Europeia sobre a Política Agrícola Comum (PAC), conseguimos quase 260 mil respostas apoiantes da campanha, ou seja, 80% das pessoas pronunciaram-se por uma mudança radical na PAC, de um negócio subsidiado para uma agricultura equilibrada. Um das mais antigas políticas da União Europeia, mais caras e nefastas para a nossa saúde, ambiente e animais.
Será que é desta que conseguimos uma agricultura mais amiga na natureza, da saúde e das pessoas? Mantenha-se atento, a luta das 219 organizações apoiantes da Campanha não vai ficar por aqui e, nos próximos meses, vamos tentar ter influência para que a voz dos cidadãos seja realmente ouvida e refletida na futura PAC. As entidades envolvidas na campanha Living Land, como é o caso da SPEA, irão ter novas iniciativas. Esteja atento! www.living-land.org/portuguese
Nos últimos meses houve algumas alterações na equipa da SPEA. Mudanças essas que também se refletiram na coordenação de alguns departamentos. Desde março de 2017, Ricardo Ceia assumiu a coordenação da SPEA Açores. Doutorado em Biociências pela Universidade de Coimbra, iniciou a sua carreira profissional como técnico no Life Priolo em 2016. Volta agora às origens, a coordenar o projeto Life Terras do Priolo e a SPEA Açores. Joaquim Teodósio, por sua vez, assumiu as funções de Coordenador do Departamento de Conservação Terrestre. Coordenador da SPEA Açores desde 2004, agarrou recentemente este novo desafio «mais continental», e direcionado para as aves terrestres.
Câmaras «vigiam» ninhos da Berlenga O ano de 2016 foi pioneiro na transmissão de imagens em direto, para a Internet, de ninhos de um casal de galhetas e de um casal de cagarras da ilha da Berlenga. Este ano tivemos a oportunidade de acompanhar online um ninho da Ave do Ano 2017 – a galheta. Entre fevereiro e junho pudemos observar a postura dos ovos, a eclosão das 2 crias deste
casal, e os momentos de alimentação e limpeza das pequenas galhetas, até que abandonaram o ninho. Desde o início de julho mudámos a câmara para uma nova morada, onde podemos observar as rotinas noturnas de um casal de cagarras e da sua cria recém-nascida. www.berlengas.eu/pt/ninho-ao-vivo n.º 54 pardela | 7
Telescópio Opticron MM 60 ED
Fiquei muito impressionado com o primeiro contacto com o telescópio MM 60 ED.
A
primeira coisa em que reparei foi no seu peso e tamanho; é incrivelmente leve e pequeno. A imagem é extremamente luminosa com boa luz e também bastante respeitável com luz fraca. Usei a ocular zoom de 15-45x e mesmo na ampliação mínima o telescópio teve um ótimo desempenho no meu ponto de observação local. A correção de cor é boa, oferecendo cores neutras com precisão. A focagem vai até 3,5 metros, sendo necessários 5 rotações do anel de focagem desde o foco próximo até ao infinito, tendo ainda outro anel para regulação extra fina da nitidez. Com 720 gramas o telescópio pode ser utilizado sem tripé. Isto é algo que muito me agrada e que resulta muito bem com este telescópio: desta forma consegui até seguir um falcão em voo, mantendo sempre o foco. Uma vez que o telescópio está selado com nitrogénio não tive que me preocupar em utilizá-lo em condições húmidas, mesmo após chuva forte.
Considero assim que este foi um dos melhores equipamentos para observação de aves que alguma vez usei. O formato compacto fez com que fosse ideal para o levar em viagem, pois coube facilmente na minha mala. Levei-o até Espanha e como não tive necessidade de usar tripé havia bastante espaço para o acondicionar na minha bagagem. Para além disso a performance foi soberba. Considero assim que este foi um dos melhores equipamentos para observação de aves que alguma vez usei.
10% DESCONTO para Sócios SPEA e 5% de desconto para não Sócios
Telescópio MM 60 ED
Ocular SDL 15-45
(559€)
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853. 900.
60
Sócios SPEA Não Sócios
Autor | Paul Stancliffe BTO - British Trust for Ornithology
www.bto.org NOTA: Artigo original escrito em inglês na edição da revista BTO NEWS | Winter 2016. Agradecemos a Paul Stancliffe a autorização para divulgação deste artigo na Pardela.
Torne-se Sócio SPEA Junte a sua voz à nossa e apoie o trabalho de conservação das aves e dos seus habitats. Saiba mais em www.spea.pt
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© POMARIOUS | www.behance.net/pomarious
E a Ave do Ano 2017 é… a galheta! A galheta, uma espécie de corvo-marinho que podemos observar ao longo de todo o ano na nossa zona costeira, é a ave escolhida pela SPEA como símbolo da campanha Ave do Ano 2017.
C
om esta campanha, queremos dar a conhecer a galheta Phalacrocorax aristotelis, ave marinha facilmente identificada pela sua plumagem escura com reflexos esverdeados, os seus olhos verde-esmeralda, e o seu pescoço e bico compridos. Durante o período de reprodução (janeiro a julho), os adultos em plumagem nupcial exibem uma pequena crista junto à testa. Já os juvenis são de cor castanha, com o peito, barriga, pescoço e garganta de cor clara uniforme. A principal colónia reprodutora de galheta em Portugal localiza-se no arquipélago das Berlengas, com uma população estimada em 75 casais, apresentando um ligeiro decréscimo a curto e longo prazo (dados de 2015). Também nidifica pontualmente ao longo da costa rochosa a sul do cabo Carvoeiro (Peniche), onde constrói o ninho em plataformas, fendas ou grutas geralmente abrigadas. Classificada como Vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, pouco se sabe acerca do tamanho da população nacional atual, visto o último censo datar de 2002, altura em que foram estimados 100 a 150 casais reprodutores.
A galheta é uma exímia pescadora que localiza os peixes nadando à superfície, capturando-os em mergulhos que podem durar mais de 3 minutos e atingir algumas dezenas de metros de profundidade.
Porquê galheta? Sendo uma ave pouco agressiva, o seu nome não estará associado a um comportamento agressivo, mas provavelmente ao nome dos recipientes usados em casa para servir o azeite e o vinagre, vulgo galheteiro, pois é o que faz lembrar o seu pescoço longo e ligeiramente curvado.
As suas penas são permeáveis à água, ficando as aves molhadas até à pele após os seus mergulhos de pesca. Por isso, para se aquecerem e secarem, é comum vê-las ao sol, de asas abertas durante longos períodos de tempo. Um dos locais tradicionais para fazerem isto é a Nau dos Corvos no cabo Carvoeiro, onde também repousam, chegando a concentrar-se ali às dezenas.
Devido aos seus hábitos no mar, a galheta é vulnerável a algumas artes de pesca, nomeadamente, às redes de emalhar. Não sendo conhecidos os principais locais utilizados pela espécie para se alimentar, a equipa do projeto Life Berlengas colocou nalgumas destas aves dispositivos de geolocalização que transmitem dados via rede móvel. Assim, será possível acompanhar em tempo real a localização das galhetas que se reproduzem nas Berlengas, identificar as áreas vitais da espécie e as potenciais interações com embarcações e artes de pesca. Entre fevereiro e junho foi possível acompanhar o dia-a-dia de um casal de galhetas e da sua prole em direto da ilha da Berlenga, através de uma câmara online instalada perto de um dos ninhos, no âmbito do Life Berlengas. www.berlengas.eu http://www.spea.pt/pt/participar/ campanhas/ave-do-ano-2017-galheta Autora | Joana Andrade SPEA
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© Julio Neto
Limícolas e outras aves aquáticas na Reserva Natural Local do Estuário do Douro João Teixeira / APBG
Birdwatching Observar aves: o desafio! No seguimento de um artigo publicado sobre a iniciação à observação de aves na Pardela 50, entrevistamos agora dois observadores de aves com perfis bem diferentes.
Com que idade sentiu o despertar para a observação de aves? LG: Tinha 12 anos. Foi em 1985, após uma visita ao CEMPA - Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves, que agora faz parte do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. SC: Aos 37 anos, durante uma caminhada pela Ria de Alvor, onde um dos organizadores levou um telescópio. Já lá vão sete anos! Tornou-se desde então uma atividade fascinante.
O que foi mais difícil no início? LG: Obter equipamento adequado (ótica e livros). Não se vendia em Portugal nem havia internet, pelo que tinha de ser encomendado por catálogo.
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Luís Gordinho despertou cedo para esta atividade e desde os 12 anos que se dedica à observação de aves. Trabalha há 17 anos em consultoria ambiental, encontrando-se atualmente a terminar o doutoramento sobre especiação na escrevedeira-dos-caniços Emberiza schoeniclus.
SC: Tratava-se de uma descoberta, fora da minha área de formação, logo tive dificuldade em encontrar pessoas, associações e em escolher os materiais de apoio mais adequados para mim.
O que mais o/a encanta nas aves? LG: O contraste entre a aparência frágil e imaculada de muitas espécies e a sua capacidade de ultrapassarem variadas e severas provações, parecendo encarar o stress com naturalidade. SC: A sua capacidade de adaptação e resistência aos mais diversos habitats e condições, por mais adversos que nos pareçam. Também o fenómeno da migração, sobretudo as grandes migrações, que continuam a fascinar-me. Tento compreender como animais tão pequenos, como por exemplo os passeriformes, conseguem realizar uma viagem de um hemisfério para o outro.
© Ana Cruz Correia
Sónia Cruz iniciou a sua atividade, enquanto observadora de aves, já em adulta. Sempre que tem oportunidade diz que aproveita para fazer uma saída pelágica, sendo que tem um fascínio pelas aves marinhas. A Sónia é a prova de que nunca é tarde para começar.
Que dicas úteis pode dar a quem se está a iniciar agora?
Qual a espécie que mais o/a fascina?
LG: Se não é sobretudo fotógrafo, prefira o binóculo à máquina. Concentre-se mais nos hábitos e vocalizações das espécies e menos nas aproximações e composições fotográficas.
LG: A escrevedeira-dos-caniços, que estou a estudar no meu doutoramento, tendo publicado alguns resultados que me fascinaram nas revistas Animal Behaviour e Behavioural Ecology.
SC: Procurar, na sua zona, associações ou empresas ligadas ao turismo de natureza, que desenvolvam atividades de observação de aves, bem como sites temáticos.
Qual o local em Portugal que aconselha para quem se quer iniciar na observação de aves? LG: Um local onde se possam ver de perto muitas aves grandes. Sítios com concentrações de aves aquáticas e observatórios são ideais. Por exemplo, a Pateira de São Jacinto, a Lagoa de Albufeira e a Quinta do Lago. SC: Para começar, sugiro escolher um local próximo da sua área de residência, que até poderá ser um jardim.
SC: Sempre que tenho a possibilidade de fazer uma saída pelágica, fico fascinada pelas aves marinhas. Questiono-me acerca de como é possível viver praticamente toda a vida no mar. Todavia, cada espécie tem um fascínio próprio, seja pelo seu comportamento, pela sua plumagem, vocalização e pela sua capacidade de resistência.
O que sente quando está no campo a observar aves? LG: Às vezes calma e comunhão com a natureza, outras tensão; esta pode culminar em euforia ou frustração. Sempre motivação para a incontornável e preponderante realidade quotidiana.
SC: Julgo que é comum à maioria dos observadores: um grande sentido de ligação à natureza, que nos proporciona paz e serenidade. Ao mesmo tempo, dá-me a perceção de existe muito mais vida para além do «escritório».
O que acha que pode melhorar em Portugal para que esta atividade de tempos livres se desenvolva? LG: Interessa-me o desenvolvimento qualitativo. Popularizar é fácil, por exemplo, promovendo a competição. Para a qualidade aumentar é necessário, entre outras coisas, aumentar a proporção de observadores de aves do sexo feminino. SC: Julgo que passará por uma correta identificação dos locais, com boas condições para se observar aves sem as perturbar. Se for necessário, a criação de observatórios com informação sobre aves e a sua boa manutenção, bem como a realização de atividades com as escolas e o público em geral.
Para complementar as dicas dos nossos entrevistados, deixamos aqui mais algumas que podem ser uma boa ajuda para quem está a começar.
1
Investigar sobre os locais e quais os grupos de aves mais prováveis (famílias e ordens), em vez de tentar memorizar espécies Ter um caderno de campo para anotar as características e o comportamento. Consultar o mapa das IBAS e descobrir que locais visitar e quais as melhores alturas do ano: birdwatching.spea.pt Perscrutar o horizonte ou varrer o céu com o olhar, procurar no solo, e depois apontar os binóculos ou o telescópio. Ouvir também ajuda a perceber onde estão algumas aves.
2
Procurar formas em vez de padrões de coloração
Procurar formas, comportamentos e dimensão característicos a determinado grupo de aves. Diferenciar aves que voam em grupo e isoladas. Aprender a identificar os diferentes tipos de aves pelo modo de voo.
Nota: Algumas espécies de aves apresentam plumagem variável entre machos e fêmeas e também ao longo do ano. É especialmente interessante para quem está a iniciar-se nesta atividade ter em consideração a época do ano. Por norma, os machos apresentam coloração mais «viva» durante a época de reprodução (primavera/verão), após a qual algumas espécies efetuam a muda de penas, passando a apresentar plumagens mais «simples». Um bom exemplo é o chasco-cinzento macho, que durante a época de reprodução apresenta coloração cinzenta e preta enquanto no outono apresenta uma coloração castanha, semelhante à da fêmea.
3
Vi uma ave e não a consegui identificar. E agora? Analise as notas do seu caderno de campo! Habitat da observação e época do ano. Dimensão e forma do bico. Tamanho do pescoço, cauda e pernas. Padrões de coloração. Relembre as vocalizações, caso as tenha ouvido.
4
Familiarizar-se com o jargão temático
Adquirir um guia de aves – consulte a loja SPEA. Pesquisar ferramentas online e apps (exemplos: birdwatching.spea.pt; ebird.org/content/portugal/; avesdeportugal.info; birds.cornell.edu; www.birdid.no)
5
Adquirir o seu primeiro equipamento ótico
Compre uns binóculos adequados aos seus objetivos. Compre apenas um telescópio quando tiver a certeza que lhe vai dar uso. Visite a loja SPEA e receba aconselhamento acerca do equipamento mais adequado a si.
Autores | Joana Domingues, Manuel Trindade, Mónica Costa e Rui Machado SPEA
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Observação no Cabo de S. Vicente, Sagres Katerina Varnakova
Onde observar aves... no mar As aves marinhas são normalmente dos últimos grupos a serem explorados pelos observadores, devido aos constrangimentos inerentes à sua observação. No entanto, elas são o espelho do que se esconde abaixo da superfície, e uma porta de entrada para um mundo fascinante de contemplação e conhecimento.
C
om mais de 400 espécies de aves registadas ao longo dos anos só no território continental de Portugal, é sabido (e cada vez mais promovido) que existem condições de eleição para a observação de aves neste cantinho à beira-mar plantado. Mas, por falar nisso, e no mar? Se houver gaivotas em terra, continuam a haver aves no mar? Também há riqueza e diversidade de habitats? Naturalmente que sim. Aliás, sendo que 95% do território português é oceano Atlântico, só podia ser assim.
Diversidade sobre o mar No total, reproduzem-se regularmente no nosso país 18 espécies de aves marinhas, incluindo 3 espécies
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endémicas – a freira-da-madeira Pterodroma madeira, a freira-do-bugio Pterodroma deserta, e o painho-de-monteiro Oceanodroma monteiroi. As nossas ilhas atlânticas albergam a maior parte da população mundial de cagarra Calonectris borealis, e espécies como o calcamar Pelagodroma marina, o fura-bucho-do-atlântico Puffinus puffinus, o pintaínho Puffinus assimilis ou a alma-negra Bulweria bulerii, que em Portugal apenas se reproduzem nas regiões autónomas. Em relação ao território continental, são de destacar uma população de cerca de 1000 casais de cagarra que cria no arquipélago das Berlengas e a crescente população nidificante de gaivota-de-audouin Larus audouinii na Ria Formosa. Ao longo do inverno, habitam nas
nossas águas a pardela-balear Puffinus mauretanicus, o alcatraz Morus bassanus, o moleiro-grande Stercorarius skua, a gaivota-de-cabeça-preta Larus melanocephalus e a torda-mergulheira Alca torda. Sobretudo entre agosto e outubro, muitas aves marinhas cruzam as nossas águas em direção à África Ocidental e/ ou aos mares do sul, como o moleiro-pomarino Stercorarius pomarinus, o garajau-comum Sterna hirundo ou o falaropo-de-bico-grosso Phalaropus fulicarius. Outras espécies realizam o percurso inverso, nidificando no hemisfério sul e invernando no Atlântico norte durante o verão setentrional, como são os casos da pardela-preta Puffinus griseus, da pardela-de-barrete Puffinus gravis e do casquilho Oceanites oceanicus.
Em Portugal, há assim um oceano de vida que vai muito para além da praia. Vejamos como explorá-lo.
marinhas, grandes peixes e cetáceos. A maioria das saídas pelágicas exploram sobretudo este tipo de habitats.
A observação no mar
Estas saídas são talvez a forma mais popular de se observar aves marinhas, e são sobretudo populares entre finais de agosto a meados de outubro, a partir de locais como Peniche, Sagres ou Tavira, e normalmente envolvem a utilização de engodo (chum). A observação é realizada a olho nu ou com recurso a binóculos.
Especialmente no limite da plataforma continental (até a uma profundidade de 200 m), ou nas margens dos canhões submarinos como os da Nazaré ou Portimão, as águas mais profundas, frias e ricas em nutrientes, são forçadas a subir ao longo destas verdadeiras encostas submarinas, até zonas menos profundas. Aqui, encontram o sol, e então a vida floresce. Primeiro o fitoplâncton, depois o zooplâncton, pequenos peixes pelágicos e por fim os predadores de topo como aves
Mais perto da costa, a influência dos nutrientes trazidos pelos rios reflete-se também na distribuição de aves marinhas. Tal é o caso da zona ao largo da Ria de Aveiro e da Figueira da Foz
- talvez a zona de maior importância ao nível mundial para a pardela-balear durante o verão. Já durante o inverno concentra-se nestas águas a negrola, que aqui se alimenta de bivalves nos fundos arenosos; este fenómeno também é evidente, nas zonas ao largo da costa do Estoril (foz do Tejo), estuário do Mira e Ria Formosa, sendo estas as áreas de maior concentração invernante da gaivota-de-cabeça-preta no nosso país.
Cabos «sem tormentas» Por serem locais onde o observador se encontra mais “dentro do mar”, os cabos permitem uma observação de mais perto de aves marinhas numa amplitude de visão de 1-2 milhas náuticas da costa.
Freira-do-bugio no ninho
Gaivota-de-audouin (adulto)
Pedro Geraldes
Nuno Barros
Saída pelágica
Gaivota-de-cabeça-preta
Nuno Barros
Pedro Geraldes
Pardela-de-barrete
Casquilhos
Jorge Meneses
Don Faulkner
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Desde os relatos dos marinheiros de outrora que as aves marinhas são objeto de fascínio.
nos como a passagem para sul dos alcatrazes durante o mês de novembro pode ser um espetáculo arrebatador, com a passagem de milhares de aves por hora. Recentemente, o projecto Peniche Seabird Count, assim como outras iniciativas voluntárias, nomeadamente no Cabo São Vicente, resultaram em números extraordinários e deram novo fôlego a esta actividade e à sua importância para a conservação.
Locais como Porto Moniz (Madeira), Cabo Carvoeiro, Cabo Raso ou Cabo S. Vicente, são locais que, em condições meteorológicas favoráveis - por exemplo depressões ao largo, ou ventos fortes que «encostem» as aves a terra - podem proporcionar momentos únicos de observação. Neste caso, é fortemente aconselhável a utilização de telescópio ótico (para além dos indispensáveis binóculos). Em Portugal, existe um esquema de monitorização regular de aves marinhas a partir de terra dinamizado pela SPEA (Dias RAM), de participação livre. Pode ser uma boa primeira abordagem a quem se quiser aventurar no fascinante mundo do seawatching.
Embora gaivotas, gaivinas, alcídeos e outros se possam refugiar em todo o tipo de costas e baías abrigadas, alguns portos de pesca como a Praia da Vitória (ilha Terceira), Matosinhos, Peniche, Sesimbra, Setúbal, Portimão ou Quarteira são historicamente bons locais para procurar espécies de gaivotas mais raras entre outubro e abril.
É ainda importante realçar que as épocas de migração (entre abril e maio, e entre agosto e outubro) são tradicionalmente as mais profícuas em diversidade, no entanto, fenóme-
Nestes locais, e fora da época de nidificação, um dos maiores atrativos para os observadores é a possibilidade de encontrar uma raridade. Enquanto na Madeira e nos Açores convém es-
Praias e portos de pesca
tar alerta para a presença de aves de origem americana ou subtropical, no continente as raridades potencialmente encontradas são sobretudo gaivotas e garajaus, como a gaivota-polar Larus glaucoides ou a gaivota-hiperbórea Larus hyperboreus, oriundas de latitudes mais a norte. Espécies como o alcatraz-pardo Sula leucogaster, a gaivota-marfim Pagophila eburnea, o garajau-bengalense Sterna bengalensis ou a gaivina-de-forster Sterna forsteri são exemplos de verdadeiras raridades por estas paragens, encontradas pontualmente nos últimos anos em portos de pesca, costas abrigadas e lagoas costeiras. Desde os relatos dos marinheiros de outrora que as aves marinhas são objeto de fascínio. São na verdade muito mais do que isso, são o reflexo à superfície de um mar que, infelizmente, é azul e não transparente. Se o fosse, o nosso impacto nele seria bem mais evidente. www.atlasavesmarinhas.pt Autor | Nuno Barros Birdland.pt
Pardela-balear Jorge Meneses
Alcaide Mark Hogson
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A bordo do Arrais Bruto Gaivota-hiperbórea Iván Gutiérrez Stefan Berndtsson
Vista da abóbada da floresta tropical Adelaide Alfaiate
Canal do Panamá
Panamá Sinónimo de abundância
Cidade do Panamá El valle de Antón
Situado entre duas Américas e dois oceanos, o Panamá é, por excelência, um dos locais do mundo mais ricos em biodiversidade. Duas zonas espelham bem essa riqueza - El Valle de Antón na região central e a área circundante do conhecido canal (do Panamá) - lugares escolhidos para a nossa abordagem à avifauna neotropical.
O
nosso périplo pelas florestas do Panamá começa em Valle de Antón na região central, a 120 km a oeste da capital, a cidade do Panamá. Aí, percorremos uma paisagem de montanhas e vales cobertos com florestas tropicais nubladas até aos 1000m de altitude. Depois, rumámos até à zona do Canal do Panamá, onde entrámos no domínio da floresta tropical das terras baixas.
El Valle de Antón El Valle é uma pequena vila que fica a 600 m de altitude situada na cratera
de um vulcão extinto. À sua volta ergue-se uma paisagem de montanhas com vales e encostas cobertas por florestas tropicais nubladas. Curiosamente, o local onde começámos a nossa viagem foi também o que a jornalista de ambiente Elizabeth Kolbert escolheu para iniciar a sua conhecida obra A Sexta Extinção. O alojamento do grupo ficava perto de El Valle, num local paradisíaco na floresta, onde acordamos com o canto melódico do tordo-argiloso Turdus grayi. Aqui é fácil observar colibris, papa-moscas, tanagers e euphonias
e aves de maiores dimensões como a chachalaca Ortalis cinereiceps. Um buraco na cavidade de uma árvore, possivelmente obra de um pica-pau Melanerpes sp., é reclamado por uma titira-mascarada Tityra semifasciata. Durante a nossa permanência percorremos vários locais, apreciando a riqueza luxuriante destas florestas. Perto de El Valle fica Chorro El Macho, um pequeno vale luxuriante onde observámos representantes típicos neotropicais como o momot-de-bico-largo Baryphthengus martii e o pássaro-sol Europyga gigas.
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Formigueiro-de-cauda-castanha Sciaphylax hemimelaena
Momot-de-bico-largo Luís Custódia
Luís Custódia
No Alto de La Mesa, uma zona de florestas e pastagens, deparámo-nos com uma árvore que serve de abrigo a uma colónia de oropendulas-de-cabeça-castanha Psarocolius wagleri, cujos ninhos pendurados em forma de cesto, são alvo de um dos poucos migradores nidificantes do Panamá, o papa-moscas-pirata Legatus leucophaius, que os ocupam afugentando os corpulentos proprietários. O complexo dos Altos del Maria brindou-nos também com observações interessantes. Autênticas especialidades destas altitudes, como o esquivo tucanete-de-garganta-azul Aulacorhynchus caeruleogularis, o trogon-de-barriga-laranja Trognon aurantiiventris e uma trepadeira do tamanho de um tordo, a Campylorhamphus pusillus, que com o bico bastante curvo inspeciona os líquenes da casca das árvores.
No final da estadia em El Valle, olhamos para o nosso caderno de campo e verificamos que está rico em conteúdos. Viramos a página e escrevemos «Área do Canal» - o próximo destino.
A Área do Canal A área circundante ao Canal do Panamá é constituída por uma floresta de chuvas tropicais e parte dela pertence ao Parque Nacional Soberania. O parque estende-se ao longo da margem deste do canal, e faz fronteira a norte com outra área protegida, o Monumento Natural Barro Colorado. Nesta zona de terras baixas faz mais calor, há mais humidade e não se sentem brisas como em El Valle. O nosso alojamento fica em pleno parque, numa torre que outrora foi a instalação de um radar – Canopy Tower. Aqui sente-se a verdadeira essência das florestas de
chuvas tropicais (rainforests), onde a meio da noite fomos acordados por fortes chuvadas e trovoada, e onde a alvorada está a cargo de um coro de macacos-uivadores Allouatta paliata. O último piso do hotel, ao nível da abóbada da selva, é uma excelente plataforma que proporciona vistas magníficas de um mar verde à nossa volta. No horizonte, observam-se as torres da Cidade do Panamá, mais perto fica o Canal onde passam navios a toda a hora, dando uma imagem surreal de navegarem em plena selva. Cercado por cecrópias (árvores), cujos frutos são irresistíveis para aves e mamíferos, é impressionante o número de espécies que se observa neste estrato cimeiro - tucanos, colibris, caciques e periquitos, e a colorida família Thraupidae (tanagers).
Jacana-de-carúnculas no rio Chagres Luís Custódia
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Dacnis-azul Dacnis cayana
Tucano-bico-de-quilha Ramphastos sulfuratus
Luís Custódia
Luís Custódia
Colibri-de-cauda-ruiva Galbula ruficauda
Colibri-jacobino Florisuga mellivora
Adelaide Alfaiate
Luís Custódia
Na hora do calor, é a vez de os abutres pairarem sobre a floresta, e até o raro e mítico rei-dos-abutres Sarcoramphus papa faz a sua aparição. Ao entardecer, a floresta ecoa com o canto do trogon Trogon massena e chegam vagarosamente preguiças Bradypus variegatus, colhendo as oferendas das cecrópias.
perspicillatus. Dois tinamus-grandes Tinamus major passam mesmo à nossa frente e, lá bem no alto, por entre a densa folhagem, está algo com uma plumagem críptica, o urutau-grande Nyctibius grandis.
A famosa estrada do oleoduto
O rio Chagres atravessa o Soberania e estabelece ligação com o Canal do Panamá. A nossa saída de barco proporcionou novas observações - várias espécies de garças, anhingas e o inconfundível carão Aramus guarauna. Nas águas algo turvas deste rio, habitat do crocodilo-americano Crocodylus acutus, também passam tranquilamente três raparigas a praticar stand-up paddle! Ficámos surpreendidos com a abundância de milhafres-dos-caracóis Rostrhamus sociabilis ao longo das margens, onde também observámos o guarda-rios-anelado Megaceryle torquata. Nas reentrâncias mais abrigadas, a superfície está coberta de nenúfares, local preferido da jacana-de-carúnculas Jacana jacana.
Famosa nos roteiros ornitológicos, a antiga estrada do oleoduto é paragem obrigatória em qualquer visita ao Panamá. Nesta via, lamacenta devido às chuvas tropicais, cruzámo-nos com biólogos do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical, cujo objeto de investigação era bem diferente do nosso - carraças! A estrada proporcionou observações interessantes de aves do estrato inferior da floresta, desde o motmot Electron plathyrhynchum, pássaros-formigueiros da numerosa família Thamnophilidae e uma espécie de antpitta - Hylopezus
Rio Chagres
Visitámos ainda outros locais interessantes, como a torre do Panamá Rainforest Discovery Center, onde o azul resplandecente da cotinga Cotinga nattererii sobressai na capa verde arbórea ou os lagos de águas paradas da zona do Summit - o habitat preferido da garça-arapapá Chochleariu schochlearius. Na sala de refeições do alojamento na selva, o grupo, em viagem com a Birds & Nature (birds.pt), goza os seus últimos momentos. Numa mesa ao lado, uma bióloga observa no seu computador os resultados da captura das câmaras de vigilância montvadas nas imediações, e são espantosos! Mamíferos da noite da selva - paca Cuniculus paca, pecari Tayassu tajacu e o ocelote Leopardus pardalis. Estas imagens refletem bem a floresta tropical, um mundo soberbo e cheio de surpresas, tornando ainda mais fascinante o nosso périplo pelas selvas do Panamá. Autor | Luís Custódia n.º 54 pardela | 17
Biomimetismo A inovação inspirada na natureza
Guarda-rios, a ave cujo bico inspirou a forma do comboio Shinkansen Harum Koh
Da Grécia Antiga chega-nos o mito do herói Ícaro, que construiu asas feitas de penas e cera para voar até ao sol. Leonardo da Vinci, o inventor do Renascimento, desenhou máquinas voadoras inspiradas no estudo das aves. Eiji Nakatsu, engenheiro, combinou a sua profissão e o seu hobby naquele que se tornou um dos comboios mais rápidos e silenciosos do mundo… O que é que estas três histórias têm em comum?
A
viagem entre Tokyo e Hakata, duas grandes cidades japonesas, pode ser feita a bordo do Shinkansen, um dos comboios mais rápidos do mundo. Famosos pelo seu grande rostro e design futurista, os comboios deste modelo transportam cerca de 64 milhões de pessoas por dia e, muito à semelhança do TGV francês e do falcão–peregrino Falco peregrinus quando voa a pique, atingem regularmente velocidades de 300 km/h. Velocidades desta magnitude tendem a implicar um grande desafio ao nível da redução do ruído, da vibração, e das ondas de pressão que
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se formam quando o comboio entra num túnel. Apesar disso, o mais curioso sobre o Shinkansen é que quase não se dá pela sua passagem.
De Tokyo a Hakata De uma forma geral, quanto mais rápido é um comboio, mais ruído faz. O ruído resulta do confronto (aerodinâmico) entre o ar e as estruturas que fazem a ligação à linha elétrica, os pantógrafos. Quanto maior a velocidade do comboio, mais ar este desloca e mais ruído faz. «Uma pessoa assume que o desafio para o Shinkansen é fazê-lo andar mais rápido. O desafio
para nós é fazê-lo andar silenciosamente», explicou Eiji Nakatsu, o então Diretor do Departamento de Desenvolvimento da operadora JR West, em entrevista à revista Japan for Sustainability. Para resolver o desafio, Eiji e a sua equipa foram buscar inspiração ao mais improvável dos modelos… Durante um encontro da Sociedade de Aves Selvagens do Japão, Eiji conversava sobre a fonte de inspiração que os engenheiros aéreos encontram nas aves. Em particular, ficou-lhe na memória que a família das corujas tem algumas das aves mais rápidas e silenciosas do mundo.
Acontece que as corujas possuem umas penas pequenas, que nascem na base das penas primárias das asas, e têm o bordo serrilhado. Estas geram pequenos movimentos de ar e quebram o grande vórtice de ruído causado durante o voo. Eiji conclui que o mesmo se poderia aplicar ao Shinkansen e o desenho dos pantógrafos foi atualizado, incorporando pequenas estruturas semelhantes às penas serrilhadas das corujas. Hoje, o Shinkansen atinge velocidades incríveis, cumprindo os mais rigorosos requisitos de ruído internacionais.
Biomimetismo espacial.
Ao passear nos Alpes com o seu cão, Georges de Mestral (1907-1990) verificou que as sementes da bardana Arctium lappa se agarravam fortemente ao pelo do cão e à sua própria roupa. Mestral verificou que a adesão das sementes se fazia por meio de micro-ganchos. E esta foi a inspiração para o sistema do velcro: uma das partes consiste em pequenos ganchos e outra oferece uma superfície onde estes se podem prender. A NASA foi dos primeiros utilizadores, integrando o velcro em presilhas para prender objetos soltos em condições de gravidade-zero; no interior dos capacetes, para permitir aos astronautas coçar o nariz; nas botas e nos fatos, incluindo a luva do astronauta John Young nas missões Apollo.
Pude ver em primeira mão que a solução obtida por um supercomputador acaba por ser semelhante àquela encontrada no mundo natural. Eiji Nakatsu Comboio Shinkansen www.thewallpapers.org
Penas serrilhadas Lennart Lennuk
De Osaka a Hakata Motivados pelo seu sucesso, a equipa de engenheiros da JR West dedicou-se à resolução de um outro desafio: «Quase metade da linha [de Osaka a Hakata] é composta por túneis. Quando um comboio atravessa um túnel estreito a grandes velocidades, gera ondas de pressão capazes de afetar residentes a 400 metros de distância», explicou Eiji Nakatsu. Concluindo que este fenómeno deveria ser causado pelas diferenças
na resistência do ar dentro e fora do túnel, Eiji e a sua equipa resolveram seguir o mesmo processo segundo o qual havia resolvido a questão do ruído: «Existiria algum ser vivo capaz de gerir mudanças bruscas na resistência do ar no seu quotidiano», questionou-se Eiji. A resposta foi imediata: «O guarda-rios». Uma espécie residente na Península Ibérica, o guarda-rios Alcedo atthis mergulha do ar na água para capturar as suas presas, sem causar salpicos. Perguntou-se se a causa seria o bico esguio e afiado. A série de testes que se seguiu revelou que a forma ideal para o Shinkansen seria quase idêntica à do bico do guarda-rios. «Pude ver em primeira mão que a solução obtida por um supercomputador acaba por ser semelhante àquela encontrada no mundo natural,» concluiu o engenheiro.
O caso do Airbus. A Airbus é uma empresa líder na produção de aviões comerciais e militares. Em 2016, produziu por encomenda um total de 49 aviões, o que reflete o sucesso da sua unidade de inovação. Tal como o Shinkansen, as asas dos aviões da Airbus mimetizam as penas serrilhadas das corujas, para reduzir o ruído aerodinâmico no seu modelo A380, e as asas das águia-das-estepes Aquila nipalensis para reduzir o tamanho dos aviões em conformidade com os regulamentos internacionais, mantendo a integridade e a velocidade de voo. Por fim, já no domínio militar, os aviões da Airbus estão desenhados para mimetizar a formação de voo das aves (em forma de seta), para poupar combustível da mesma forma que as aves poupam energia: aproveitando as correntes de ar. «Como consequência, o consumo de combustível e as emissões dos aviões da Airbus exibem uma redução de 70% nos últimos 40 anos, sendo essa redução de 75% para o ruído», conclui a porta-voz da Airbus.
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O Biomimetismo é a disciplina que procura resolver problemas humanos com base no estudo e imitação das soluções, estratégias, e designs gerados pela Natureza... A sabedoria da Mãe Natureza Histórias como a de Eiji Nakatsu e do Shinkansen são o fundamento que serve de base a uma ciência relativamente recente: o Biomimetismo ou Biomimética. Em princípio, o conceito não é novo, mas só no século passado é que esta ciência começou a ser encarada mais seriamente, em parte porque vem associada a movimentos ambientalistas. «O Biomimetismo é uma disciplina que procura resolver problemas humanos com base no estudo e imitação das soluções, estratégias, e designs gerados pela Natureza durante os 3 800 milhões de anos de evolução», explica Miguel Prazeres, docente e investigador no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. «Propõe-se a explorar, de forma racional e sistemática, os mecanismos e funções da Biologia e aplicá-los à engenharia, arquitetura, design, etc.» Ao aprender o que a Natureza já descobriu, é possível criar soluções sustentáveis e eficientes. A companhia aérea Airbus considera o Biomimetismo uma abordagem integrada à inovação envolvendo biólogos e engenheiros. E acrescenta: «O objetivo não é simplesmente imitar a Natureza, mas compreender e procurar inspiração nas soluções e estratégias dela, o que pode exigir vários anos de pesquisa e desenvolvimento», explica a porta-voz. São inúmeras as aplicações desta nova ciência. Adesivos ultrarresis-
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tentes, inspirados nas patas das osgas; implantes à base de fosfatos de cálcio, inspirados na composição do osso; pavimentos de hospitais inspirados na estrutura das barbatanas de tubarão ou dos ovos do peru-do-mato Alectura lathami, que não permitem o alojamento de bactérias, aliam-se ao design de drones para controlo das populações de aves em zonas urbanas.
Drone Smartbird Festo
um polímero chamado politereftalato de etileno ou PET) para manter a sua integridade. A sua estrutura inspira-se no padrão de crescimento das fibras de uma variedade de pinheiro, o pinheiro-silvestre Pinus sylvestris L. O Logoplaste Innovation Lab teve acesso ao estudo das fibras de pinheiro-silvestre através da rede do Instituto de Biomimetismo, materializada no website AskNature. «O trabalho da Logoplaste foi testar se estes princípios de design funcionariam aplicados como um sistema estrutural numa garrafa de PET», explica Carlos Rego, Gestor de Design e Especialista em Biomimetismo no Logoplaste Innovation Lab. A inovação da estrutura da garrafa Vitalis, inspirada nas fibras do pinheiro-silvestre, permite poupar mais de
Drones e robots Modelos como o Bird-X, o Bionic Bird, o Robop, o Robobird, e o pioneiro SmartBird em forma de falcão-peregrino ou gaivota já são usados, por exemplo, para afastar aves mais pequenas de aeroportos e assim evitar acidentes relacionados com o embate de aves com estruturas humanas. A versão mais recente do SmartBird, criação da Festo, já consegue descolar, voar e aterrar sozinho, sendo praticamente independente.
O Biomimetismo em Portugal Em Portugal, grande parte da inovação biomimética vem do 3Bs Research Group, associado à Universidade do Minho. «Neste momento, o Grupo está envolvido em diferentes projetos, nomeadamente em mimetizar o osso, tendão e menisco, através de células estaminais e materiais biodegradáveis de origem natural», explica Rui Reis, diretor do 3Bs. Também a garrafa Vitalis alia a Biologia à Engenharia de Materiais, ao utilizar menos matéria-prima (de
250 toneladas de matéria-prima na produção da garrafa. São 250 toneladas de PET que não são produzidas nem lançadas na Natureza. Este é um exemplo claro de sucesso e de sustentabilidade económica e ambiental, da inovação inspirada nas estratégias altamente eficientes da Natureza, fruto de milhares de milhões de anos de evolução.
Autora | Daniela António Comunicadora de Ciência no Instituto Superior Técnico
Terras do Priolo Destino sustentável em torno de uma ave
Percurso pedestre ao Pico da Vara Joaquim Teodósio
As Terras do Priolo, concelhos de Nordeste e Povoação na ilha de São Miguel, possuem belezas naturais únicas, entre as quais se destaca o priolo, ave que apenas pode ser observada neste território. Entres os habitats, é de ressalvar a floresta Laurissilva dos Açores, as turfeiras do Planalto dos Graminhais, uma das maiores em extensão do arquipélago, e a Paisagem Protegida das Furnas, para além de áreas costeiras e marinhas relevantes.
N
este território podem encontrar-se um conjunto de tradições açorianas muito vivas, como as festividades do Espirito Santo e um rico património edificado que incluí o farol e a igreja mais antigas dos Açores. Nele é possível encontrar também excelentes oportunidades para quem quer usufruir da natureza de modo ativo, através de atividades, como os percursos
pedestres, birdwatching, mountain biking, canyoning entre outros.
equilíbrio com a conservação do património natural e cultural.
As Terras do Priolo detêm o galardão da Carta Europeia de Turismo Sustentável em Áreas Protegidas (CETS) desde 2012, que premeia o esforço coletivo para a promoção de um turismo sustentável que permita o aumento do bem-estar das comunidades em
Durante 2011, foi definida a Estratégia e um Plano de Ação para o Desenvolvimento do Turismo Sustentável com 55 ações para o período de 2012 a 2016, com mais de 100 empresas e pessoas individuais envolvidas e que anualmente são convocados para um Fórum de revisão do mesmo.
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Farol do Arnel Joaquim Teodósio
Priolos Pedro Monteiro
Chegámos agora ao final desse período de implementação deste Plano de Ação, e é altura de fazer um balanço dos resultados: Foram realizadas 66% das ações propostas e 19% encontram-se em desenvolvimento. 45 Empresas locais associaram-se à promoção do turismo sustentável através da Marca Priolo, assumindo um compromisso voluntário. Foram criados diversos materiais e ferramentas de promoção e informação turística sobre o território divulgados em pontos de informação colocados nas empresas associadas à Marca Priolo. Promoveram-se atividades que valorizaram a cultura e as tradições do | Parceiros CETS Terras do Priolo
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Artigos da marca Priolo
06 a 12 novembro 2017 Lajes do Pico, ilha do Pico, Açores
Joaquim Teodósio
território assim como os seus valores naturais. Além das ações de recuperação de habitat do Life+ Terras do Priolo, foram recuperados elementos do património edificado do Nordeste e áreas naturais na paisagem protegida das Furnas. Formaram-se mais de 30 agentes turísticos nos valores naturais do território. Melhorou-se a acessibilidade aos locais de interesse turístico. Monitorizou-se a satisfação e o impacto dos visitantes nas áreas protegidas para conhecer melhor as suas necessidades e reduzir possíveis impactos negativos em áreas sensíveis.
Durante o ano de 2016, foi definida uma nova Estratégia e Plano de Ação (2017 – 2021) com 77 ações. O processo de renovação da CETS foi liderado pela Direção Regional do Ambiente e incluiu a Direção Regional do Turismo, a Direção Regional dos Recursos Florestais, a Câmara Municipal de Nordeste, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, a Associação de Turismo dos Açores, o Geoparque Açores, a Associação para Desenvolvimento Local do Nordeste e o Observatório Microbiano dos Açores e aguarda-se agora o resultado. www.azores.gov.pt/GRA/ srrn-cets Autora | Azucena de La Cruz SPEA | Parceria e Cofinanciamento Life Terras do Priolo
Parque Natural do Douro Internacional (vista do Penedo Durão, Freixo de Espada à Cinta) Gilberto Neto
Douro Internacional Perceção do uso de veneno na região Um estudo no Parque Natural do Douro Internacional mostrou que o veneno pode estar a ser utilizado para matar animais selvagens, mesmo que as comunidades da região não aprovem o seu uso. Porém, existem oportunidades para melhorar a situação nesta região, e aprender com este exemplo.
O
uso de veneno é um problema no mundo inteiro, e mais particularmente na região mediterrânica. No verão de 2016, viajei para o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), no âmbito da minha tese de mestrado, integrada no projeto Life Rupis, para estudar o uso de veneno em relação às mortes dos animais. No processo, aprendi muito sobre a cultura, as pessoas e a diversidade
faunística desta região, no nordeste de Portugal. Entender o uso de veneno no PNDI é fundamental porque ali habitam importantes populações de aves de presa que podem ser afetadas, como o britango, a águia-perdigueira e o milhafre-real, estando as duas primeiras classificadas como espécies em perigo. O uso de veneno pode afetar estas aves de modo direto, através do consumo de carcaças
envenenadas, ou de modo indireto, ao se alimentarem de animais que comsumiram carcaças envenenadas. Porém, existe uma falta de evidências das razões pelas quais as pessoas utilizam o veneno. Com o apoio de técnicos e voluntários da SPEA, da Associação Transumância e Natureza (ATN) e da Palombar, visitámos 13 aldeias e cidades dentro do Parque Natural.
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Britango Ricardo Brandão / CERVAS
A oportunidade de trabalhar com as comunidades para preservar a natureza no Parque Natural e a área em torno não deve ser perdida.
O trabalho, na região nordeste de Portugal, em que aproximadamente 200 pessoas foram entrevistadas, mostrou que embora a maioria das pessoas não gostassem de usar veneno, a prática ainda é corrente, apesar de pouco frequente. Entretanto, este trabalho descobriu que, geralmente, o veneno não é usado com o objetivo de atingir as aves de presa, mas sim outras espécies, tais como raposas, lobos ou outros animais. Por outro lado, muitas pessoas reconheceram que não utilizariam veneno considerando o risco que representa para a saúde humana e os animais. Esse posicionamento apresenta uma oportunidade para colaborar com as comunidades para melhorar a conservação na área, particularmente destas aves em perigo. No entanto, o trabalho com as comunidades do PNDI nem sempre foi fácil. Várias pessoas manifestaram o seu desconforto com as autoridades do Parque e o seu trabalho. Às vezes, estas opiniões basearam-se no desconhecimento das atividades do 24 | pardela n.º 54
Parque, incluindo a ideia de serem introduzidos animais silvestres, quando isso de facto não aconteceu. E verificámos que há pessoas que moram na área do PNDI que não gostam mesmo desta estrutura. Apesar das dificuldades, a oportunidade de trabalhar com as comunidades para preservar a natureza no Parque Natural e a área em torno não deve ser perdida. Durante este trabalho, muitas das pessoas nas aldeias que visitámos mostraram vontade em comunicar e participar. Assim, este trabalho sugere a formação de grupos comunitários que possam participar no processo de tomada de decisões relacionadas com o Parque. Também é importante que a SPEA e os parceiros do Life Rupis continuem com os programas de educação sobre o uso de veneno, complementados com informação sobre as atividades do parque. Consideramos ainda que um aumento da fiscalização, prevista no projeto, contribuirá para evitar que se continue a utilizar veneno, por vezes de
Um morador a ser entrevistado Joshua Taylor
forma indescriminada, apesar de se saber que é uma atividade ilegal. Portanto, esta investigação apresenta alguns desafios e oportunidades para o trabalho de conservação no Parque Natural do Douro Internacional. As mensagens-chave, da necessidade de envolver as comunidades nos processos de tomada de decisão e da importância de entender a motivação por detrás de um comportamento ilegal, podem ser aplicadas em diversos contextos de conservação. Autor | Joshua Taylor Mestrando do Imperial College London | Cofinanciamento
| Coordenação
| Parceiros
www.rupis.pt
Berlengas Porque está a ilha da Berlenga a ficar sem chorão?
Faixas de chorão nas Berlengas (Bairro dos Pescadores) Ana Isabel Fagundes
O chorão é considerado uma das 100 piores espécies invasoras do mundo, tendo sido introduzido nas Berlengas na década de 1950. Em 2014, o chorão já ocupava cerca de 38.533 m2, mas o esforço das equipas do Life Berlengas já permitiu a remoção de mais de 50% do chorão existente na ilha da Berlenga, o equivalente a quase 2 campos de futebol!
O
chorão Carpobrotus edulis é uma planta originária da África do Sul, introduzida em vários países por motivos ornamentais e medicinais e para conter o movimento de dunas e controlar a erosão do solo. No entanto, a impressionante capacidade de propagação e de produção de sementes, levou a que o chorão rapidamente colonizasse grandes áreas, tornando-se uma planta invasora nos locais onde foi introduzido. Em Portugal, o chorão também se alastrou de forma descontrolada ao longo de praticamente
toda a costa e ilhas, sendo considerada uma espécie invasora desde 1999.
Era uma vez…
petes, trazendo consequências sérias para a germinação, sobrevivência, crescimento e reprodução das outras plantas.
A história do chorão nas Berlengas teve início nos anos 50 do século XX. Foi plantado junto do bairro dos pescadores mas, sem qualquer constrangimento à sua propagação, rapidamente se alastrou por várias encostas da ilha. Embora as suas flores criem um bonito cenário na paisagem da ilha, o chorão altera as propriedades químicas do solo e forma densos ta-
Quando o Life Berlengas teve início, em junho de 2014, o chorão na ilha da Berlenga ocupava uma área total de 38 533 m2. Desde então, a SPEA, os parceiros do projeto e muitos voluntários têm procedido à remoção do chorão na ilha, em especial nas encostas do carreiro do Mosteiro, no bairro dos pescadores, na área de campismo e na Flandres. n.º 54 pardela | 25
Trabalho nas falésias com o apoio de cordas
Voluntário removendo chorão
Ana Isabel Fagundes
Fotojonic
Cordas, preciosas ajudantes Procurando minimizar os efeitos da erosão, as grandes manchas de chorão estão a ser removidas de forma faseada. A remoção é efetuada por faixas ao longo das curvas de nível, com o chorão removido a ser enrolado e deixado a secar por cima do tapete de chorão imediatamente abaixo. A remoção é quase toda efetuada manualmente, apenas com o apoio de uma moto-roçadora para fazer um corte ao longo do topo da faixa a remover. Desta forma, pretende-se evitar o crescimento do chorão, devido ao peso e pressão efetuado pelo rolo de chorão removido. Inicialmente, as faixas eram de 2 a 4 metros de largura e apenas alguns meses depois é que foi removida a restante faixa de chorão, o que pode ser efetuado em uma ou duas passagens. Nas falésias, o trabalho é
mais complicado e implica a utilização de cordas para garantir a segurança das equipas. A remoção tem sido efetuada preferencialmente entre outubro e maio, evitando assim a época de floração e frutificação do chorão, e consequentemente a dispersão de sementes.
Esforço contínuo O esforço das equipas do Life Berlengas para remover esta espécie invasora tem sido intenso e até final do ano 2016, os grupos, que variam entre 1 a 8 pessoas, já tinham dedicado 204 horas ao arranque de chorão, o que representa um esforço total de 1350 horas. Com todo este trabalho as equipas já conseguiram remover cerca de 40% do chorão existente na ilha. Em 2017 já foi possível aumentar a área removida para perto dos 50%.
Aproveitamos para agradecer aos mais de 100 voluntários e aos vigilantes da Reserva Natural das Berlengas que têm despendido energia no combate a esta planta exótica de carácter invasor, relembrando que até ao final do projeto, previsto para 2018, continuaremos a remover chorão, com a esperança de um dia voltar a ver as encostas da Berlenga embelezadas com a sua vegetação natural. www.berlengas.eu Autora | Ana Isabel Fagundes SPEA
CHORÃO | Com as suas folhas muito densas e raízes fortes, o chorão é uma importante ameaça à conservação de plantas mais raras, como as campainhas-amarelas Narcissus bulbucodium e as endémicas arméria-das-berlengas Armeria berlengensis, herniária-das-berlengas Herniaria berlengiana e pulicária-das-berlengas Pulicaria microcephala, todas com crescimento lento, que não lhes permite competir com o chorão. O chorão também representa uma ameaça para as aves marinhas, nomeadamente a cagarra, pois o tapete que forma reduz o número de cavidades disponíveis para fazerem o ninho. © Eduardo Mourato
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Cabo Verde A reserva marinha de Santa Luzia, Ilhéu Branco e Ilhéu Raso Santa Luzia
Branco Raso
Arquipélago de Cabo Verde
Acampamento de vigilância de tartarugas - Santa Luzia Alexandre Vaz / Madalena Boto
Após três anos de trabalho na Reserva de Santa Luzia, alcançámos os resultados pretendidos. Em conjunto com parceiros locais, é tempo para começar a segunda fase de um projecto ambicioso para melhorar a conservação da calhandra-do-raso e ajudar a implementar o plano de gestão da maior reserva marinha de Cabo Verde.
C
onhecidas em Cabo Verde como ilhas Desertas, este conjunto de ilhas com uma ilha principal e dois ilhéus, bem como as ricas águas em seu redor, constituem a maior reserva marinha do país. A ilha de Santa Luzia é a maior, com cerca de 15 km de extensão e é considerada como a única ilha desabitada do arquipélago, apesar de algumas tentativas de colonização em séculos anteriores. Com montanhas rochosas, planícies pedregosas, e muitos quilómetros de costa, a sua vida marinha é rica e cheia de endemismos (espécies que só ocorrem aqui). As suas praias de areia deserta, que se estendem por muitos quilómetros, tornam esta ilha
num dos mais importantes locais de nidificação de tartarugas-bobas Caretta caretta do Atlântico. A presença humana foi, no entanto, responsável pela presença na ilha de populações de gatos e de ratos, que levaram ao desaparecimento de colónias de aves marinhas e de populações de alguns répteis endémicos. Nos vizinhos ilhéus do Branco e do Raso, já a sua inacessibilidade e condições de vida mais difíceis serviram como factor de protecção da fauna local, e ainda hoje não existem aqui quaisquer mamíferos introduzidos, pelo que as aves marinhas e os répteis terrestres se mantêm abundantes.
A calhandra-do-raso Alauda razae, ex-libris do arquipélago, é uma das aves mais raras e ameaçadas do mundo e apenas existe no ilhéu do Raso. Destacam-se as grandes colónias de cagarra-de-cabo-verde Calonectris edwardsii, de almas-negras Bulweria bulwerii e de rabijuncos Phaethon aethereus. A calhandra-do-raso Alauda razae, ex-libris do arquipélago, é uma das aves mais raras e ameaçadas do mundo e apenas existe neste pequeno ilhéu com cerca de 2 km de diâmetro.
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Rabijunco no ninho Alexandre Vaz / Madalena Boto
Cagarra-de-cabo-verde Pedro Geraldes
A encaminhar uma tartaruga perdida para o mar após a construção do ninho e desova
Praia da Ponta Branca, Santa Luzia Alexandre Vaz / Madalena Boto
Algumas ameaças pairam sobre a fauna sensível destas ilhas. Estas vão desde as alterações climáticas que conduzem a períodos de seca mais severos e prolongados, até à poluição marinha, à introdução de espécies invasoras e à utilização de artes de pesca ilegais ou mesmo matanças directas de aves marinhas e tartarugas. Apesar da criação da Reserva em 1990, estas ameaças mantiveram-se e, recentemente, o governo de Cabo Verde criou um plano de gestão para esta área, que esperamos poder compatibilizar os usos locais com a sustentabilidade da ilha e a preservação da fauna e flora locais.
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Jailson Oliveira
Conhecer para proteger Entre 2013 e 2016, a SPEA coordenou um projecto financiado pelo CEPF (Fundo de Parceria para os Ecossistemas Críticos) e, em conjunto com os seus parceiros, Biosfera 1 e RSPB (Royal Society for the Protection of Birds), efectuou vários estudos sobre a ecologia e a fauna locais, as suas ameaças e as necessidades de recuperação. Durante estes anos foi determinada a dieta dos predadores presentes, a distribuição e abundância de répteis terrestres e das principais colónias de aves marinhas. Todo o projecto foi elaborado com a perspectiva de passar conhecimento para os técnicos locais e de ampliar a
capacidade da Biosfera 1 (www.biosfera1.com). Houve o cuidado de envolver as comunidades locais de pescadores, não só explicando os objectivos dos trabalhos, mas também convidando-os a participar nas actividades sempre que possível. Conseguiu-se assim estabelecer uma relação de confiança de parte a parte, essencial para uma futura gestão da reserva sem conflitos inultrapassáveis.
Conservação em acção Passados estes três anos, é a altura de pôr em prática o plano de gestão e as medidas prioritárias identificadas durante o projecto. Assim, mantendo
Calhandra-do-raso Pedro Geraldes
Saída de pescadores para o mar em Santa Luzia
Marcação e biometrias de joão-preto (alma-negra)
Marcação de alcatrazpardo com GPS logger
Pedro Geraldes
Pedro Geraldes
Pedro Geraldes
Um dos objectivos principais será o de translocar a calhandra-do-raso do ilhéu do Raso para a ilha de Santa Luzia e aí estabelecer uma nova população.
Evolução da população de calhandra-do-raso
1500 1200
os mesmos parceiros que conseguiram bons resultados no passado e acrescentando a parceria com a Direcção Nacional de Ambiente de Cabo Verde, vamos agora remover as espécies invasoras mais prejudiciais, regrar as visitas à reserva e criar um sistema de vigilância eficaz, dotado das melhores condições de trabalho e meios para a equipa desta Reserva Natural. A Fundação MAVA apoia esta nova fase, que irá decorrer até 2020, e a SPEA vai procurar colaborar novamente com o CEPF e ainda com o GEF (Global Ecological
Coordenação |
Parceiros |
Fund) para ampliar os resultados desta segunda fase do projecto. Um dos objectivos principais será o de translocar a calhandra-do-raso do ilhéu do Raso para estabelecer uma nova população na ilha de Santa Luzia, de forma a contribuir para salvar uma das espécies mais ameaçadas do mundo! santaluzia.spea.pt Autor | Pedro Geraldes SPEA NOTA: Por pedido do autor, este artigo não segue o Acordo Ortográfico de 1990
525 100 2002
2004
2006
2008
2010
2012
Anos Referência: M. de L. Brooke, pers. comm. and Brooke, M. de L., Flower, T.P., Campbell, E.M., Mainwaring, M.C., Davies, S. & Welbergen, J.A. 2012. Rainfall-related population growth and sex ratio change in the Critically Endangered Raso lark Alauda razae. Animal Conservation 16: 466-471. DOI: 10.1111/j.1469-1795.2012.00535.
Financiamento |
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A Ciência das aves O papel das aves nas redes ecológicas Autores | Ruben Heleno, Sérgio Timóteo, Luís Pascoal da Silva José Miguel Costa, Marta Correia e Francisco López-Nuñez Coordenação | Teresa Catry e Maria Dias
T
odas as aves dependem de plantas, não só como alimento, mas também para outras atividades importantes, como para se esconderem de predadores ou para construírem o ninho. Claro que há aves que se alimentam de insetos ou de outros animais, mas mesmo estas acabam por depender indiretamente da energia armazenada pelas plantas e que depois flui através dos vários níveis de consumidores até aos predadores de topo. No entanto, estas cadeias tróficas não são tão lineares como aprendemos na escola. Na verdade, todas as espécies dependem de interações positivas (mutualistas) e negativas (predação ou parasitismo) com muitas outras espécies ao seu redor, formando uma complexa rede de interações biológicas. Assim, a esmagadora maioria das plantas também precisa de animais para sobreviver. Um dos exemplos mais óbvios destes mutualismos é a polinização, em que insetos e aves transportam os genes de plantas protegidos dentro de grãos
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As aves desempenham um papel importante, enquanto elemento das cadeias tróficas, pois conseguem desempenhar funções tão diversas, mas que ao mesmo tempo podem ser tão unificadoras, no sentido em que promovem a ligação entre os vários níveis dessas cadeias.
de pólen entre as flores de plantas vizinhas, permitindo a reprodução sexual e a manutenção da diversidade genética. Outro serviço muito importante que as aves prestam às plantas, é o de dispersarem as suas sementes e, consequentemente, a próxima geração de plantas. À primeira vista, podemos pensar que as plantas estão sempre no mesmo sítio, mas isso é apenas um engano devido à nossa curta noção temporal. Basta ver, por exemplo, a velocidade com que as plantas invasoras, como as acácias, avançam rapidamente no território, colonizando os habitats nativos e pintando de amarelo grande parte das zonas costeiras e serras portuguesas. Mas as plantas nativas também beneficiam da «boleia» das aves, sobretudo, para recolonizar zonas destruídas, por exemplo, por incêndios, derrocadas ou inundações. Enquanto o serviço de polinização é normalmente «pago» pelas plantas em forma de néctar, o serviço de dispersão de sementes é «pago» com a nutritiva polpa dos frutos carnudos como as amoras, medronhos,
camarinhas, heras, etc. Além de pólen e frutos, as aves são ainda fundamentais para mover nutrientes, solo, ovos de invertebrados e esporos de muitos outros organismos, fazendo assim, de uma forma muito literal, o mundo «andar à roda».
Das espécies para os processos ecológicos Uma mudança de paradigma Nas últimas décadas, a perceção de que todas as espécies estão direta e indiretamente dependentes de todas as outras à sua volta, levou a uma reorientação dos esforços de conservação das espécies per se. A conservação e restauração dos ecossistemas funcionais começaram a ser pensadas no sentido
Beija-flor-de-são-tomé Anabathmis newtoni a levar flores de uma bananeira, na ilha de S. Tomé Ruben Heleno
Papa-moscas-das-galápagos Myiarchus magnirostris a dispersar um fruto de Zanthoxylum fagara Ruben Heleno
da manutenção dos processos ecológicos, das espécies e de ecossistemas dinâmicos e viáveis, a longo prazo. Para compreender estas redes de interações biológicas, os ecólogos adaptaram e desenvolveram técnicas de análise de redes complexas, em que cada espécie é representada como um nó ligado a outros nós por interações biológicas que permitem a sobrevivência e reprodução das espécies. A vantagem desta abordagem de redes é permitir o estudo de comunidades inteiras, revelando assim a estrutura e funcionamento de toda a comunidade, sem esquecer o papel individual de cada uma das espécies que a compõe. No grupo de investigação de redes ecológicas do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, usamos esta abordagem
As aves fascinaram naturalistas e cientistas desde sempre mas, para além do seu valor intrínseco, elas desempenham diariamente muitos papéis fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas.
para estudar as causas e consequências de importantes processos ecológicos como a polinização, o controlo biológico, a perda de biodiversidade, a restauração de habitats, a «refaunação» (também conhecida por assilvestramento ou rewilding) e a dispersão de sementes por aves.
Frugivorismo e dispersão de sementes em Coimbra Os estudos de longo-prazo são imprescindíveis para compreender a dinâmica temporal de muitos destes processos ecológicos. Com este objetivo, desde 2012 que estudamos um fragmento de floresta bem conservada perto de Larçã, a norte de Coimbra. Como muitas outras florestas em
Portugal, esta resultou da regeneração natural após o abandono da agricultura e mais recentemente do declínio do pinhal. Atualmente é uma floresta dominada por carvalhos e medronheiros, com um sub-bosque diverso e por isso muito utilizado por aves, especialmente migradoras. Neste local, estamos a estudar pela primeira vez uma rede de dispersão de sementes ao longo de vários anos, o que tem permitido perceber em detalhe o funcionamento deste serviço e como este afeta a regeneração natural das florestas. Um dos mitos que foi possível desconstruir foi que apenas as aves «frugívoras» são importantes para dispersar sementes. Desde 2012, já contabilizámos, em Vale Soeiro, 4872 sementes de 27 espécies de plantas encontradas em excremen-
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tos de 16 espécies de aves. Muitas destas aves são, sem surpresa, toutinegras Sylvia spp. e melros Turdus merula que podem chegar a dispersar até perto de 10 espécies de sementes num único excremento, mas uma parte das plantas conta com os serviços de aves consideradas «insectívoras» ou «granívoras», como por exemplo papa-moscas Ficedula hypoleuca e Muscicapa striata, pica-paus Dendrocopos major e verdilhões Chloris chloris. Apesar da eficácia destas interações «não-convencionais» ser normalmente baixa, pois muitas sementes são destruídas pelas aves, a sua importância ecológica é potencialmente relevante devido à abundância destas aves, resultando assim na dispersão de um grande número de sementes com e sem adaptações específicas para atrair estes dispersores. Também conseguimos demonstrar que, para caracterizar devidamente estes processos ao nível de toda a comunidade, é essencial realizar um elevado esforço de amostragem para que os padrões obtidos espelhem a estrutura real das comunidades. Por exemplo, apenas com uma boa amostragem se podem identificar corretamente núcleos de es-
pécies unidas por interações mais frequentes (módulos de interações). Este elevado esforço de amostragem também permitiu quantificar, pela primeira vez, o transporte de sementes no exterior do corpo de passeriformes migradores. Este é um fenómeno raro, mas potencialmente importante mesmo
As aves fascinaram naturalistas e cientistas desde sempre mas, para além do seu valor intrínseco, elas desempenham diariamente muitos papéis fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas. para sementes sem adaptações específicas a este tipo de dispersão (ganchos, espinhos ou substâncias pegajosas), e que ainda assim conseguem apanhar «boleias» nas penas de aves. As aves fascinaram naturalistas e cientistas desde sempre mas, para além do seu valor intrínseco, elas desempenham diariamente muitos papéis fundamentais para o funcionamento
dos ecossistemas. As redes ecológicas foram e vão continuar a ser uma ferramenta muito útil para compreendermos, cada vez melhor, estes processos complexos.
© Daniel Montesinos
Autores | da esquerda para a direita e de cima para baixo: José Miguel Costa está a desenvolver o doutoramento sobre a formação e colapso de redes de dispersão de sementes. Marta Correia está a desenvolver o doutoramento com redes de fungos micorrízicos-plantas-dispersores de sementes. Sérgio Timóteo está em pós-doutoramento post-doc. Trabalha com redes multilayer no Parque Natural da Gorongosa, Moçambique. Francisco López-Nuñez está a desenvolver doutoramento usando redes ecológicas para o planeamento e monitorização de controlo biológico. Ruben Heleno é investigador do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, onde coordena o grupo de redes ecológicas, com projetos em Portugal, Galápagos, São Tomé e Príncipe, Seychelles e Moçambique. Luís Pascoal da Silva terminou recentemente o doutoramento em redes de polinização e dispersão de sementes por aves.
© Ruben Heleno
Rede de dispersão de sementes (Larçã, Coimbra) Esta figura representa uma rede mutualista que quantifica as ligações entre as espécies de aves dispersoras e as espécies de sementes dispersadas. A largura de cada espécie é proporcional à sua importância enquanto dispersor ou semente dispersada e a largura das ligações (links) são proporcionais à frequência de cada interação. As aves migratórias estão representadas a amarelo, parcialmente migratórias a azul e residentes a preto.
Espécies de aves (em cima, da esquerda para a direita): papa-moscas-preto Ficedula hypoleuca, rouxinol-comum Luscinia megarhynchos, papa-moscas-cinzento Muscicapa striata, felosa-de-bonelli Phylloscopus boneli, felosa-musical P. trochilus, felosa-das-figueiras Sylvia borin, toutinegra-carrasqueira S. cantillans, papa-amoras-comum S. communis, rabirruivo-de-testa-branca Phoenicurus phoenicurus, pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula, toutinegra-de-barrete-preto S. atricapilla, melro Turdus merula, cia Emberiza cia, estorninho-preto Sturnus unicolor, rouxinol-bravo Cettia cetti, chapim-azul Cyanistes
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caeruleus, charneco Cyanopica cyanus, tentilhão Fringilla coelebs, pardal Passer domesticus, toutinegra-dos-valados S. melanocephala. Espécies de sementes (em baixo, da esquerda para a direita): medronheiro Arbutus unedo, espargo-bravo-menor Asparagus acutifolius, briónia Bryonia dioica, pilriteiro Crataegus monogyna, trovisco Daphne gnidium, figueira Ficus carica, Poaceae sp. 1, madressilva Lonicera implexa, murta Myrtus communis, junco-solto Juncus effusus, aroeira Pistacia lentiscus, beldroega Portulaca oleracea, Poaceae sp. 2, gilberdeira Ruscus aculeatus, sanguinho-das-sebes Rham-
nus alaternus, oliveira Olea europaea, granza-brava Rubia peregrina, amor-de-hortelão Galium aparine, madressilva Lonicera periclymenum, cássia-branca Osyris alba, amoras-silvestres Rubus ulmifolius, lentisco Phillyrea angustifolia, amieiro-negro Frangula alnus, rosa-brava Rosa canina, marmeleiro Cydonia oblonga, salsaparrilha-brava Smilax aspera, bunho Scirpoides holoschoenus, folhado Viburnum tinus, sabugueiro Sambucus nigra, erva-moira Solanum nigrum, buganha Tamus communis, coentrilha Torilis arvensis, videira Vitis vinífera. Adaptado de Costa et al. 2014 J. Avian Biol. doi:10.1111/j.1600-048X.2013.00271.x
Carreiras em Conservação da Natureza
Como podemos ajudar jovens conservacionistas a construir uma carreira? Falar de carreiras em conservação da natureza em Portugal tem sido uma conjugação de palavras difícil. O reduzido mercado de trabalho nesta área, associado à desadequação de muitas ofertas formativas e à ausência de um aconselhamento profissional leva a que muitos jovens conservacionistas se sintam desmotivados, logo desde o início da sua vida profissional.
Segundo grupo de formandos (Hungria, abril 2017) Akos Klein
A
mudança de paradigma no ensino superior, resultante da implementação do processo de Bolonha, levou a uma uniformização dos conteúdos e à criação de novas ofertas formativas como forma de as universidades reagirem às dificuldades financeiras que atravessam. O impacto que a diferença no investimento na educação entre países cria não é negligenciável, levando a desigualdades no acesso a um mercado de trabalho que já é global. Pela ausência de um aconselhamento de carreira, até os estudantes
mais talentosos e com melhores conhecimentos já têm sentido um «balde de água fria» ao chegarem ao mercado de trabalho. Na maioria dos casos, não estão familiarizados com a dimensão e estrutura do setor, não possuem as competências transversais necessárias, desconhecem as necessidades dos empregadores e, acima de tudo, falta-lhes experiência prática.
Soluções comuns O projeto Careers in Nature Conservation procura assim ajudar estudantes a alcançar os seus objetivos em
relação à conservação da natureza, ciência, educação e emprego, alertando estudantes e gestores de carreiras para o mundo do trabalho relacionado com a gestão da biodiversidade. O setor da conservação da natureza não se pode dar ao luxo de perder especialistas bem preparados, apenas porque falharam a entrada no mercado de trabalho por não terem tido o CV correto, uma adequada entrevista de emprego ou as competências requeridas. Muitas destas competências podem ser facilmente adquiridas a partir do momento em que se ganhe consciência da sua importância.
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Louva-a-deus
Joaninha
Akos Klein
Akos Klein
Primeiro grupo de formandos
Segundo grupo de formandos (Hungria, abril 2017)
(Évora, outubro 2016)
Akos Klein
Vanessa Oliveira
No âmbito deste projeto europeu, cofinanciado pelo programa Erasmus+, e coordenado pela Barn Owl Foundation (Hungria), com a parceria da Universidade de Elte (Hungria), da SPEA e da Universidade de Évora (Portugal), e da Ambios e Universidade de Exeter (Reino Unido), foi criado um website de e-learning gratuito, que oferece a oportunidade a todos os estudantes, e não só, de adquirirem competências transversais que lhes aumentam a empregabilidade. Também desenvolvemos conteúdos vocacionados para os gestores de carreira que necessitam de informação adicional sobre a biodiversidade e as tendências do
| Cofinanciamento
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setor e, parte destes conteúdos foram testados em formações presenciais com alunos oriundos dos três países parceiros do projeto.
Recurso Educacional Aberto Uma vez que o website do projeto é um Recurso Educacional Aberto, está verdadeiramente disponível para o desenvolvimento da comunidade. As pessoas interessadas podem adicionar as suas ideias, cursos e vídeos do youtube ao website na esperança de que, juntos, possamos ajudar jovens conservacionistas a verem os seus sonhos alcançados e, eventualmente, a fazerem mudanças positivas
| Coordenação
| Parceiros
no mundo. Além do website, foi também criada uma página de Facebook, onde todos os membros do Grupo podem partilhar novidades sobre emprego, formações, oportunidades de voluntariado, ou seja, tudo o que possa interessar a quem queira desenvolver a sua carreira em conservação da natureza. careersinconservation.elte.hu www.facebook.com/ groups/1116238188424571
Autores | Akos Klein Barn Owl Foundation e Carlos Godinho LabOr/ICAAM – Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora
Madeira Porta de desembarque para estagiários
Voluntários numa atividade para sócios SPEA
Numa altura em que os jovens enfrentam dificuldades em encontrar experiências profissionais que possibilitem o desenvolvimento das suas aptidões, os programas de estágio e voluntariado europeus e internacionais são uma alternativa apelativa. Na Madeira, a SPEA também tem tido um importante papel na receção destes voluntários e estagiários, ao abrigo de programas como o Erasmus+, estágios profissionais ou bolsas de governos estrangeiros. Conheça algumas destas experiências, na primeira pessoa.
H
á quem não ignore as 22 vezes que Darwin referiu a Madeira n’A Origem das Espécies, e veja no arquipélago da Madeira uma oportunidade para desenvolver as suas capacidades e descobrir o mundo da biologia e da sustentabilidade. E os jovens que nos deixam aqui o seu testemunho mostram-nos porque quiseram seguir os passos deste naturalista.
A parceria da SPEA com a BirdLife International, que consideram a maior organização de conservação da natureza do mundo, foi o que motivou Antón Álvarez e Daniel García, naturais da Galiza, para estagiarem durante seis meses na Madeira. Para Gisela Racero, de Barcelona, é a paixão pela natureza que a move e viu na SPEA uma forma de valorizar o património natural, ao «contribuir
em diferentes ações de conservação e assim evitar que espécies de aves e os seus habitats fossem ameaçados». No caso de Sara Gomes, o trabalho final de licenciatura em Biologia na Universidade de Aveiro conduziu a uma aproximação ao trabalho da SPEA Madeira. «Estagiar na SPEA seria uma ótima oportunidade para iniciar o meu percurso enquanto bióloga». E assim foi!
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Voluntários na Madeira SPEA
Para muitos destes jovens, a SPEA proporcionou o seu primeiro contacto com a Biologia a nível profissional.
Na sede da SPEA Madeira SPEA
Já Bairon Alday veio do Chile para fomentar o turismo sustentável através do projeto STARS (Sustainable Tourism Agents in Rural Societies). Devido à sua formação em arquitetura, as suas motivações eram diferentes e pretendia «conhecer as áreas de vocação social e recolher toda a informação possível desta experiência», potenciando o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Os primeiros passos Para muitos destes jovens, a SPEA proporcionou o seu primeiro contacto com a Biologia a nível profissional. Após três anos focados nos livros, para Sara o estágio foi a oportunidade de transformar a teoria em prática. Apesar do contraste de um início difícil, em que não conhecia a ilha nem as aves residentes, agarrou o desafio e adquiriu conhecimentos e experiências únicas. Estas primeiras experiências profissionais fazem-se anteceder, muitas vezes, de algum receio. «O maior desafio talvez tenha sido o choque
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inicial de bióloga praticamente formada, mas sem uma ideia do que me esperaria após a conclusão da licenciatura». No entanto, esta foi uma dificuldade ultrapassada pela boa integração na equipa e o que aprendeu no estágio. «Saí ainda mais apaixonada e motivada para trabalhar na conservação da avifauna», conclui Sara. Para Gisela, a intenção era que o estágio se traduzisse em aprendizagens. «Queria introduzir-me tanto quanto possível no mundo das aves, já que para mim este era, até então, quase desconhecido».
De braços abertos A SPEA Madeira, através de estratégias de educação não-formal tem repetidamente conferido novas dinâmicas que contribuem para uma melhoria do processo de ensino e aprendizagem de mais de 60 jovens ao abrigo de programas europeus. Numa relação vantajosa para ambas as partes, a equipa da SPEA tem beneficiado do apoio destes jovens nas mais diversas ações, desde a recolha de dados sobre a distribuição
de aves marinhas e terrestres, a ações de educação ambiental, e ainda de uma melhoria na nossa própria capacidade de entreajuda e formação. No fim destes intercâmbios, a bagagem dos estagiários acaba por regressar cheia de novas experiências e conhecimentos e a família SPEA «expande-se» para outras paragens, com novos embaixadores do nosso trabalho, criando um sentido comum de consciencializar para a preservação da biodiversidade global. voluntariosnamadeira.blogspot.pt/ Autores | Emanuel Caires e Cátia Gouveia SPEA
Agradecemos a todos os voluntários e estagiários que integraram a nossa equipa e que nos têm ajudado a contribuir para a conservação das aves e habitats da Madeira.
Pássaro-Tempo 1 Ajuda a nossa galheta a descobrir o
caminho para a sua comida preferida Por Ana Almeida (texto) e Frederico Arruda (ilustração)
Olá a todos, eu sou o corvo-marinho-de-crista, galheta para os amigos, e fui eleito mascote do Projeto Life Berlengas. O arquipélago das Berlengas foi o local que escolhi para ser a minha casa pois aqui posso explorar os seus habitats rochosos e construir o meu ninho nas escarpas. Mas há mais, sou também a Ave do Ano 2017 da SPEA! As Berlengas são um local mágico e cheio de vida, por isso, convido-vos a virem comigo explorar estas ilhas e descobrir mais sobre todos os que lá habitam!
Podes espreitar como foram os meus dias no ninho neste vídeo www.vimeo.com/215212963 e ver como está a minha vizinha cagarra, www.berlengas.eu/pt/ninho-ao-vivo. Sabe mais em www.berlengas.eu. n.º 54 pardela | 37
Pássaro-Tempo 2 BirDominó, o dominó das aves Por Pedro Alvito e Vanessa Oliveira
É tempo de verão e férias e nada como um novo jogo para brincar. O Pedro Alvito, um dos mentores do Clube Juvenis SPEA, criou o BirDominó – o dominó das aves! Este dominó segue as mesmas regras do jogo tradicional, e com ele aprenderás a identificar as características dos grupos de espécies incluídas, e a conhecer melhor essas aves. (NOTA: PODES VER TODAS AS AVES DO BIRDOMINÓ EM PORTUGAL).
© Pedro Alvito
Entretanto, a Laura de 4 anos já começou a jogar ao BirDominó! E tu, quando é que começas? Aqui, só conseguimos mostrar algumas peças, mas o jogo completo está disponível para impressão na página web da Pardela:
© Ana Almeida
www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela
Leitores Juvenis Manuel Tavares, 7 anos O Manuel Tavares, de 7 anos, partilhou connosco esta linda poupa, e tu também podes enviar os teus trabalhos para a Pardela. Participa e diverte-te em família com os desafios e novidades do Clube Juvenis SPEA. Sabe mais em:
www.facebook.com/ClubeJuvenisSpea
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ES 80 GA ED
MM4 GA ED
Desenhado e construído para ser um “best in class”, desempenho ótico e fiabilidade combinadas com excelentes oculares à escolha. 30 anos de garantia.
Desenhado e fabricado no Japão, o novo MM4 GA ED tem uma superior transmissão de luz e resolução no mesmo corpo compacto, leve e à prova de água. 30 anos de garantia.
ES 80 GA ED/45 3749 HDF T 20-60x ocular 3259, ocular SDLv2 20-60x 3389 Capa protetora 399
MM4 50 GA ED 3429, MM4 60 GA ED 3559 HDF T 12-36x/15-45x ocular 3259, ocular SDLv2 12-36x/15-45x 3389 Bolsa protetora 389
O equipamento Opticron pode ser testado e adquirido na SPEA, o nosso representante exclusivo em Portugal. Para mais informações, por favor contacte 213 220 430 ou visite-nos online em www.spea.pt/catalogo/ Opticron, Unit 21, Titan Court, Laporte Way, Luton, Beds, LU4 8EF UK Tel: +44 1582 726522 Email: sales@opticron.co.uk Web: www.opticron.co.uk