As aves em revista
REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES NÚMERO 55 | NOV 2017 - SEMESTRAL | 2,00 € | GRÁTIS PARA SÓCIOS Diretora: Vanessa Oliveira
Dar asas ao futuro EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SPEA P.28
Varanger UM PARAÍSO NO ÁRTICO NORUEGUÊS P.19
LuMinAves
© Andy Hay (rspb-images.com)
VOANDO NO ESCURO DA NOITE? P.13
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19
Varanger Um paraíso ornitológico no Ártico norueguês
04 Editorial
© Domingos Leitão
ÍNDICE
05 Breves
Algarve À descoberta do sotavento algarvio
10 Life Fura-bardos
16
Um futuro mais risonho para o fura-bardos
13 LuMinAves Voando no escuro da noite?
16 Algarve
19 Varanger Um paraíso ornitológico no Ártico norueguês
© José Frade
À descoberta do sotavento algarvio
O ano em que as emas «ganharam a guerra»
35
24 Voluntariado Ambiental Ser voluntário europeu na SPEA
28 Dar asas ao futuro Educação ambiental na SPEA
33 Juvenis 35 O ano em que as emas «ganharam a guerra»
37 SPEA Mais sócios, mais sociedade
Dar asas ao futuro Educação ambiental na SPEA
28 n.º 55 pardela | 3
EDITORIAL FICHA TÉCNICA
PARDELA N.º 55 | NOV 2017
A Pardela dos 24 anos Domingos Leitão Diretor Executivo da SPEA © Liberty Bird
Esta edição da Pardela saiu em cima da comemoração do 24.º aniversário da SPEA, que ocorreu no passado dia 25 de novembro. Com mais idade, vem normalmente mais experiência, mais responsabilidade e mais resultados. A revista Pardela mostra sempre alguns dos «mais» da SPEA. No presente número temos uma mostra do trabalho de educação ambiental que desenvolvemos, uma tarefa essencial para a formação da consciência e do gosto pela natureza dos mais (e menos) novos e que, idealmente, levará a uma cidadania mais informada e ativa. Temos também um projeto que termina, o Life Fura-bardos, com resultados importantes para a proteção daquela ave na Madeira e nas Canárias, e um projeto que começa, o LuMinAves, uma luz ao fundo do túnel para minimizar o impacto da iluminação artificial nas aves marinhas daqueles dois arquipélagos e dos Açores.
DIRETORA: Vanessa Oliveira | vanessa.oliveira@spea.pt COMISSÃO EDITORIAL: Clara Casanova Ferreira, Domingos Leitão, Joana Domingues, Manuel Trindade e Mónica Costa FOTOGRAFIA DE CAPA: Crianças em atividade de observação de aves © Andy Hay (rspb-images.com) FOTOGRAFIAS: Andy Hay (rspb-images.com), Ariana Prestes, Assomusicos, Ben Kerckx, Coralie Lozano, Cristina Medeiros (IFCN), Dariusz Sirko, Dinis Cortes, Domingos Leitão, Fran De Coster, Gilberto Neto, Gonçalo Elias, Joana Andrade, Joana Bores, Joaquim Antunes, José Frade, Liberty Bird, Maëlle Lapèze, Nicola Pestana, Nuno Oliveira, Nuno Rodrigues, Paulo Pereira Pinto, Pedro Geraldes, Pedro Torres, Ruben Coelho, SPEA, SPEA/Life Berlengas, SPEA/Life Fura-bardos, SPEA/Life Terras do Priolo, SPEA/Life Rupis, Tânia Pipa, Vanessa Oliveira TEXTOS: Alexandra Lopes, Ana Almeida, Ana Mendonça, Carlos Cruz, Cátia Gouveia, Domingos Leitão, Fran De Coster, Gonçalo Elias, Helder Costa, Joana Bores, Joana Domingues, Jesus Martinez, Laura Castelló, Mónica Costa, Paula Lopes, Ricardo Ceia, Tânia Pipa, Vanessa Oliveira ILUSTRAÇÕES: Frederico Arruda PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda IMPRESSÃO: SIG - Sociedade Industrial Gráfica, Lda. Rua Pêro Escobar, 21 2680-574 Camarate TIRAGEM: 1200 exemplares e digital PERIODICIDADE: Semestral ISSN: 0873-1124
A Pardela é sempre uma revista virada para a descoberta e para o conhecimento das aves do Mundo. Neste número convidamos o leitor a descobrir o ameno e vizinho sotavento algarvio e a fria e longínqua tundra norueguesa. Mas nesta edição há um artigo mais inesperado. Um artigo sobre a «guerra das emas», que conta uma história da primeira metade do século passado, mas que evidencia dois grandes ensinamentos, que podem ser transferidos para os dias de hoje. O perigo da utilização de soluções simplistas e de ferramentas rombas na gestão dos conflitos entre o Homem e a Natureza, e a importância da mobilização da opinião pública. Numa sociedade ocidental cada vez mais populista e imediatista, as soluções arriscadas ganham terreno sobre as soluções ponderadas e discutidas. Para contrariar esta tendência necessitamos de mais pessoas e de mais vozes em defesa das aves e da natureza. A SPEA necessita de mais sócios e a proteção da natureza de mais adeptos de olhar atento. Para isso, necessitamos que as pessoas se envolvam e se comprometam, como já o têm feito tantas vezes, também com seu espírito voluntário – que mais uma vez celebramos nesta revista, através da diversidade de autores e colaboradores, e dos testemunhos de alguns dos voluntários que têm colaborado connosco nos últimos anos, ao abrigo do Serviço Voluntário Europeu. A SPEA como organização fará a sua parte. Acreditamos que os cidadãos farão a deles. Votos de Boas Festas, com a certeza de um até breve.
DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt
DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Clara Casanova Ferreira Vice-presidente: José Manuel Monteiro Tesoureiro: Michael Armelin Secretário: Vitor Paiva Vogais: Vanda Coutinho, José Paulo Monteiro, Manuel Trindade A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.
Esta edição contou com o apoio publicitário de: Biotrails; Esteller/Swarovski Optik; Séqua Tours; MiratecArts; Opticron
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BREVES
Juntos podemos travar a venda do Diclofenac
AGENDA EM DESTAQUE VISITAS DE ESTUDO ORNITOLÓGICAS SPEA 2018 Nordeste da Grécia 21 a 29 de abril
Montesinho, Villafáfila, Douro 19 a 26 de maio
Madeira e Desertas © Ben Kerckx
Cinco organizações europeias juntaram-se e lançaram uma campanha destinada a proibir o Diclofenac para uso veterinário na Europa - especialmente em Espanha, em Itália e em Portugal, os três países da União Europeia onde reside a maioria dos abutres do continente. Este anti-inflamatório, inofensivo para os humanos, pode matar milhares de aves necrófagas que se alimentam de carcaças de animais
mortos. O uso deste medicamento não é essencial, uma vez que existem medicamentos semelhantes não tóxicos para os abutres. Esta campanha junta a BirdLife Europe and Central Asia, a SPEA, a SEO/BirdLife, a Vulture Conservation Foundation e a WWF. JUNTE-SE A ESTA CAUSA, E ASSINE A PETIÇÃO EM:
www.banvetdiclofenac.com/pt/ actua-3/
13 a 17 de junho
Castro Verde, Doñana, Algarve 30 de setembro a 7 de outubro
Senegal 01 a 11 de novembro SAIBA MAIS EM
www.spea.pt/pt/participar/actividades
EVENTOS 2018 Workshop Restauro de Ecossistemas Insulares Peniche | 29 a 31 janeiro
Assembleia Geral de Sócios SPEA Lisboa | março (data a anunciar)
Festival ObservArribas
Quantas galhetas há em Portugal? A galheta é uma espécie de corvo-marinho que nidifica na costa de Portugal Continental. O último censo desta população foi realizado há mais de 15 anos. Para atualizar esta informação, este ano a SPEA coordenou a contagem dos casais nidificantes na nossa costa continental e no arquipélago das Berlengas. No total foram contados 87 casais, continuando a ser a ilha da Berlenga o local onde a população tem maior expressão, com 55 casais. Neste momento, esta informação está a ser analisada e será reportada no final da campanha da Ave do Ano de 2017. Resta-nos agradecer aos mais de 20 voluntários da SPEA e às entidades envolvidas, entre elas Birdland e Cape Cruiser - Sagres e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Miranda do Douro | 25 a 27 maio
CENSOS DE AVES 2017/2018 Projeto Arenaria | todo o país (litoral) 01 de dezembro a 31 janeiro
CANAN | Todo o país Contagens de Aves no Natal e Ano Novo 15 de dezembro a 31 janeiro Noctua | Todo o país Programa de Monitorização de Aves Noturnas 01 de dezembro a 15 de junho
Censo de milhafre-real invernante Todo o país | 06 a 14 janeiro Censo de grous | Alentejo 15 a 17 de dezembro 2017 e 19 a 21 janeiro 2018
Atlas das Aves Nidificantes | Todo o país 15 março a 15 julho (última época)
Censo de Aves Comuns | Todo o país 01 de abril a 31 de maio SAIBA MAIS EM
www.spea.pt/pt/como-ajudar/ voluntariado/acoes-de-campo
© Andy Hay (rspb-images.com)
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BREVES
A sua quota é importante para nós e para a defesa do património natural do nosso país
© Andy Hay (rspb-images.com)
Certamente já se questionou para onde é direcionado o dinheiro da sua quota de sócio da SPEA. Esse valor está reservado para auxiliar o suporte da estrutura que permite a existência de equipas no terreno, a trabalhar nos projetos de conservação. A SPEA dispõe de uma equipa de técnicos administrativos não financiados por projetos e que são essenciais para o bom funcionamento da organização.
nização, a revista Pardela, as atividades para os sócios, o congresso de ornitologia e as infraestruturas da sede nacional. Para além dos projetos que temos a decorrer, todos os dias chegam-nos questões e alertas de incidentes relacionados com as aves selvagens, que é necessário esclarecer ou dar seguimento. Em nome da missão da SPEA, somos gratos por não se esquecer de manter a sua quota actualizada.
A quota de sócio é, assim, a base para suportar grande parte deste trabalho administrativo e de orga-
O nosso muito OBRIGADO!
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Projeto em São Tomé põe todos a dançar
®
© Assomusicos
O projeto «Criar bases para a conservação da biodiversidade única da ilha de São Tomé», mais um dos projetos em que a SPEA é parceira, com a OIKOS e a BirdLife International, está a terminar, mas não sem antes pôr todos a dançar. A música “Inem Bô” foi criada para este projeto pela ASSOMUSICOS, Associação dos Músicos de São Tomé e Príncipe, e pretende sensibilizar para a importância da conservação da biodiversidade, focando-se nas aves e na floresta. Nela participam vários artistas bem conhecidos dos Santomenses, que alertam para o desaparecimento das aves como resultado das atividades humanas, nomeadamente da desflorestação. vimeo.com/spea/inembo 6 | pardela n.º 55
BREVES
Terras do Priolo em destaque na conferência EUROPARC 2017
Um espaço dedicado às aves, perto de Lisboa
© Daniel Raposocom)
A Federação EUROPARC celebrou a sua conferência anual pela primeira vez em Portugal, no Geoparque de Arouca, com mais de 300 participantes de 37 países que, durante 4 dias, discutiram o futuro das áreas protegidas no continente europeu. A SPEA também esteve presente, dando a conhecer o trabalho em prol da conservação do Priolo, uma das aves mais raras da Europa, e na promoção do ecoturismo, mostrando alguns produtos típicos e a oferta ecoturísPUB
tica das Terras do Priolo e do Parque Natural de São Miguel. A conferência serviu também para um encontro de territórios portugueses onde a Carta Europeia do Turismo Sustentável está a ser implementada, como as Terras do Priolo, em que foram discutidos os próximos passos que irão permitir a inclusão de empresas e operadores turísticos portugueses nesta rede.
O Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena é um refúgio para algumas espécies e por isso um local privilegiado para a observação de aves. Situado no concelho de Sesimbra, bem perto de Lisboa, com a sua rede de observatórios e percursos, é um espaço que reúne boas condições para quem gosta de fotografia ou de passear num local sossegado na natureza. Marque já a sua visita guiada e deixe-se conduzir por um biólogo que lhe desvendará todos os segredos deste espaço maravilhoso.
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Condições: Disponibilidade: de quarta a domingo. Visitas em português ou inglês. Preço: 6,70 € / participante (gratuito para crianças ≤ 6 anos). Participantes: Mínimo 6 pessoas, ou pagamento de 40€; máximo 12. Marcações: através do telefone 93 998 22 92, com pelo menos 2 dias de antecedência. SAIBA MAIS EM
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BREVES
Pardela-balear em vídeo de animação
CENTRO AMBIENTAL DO PRIOLO
10 anos
sensibilizando e educando nos Açores
centropriolo.spea.pt
A pardela-balear Puffinus mauretanicus é uma das aves marinhas mais ameaçada da Europa, por ter uma população relativamente pequena, que enfrenta graves ameaças em terra (no arquipélago das Baleares onde nidifica) e no mar (onde passa grandes períodos, sendo a costa continental portuguesa uma das áreas mais importantes). O projeto Life MarPro lança agora um vídeo de animação para chamar a atenção para a situação dramática que a espécie enfrenta, diretamente ligada às capturas acidentais em artes de pesca. Situação que pode ser evitada se organizações não governamentais de ambiente e pescadores trabalharem em conjunto para encontrarem soluções benéficas para todos, tais como a colocação de pai-
néis de contraste nas redes de pesca - uma das medidas que está a ser testada pela SPEA e tem tido resultados prometedores. Nem as aves marinhas ficam presas, o que muitas vezes leva à sua morte por afogamento, nem os pescadores ficam com as suas redes danificadas. O Life MarPro é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia e pela Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem e resulta de uma parceria entre a Universidade de Aveiro, a Universidade do Minho, a SPEA, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. SAIBA MAIS EM
vimeo.com/spea/pardelabalear
Novo projeto | Mapear áreas marinhas sensíveis a derrames de petróleo Em 2017 arrancou o projeto europeu «Marine Bird Oil Mapping», um projeto que pretende mapear áreas sensíveis para aves marinhas a derrames petrolíferos, coordenado pela SEO/BirdLife), em parceria com a SPEA, a LPO (BirdLife em França), a BirdLife International e Puertos del Estado. O objetivo é 8 | pardela n.º 55
prevenir o impacto dos acidentes petrolíferos sobre a biodiversidade marinha de Portugal, Espanha e França. Pretende-se, assim, criar um mapa de sensibilidade relativamente ao risco de poluição por derrames petrolíferos e, de acordo com as áreas mais sensíveis para as aves marinhas, identificar os portos
mais seguros para o transporte de navios em risco de acidente. Estes dados serão ainda integrados nos sistemas oficiais de socorro à navegação e serão produzidas e/ou atualizadas orientações de gestão e de resposta para minimizar o impacto de acidentes petrolíferos sobre a vida marinha.
PRÓXIMOS DESTINOS
Grécia 21-29 ABRIL
Algarve 30 SET-07 OUT
Douro
19-26 MAIO
Madeira 13-17 JUNHO
Senegal
01-11 NOVEMBRO
SAIBA MAIS EM
www.spea.pt n.º 55 pardela | 9
Juvenis de fura-bardos Nuno Rodrigues
Life Fura-bardos Um futuro mais risonho para o fura-bardos Durante quatro anos, mais de 60 técnicos uniram esforços na proteção do fura-bardos. Esta era uma subespécie outrora desconhecida, para a qual foram dados importantes passos no aumento do conhecimento da sua população e ecologia.
E
ntre 2013 e 2017, o foco da equipa da SPEA na Madeira centrou-se na conservação do fura-bardos Accipiter nisus granti. Esta subespécie endémica da Macaronésia, e com distribuição restrita à Madeira e cinco ilhas de Canárias, foi alvo de um projeto de conservação financiado pelo programa Life da União Europeia. Esforços conjuntos de três entidades parceiras visaram aumentar o conhecimento
10 | pardela n.º 55
sobre esta ave, praticamente desconhecida para a ciência e para a população, e recuperar três áreas de floresta Laurissilva, degradada pelos incêndios e espécies invasoras.
O ilustre fura-bardos A recolha de dados sobre esta ave de rapina foi um desafio, ao longo de todo o projeto. Partindo de um cenário onde somente dois ninhos
eram conhecidos, foram necessárias muitas horas no terreno para recolher o máximo de informação possível e tentar saber um pouco mais sobre este «ilustre desconhecido». O comportamento esquivo desta ave é, há muito, conhecido pela população, não sendo coincidência que, na Madeira, às crianças mais irrequietas e «difíceis de apanhar» se chamem de «pequenos fura-bardos».
Desafio aceite, equipas de dois elementos percorreram as florestas da Madeira e Canárias, não só em áreas de Laurissilva mas também em zonas de vegetação mista e exótica, onde, pela densidade inferior das copas das árvores, era mais fácil observar a espécie. Quatro anos depois, a realidade é bem distinta, contando-se já com uma centena de ninhos identificados na Madeira e cerca de 350 nas Canárias. Os ninhos, construídos maioritariamente em árvores nativas como loureiros e faias, permitiram a estimativa de um mínimo de 43 casais reprodutores na Madeira e 250 casais nas Canárias.
Casa do fura-bardos, património da Humanidade A floresta Laurissilva é um motivo de orgulho para todos os madeirenses. Quer seja num passeio de fim de
Principais metas do Life Fura-bardos 1. Estudar e conhecer a ecologia e distribuição do fura-bardos. 2. Conservar o habitat do fura-bardos - a floresta Laurissilva. 3. Sensibilizar a população para a proteção da Laurissilva e do fura-bardos. 4. Assegurar um estatuto de conservação positivo para o fura-bardos.
semana, quer apenas ao contemplar o seu verde natural, quando se olha para o topo das montanhas, a Laurissilva está presente no dia a dia das ilhas. Apesar de a Madeira deter a mancha mais extensa e bem conservada de Laurissilva no mundo, ocupando cerca de 20% da área da ilha, a chegada dos primeiros colonos, em 1419, trouxe mais do que homens deslumbrados com a «pérola do Atlântico». Espécies vegetais invasoras como a giesta Cytisus scoparius,
carqueja Ulex europaeus, hortênsias Hydrangea macrophylla e coroas-de-henrique Agaanthus praecox, além da sua beleza, cor e utilidade que tiveram para as populações locais, deixaram uma marca profunda na nossa floresta nativa.
A floresta Laurissilva é um grande motivo de orgulho para todos os madeirenses.
Área das Ginjas antes do projeto
Levada na Laurissilva
Cristina Medeiros / IFCN
SPEA
Prospeção de fura-bardos
Painel informativo na área do projeto
SPEA
SPEA
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Durante o Life Fura-bardos, 47 hectares de floresta foram alvo de controlo de espécies invasoras, aos quais se somam outros 36 hectares de áreas ardidas que foram limpas e reflorestadas. Todo o processo de recuperação do habitat foi assegurado pela equipa do projeto, desde a colheita de sementes, à produção de plantas em viveiros até à monitorização das áreas intervencionadas. Estima-se que, até ao momento, 50 000 plantas devolveram o verde à floresta da ilha. Todos estes trabalhos continuam e continuarão após o término do projeto, com a constante monitorização e avaliação da eficácia dos métodos de controlo de invasoras, assim como da taxa de sucesso e de expansão da vegetação indígena.
O futuro do projeto Life Fura-bardos Os trabalhos de estudo e conservação do fura-bardos foram apenas o início de um voo que deverá ter continuidade. Embora, neste momento, o financiamento seja limitado, queremos assegurar um plano de ação e conservação que vise:
1. Garantir a tendência populacional positiva do fura-bardos na Macaronésia nos próximos 5 anos. 2.
Criar medidas de gestão e regulamentação para recuperar e manter a Laurissilva.
O Bardolas foi à escola
3. Monitorizar e estudar a ecologia do fura-bardos.
Fomentar a visão da natureza como parte integrante de comunidade é essencial para a conservação do ecossistema. Ao longo de cerca de 300 atividades de educação ambiental nas
4. Continuar a sensibilizar a população para a proteção da espécie e da Laurissilva.
escolas da região, procurámos promover o aumento do conhecimento sobre o fura-bardos e a importância da proteção da floresta Laurissilva.
Estima-se que, até ao momento, 50 000 plantas devolveram o verde à floresta da ilha. A mascote do projeto, o Bardolas, conseguiu sensibilizar 10 000 embaixadores para a distinta biodiversidade e rico património de que a Madeira é detentora, através de palestras, saídas de campo, ateliês, jogos didáticos e concursos. Este projeto teve um grande impacto na região, tendo sido amplamente difundido nos vários meios de comunicação que permitiram ecoar os objetivos e resultados do projeto pelos quatro cantos da ilha (e até além-mar). life-furabardos.spea.pt Autora | Cátia Gouveia SPEA Madeira
Exposição itinerante do projeto SPEA
Remoção de invasoras Cristina Medeiros / IFCN
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Ações de educação ambiental SPEA
LuMinAves Voando no escuro da noite? Poluição luminosa na costa sul da Madeira SPEA
As aves marinhas constituem o grupo animal mais vulnerável do mundo, sofrendo ameaças significativas, quer no meio marinho quer nas suas colónias. O projeto LuMinAves será decisivo no aumento do conhecimento sobre estas aves na Macaronésia e na redução do impacte da poluição luminosa nestas espécies. Pterodroma madeira, a freira-do-bugio Pterodroma deserta e o painho-de-monteiro Hydrobates monteiroi. IA MADEIRA
CANÁRIAS
AC
ARRONÉ
S
AÇORES
Em março deste ano, deram-se passos decisivos na conservação das aves marinhas da Macaronésia. Esforços conjuntos, que unem Canárias, Madeira e Açores (três dos quatro arquipélagos da região), através de financiamento INTERREG, originaram o projeto LuMinAves, que tem como objetivo reduzir os efeitos nocivos da iluminação artificial nas populações de aves marinhas.
M
C
onhecida pelo seu inegável valor biológico, a região da Macaronésia alberga as mais importantes populações de aves marinhas em toda a União Europeia. A falta de informação sobre a localização específica das suas colónias e efetivos populacionais, a par do impacto de predadores introduzidos e do efeito da poluição luminosa sobre os juvenis são, neste momento, as principais ameaças à conservação destas aves, onde se incluem três endemismos, que funcionam como verdadeiras espécies-bandeira: a freira-da-madeira
CABO VERDE
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Juvenil de cagarra
Recolha de aves marinhas pelos voluntários
SPEA
Nicola Pestana
Alma-negra
Colocação de unidade de gravação
Tânia Pipa
Contar aves em ilhéus e outros desafios As estimativas populacionais de espécies protegidas são indispensáveis para a sua efetiva conservação e, embora existam registos das diversas espécies, muitas das colónias de aves marinhas não são conhecidas com exatidão. O LuMinAves pretende desenvolver, pela primeira vez, um trabalho de recenseamento das dez espécies nidificantes nos três arquipélagos e determinar o seu estatuto de conservação. Este trabalho combina métodos científicos clássicos (anilhagem, captura-recaptura, escutas noturnas, prospeção direta de ninhos e censos de grupos) com outros mais modernos (unidades de gravação au14 | pardela n.º 55
Nuno Oliveira
tomática) para, nas principais colónias de nidificação, implementar uma metodologia de censo que permita conhecer tendências populacionais com um esforço mínimo. Nos três arquipélagos, será ainda registado o êxito reprodutor, parâmetros demográficos e impacto de predadores nos ninhos de três espécies: freira-da-madeira, cagarra Calonectris borealis e alma-negra Bulweria bulwerii. Nos Açores, neste ano, realizaram-se expedições às colónias de nidificação de painho-de-monteiro, nas Flores e na Graciosa, respetivamente em maio e junho. Foram colocadas unidades de gravação automática no ilhéu Sentado (Flores) e nos ilhéus da Praia e de Baixo (Gra-
ciosa) que permitirão a estimativa populacional da espécie através da correlação do número de vocalizações com o número de casais nidificantes. Foram também obtidos registos de ocorrência de painho-de-monteiro e fura-bucho-do-atlântico Puffinus puffinus na orla costeira do ilhéu de Maria Vaz (Flores) e, durante a prospeção de ninhos no ilhéu de Baixo, foi ali confirmada a nidificação de alma-negra, tratando-se da segunda colónia desta espécie identificada nos Açores e a mais setentrional no oceano Atlântico. Ao longo desta época reprodutiva têm sido ainda monitorizadas várias colónias de cagarra nas ilhas do Corvo e de São Miguel, incluindo uma no ilhéu de Vila Franca do Campo.
O primeiro voo de muitas crias de aves marinhas termina tragicamente, devido à desorientação provocada pela iluminação artificial das localidades.
Autores | Cátia Gouveia e Ricardo Ceia SPEA Madeira e SPEA Açores
Uma noite mais segura A vulnerabilidade das aves marinhas em habitats sobre-iluminados e as poupanças verificadas em projetos anteriores que contemplaram medidas de redução da iluminação (mais de 20 000 euros por ano, no caso da ilha do Porto Santo) foram decisivas no desenho deste projeto.
Como ajudar as aves marinhas? Saiba como pode fazer a diferença e juntar-se às centenas de pessoas que todos os anos ajudam a salvar aves marinhas dos nossos arquipélagos. AÇORES
A informação proveniente de imagens de satélite, de fotómetros (medidores da intensidade da luz), juntamente com a base de dados das aves recolhidas na campanha, serão as principais variáveis da equação
coordenação
cofinanciamento
O primeiro voo de muitas crias de aves marinhas termina tragicamente, devido à colisão com infraestruturas ou ao atropelamento em estradas, consequências associadas à desorientação provocada pela iluminação artificial das localidades. Neste sentido, já foram dados os primeiros passos através de campanhas de informação e recuperação de aves marinhas nos Açores, com a Campanha SOS Cagarro, e na Madeira, com a Campanha Salve uma Ave Marinha. Com cerca de 6000 aves recolhidas anualmente, em ambos os arquipélagos, tornou-se necessária a criação de uma rede mais eficaz e autónoma, com maior colaboração entre as entidades regionais, assim como a aplicação de boas práticas e conhecimentos sobre os procedimentos a adotar. A produção de uma base de
dados comum aos três arquipélagos da Macaronésia para o registo das aves recolhidas e a criação de um centro de recuperação de aves marinhas na Madeira são algumas das ações previstas no âmbito do projeto que visam aumentar o número de aves salvas.
soscagarro.azores.gov.pt MADEIRA
salvar-avemarinha.blogspot.pt
SAIBA MAIS EM www.luminaves.com
parceiros
Aves desorientadas: Mais ajuda em rede
que permitirá identificar os pontos de maior sinistralidade em cada uma das ilhas envolvidas neste projeto. O propósito é criar mapas de sinistralidade, para mais fácil identificação dos locais onde a aplicação de medidas redutoras da poluição luminosa será prioritária, e assim favorecer a conservação das aves marinhas da Macaronésia.
Anuncie na
Para anunciar neste espaço e apoiar a pardela, entre em contacto connosco. Saiba mais em bit.ly/PubPardela
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Algarve À descoberta do sotavento algarvio
Ria Formosa, vista da ilha da Culatra Gonçalo Elias
Nos últimos anos, o Algarve tem merecido particular atenção durante o período da migração outonal, época em que tem atraído à região – especificamente à zona de Sagres – um elevado número de observadores de aves. No entanto, o potencial da região não se esgota em Sagres nem nas migrações. O Algarve é uma região de excelência para a observação de aves e, devido ao seu clima ameno, oferece condições para a prática desta actividade ao longo de todo o ciclo anual. Vamos olhar mais em pormenor para a parte oriental do Algarve, muitas vezes designada como «sotavento».
A
definição sobre os limites do «sotavento» não é consensual. Para efeitos do presente texto, consideraremos que o sotavento se estende de Faro para nascente, até à foz do rio Guadiana, junto a Vila Real de Santo António. Seguidamente, apresentaremos os principais habitats existentes, assim como algumas das suas aves mais características. Começamos pela orla marítima, seguindo progressivamente para o interior.
Ilhas-barreira São cinco as ilhas arenosas que separam a Ria Formosa do Oceano 16 | pardela n.º 55
Atlântico – de leste para oeste, temos: Cabanas, Tavira, Armona, Culatra e Barreta (ou Deserta). Quase totalmente desprovidas de vegetação, estas ilhas podem, à primeira vista, parecer pouco interessantes para a observação de aves, no entanto têm a sua avifauna própria. As espécies mais características deste habitat, e que são relativamente fáceis de encontrar nas ilhas, são: o peneireiro Falco tinnunculus, a perdiz Alectoris rufa, o alcaravão Burhinus oedicnemus, a cotovia-de-poupa Galerida cristata, a calhandrinha-comum Calandrella brachydactyla e o pintarroxo Linaria cannabina. No
Inverno observam-se por vezes pequenos bandos de tarambolas-douradas Pluvialis apricaria. Em 2017, foram descobertas em duas destas ilhas-barreira (Tavira e Armona) novas populações de calhandrinhas-das-marismas Alaudala rufescens. Até então, apenas havia registos de observação desta espécie na Reserva Natural do Sapal de Vila Real de Santo António e Castro Marim. Durante as migrações, as ilhas-barreira são usadas como ponto de paragem por inúmeros migradores transarianos (especialmente passeriformes insectívoros, como petinhas, chascos e toutinegras), que aqui fa-
zem uma paragem para recuperar energia. Assim, a época de migração pode ser especialmente interessante para encontrar aves em passagem.
Durante as migrações, as ilhas-barreira são usadas como ponto de paragem por inúmeros migradores transarianos que aqui fazem uma paragem para recuperar energia. O acesso às ilhas-barreira é feito de barco a partir de Faro, Olhão, Fuseta, Santa Luzia, Quatro Águas (Tavira) ou Cabanas. Na ilha de Tavira existe ainda um acesso pedonal ao Barril a partir de uma pequena ponte em Pedras d’el-Rei (perto de Santa Luzia), aberto durante todo o ano.
Ria Formosa Designamos por ria toda a área de águas livres que se estende entre as ilhas-barreira e o território continental. Atingindo a sua maior largura em frente a Faro, a ria estende-se ao longo de várias dezenas de quilómetros, entre a praia do Ancão (a oeste) e a zona de Cacela Velha (a leste). É composta por zonas de lodos, ilhas de sapal e canais. A Ria Formosa integra o Parque Natural com o mesmo nome (o qual tem a sua sede na Quinta de Marim, perto de Olhão) e é, sem dúvida, um dos melhores lo-
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ILHAS BARREIRA 1. Cabanas 2. Tavira 3. Armona 4. Culatra 5. Barreta
Giões
INTERIOR/RIBEIRAS 19. Beliche 20. Odeleite 21. Foupana 22. Vascão
Balurcos
21
RIA FORMOSA 6. Cais Comercial de Faro 7. Quinta de Marim 8. Fuseta 9. Santa Luzia 10. Quatro Águas 11. Fábrica SALINAS 12. Olhão 13. Fuseta 14. Santa Luzia 15. Tavira 16. Forte do Rato 17. Cerro do Bufo 18. Venta-moinhos
Alcoutim
N124
Martinlongo
N124
N122
Vaqueiros IC27
20
Cachopo
Odeleite
19 N122
N124
A22
A49
17
N2
Santa Catarina São Brás da Fonte do Bispo de Alportel
N270
18
Quarteira IC4
Faro
6
Olhão
12
7
Tavira Santa Luzia
Moncarapacho
N116
A22
14 15
A22
Estói
Almancil
Monte Gordo Vila Nova de Cacela
13 3
8
9
16 1
11
10
2
Oceano Atlântico
4
5
cais do Algarve para a observação de aves aquáticas. Aqui aparece de tudo um pouco, desde garças (família Ardeidae), colhereiros Platalea leucorodia e corvos-marinhos-de-faces-brancas Phalacrocorax carbo, até águias-pesqueiras Pandion haliaetus, patos, mergulhões, limícolas, gaivotas e, por vezes, aves mais raras, como mobelhas ou gansos. Uma grande parte da ria não é facilmente visível de terra, o que significa que a única forma de lá chegar é de barco (seja nas carreiras regu-
lares que servem as ilhas-barreira, seja recorrendo aos chamados táxis aquáticos, ou ainda recorrendo aos serviços de uma das várias empresas turísticas que operam na zona). No entanto, é possível ver muitas aves a partir de terra. Os locais mais acessíveis para a observação são: o cais comercial de Faro, a já mencionada Quinta de Marim, a zona ribeirinha da Fuseta, a marginal de Santa Luzia, o embarcadouro das Quatro Águas em Tavira e o lugar da Fábrica, perto de Cacela Velha.
Salinas
Calhandrinha-das-marismas, descoberta recentemente nas ilhas-barreira José Frade
Um pouco por todo o sotavento, existem inúmeros complexos de salinas, muitas dos quais ainda em atividade (especialmente nas zonas de Tavira e Castro Marim). São locais de eleição para a observação de aves aquáticas, especialmente limícolas, mas também gaivotas, andorinhas-do-mar, garças, corvos-marinhos e flamingos Phoenicopterus roseus. Merece destaque a ocorrência regular da gaivota-de-bico-fino Larus genei, n.º 55 pardela | 17
espécie pouco comum em Portugal, assim como da gaivota-de-audouin Larus audouinii. As salinas são ainda sítios preferenciais para a observação de raridades, especialmente durante a época das migrações. De uma forma geral, as salinas concentram mais aves durante a preia-mar, uma vez que nesse período são usadas como refúgio (já na baixa-mar, muitas aves deslocam-se para os lodos entre-marés).
De uma forma geral, as salinas concentram mais aves durante a preia-mar, uma vez que nesse período são usadas como refúgio. Os complexos de salinas mais interessantes e acessíveis para observar aves aquáticas são os seguintes: Olhão, Fuseta, Santa Luzia, Tavira, Forte do Rato, Cerro do Bufo e Venta-Moinhos (os dois últimos integram a reserva natural de Castro Marim).
Borrelho-pequeno-de-coleira
Rouxinol-do-mato
Joaquim Antunes
Paulo Pereira Pinto
Papa-figos Dinis Cortes
O interior A paisagem do interior algarvio é marcadamente diferente da do litoral. No caso do sotavento, encontramos uma paisagem árida, dominada por matagais de esteva com árvores dispersas e algumas plantações de pinheiro-manso. Os principais cursos de água correm para leste, em direcção ao Guadiana – são eles as ribeiras do Beliche, de Odeleite, da Foupana e do Vascão. Podem, contudo, secar durante o período de estiagem.
É nos vales destas ribeiras que encontramos a maior diversidade de vegetação e, consequentemente, de espécies de aves. Embora possa parecer pouco interessante à primeira vista, esta zona apresenta bastante potencial ornitológico, sendo mesmo uma das melhores do país para encontrar algumas espécies que são raras num contexto nacional. Merece destaque o rouxinol-do-mato Cercotrichas
galactotes, que é razoavelmente frequente ao longo vale da ribeira de Odeleite. Outra especialidade é o andorinhão-cafre Apus caffer, cuja nidificação já foi confirmada nesta área e que se observa com alguma frequência perto de pontes. A região destaca-se ainda pela relativa abundância de espécies como o papa-figos Oriolus oriolus. Nos vales das ribeiras é possível encontrar também o borrelho-pequeno-de-coleira Charadrius dubius, o maçarico-das-rochas Actitis hypoleucos e a alvéola-cinzenta Motacilla cinerea. Para além dos locais mencionados acima, o sotavento tem muitos outros locais interessantes. Sugere-se uma pesquisa por hotspots no site PortugalAves/eBird (ebird.org/ content/portugal), o que permitirá encontrar outros locais para ver aves nesta região. Autor | Gonçalo Elias
Ribeira de Odeleite, uma das ribeiras do interior algarvio Gonçalo Elias
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NOTA: O autor não segue o Novo Acordo Ortográfico
Varanger Um paraíso ornitológico no Ártico norueguês Em 2015, a SPEA organizou uma visita ornitológica a Varanger, no extremo nordeste da Noruega, na qual participaram 10 sócios. Foi uma visita ao Alto Ártico, no início da época reprodutora. O grupo encontrou paisagens inóspitas de uma beleza inesquecível, e uma avifauna fervilhante, em plena azáfama do verão ártico. Foram observadas 125 espécies de aves em sete dias.
F
innmark é a região situada no extremo norte da Noruega. Faz fronteira a sul com a Lapónia finlandesa e a leste com a região russa de Murmansk. A noroeste é banhada pelo mar da Noruega e a leste pelo gélido mar de Barents. É a região menos populosa da Noruega e é habitada pelo povo Sami, que têm afinidades culturais com os lapões.
Varanger
RK
MA
Kirkenes
FIN
Oslo
O fiorde de Varanger e a península com o mesmo nome ficam situados no extremo leste da região, constituindo o ponto mais oriental da Europa, fora da Rússia. É uma área remota, fria e inóspita. Mas do ponto de vista ornitológico é um paraíso, situado a mais de 70° de latitude, onde podem ser observadas muitas especialidades árticas e siberianas.
Aqui fica o relato de uma visita de estudo ornitológica da SPEA a Varanger, realizada em junho de 2015. Foi um programa de sete dias (seis noites), que utilizou como base a cidade de Vadso, para explorar as margens do fiorde, as costas do mar de Barents, a tundra no interior da península e o vale de Pasvik, mais a sul.
Tundra de Varanger Domingos Leitão
n.º 55 pardela | 19
O início da viagem A viagem para Varanger foi realizada em duas etapas. Primeiro um voo Lisboa-Oslo, com uma noite junto ao aeroporto, e depois um voo interno Oslo-Kirkenes. Uns passeios à volta do hotel começaram logo a revelar aves interessantes, como o pica-pau-preto Dryocopus martius, o rabirruivo-de-testa-branca Phoenicurus phoenicurus, o tentilhão-montês Fringilla montifringilla e a escrevedeira-amarela Emberiza citrinella. Foi um aperitivo para as espécies «sumarentas» dos dias seguintes.
O país é seguro e pacífico, e pode facilmente organizar o seu itinerário ornitológico. Do aeroporto de Kirkenes até Vadso, na margem norte do fiorde de Varanger, foram três horas de carro. As estradas são boas, mas a beleza da paisagem convida a parar em todo e qualquer lado. A nossa primeira paragem foi em Karlebotn, bem na cabeceira do fiorde. A maré vazia estava cheia de limícolas, gaivotas e patos, e pelo menos cinco pigargos Haliaeetus albicilla caçavam na área. Para além das águias, foi observado merganso-grande Mergus merganser, gaivotão-real Larus marinus e gaivotão-branco Larus hyperboreus. Na paragem seguinte, num parque de estacionamento antes de Nesseby, fomos brindados
Pilrito-de-peito-preto Ruben Coelho
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Grupo que visitou a Noruega Ruben Coelho
com mais pigargos e com a primeira mobelha-pequena Gavia stellata e os primeiros moleiros-rabilongos Stercorarius longicaudus. Já às portas de Vadso, mesmo em frente ao porto, encontrámos eiders-comuns Somateria mollissima, eiders-reais Somateria spectabilis e patos-rabilongos Clangula hyemalis. Na pequena reserva natural junto ao hotel onde ficámos vimos falaropo-de-bico-fino Phalaropus lobatus e as primeiras petinhas-de-garganta-ruiva Anthus cervinus. Nada mau para uma viagem apressada pelas margens do fiorde.
As escarpas de Ekkeroy O primeiro dia de observação de aves a tempo inteiro começou cedo, mas não relativamente ao nascer do sol, uma vez que o astro-rei nascia à meia-noite e meia. O grupo estava com «fome» de aves
e, logo após o pequeno-almoço, fomos visitar a reserva natural de Ekkeroy, que não fica longe de Vadso. Trata-se de uma pequena aldeia piscatória, com as suas pirâmides de secagem de bacalhau, um pequeno escarpado costeiro e uma enorme colónia de aves marinhas. Deparámo-nos com um espetáculo de centenas de gaivotas-tridáctilas Rissa tridactyla e garajaus-do-ártico Sterna paradisaea. Estes últimos tinham ninhos no chão, por todo o lado, à beira da estrada e das casas. No local vimos também airos-d’asa-branca Cepphus grylle e um bando de 12 eiders-de-steller Polysticta stelleri. Seguimos para norte, na direcção de Vardo, com paragens na beira da estrada para ganso-campestre Anser fabalis e uma arena de combatentes Philomachus pugnax, com machos de todas as cores. Meia hora depois chegámos às portas de Vardo, uma pequena cidade ilha, que comunica com o continente por um túnel. Primeiro explorámos uma praia e uma ribeira com pilrito-de-temminck Calidris temminckii em parada nupcial, além de pilrito-de-peito-preto Calidris alpina, pilrito-pequeno Calidris minuta e pilrito-escuro Calidris maritima. Depois da «pilritada» procurámos abrigo nuns velhos armazéns de apoio à pesca do bacalhau, uma vez que o vento era insuportavelmente forte e gelado.
Equipados para o frio, chuva e vento, saímos para um mar literalmente coberto de aves. Menos de dez minutos depois estávamos a desembarcar na ilha perfumada de guano e superlotada com gaivotas, alcídeos e similares. As mais abundantes eram as gaivotas-tridáctilas, os airos-comuns Uria aalge, as tordas-mergulheiras Alca torda e as galhetas Phalacrocorax aristotelis. Depois avistámos ainda gaivotões-reais, airos-de-freio Uria lomvia e espetaculares papagaios-do-mar Fratercula arctica, todos a nidificar. Foi uma subida longa até ao planalto, não porque fosse difícil, mas porque as fotos eram muitas e muita era a admiração perante o corrupio incessante de centenas de milhares de aves. No percurso vimos ainda ganso-bravo Anser anser, ganso-marisco Branta leucopsis, eider-real, petinha-marítima Anthus petrosus e chasco-cinzento Oenanthe oenanthe. Na hora do almoço, «piquenicámos» com focas-cinzentas em primeiro plano e pombaletes Fulmarus glacialis, e orcas Orcinus orca a pescar ao largo. Foi inesquecível.
Papagaio-do-mar Ruben Coelho
Nos baixios de Vardo vimos muitos eiders-comuns, mergansos-grandes, mergansos-de-poupa Mergus serrator, airos-d’asa-branca, bem como as primeiras focas-cinzentas Halichoerus grypus. Na pequena cidade, um dos ex-libris é a colónia de gaivota-tridátila nas casas coloridas do porto. O vento forte estragou-nos um pouco a tarde, mas a exploração de alguns sapais e praias mais abrigados produziu cisne-bravo Cygnus cygnus, pato-rabilongo, moleiro-pequeno Stercorarius parasiticus, moleiro-do-ártico Stercorarius pomarinus, escrevedeira-da-lapónia Calcarius lapponicus, e umas vistas breves de foca-barbuda Erignathus barbatus. Para primeiro dia no Ártico, a lista já se estava a compor.
Torda-mergulheira
De tarde, e já no continente, continuámos para norte, para Hamningberg. Fomos por uma estrada estreita, entre uma encosta pedregosa e nevada e o mar de Barents. Primeiro fizemos uma paragem em Persfjord, um pequeno estuário com uma praia grande, onde vimos pilrito-de-temminck, gaivotão-branco e centenas de mergansos-grandes e negrolas Melanitta nigra.
Ruben Coelho
A ilha de Hornoya O dia seguinte foi um dos momentos altos da semana, com a visita à ilha de Hornoya. Uma pequena ilha ao largo de Vardo, com uma colónia de aves marinhas gigantesca. Seguimos diretos ao porto de Vardo, mas fizemos uma pequena paragem para o primeiro lagopo-ruivo Lagopus lagopus.
Airo-comum Ruben Coelho
n.º 55 pardela | 21
Para entrar na Noruega é apenas necessário o cartão de cidadão, uma vez que o país pertence ao Espaço Schengen. A aldeia de Hamningberg é um pequeno casario com telhados de colmo, no final da estrada, no meio de uma natureza avassaladora, onde parece que, além dos ossos, até o tempo congelou. Não vimos muitas aves, mas tivemos mobelhas-pequenas, tordo-zornal Turdus pilaris e escrevedeira-das-neves Plectrophenax nivalis. O dia já estava ganho, mas ainda assim houve uns sortudos que viram um grupo de golfinhos-de-focinho-branco Lagenorhynchos albirostris e duas lebres-do-ártico Lepus timidus nas traseiras do hotel.
A tundra de Varanger O dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, foi o dia da tundra. Amanheceu com um sol glorioso e sem vento. Seguimos para o interior da península de Varanger, primeiro ao longo do fiorde e depois ao longo do rio Tana. A meio da manhã estávamos às portas do parque nacional, numa paisagem sem árvores, com lagos gelados e muita neve. A partir daí fomos parando na beira da estrada e fazendo pequenas incursões nos terrenos que servem de pasto às renas Rangifer tarantus e de habitat às aves do Alto Ártico. Patos-rabilongos, pilritos-de-temminck, moleiros-rabilongos e escrevedeiras-da-lapónia foram espécies mais avistadas. As especialidades foram aparecendo a pouco-e-pouco: um pisco-de-peito-azul Luscinia svecica a (en)cantar, dois negrelhos Aythya marila, dois lagopos-cinzentos Lagopus mutus, um bando de cotovias-cornudas Eremophila alpestris e por fim três borrelhos-ruivos Charadrius morinellus em plumagem nupcial. Tudo isto temperado com rochas e gelo, num espetáculo natural inesquecível.
Renas Ruben Coelho
O piquenique foi na costa norte, em Batsfjord, com vista para um lago, com mobelhas-pequenas e mais de 30 patos-d’olho-dourado Buchephala clangula. A viagem de volta para o hotel ainda nos brindou com maçarico-de-dorso-malhado Tringa glareola e pisco-de-peito-azul, ambos muito perto e a cantar, pintarroxo-de-queixo-preto Carduelis flammea e pintarroxo-boreal Carduelis hornemanni, e duas mobelhas-de-garganta-preta Gavia arctica. Sem dúvida um dos «10 de junho» mais espetaculares que já vivi.
Gaio-siberiano Ruben Coelho
O vale de Pasvik No dia seguinte formos para sul, para a taiga, uma floresta boreal onde dominam as coníferas, os lagos e as turfeiras. Fizemos uma viagem de mais de três horas para o vale de Pasvik, um enclave norueguês entre a Rússia e a Finlândia. Pelo caminho vimos os primeiros butios-calçados Buteo lagopus. A
Falaropo-de-bico-fino Ruben Coelho
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Gaivina-do-ártico Ruben Coelho
uma paisagem inspiradora. O último dia inteiro de observação de aves foi mais relaxado. Visitámos alguns pauis e sapais na zona de Vadso e uma pequena reserva natural em Nesseby. Vimos algumas espécies que ainda não tínhamos visto, como maçarico-real Numenius arquata e papa-moscas-preto Ficedula hypoleuca, entre muitos falaropos-de-bico-fino. As aves do dia foram três moleiros-do-ártico bem visíveis, com as penas centrais da cauda em forma de colher. No dia seguinte seguimos viagem para Kirkenes e daí de avião para Oslo. Antes de regressarmos a Lisboa, passámos a tarde e a noite na cidade, que é calma e bonita.
Visitar a Noruega
Ostraceiro
Para entrar na Noruega é apenas necessário o cartão de cidadão, uma vez que apesar de não fazer parte da União Europeia, o país pertence ao Espaço Schengen.
Ruben Coelho
meio da viagem parámos num parque de merendas com vista para o paul de Ferdesmyra. Entre o esticar das pernas e um snack, conseguimos ver vários gansos-campestres, dois grous Grus grus e três corujas-do-nabal Asio flammeus.
Moleiro-do-ártico Ruben Coelho
Para sul de Kirkenes, a paisagem muda progressivamente para floresta boreal, com muita água, vidoeiros e abetos. O dia não foi muito rico ornitologicamente, mas vimos algumas espécies interessantes, tais como pato-d’olho-dourado, merganso-pequeno Mergus albellus, gaivota-pequena Larus minutus, felosa-dos-juncos Acrochephalus schoenobaenus, tentilhão-montês e cartaxo-nortenho Saxicola rubetra. O momento alto da manhã foi uma coruja-rabilonga Surnia ulula e o momento alto da tarde foi um casal de gaios-siberianos Perisoreus infaustus, que vimos e fotografámos durante o tempo que quisemos. Claramente um dia com mais estrada do que aves, mas mesmo assim algumas espécies interessantes e
O país é grande, mas com estradas e caminhos-de-ferro muito bons. Devido à enorme distância entre Oslo, no Sul, e as regiões árticas do Norte, é recomendável recorrer a voos internos. O país é seguro e pacífico, e pode facilmente organizar o seu itinerário ornitológico. No entanto, os preços de bens e serviços são muito elevados para os padrões portugueses, e a escassez de fornecedores, em particular no Norte, recomenda que se façam reservas com antecedência. Para as regiões mais remotas do Norte e do Leste poderá ser útil recorrer aos serviços de um guia local. Deve ter cuidado a circular de automóvel nos períodos mais frios, porque as quantidades de neve e gelo são imensamente superiores àquilo que estamos habituados no nosso país. O período mais adequado para as aves do Ártico são os meses de junho a agosto. Se quiser juntar às aves também as auroras boreais, deverá optar por março ou outubro. Agora, tem mesmo de ir! Autor | Domingos Leitão SPEA
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Joana Bores, Jesus Martinez, Fran De Coster Fran De Coster
Voluntariado Ambiental
Ser voluntário europeu na SPEA Já são mais de dez os voluntários de longa duração que, desde 2008, têm colaborado com a SPEA, ao abrigo do Serviço Voluntário Europeu. Depois de uma primeira parceria com a associação Rota Jovem, partilhamos agora os testemunhos dos voluntários que, numa nova parceria iniciada em 2016 com a associação SPIN, temos recebido na SPEA.
Jesus Martinez Espanha 01 setembro 2016 – 31 agosto 2017 24 | pardela n.º 55
Para mim, uma das maiores vantagens de ser voluntário é a possibilidade de combinar duas paixões ao mesmo tempo: viajar e conservação da natureza. Já foi há 9 anos que tive a minha primeira experiência como voluntário - era um jovem com muita vontade de sair da minha terra, ¨Las Hurdes¨, e partir à descoberta. Comecei por procurar trabalhos não remunerados (mas com outro tipo de recompensa), e foi assim que cheguei ao Estreito de Gibraltar: com 17 anos, de mochila às costas, algum receio do
desconhecido, mas com muita motivação, e disposto a passar centenas de horas ao sol a contar os milhares de aves planadoras que se dirigiam para África, no grande espetáculo da migração. Então, decidi percorrer grande parte do mundo em projetos de conservação da natureza, como voluntário. Consegui trabalhar com tartarugas marinhas em Cabo Verde, realizei atividades de educação ambiental na selva peruana, fui intermediário de indígenas no pantanal boliviano (sobre o seu projeto ecotu-
rístico) e construí casas de adobe em Los Yungas, também na Bolívia. Todas estas experiências fizeram-me pensar, crescer, disfrutar, conhecer, chorar, sentir… Mas a minha primeira viagem para fora de Espanha foi a Portugal, com amigos. Apaixonei-me para sempre pelo país do fado, café, bom vinho, atoalhados e fantásticas merendas mistas. É por isso que anos depois fui fazer os meus estudos universitarios no ámbito do Erasmus, época em que se está no auge da vida social. E terá sido todo este conjunto de vivências que me fez chegar à SPEA e viver esta linda experiência que é o SVE. Comecei em setembro de 2016, uma boa época para chegar a Lisboa. Contudo, no início tive algumas dificuldades: muitos nomes novos de colegas para fixar, e alguns problemas de comunicação, pois apesar de ter vivido em Coimbra, o meu português ainda não era o mais desenvolvido. Mas, aos poucos, estas barreiras foram desaparecendo. Colaborei com ambos os Departamentos de Conservação (Marinho e Terrestre), e fui conhecendo cada vez melhor o funcionamento da SPEA.
A minha primeira viagem para fora de Espanha foi a Portugal, com amigos. Apaixoneime para sempre pelo país do fado, café, bom vinho, atoalhados e fantásticas merendas mistas. E será que alguém acha que o inverno é duro em Portugal? Muitas pessoas acham que sim, mas devo dizer que o inverno se torna mais leve se estivermos no arquipélago das Berlengas. A maioria das pessoas visitam-nas no verão, para aproveitar o calor, a praia e a paisagem… Mas, conseguem imaginar o que é estar
Jesus Martinez (1.º) e Fran De Coster (3.º) com a equipa Life Rupis SPEA/Life Rupis
ali quase sozinho? Sim, percorrer a ilha de noite com as diferentes luzes da costa ao fundo, ver o anoitecer desde as “Carolinas”, ou passar horas a olhar o reflexo da lua cheia no mar?... Recordo o frio que passámos numa semana de monitorização da nidificação do roque-de-castro no Farilhão mas, sem dúvida, valeu a pena! É um grande privilégio poder estar durante uns dias numa reserva integral, em que poucas pessoas estão autorizadas a entrar e ainda por cima a ajudar as populações de animais que ali habitam. E com o calor, começaram a chegar as aves migratórias, entre elas o britango, esse abutre tão especial que quando voa brilha tanto no ar, como os olhos de um ornitólogo ao contemplar a sua beleza. Que grande projeto é o Life Rupis, e que bons momentos foram passados a desbravar o mato por baixo das linhas elétricas do Douro Internacional, ainda que por muitas vezes não se disfrute muito do momento porque encontramos aquele juvenil de águia-real ou aquela quantidade de abutres mortos em alguns pontos negros… Ainda assim, devo dizer que
me sinto orgulhoso, uma vez que ao realizar este trabalho muitas aves serão salvas de uma morte quase certa. Também foi fantástico poder colaborar na captura, marcação e libertação do Bruçó, o britango que tem o nome do alimentador onde foi capturado. Que emoção, felicidade e troca de abraços quando o Lubomir, perito checo que estava a colaborar no projeto, nos avisou do abrigo onde estava à espera do melhor momento para ativar a armadilha, que finalmente iamos conseguir marcar (e depois seguir) mais um britango! Agora sei que há mais um ponto a favor da conservação dos abutres e que, de alguma maneira consegui colocar o meu «tijolo na casa». Depois deste ano, são muitas as palavras de agradecimento pela experiência aquirida, a quantidade de coisas aprendidas, as pessoas boas que conheci, tanto dentro como fora da SPEA, os amigos que levo e as recordações que, apesar do tempo passar, estou certo que nunca esquecerei.
Projeto cofinanciado “Down to Earth”- 2016-2-PT02-KA105-003499
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Joana Bores Espanha Desde 01 junho 2017
Olá! Eu sou a Joana, uma espanhola encantada com a comida portuguesa e a música pimba, que vive a viajar entre Espanha e Portugal há pouco mais de um ano, aprendendo e aproveitando. A primeira vez que fui como voluntária ao arquipélago das Berlengas foi em 2011, altura em que estivemos duas semanas a construir ninhos artificiais de cagarras, que agora dão abrigo a várias crias todos os anos. Foi graças a essa oportunidade que, embora já estivesse a estudar biologia, começou a minha paixão pelo mar, e fez-me continuar nesta área da conservação das aves marinhas. No ano
Viver com pessoas de todo o mundo e partilhar novas experiências e momentos incríveis têm feito deste ano algo inesquecível.
Joana Bores e Fran de Coster em formação da Agência Nacional Erasmus+ Juventude em Ação Dariusz Sirko
passado, com o apoio da SPEA, fiz a minha tese de mestrado. Durante um ano, as vocalizações do painho-de-monteiro foram o meu dia a dia. E foi no final do mestrado que ouvi falar do voluntariado europeu e da possibilidade de fazê-lo na SPEA, e nem hesitei. Como poderia perder esta oportunidade? Regressei no início de junho e neste verão aprendi tantas coisas que não sei por onde começar. Parte do meu trabalho consiste na assistência ao projeto Life Berlengas, onde já me sinto em casa, entre cagarras, gaivotas e roques-de-castro. Ainda recordo a minha cara de espanto quando, há um ano, vi pela primeira vez um roque-de-castro e
o meu colega me disse «esta noite tivemos sorte, há algo na rede!». Já sabia que eram pequenos, mas vê-los na realidade é diferente. O que estou a aprender de novo no meu voluntariado é a interação das aves com as artes de pesca. Em setembro, fiz o meu primeiro embarque sozinha - estava um pouco nervosa, tinha de me lembrar e fazer muitas coisas, enquanto sentia o movimento do mar! Mas quando estás a fazer o que gostas, é fácil habituares-te. Embarcar está a ser uma experiência incrível, com a possibilidade de ver aves que em terra são muito difíceis de observar, e conhecer gente com uma cultura diferente. Isto tudo faz-me sentir que estou no sítio «certo». Mas, nem tudo é trabalho no SVE. Viver com pessoas de todo o mundo e partilhar novas experiências e momentos incríveis têm feito deste ano algo inesquecível. É também por isso que estes projetos são importantes, ajudam as pessoas a ter experiências práticas e a crescer pessoal e profissionalmente. No futuro, espero que esta experiência me ajude a concretizar o meu sonho: viver por e para conservar este mundo que tanto nos dá.
Monitorização de cagarras Joana Bores
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Anilhagem de roque-de-castro Joana Bores
Projeto cofinanciado “Step Forward!”- 2017-1-PT02-KA105-004202
© Maëlle Lapèze
codornizão, entre outros, mas também com mamíferos e répteis.
Fran De Coster França
Hoje, estou encantada por partilhar a minha paixão com a SPEA. Apesar de me ter especializado no estudo de ambientes marinhos, trabalhei principalmente com espécies terrestres. Foi por isso que entrei no Departamento de Conservação Terrestre, colaborando em várias atividades dentro da equipa. Estou a participar num estudo sobre o impacto das linhas elétricas
Durante as minhas missões, prefiro o trabalho de campo. Gosto sobretudo de anilhar aves porque me permite observá-las de muito perto. No entanto, também gosto do trabalho de gestão e análise de dados, que precisa de ser feito no escritório. Neste verão, fui ao norte do país com
Hoje, estou encantada por partilhar a minha paixão com a SPEA.
Desde 01 junho 2017
Olá, chamo-me Fran, tenho 29 anos, nasci na Bélgica, mas cresci numa pequena aldeia no sul de França, nos Pirenéus. Cheguei a Lisboa a 1 de junho para iniciar o SVE, por um ano, na SPEA, em Lisboa. Formei-me em Proteção da Natureza, com uma Pós-graduação especializada em meio marinho. Comecei a interessar-me pelas aves nas viagens ornitológicas que fiz com amigos adoráveis, que me transmitiram o seu amor pela avifauna. Assim, durante os tempos livres da minha vida de estudante tive a oportunidade de me aproximar dos nossos amigos «emplumados» e, pouco a pouco, adquiri conhecimento e comecei a trabalhar com a fauna. Desde que concluí os meus estudos, em 2011, colaborei com diversas organizações que trabalham no estudo e na proteção da vida selvagem. Em particular, trabalhei com o chapim-real, tartaranhão-caçador,
Em trabalho de campo no projeto “linhas elétricas e avifauna” Pedro Torres
na avifauna e também no projeto Life Rupis, que tem por objetivo implementar medidas para a conservação do britango e da águia-perdigueira, o que me tem dado oportunidade de descobrir o Norte do país, especialmente o vale do rio Douro, onde as ações do projeto são realizadas. Durante a minha primeira semana de trabalho, pude também conhecer o arquipélago das Berlengas, ao largo de Peniche, com a equipa do Departamento de Conservação Marinha. Gostei muito de participar nas atividades que se realizam nestas ilhas, uma vez que são muito diversificadas. Coloquei anilhas em gaivotas, participei em capturas de coelhos e até segui o estado da reprodução de uma colónia de cagarras.
o meu colega Jesus, também voluntário. Com a associação Palombar, parceira da SPEA no Life Rupis, participámos na captura de um britango. O objetivo foi equipar a ave com um GPS para rastrear os seus movimentos e determinar a sua área de alimentação, de migração e, possivelmente, de nidificação. Para o resto da minha colaboração com a SPEA, entre outras tarefas, está planeado participar no Atlas de Aves Nidificantes em Portugal, na próxima primavera. Está também previsto que que eu desenvolva um projeto mais pessoal dentro da organização.
Projeto cofinanciado “Step Forward!”- 2017-1-PT02-KA105-004202
Joana Bores e Fran De Coster Dariusz Sirko
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Atividade “De Olho nas aves” na Quinta das Conchas, Lisboa Gilberto Neto
Dar asas ao futuro
Educação Ambiental na SPEA A educação e sensibilização ambiental da sociedade têm sido uma das preocupações da SPEA, comunicando as aves e as suas problemáticas, junto de públicos escolares, mas não só. Saiba o que se tem feito e como pode participar, também de forma divertida!
A
educação e a sensibilização ambiental têm sido partes integrantes dos vários projetos da SPEA, sendo ferramentas fundamentais para consolidar o trabalho de conservação das aves e dos ecossistemas. São uma das formas de divulgar e promover o trabalho feito, ajudando também a contribuir para a formação e literacia sobre a avifauna, sobretudo do público e comunidades escolares. Ao longo dos anos foram sendo desenvolvidas várias atividades de educação ambiental tendo como público principal as escolas, em contexto informal e não formal, mas também dirigidas às famílias e jovens fora da sala de aula. 28 | pardela n.º 55
Os primeiros projetos A partir de 2003, as ações de educação ambiental assumiram um caráter mais regular, no âmbito dos projetos de conservação com financiamento LIFE ou outras parcerias. Alexandra Lopes, Coordenadora do Departamento Cidadania Ambiental, falou-nos de algumas dessas primeiras iniciativas. Entre 2003 e 2005, um compromisso com a Câmara Municipal de Lagos, que também teve apoio do extinto Instituto de Promoção Ambiental e da associação A Rocha, permitiu chegar a mais de 600 alunos do concelho com três temas distintos, durante três anos letivos. Um dos grandes resul-
tados deste trabalho contínuo foi o facto de os próprios alunos se terem tornado nos comunicadores, ao terem sido responsáveis pela organização de visitas guiadas para os colegas e familiares, sensibilizando-os para a conservação das populações locais de borrelho-de-coleira-interrompida, entre outros temas. O censo de cegonha-branca, em 2004, foi também uma boa oportunidade para realizar uma campanha de sensibilização que chegou a mais de 2000 escolas e outras entidades, contando com o envolvimento de alguns alunos nas contagens, e a produção de materiais pedagógicos, um website com conteúdos didáticos e uma mostra de trabalhos dos alunos.
Nesta altura, são também de salientar as ações realizadas no âmbito do projeto Life Sisão (2003-2006), sobretudo na zona de Moura, Mourão e Barrancos, com destaque para a realização de uma peça de teatro escolar. Em 2008, o projeto «Aumenta a Biodiversidade da tua Escola e da tua Cidade», fruto de uma parceria com o FAPAS apoiada pela Fundação Gulbenkian, permitiu desenvolver sessões de construção de caixas-ninho e comedouros, com o propósito de aumentar o número de espécies de aves nos jardins da escola e na envolvência, em oito escolas da zona Centro e Norte. Em 2010, numa parceria com a Câmara Municipal de Oeiras, a SPEA dinamizou saídas para observação de aves com várias turmas do 3º ao 8º ano. Estas crianças tornaram-se mini-ornitólogos, ao descobrirem o mundo das aves da orla costeira e jardins do concelho através de um olhar mais atento, guiado pelos nossos monitores, e com o auxílio de binóculos e telescópio, que muitas experimentavam pela primeira vez. Ainda em 2010, no Ano Internacional da Biodiversidade, a SPEA promoveu o concurso, «Conservação da Biodiversidade em Portugal: passou
ou chumbou?», com o objetivo de fomentar o espírito crítico sobre a política de salvaguarda da biodiversidade do país. Os alunos foram incentivados a conhecer o trabalho dos Eurodeputados, e após convite dos mesmos, três das escolas participantes foram visitadas por um Eurodeputado que, além de assistir à apresentação de trabalhos, participou num debate sobre o tema.
Nas ilhas e o primeiro centro ambiental A inauguração do Centro Ambiental do Priolo (CAP) em S. Miguel, em 2007, é um dos marcos históricos da SPEA, conseguido no âmbito do Life Priolo. O CAP teve um grande impulso no ano letivo 2009/2010, com a elaboração de um plano de ação em parceria com o programa Eco-Escolas, que pretendia promover a descoberta da biodiversidade e dos benefícios desta para as populações locais. A vegetação endémica e o ciclo da água foram as principais temáticas abordadas, por forma a demonstrar a sua importância no fornecimento de serviços essenciais às comunidades. O CAP faz agora 10 anos, e a sua atividade na área da educação e promoção do turismo ambiental já chegou a milhares de pessoas, incluindo estudantes, professores, população local e visitantes de todo o mundo (ver caixa).
Centro Ambiental do Priolo SPEA/Life Terras do Priolo
Alunos em ação de plantação de espécies endémicas SPEA/Life Fura-bardos
A inauguração do Centro Ambiental do Priolo (CAP) em S. Miguel, em 2007, é um dos marcos históricos da SPEA.
Centro Ambiental do Priolo por Ana Mendonça O Centro, como explica Ana Mendonça, Técnica de Educação Ambiental: «é hoje em dia um ponto de passagem obrigatório para a maioria dos visitantes das Terras do Priolo, mas também para aqueles que procuram saber mais sobre o priolo e todo o esforço que tem sido desenvolvido em torno da sua conservação.» O Centro Ambiental do Priolo está localizado na ilha de São Miguel e resultou de uma parceria entre a SPEA, a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar e a Direção Regional dos Recursos Florestais, no âmbito do projeto Life
Priolo. «Este foi o primeiro centro de interpretação ambiental criado pela SPEA, e tem tido um papel fundamental no aumento da consciencialização da população local, que é ainda hoje um dos grupos que mais visita este centro», relata a Técnica. É de destacar o importante contributo na dinamização de um espaço rural, e de acordo com Ana Mendonça, «um dos motivos de sucesso deste centro reside na forma como se integra no território das Terras do Priolo, envolvendo todos desde pequenos a graúdos, transmitindo uma mensagem
de orgulho pelo que é dos Açores e satisfação pelos resultados atingidos». O Centro desenvolve ainda um programa escolar, já na sua 10.ª edição, que como diz Ana, «não só educa, sensibiliza e permite aos alunos efetuarem muitas saídas de campo, mas também tem contribuído para a criação de uma consciência ambiental mais apurada em toda a comunidade escolar. Muitas vezes acabam por ser eles próprios (alunos) veículos de sensibilização para amigos, familiares e conhecidos». centropriolo.spea.pt
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No Corvo, várias têm sido as iniciativas para envolver o público desde o início do Life Ilhas Santuário para as Aves Marinhas, em 2009, e agora no âmbito do Plano de Ação After-Life, através do envolvimento de toda a comunidade escolar no processo de mudança de atitudes. Desde as aulas mensais na Escola “Básica e Secundária Mouzinho da Silveira” e no Jardim de Infância da Vila do Corvo, aos eventos de cinema ambiental (incluindo uma edição corvina do CineEco Seia e sessões ao ar livre), limpezas atlânticas, plantações de endémicas e a promoção da Campanha SOS Cagarro em parceria com o Parque Natural da ilha. Em virtude do nosso trabalho «fomos ainda convidados pelo segundo ano consecutivo pela escola local a desenvolver o plano individual de trabalho de um aluno com dificuldades de aprendizagem, que todas as semanas participa ativamente nos trabalhos do estufim e também na Reserva Biológica do Corvo, no sentido da sua inserção futura no mercado de trabalho”, explica Tânia Pipa, Técnica de Conservação na ilha. Tânia Pipa conta-nos ainda que «muitos jovens têm colaborado no programa de ocupação de tempos livres, ajudando na manutenção do estufim, na recolha de sementes, e monitorização das colónias de cagarro. Desde 2014, já tivemos connosco 12 jovens, o que é muito significativo, tendo em conta que o Corvo tem apenas cerca de 450 habitantes». Passados quase oito anos desde o início do Life, a Técnica faz um balanço muito positivo de toda esta participação: «os jovens estão mais ativos e sensibilizados para o património natural que os rodeia».
Atividades em sala de aula em Mogadouro SPEA/Life Rupis
No arquipélago da Madeira, os maiores projetos de educação ambiental surgiram em 2009 com a campanha Salve uma Ave Marinha, que foca a problemática do impacto da poluição luminosa nas aves marinhas. Laura Castelló, Técnica de Conservação da SPEA-Madeira conta-nos que o objetivo principal foi identificar os pontos críticos da rede de iluminação pública, sugerir medidas para minimizar o problema e sensibilizar os municípios e a população, e que «no início trabalhou-se muito com as casas do povo, centros cívicos, câmaras, escuteiros e também nas escolas». Em 2014, com o início do projeto Life Fura-bardos, Laura Castelló explica que se apostou numa forte campanha de divulgação: «penso que o resultado foi bom, já que antes do projeto o fura-bardos era uma ave muito pouco conhecida. Muitas foram as atividades realizadas, desde palestras, workshops, jogos didáticos e exposições, todas com o objetivo de aumentar o conhecimento desta subespécie e a impor-
tância do seu habitat». As iniciativas de educação ambiental no arquipélago continuam agora com o Pós-Life e também do novo projecto LuMinAves, entre outras ações.
Mais «vida» no continente No continente, as ações de educação ambiental ganharam novo fôlego com o financiamento Life. No projeto Life Berlengas, que pretende uma gestão sustentável da Zona de Proteção Especial das Ilhas Berlengas, com o objetivo de conservar habitats, flora endémica e populações de aves marinhas, têm sido desenvolvidas várias ações com as escolas do concelho de Peniche. Já no terceiro ano de execução, a equipa desenvolveu durante o ano lectivo 2016/2017 um trabalho com quatro turmas do 5.º ano, em que os alunos desenvolveram o Projeto Animal, procurando saber mais sobre as espécies existentes nas Berlengas. Dos trabalhos desenvolvidos resultou uma exposição na própria escola, que também esteve no Auditório da Câmara
As nossas mascotes As mascotes dos projetos têm sido importantes aliadas na sensibilização e educação ambiental de miúdos, e nem os graúdos lhes ficam indiferentes.
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Bardolas
Jaime
Galheta
Rupis
Life FURA-BARDOS
CENTRO AMBIENTAL DO PRIOLO
Life BERLENGAS
Life RUPIS
Municipal de Peniche, na sequência das comemorações do Dia Nacional do Pescador. Ana Almeida, Técnica de Conservação Marinha, afirma: «Foi uma alegria trabalhar com estes alunos e ver, nos seus espetaculares trabalhos finais, o resultado da sua aprendizagem, o envolvimento da família e da comunidade. Estão hoje ainda “mais próximos” das Berlengas». Um outro bom exemplo é o Life Rupis - projeto ibérico que visa melhorar o estado de conservação das populações de britango e de águia-perdigueira, no Douro Internacional, e a valorização sustentável do território. «Criou-se uma excelente oportunidade para estar nas escolas de forma continuada, e desenvolver os mesmos temas em ambos os lados da fronteira. Atividades dentro e fora da sala de aula, incluindo uma exposição coletiva de trabalhos no Festival ObservArribas, já envolveram mais de 1000 alunos portugueses e espanhóis, do 3.º ao 11.º anos letivos», explica Vanessa Oliveira, Assistente de Gestão de Projetos e Educação Ambiental do Departamento de Conservação Terrestre.
Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena por Paula Lopes O Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (EILP) torna acessível ao público uma das mais importantes zonas de circulação e nidificação de aves da Europa, explica Paula Lopes, Técnica de Ambiente, que trabalha diariamente neste espaço. A gestão do espaço é partilhada entre a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e, em 2016, a SPEA estabeleceu um protocolo com a CMS para colaborar na dinamização do local, através da gestão da visitação e da realização de atividades. O EILP tem um projeto educativo, no âmbito do qual são dinamizadas atividades lúdico-pedagógicas quer no próprio Espaço, quer nas escolas ou entidades promotoras de atividades de tempos livres do concelho de
Carlos Miguel Cruz, professor destacado na SPEA também tem participado nestas ações e, na sua opinião, «o que funcionou muito bem neste primeiro ano letivo (2016/2017), foi a construção conjunta do programa de educação ambiental com os parceiros
do projeto, nomeadamente a Palombar, ATN e a Fundación Património Natural, em Espanha.» Afirma ainda que uma das melhores estratégias para envolver os alunos é retirá-los da sala de aula e que «basta sairmos a pé nas imediações da escola para mostrarmos o interessante património natural que ainda existe e sensibilizarmos para a necessidade do seu estudo
Construção de máscaras de aves marinhas, uma atividade de sucesso
Exposição de final de ano letivo, Freixo de Espada à Cinta
SPEA/Life Berlengas
SPEA/Life Rupis
Sesimbra. Por outro lado, também é possível alcançar os públicos mais jovens em contexto informal, quando as crianças visitam o EILP com as suas famílias. De acordo com Paula Lopes, «além de observarem aves no seu habitat natural, podem ainda usufruir de pequenos “kits de exploração”, que contêm binóculos e outros materiais que permitem tirar melhor partido do espaço que visitam». E é isto que, na opinião da Técnica de Ambiente, o que melhor resulta neste Espaço – «simplesmente mostrar as aves e, a partir do que se está a observar no momento, aproveitar para transmitir alguns conceitos e conhecimentos». www.cm-sesimbra.pt/ lagoapequena/
e conservação. E muitos alunos nunca tinham observado, ou sequer conheciam o britango - símbolo comum aos dois parques naturais abrangidos pelo projeto, Douro Internacional e Arribes del Duero». O projeto «Cidadania pela Natureza» junta-se aos anteriores, ao promover modelos de gestão participada de Áreas Importantes para as Aves e a Biodiversidade (IBA), através de parcerias entre entidades locais e cidadãos, incluindo a população escolar, tendo em vista a conservação e dinamização de atividades ligadas à Natureza, nomeadamente de voluntariado ambiental. Este projeto foi iniciado em 2016 nas IBA-piloto Lagoa dos Salgados (Silves/Albufeira) e Barrinha de Esmoriz/Lagoa de Paramos (Ovar/Espinho), financiado pelo Programa de atividades de âmbito ambiental da Toyota Motor Corporation, que vai apoiar a sua continuação em 2018 e 2019. n.º 55 pardela | 31
Educação Ambiental – da consciencialização à ação Neste ano, foi aprovada a Estratégia Nacional de Educação Ambiental (ENEA 2017-2020) que define que a educação ambiental deve promover uma atitude sustentável, apostando em formar uma sociedade «mais consciente, inovadora, inclusiva e empreendedora» que é crítica e consciente face às mudanças que o planeta tem vindo a sofrer.
Hora do conto na Lagoa Pequena Vanessa Oliveira
A operacionalização da ENEA prevê o envolvimento de vários agentes, onde é destacado o papel das organizações não-governamentais de ambiente (ONGA) na educação ambiental. A estratégia pretende reforçar este papel de atuação, estimular a cooperação entre diferentes ONGA e promover acordos de cooperação para o desenvolvimento de (mais) projetos nesta área.
Consideramos que se avançou bastante nos últimos anos em Portugal no nível da educação ambiental. A SPEA reconhece a importância da definição desta estratégia e a alocação de verbas para a sua operacionalização. Porém, encontra falhas no atual sistema (ao nível do mecanismo de financiamento, dos prazos da candidatura e da duração dos projetos), tendo
Construção de caixa-ninho Coralie Lozano
tido oportunidade de manifestar o seu descontentamento num comunicado conjunto no âmbito da coligação C6 de que faz parte (com o FAPAS GEOTA, LPN, Quercus, e WWF-Portugal). Em jeito de balanço, Alexandra Lopes avança: «Consideramos que se avançou bastante nos últimos anos
em Portugal no nível da educação ambiental, e a quantidade e diversidade de projetos dinamizados é reflexo disso. Porém, houve uma estagnação desse investimento, e, muitas vezes, as manifestações de interesse por parte dos decisores não passam disso. Esperamos que esta Estratégia venha dar um novo folego à Educação Ambiental e crie condições para avançarmos para um novo nível de compromisso e para uma efetiva avaliação dos resultados em termos da mudança de atitudes e comportamentos dos cidadãos em prol do ambiente, pois é isso que realmente interessa!» www.spea.pt/pt/participar/ educacao-ambiental Autora | Mónica Costa SPEA Contributos | Alexandra Lopes, Ana Almeida, Ana Mendonça, Carlos Cruz, Laura Castelló, Paula Lopes, Tânia Pipa, Vanessa Oliveira SPEA
Educação ambiental fora da escola A educação ambiental não se esgota nas atividades escolares. Muitos dos recursos produzidos por estes projetos e iniciativas (e.g. guiões de atividades, desenhos para pintar e jogos) estão disponíveis online a partir do website da SPEA, à disposição de alunos, professores e famílias. Isto inclui os conteúdos da antiga (e atual)
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secção Juvenis da revista Pardela, que motivou os então sócios juvenis Pedro Alvito e Sílvia Nunes, colaboradores da secção, a propor a criação da página Facebook «Clube Juvenis da SPEA», em 2015. Além disso, a SPEA promove várias iniciativas para os mais novos, incluin-
do parcerias como a celebrada com o Corpo Nacional de Escutas no âmbito das campanhas «Ave do Ano», a participação em eventos, e a dinamização de saídas de campo e de voluntariado – momentos únicos de descoberta que tantas vezes fazem despertar o interesse pelo mundo natural e a sua proteção.
Pássaro-Tempo 1
Por Mónica Costa (texto) e Frederico Arruda (ilustração)
Segue nesta viagem sustentável com as nossas mascotes e descobre algumas das as áreas protegidas e classificadas em que estamos a trabalhar. Para isso, só tens de fazer corresponder o número de cada mascote (ou logotipo) às letras que se encontram no mapa. C
Sabias que em 2017 celebramos o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento? A UNESCO, que faz parte da grande Organização das Nações Unidas, durante todo este ano, promoveu o turismo que ajuda a preservar a Natureza e contribui para para o bem-estar das populações. Na SPEA, com os nossos projetos e eventos, estamos a contribuir para que os nossos espaços naturais fiquem cada vez mais preparados para te receber a ti e à tua família. Trabalhamos para tornar os ecossistemas mais saudáveis, ricos em aves e com natureza bonita para ver.
A
D
E
b F
2 -> ......
3 -> ......
4 -> ......
5-> ......
6 -> ......
SOLUÇÕES:
1 -> ......
n.º 55 pardela | 33
1>C: Parque Natural do Douro Internacional | 2>D: Reserva Natural das Berlengas | 3>B: Zona de Proteção Especial Laurissilva da Madeira | 4>B: Terras do Priolo | 5>E: Zona de Proteção Especial da Lagoa Pequena | 6>F: Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
Pássaro-Tempo 2
Por Mónica Costa (texto) e Frederico Arruda (ilustração)
Nesta sopa de letras podes encontrar alguns dos nomes das áreas protegidas e classificadas onde estamos a trabalhar, ótimos sítios para visitares com os teus pais. Parque Natural do DOURO Internacional Reserva Natural das BERLENGAS Zona de Proteção Especial LAURISSILVA da Madeira Zona de Proteção Especial LAGOA Pequena Terras do PRIOLO - S. Miguel Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa VICENTINA
W U Z G B L Y Z L A G O A V
I Q V X S G O A V P V K O I
Y H T L A U R I S S I L V A
J N O N Q B N Q J C C T D N
Q C D E Y T L T P S E Y T L
F W O K P T L N R J N K C F
G A U M O K Y P I Z T Y J V
S Z R N Q C Z V O Y I K C Y
E Y O K G B E R L E N G A S
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I B C O B Z O J I I D T B S
Y Y G V L C E M A O F L D G
M L H S R I M W Z N B E V J
REPORTAGEM JUVENIS Outubro em festa
© SPEA/ Life Berlengas
Por Vanessa Oliveira
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Em outubro, fomos ao Greenfest no Estoril e voltámos ao Festival de Observação de Aves e Atividades de Natureza em Sagres, com atividades do Life Rupis para os mais novos e, desta vez, também do Life Berlengas. Ao longo dos 5 dias do festival, foram mais de 40 os amiguinhos que se divertiram a fazer máscaras de aves marinhas, no jogo de pistas com “os desafios do britango” e deram asas à sua criatividade, construindo até binóculos especiais, entre outras atividades. Fica atento à agenda de eventos, pois aprender também pode ser divertido!
A R V Z V Z N B C R B F X O
O ano em que as emas «ganharam a guerra» No início da década de 1930, numa tentativa de ajudar os agricultores da região de Campion, na Austrália Ocidental, a fazer face a uma «invasão» de emas, o exército foi chamado a intervir. O resultado ficou muito aquém do pretendido….
Q
uando se fala de migração de aves, a ema não é, por certo, a primeira espécie em que se pensa. Uma ave de grande porte, que não voa e é morfologicamente parecida com uma avestruz não parece, com efeito, encaixar no perfil que habitualmente se associa a uma ave migratória. De facto, se calhar não é muito correcto dizer que as emas migram. No entanto, a verdade é que efectuam movimentos sazonais com alguma amplitude que são por vezes erráticos, pois estão bastante relacionados com as chuvas e com a abundância de alimen-
to que estas produzem. Tipicamente, na Austrália Ocidental as emas deslocam-se do interior para o sul no Outono e no Inverno, regressando depois na Primavera e no Verão aos locais de origem. Contudo, se as condições climatéricas ou a disponibilidade alimentar variarem, as aves são rápidas a reagir para tentar tirar partido das novas circunstâncias.
Aves guerrilheiras Tendo em conta estas características, é claro que, quando no início do século XX surgiram grandes ex-
tensões de cultivos nalgumas zonas meridionais da Austrália Ocidental, as emas agradeceram e aproveitaram. Os conflitos não tardaram. Foi o que aconteceu em 1932 quando a região de Campion, situada 300 km a nordeste de Perth, foi «invadida» por cerca de 20 000 emas que começaram a causar diversos estragos, levando ao desespero os agricultores locais que já se debatiam com bastantes dificuldades de vária ordem. Muitos deles eram ex-combatentes da I Guerra Mundial e decidiram pedir a intervenção do ministro da defesa, George Pearce, para controlar a situação.
Ema Ariana Prestes
n.º 55 pardela | 35
Após uma reunião com uma delegação de agricultores, na qual foi expressamente pedida a utilização de metralhadoras para lidar com a questão, o ministro concordou em enviar tropas na condição de que o uso das armas fosse feito apenas pelos militares, o transporte das tropas fosse pago pelo governo regional da Austrália Ocidental e as despesas com o alojamento, a comida e as munições ficassem a cargo dos agricultores. O major G.P.W. Meredith do Seventh Heavy Battery da Royal Australian Artillery chegou à região comandando um reduzido destacamento de soldados armados com metralhadoras Lewis, em Outubro de 1932. No entanto, as condições meteorológicas adversas só permitiram o arranque das operações no início de Novembro. Se os militares tinham alguma vez tido a ilusão de que iriam massacrar uma massa compacta de aves com rajadas
Metralhadoras Lewis, utilizadas na guerra às emas
Ema soldado, uma das «caricaturas» da guerra às emas mais difundida
Domínio público
como os solavancos eram tantos que impossibilitavam a pontaria certeira.
De «inimigas» a protegidas No dia 8 de Novembro, após a avaliação dos resultados obtidos, e com os órgãos de comunicação locais a criticarem a falta de eficácia do exército, foi decidida a retirada. O número de
Domínio público
Depois da retirada das tropas, as emas regressaram em força e as queixas também. A intervenção militar foi então retomada em 13 de Novembro. No início de Dezembro, a história chegou a Inglaterra e os protestos dos conservacionistas começaram a fazer-se ouvir. Foi então decidido acabar de vez com a operação. No relatório final referiam-se 986 aves mortas e 2500 feridas, mas que poderiam ter vindo a morrer também posteriormente. A «guerra das emas», como ficou conhecido este episódio da História, revelou-se um insucesso para as autoridades australianas. Apesar dos meios envolvidos, as baixas infligidas às aves não foram muito significativas e, no final, as emas acabaram por ficar a dominar o terreno. Os agricultores voltaram a pedir auxílio militar em 1934, 1943 e 1948 mas este nunca mais foi concedido. As emas que, curiosamente fazem parte do brasão de armas da Austrália, estão hoje protegidas.
Veículo adaptado com metralhadora, para combater as emas
Brasão de armas da Austrália Domínio público
Domínio público
de metralhadora rapidamente a perderam. Aos primeiros disparos, as emas dispersaram e, comportando-se como autênticos guerrilheiros, fizeram a vida negra aos militares que raramente se conseguiam aproximar a alcance de tiro. Estes tentaram montar emboscadas que fracassaram, instalaram uma metralhadora numa camioneta para as poder perseguir, mas não só o veículo não conseguia acompanhar as aves 36 | pardela n.º 55
aves mortas nesta primeira campanha diverge de acordo com as fontes. Há quem diga que foram 50, há quem diga que foram entre 200 a 500. Impressionado com o «inimigo», o major G.P.W. Meredith comentou: «Se tivéssemos uma divisão militar com a capacidade de encaixar balas que estas aves têm, enfrentaria qualquer exército do mundo… As emas enfrentam metralhadoras com a invulnerabilidade de tanques…».
Autor | Helder Costa NOTA: O autor não segue o Novo Acordo Ortográfico
Homenagem aos voluntários SPEA (Elvas, 2009) Pedro Geraldes
SPEA Mais sócios, mais sociedade
A
SPEA fez 24 anos em novembro de 2017. Com mais idade, vem também mais experiência, mais responsabilidade, mais resultados e eventualmente mais reconhecimento. Há muitos «mais» na história da SPEA. Mais projetos de conservação e mais funcionários, que resultaram num aumento da capacidade e na visibilidade dos resultados: mais priolos na Laurissilva de São Miguel, mais cagarras nas ilhas e ilhéus dos Açores e na Berlenga, mais britangos e águias-perdigueiras, mais fura-bardos conhecidos, mais áreas protegidas em terra e no mar…
Mas também há vários menos na SPEA. Temos vindo a identificar áreas para melhorar no trabalho, na organização e nos resultados. E há um menos muito preocupante - o dos sócios. A SPEA está a sentir dificuldades em atrair e manter os seus associados. Como pode uma associação que apresenta mais resultados, e é mais conhecida do público do que alguma vez já foi, estar com dificuldades em manter as pessoas? Será que os nossos concidadãos estão menos interessados na proteção da natureza ou menos interessados na observação de aves? Queremos acreditar que não.
Num inquérito realizado há poucos meses, muitos sócios pediram mais atividades, mais cursos, e mais divulgação e produção científica. Estes são alguns dos aspetos que estão já a ser trabalhados para os tempos mais próximos. Mas será que os bons resultados de conservação, juntamente com o aumento das atividades para os sócios e a maior produção científica serão suficientes? Tememos que não. Tememos que os cidadãos amigos das aves e da natureza, potenciais associados, olhem para nós e pensem «a SPEA já tem dimensão e capacidade e não necessita de mais associados». n.º 55 pardela | 37
Nada mais errado. Não há capacidade financeira e técnica que suprima o poder reivindicativo e negocial do volume de sócios. A SPEA necessita de chegar às reuniões com ministros e outros decisores e afirmar que representa muitos milhares de cidadãos. Lembram-se, há seis anos atrás, quando uma portaria do Secretário de Estado das Florestas permitia a abertura da caça ao melro? Gerou-se um movimento e um coro de protestos, em que os argumentos técnicos da SPEA e
A SPEA necessita de mais sócios por muitas razões. Pela força de falar em nome dos cidadãos, pelos fundos não restritos da quotização, pela visibilidade, entre muitas outras. Mas, essencialmente necessita de mais pessoas para existir como associação. A SPEA necessita das ideias e opiniões dos sócios. Necessita da sua participação na vida da organização, nos órgãos sociais, nas atividades e eventos (incluindo os importantes censos de aves), nas campanhas e petições, nos cursos, reuniões ou grupos de trabalho. Não existem sociedades sem sócios, e as que têm poucos funcionam mal. Necessitamos que os nossos sócios reforcem os laços com a associação. Que participem mais na vida da SPEA, e que tragam mais sócios de entre a família e os amigos. Queremos uma SPEA com mais sócios em 2018. Para isso necessitamos de fazer mais pelos sócios, e necessitamos que todos os sócios façam mais pela SPEA.
a pressão das pessoas foram determinantes na revogação dessa lei. Só com a força das pessoas, podemos fazer a diferença junto de quem decide. E esta força só é garantida com um acréscimo de número de associados.
Não há capacidade financeira e técnica que suprima o poder reivindicativo e negocial do volume de sócios.
Autor | Domingos Leitão
Sócios em saída de campo
Diretor Executivo SPEA
Joana Andrade
Jantar-convívio em congresso
Concentração de amigos da Lagoa dos Salgados SPEA
Joana Andrade
A sua quota faz a diferença para todos nós.
O trabalho da SPEA só é possivel com o apoio dos sócios. Regularize as suas quotas e ajude a natureza.
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MODELO
Adaptor universal para telemóvel USM-2 O USM-2 permite uma ligação simples e flexivel entre um telemóvel e as oculares HR, HDF ou SDL. Este adaptador pode conectar-se a oculares de 31-55 mm e é compatível com telemóveis até 6” e equipados com câmera frontal. Preço 389.95
ES GA ED v4 Desenhados e fabricados no Japão, o novo telescópio ES v4 ED garante uma excelente performance na sua gama, com a maior precisão devido ao novo focus de dupla velocidade. Compatível com as oculares HDF e SDLv2. 30 anos de garantia. ES 80 GA ED/45 v4 3819, ES 100 GA ED/45 v4 31379 HDF T 20-60x/27-80x ocular 3259, ocular SDLv2 20-60x/27-80x 3389 Capa protetora a partir de 385
O equipamento Opticron pode ser testado e adquirido na SPEA, o nosso representante exclusivo em Portugal. Para mais informações, por favor contacte 213 220 430 ou visite-nos online em www.spea.pt/catalogo/ Opticron, Unit 21, Titan Court, Laporte Way, Luton, Beds, LU4 8EF UK Tel: +44 1582 726522 Email: sales@opticron.co.uk Web: www.opticron.co.uk