Pardela Nº 56

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As aves em revista

REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES NÚMERO 56 | MAI 2018 - SEMESTRAL | 2,00 € | GRÁTIS PARA SÓCIOS

Ave do Ano 2018

DIRETORA:

Joana Domingues | FOTO DE CAPA: © António Guerra

ÁGUIA-PERDIGUEIRA P.08

Life Rupis CONSERVANDO ÁGUIAS E ABUTRES NAS ARRIBAS DO DOURO P.10

Jordânia UM OÁSIS NO DESERTO P.23


V I S I TA O R N I TO LÓ G I C A

Venha mergulhar na diversidade colorida da vida selvagem do

01 A 11 DE NOVEMBRO

Não perca a oportunidade única de ver espécies como a abetarda-árabe, a pata-de-barbatana, o pelicano-cinzento, entre muitas outras aves aquáticas, Observe também aves de rapina e corujas, acrescida de uma incrível quantidade de aves espetaculares tipicamente africanas, como abelharucos, rolieiros e pica-paus.

SAIBA MAIS EM

www.spea.pt

INSCRIÇÕES ATÉ

27 de julho


08

Ave do Ano 2018 Águia-perdigueira ou Águia de Bonelli

ÍNDICE

05 Breves 08 Ave do Ano 2018

© António Guerra

04 Editorial

Águia-perdigueira ou Águia de Bonelli

Lagoa Pequena

10 Life Rupis Conservando águias e abutres nas Arribas do Douro

Para conhecer e voltar

19

13 Douro Internacional Parque Natural de aves e escarpas

16 A Ciência das Aves

Um sítio a conhecer e para voltar

23 Jordânia

© Daniel Raposo

19 Lagoa Pequena

© Inês Ribeiro

Abordagem molecular ao estudo das aves marinhas

Jordânia Um oásis no deserto

Um oásis no deserto

23

26 Como voam as aves? Uma questão de equilíbrio e balanço de forças

29 Cidadania pela Natureza Ações locais que fazem a diferença

Uma década de Centro Ambiental do Priolo

37 Juvenis

© Rúben Coelho

32 Açores

Açores Uma década de Centro Ambiental de Priolo

32 n.º 56 pardela | 3


EDITORIAL

25 anos de conservação para assegurar a preservação Clara Casanova Ferreira Presidente da Direção da SPEA

A SPEA comemora este ano 25 anos de existência em prol das aves e habitats de Portugal. Neste quarto de século soubemos crescer e unir esforços com quem melhor nos poderia ajudar – a BirdLife International – e que nos dotou, muitas vezes, das ferramentas necessárias para cumprir com sucesso os nossos objetivos. Nestes 25 anos, a história conta-se pelos esforços de perto de uma centena de colaboradores e milhares de voluntários que tornaram possível o nosso trabalho e que asseguraram uma monitorização contínua do estado das aves em Portugal. Aos sócios que se foram juntando a nós deixo um sincero agradecimento por terem acreditado nesta dedicada equipa de trabalho e por terem querido apoiar uma causa tão relevante sem pretender nada em troca. Esperamos ter estado à altura das mais exigentes expectativas e desejamos poder continuar a fazê-lo por muitos e longos anos. Internamente, ao longo dos últimos cerca de 10 anos, temos criado na SPEA campanhas intituladas «Ave do Ano» que pretendem sensibilizar para a necessidade de conservação de uma determinada espécie, procurando destacar uma ave que esteja, nesse ano, a integrar algum projeto em curso na SPEA. Em 2018 a Ave do Ano é a águia-perdigueira, também conhecida por águia-de-bonelli. É uma exímia caçadora em pleno voo, mas só existem 116 a 123 casais reprodutores em Portugal, o que é uma situação preocupante. Responder à missão da SPEA envolve procurar o equilíbrio dos ecossistemas, mas no caso da águia-perdigueira o seu ecossistema está deveras ameaçado, fruto de fatores de origem humana. Esta é uma das espécies-alvo do projeto Life Rupis, a que damos destaque nesta Pardela. Trata-se de um projeto que decorre em território português e espanhol e que envolve um total de nove entidades. É um grande projeto cujas ações decorrem por entre as maravilhosas áreas protegidas do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda e dos Arribes del Duero. Um dos fortes objetivos da SPEA ao longo da sua história tem sido aproximar as aves de toda a sociedade acreditando que só dessa forma conseguiremos reforçar a necessidade de «preservar». Em 2017, comemorámos 10 anos do Centro Ambiental do Priolo no Nordeste, São Miguel, Açores, um espaço de interpretação que provou ser essencial para a promoção do turismo ornitológico nas Terras do Priolo e, mais ainda, um polo de dinamização de ações de educação ambiental na região. Um outro espaço de interpretação, mais perto da capital, é o Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, local privilegiado para a observação de aves, não só pela sua comprovada importância ornitológica como também pelas boas condições de visitação. Conheça com detalhe as melhorias que têm vindo a ser implementadas e aproveite, nesta edição, a oferta de um poster com as aves da Lagoa. Para as ver mais de perto, espreite os horários e faça-nos uma visita. São muitas as razões para comemorar 25 anos com a SPEA! Fique atento às novidades e atividades que vamos desenvolver e junte-se a nós nesta comemoração. Esta edição contou com o apoio publicitário de: Biotrails e Opticron 4 | pardela n.º 56

FICHA TÉCNICA

PARDELA N.º 56 | MAI 2018 DIRETORA: Joana Domingues | joana.domingues@spea.pt COMISSÃO EDITORIAL: Clara Casanova Ferreira, Joana Domingues, Manuel Trindade, Mónica Costa, Sónia Neves, Vanessa Oliveira FOTOGRAFIA DE CAPA: Águia-perdigueira Aquila fasciata, Ave do Ano 2018 e uma das espécies-alvo do projeto Life Rupis © António Guerra FOTOGRAFIAS: Ana Mendonça, António Guerra, António Monteiro, Artemy Voikhansky, Bruno Berthemy (VCF), Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Cavaco, Carlos Delgado, Cátia Gouveia, Corpo Nacional de Escutas, Daniel Raposo, Domingos Leitão, EASME, Eduardo Barrento, Filipe Moniz, GOAA, Humberto Matos, Inês Ribeiro, Jean-Raphaël Guillaumin, Joana Domingues, Joaquim Teodósio, Jorge Rodrigues, José Viana, Leonardo Lazaro, Life Rupis, Maria Alho, Michael Baird, Mónica Silva, Paco Gomez, Rúben Coelho, SIARAM, SPEA, Teresa Catry, Tom Benson TEXTOS: Alexandra Lopes, Ana I. Leal, Ana Mendonça, António Monteiro, Clara Casanova Ferreira, Joana Domingues, João Rodrigues, Joaquim Teodósio, Maria Alho, Mónica Costa, Mónica Silva, Paula Lopes, Rita Ferreira, Vanessa Oliveira ILUSTRAÇÕES: Frederico Arruda, Juan M. Varela Simó, Mike Langman (rspb-images.com) PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda IMPRESSÃO: Grafisol – Edições e Papelaria, Lda Rua das Maçarocas, Abrulheira Business Center nº 3 2710-056 Sintra TIRAGEM: 1200 exemplares e digital PERIODICIDADE: Semestral ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. Instituição de Utilidade Pública. CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt

DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Clara Casanova Ferreira Vice-presidente: José Manuel Monteiro Tesoureiro: Michael Armelin Secretário: Vitor Paiva Vogais: Vanda Coutinho, José Paulo Monteiro, Manuel Trindade A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.


BREVES

Consignação IRS 2017

AGENDA EM DESTAQUE

Transforme 0,5% do seu IRS num donativo para a Natureza

VISITAS DE ESTUDO ORNITOLÓGICAS SPEA 2018 Castro Verde, Doñana, Algarve 30 de setembro a 07 de outubro

Ao destinar 0,5% dos seus impostos liquidados à SPEA está contribuir para projetos essenciais para a proteção de habitats e espécies em perigo. MODELO 3 (ROSTO)

QUADRO 11

Senegal 01 a 11 de novembro

CAMPO 1102

NIF SPEA

503 091 707

SAIBA MAIS EM

www.spea.pt/pt/participar/actividades

EVENTOS 2018/2019

Em 2017, a campanha da consignação do IRS, relativo ao ano de 2016, superou as nossas expetativas e a verba angariada por esta via foi fundamental para alargar o nosso impacto em ações que atualmente carecem de fundos, como é o caso do combate à captura ilegal, monitorizações e ações de sensibilização. Este ano queremos fazer mais e melhor. Entre 1 de abril e

31 de maio, ajude a SPEA e as aves sem qualquer custo, usando a consignação de 0,5% do seu IRS de 2017 liquidado. Todos os dias trabalhamos para chegar a mais pessoas e tornar os habitats das aves locais mais amigos da biodiversidade e a sua ajuda será essencial em mais esta etapa. Esperamos este ano voltar a contar consigo para que a Natureza tenha cada vez mais aliados.

Dia da Rede Natura 2000 | 20 de maio Visita às Berlengas | Peniche Percurso do flamingo | Salinas do Samouco Segredos do Rio Tejo | Escaroupim Passeio de barco na Ria Formosa | Tavira

II Festival ObservArribas Miranda do Douro | 25 a 27 de maio CURSO

Introdução às libélulas e libelinhas

Lagoa Pequena (Sesimbra) | 13 a 14 de julho

Biologia no Verão Todo o país | 15 de julho a 15 de setembro

Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza

X Feira ObservaNatura Setúbal | 28 a 30 de setembro

9º Festival de Observação de Aves e Atividades de Natureza Sagres | 04 a 07 de outubro

EuroBirdwatch 2018 Todo o país | 06 e 07 de outubro

Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (Sesimbra) Visitas guiadas | Último sábado de cada mês

X Congresso de Ornitologia da SPEA Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, Peniche | 02 a 05 de março 2019 congresso.spea.pt © Joana Domingues

Entre 4 e 7 de outubro, Sagres será, mais uma vez, o ponto de encontro das aves migratórias e dos amantes da natureza. Serão quatro dias repletos de atividades ligadas à observação de aves e à natureza, espalhadas por vários pontos de Sagres e Vila do Bispo. Como tem vindo a ser habitual, será dado destaque às saídas de bar-

co, passeios pela natureza, sessões de anilhagem, minicursos, entre outras atividades interessantes, relacionadas com o mote que une organização e participantes – a Natureza. Não perca o evento inteiramente dedicado à Natureza, que já vai na sua 9.ª edição.

CENSOS DE AVES 2018 III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal | Todo o país Até 15 de julho

Dias RAM - Contagens de Aves Marinhas | Vários cabos do país PRIMEIRO SÁBADO DE CADA MÊS:

05 mai, 02 jun, 07 jul, 04 ago, 01 set, 06 out, 03 nov

SAIBA MAIS EM

www.birdwatchingsagres.com n.º 56 pardela | 5


BREVES

Menos aves marinhas capturadas em redes de emalhar

Foi concluído o «Study on mitigation measures to minimise seabird bycatch in gillnet fisheries» liderado pela BirdLife International e que contou com a parceria da SPEA. Neste projeto foram testadas medidas para reduzir as capturas acidentais de aves marinhas em redes de emalhar, em Portugal e na Polónia. Os trabalhos decorreram na Zona de Proteção Especial do Arquipélago das Berlengas, uma vez que a área marinha entre Peniche e a Nazaré é conhecida pelo arrojamento frequente de aves marinhas, sobretudo de tordas-mergulheiras e airos, com evidências de captura em artes de pesca. A medida testada nas embarcações a operar a partir de Peniche foi a aplicação de painéis de alto contraste em redes, de modo a torná-las mais visíveis para as aves. Nos 22 embarques de pesca realizados com observadores a bordo não houve registo de capturas acidentais, nem nas redes com painéis, nem nas redes de controlo (sem painéis), o que não permitiu avaliar a eficácia da medida. O mau tempo sentido nos dois últimos invernos fez com que não fosse possível a realização de um maior número de embarques, pelo que a SPEA continua a trabalhar no teste desta medida de mitigação no âmbito do Life Berlengas. LEIA O RELATÓRIO EM

www.publications.europa.eu 6 | pardela n.º 56

Já conhece o novo PortugalAves/eBird?

Descubra um novo mundo de observação de aves

© PortugalAves/eBird

O PortugalAves/eBird surgiu recentemente com uma nova imagem e mais funcionalidades. Além da imagem mais apelativa, em que dá destaque a magníficas fotografias de aves, o novo site é mais simples, com uma navegação mais intuitiva e mais versátil, para ser utilizado no telemóvel. Foram adicionadas algumas ferramentas, como o contador do «número de dias consecutivos com listas», que o poderão estimular a incluir o PortugalAves/eBird na sua rotina diária. Existem também

novos feeds de fotografias e sons, que apresentam as imagens e vocalizações mais populares carregadas nos últimos dois dias. Convidamo-lo a descobrir o novo PortugalAves/eBird e assim partilhar ainda mais registos, contribuindo para um maior conhecimento acerca das aves em Portugal e no mundo. Se ainda não é utilizador, tem agora uma boa oportunidade para dar os primeiros passos. SAIBA MAIS EM

ebird.org/portugal/home

Por onde andam as aves na Europa? No final de 2017 o EuroBirdPortal (EBP) foi disponibilizado numa nova versão, permitindo visualizar os movimentos das aves à escala europeia. Esta versão foi atualizada com dados de 40 milhões de observações registadas em 2016. O portal disponibiliza mapas dinâmicos para 105 espécies de aves, ao longo de todo o ciclo anual, para um período de sete anos. Assim, o EBP mantém a sua posição como a maior e mais dinâmica plataforma europeia de visualização de

dados de biodiversidade baseada na Ciência Cidadã. Os dados recolhidos por centenas de voluntários da SPEA, incluindo os registados no Portugal Aves/eBird, alimentam esta «super» base de dados, contribuindo para o sucesso coletivo do EBP, permitindo uma melhor compreensão das variações nos padrões de migração das aves e a influência de variáveis climáticas neste processo. SAIBA MAIS EM

www.eurobirdportal.org/por/pt


BREVES

X Congresso de Ornitologia da SPEA

Uma viagem a não perder ao Senegal

© Kuhnmi

De 01 a 11 de novembro realiza-se a visita de estudo da SPEA ao Senegal, a viagem de uma vida para muitos de nós. Razões para visitar este país africano não faltam. É um país com uma situação política estável, localiza-se na costa atlântica entre as imensas savanas secas do Sahel e a floresta tropical ocidental, e é um dos países da África Ocidental mais interessantes para a observação de aves. É sem dúvida um «mergulhar» na diversidade colorida da vida selvagem do conti-

nente africano e uma oportunidade única de ver espécies como a abetarda-árabe, a pata-de-barbatana, o pelicano-cinzento, entre muitas outras aves aquáticas. Observe também aves de rapina e corujas, acrescida de uma incrível quantidade de aves espetaculares tipicamente africanas, como abelharucos, rolieiros e pica-paus. Tem até ao dia 27 de julho para se inscrever! CONSULTE BREVEMENTE EM

www.spea.pt

O X Congresso de Ornitologia da SPEA irá decorrer entre 02 a 05 de março de 2019, na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche. O programa do evento dedicado à ciência e às aves será apresentado nos próximos meses. O congresso aceitará comunicações orais e posters em todas as áreas da ornitologia, no entanto esta edição vai realçar os seguintes temas: Aves marinhas e conservação dos oceanos Seguimento de aves Migração e conectividade de habitats Aves e infraestruturas humanas Aves e ecologia urbana

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Gestão das espécies invasoras na conservação das aves Ciência cidadã na monitorização das aves Importância socioeconómica da conservação das aves Brevemente será divulgado no site do congresso a informação detalhada sobre o processo de submissão de comunicações, que deverá decorrer até 31 de outubro de 2018. SAIBA MAIS EM

congresso.spea.pt n.º 56 pardela | 7


Ave do Ano 2018 Águia-perdigueira ou Águia de Bonelli

A

Águia-perdigueira ou Águia de Bonelli Aquila fasciata é uma ave de presa de grande porte, que pode ser observada durante todo o ano nos seus territórios. Os adultos distinguem-se pelo corpo claro e asas escuras e pela singular mancha branca no dorso, enquanto os juvenis têm uma plumagem distinta dominada por tons ruivos. É uma exímia caçadora que adapta a sua dieta às presas mais abundantes, como pombos, perdizes e coelhos, podendo mesmo capturar presas tão grandes como a Garça-real, sendo comum a adoção de estratégias de caça cooperativa pelos membros

A mais pequena e discreta das três grandes águias que ocorrem em Portugal é a Ave do Ano 2018. Apesar de estar actualmente em expansão no sul do país, esta ave de presa residente enfrenta ainda diversas ameaças para as quais a SPEA, com o apoio de diversos parceiros, pretende sensibilizar com a campanha deste ano.

Águia-perdigueira / Águia de Bonelli António Guerra

8 | pardela n.º 56

do casal. Os seus voos acrobáticos, com função nupcial e de defesa do território, são dos espectáculos mais impressionantes da natureza.

Situação em Portugal A população portuguesa de Águia de Bonelli está classificada como «Em Perigo» pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e em 2011 foi estimada entre 116 a 123 casais reprodutores, em que cerca de 70% nidifica em árvore, ao contrário do que acontece com a maioria das populações europeias que nidifica em rocha.

Embora tenha requisitos ecológicos exigentes (como grandes territórios e locais tranquilos para reprodução), a sua elevada plasticidade permite-lhe adaptar-se a vários habitats, desde os vales alcantilados transmontanos e beirões às serras algarvias, planícies alentejanas e áreas humanizadas saloias. Após um declínio acentuado nos anos 80, apresenta actualmente uma evolução positiva associada à contínua expansão dos casais no sul do país, que escolhem preferencialmente árvores como local de nidificação, o que permite à espécie ocupar áreas desprovidas de escarpas.


Águia de Bonelli em voo Artemy Voikhansky

Esta expansão em áreas florestais tem contribuído igualmente para a estabilidade actual da população europeia, que está concentrada em cerca de 80% na Península Ibérica. Em Portugal, o maior núcleo rupícola encontra-se no Nordeste Transmontano, onde a SPEA e parceiros nacionais e internacionais estão a desenvolver acções de conservação no âmbito do projecto Life Rupis de forma a impedir a regressão dos casais do Douro Internacional. Apesar da tendência geral positiva, a Águia de Bonelli continua a enfrentar várias ameaças, entre as quais se destacam: a perda e degradação do habitat associadas às alterações do uso do solo, que têm consequências ao nível da disponibilidade de presas em particular para a população rupícola do Nordeste Transmontano e da disponibilidade de locais de nidificação para a população arborícola, nomeadamente o rápido desaparecimento de árvores de grande porte, onde prefere nidificar; a perturbação durante a época de reprodução (que se estende de Dezembro a Junho), pois é uma espécie particularmente sensível à presença humana em redor dos ninhos; e a electrocussão em linhas eléctricas de média e alta tensão, que afecta adultos e juvenis.

«Cabeça de cartaz» A campanha Ave do Ano, em conjunto com as actividades e acções de conservação e sensibilização do projecto Life Rupis, do protocolo Avifauna VII e do Grupo de Trabalho em Águia de Bonelli, pretende alertar para as ameaças que a espécie enfrenta e para a sua importância no equilíbrio dos ecossistemas como representante dos predadores de topo da nossa fauna, nomeadamente no controlo de doenças de espécies cinegéticas, como o coelho e a perdiz, através da captura dos animais mais fracos.

Entre as várias acções, são de citar actividades de educação ambiental na zona do Douro Internacional e em Sintra, bem como a escolha da espécie como «cabeça de cartaz» do Festival ObservArribas. SAIBA MAIS EM

www.spea.pt/pt/participar/ campanhas

Autora | Rita Ferreira Grupo de Trabalho em Águia de Bonelli – SPEA

NOTA: Por pedido do autor, este artigo não segue o Acordo Ortográfico de 1990

Ninho de Águia de Bonelli Leonardo Lazaro

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Life Rupis Conservando águias e abutres nas Arribas do Douro

Britango Carlos Delgado CC-BY-SA

Num território marcado pela força da água e pelos extremos do clima, o projeto Life Rupis trabalha na conservação de aves ameaçadas, promovendo os valores naturais e o desenvolvimento sustentável. Ao fim de quase três anos já muito foi feito por esta região e aqui ficam alguns dos resultados alcançados.

P

or entre os vales e as escarpas das Arribas do Douro, voam verdadeiras aves raras. Dão pelo nome de águia-perdigueira Aquila fasciata e britango Neophron percnopterus. Na última década, a população de águia-perdigueira no norte de Portugal teve um declínio de 40%. E o britango – um pequeno abutre venerado no antigo Egito e que é das poucas aves que conseguem utilizar ferramentas – viu a sua população reduzida para metade em Portugal e Espanha, nos últimos 40 anos. 10 | pardela n.º 56

É também nesta região que ainda se encontra uma das mais importantes populações de britango da Península Ibérica, com cerca de 130 casais e, em relação à águia-perdigueira há apenas 12 a 14 casais. Para contrariar estas tendências, a SPEA coordena o projeto «Life Rupis – Conservação do britango e da águia-perdigueira no vale do rio Douro». Este projeto transfronteiriço engloba os Parques Naturais do Douro Internacional (PNDI) do lado português, e dos Arribes del

Duero (PNAD) do lado espanhol. Iniciado em 2015, é cofinanciado através do programa LIFE da Comissão Europeia, e estender-se-á até 2019, contando com a colaboração de vários parceiros nacionais e internacionais. O Life Rupis tem como objetivo principal reforçar as populações de britango e águia-perdigueira na região, através da redução da sua mortalidade e do aumento do seu sucesso reprodutor. As ações do projeto irão também beneficiar outras espécies, como o abutre-preto Aegypius monachus e o milhafre-real Milvus milvus.


Preparando o terreno O Life Rupis desenvolve dezenas de ações não só de conservação e monitorização para reduzir as ameaças diretas sobre as aves, mas também de sensibilização e promoção dos valores naturais do território, contribuindo para um desenvolvimento local mais sustentável com benefícios para a natureza e populações residentes nos parques. De modo a reduzir a mortalidade das espécies-alvo do projeto provocadas sobretudo através de eletrocussão, cerca de 2 km de linhas elétricas perigosas já foram desmanteladas e mais de 15 km foram corrigidas (através de isolamento dos apoios elétricos dos postes). Mais linhas serão ainda intervencionadas até ao final do projeto, de ambos os lados da fronteira.

O Life Rupis desenvolve dezenas de ações não só de conservação e monitorização para reduzir as ameaças diretas sobre as aves. Outro importante trabalho que tem vindo a conjugar a conservação de espécies selvagens com a própria

Prospeção ao longo das linhas elétricas Joaquim Teodósio

saúde pública, tem a ver com a prevenção, deteção e investigação de casos de uso ilegal de venenos. Apesar de pontual, esta ameaça pode ter graves consequências, uma vez que um único caso de uso de veneno pode matar um grande número de aves. No âmbito do projeto foram formadas duas brigadas cinotécnicas da GNR (com cães especificamente treinados para detetar venenos) que atuam agora na área do PNDI e concelhos adjacentes. Envolvendo os vários parceiros do projeto, entidades locais e a própria população têm sido detetadas várias situações, estando a ser acompanhados cinco casos que causaram a morte de dois

milhafres-reais e uma raposa, para além de vários animais domésticos. O projeto tem vindo também a promover o aumento dos recursos alimentares para as espécies-alvo. Para beneficiar os britangos, faz-se a gestão de uma rede de campos de alimentação suplementar, espaços cercados onde são depositados subprodutos da atividade pecuária e de talhos. Por outro lado, para ajudar as águias, recuperou-se e fez-se a gestão de 22 pombais tradicionais que pontilham de branco os seus territórios e aumentam o número de presas disponíveis, neste caso, pombos.

Demonstração da brigada cinotécnica Joaquim Teodósio

n.º 56 pardela | 11


mais de 100 ha de terrenos privados distribuídos pela área do projeto e onde se aplicam medidas de gestão de habitat como o corte de matos e instalação de sementeiras, criando um mosaico diversificado de vegetação, que não só ajudam a manter as populações de algumas das presas das espécies-alvo (como o coelho e a perdiz), como também a reduzir a ameaça dos incêndios, que em 2017, além do impacto humano, também se revelaram mortais para algumas das aves destas arribas.

O voo dos britangos Para se saber mais sobre o britango, foram marcados com emissores cinco indivíduos, cujas rotas de migração podem ser seguidas nos mapas disponibilizados no website do projeto. Desta forma vamos saber mais, não só sobre os seus habitats na região do projeto, mas também durante o período de migração e da sua estadia em África, durante o Inverno.

Na escola e outros eventos

Foram também adquiridos 80 ha de terrenos destinados à conservação de espécies e habitats, que se juntam a

parceiros

coordenação

SAIBA MAIS EM

www.rupis.pt www.observarribas.com

Autor | Joaquim Teodósio SPEA

Life Rupis

EASME

cofinanciamento

Entre águias e abutres, com o Douro a unir os dois lados ibéricos, o Life Rupis pretende continuar a trabalhar para que a conservação da avifauna das Arribas seja um símbolo da força e vida de uma região onde “9 meses de Inverno e 3 de Inferno” contribuíram para um património natural e humano de uma riqueza única no contexto ibérico e que merece sem dúvida a visita de todos.

Campo de alimentação

Elementos da equipa Life Rupis

12 | pardela n.º 56

A sensibilização da população e dos visitantes é também uma prioridade do Life Rupis, com um foco especial nos mais novos. Foram realizadas quase uma centena de atividades nas escolas dos dois lados do Douro, envolvendo mais de 1 500 jovens e professores. Para valorizar o território e promover as Arribas do Douro como um destino de Natureza e sustentabilidade, o projeto promoveu em 2017, em parceria com o município

de Miranda do Douro, a organização do I ObservArribas – Festival Ibérico de Natureza das Arribas do Douro. O festival recebeu cerca de 800 participantes em cerca de 70 atividades focadas nos valores naturais e culturais da região, estando a segunda edição já marcada para 25 a 27 de maio de 2018.


Douro Internacional Parque Natural de aves e escarpas

Arribas do Douro Internacional (albufeira de Aldeadavilla) António Monteiro

Serpenteante e tranquilo, o rio Douro avista-se no fundo de um extenso canyon, um enorme monumento natural ibérico. Grifos, britangos, águias, cegonhas-pretas, gralhas-de-bico-vermelho, andorinhões e melros-azuis entre tantos outros, cruzam o vale, rasam escarpas, poisam nos esporões rochosos. Bem-vindos às arribas do Parque Natural do Douro Internacional.

N

o nordeste do país, situa-se o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) que abrange os vales fronteiriços dos rios Douro e Águeda, tocando em quatro concelhos: Miranda do Douro (no qual a freguesia de Constantim é o limite norte), Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Figueira de Castelo Rodrigo (no qual a freguesia da Vermiosa é o limite sul). A característica mais peculiar deste Parque relaciona-se com a história geológica do rio, nomeadamente o processo fluvial

iniciado há cerca de 18 milhões de anos, com um «proto-Douro» que aproveitou uma fratura da Meseta Ibérica (hoje a planura de Castela-Leão) e formou um canal de drenagem de uma vasta bacia que não possuía ligação ao Oceano Atlântico. Esse processo erosivo criou um profundo canyon, ou canhão fluvial, no fundo do qual o Douro correu livre e selvagem, deixando a descoberto um contínuo de escarpas rochosas, conhecidas localmente por fragas e no seu conjunto como arribas. São estes

vales encaixados que conferem a beleza e a identidade paisagística a esta zona, contrastando, sem dúvida, com os planaltos adjacentes em ambos os lados da fronteira.

As aves das fragas O PNDI e o Parque Natural de los Arribes del Duero, em conjunto, perfazem uma área de 200 000 ha. É um território com baixa densidade populacional, dominado por atividades agropecuárias extensivas. n.º 56 pardela | 13


Devido a essas características, a par da grande abundância de escarpas rochosas, a área constitui um dos principais «santuários» de aves rupícolas a nível nacional, ibérico e europeu. A área destaca-se, sobretudo, pela elevada diversidade dessas aves «rupestres» (mais de 20 como nidificantes regulares) e pela grande dimensão de espécies muito ameaçadas como a cegonha-preta Ciconia nigra (15 casais), britango Neophron percnopterus (121 casais), águia-real Aquila chrysaetos (25 casais), águia-perdigueira Aquila fasciata (14 casais), e ainda outras como falcão-peregrino Falco peregrinus, gralha-de-bico-vermelho Pyrrhocorax pyrrhocorax, chasco-preto Oenanthe leucura. Esta área é também importante para aves rupícolas em situação não vulnerável, como o grifo Gyps fulvus (mais de 100 casais), o bufo-real Bubo bubo, o andorinhão-real Tachymarptis melba e o pombo-das-rochas Columba livia (maior população nacional). Merece ainda referência a presença de uma pequena população de abutre-preto Aegypius monachus de não mais de 10 indivíduos e com um único casal (conhecido) a nidificar em biótopo rochoso (a plataforma do ninho situa-se, contudo, numa árvore).

Para além das arribas O Douro Internacional é também muito importante pelo conjunto de aves que aí nidificam (inventariadas mais de 100 espécies) e/ou invernam (no

Britango António Monteiro

14 | pardela n.º 56

Sisão (fêmea) José Viana

Grifo Jean-Raphaël Guillaumin

Planalto Mirandês António Monteiro

total cerca de 150 já observadas), nomeadamente as que dependem dos biótopos agrícolas e/ou estepários. Os planaltos Mirandês e de Riba-Côa (Figueira de Castelo Rodrigo), parcialmente incluídos dentro do PNDI e situados numa área de relevo suave a uma cota dos 700 m, abrangem as últimas bolsas de habitat pseudo-estepário do Norte do país, e onde ainda

nidificam espécies como o sisão Tetrax tetrax, o alcaravão Burhinus oedicnemus, a águia-caçadeira Circus pygargus, a calhandra-real Melanocorypha calandra. Nestas áreas tem-se observado um declínio no cultivo cerealífero, com consequente regressão demográfica das aves estepárias, aumentando o risco iminente de desaparecimento.

Cotovia-montesina António Monteiro


PORTUGAL

ESPANHA

Diversidade de aves Outras espécies que, pela abundância no PNDI e relativa raridade no território nacional, merecem destaque são o milhafre-real Milvus milvus, o bútio-vespeiro Pernis apivorus, o noitibó-cinzento Caprimulgus europaeus, o cuco-rabilongo Clamator glandarius, a toutinegra-real-ocidental Sylvia hortensis e o bico-grossudo Coccothraustes coccothraustes. Na zona sul do PNDI interessa referir a albufeira de Santa Maria de Aguiar, um hotspot em termos de aves, nomeadamente de aquáticas (ex. mergulhão-de-crista Podiceps cristatus), sendo um conhecido ponto de observação de «raridades».

MIRANDA DO DOURO

2

MOGADOURO

4

Rio Douro

9

8 Bermellar Lumbrales

FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO

SOBRADILLO

San Felices de los Galegos

Rio Águeda

1

ESPANHA

6

Capela de São das Arribas

2

7

Capela de N. Sra del Castillo

(FARIZA, ZAMORA)

3

ICNF

4

Miradouro do Carrascalinho

(FORNOS, FREIXO DE ESPADA À CINTA)

8

Miradouro do Puio

Miradouro do Penedo Durão

(POIARES, FREIXO DE ESPADA À CINTA

9

Faia de Água Alta

(LAMOSO, MOGADOURO)

5

Miradouro e Percurso Picón de Felipe

(ALDEADÁVILA, SALAMANCA)

(PICOTE, MIRANDA DO DOURO)

Autor | António Monteiro

FERMOSELLE

Parque Natural Arribes del Duero

7

FREIXO DE ESPADA À CINTA

(ALDEIA NOVA, MIRANDA DO DOURO)

www.natural.pt

Rio Douro

Vilarino de los Aires

PORTUGAL

SAIBA MAIS EM

5

6

O Parque Natural do Douro Internacional é um mundo de vales alcantilados e planaltos a perder de vista, espaços vastos e remotos com aves e surpresas a cada passo. Tesouros únicos, ali guardados, à sua espera.

E agora só lhe podemos desejar boa viagem e boas observações.

Moralina

3

Miradouros para observar aves rupícolas

Em ambos os parques naturais existem um conjunto de miradouros e percursos aconselhados. Escolhemos 10 dessas opções (de norte para sul).

1

Parque Natural do Douro Internacional

Percurso da Rib. do Mosteiro/Alpajares

(POIARES, FREIXO DE ESPADA À CINTA)

Miradouro de Picões

Capela de Sto. André

(PEREDO DE BEMPOSTA, MOGADOURO)

(ALMOFALA, FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO)

A sua quota faz a diferença para todos nós.

O trabalho da SPEA só é possivel com o apoio dos sócios. Regularize as suas quotas e ajude a natureza.

Saiba como em bit.ly/QuotasSPEA

n.º 56 pardela | 15


A Ciência das aves

Abordagem molecular ao estudo das aves marinhas Autores | Mónica C. Silva Coordenação | Ana I. Leal

1

As aves marinhas pelágicas

As aves marinhas pelágicas, como o nome indica, incluem as espécies que habitam as zonas oceânicas de águas profundas. Regra geral, estas aves apenas visitam terra na época de nidificação, passando o restante tempo em alto-mar. Principalmente as espécies de pequeno e médio porte, como o calca-mar Pelagodroma marina, os painhos ou as freiras, são noturnas em terra e, como nidificam em ilhas remotas, passam despercebidas à generalidade das pessoas.

2

A genética das aves marinhas pelágicas

Os marcadores moleculares (diferentes regiões do ADN) são ferramentas essenciais para estudar a história evolutiva e a demografia das aves marinhas, incluindo a evolução do seu efetivo populacional, o fluxo genético entre populações e a sua

16 | pardela n.º 56

Compreender como é que novas espécies se formam – especiação – e quais os mecanismos que lhes dão origem, pode hoje ser mais fácil mediante uma abordagem multi-disciplinar. Estudos genéticos vieram facilitar o nosso conhecimento sobre o processo de especiação e as aves marinhas são um modelo perfeito para estes estudos.

dispersão, particularmente nestas espécies que, por nidificarem em colónias remotas, são difíceis e dispendiosas de seguir.

Calca-mar Teresa Catry

Filogeografia As aves marinhas são modelos muito apropriados para estudar a importância de barreiras físicas (por ex. geológicas, oceanográficas) e/ou não-físicas (por ex. comportamento) na distribuição geográfica da diversidade genética. Por um lado, são voadoras exímias, capazes de percorrer milhares de quilómetros para se alimentarem; por outro lado, a sua dependência do meio marinho e a tendência generalizada para serem filopátricas (i.e., tenderem a voltar à colónia natal para aí se reproduzirem), acentuam o isolamento reprodutor. Sabemos hoje, por exemplo, que o Istmo do Panamá funciona como uma barreira eficaz para a alma-negra Bulweria bulwerii e o roque-de-castro

Hydrobates castro, cujas populações, apesar de terem uma distribuição tropical alargada no Atlântico e no Pacífico, se encontram diferenciadas geneticamente entre as duas bacias oceânicas. Porém, não são só as barreiras físicas que restringem o fluxo genético entre populações. Nos Açores, estima-se que possa ter ocorrido um dos poucos casos conhecidos de especiação simpátrica (i.e., isolamento reprodutor e diferenciação genética de populações numa mesma área, levando à formação de novas espé-


Freira-do-bugio, juvenil Mónica Silva

As aves marinhas são modelos muito apropriados para estudar a importância de barreiras físicas e/ou não-físicas na distribuição geográfica da diversidade genética.

cies) em vertebrados. Nalguns ilhéus, o painho-de-monteiro Hydrobates monteiroi e o roque-de-castro partilham colónias de nidificação, usando até os mesmos ninhos; mas, enquanto os primeiros nidificam no verão, os segundos nidificam no inverno, numa segregação temporal completa. Apesar de não ser conhecido o mecanismo que terá desencadeado esta divergência, pensa-se que as duas espécies especiaram de facto nos Açores a partir de uma população ancestral, apresentando hoje uma diferenciação genética acentuada, além de diferenças morfológicas e vocais significativas.

Na Madeira, nomeadamente nas ilhas Desertas e Selvagens, pensa-se que pode estar a ocorrer um processo semelhante, pois as populações sazonais de roque-de-castro já se encontram geneticamente diferenciadas, apesar de não terem ainda especiado. O calca-mar, de corpo pequeno e longas patas, que parece «calcar o mar» enquanto se alimenta em voo, tem uma distribuição cosmopolita, ocorrendo nas regiões temperadas do Hemisfério Norte, no oceano Atlântico, e do Hemisfério Sul, nos oceanos Atlântico e Pacífico. Mode-

los estatísticos de filogeografia (que estuda a distribuição geográfica da variação genética) sugerem que as populações anti-tropicais da espécie divergiram há muito tempo e que, desde então, não há fluxo genético entre hemisférios. Neste caso, o isolamento geográfico parece contribuir decisivamente para uma divergência populacional acentuada entre hemisférios. Espelhando o padrão filogeográfico encontrado para outras espécies de aves marinhas co-distribuídas no Hemisfério Sul, a divergência entre populações dos oceanos Atlântico e Pacífico parece ter ocorrido durante as grandes osn.º 56 pardela | 17


Ilha da Deserta Grande Mónica Silva

A genética da conservação A contribuição mais relevante das ferramentas moleculares para a conservação das espécies passa pela identificação de unidades de conservação (populações com características distintas). Essa identificação deve basear-se numa taxonomia rigorosa e no reconhecimento de populações e espécies evoluindo em isolamento reprodutor, e cuja perda se traduziria numa diminuição significativa da diversidade genética e da capacidade adaptativa das espécies. Outra contribuição importante é a de possibilitar a identificação das

Alma-negra Teresa Catry

18 | pardela n.º 56

colónias de origem de aves mortas devido a atividades de origem antropogénica, como as capturas acidentais por interacção com artes de pesca (bycatch), a qual pode atingir uma proporção significativa de indivíduos de algumas espécies. Nestes casos, desde que haja diferenciação genética das diversas colónias, os genes funcionam como um marcador que permite ligar cada indivíduo à colónia de origem. Assim, é possível estimar quais as colónias mais afectadas pela interacção com as pescas.

3

Por outro lado, o incremento do uso das novas tecnologias de sequenciação permitirá a identificação de genes ou regiões do genoma (genómica) responsáveis pela adaptação das populações às condições ambientais locais. Essa resposta adaptativa desempenha também um papel fundamental nos padrões de diversificação no meio marinho.

O futuro

A combinação dos estudos com marcadores moleculares com outras técnicas, incluindo o seguimento dos indivíduos, análises de isótopos estáveis (elementos cuja concentração variam p.ex. com a origem geográfica das populações) ou dados de anilhagem, é ainda pouco utilizada.

Freira-do-bugio Tom Benson

© Filipe Moniz

cilações climáticas do Plistocénico (entre há 2,5 milhões de anos e há 12 mil anos), que tiveram um efeito muito marcado na posição das frentes oceânicas e, logo, na distribuição das espécies.

Uma tal sinergia será fundamental nos estudos que visam compreender os mecanismos subjacentes à evolução no meio marinho. No caso da freira-de-cook Pterodroma cooki, a utilização complementar de dados de genética com dados de geolocalizadores e isótopos estáveis sugeriu que a especialização em áreas de invernada distintas se reflete no retorno desfasado de duas das suas populações simpátricas às colónias de nidificação. Essa assincronia temporal restringe o fluxo genético, resultando na diferenciação genética das duas populações que nidificam na mesma região.

Mónica Silva é investigadora de pós-doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais - cE3c). No âmbito da sua investigação tem desenvolvido projetos de Filogeografia e Genética de populações em aves marinhas pelágicas. Apesar da sua investigação se desenrolar sobretudo no laboratório, sonha muitas vezes com a oportunidade de estudar as aves nas suas colónias de nidificação.


Lagoa Pequena Um sítio a conhecer e para voltar

Camão Humberto Matos

Sozinho ou em família, seja um observador experiente ou apenas entusiasta de atividades ao ar livre, a Lagoa Pequena é um sítio a conhecer. Venha visitar-nos, estamos apenas a 25 km de Lisboa.

O

Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (EILP) é um local privilegiado para a observação de aves, não só pela sua comprovada importância ornitológica como também pelas boas condições de visitação. O espaço conta com um centro de apoio à visitação, dois percursos sinalizados e quatro observatórios.

Desde março de 2016, e no âmbito de um protocolo celebrado com a Câmara Municipal de Sesimbra, a SPEA colabora na dinamização do EILP. Desde então, pouco a pouco, temos vindo a trabalhar no sentido de uma maior e melhor fruição do espaço. Em 2017, e para melhorar a experiência do visitante, implementámos três novidades.

Uma das espécies mais emblemáticas da Lagoa Pequena é o camão. Deve o nome ao facto de levar o alimento à boca segurando-o com a pata, ou seja «com a mão». n.º 56 pardela | 19


aves

Pica-pau-malhado

Guarda-rios Alcedo atthis

Dendrocopos major

~17 cm

~23 cm

da lagoa pequena Ilustrações gentilmente cedidas por Juan M. Varela Simó e Mike Langman ( rspb-images.com )

Melro

Turdus merula ~25 cm

Gralha-preta Corvus corone ~47 cm

Garça-vermelha Ardea purpurea

75-90 cm (pescoço distendido)

Garça-branca Egretta garzetta 55-65 cm

Camão

Porphyrio porphyrio 45-50 cm

Frango-d’água

Galinha-d’água

~25 cm

~32 cm

Rallus aquaticus

Gallinula chloropus

Pintassilgo

Fuinha-dos-juncos

Pisco-de-peito-ruivo

~12 cm

~10 cm

~14 cm

Carduelis carduelis

Cisticola juncidis

Erithacus rubecula

Rouxinol-dos-caniços

Cartaxo

Saxicola torquatus

Acrocephalus scirpaceus

~12 cm

~13 cm

(fêmea) (fêmea) (fêmea)

(macho) (macho)

(macho)

Pato-colhereiro

Marrequinha

44-52 cm

34-38 cm

Spatula clypeata

20 | pardela n.º 56

Anas crecca

Pato-real

Anas platyrhynchos 50-65 cm


Garça-real

Corvo-marinho

90-100 cm (pescoço distendido)

80-95 cm

Ardea cinerea

Phalacrocorax carbo

Águia-pesqueira Pandion haliaetus

50-55 cm (Env. 1,50-1,62m)

Águia-sapeira Circus aeruginosus

45-55 cm (Env. 1,115-1,35m)

(inverno)

(plumagem nupcial)

Guincho

Águia-d’asa-redonda

~36 cm

50-55 cm (Env. 1,10-1,35m)

Gaivota-de-patas-amarelas

Buteo buteo

Larus ridibundus

Larus michahellis ~60 cm

Chapim-azul

Chapim-real

Bico-de-lacre

~11 cm

~14 cm

~11 cm

Parus major

Cyanistes caeruleus

Estrilda astrild

Carriça

Rouxinol-bravo

~10 cm

~13 cm

Troglodytes troglodytes

Cettia cetti

(fêmea) (inverno) (plumagem nupcial) (macho)

Frisada

Galeirão

Mergulhão-pequeno

46-56 cm

~38 cm

25-29 cm

Mareca strepera

Fulica atra

Tachybaptus ruficollis

n.º 56 pardela | 21


Quer agendar uma visita guiada à Lagoa Pequena, mas ainda não reuniu amigos suficientes para perfazer o mínimo de seis participantes? Foi a pensar em si que, este ano, para além de recebermos inscrições livres, ainda agendámos datas fixas para estas visitas, que terão sempre lugar no último sábado de cada mês.

Binóculos e Kits de exploração

Novos recursos didáticos Além de alguns recursos dirigidos ao público escolar, os visitantes contam agora com um mini-guia das aves da Lagoa Pequena, que os ajudará a identificar as espécies mais

Galeirão

Fulica atra

O galeirão é tão numeroso no EILP que o escolhemos para símbolo do espaço. No inverno, chegamos a contar bandos de duas centenas!

comuns e a saber mais acerca do seu comportamento. Em 2017, registámos um aumento no número de visitas de cerca de 20% e dinamizámos 24 iniciativas, que contaram com 395 participantes. Fique atento, porque este ano será igualmente repleto de saídas de campo, minicursos e muito mais.

Autora | Paula Lopes SPEA

© Domingos Leitão

© Daniel Raposo

Se não tiver ou não trouxer binó-

culos, não se preocupe, pois nós alugamos. A pensar nos mais pequenos, também disponibilizamos um kit de explorador da natureza com binóculos, lupa e desafios mensais. Os exploradores que completarem corretamente os desafios até têm direito a um certificado.

Guarda-rios

Alcedo atthis

Ver esta ave, uma das mais coloridas que ocorrem em Portugal, pode ser um desafio. Muitas observações resumem-se a um «raio» azul, rasando a superfície da água.

© Daniel Raposo

Visitas guiadas

Pêrra Aythya nyroca A pêrra é um pato mergulhador difícil de observar em Portugal. Nos últimos anos, tem havido registos regulares no EILP, durante o inverno, sendo um bom local para procurar esta espécie.

A2

CONTACTOS

N10 A33

info.lagoapequena@cm-sesimbra.pt (+351) 93 998 22 92

ABERTURA AO PÚBLICO Quartas, sextas, sábados e domingos (Encerrado segundas, terças e feriados)

HORÁRIO 15 JUN - 15 SET: 10h-12h30 e 14h-18h30 16 SET - 14 JUN: 9h-13h e 14h-17h (Última entrada 1h antes do encerramento)

22 | pardela n.º 56

(Disponível apenas durante o horário de funcionamento)

Para saber mais visite-nos em www.cm-sesimbra.pt/lagoapequena

DIREÇÕES Estrada Nacional 377, KM 29 38° 31,343’ N | 9° 08,493’ O

Fernão Ferro

Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena

N378

N377


Jordânia Um oásis no deserto A Jordânia é um museu ao ar livre que combina cultura, história e aventura. Visitar este país permite aliar a observação de aves com algumas das maravilhas mais impressionantes do Médio Oriente, como a cidade arqueológica de Petra, o deserto Wadi Rum, ou o mar Morto.

P

ara muitos, a Jordânia é sinónimo de Petra, um sítio de elevado interesse cultural, de acordo com a Lista de Património da Humanidade, reconhecimento conferido pela UNESCO. A verdade é que os encantos deste país estão longe de se poder resumir de forma assim tão simples.

A Jordânia está localizada na margem leste do rio Jordão, numa região

onde se juntam Ásia, África e Europa. Apesar de pequeno (ca. 90 000 km2), é um país com uma biodiversidade extraordinária. Os diferentes habitats, incluindo florestas de pinheiros e carvalhos, estepes com arbustos e desertos quentes e secos, atraem uma grande variedade de aves: mais de 435 espécies foram já registadas na Jordânia e dessas, quase 350 são migradores de passagem, atraves-

sando o país entre as suas áreas de reprodução e invernada. Neste país há 17 Áreas Importantes para as Aves e Biodiversidade (IBA), quase 10% de todo o território. A Jordânia proporciona uma experiência única para a observação de aves num dos mais impressionantes cenários do Médio Oriente.

O deserto de Wadi Rum Maria Alho

n.º 56 pardela | 23


A zona húmida de Azraq Azraq («azul», em árabe) é um oásis no coração do deserto oriental da Jordânia, que lhe dá vida à medida que nos vamos aproximando. Não só é o lar de inúmeras espécies de aves residentes, mas é também lugar de passagem importante para milhares de migradores que atravessam as terras secas ao seu redor. Um trilho em madeira de aproximadamente 2 km percorre a reserva, com observatórios ao longo do caminho, onde é possível avistar residentes, como a calhandra-de-bico-curvo Alaemon alaudipes, o asa-rosada Rhodospiza obsoleta, a toutinegra-rosada Sylvia mystacea, a pequena felosa-real Acrocephalus melanopogon, e uma espécie introduzida, a tuta-d’orelhas-brancas Pycnonotus leucotis. Espécies aquáticas, como o combatente Calidris pugnax, o go-

A reserva da Biosfera de Dana é a maior e mais diversificada da Jordânia, englobando as quatro diferentes zonas biogeográficas no país.

Acompanhando os guias beduínos a caminho de Petra Maria Alho

raz Nycticorax nycticorax, a franga-d’água-bastarda Porzana parva, o papa-ratos Ardeola ralloides e o colorido guarda-rios-de-papo-branco Halcyon smyrnensis encontram-se perto das lagoas. Na primavera e outono podem observar-se várias espécies de passeriformes como felosa-agrícola Acrocephalus agricola, a despercebida cigarrinha-malhada Locustella naevia e o solitário Cercotrichas galactotes. Entre as 280 espécies migratórias registadas nesta zona húmida estão também o discreto bútio-vespeiro Pernis apivorus e o grou Grus grus.

Reserva da Biosfera de Dana

Chasco-fúnebre Maria Alho

24 | pardela n.º 56

Uma paisagem espetacular de 292 km2 em diferentes altitudes, com vales íngremes cortados por montanhas majestosas. A reserva da Biosfera de Dana é a maior e mais diversificada da Jordânia, englobando as quatro diferentes zonas biogeográficas no país. Acredita-se que a maior parte da população mundial reprodutora de milheirinha-do-levante Serinus syriacus, que tem o estatuto «Vulnerável», esteja em Dana.

Aqui é possível observar o comum estorninho-d’asa-ruiva Onychognathus tristramii, a tuta-de-lunetas Pycnonotus xanthopygos, a imponente águia-preta Aquila verreauxii, o bútio-mourisco Buteo rufinus e o beija-flor-da-palestina Cinnyris osea. Dana é também um dos melhores locais para encontrar a inconspícua coruja-da-palestina Strix hadorami. É possível pernoitar nestas montanhas remotas, no acampamento Rummana, e com alguma sorte, vê-la e ouvi-la durante as noites de primavera.

Petra e Wadi Rum Petra, a antiga capital do Reino Nabateu, é um excelente lugar para a observação de aves como a calhandra-do-deserto Ammomanes deserti, o melro-azul Monticola solitarius, o chasco-fúnebre Oenanthe lugens e o pardal-espanhol Passer hispaniolensis. Destaca-se também a passagem de rapinas como o milhafre-preto Milvus migrans e a águia-das-estepes Aquila nipalensis. Em Petra, o deserto de Wadi Rum estende-se a perder de vista. Wadi


Rum, ou «Vale da Lua», é um enorme vale no sul do país, com cerca de 74 000 ha, classificado pela UNESCO como Património Mundial. O cenário é esmagador e cinematográfico. Areias com tonalidades de amarelo-escuro, âmbar e vermelho, e sumptuosas montanhas de rocha monolítica, de arenito e granito. Várias espécies de acácia podem aqui ser encontradas, bem como flores selvagens e gramíneas que crescem entre as rochas neste habitat extremo. Em Wadi Rum encontra-se a maior área protegida do país, onde já foram observadas cerca de 120 espécies de aves, incluindo o peito-rosado-do-sinai Carpodacus synoicus, o trombeteiro Bucanetes githagineus, o chasco-de-barrete-branco O. leucopyga, falcão-cinzento Falco concolor (estatuto «Vulnerável») e o corvo-do-deserto Corvus ruficollis. Contemplar o pôr do sol em Wadi

Expedição em Wadi Rum Maria Alho

Rum é um momento que fica gravado para sempre. As cores vão mudando nas montanhas ao redor, com tons laranja a engolirem a paisagem, antes de descerem serenamente sobre o deserto. Aqui, o silêncio é ab-

soluto, deixando apenas espaço para observar o manto estrelado antes de adormecer num acampamento beduíno. Autora | Maria Alho

Dicas para o visitante Sugere-se visitar este país durante a primavera (de março a maio) ou outono (de setembro a novembro), quando é possível observar migradores. Além disso, o clima é mais ameno nestas alturas do ano.

Peito-rosado-do-sinai Maria Alho

Tuta-de-lunetas Maria Alho

É necessário visto de entrada, que poderá ser adquirido à chegada ao aeroporto de Amã. O visto de entrada individual é válido por dois meses e custa 40 JOD (ca. 47 euros). Aconselha-se o contacto com um guia local ou optar pelo aluguer de uma viatura. As estradas são de boa qualidade e com óptima sinalização. A Jordânia é um dos países mais estáveis da região e, por isso, relativamente seguro para turistas. WEBSITE DE INTERESSE

The Royal Society for the Conservation of Nature www.rscn.org.jo Chasco-de-barrete-branco (imaturo) Maria Alho

n.º 56 pardela | 25


Como voam as aves? Uma questão de balanço de forças

Beija-flor em voo Michael Baird

O que o/a fascina nas aves? Aposto que a capacidade de voar está no top 5 da sua lista. Talvez até já tenha tido vontade de experimentar a sensação de ser «livre como um passarinho». Mas já se questionou como é que conseguem as aves manter-se e mover-se no ar?

V

oar é uma questão de balanço de forças. A gravidade actua sobre todas as coisas, puxando-as para o centro da terra – as aves não são excepção. Para que uma ave se eleve tem de existir uma força que a puxe no sentido oposto e que seja superior à gravidade. Essa força chama-se sustentação.

26 | pardela n.º 56

Como se produz sustentação? Se seccionarmos a asa de uma ave transversalmente, a forma desse corte, ou perfil alar, é semelhante à da Figura 1: o bordo anterior é arredondado, o bordo posterior é afilado e a face superior convexa. A face in-

Figura 1

Corte transversal, ou perfil alar, de uma asa


Figura 2 - Forças produzidas durante a passagem de ar pela asa

um destes factores, maior a sustentação. Mas, no caso do ângulo de ataque, isto só acontece dentro de certos limites; se for demasiado elevado, o fluxo de ar sobre a asa deixa de ser regular, torna-se turbulento e a asa perde sustentação.

As outras forças em jogo

Força ascendente na asa = SUSTENTAÇÃO

ferior pode ser mais ou menos côncava, conforme a espécie. Este perfil faz com que o ar que passa pela asa seja empurrado para baixo. Portanto, a asa exerce uma força descendente sobre o ar (Figura 2). De acordo com uma lei da Física, a Lei da Acção–reacção, para cada acção há uma reacção de igual intensidade e sentido oposto (se assim não fosse, não conseguiríamos nadar, ficaríamos parados e apenas empurraríamos água). Assim, associada à força descendente há uma força contrária, ascendente, exercida pelo ar sobre a asa – a sustentação.

Força descendente no ar

coloca no topo de uma falésia, de asas abertas, contra o vento, ou quando um pato corre sobre a água para levantar voo. A quantidade de sustentação produzida é afectada por alguns factores: o tamanho da asa, a velocidade a que o ar passa por ela e o ângulo de ataque (ângulo que a asa faz com a direcção do ar). Quanto maior cada

Figura 3 - As quatro forças

Além da força da gravidade (ou peso) e da sustentação, há mais duas forças a considerar, que se opõem entre si: resistência e impulso. A resistência é a força que experimentamos se pusermos uma mão fora da janela num automóvel em andamento, em que a mão é empurrada para trás. O impulso é produzido pelo bater das asas, sendo o ar empurrado para baixo e para trás e, portanto, impelindo a ave para a frente e para cima. O batimento descendente produz a maior parte da força, sendo o movimento ascendente apenas de retorno à posição inicial. Se as quatro forças (Figura 3) estiverem em equilíbrio, o voo será nivelado e terá velocidade constante.

Sustentação

envolvidas no voo

O voo das aves tem inspirado as mais diversas máquinas voadoras, desde Leonardo da Vinci aos mais modernos aviões e drones. Esta explicação de como uma asa produz sustentação, que se baseia nas leis do movimento de Newton, não é a única que existe. Há outras, não havendo ainda consenso sobre qual é a mais correcta. Para que exista sustentação, o ar tem de estar em movimento em relação à asa. Isto acontece, por exemplo, quando uma gaivota se

Resistência

Impulso

Gravidade

n.º 56 pardela | 27


Músculos diferentes para voos diferentes Os músculos do peito chamam-se músculos de voo, pois são os que movimentam as asas. Proponho-lhe a seguinte observação: no supermercado ou no prato, compare a cor da carne (músculo) do peito de um frango com o de um pato. O peito do frango é claro, o do pato é escuro, correcto? Os músculos são constituídos por fibras, que podem ser brancas, vermelhas (escuras), ou de tipos intermédios. As fibras brancas permitem um voo rápido, mas por pouco tempo, como acontece quando a ave foge de um predador. As fibras vermelhas são adequadas para esforços prolongados, como os voos de longa distância de uma migração.

Pato-real Kuhnmi

Ter asas não chega O voo é a adaptação central das aves. É muito interessante verificar que, virtualmente, todos os aspectos da anatomia de uma ave estão subordinados a esta função. Não podendo fazer aqui uma lista exaustiva, apresento cinco exemplos menos óbvios. Centro de gravidade - Genericamente, a evolução fez as aves tão leves e manobráveis quanto possível. A manobrabilidade é, em geral, melhor num corpo compacto e com a maioria do peso perto do centro de gravidade (localização média do peso de um objecto). Quando uma ave voa, o seu centro de gravidade está logo abaixo dos ombros, portanto, afastado da base das patas. Para que não caia para a frente quando caminha, a parte superior da pata (fémur) está firmemente encostada ao corpo através de músculos. Assim, a extremidade inferior do fémur faz o papel de articulação da anca, que assim fica mais próxima do centro de gravidade, diminuindo o problema de equilíbrio ao caminhar. 28 | pardela n.º 56

Moela - Em vez de triturar os alimentos com dentes e mandíbulas pesadas, como os seus antepassados répteis, as aves têm a moela, parte anterior musculosa do estômago. Assim, o peso das estruturas trituradoras de alimentos foi transferido para mais perto do centro de gravidade. Esqueleto - Para que o torso aguente as forças originadas pelos fortes movimentos do voo, tem de ser rígido. Tal foi conseguido com a fusão de ossos, assim como pela existência de projecções das costelas, chamadas processos uncinados, que as ligam entre si. Aparelho reprodutor - Fora da época de reprodução, os órgãos reprodutores de machos e fêmeas encolhem muito, em tamanho e peso. No caso do peso, a redução pode chegar a 1 500 vezes. Dieta - Poucas aves se alimentam de folhas pois, como estas são pouco nutritivas, isso implica a necessidade de ingerir grandes quantidades.

Desta forma, o estômago torna-se pesado e o processo de digestão é mais lento. As aves que o fazem ou voam pouco (por exemplo, o tetraz Tetrao urogallus) ou, no caso dos patos, gansos e cisnes, que voam grandes distâncias, digerem muito rapidamente grandes quantidades de matéria vegetal, sendo esta digestão pouco eficiente na obtenção de nutrientes. O voo das aves tem inspirado as mais diversas máquinas voadoras, desde Leonardo da Vinci aos mais modernos aviões e drones. É um fenómeno, sem dúvida, fascinante e digno de contemplação. É uma das formas mais eficientes de deslocação, mas também uma das que mais energia consome, pelo que, nas actividades de observação de aves, há que ser cauteloso, evitando fazê-las voar desnecessariamente.

Autor | João Rodrigues NOTA: Por pedido do autor, este artigo não segue o Acordo Ortográfico de 1990


Cidadania pela Natureza Ações locais que fazem a diferença

Observação de aves na Lagoa dos Salgados Humberto Matos

Durante dois anos, a SPEA dinamizou um projeto para criar redes de parceiros locais e mobilizar os cidadãos para ações de sensibilização e voluntariado em três áreas Importantes para as Aves e Biodiversidade (IBA).

E

m 2016 iniciámos o projeto «Cidadania pela Natureza», vencedor do programa de atividades de âmbito ambiental da Toyota Motor Corporation. Foi a primeira vez que este prémio veio para Portugal e, por isso, a expectativa e o entusiasmo eram elevados. Dois anos e mais de 1 000 participantes depois, o projeto recebeu novamente luz verde para se estender por mais dois anos e alargar a três novos sítios, num claro reconhecimento do sucesso desta iniciativa.

A ideia deste projeto baseou-se na premissa de que a conservação da natureza é uma responsabilidade de todos e de que podemos criar oportunidades para os cidadãos se envolverem em ações que contribuam para esse objetivo. Inicialmente, escolhemos duas IBA para trabalhar: a Barrinha de Esmoriz/Lagoa de Paramos (Ovar/ Espinho) e a Lagoa dos Salgados (Silves/Albufeira). Estas áreas iniciais fo-

ram escolhidas por serem sítios com muito potencial para a dinamização de atividades, com voluntários ativos, parceiros locais interessados e próximos de instalações da Toyota Caetano Portugal. No segundo ano, alargámos o projeto à Lagoa Pequena (Sesimbra), um espaço onde já trabalhamos há alguns anos, que dispõe de um espaço interpretativo que dinamiza um diverso tipo de atividades.

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A nossa abordagem foi a de criar sinergias com entidades diversas com atuação nesses sítios ou capacidade de envolver o público. Começámos por realizar reuniões onde juntámos universidades, autarquias, cidadãos individuais, empresas, organizações de ambiente, associações de estudantes, grupos de voluntários, entre outros. Foram momentos muito importantes para conhecer o trabalho uns dos outros, identificar em conjunto as necessidades e oportunidades de ações para os sítios e estabelecer parcerias. Como resultado destes encontros, foi definido um plano de atividades para cada sítio, que foi sendo ajustado ao longo do projeto, e que focava dois tipos de ações: sensibilização e voluntariado.

Os resultados foram reconhecidos pela Toyota, que nos deu a oportunidade de continuarmos o trabalho por mais dois anos e alargá-lo a três novos sítios.

Voluntários em ação Foram várias as ações de voluntariado, em que envolvemos escuteiros, grupos de geocachers, alunos e professores, entre outros, e juntos removemos chorão e recolhemos lixo. O resultado foi uma melhoria significativa na qualidade dos espaços. © Corpo Nacional de Escutas

Concurso Água Jovem A Lagoa dos Salgados foi um dos temas do concurso «Água Jovem 2017», promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente / Administração de Região Hidrográfica do Algarve, e destinado aos alunos do 1.º ao 3.º ciclos do ensino básico Algarve. Foram inúmeros e diversificados os trabalhos recebidos, tais como textos, desenhos, maquetes e performances. A qualidade dos mesmos superou as expectativas.

O balanço final foi muito positivo, tanto a nível do número e tipologia das iniciativas como do envolvimento do público (mais de 1 000 participantes). Os resultados foram reconhecidos pela Toyota, que nos deu a oportunidade de continuarmos o trabalho por mais dois anos e alargá-lo a três novos sítios, locais mais urbanos: Parque Tejo (Lisboa), Parque da Quinta das Conchas (Lisboa) e Parque da Paz (Almada). Só conseguimos desenvolver este projeto graças à colaboração das várias entidades parceiras e dos inúmeros voluntários que a ele se aliaram. A todos deixamos aqui o nosso sincero agradecimento.

Aqui ficam alguns dos principais marcos do projecto: 30 | pardela n.º 56

Interpretar a Lagoa dos Salgados Os Amigos da Ermida de Algoz promoveram uma visita de interpretação à Lagoa dos Salgados, na qual se falou da dinâmica do local, das ameaças a que está sujeito e dos seus valores naturais. Foi um grupo muito dinâmico e abriram-se portas para novas atividades em conjunto.

Dia do Biscateiro Esta atividade decorreu numa manhã na Lagoa Pequena e envolveu voluntários, vigilantes do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e técnicos da Câmara Municipal de Sesimbra, cheios de energia e boa disposição. Realizaram desde tarefas simples a desafios mais elaborados como a limpeza dos observatórios, remoção de tábuas velhas, colocação de proteções, para não se escorregar nos passadiços, reparação da vedação, entre outras.


Um olhar jovem Os alunos das escolas de Ovar e Espinho foram desafiados a realizar trabalhos alusivos ao uso sustentável e a medidas para proteger a Barrinha de Esmoriz, num concurso organizado em parceria com as respetivas Câmaras Municipais. As duas turmas vencedoras tiveram oportunidade de participar numa visita guiada ao local, para observação de aves.

Monitorização de aves Com a colaboração do Grupo de Observadores de Aves do Algarve realizaram-se iniciativas de monitorização das populações de aves na Lagoa dos Salgados, um dos locais mais espetaculares do nosso país para observar aves. © GOAA

Dia Mundial do Ambiente

Partilha de conhecimentos

Nas comemorações do Dia Mundial do Ambiente, os alunos do 9.ºA da Escola EB 2,3 Profª. Diamantina Negrão apresentaram uma peça de teatro que elaboraram sobre «A biodiversidade da Lagoa dos Salgados». A peça foi um dos momentos altos de um evento em que a Câmara Municipal de Albufeira convidou a comunidade escolar do município a assistir a duas peças de teatro alusivas ao ambiente.

Demos a conhecer a ciência da Lagoa dos Salgados, num seminário em que juntámos investigadores e abordámos temas tão diferentes como ecossistemas e paisagens, diatomáceas estuarinas (que compõem o fitoplâncton), gestão e avifauna. Noutra ocasião, partilhámos experiências de voluntariado com convidados de autarquias, meio empresarial, ensino e organizações de ambiente.

© CMA

Para usar no dia a dia Elaborámos diversos materiais sobre os sítios, como marcadores de livros, mini-guias e posters de aves que têm permitido aos visitantes levar consigo um pouco destes espaços.

SAIBA MAIS EM

www.spea.pt/pt/estudo-e-conservacao/projetos/cidadania-pela-natureza Autor | Alexandra Lopes SPEA

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Açores Uma década de Centro Ambiental de Priolo

Priolo a alimentar um juvenil Ana Mendonça

Localizado no pitoresco concelho de Nordeste, em São Miguel, Açores, o Centro Ambiental do Priolo oferece aos que o visitam a possibilidade de encontrar uma das aves mais raras e icónicas do mundo - o priolo bem como de apreciar as cativantes paisagens desta região.

O

priolo Pyrrhula murina foi, outrora, um dos passeriformes mais ameaçados na Europa, tendo a sua situação melhorado devido aos esforços de conservação coordenados pela SPEA. O Centro Ambiental do Priolo (CAP) surgiu da necessidade de dar a conhecer a história épica de uma ave que até chegou a ser perseguida por ser considerada uma praga e que hoje é acarinhada por todos. Após 10 anos de existência, este espaço reflete a persistência e o trabalho de equipa necessários para a conserva-

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ção do património natural, especialmente nos dois concelhos da ilha de São Miguel (Nordeste e Povoação), os únicos locais onde o priolo ocorre, também conhecidos como as Terras do Priolo.

Um centro especial Nascido em 2007, a partir de uma parceria entre a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, Direção Regional dos Recursos Florestais e a SPEA, o CAP veio complementar as ações de educação e sensibilização

ambiental previstas no projeto Life Priolo (2003-2008), o primeiro projeto coordenado pela SPEA nos Açores com o objetivo de recuperar o habitat do priolo - a floresta Laurissilva dos Açores. Localizado na zona este da ilha de São Miguel, o CAP serve de porta de entrada para os visitantes da Zona de Proteção Especial do Pico da Vara/Ribeira do Guilherme, integrada na rede europeia NATURA 2000 e no Parque Natural da Ilha de São Miguel. «E pensar que já foi uma “Casa do Guarda!”», dizem alguns dos nor-


destenses que o visitam. De facto, o CAP passou de uma antiga casa florestal abandonada, para um centro de interpretação ambiental dotado de uma exposição permanente, com imagem apelativa, que aproveita materiais endógenos dos Açores e permite aos visitantes descobrirem a fascinante história do priolo. Quem o visita, encontra também uma área de receção e um pequeno bar, mas sobretudo o bom atendimento e disposição dos técnicos da SPEA que lá trabalham.

Centro Ambiental do Priolo SIARAM

Este centro é hoje uma paragem obrigatória no concelho de Nordeste. O CAP é, ainda, o orgulhoso portador do Mapa de Observações do Priolo, que recolhe os avistamentos desta ave realizados pelos visitantes na região. Uma iniciativa que teve início em 2013 e para a qual já contribuíram 547 observadores, que partilharam fotos, comentários e a satisfação de encontrar esta ave única. Este centro é hoje uma paragem obrigatória no concelho de Nordeste. Recebe inúmeros curiosos ecoando nas suas paredes os mais variados idiomas. É a partir dali, que muitos iniciam a sua busca pelo priolo, uma ave, agora já conhecida pelos locais como o «Tesouro da Tronqueira».

Visita de Priolo ao CAP Ruben Coelho

Exposição residente

Exposição residente

SIARAM

SIARAM

Atividades para todos O CAP propõe um variado conjunto de atividades de sensibilização que permitem aos seus participantes vestir a camisola da SPEA, conhecer as ações realizadas ao longo de mais de 15 anos, descobrir o património natu-

ral e cultural dos Açores e contribuir para a sua preservação. Nas visitas guiadas e trilhos interpretativos, reina a boa disposição. Conhecem-se a fauna, flora, ações de conservação e mostram-se os desafios e obstáculos e as soluções criativas encontradas. Entre os trilhos mais percorridos, está o do Pico da Vara com as suas paisagens recortadas e onde são visíveis as principais ações de restauro realizadas no habitat do priolo. «Está ali uma ave!» - é uma frase comum nas saídas de observação de aves e que para muitos visitantes marca o primeiro passo de uma paixão por este hobby. O «Priolo – O Tesouro da Tronqueira» é, sem surpresa, uma das atividades mais procuradas, visto que são muitos os que afirmam nunca ter visto um priolo e pouco sabem sobre o seu habitat ou os seus hábitos. n.º 56 pardela | 33


Várias ações de voluntariado realizadas ao longo do ano, permitiram aos participantes colaborar na produção de plantas nativas dos Açores e na sua plantação na floresta Laurissilva, ou ainda na recuperação das turfeiras. A cada quatro anos, o CAP acolhe também o Atlas do Priolo - uma iniciativa que junta mais de 50 voluntários, vindos de vários pontos da europa, que durante uma semana contam todos os priolos do mundo e cuja quarta edição decorrerá em 2020. Este evento é muito comentado, e na praça central do Nordeste é comum ouvir-se «já andam a contar priolos, está aí tanta gente!». O CAP apoia e divulga várias iniciativas de ciência cidadã, como é o caso do Censo dos Milhafres (subespécie de águia-d’asa-redonda conhecida localmente como milhafre). Promove também as várias campanhas de sensibilização ambiental coordenadas pela SPEA e outras, como o SOS Cagarro, iniciativa liderada pela Direção Regional dos Assuntos do Mar. Anualmente, este centro organiza ainda vários eventos como o Fim de Semana da Biodiversidade, a BirdRace Açores e as Jornadas do Priolo, passatempos, exposições temáticas, sem esquecer a realização de cursos anuais que visam aumentar o conhecimento sobre o priolo e não só.

Plantação de plantas nativas João Torres

Após uma década de atividade, o saldo é bem positivo. Mais de 500 atividades, com cerca de 23 500 participantes, que passaram pelas áreas intervencionadas e partilharam do entusiasmo dos técnicos da SPEA pelos resultados alcançados. Formaram-se parcerias com diversas entidades e empresas, que se foram fortalecendo ao longo dos anos e sem as quais não seria possível cumprir com a atual missão do CAP.

Turismo e promoção das Terras do Priolo Com um logótipo facilmente reconhecido, em tons de verde e com o semblante de um priolo, o CAP é,

Plantação de plantas nativas SPEA

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desde 2012, uma das 49 entidades que fazem parte da Marca Priolo, um selo de qualidade intimamente ligado à preservação ambiental e consciência ecológica de empresas e entidades ligadas ao turismo nas Terras do Priolo.

Na prática, o CAP funciona também como um posto de informação turística, não apenas para a área protegida, mas para todo o território das Terras do Priolo. Na prática, o CAP funciona também como um posto de informação turística, não apenas para a área protegida, mas para todo o território das Terras do Priolo, divulgando os valores naturais, os costumes e tradições do território. Trabalhos na Malhada Joaquim Teodósio

Observação de aves Joaquim Teodósio

Nas diversas feiras onde esteve presente, este centro foi mais longe. Levou consigo o símbolo e a visão da SPEA, juntamente com projetos e iniciativas que visam dar a conhecer o priolo e aquilo que só uma terra genuína oferece a quem a visita. Marcou não só presença em feiras regionais, como as festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, mas também na Birdfair (Reino Unido), uma das maiores feiras dedicadas à observação de aves a nível europeu.

O Priolo em todas as escolas de São Miguel «Professora, eu gostava de conhecer um priolo» é uma frase repetida nas nossas ações de educação ambiental, através do Programa Escolar que já vai na sua 11.ª edição.

Apoio a turistas

O CAP tem permitido que o priolo e a Laurissilva dos Açores estejam presentes em todas as escolas da ilha de São Miguel envolvendo mais de 2 000 alunos por ano. O Programa apresenta um conjunto de atividades sobre vários temas, e que podem ser desen-

Joaquim Teodósio

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volvidos no CAP. Temas relacionados com o priolo, a biodiversidade, habitats e recursos naturais dos Açores, são complementares às metas curriculares obrigatórias de vários níveis de ensino, desde os mais novos, aos alunos do secundário e ensino profissional. As saídas de campo, como «À Descoberta da Laurissilva», a «Rota da Água» e as plantações nos pequenos jardins de endémicas, são as ações mais procuradas. Também são frequentes os pedidos de visita ao CAP, que enchem de alegria este centro. Mas o CAP também leva o priolo às escolas, oferecendo os recreios como alternativa à sala de aula para atividades como «À Descoberta das Aves», «Gincana do Priolo» ou «As aves da Minha Escola». Em diferentes ocasiões, mentes curiosas assistem a palestras especialmente pensadas para eles.

«Professora, eu vi um priolo no meu quintal» é uma frequente afirmação ingênua que é rapidamente esclarecida após uma atividade do CAP. Para os mais jovens, «O Conto do Jaime» é obrigatório e a imaginação perde-se nas aventuras de um priolo que descobre a floresta Laurissilva; e para os mais adultos, uma reflexão sobre a importância da conservação da natureza, são apenas exemplos de atividades que se realizaram ao longo dos anos pelos técnicos da SPEA. Também os professores são envolvidos em ações de formação anuais, contando já com mais de 100 professores formados nos últimos quatro anos.

Um centro de pessoas para pessoas

embaixadores na divulgação dos resultados atingidos. A estes acrescenta-se o trabalho conjugado de centenas de voluntários e colaboradores com a equipa técnica da SPEA, que resultou num centro rico em experiências e numa mensagem exemplar de resiliência de uma espécie outrora quase extinta, que esperamos se perpetue durante muitos anos. O nosso muito obrigado a todos os que colaboraram connosco nestes 10 anos e aqui deixamos o convite a todos para que nos visitem e venham conhecer o priolo. SAIBA MAIS EM

www.centropriolo.com Autora | Ana Mendonça SPEA

Desde 2008, cerca de 25 estagiários, das mais diversas origens, realizaram parte da sua formação no CAP e foram

Alunos em visita ao CAP SPEA

Observação de aves SPEA

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Saída de campo Azucena Martin


Pássaro-Tempo 1 Pinta a águia-perdigueira: podes usar a tua imaginação

ou então ir ver no artigo da Ave do Ano 2018, as cores desta bela ave! Depois de leres o artigo e aprenderes mais sobre esta espécie, completa os espaços em baixo. Por Vanessa Oliveira (texto) e Frederico Arruda (ilustração)

Olá! Lembram-se de mim? Eu sou o Rupis e vou apresentar-te a Ave do Ano 2018: a minha vizinha águia-perdigueira. Nestas páginas vais ficar a saber mais sobre ela e sobre a biodiversidade em geral. Diverte-te!

A águia-perdigueira é uma das espécies que o projeto Life Rupis está a ajudar a proteger, no Parque Natural do _____________ _____________(1). É uma ótima _______________ (2) e pode alimentar-se de diferentes animais, como os _______________, (3), as _________________ (4) e os _______________ (5). SABIAS QUE? Há quem a conheça por águia-de-________________ (6)? Um nome dado em homenagem ao ornitólogo italiano Franco Andrea Bonelli, que viveu nos séculos XVIII e XIX. No sul de Portugal, prefere construir os ninhos em ________________ (7), mas no resto do país costuma fazer ninhos em ________________ (8), que são zonas rochosas. n.º 56 pardela | 37

SOLUÇÕES: 1. Douro Internacional; 2. caçadora; 3. pombos; 4. perdizes; 5. coelhos; 6. Bonelli; 7. árvores 8. escarpas


Pássaro-Tempo 2

No dia 22 de maio celebra-se o Dia Internacional da Biodiversidade e neste passáro-tempo vamos mostrar-te alguma dessa diversidade. Ajuda as aves, que estamos a estudar e a proteger em diversos projetos, a encontrarem alguns dos seus habitats preferidos. Por Mónica Costa e Vanessa Oliveira (texto) e Frederico Arruda (ilustração)

Eu sou o Camão. Gosto de viver em lagoas e sapais onde me posso esconder entre a vegetação. Podes encontrar-me na Lagoa Pequena.

B

© Rúben Coelho

© Jorge Rodrigues

A

Eu sou o Britango. As arribas rochosas são o meu poiso de eleição. As Arribas do Douro são o meu lugar favorito.

C © Bruno Berthemy VCF

Eu sou o Priolo e vivo numa floresta chamada Laurissilva, nos Açores. Gosto de zonas altas com árvores e flores para comer.

Sabias que há mais de 10 mil espécies de aves em todo o mundo, e que só em Portugal já foram observadas mais de 400?

© CMS

© Cátia Gouveia

© António Monteiro

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2

SOLUÇÕES: A2 - B3 - C1

1


2ª EDIÇÃO

FESTIVAL IBÉRICO DE NATUREZA

DAS ARRIBAS DO DOURO

Miranda do Douro 25• 26• 27 MAIO 2018 F EI R A E E XP OS IÇÕE S | PA S S E IO S NA NATUREZA | O BSERVAÇÃO DE AVES F OTO GRA FIA DE N AT URE Z A | ATIVIDADES PARA CRIANÇAS | PALESTRAS E WORK S HOP S | CULT URA E GASTRO NO MIA E MU ITO MAIS...

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