Hospital Magazine n.º13

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Rostos da Pandemia

tados por SARS-CoV-2.

A 13 de março, entraram os primeiros doentes COVID-19 na Medicina I do Hospital Padre Américo, em Penafiel. Alexandrino Coelho, assistente operacional, não esquece a data, é aqui que trabalha, o primeiro serviço de internamento do CHTS a receber infe-

Alexandrino conta já com 18 anos de casa, passou pelo Serviço de Urgência e, desde 2005, está no Serviço de Medicina Interna, mais propriamente no internamento Medicina I. Há 10 meses na linha da frente, fala do que sentiu inicialmente, na primeira vaga da pandemia, em março, “uma experiência nova”, uma doença sobre a qual ainda se sabia pouco, “não sabíamos o que iríamos enfrentar”. Pesa-lhe a ausência de visitas aos doentes internados porque muitos, principalmente os mais idosos, não compreendiam a razão e “achavam que tinham sido abandonados pela família”. “Viam-se fora do seu contexto familiar, entre quatro paredes, numa enfermaria”, tendo como único contacto os profissionais de saúde, “nós, completamente equipados e a só poderem ver-nos os olhos”, com uma palavra de conforto, a tentar explicar porque não era possível receber visitas e que as famílias esperavam por eles. A maioria da população reconhece o trabalho dos profissionais de saúde, considera, embora “uma pequena percentagem não conheça a realidade do dia-a-dia de um hospital”. O alerta que deixa é: “cumpram as normas e as restrições. Este Natal é diferente, mas há Natal todos os anos e vida só temos uma!” Paula Aires é enfermeira, em Amarante, há 25 anos e já passou pela Obstetrícia, Bloco Operatório e Psiquiatria até chegar ao internamento de Medicina Interna, Ala B, onde se encontra atualmente. Depois de uma primeira vaga mais calma, pois nessa altura o Hospital de São Gonçalo não teve doentes COVID-19, na segunda vaga, diz, “mudou tudo, foi muito diferente”. O grande número de doentes que recorriam ao Centro Hospitalar ditou que fosse criada uma Unidade de Internamento COVID-19 em Amarante.

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Foi necessário, rapidamente, preparar espaços e equipa “com o apoio da Infeciologia, GCL-PPCIRA e de algumas colegas do Hospital Padre Américo que tinham já estado em internamentos COVID-19 e que vieram cá. Depois, foi o nosso esforço pessoal, a nossa capacidade de adaptação para dar resposta a estes doentes que precisam de nós diariamente”. Quanto a momentos marcantes, refere, de uma forma geral, o momento de sair do hospital e chegar a casa. “Temos a noção de que estamos a fazer tudo direitinho e revemos muitas vezes as indicações, mas depois saímos e temos a família em casa e a grande preocupação é essa: será que fizemos tudo bem, será que podemos entrar em casa? O meu maior medo é contaminar a minha família.” Acredita que, nesta fase, “a comunidade já começa a reconhecer o trabalho dos profissionais de saúde”. Na primeira vaga “as pessoas não cumpriam as regras. A segunda vaga foi muito pesada para nós e muito por causa disso. Neste momento, estão mais conscientes, já cumprem mais e também já nos respeitam mais pelo nosso trabalho”. “É muito difícil estar aqui a recebê-los, sobretudo as pessoas mais idosas e perceber que foi alguém da família que, ainda que sem intenção, os infetou. É importante que os familiares se protejam a si próprios para assim protegerem os idosos que têm em casa, mais debilitados e com um risco maior de coisas não correrem bem”. Técnico coordenador do Serviço de Imagiologia, Luís Ramalho, com 30 anos de casa, foi o primeiro a radiografar utentes nas áreas COVID-19 do Serviço de Urgência do Hospital Padre Américo. Estar na linha da frente, diz, “foi como estar na linha da frente de outras situações, quem opta por este tipo de profissões, sabe que estas coisas podem acontecer, talvez não todas com a gravidade desta e com as implicações que está a ter, mas não é muito diferente do que lidar com outras coisas”. “Foi preciso adotar alguns cuidados, não tão poucos quanto isso, mas é apenas mais uma situação que a nossa profissão implica”, acrescenta. “São doentes com patologias pulmonares, avaliados também pela Imagiologia com a realização de raios-X e TAC torácicos”, explica, “o TAC não podia deslocar-se para as áreas COVID-19, mas reorganizamos os circuitos e colocamos nessas áreas equipamentos que evitam que ambas as tipologias de doentes - suspeitos e confir-


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