Artigo SRRU 29105

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I SIMPÓSIO DE REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS Propostas para o Ribeirão Jaguaré 26, 27 e 28 de outubro de 2015

GESTÃO AMBIENTAL E REGENERAÇÃO DE RIOS URBANOS, ESTUDO DE CASO SERTÃO DO RIO DAS PEDRAS, NO RIO DE JANEIRO Ana Luiza Coelho Netto1, Monica Bahia Schlee2, Sonia Daniela Mena Jara3, Maria Isabel Martinez4, Osmar Paulino da Silva Júnior5 (1) Universidade Federal do Rio de Janeiro – Coordenadora GEOHECO/IGEO/UFRJ, ananetto@acd.ufrj.br (2) Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro – CMP/SMU/PCRJ e Universidade Federal do Rio de Janeiro – GEOHECO/IGEO/UFRJ, monbasch@gmail.com (3) Universidade Federal do Rio de Janeiro – GEOHECO/IGEO/UFRJ, soniamena@gmail.com (4) Universidade Federal do Rio de Janeiro – GEOHECO/IGEO/UFRJ, martinez.maisa@gmail.com (5) Universidade Federal do Rio de Janeiro – GEOHECO/IGEO/UFRJ osmargeo@yahoo.com

RESUMO O presente artigo apresenta resultados preliminares da pesquisa intitulada “Aplicação de Tecnologias de Infraestrutura Inovadoras em Processos de Regeneração de Rios Neotropicais”, que tem como objetivo desenvolver uma abordagem integral e local no tratamento de esgotos e no controle de sedimentos, favorecendo a limpeza e a estocagem de água em bacias com potencial de abastecimento local de água. O objetivo da pesquisa em andamento é investigar, desenvolver, aplicar e testar soluções e tecnologias inovadoras de infraestrutura urbana não convencionais para o tratamento de esgotos e o desenvolvimento de medidas de controle de sedimentos em favelas do Rio de Janeiro. A metodologia utilizada nesta etapa do trabalho envolve a formação de uma rede de trabalho colaborativa, a caracterização da área de estudo e a realização de diagnóstico da problemática, através de várias reuniões com a população local e pesquisadores, revisão bibliográfica, levantamentos de campo e elaboração de mapas temáticos em ArcGis 10.1. O problema da qualidade das águas e as altas variações da sua disponibilidade na bacia do rio das Pedras demanda uma abordagem transdisciplinar no tratamento das questões socioambientais e de infraestrutura, a articulação de métodos e ferramentas complementares de análise e intervenção e o envolvimento de atores sociais diversos. Palavras-chave: Regeneração de Rios Urbanos, Tratamento de esgotos, Controle de Sedimentos, Infraestrutura Verde.

1. INTRODUÇÃO Os impactos da urbanização e o seu inadequado equacionamento, bem como a poluição decorrente do progressivo adensamento e a consequente saturação da capacidade de suporte do meio ambiente nas grandes cidades brasileiras indicam a necessidade de ampliar o debate sobre a relação entre a infraestrutura de saneamento e a condição dos rios no Brasil. A cada ano, toneladas de águas servidas são descarregadas nos rios da cidade Rio de Janeiro, aportando enormes quantidades de carga orgânica, poluentes e agravando a deposição de sedimentos e a erosão das margens dos rios, contribuindo para intensificar as inundações periódicas nas porções inferiores dos vales e baixadas adjacentes. Além disso, a contínua retração das florestas na cidade e eventos pluviométricos mais intensos contribuem fortemente 1


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para o aumento dos processos erosivos, o assoreamento dos corpos hídricos e o desencadeamento dos eventos catastróficos recorrentes. Para agravar esse quadro, as planícies de inundação naturais às margens dos rios e córregos da cidade encontram-se muitas vezes completamente ocupadas, dificultando as funções ambientais realizadas nas áreas ribeirinhas, através da mata ciliar, relacionadas com atenuação dos fluxos líquidos, retenção do material sólido carregado e limpeza das águas. A infraestrutura urbana do Rio de Janeiro, de modo geral, não é adequada às características do ambiente natural no qual a cidade se insere. Vários rios se encontram canalizados, impermeabilizados, enterrados no subsolo da cidade ou têm seus leitos estrangulados por aterros e construções em suas margens ou mesmo em seus leitos. De modo geral carregam lixo e esgoto in natura em boa parte de seus trajetos. O conflito de atribuições entre os níveis municipal e estadual de administração e gestão contribui para agravar a situação. A responsabilidade pelo saneamento (coleta e tratamento de esgotos na maior parte da cidade e o abastecimento e distribuição de água potável) é atribuição do Governo do Estado, enquanto a drenagem urbana está a cargo da administração municipal. O lançamento indiscriminado de esgoto domiciliar nos rios e córregos da cidade está entre as principais causas de poluição das suas baías e lagoas, com ocorrência de processos de eutrofização, presença de altos níveis de coliformes fecais, sedimentação ou presença de metais pesados. A situação de degradação destes corpos d’água traz impactos sociais e econômicos, custos maiores para a saúde pública e um grande prejuízo à conservação e proteção do meio ambiente e da paisagem e ao desenvolvimento do turismo na cidade. Tabela 1: Situação do Saneamento Básico nas principais cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Fonte: Instituto Trata Brasil/SNIS – Ministério das Cidades 2011. Ranking Município População Abastecim Coleta de Esgoto Perdas Tarifa Perdas na 2011 total ento de esgotos tratado totais (%) média distribuiçã (IBGE) Água (%) (%) por água (R$/m3) o consumid a (%) 12

Niterói

489.720

57

Rio de Janeiro

78

100

92,70

92,7

21,60

3,02

28,09

6.355.949 90,66

77,85

51,92

54,99

3,14

35,74

Belford Roxo

472.008

78,32

40,91

9,73

N/D

2,73

N/D

86

São Gonçalo

1.008.065 84,74

39,09

8,35

37,26

2,22

18,70

87

São João de Meriti

459.379

92,28

48,66

0,3

49,44

2,94

31,95

88

Nova Iguaçu

799.047

93,7

44,99

0,4

57,72

2,30

29,66

94

Duque de Caxias

861.158

85,41

44,35

3,72

62,53

2,91

28,24

Como ressaltaram Dias e Rosso (2011), a macro escala dos sistemas de saneamento implantados na cidade do Rio de Janeiro, a fragmentação das soluções projetadas, a falta de recursos para a sua implementação, operação e manutenção adequadas, as dificuldades decorrentes das alternativas tecnológicas adotadas, associadas às especificidades da cidade, resultaram em enorme complexidade e vulnerabilidade na gestão das águas urbanas no Rio de 2


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Janeiro. Ao longo do processo de urbanização da cidade, inúmeras dificuldades de operacionalização dos sistemas de esgotamento sanitário e pluvial se acumularam. Dentre as principais limitações técnicas dos sistemas de esgotos adotados, destaca-se, por exemplo, a interconexão de lançamento de efluentes sanitários no sistema de drenagem pluvial, e vice-versa. Devido aos problemas gerados pela interconexão entre os sistemas de esgotamento sanitário e drenagem das águas pluviais na Cidade do Rio de Janeiro, diversas estruturas e procedimentos operacionais foram gradualmente implantados no sistema de esgotamento, de forma provisória ou mesmo planejada, com a intenção de amenizar os impactos causados pelo déficit na ampliação ou operação inadequada dos sistemas existentes. Dentre eles destacam-se: a) os interceptores oceânicos; b) as galerias de cintura; c) as captações de tempo seco; d) os aterros e desvios de rios e canais; e) os extravasores permanentes; f) as estações de tratamento localizadas no deságue dos cursos d' água nas praias e lagoas (Dias e Rosso, 2011, 182). O sistema de esgotamento sanitário da cidade ainda privilegia soluções de transporte dos despejos sem tratamento para locais distantes da fonte, através dos dois interceptores oceânicos. As soluções existentes para tratamento do esgoto nos cursos de água são pontuais e insignificantes em relação à demanda contínua e restringem-se ao desemboque dos rios. As duas principais estações de tratamento (estações Penha e Alegria), não cobrem toda a cidade, uma vez que estão ligadas apenas à parte da rede coletora instalada. A rede coletora, por sua vez, não abrange toda a cidade e, mesmo nas áreas com ocupação consolidada, é mal dimensionada e enfrenta constantes problemas de manutenção. Poucas áreas da cidade contam com sistema separador absoluto de esgoto e águas pluviais. A separação entre os dois sistemas ainda é considerada desnecessária e extremamente dispendiosa. Um dos principais efeitos negativos do sistema compartilhado atualmente em vigor é sua fragilidade e inadequação quando das intensas e frequentes tempestades de verão. Durante os eventos de maior intensidade, os sistemas de coleta frequentemente entram em colapso, devido à obstrução das tubulações e à prática recorrente de extravasamentos da rede de esgoto na rede de águas pluviais. O problema é mais grave nas áreas ainda não infraestruturadas situadas ao nível do mar ou junto às lagoas costeiras, na zona de interconexão de águas, onde o abastecimento de água, muitas vezes vem de poços expostos à água subterrânea contaminada. O acesso aos serviços urbanos de infraestrutura na maioria das favelas do Rio de Janeiro está ainda mais longe dos padrões exigidos para os bairros regulares nas áreas circunvizinhas. Enquanto a maioria dos bairros tem acesso à água encanada, coleta de lixo e ao sistema de esgotamento sanitário e de drenagem, mesmo que ainda inadequados e insuficientes; nas favelas as condições são ainda mais precárias. O esgoto muitas vezes flui em valas a céu aberto através das vias e vielas, que também servem como canais de drenagem para as águas pluviais, aumentando o risco de doenças de vinculação hídrica. A coleta de lixo é intermitente. A combinação de infraestrutura inadequada e acúmulo de lixo nas encostas muitas vezes induz a deslizamentos de terra durante a estação chuvosa, potencializando a exposição aos riscos ambientais pela parcela da população que habita as favelas da cidade.

1.1 OBJETIVOS O presente artigo apresenta resultados preliminares da pesquisa intitulada “Aplicação de Tecnologias de Infraestrutura Inovadoras em Processos de Regeneração de Rios Neotropicais”, que tem como objetivo desenvolver uma abordagem integral e local no tratamento de esgotos e no controle de sedimentos, favorecendo a limpeza e a estocagem de água em bacias com potencial de abastecimento local de água. O objetivo da pesquisa em andamento é investigar, desenvolver, aplicar e testar soluções e tecnologias inovadoras de infraestrutura urbana não convencionais para o tratamento de 3


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esgotos e o desenvolvimento de medidas de controle de sedimentos em favelas do Rio de Janeiro. O aspecto inovador desta abordagem é usar a morfologia dos rios e o conhecimento de seus processos naturais para melhorar a qualidade da água e a saúde humana das comunidades estabelecidas às suas margens, através de técnicas de bioengenharia. Ao tratar a melhoria da qualidade da água e o controle do aporte de sedimentos de forma associada, esta iniciativa visa propor e testar um sistema de saneamento ambiental integrado para áreas carentes, ainda não dotadas de infraestrutura, que privilegie soluções ambientalmente, socialmente, economicamente e paisagisticamente adequadas e viáveis. Este projeto pode vir a servir de base para um programa mais amplo para tratamento destas questões em domínios de encostas e de interconexão de águas em baixadas lagunares, especialmente necessárias em áreas densamente povoadas. Ao investigar os processos alternativos de revitalização de rios e bacias hidrográficas, visa-se expandir o estado atual de compreensão de como os processos de rios neotropicais podem acomodar tecnologias de infraestrutura verde não convencionais. Desta forma, esta iniciativa visa complementar os programas de saneamento do governo, e são especialmente necessárias em áreas densamente povoadas, ocupadas por comunidades informais nas encostas do Rio de Janeiro. Dentre as metas a serem alcançadas, destacam-se: investigar processos e padrões ecológicos, geomorfológicos, hidrogeológicos e fluviais, bem como procedimentos, soluções e técnicas empregadas nos processos de regeneração de corpos de águas urbanos; selecionar, desenvolver e aplicar métodos combinados de saneamento ambiental, estimulando o engajamento da comunidade, aplicando uma abordagem paisagística e socialmente inclusiva para a construção de uma cidade mais resiliente e sustentável.

2. ESTUDO DE CASO A área de estudo está localizada na sub-bacia do Rio das Pedras, no bairro de Jacarepaguá, na cidade Rio de Janeiro e foi escolhida devido a sua adequação como modelo sistêmico de pesquisa (encosta-planície-sistema lagunar) amplamente estudado pelo Laboratório GEOHECO-UFRJ (COELHO NETTO, 1999, 2005, 2007; COELHO NETTO et al, 2000 e 2007; SCHLEE, 2011, MENA, 2013 e MARTÍNEZ, 2014). A sub-bacia do Rio das Pedras insere-se na Baixada de Jacarepaguá, entre os paralelos 22° 56’ e 22° 59’ latitude sul e os meridianos de 43° 20’ e 43° 19’ de longitude oeste, e está limitada ao norte pelo Maciço da Tijuca, a oeste pela sub-bacia do Rio Anil, a leste pelas subbacias do Rio Muzema e do Rio Cachoeira, desaguando a sul na Lagoa da Tijuca. Esta sub-bacia é formada por dois afluentes principais: Rio das Pedras e Rio do Retiro. Com área de com 5.438 km2, apresenta distribuição espacial da ocupação desigual, concentrada em seu médio-baixo curso.

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Figura 1 - Bacia da baixada de Jacarepaguá e área de influência da sub-bacia do Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores.

Figura 2 - Maciço da Tijuca e Bacia do Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores.

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Figura 3 - Localização da favela Sertão do Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores.

Além da intensa urbanização em seu baixo curso, as encostas da sub-bacia, anteriormente ocupadas por grandes glebas e sítios peri-urbanos e de segunda residência, vem sendo gradativamente ocupada por assentamentos informais (favelas) e condomínios de alto padrão ao longo da Estrada do Sertão do Rio das Pedras. O foco de estudo e intervenção localiza-se na porção mais alta da sub-bacia, entre as curvas de nível 40 e 60 metros acima do nível do mar, e abrange a favela Sertão do Rio das Pedras, residências de alto padrão e sítios de segunda residência. Segundo o Censo do IBGE de 2010, a favela Sertão do Rio das Pedras possui uma população de 284 pessoas (IBGE, 2010). A área de estudo apresenta vários problemas socioambientais e de infraestrutura, como o despejo de esgoto in natura nos rios, períodos de escassez de água e intermitência de abastecimento e ocupação irregular das margens. Além disso, eventos pluviométricos mais intensos, como o ocorrido em 1996, têm contribuído para o aumento da erosão e deslizamentos na área.

3. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa em andamento envolve duas fases distintas: 1) Criação de rede colaborativa e caracterização da área de estudo e 2) Monitoramento hídrico e Implantação do sistema de tratamento de esgoto e controle de sedimentos, conforme esquema abaixo:

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Esquema 1 - Síntese da gestão da sub-bacia do Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores.

A metodologia utilizada nesta etapa do trabalho (Fase 1) envolve a formação de uma rede de trabalho colaborativa, a caracterização da área de estudo e a realização de diagnóstico da problemática, através de várias reuniões com a população local e pesquisadores, revisão bibliográfica, levantamentos de campo e elaboração de mapas temáticos em ArcGis 10.1. Foram realizados mapeamentos das vias, becos e vielas internas; pontos de descarga de esgoto nos rios e extravasamento do leito em eventos extremos de chuva; localização das captações de água; usos e gabaritos das edificações. O mapeamento das edificações da Favela Rio das Pedras foi elaborado sobre Ortofoto de 2013 (Armazém de Dados/IPP/PCRJ, 2013) sobre base em escala 1:2.000. Este mapeamento é de vital importância, uma vez que as bases cadastrais produzidas pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP/ PCRJ) até o momento não incluem as edificações das favelas da cidade. A classificação para o mapeamento das edificações em termos de usos incluiu os usos residencial, misto, institucional, comercial, galpões, laje e terreno vazio. Em termos de gabaritos (número de pavimentos), foram mapeadas edificações de 1 a 5 pavimentos. Em paralelo, está sendo realizado mapeamento da cobertura vegetal e ocupação do solo, utilizando-se as seguintes classes: floresta em estagio médio/avançado, floresta em estagio inicial, áreas arborizadas, cultivos, reflorestamentos, queimadas, gramíneas, solo exposto, afloramentos rochosos, áreas de lazer (campo futebol), corpos hídricos, ocupação formal e ocupação informal (favela). Com base nos levantamentos realizados estão sendo realizados acertos no mapeamento da rede de canais e delimitadas em detalhe as bacias de contribuição com relação direta com a área de estudo.

4. RESULTADOS E CONCLUSÕES PRELIMINARES Os resultados desta primeira fase compreendem a formação de uma rede de transferência de conhecimento e informação para a comunidade, atores locais, pesquisadores e técnicos do poder público estadual e federal. A rede que vem sendo formada abrange atores locais (Associação de Moradores do Sertão do Rio das Pedras), pesquisadores e técnicos do poder 7


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público estadual e federal, entre os quais a Prefeitura (SMAC, Defesa Civil, Comlurb, entre outros), o INEA, a Fiocruz e a UFRJ, além de especialistas e pesquisadores privados envolvidos com a temática. Esta rede tem como objetivo fortalecer a transferência de conhecimento e informação para a comunidade e sua capacitação. Em relação à etapa de levantamento de campo para caracterização da área, foi realizado o mapeamento das vias, becos e vielas internas; pontos de descarga de esgoto nos rios e extravasamento do leito em eventos extremos de chuva; localização das captações de água; usos e gabaritos das edificações, conferindo-se a presença majoritária de águas residuais de tipo doméstico e a precariedade e insuficiência nas conexões e captações de água que aprovisionam a comunidade. Foram levantadas 467 edificações na área de estudo, de um total de 523, devido a dificuldades operacionais (falta de acesso, inclusive visual), 14 na área da favela e 42 na área formal. Entre estes podem estar contidos edificações de apoio ao uso residencial como garagens e estacionamentos cobertos, churrasqueiras e edículas.

Figura 4 - Mapeamento das edificações no alto Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores.

Com base no levantamento realizado evidenciou-se a discrepância dos dados populacionais que dispúnhamos sobre a população da Favela Rio das Pedras (284 habitantes, de acordo com o Censo do IBGE, 2010). Refazendo-se os cálculos: 378(Residencial) +20 (Misto) = 398 domicílios ocupados com uso residencial ou misto na favela + 85 domicílios formais (nãofavelas, ou não aglomerados subnormais – AGSN/IBGE) = 483 domicílios com população residente no Alto Rio das Pedras. Tomando-se por base a média de pessoas/domicílio adotada pelo Censo IBGE de 2010: 2,94 (Cidade do Rio de Janeiro como um todo); 2,86 (não-favelas, ou não aglomerados subnormais – AGSN/IBGE); 3,26 (favelas (AGSN/ domicílios particulares ocupados). Desta forma, verificamos que o contingente populacional no alto curso do Rio das Pedras equivale a: 1297 habitantes favela Sertão do Rio das Pedras + 243 habitantes área formal =1540 habitantes Alto Pedras.

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Figura 5 - Vias e pontos de descarga - Favela Sertão do Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores.

As edificações localizadas no interior da favela Sertão do Rio das Pedras, de modo geral, acompanham as curvas de nível do terreno e a ocupação tende a se desenvolver de forma anelar. Os pontos de despejo de esgoto, marcados em vermelho, se aglutinam em quatro áreas ao longo do rio.

Figura 6 - Usos - Favela Sertão do Rio das Pedras Fonte: Elaborado pelos autores. 9


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Tabela 2 – Usos - Favela Sertão do Rio das Pedras. Fonte: Elaborado pelos autores.

Tipo

# Edificações

Favela

438

Área formal

85

Usos Residencial Misto Institucional Comercial Laje Galpão Terreno vazio Sem informação Residencial Institucional

Total 378 20 10 10 3 2 1 14 84 1

Figura 7 - Gabaritos - Favela Sertão do Rio das Pedras. Fonte: Elaborado pelos autores.

O uso predominante na favela Sertão do Rio das Pedras é o residencial. Em seguida, destacam-se o uso misto e o institucional. O uso comercial e o institucional localizam-se ao longo dos eixos de circulação de veículos. Na favela predominam as edificações de dois pavimentos. A elaboração de cartografia temática sobre a área de estudo e a atualização do banco de dados geográficos, bem como o levantamento, coleta e análise de dados de qualidade da água em campo é fundamental para identificar o grau de poluição em diferentes pontos. Com base nestes levantamentos de campo será possível calcular de forma acurada o volume de esgoto produzido a ser tratado e planejar a localização da estação hidro-fluvio-sedimentológica.

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Cálculo da Produção de Esgoto Com base na literatura (SPERLING, 1996; VIANNA, 2015) e nos levantamentos de campo realizados na área de estudo é possível estimar a produção de esgoto para escalas de análise diversas. •

Considerando-se que: Qtd média (m³/dia) = Pop x qpc x R 1000 ou Qtd média (l/s) = Pop x qpc x R 86400 Tabela 3 - Dimensionamento do volume de esgoto doméstico produzido Fonte: VIANNA, 2015

Variável Pop - População

qpc - Consumo de água per capita R - Coeficiente de retorno

Metadados

Fonte

Escala: sub-bacias; setores censitários; bairros e favelas. Para cidades grandes, varia entre150 e 300 (l/hab.d) Valor adotado: 225 (l/hab.d). Varia de 0,6 a 1,0. O valor adotado: 0,8.

IBGE, Censo 2010, tratados pelo IPP/PCRJ SPERLING, 1996; VIANNA, 2015 SPERLING, 1996; VIANNA, 2015

Tabela 4 - Estimativa de Cálculo da Produção de Esgoto Fonte: Elaborado pelos autores.

População Alto Rio das Pedras Favela Sertão do Rio das Pedras Parte da favela que drena para o Rio das Pedras Setor (sub-bacia) a ser tratado(a) na Etapa 1

1540 1297

Estimativa Produção Esgoto m³/dia l/s 277,2 3,2 233,5 2,7

dados em construção

dados em dados em construção construção

dados em construção

dados em dados em construção construção

Além disso, a análise e correlação preliminar entre dados relativos às cicatrizes de deslizamentos e estágios sucessionais da vegetação, com base em trabalhos de pesquisa anteriores (MARTÍNEZ, 2014) e observações de campo sugerem grande susceptibilidade da área a futuros movimentos de massa, colocando em risco a população situada às margens dos rios. Desta forma, a instalação de uma estação hidro-fluvio-sedimentológica que proporcione informações sobre o comportamento e resposta do rio a eventos de chuva de forma contínua é o próximo passo a ser dado. 11


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O problema da qualidade das águas e as variações da sua disponibilidade na bacia do rio das Pedras demanda uma abordagem transdisciplinar no tratamento das questões sócio-ambientais e de infraestrutura, a articulação de métodos e ferramentas complementares de análise e intervenção e o envolvimento de atores sociais diversos. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COHIDRO, Estudo de Impacto Ambiental para Estabilização da Barra do Canal de Sernambetiba e sua Interligação com as Lagoas de Jacarepaguá, Tijuca e Marapendi. Consultoria estudos projetos – SERLA, 2006. COELHO NETTO, A.L. Catastrophic Landscape Evolution in a Humid Region (SE Brasil): Inheritances from Tectonic, Climatic and Land Use Induced Changes. In Supl. Geogr. Fis.Dinam. Quat. Vol. III; Fourth International Conference on Geomorphology: Bologna, Italy, 1999; pp. 21–48. COELHO NETTO, A. L.; MACHADO, L. O.; CASTRO, M. C.; OLIVEIRA, R. R.; LACERDA, W. A.; AVELAR, A. S.; FERNANDES, M. C.; LEÃO, O. M. R. Rio de Janeiro/Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Processo14/000.831/99): Estudos de qualidade ambiental do geoecossistema do Maciço da Tijuca - subsídios à regulamentação da APARU do Alto da Boa Vista. 2000. COELHO NETTO, A.L. A Geoecologia e a Arquitetura da Paisagem do Rio de Janeiro no Século XXI: Da Degradação à Reabilitação Funcional da Cidade e da Floresta Atlântica Remanescente. In Águas Urbanas: A Regeneração Ambiental como Campo Disciplinar Integrado; TANGARI, V., SCHLEE, M.B., ANDRADE, R., DIAS, M.A., Eds.; PROARQ-FAU/UFRJ, ETU/UFRJ, ABAP-RIO, IPP/PCRJ: Rio de Janeiro, Brazil, 2007. COELHO NETTO, A.L.; AVELAR, A.; FERNANDES, M.; LACERDA, W. Landslide susceptibility in a mountainous geoecosystem, Tijuca Massif, Rio de Janeiro: The role of morphometric subdivision of the terrain. Geomorphology 2007, 7, 120–131. DIAS, A. P. E ROSSO, T. C. Análise dos Elementos Atípicos do Sistema de Esgoto – Separador Absoluto – na Cidade do Rio de Janeiro, Engevista. V.13. n.3, 2011, p. 177-192. IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_da_populacao/defa ult_caracteristicas_da_populacao.shtm.> Último acesso em 25/09/2015. INSTITUTO TRATA BRASIL/SNIS – Ministério das Cidades 2011. Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Básico à Sociedade dos Municípios do Entorno da Baía da Guanabara. 2001. Disponível em <http://cebds.org.br/wp-content/uploads/2014/06/ITB-Ba%C3%ADa.pdf.> Último acesso em 07/10/2014. MARQUES, J. S. A participação dos rios no processo de sedimentação da baixada de Jacarepaguá. 2v. São Paulo, UNESP (Rio Claro), Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Tese de Doutorado em Geografia, 1990. 245p.

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MARTÍNEZ G., M. I. Avaliação da Susceptibilidade de Terreno para Deslizamentos Rasos: Maciço da Tijuca - Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Programa de pós-graduação em Geografia, UFRJ, 2014. MENA JARA, S. D. Análise das mudanças na lagoa da Tijuca e o papel da Faixa Marginal de Proteção. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Programa de pós-graduação em Geografia, UFRJ, 2014. SCHLEE, M.B. Landscape Change Along the Carioca River, Rio de Janeiro, Brazil; Master Thesis, The Pennsylvania State University, University Park, USA, 2002. SCHLEE, M.B. A ocupação das encostas do Rio de Janeiro: morfologia, legislação e processos socioambientais. Tese de Doutorado em Arquitetura. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. SCHLEE, M.B.; TAMMINGA, K. R. e TÂNGARI, V. R. A method for gauging landscape change as a prelude to urban watershed regeneration: the case of the Carioca river, Rio de Janeiro. In: Sustainability, 2012, 4, 2054-2098; doi: 10.3390/su4092054. SCHNEIDER, L.; CASTRO, A. Considerações Sobre os Impactos Socioambientais na Sub-Bacia do rio Das Pedras RJ. Niterói: Universidade Federal Fluminense. Instituto de Geociências/Departamento de Geografia, 2012. SPERLING, Marcos Von. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. 243p. Disponível em <https://drive.google.com/folderview?id=0B16odcwGFHvfkhIVkxuVTBhcXNGQmJ3T0VGbUloZmJzaEt0dTRqNXViV2NrbkEyRjlFLUk&usp=sharin g> VIANNA, P. Relatório do Macrodiagnóstico de Infraestrutura de Saneamento da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Urbanismo/Coordenadoria de Macro Planejamento, 2015.

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