I SIMPÓSIO DE REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS Propostas para o Ribeirão Jaguaré 26, 27 e 28 de outubro de 2015
CANAL DO MARAMBAIA: INTERVENÇÃO E RESGATE EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ/SC Raquel Kipper Pena(1); Guilherme Guimarães Llantada (2) (1)
Trabalho Final de Graduação/Arquitetura e Urbanismo - UNIVALI, pena.raquel@hotmail.com (2) UNIVALI, guilherme@llantada.com.br
RESUMO O trabalho investiga e identifica através da história da cidade litorânea de Balneário Camboriú/SC, sua rede hídrica e concentra-se no resgate do Canal do Marambaia como espaço de uso público e cenário de integração entre história, ambiente natural e ambiente construído. Caracteriza-se nesta linha d’água diferentes trechos: total ou parcialmente canalizados, tamponados, edificações sobre o seu curso, trechos com vegetação nativa e espaços livres. Cicatriz histórica da cidade, patrimônio paisagístico, cultural e social. O Canal do Marambaia apresenta-se como o último testemunho da natureza primitiva em contraponto à atual paisagem, densamente ocupada por megatorres residências, sem estabelecer relação mínima com o ambiente natural e suas conectividades singulares. O Canal do Marambaia, apesar de confinado e desprezado socialmente, exerce com presteza sua função ambiental. Mesmo degradado, participa ativamente na drenagem urbana da cidade. Os pontos atuais de alagamento do município coincidem com a localização das antigas lagoas, hoje inexistentes, que conformavam e caracterizavam o ecossistema primitivo e sua bucólica paisagem natural. A intervenção proposta no Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo procurou fortalecer o papel do Canal do Marambaia como protagonista da paisagem, articulando as questões ambientais e paisagísticas da água com as demandas sociais e culturais locais. A carência de espaços públicos de contemplação, educação e memória, somados à necessidade do resgate da qualidade da água como grande evento urbano, que guiaram a investigação através do mapeamento dos espaços livres: lotes, parcelas parcialmente ocupadas e vazios lindeiros ao canal, desde a nascente até a foz. Estes espaços forneceram as possibilidades de valorização do trecho urbano central de Balneário Camboriú, hoje praticamente invisível e imperceptível diante dos altos, imponentes e desproporcionais edifícios da Avenida Atlântica e Avenida Brasil. Palavras-chave: História da cidade; Canal do Marambaia; Intervenção urbana; Ambiente Natural; Ambiente Construído; Balneário Camboriú; 1. INTRODUÇÃO A cidade de Balneário Camboriú localiza-se no litoral do estado de Santa Catarina, na região do Vale do Itajaí e possui 108.089 habitantes (IBGE,2010), em 46,328 km² de área urbana. As taxas de crescimento urbano são superiores às médias nacionais e estaduais. Segundo parâmetros do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Balneário Camboriú figura entre as cinco cidades com a mais alta taxa de qualidade vida do Brasil, classificação que, justifica em parte, o alto crescimento do município. O turismo e a construção civil são, atualmente, as principais atividades econômicas do município. Nos períodos de alta temporada de verão, de dezembro a março, a população alcança 1,6 milhões de pessoas, fator que contribui significativamente para a saturação da rede de infraestrutura da cidade e seu colapso nos últimos anos. Economicamente, o mercado da construção civil equilibra a sazonalidade da atividade turística, mas por outro lado, tem no território da cidade a sua matéria-prima e cenário do interesse de empresários e investidores do setor, além de exercer grande influência na administração pública, alavancando problemas urbanos de
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ordem social, ambiental e cultural, como: a dominação privada do território da cidade e por sua vez, a carência de espaços públicos de lazer; o enfraquecimento da relação cidade-natureza e o rompimento da memória da cidade e seus habitantes com o processo de urbanização do território. Com o rápido crescimento da cidade e os interesses voltados para o turismo e a construção civil, a cidade de Balneário Camboriú foi tendo seu território original modificado. Além das casas, hotéis e avenidas a cidade também possuía densa vegetação e rios caudalosos cortando o perímetro urbano. Além dos rios, há registros da existência de cerca de sete lagoas ao longo da praia. Eram elas, a Lagoa da Cacimba, com um afluente que desaguava no mar, chamado Lagoa da Ponta (hoje Praça Tamandaré) e outro afluente (Rio Marambaia) para o Rio das Ostras onde formavam a Lagoa Grande ou Lagoa Marambaia, além de outras quatro. As lagoas foram aos poucos cedendo lugar para os empreendimentos da cidade, os rios foram sendo canalizados e soterrados. De largos leitos, aqueles que ainda aparecem, foram reduzidos a pequenas faixas entre os grandes edifícios e as lagoas diminuídas ao ponto de serem completamente extinguidas. Segundo CORRÊA (1961), a paisagem natural de Balneário Camboriú foi com o tempo desaparecendo e a natureza foi “dando lugar aos gigantes de cimento armado que se estendem por toda a vasta orla de nossa praia”. Impor modelos de crescimento que desrespeitam a origem urbana, arquitetônica e ambiental do território geram ao longo dos anos, a perda de características locais, condicionam o surgimento de áreas degradadas, conceituadas por Sanches (2011, p. 33), como “espaços vazios, abandonados e subutilizados, que perderam sua função qualitativa do ponto de vista econômico, ambiental ou social”. Além de desencadear danos ambientais, como assoreamento de rios, supressão de mata ciliar, poluição ambiental, alteração de cursos d’água, canalização de rios e inundações contínuas. Segundo Alexandre Delijaicov, “desde o período medieval os centros urbanos atingem uma densidade demográfica que leva a um descontrole no saneamento e na saúde pública”. Com a séria contaminação das águas neste período, a sociedade passa a evitar seu contato direto com os rios. O acelerado crescimento das cidades foi um dos grandes responsáveis por este processo de desaparecimento, degradação e negação do ambiente natural nas cidades. As aglomerações urbanas, principalmente as brasileiras, possuem em sua maioria características tão distintas da paisagem original do território, sendo comum entendermos as cidades como se a resultante do processo de urbanização fosse a própria natureza original. Para Vladimir Bartalini, “somente eventos formidáveis, como abalos sísmicos, erupções vulcânicas ou violentos fenômenos atmosféricos, ao atingirem importantes centros urbanos, ainda causam em nós o impacto que permite recuperar, instantaneamente a consciência de que uma natureza primitiva, não-domesticada, ainda está presente”. Da história, Vladimir ressalta ainda que “é inerente a toda ação humana alterar radicalmente a base física para aperfeiçoá-la aos seus desígnios”.
Figura 1- Evolução urbana - vista aérea da cidade em 1964 e no ano 2000. Fonte: Arquivo Histórico, Balneário Camboriú
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A recuperação dos elementos naturais nos centros urbanos tem sido abordada também por Joan Busques (REVISTA AU, São Paulo: Pini. P.78, set. 2013). Segundo o arquiteto, as transformações urbanas relacionadas à água nos últimos 50 anos geraram os espaços mais interessantes nas grandes cidades do mundo. Em espaços obsoletos ou como tratados anteriormente, degradados, tornaram-se espaços multifuncionais e com grande valor simbólico e cívico, esta reciclagem dos espaços urbanos e a combinação do antigo com o novo passa a ser a condição necessária para a inovação nas cidades. As novas demandas urbanas tem exigido reestabelecer as relações do natureza com o urbano, e a melhor utilização dos recursos naturais é premissa nestes casos. As diferentes escalas de intervenção na reciclagem dos espaços abandonados podem colaborar para a introdução de novos métodos de projeto. Os rios Ljubljanica na Eslovênia e Cheonggyecheon na Coréia do Sul demonstram intervenções com o objetivo comum da recuperação de linhas d’água. A experiência europeia aborda o rio como elemento estruturador da rede de espaços públicos da cidade, promove melhor integração entre o ambiente urbano e o fluvial ao projetar novos edifícios e praças abrindo a cidade ao rio. A viabilização da proposta se deu ao identificar particularidades de cada trecho e promover concursos de arquitetura para espaços públicos lindeiras ao rio, buscando soluções realistas e viáveis de acordo com orçamento para implantação. Na Coréia do Sul a intervenção é mais impactante se comparado ao exemplo de Ljubljanica. A proposta demoliu toda a via expressa e restaurou o córrego como espaço público aberto, via de recreação, promovendo melhoria do meio ambiente e criando área de conservação histórica. Reaberto, o córrego antes soterrado é atração turística e área de lazer para os habitantes. 2. OBJETIVOS Resgatar elementos da paisagem original, reestabelecendo a identidade local através de equipamentos urbanos de apropriação urbana, que traduzam a história da cidade e sua relação com o ambiente natural e ambiente construído, fortalecendo vínculos de seus moradores com a memória da cidade. 3. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia utilizada neste trabalho divide-se em três momentos. O primeiro consiste da busca por acervos e documentações sobre a caracterização do território original, a fim de diagnosticar as interferências e consequências da urbanização na cidade. O segundo momento buscou interpretar e avaliar qual a abordagem mais adequada para intervenção. E o finalmente a proposta arquitetônica e urbanística, apresentada como TFG, no ano de 2015, na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. 3.1 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE Do arquivo histórico do município destacaram-se fotografias, mapeamentos e documentos que confirmam a grande transformação da paisagem. Informações sobre a situação atual do canal do Marambaia e lagoas que conformam parte da rede hídrica oculta da cidade foram coletadas pessoalmente em entrevistas realizadas no período de março de 2014 a março de 2015, com membros da Empresa Municipal de Águas e Saneamento (EMASA) e participante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, da qual o município faz parte. Foram utilizadas ainda, as análises e mapeamentos produzidos no processo de diagnóstico de revisão do plano diretor da
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cidade, destacando informações como ocorrência de Áreas de Preservação, Pontos de Alagamento, Pontos de Suscetibilidade e Áreas de Risco. Parte da descoberta desta rede oculta embasou-se no Projeto Rios e Ruas da cidade de São Paulo, realizado por geógrafos, arquitetos e sociedade civil que buscam redescobrir a trama das águas no cotidiano da cidade. Segundo os autores da iniciativa os indícios da existência dos córregos ocultos podem estar em bueiros, becos ou vielas desertos e encerrados pelas paredes de fundo das construções, sobras e desapropriações para a passagem de tubulação dos córregos, área verde pública porém, amorfa e pequena, nomes de praças, avenidas e ruas. Essas “marcas” deixadas pelas linhas d’ água recontam a história dos córregos, tornando-os legíveis e acessíveis na tentativa de minorar os efeitos negativos causados pelas alterações no ambiente natural. 3.2 ABORDAGEM E INTERVENÇÃO A cidade como um sistema, conceito definido por Josep Maria Montaner em seu livro: Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos, como um conjunto de elementos heterogêneos de distintas escalas relacionados entre si, organizados estrategicamente constituindo uma totalidade que não se configura pela soma de suas partes. Tratando-se de área consolidada no tecido urbano, a cidade é a realidade da qual se deve partir. Montaner destaca que, a intenção é perpetuar as formas e elementos construtivos da cidade. Onde cada intervenção é uma continuidade da cidade existente (Preexistências Ambientais - Ernesto Rogers, 1950). A partir daí, compreende-se o vazio urbano como oportunidade de ação, “do nada incompreensível ele passou a ser o espaço vital, a matéria do projeto.” Ainda segundo o autor, “uma das melhores lições de arquitetura contemporânea encontram-se nos espaços criados entre os edifícios, combinando edifícios.” Tratando-se de intervenções contemporâneas, a cidade deve ser tomada como ponto de partida, Montaner defende o ato criativo como resultado de uma análise, de uma reflexão crítica sobre os sistemas e espaços culturais existentes, reforçando conceitos contemporâneos onde, a interpretação constrói uma nova estrutura rememorada, estruturas da memória. Portanto, a intervenção na cidade e na paisagem deve saber interpretar e atualizar signos e significados. O Urbanismo Ecológico interpreta a ecologia como a relação indissociável entre natureza e cultura e, acredita em novas e mais agradáveis maneiras de habitar o espaço das cidades, confrontando e resolvendo os problemas criados por nossa própria insensibilidade na ocupação do meio ambiente. À medida que a atual crise ambiental anuncia a finitude dos recursos, motivado pelos ciclos inconscientes de consumo e produção humanas, a relação com a natureza volta a ser discutida em busca do desenvolvimento sustentável. A arquitetura tem fundamental importância neste processo, para isso devem ser pensadas áreas verdes públicas e generosas no ambiente urbano denso, sendo capaz de provocar transformações e reações no comportamento da sociedade frente ao desafio da relação entre humanidade e natureza. A relação da comunidade com o meio ambiente é de extrema importância para a apropriação consciente dos recursos naturais como a água, promover informação, projetos ambientais para crianças e adultos e mobilizar as pessoas para contemplarem a cidade de forma diferente através de discussões, eventos e conferências públicas, estas são medidas fundamentais para a transformação das paisagens aquíferas no meio urbano. A lógica do urbanismo ecológico prevê que no futuro, os sistemas aquíferos serão os principais pontos de encontro e concentração de diversos grupos sociais nas cidades.
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4. RESULTADOS 4.1. SÍNTESE Ao sobrepor os dados encontrados da cidade como, elementos da paisagem original (rios, córregos e lagoas), primeiras ocupações no território com a leitura da situação atual como, pontos de alagamento, sistema de macrodrenagem da cidade e as ocorrências de APP, observa-se grande alteração das características originais e destaca-se a parcela norte do território, onde se encontra o Canal do Marambaia, principal testemunha da modificação do território da cidade. O Canal está em condições de degradação ambiental, e é destacado para o desenvolvimento de diretrizes de intervenção urbana baseada nos conceitos apresentados anteriormente.
Figura 2- Mapa Síntese: Evolução Urbana, Situação Atual e Recorte para Diretrizes de Intervenção Urbana (Fonte: Trabalho final de graduação do autor)
4.2 SITUAÇÃO ATUAL DO CANAL O Canal do Marambaia faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, e seu estado de degradação contribui quase que exclusivamente, segundo a Empresa Municipal de Águas e Saneamento com a poluição e contaminação da Praia Central do município. A população vizinha ao curso d’água denúncia as condições insalubres deste, e considera vergonhosa a situação. Realizou-se mapeamento da situação atual do Canal do Marambaia, tomando como critério pontos em sua extensão onde é possível a visualização, o acesso físico, acesso público e áreas com vegetação. Este mapeamento guiou as estratégias e diretrizes para cada trecho do canal identificado.
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Figura 3- Mapeamento e Fotos da Situação Atua Canal do Marambaia (Fonte: Trabalho final de graduação do autor)
4.3 DIRETRIZES PARA O CANAL As diretrizes para a totalidade do Canal do Marambaia consistem em: despoluir suas águas, localizando as edificações limítrofes dentro das faixas de preservação permanente previstas na legislação federal, eliminando as fontes poluidoras através do lacre das ligações irregulares de esgoto sanitário destas edificações, aumentando o volume de água através do direcionamento da captação de águas pluviais destes edifícios vizinhos ao canal e implantar um ponto específico de tratamento e purificação das águas. Além de evidenciar a existência do canal enquanto patrimônio histórico, utilizando o percurso para resgatar a história da cidade, promover circuito de lazer e cultura no seu percurso e ainda, promovendo informações da cidade em todo o trajeto ocupado pelo Canal. Após a investigação da situação atual, observa-se a existência de quatro diferentes padrões na sua completa extensão, da nascente à foz e definem-se estratégias distintas de ação para cada trecho. TRECHO A: Corresponde à localização da sua nascente e uma das lagoas citadas, localizada abaixo de edificação de ensino da rede municipal. Esta pode ser interpretada como a mais descaracterizada, pois, embora tenham espaços vazios lindeiras ao canal, o percurso coincide com o trajeto de vias, edifícios residências e edifícios garagem, limitando as possibilidades de reabertura desta linha d’água. A diretriz para este trecho concentrar-se-ia na possibilidade de torná-lo legível para a população, com intervenções de baixo impacto, como: pinturas que representem o trajeto do curso d’água e destaquem através da arte urbana os elementos de drenagem, promovendo o reconhecimento desta estrutura, além de conscientizar sobre sua função ambiental, criticar seu estado atual e a privatização de seu trajeto natural. TRECHO B: Este trecho coincide com os principais espaços públicos existentes na cidade e duas das lagoas citadas anteriormente, Lagoa da Cacimba – hoje Avenida da Lagoa e Lagoa da Ponta – Praça Almirante Tamandaré. Neste trecho concentram-se turistas na alta temporada, é também a região da cidade com maior fluxo de pessoas, comércio e serviços todo o ano. Representa 718 metros do trajeto do Canal e está 100% tamponado. Tomando a máxima, “o que não é visto não é lembrado”, a diretriz para este trecho pretende torná-lo legível, para reintegrá-lo no contexto do espaço público, abrindo pequenos trechos como escavações arqueológicas. Estes
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pontos ficariam distribuídos por todo o trecho e forneceriam informações sobre a história da cidade. TRECHO C: Neste trecho, o canal é configurado por fundos de lote de edificações residenciais cujos térreos são ocupados por garagens, ocorre a primeira aparição de vegetação espontânea, o trecho corresponde a 761 metros do Canal e está 70% tamponado. Quando exposto, muros altos não permitem a visualização do curso d’água pelo pedestre. As diretrizes para este trecho pretendem tornar público o percurso do Canal e promover, através dos lotes desocupados a conexão com o tecido urbano caracterizando-o como um testemunho da natureza primitiva na cidade. TRECHO D: Encontram-se neste trecho as últimas áreas verdes da cidade combinadas a grandes vazios urbanos que são na verdade, fundos de lotes de edificações residenciais com térreos ocupados por garagens de até seis pavimentos. A diretriz principal deste trecho consiste em tornar estas áreas verdes públicas e promover a conexão destes terrenos através das duas principais avenidas da cidade, criando áreas para o contato direto e experimentação da natureza, promover o encontro real entre população e natureza e conhecer a essência oprimida desta cidade verticalizada.
Figura 4- Mapeamento de Diretrizes para o Canal do Marambaia e Destaque Área de Intervenção (Fonte: Trabalho final de graduação do autor)
4.4. INTERVENÇÃO Uma proposta de intervenção baseada na estrutura urbano-ambiental do Canal do Marambaia. O sítio de intervenção localiza-se no início da área denominada como ‘trecho D’. A principal ação nesta área pretende garantir o uso público dos lotes desocupados, realizar a demolição de pequenas edificações e ampliar as possibilidades de conectividade e permeabilidade ao Canal. Para que os objetivos da intervenção sejam atendidos, estabeleceram-se usos em três esferas específicas, são elas: cultural, exposições e conferências; ambiental, como centro de pesquisas e monitoramentos relacionados ao canal e social como, restaurantes e promoção de negócios locais. O programa destes edifícios ainda inclui o Memorial da Cidade de Balneário Camboriú representando a valorização da história da cidade, a estação de Tratamento das Águas do Canal do Marambaia como restaurador da relação dos ambientes natural e construído; a Torre de Monitoramento da Cidade Viva que, consiste em um espaço de exposição e projeção da
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cidade em tempo real, produzidos por sensores de captação distribuídos em toda a extensão do curso d’água na cidade, estes dados captados pelos sensores produzem, em uma fusão de arte, mídia, tecnologia da informação e cartografia, gráficos de acesso visual e tangível capazes de revelar padrões sociais e econômicos. A torre de monitoramento é uma galeria de autodescoberta que permitirá para população e administração pública, decisões em sintonia com o meio ambiente e a cidade. O conjunto de edifícios propostos toma como premissa a limitação da sua ocupação às faixas de Preservação Permanente, possibilitando a criação de uma arquitetura que respeita o local de intervenção, concentrando-se em ocupar o vazio urbano com espaços de conexão, proporcionando relações mais híbridas entre espaços públicos e privados. Os pontos de conexão com o tecido urbano são explorados como fachadas de convite para acesso da sociedade à área púbica integrada ao ambiente natural existente. O edifício o parque e a cidade se confundem para a valorização do elemento central desta intervenção, o Canal do Marambaia. Para contrapor com o entorno adensado e saturado de informações arquitetônicas, a intervenção propõe a complementação do espaço com conceitos da verdade estrutural e do brutalismo, que defendem uma arquitetura pura, limpa, clara e socialmente responsável que, através do domínio do local e a ação nos fluxos do entorno, seja capaz de relacionar-se com o usuário, sempre pedestre em diversas escalas - ora monumental, ora íntima. A água volta a ser o elemento de concentração da intervenção em diversas escalas, ao assumir além da função estética a de reflexão, tornando a experiência da arquitetura ainda mais sensorial. A queda forte da água do próprio Canal do Marambaia, agora limpa e purificada demarca os acessos e percursos nas fachadas, passarelas e coberturas deste que passa a ser o local da reaproximação da cidade atual com seu território original.
Figura 6- Vista da parcela central da proposição arquitetônica. (Fonte: Trabalho final de graduação do autor)
Figura 5- Implantação da Proposta (Fonte: Trabalho final de graduação do autor)
5. CONCLUSÕES A cidade oprimida em seus interesses econômicos, pode não revelar, em um primeiro instante, a riqueza histórica relacionada ao seu território, ainda que este tenha sido o próprio motivador do seu desenvolvimento. Porém, a exploração do território deixa rastros e marcas
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capazes de revelar caminhos e oportunidades para regeneração desta estrutura ortogonal e verticalizada, criada em apenas 50 anos de existência da cidade de Balneário Camboriú. O Canal do Marambaia ilustra a possibilidade de devolver os espaços públicos para as pessoas, mesmo nos territórios mais consolidados. É uma resposta à exploração imobiliária ao reconquistar e valorizar toda e qualquer parcela de solo renegada pelo mercado e fazer desta, um cenário para o desenvolvimento da cultura e valorização histórica. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTALINI, V. A trama capilar das águas na visão cotidiana da paisagem. Revista USP, São Paulo, n.70, p. 88-97, jun./ago. , 2006 CORRÊA, I. B., 1961- História de duas cidades: Camboriú e Balneário Camboriú/ Isaque de Borba Corrêa – Balneário Camboriú: Ed. do Autor. 138 p. GEHL, J. Cidade para pessoas. 1°edição. no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2013. 262 p. MONTANER, J. M. Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos. Barcelona, Espanha: Gustavo Gili, 2009. MOSTAFAVI, M. e DOHERTY, G. Urbanismo Ecológico. São Paulo: Gustavo Gili, 2014. 656 p. REVISTA AU – ARQUITETURA E URBANISMO. Especial: sustentabilidade. A cidade e as águas, São Paulo: Pini. set. 2013 SANCHES, P. De áreas degradadas a espaços vegetados: potencialidades de áreas vazias, abandonadas e subutilizadas como parte da infraestrutura verde urbana. 2011. 292 p. Dissertação ( Mestrado – Área de Concentração: Paisagem e Ambiente – FAUUSP), São Paulo, 2011. SKALEE, M. e Reis, A. F. Construção e Apropriação do Espaço Público: Estudo do Traçado Urbano do Centro de Balneário Camboriú. 2008. 110 p. Dissertação (Mestrado) – UFSC, C.T. Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade. Florianópolis, 2008.