Este trabalho foi desenvolvido durante o projeto de Tendências do curso de Design da Universidade Federal de Santa Catarina, durante o semestre 2022.2.
Equipe: Daniele de Castro, Jalize Pinheiro Medeiros, Laís dos Santos da Silva, Luana Martins Sanches, Vitória Pury Feitosa e Ysadora Plegge Ristow Wippel.
Projeto ministrado pelas professoras Rochelle Cristina dos Santos e Fernanda Iervolino.
Em um mundo produto de dualidades e contradições, o encontro de dois contrapontos parece improvável. Porém, indo contra a corrente da polaridade, uma ligação através das diferenças pode ser vista atravessando cenários similares, movimento esse que começa a se apresentar em ascensão dentro de exemplos pontuais. Não é sobre ser isso OU aquilo, mas sim isso E aquilo. Dessa forma, encontra-se sentido nas diferenças e elementos complementares coexistem de forma harmônica à medida que vamos nos entendendo como seres complexos e que buscam abraçar seus conflitos e a lidar de forma positiva com os contrastes da vida.
Vive-se em uma era onde os contrastes estão estampados no nosso dia a dia. Seja na roupa que se escolhe vestir, no estilo de vida ou nos seus ideais. No entanto, se até algum tempo atrás estávamos fazendo debates fervorosos sobre o que é certo e errado ou melhor e pior, hoje em dia, essa ideia vai se diluindo e sabe-se que um não elimina e não anula a individualidade e existência do outro. Afinal, por que devemos nos limitar? Porque não podemos gostar e viver de paradoxos quando esses se
mostram funcionais? Observa-se um movimento onde contrastes podem funcionar juntos sem diminuir a singularidade de cada parte, gerando uma nova possibilidade de significado individual.
Além do mais, quem dita o bem e o mal, o mau e o bom? Por que se restringir de tamanha forma ao ponto de desenvolver barreiras que só travam a liberdade de expressão e das vivências entre as relações sociais? Ser, e somente ser, abraçando as contradições, é muito mais leve e evita as crises de identidade que muitas vezes são criadas através das polaridades que são impostas de maneira inconsciente e consciente. Para que descartar um ponto, quando podemos ressignificá-lo ao lado de outro?
Sabendo disso, o paradualismo traz uma inquietação reformista, podendo ser usada como forma de protesto e ressignificação dos elementos individuais de diversas binaridades, mas sem excluir a dualidade visível aos olhos, visto que as mesmas podem estar lado a lado. Todos temos nossas dualidades e chegou a hora de nos orgulharmos e mostrarmos ao mundo como podemos fazer com que elas funcionem em conjunto. É sobre expressão e orgulho de ser o que já somos ou queremos transformar de forma real, sem a necessidade de um conceito de perfeição pré-estabelecido ou da escolha de um dos polos que nos representam para que assim não escondamos nossas características mais emblemáticas e individuais.
O Paradualismo se apresenta no ambiente da moda através de contrastes bem marcados e evidentes. Pode ser por meio de misturas de tecidos, estampas, e recortes em diferentes comprimentos, ou até mesmo de estéticas, sem uma regra exata do que se deve ou não fazer, podendo ser encarado como uma forma de liberdade de expressão artística dos usuários. Além de recortes afiados e bem demarcados no âmbito do vestuário, pode-se observar a assimetria presente nos cortes bruscos e demarcados de cabelo e maquiagem, onde normalmente um olho é muito bem trabalhado, com delineados gráficos e sombras, enquanto o outro está mais “natural”, criando um contraste evidente e instigante.
Podemos observar exemplos disso nas passarelas do Paris Fashion Week de 2022, em grifes como a de Stella McCartney, que brincou com o uso das formas e cores, e na Miu Miu, que é uma marca que se relaciona diretamente com o público jovem, e abusa nos contrastes de tecidos de forma não convencional. Como exemplos midiáticos temos a cantora pop estadunidense Ava Max, e o grupo de Kpop Stay C, que esbanjam dessa estética excêntrica, utilizando frequentemente diversos elementos citados acima no sua imagem, principalmente em cortes e colorações assimétricas e chocantes em seus cabelos.
Avatares virtuais estão mudando a forma das marcas se relacionarem com seu público, esse movimento está alinhado com a recente tendência do metaverso, representado pelo mundo 3D virtual e imersivo via realidade aumentada, colaborativo e compartilhado. Percebe-se que o movimento ganhou força pelo surgimento de projetos envolvendo artistas e celebridades com suas representações digitais. Esses influenciadores digitais que assumem formas humanas, vêm sendo utilizados há alguns anos como forma de interação e engajamento, existem fatores repercutidos que demonstram um interesse do mercado e do público nesse tipo de personagem. Para trazer veracidade e uma não descolagem da realidade humana, também tem acontecido um movimento de juntar o virtual com o real.
Como, no caso de Satiko, uma personagem que espelha o estilo de Sabrina Sato, mas que possui personalidade própria, trazendo partes da pessoa real em sua construção com o objetivo de alcançar novos públicos e ampliar a forma com que a personalidade interage e se comunica com seu público através das redes sociais. Também é possível citar o grupo de K-pop Aespa que possuem suas versões “ae”, cujas interagem com suas respectivas membros reais em diversas mídias criadas para o grupo. Parece improvável juntar o digital e o real quando se trata de relações humanas e seres vivos, mas acaba se tornando uma realidade cada vez mais recorrente.
• Materiais translúcidos e holográficos
• Sobreposição entre materiais rígidos e fofos
• Mistura de texturas e estampas
• Materiais transparentes ou espelhados
• Purpurina e brilho
• Materiais com experiência sinestésica
A liberdade de ser e escolher permeia o Paradualismo ao oferecer um campo imagético e prático que permita construir hábitos, identidades e espaços que acolham vivências e vontades. O indivíduo e as coisas ao seu redor podem ter uma estética mínima, que se apresentem bem em sua rotina, que agreguem respiros, que habilitem um campo funcional que prioriza certos objetivos. Ainda assim, o indivíduo e estas coisas que o rodeiam podem maximizar a oferta de destaque em suas individualidades, em ideologias que defendem e podem reforçar a importância de se auto-permitir expressar.
O maximalismo estético e minimalismo funcional não são necessariamente rotas contrárias, elas podem coexistir de forma paralela e abrir caminhos juntas para possibilidades que não se anulam, mas se ressignificam. Um espaço pode ser aparentemente minimalista ou maximalista, em sua função e em quantidade por exemplo e, dentro destas, haver coerência com as personalidades que ali residem ou atravessam, podendo mudar de forma orgânica com o tempo e suas necessidades. Vestes são primeiramente escolhas diárias, sejam elas básicas ou niveladas para caminhos mais expressivos, temporais ou não, asseguram que podemos ser o personagem que quisermos ser de nossa história, que podemos montar o que nossas emoções e ocasiões nos oferecem lugar para ser. A estética e a função caminham juntas de nossas escolhas e nosso tempo pessoal, sendo elas também liberdade, identidade, objetivo, luta, ideologia, e toda uma constituição que construímos de nós mesmos ao longo de uma vida.
Atividades ao ar livre tornaram-se sinônimo de liberdade e esperança no período pós-pandêmico e, nessa lógica, começam a aparecer exemplos da recriação de ambientes internos nas ruas e em lugares não cobertos, para onde tamanha complexidade de combinação de elementos parecia improvável anteriormente, tanto por questões de praticidade quanto por medo da instabilidade do ambiente aberto.
A prática de levar uma organização tradicionalmente interna para as ruas, torna-se Paradualismo através de um contraste aparente por culpa de um paradigma social que associa o sedentarismo e grandes estruturas fixas de arquitetura complexa ao chique e requintado. Além disso, quem adere ao Paradualismo não busca simplesmente praticidade e segurança, mas sim a originalidade de expressão e as experiências que as dualidades podem causar tanto a si mesmo quanto às outras pessoas acima das certezas.
Com o aumento da tendência de ambientes móveis e/ ou efêmeros, juntamente com a venda de experiências sendo amplamente valorizada pelo consumidor, surge a possibilidade de trazer o elegante e sofisticado ao ar livre, ressignificando o conceito de exclusividade aplicado anteriormente a essas características e gerando uma gama de vivências exclusivas, mas agora no sentido de individualidade da palavra, do único. E não do que apenas só uma pequena parcela da sociedade tem acesso de acordo com sua posição social , causando uma democratização do chique e requintado.
• Metais industriais enferrujados
• Plásticos multicoloridos • Superfícies irregulares e texturizadas • Custumização com colagens, spray e DIY
• Sobreposição de diferentes materiais
• Estampas com simbolismos culturais e carregadas de significado
A transparência é uma tendência que retorna de maneira mais expressiva e que amplia seu espaço timidamente ocupado nas passarelas, seja nas roupas, malas ou acessórios. O conceito desse material é o conforto, beleza e valorização pontual de algum elemento.
Ao pensar em malas e bolsas o material transparente não é um dos primeiros que vem em mente, justamente pela mala ou bolsa ser um pertence pessoal e de certa forma até secreto em relação ao seu conteúdo, porém a característica transparente vem de encontro a isso, evidenciando o Paradualismo. Assim como alguns elementos e seres vivos que possuem naturalmente transparência em seus corpos, essa característica em produtos de uso pessoal revela uma busca por honestidade
Por fim, a transparência em roupas chegou para surpreender, carregando um toque de estilo para seus usuários. Trazendo várias texturas e formas de ser apresentada, tule, renda, organza, seda, vinil e marquizete são só alguns dos vários exemplos de materiais e formas para se usar e revelar uma parte da sua personalidade harmonicamente através dos pertences ou partes do corpo com muito charme envolvido.
Como forma de mostrar que as dualidades podem sim caminhar juntas sem se anular, preservando as individualidades e respeitando as diferenças, percebe-se relações (afetivas e amizades) que prezam muito por esse tipo de divergência. Variação de backgrounds e gostos pessoais, buscam o novo e inesperado, além da zona de conforto das bolhas sociais. Abordar suas próprias realidades individuais e ser capaz de escutar e estar presente nas de um próximo mostra-se uma vivência de contraste harmônico. Encontra-se nas diferenças sem anular a existência de aspectos específicos de ambos, o que transparece mais riqueza para a relação. Um exemplo disso, é o casal Nátaly Neri e Jonas Maria, dois influenciadores digitais que abordam temas diferentes e condizentes com seus contextos individuais, sendo o casal visivelmente contrastante em diversos âmbitos.
Hoje, com a internet e a quantidade de informações que recebemos, é muito mais fácil compartilhar os estilos e gostos, com isso fica mais fácil de construir e identificar as identidades desenvolvidas pelos grupos e reafirmá-las, porém nada impede dos gostos encontrarem-se independente da estética escolhida, causando um choque primeiramente, mas que após o primeiro passo fora do conhecido, pode servir como forma de ressignificar os próprios pensamentos, estilo de vida e é claro, forma de expressão. É sobre adentrar a realidade do próximo sem pré-conceitos e ter paciência para entender, aceitar e discutir o necessário a fim de harmonizar.
É sobre se recusar a amar uma idealização e extensão de você, pois desse modo estaria perdendo o melhor do relacionamento com o próximo, gerando uma rede de aprendizagem produtiva e inovadora.
