ANA & HELENA BAPTISM

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ensaio: a experiência do inefável através da hemorragia do verbo

O mistério está todo na infância: é preciso que o homem siga o que há de mais luminoso

José Tolentino Mendonça

à maneira da criança futura

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advento (latim adventus, -us, chegada, vinda, aproximação) s. m. 1. Chegada, vinda; exaltação; princípio.

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Sophia de Mello Breyner

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Apenas sei que caminho como quem É olhado amado e conhecido E por isso em cada gesto ponho Solenidade e risco

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á Luz trazemos este paciente limite não está em nós guiá-lo ficará o amor na sua grande maioria desconhecido

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Tolentino de Mendonça

ensurdece a terra esta verdade


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Ana Maria 8


A cifra infinita que dois mundos combinam

20 DE JuLHo 2 0 1 1

Maria Helena 9


Deixai-me limpo o ar dos quartos e liso o branco das paredes Deixa-me com as coisas

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Sophia de Mello Breyner

fundadas no silĂŞncio


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A frase mística é uma artefacto de silêncio. Produz silêncio no rumor das palavras.

Le Breton

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Eu era quase um anjo e escrevia relatórios precisos acerca do silêncio ...

Tolentino de Mendonça

isto foi antes de aprender a álgebra

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Antonio Ramos Rosa

E assim na trama domÊstica consagramos a trama terrestre, enquanto o fundo da pupila refracta a taça desse instante 20


em que bebemos o ouro da sombra, esse fulgor do nada

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Mansa e amorosa acordas onde em segredo moras

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“Não te maravilhes que tenha dito: necessários vos é nascer de novo.” ( Jo 3, 1-5)

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Celebração do Baptismo Capela de Nossa Senhora de Monserrate 23 Outubro de 2011

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N ota: A generosa contribuição de imagens tomadas pela Inês Clara ofereceram-nos uma frescura que sem elas nunca teria sido possível conjurar neste livro. Graças a ela pudemos polvilhar a páginas deste evento com a luminescente alegria dos primos.


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Os poderes do rito me esclareรงam Sejam meus limites sob o seu direito

Tolentino de Mendonรงa

De ressoar isento o que nรฃo muda

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diz-me se é certo que o tempo é um unico olhar

Tolentino de Mendonça

prolongado nos dias se a vida é o avesso da vida

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Derramarei sobre vós água pura e dar-vos-ei um coração novo Dar-vos –ei um coração novo e infundirei em vós um espírito novo.

Ezequiel 36-24-28

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a clandestina imensidรฃo que se fareja desesperadamente prรณxima,

Tolentino de Mendonรงa

atrรกs de ti um caminho luminoso

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Que pedis à Igreja de Deus para a Ana e Helena? O Baptismo Pedistes o Baptismo par as vossas filhas. Deveis educa-las na fé, para que, observando os mandamentos, amem a Deus e ao próximo, como Cristo nos ensinou. Estais conscientes do compromisso que assumis? Sim estamos. 52


Oremos, irmãos caríssimos, Para que o Senhor Deus todo-poderoso Conceda a estas crianças a vida nova pela água e pelo Espirito Santo.

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Tolentino de Mendonça

«O Espírito da Liturgia». Lembro-me de um texto oportuníssimo de Romano Guardini intitulado «O Espírito da Liturgia». Aí, esse grave mestre alemão, que deixou uma marca incontornável na teologia contemporânea, ousa falar da Liturgia como jogo. E escreve: «Brincar diante de Deus, não criar, mas ser uma obra de arte, tal é a essência mais íntima da liturgia. Daí a sublime mistura de seriedade profunda e de divina alegria que nela se vê. O cuidado meticulosos 56

com que ela determina em mil prescrições o detalhe das palavras, movimentos, vestes, cores e gestos, não pode ser compreendido senão por quem leva a sério a Arte e o Brinquedo».


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Salmo 22 (23)

O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, Conduz-me às águas refrescantes E reconforta a minha alma. Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha que andar por vales tenebrosos, Não temerei nenhum mal, porque vós estais comigo: O vosso cajado e o vosso báculo Me enchem de confiança.

O Senhor é meu pastor: Nada me faltará

Para mim preparais a mesa À vista dos meus adversários; Com óleo me perfumais a cabeça E meu cálice transborda.

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A bondade e a graça hão de acompanhar-me Todos os dias da minha vida, E habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.

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Esta ĂŠ a fĂŠ que nos gloriamos de professar.

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“(...) Um texto sagrado não é um texto intocável. A leitura deve operar sobre o texto, desconstruindo-o e recompondo-o. É impossível accionar o processo interactivo sem o manuseio. A voz, os acentos, os sentidos, a cadência rítmica tornamse procedimentos hermenêuticos relevantes para «apreciarmos o plural de que o texto é feito». A leitura não é só leitura, mas rasgão, espanto, audição, respeito e despeito, entrar eficar à porta, continuar e recriar. Só desse modo se pode entender o que o último dos Padres da Igreja do Ocidente, Gregório Magno, deixou escrito nas suas Homilias ao Livro de Ezequiel: Scriptura cum legentibus crescit, «A Escritura cresce com os quem a lêem». A palavra Bíblia é relativamente recente para definir o corpus literário sagrado. Durante séculos ele chamou-se Miqra (termo hebraico para leitura comunitária e em alta voz). Quer dizer: A Bíblia foi leitura antes de ser livro. E nela persistem marcas dessa gestação oral, puramente sonora; dessa recitação ininterrupta, por gerações. Foi nessa espécie de conversa humana que a leitura é, que ela se organizou como laboratório de linguagens, máquina de proliferação de ritmos, câmara de ecos, montanha santa de paradoxos, palimpsesto, emaranhado, sobreposição experimental de signos e de relatos, súmula, vibração polifónica, work in progress e Revelação. O que a Bíblia é só a leitura o mostra. Apartir dos IIIº e IIº séculos a.c. (quando na Alexandria helenística se compôs a tradução grega chamada dos LXX ou Septuaginta), é que o corpus bíblico passou a ser chamado ta biblia («os livros»). Mas diz o Talmud que os anjos choraram nesse dia. (...)”


a tua

palavra

ĂŠ

o fio

de prata

que guia

as

Tolentino de Mendonça

folhas

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SCRIpTURA

64 CUM

lEgENTIBUS

CRESCIT


Rom 8 28-32 Leitura da Epistola de São Paulo aos Romanos Irmãos: Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou. Que diremos a tudo isto? Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio filho, mas O entregou à morte por todos nós, com não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Mt 22, 34-40 Naquele tempo, os fariseus ouvindo dizer que Jesus reduzira os saduceus ao silencio, reuniram-se em grupo. E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: Mestre qual é o maior mandamento da Lei? Jesus disse-lhe: Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com to da a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Palavra da salvação.

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derramarei o meu espírito, e os vossos jovens terão visões e os vossos anciãos terão sonhos Actos do Apóstolos 2, 14-19

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Pela Ana e pela Helena, para que, renascidas na água do Baptismo, vivam o mistério da morte e ressurreição de Cristo. Para que a Ana e a Helena sejam santas. Para que sejam testemunhas do evangelho e, depois da sua passagem pela terra, venham a viver para sempre na casa de Deus. Pelos pais e padrinhos destas gémeas, para que a graça de Deus os ajude a ser um exemplo claro de fé, esperança e caridade. Por todos os familiares e amigos destas crianças, para que se revistam de misericórdia, bondade, mansidão e paciência , vendo em nome de Jesus Cristo e dando Graças por Ele a Deus Pai. Pelos familiares defuntos. Em especial pelos avós Alberto, Aulácio e Alice, e pelos tios António, N inó, Helena, Mila e Fernando. Pela pessoa e pelas intenções de Sua Santidade o Papa Bento XVI, para que continue a guiar a Igreja e sabedoria e verdade.

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Oremos ao Senhor.

Pelas necessidades de toda a nossa comunidade e para que as dificuldades do presente encontrem no Evangelho uma resposta verdadeira.


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Para que Deus nos dê a todos um coração novo para sermos mais amigos de Jesus.

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Deus todo-poderoso e eterno, Que enviastes ao mundo o vosso Filho Para expulsar de nós o espírito do mal, E transferir o homem, arrebatado às trevas, Para o reino admirável da vossa luz, Humildemente Vos pedimos que estas crianças, 78

Libertadas da mancha original,


Se tornem morada do Espirito Santo E templo da vossa glória. O poder de Cristo Salvador vos fortaleça, Em sinal desse poder vos fazemos esta unção, Em nome do mesmo Cristo nosso Senhor, Que vive e reina por todos os séculos.

Amén.

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N a palma da minha m達o t e gravei.

Isaias 49:16:

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Oremos, irmãos caríssimos, Para que o Senhor Deus Todo-poderoso Conceda a estas crianças a vida nova pela água e pelo Espirito Santo.

Senhor nosso Deus: Pelo vosso poder invisível, Realizais maravilhas nos vossos sacramentos. Ao longo dos tempos preparastes a água Para manifestar a graça do Baptismo.

Logo no principio do mundo O vosso Espírito pairava sobre as águas Prefigurando o seu poder de santificar.

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principio da santidade


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Nas Águas do dilúvio Destes-nos uma imagem do Baptismo Sacramento da vida nova, Porque as águas significam ao mesmo tempo O fim do pecado e o principio da santidade.

O vosso filho Jesus Cristo, ao ser baptizado por João Baptista nas águas do Jordão, recebeu a unção do Espírito Santo; suspenso na cruz, Do seu lado aberto fez brotar sangue e água e, depois de ressuscitado ordenou aos seus discípulos: Ide e ensinai todos os povos e baptizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

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Eu te baptizo

em nome do Pai,

e do Filho,

e do Espirito Santo.

Ana e Helena:

Agora sois nova criaturas

e estais revestidas de Cristo.

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Esta veste branca seja para vós símbolo da dignidade cristã. Ajudados pela palavra e pelo exemplo das vossas famílias, conservai-a imaculada até à vida eterna. Amén.

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Recebei a luz de Cristo.

A vĂłs pais e padrinhos, se confia o encargo de velar por esta luz, para que as vossas pequeninas, iluminadas por Cristo, vivam sempre como filhas da luz, perseverem na fĂŠ, e quando ao Senhor vier possam ir ao seu encontro com todos os Santos, no reino dos cĂŠus.

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E F F E T H A


O Senhor Jesus, que fez ouvir os surdos e falar os mudos, vos dê a graça de, em breve, poderdes ouvir a sua palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai.

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Abençoai esta mãe, agradecida pelo dom das suas filhas, para que persevere com elas em acção de graças para sempre. 99


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Abençoai o pai destas crianças, para que juntamente com a esposa, pela palavra e pelo exemplo, seja para as suas filhas a primeira testemunha da fÊ.


A L L E L U YA . PA R AC L I T U S S P I R I T U S S A N C T U S, Q U E M M I T T E T PAT E R I N N O M I N E M E O, I L L E VOS D O C E B I T OM N E M V E R I TAT E M .

SANCTUS, SANCTUS, SANCTUS DOMINUS DEUS SABAOTH. PLENI SUNT CAELI ET TERR A GLORIA TUA. HOSANNA IN EXCEL SIS.

AG N US D E I, Q U I TO L L IS PECC ATA M U N D I, MISERERE NOBIS. 102


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pa x

vobiscum


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A minha arte é uma espécie de pacto: não distingo as áreas selvagens das cultivadas e elas não distinguem a minha sombra da minha luz as coisas tal como eram terás debaixo do céu branco em fracções reluzentes ... terás contigo um pensamento antes de uma jornada devorada que não se deixa aprisionar ... os teus olhos são o que resta

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Tolentino de Mendonça

dos livros sagrados


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Maria, mater gratiae, Dulcis parens clementiae, Tu nos ab hoste protege, Et mortis hora suscipe. Jesu tibi sit gloria, Qui natus es de Virgine, Cum Patre et almo Spiritu, In sempiternam saecula.

Amen.

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Agradeçemos, Senhor, a Tua alegria. Seja ela o dom que sustém esta hora da nossa vida. Tenha o poder de reedificar, em nós, o caído, de aclarar a tenda que a noite atribulou, de unir aquilo que a pressa ou o cansaço interromperam. Seja ela o sinal da leveza com que nos vês, a carícia que nos estendes no tempo, o assobio do Pastor que inaugura as tréguas.

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Dá-nos Senhor, a alegria como alento revitalizador: inscreva ela em nós o sabor da vida abundante e multiplicada; perfume cada um dos nossos gestos; traga às nossas palavras a luz que o Baptismo para sempre acendeu. Que este Baptismo inspire cada um dos nossos renascimentos. Que a Tua presença, nos ensine o que significa tornar-se presente. E o dom que são a Ana e a Helena, nos ajudem a tecer a vida como uma história de amor.


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«O que habita nos Céus, sorri»

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“Os símbolos não se inventam, é preciso ir buscá-los ao fundo da alma dos homens.”


ALLELUYA

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AN A

M ARIA


PA R A C L I T U S S P I R I T U S S A N C T U S , Q U E M M I T T E T PAT E R I N N O M I N E M E O, I L L E VO S D O C E B I T O M N E M V E R I TAT E M

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M ARIA

HELEN A


Dá Senhor à nossa vida a Tua sabedoria. Ajuda-nos a jejuar das palavras que Te escondem, das palavras onde o amor não emerge, das palavras confusas, extenuadas, atiradas como pedras ou como alarde, das palavras que muralham a comunicação, das palavras que nada mais permitem senão palavras. Que o nosso coração se abra ao silêncio activo e comprometido que é a marca da hospitalidade verdadeira, a marca do Baptismo verdadeiro. Dá-nos a força de insinuar, nos invernos gelados que interiormente vivemos, o ramo verde, a inesperada flor, o irreprimível convite que Tu fazes ao nosso renascer. É dizer sim,com maior entusiasmo ainda, à liberdade de afirmar o essencial: Fé, justiça, reconciliação, solidariedade e

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Tolentino de Mendonça

alegria.


Dá-nos Senhor a coragem dos recomeços. Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi: dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é. Afasta-nos do repetido, do juízo mecânico que banaliza a história, pois a priva de surpresa e de esperança. Torna-nos atónitos como os seres que florescem. Torna-nos inacabados como quem deseja. Torna-nos atentos como quem cuida. Tornanos confiantes como os que se atrevem a olhar tudo, e a si mesmos, de novo pela primeira vez. Dá-nos o saber de reparar a fundo, de escutar o indizível segredo que torna todos e tudo espelho do Teu assombro. Impelenos à descoberta de um real que nos é tão próximo, mas afinal desconhecido. Que o nosso coração esteja vigilante para acolher o modo surpreendente como Tu, ó Deus, sempre Te revelas! Hoje. Agora.

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Era uma luz como uma รกrvore quando cresce E estando em flor era um dia inteiro

Daniel Faria

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J. C. Almeida, Poeta e Fotógrafo

A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, é dificil explicar a alguém quanto isso me chega, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Alberto Caeiro

O alimento essencial não vem das coisas mas sim do laço que liga as coisas. Saint-Exupéry

N ota: agradecemos as maravilhosas imagens generosamente cedidas por Joaquim Almeida que muito enriqueceram este livro.

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Gregório de Nissa († 394)

IN D O D E COM EÇO PO R COM EÇOS Q U E JA M AIS TÊ M FI M


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“É bom estarmos aqui !”

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A casa compõe uma por uma as suas sombras A casa prepara a tarde Frutos e canções se multiplicam Nua e aguda

Sophia de Mello Breyner

A doçura da vida

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ÂŤFazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de belezaÂť

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Discurso de Bento XVI ao mundo da cultura, 12 de Maio de 2010


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Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez. Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos. Nascemos muitas vezes ao longo da infância quando os olhos se abrem em espanto e alegria. Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca. Nascemos na sementeira da vida adulta, entre invernos e primaveras maturando 168

a misteriosa transformação que coloca na haste a flor e dentro da flor o perfume do fruto. Nascemos muitas vezes naquela idade onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se com laços interiores e caminhos adiados. Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.


Tolentino de Mendonรงa

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O corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não tende só para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim o fogo encaminha-se para cima, e a pedra para baixo. Movem-se segundo o seu peso. Dirigem-se para o lugar que lhes compete. O azeite derramado sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste: movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão no próprio lugar agitamse, mas, quando o encontram, ordenam-se e repousam. O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva. Confissões de Sto Agostinho

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O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Confissões de Sto. Agostinho

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Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra usada se gastou Se a palavra inaudita e inexpressa Inexpressa e inaudita permanece, entĂŁo Inexpressa a palavra ainda perdura o inaudito Verbo, O Verbo sem palavra Aquela que no tempo flui entre o sono e a vigĂ­lia

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T.S.Eliot

Rodopiando em torno do silente Verbo.


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Assim se estรก na luz das coisas vivas Atรณnitos no doce movimento jรก nรฃo somos mais do que a frescura sem idade


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Num vĂŠrtice de vegetal leveza encontra-se o ouro verde com a paixĂŁo da sombra


e na pureza única o amor é só reconhecimento

187 Antonio Ramos Rosa


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O silêncio inigualável de quem escuta

Daniel Faria

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NĂŁo acredito que cada um tenha o seu lugar. Acredito que cada um ĂŠ um lugar para os outros

Daniel Faria

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Não cessaremos de explorar E o fim de toda a nossa exploração Será chegar aonde começámos E conhecer o lugar pela primeira vez.

Uma condição de total simplicidade (que custa nada menos do que tudo) E tudo estará bem e Toda a espécie de coisas estará bem T. S. Eliot

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A criança fecha os olhos no muro Conta o tempo que os amigos demoram A transformar-se Fecha os olhos no interior dos números Olha para dentro e em redor e encontra-se A si mesma A criança pergunta se há-de ir ter consigo Ela quer encontrar os amigos, ela quer Que lhe respondam. Ela calcula a voz, A altura do muro, a progressão do silêncio

Daniel Faria

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Obrigado, Senhor, pelos amigos que nos deste. Os amigos que nos fazem sentir amados sem porquê. Que têm o jeito especial de nos fazer sorrir. Que sabem tudo de nós, perguntando pouco. Que conhecem o segredo das pequenas coisas que nos deixam felizes. Obrigado, Senhor, por essas e esses, sem os quais caminhar pela vida não seria o mesmo. Que nos aguentam quando o mundo parece um sítio incerto. Que nos incitam à coragem só com a sua presença. Que nos surpreendem, de propósito, porque acham mal tanta rotina. Que nos dão a ver um outro lado das coisas (…). Obrigado pelos amigos incondicionais. Que discordam de nós, permanecendo connosco. Que esperam o tempo que for preciso. Que perdoam antes das desculpas. Essas e esses são os irmãos que escolhemos. Os que colocas a nosso lado para nos devolverem a luz aérea da alegria. Os que trazem até nós o imprevisível do teu coração, Senhor. 232


Epílogo

“o inexprimível (o que considero misterioso e não sou capaz de exprimir) talvez seja o pano-de-fundo a partir do qual recebe sentido seja o que for que eu possa exprimir”

Wittgenstein

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“A beleza humana abre o rosto ao silêncio. Mas o silêncio – aquele que aqui se faz –, não é simplesmente suspensão do discurso, mas silêncio da própria palavra, a palavra a tornar-se visível. Por isso, no silêncio do rosto o ser está verdadeiramente em casa” (Agamben, 1999: 81).

Um rosto que sabemos inesgotável. Que nunca acabará de regressar. Agora, obedeçendo ao poeta Antonio Ramos Rosa, “Pousa(mos) devagar a enxada sobre o ombro/Já cavou muito silêncio”. Revolver os solos do silêncio será sempre uma iniciática aprendizagem, especialmente nesta tentativa indigente de transformar paisagens da infância através da busca da palavra, pois este é o tempo do homem que, por natureza, antecede a sua conquista (‘infans’ é aquele que ainda é incapaz de falar) e onde a escuta e a imagem assumem um papel de maior relevância. O carácter interrogativo da criança precede o momento da criação da palavra e nele se concretiza a importância da interioridade e da reflexão que o silêncio lhe possibilita. Esta peregrinação de pixeis foi feita na companhia de poetas,“pastores deste siléncio”, pois segundo o testemunho de Ruy Belo, na medida em que “sempre que um poeta, ao criar hoje um verso, purifica uma palavra, rompe as relações estáticas, de vigilância, que ela mantinha especialmente com o conceito e fá-la consistir toda numa relação.” O corpo da linguagem acompanha o corpo do sujeito na vertigem do encontro, mas a velocidade tem de deter-se diante do desejo do corpo silencioso. O trabalho é de aprender a eliminar, partindo da descoberta. As imagens nos “arredores do verbo” a condição do “instrumento difícil do silêncio” foram encontrando a sua concretização inacabável, re-abrindo-se ao infinito da nossa finitude partilhada.

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Refrão:

O mistério está todo na infância: é preciso que o homem siga o que há de mais luminoso à maneira da criança futura

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Sabes, que estamos ambas na mesma página E aproveito o facto de teres chegado agora Para te explicar como cresce um Livro entre as mãos. – podes pensar Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita, Que o Livro cresce sempre Ou melhor – e essa é a verdade – Apesar de nós. (…) Se quiseres posicionar-te Como alguém nadando para trás entre ambas as faces da página Que profundidade terias se afogada voltasses À superfície? Fecha os olhos que se fecham por dentro dos teus olhos Desenrolando-se. As pálpebras. Indo e regressando nas pupilas Perscruta no que te digo, o aroma premeditado que ao abrires é já um pouco de ti. 237


Há imagens-pessoas imagens pregadas ao silêncio de dizer-se como nunca foram ouvidas E nelas dizerem-se podemos existir. Habitamos nelas Como Jonas o grande peixe. Elas pronunciam-se Trazendo-nos em viagem do nada para o silêncio. Sustentam-nos Como o jejum alimentando Nínive E como salva a cinza em Nínive espalhando-se Podemos propagá-las Podemos amá-las até se transformarem num livro para elas – um livro não, outra coisa qualquer que não consigo comparar – um lugar tão indeterminado Que mesmo a luz Só imprecisamente é capaz de assinalar – exemplificam-se com a luz de seres que ressuscitam –

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Tu és a criança sentada Que olha para o céu. Há um tesouro No céu – um coração novo. Reconheces O interstício solar Da pupila celeste ? Ela está sobre ti E contempla – é verdade que é pelas lágrimas Que começam as visões. Sim. Agora podemos explicar-te o mistério das águas: Quantas imagens — uma caligrafia de luz que nos olha como se tudo o que vemos nos vê e nos percorre como se fossemos uma superfície translúcida – é verdade que é pelas lágrimas Que começam as visões.

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(Invocação a partir de um poema de Daniel Faria)


Nota: (Por meio do consentimento na recordação) O céu será dobrado como um livro, e agora, estendese como um pergaminho sobre as nossas cabeças. Acariciou-nos, inflamounos no seu amor, e nós corremos atrás do aroma do seu perfume.

Santo Agostinho emprega a mesma palavra (pellis) para significar “pele” e “pergaminho”. (N. do T.)

Madalena Machado

EFIL LIFE IN

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B

O

O

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Fernando Hernandez

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