Universidade Católica de Brasília Curso de Arquitetura e Urbanismo
A Relevância da Arquitetura nos Ambientes de Aprendizagem
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Brasília como requisito para a obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.
Felipe Sury Orientador
Daniel Brito
Brasília Novembro de 2018
A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui. Jean-Jacques Rousseau
Resumo
Este artigo tem como principal objetivo esclarecer o papel fundamental da arquitetura dentro das pedagogias, para isso, é necessário o entendimento de que a arquitetura também é um veículo de aprendizado. O artigo primeiramente contextualiza a história da educação, para que seja inserida, logo após, as pedagogias alternativas, as quais surgiram como a quebra de um paradigma educacional onde se acreditava em uma educação regida pela imposição da disciplina. Neste artigo, entraremos na pedagogia alternativa de Maria Montessori, a qual é considerada por muitos revolucionária e contribue até hoje para a formação de indivíduos nas escolas do século XXI. Ao analisar as características dos ambientes e como os usuários percebem o espaço, sempre em comparação com a pedagogia tradicional, será possível concluir o artigo traçando uma linha de compreensão única, pedagogia/arquitetura.
Lista de Figuras Figura 1 - Escolastica, Modelo Educacional da Idade Média. https://www.coladaweb.com/filosofia/escolastica - acesso 29/10 Figura 2 - Exemplos de Planta e Fachada pós ideais sugeridos por Comenius. Arquitetura Escolar - D.C. Kowaltowski pag. 56 Figura 3 - Exemplos de Planta e Corte pós ideais sugeridos por Comenius. Arquitetura Escolar - D.C. Kowaltowski pag. 56 Figura 4 - Ensino Individual. Autoral Figura 5 - Ensino Simultâneo - Classe. Autoral Figura 6 - Ensino Mútuo. Autoral Figura 8 - Arquitetura Escolar - D.C. Kowaltowski pag. 82 Figura 9 - Ensino Intuitivo, inserção de novas atividades. http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_metodo_de_ensino_intuitivo.htm - acesso 22/10 Figura 10 - Maria Montessori. https://citacoes.in/autores/maria-montessori/ - acesso 04/10 Figura 11 - Prática de Ensino por Maria Montessori. Google Imagens Figura 12 - Maria Montessori. Google Imagens Figura 13 - Maria Montessori.Google Imagens Figura 14 - Fundos da Escola Montessori de Herman Hertzberger. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 15 - Fundos da Escola Montessori de Herman Hertzberger. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 16 - Área de Exposição dos alunos frente a sala de aula. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 17 - Blocos Interativos, Escola Montessori de Herman Hertzberger. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 18 - Blocos Interativos, Escola Montessori de Herman Hertzberger. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 19 - Blocos Interativos, Escola Montessori de Herman Hertzberger. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 20 - Sala de Aula da Escola Montessori Mazatlán. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 21 - Corredor da Escola Montessori de Herman Hertzberger. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft. acesso 25/10 Figura 22 - Sala de aula da Esola Montessori Americana. https://www.archdaily.com.br/br/887638/colegio-maria-montessori-mazatlan-eparquitectos-plus-estudio-macias-peredo - acesso 12/10 Figura 23 - Corredores da Esola Montessori Americana. https://www.archdaily.com.br/br/887638/colegio-maria-montessori-mazatlan-eparquitectos-plus-estudio-macias-peredo - acesso 12/10 Figura 24 - Corredores da Esola Montessori Americana. https://www.archdaily.com.br/br/887638/colegio-maria-montessori-mazatlan-eparquitectos-plus-estudio-macias-peredo - acesso 12/10 Figura 25 - Sala de aula da Esola Montessori Americana. https://www.archdaily.com.br/br/887638/colegio-maria-montesso-
Lista de Tabelas Trabela 01 - Tendência Pedagógicas. http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0327.html - 02/09 Trabela 02 - Comparação Método Montessori e Tradicional. Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery - 02/09
Índice
Justificatica 4 Objetivos Gerais e Objetivos Específicos 5
Introdução Uma Breve História da Educação O Ensino Mútuo O Ensino Intuitivo A Pedagogia e o Ambiente O Reflexo das Pedagogias Alternativas no Espaço Escolar
6 8 11 13 15
O Método Montessori Síntese 17
O Professor 18 Os Ambientes de Aprendizagem 19
Conclusão A Escola do Século XXI 26 Referências Bibliográficas 28
Justificatica
A educação pública por muito tempo tem sido uma grande problemática do país, entretanto, nem sempre é possível se debruçar em uma estatística para dar um bom panorama da realidade. Sabemos que o problema é bem maior do que diz as estatísticas e que as crianças e adolescentes de hoje representarão amanhã o futuro de uma nação. A falta de profissionais qualificados é um problema latente, parte do cenário da educação no país é composto por professores sem diploma e com baixo nível de alfabetismo, desta maneira, contribuindo para a desvalorização de uma profissão essencial para a melhoria dos índices educacionais. Além disso, segundo a nova pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, revela que apenas metade dos jovens com idade entre 15 anos e 17 anos está matriculada no ensino médio. Os métodos de ensino aplicados nas escolas públicas de hoje se fazem ultrapassados e a qualidade da infraestrutura das edificações escolares beiram a precariedade. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília e a Universidade Federal de Santa Catarina, 72,5% das escolas públicas não possuem biblioteca, 44% possuem infraestrutura básica de abastecimento de água e coleta de esgoto, energia e sanitários, apenas 0,6% possuem estrutura avançada com laboratório, quadras de esporte, bibliotecas e equipamentos. (CHAVES 2013) Na avaliação do Prova Brasil, a qual é realizada todos os anos para calcular os índice de desenvolvimento da educação básica (IDEB), 65% dos alunos do 5º ano não sabem identificar formas geométricas básicas e 88% não sabem identificar a ideia central de um texto. De acordo com estes fatos, é possível constatar que a escola brasileira não dá suporte adequado para que os alunos sejam incentivados na busca pelo conhecimento. A educação é a maior oportunidade de crescimento social e econômico para a população, devido a isso, é de extrema importância o desenvolvimento de projetos que integre diferentes metodologias de ensino e a adequação de espaços de qualidade que ofereçam aos alunos uma estrutura segura, confortável e preparada para as atividades escolares.
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Objetivos Gerais Sabemos a importância do papel da escola na formação de crianças e adolescentes, em detrimento disso, o artigo possui o objetivo de construir uma base teórica para o projeto de uma edificação escolar de qualidade baseada nos princípios de liberdade das pedagogias alternativas. Dentro de sua base teórica, o artigo busca estudar os ambientes e as experiências de diferentes pedagogias para que seja ressaltado seus pontos fortes. Desta maneira, será possível realizar o projeto de uma edificação escolar que se contraponha da base escolar tradicional vigente hoje no Brasil e vise ambientes escolares capazes de incentivar os alunos na busca pelo conhecimento de maneira liberal.
Objetivos Específicos - Analisar a evolução das diferentes tipologias da arquitetura escolar, e identificar os aspectos que se destacaram positivamente e negativamente; - Criar espaços humanizados e flexíveis que sejam reflexo de ideias pedagógicas e que propiciem grandes experiências para os estudantes de forma lúdica e construtiva; - Desenvolver uma edificação que respeite todas as condicionantes do entorno e atenda às necessidades da comunidade em que se insere; - Definir diretrizes para o desenvolvimento de um projeto de arquitetura escolar; - Desenvolver um projeto no nível de estudo preliminar de uma edificação escolar municipal de ensino fundamental;
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Introdução
Uma Breve História da Educação
No início de cada século, uma identidade é construída a partir de diferenciações, introduzindo um moderno permeado no novo, e com a educação não foi diferente. As ideias educacionais que se desenvolveram na modernidade entre os séculos XIX e XX mudaram a concepção de educação. Alguns pensadores se destacaram ao longo dos séculos aplicando diferentes modelos educacionais, entre eles temos a pedagogia escolanovista¹, o ensino mútuo ou lancasteriano² e o ensino intuitivo³. Sabe-se que os séculos XVI e XVII marcaram um período de grandes processos de modernização nos quais o velho e o novo viviam em constante confronto. O século XVI é marcado pelo nascimento do Estado absoluto, principal determinador para a organização de uma educação na família e na escola dentro de um processo de conformação do indivíduo. As técnicas educativas foram voltadas para atender a uma sociedade extremamente disciplinar que reprimia, controlava e inseria o indivíduo em sistemas de controle cada vez mais pertencentes à ideologia de burocracia do governo. No século XVII, vários processos guiaram o desenvolvimento do indivíduo o qual se tornou mais autônomo, principalmente pelos 4 processos de racionalização, de mudanças estruturais, culturais e sociais que as sociedades modernas vivenciaram com o decorrer do tempo. Desde o século XVI até o fim do século XVIII, a renascença contribuiu com grandes ideias educacionais marcando uma ruptura com o passado da educação escolástica da Idade Média, a qual possuía uma filosofia praticada nos anseios do cristianismo. As escolas da idade média eram de sala única, retangulares, com as cadeiras seguindo o alinhamento das paredes, ocupadas por alunos de várias idades e o professor também utilizava a sala como moradia. Além disso, as salas contavam com boa iluminação e uma diferenciação de mobiliários para cada atividade, como um banco específico para leitura do antigo testamento, outro para escrita.
1- Modelo educacional católico que vigorava na idade média. 2- Modelo educacional desenvolvido por Andrew Bel e Joseph Lancaster. 3- Modelo educacional fundamentado nos sentidos dos alunos. 4- Mudanças estruturais, culturais e sociais que as sociedades passaram no decorrer do tempo.
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Imagem 1 - Escolastica, Modelo Educacional da Idade MĂŠdia.
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A escolástica era criticada por diversos pensadores da época, o quais a consideram uma praga pública. Esse método educacional tinha como principal objetivo acabar com as dúvidas e controvérsias sobre a existência de Deus e os dogmas da igreja. Se baseava na crítica de obras selecionadas e no desenvolvimento a capacidade de apreciar as teorias do autor, por meio do estudo minucioso de seu pensamento. Em contraponto, surgem as grandes doutrinas pedagógicas de Comenius, bispo e pensador que introduz a ideia da divisão dos alunos por idade em salas de aula ainda no século XVI, ideia a qual foi adotada e mudou a estrutura organizacional antiga – retangular, estreita e longa -, para uma nova divisão do espaço com várias salas (Fig. 2 e 3).
Figura 2 - Exemplos de Planta e Fachada pós ideais sugeridos por Comenius.
Figura 3 - Exemplos de Planta e Corte pós ideais sugeridos por Comenius.
Vários pensadores contribuíram para a formação dos métodos educacionais que anteciparam as reformas educacionais e o rompimento com os métodos da renascença, ocasionando em mudanças arquitetônicas importantíssimas para a organização dos espaços de aprendizagem. As ideias de Comenius contribuíram significativamente para a renovação da formação cultural e intelectual da sociedade moderna durante o século XVIII, XIX e início do século XX no Brasil. “Muitos dos princípios de Comenius foram considerados como verdades e tiveram influências reformadoras, como repetir muitas vezes cada coisa; tudo deve ser ensinado primeiro na língua materna; nada se deve aprender de cor; primeiro a coisa e depois a sua explicação; tudo deve ser aprendido por meio da experiência e da investigação ou experimentação” (Monroe 1976 p. 219).
O Ensino Mútuo O século XVIII é marcado pela imposição do direito de instrução por parte do povo. O objetivo de emancipar o homem intelectualmente começou a se refletir nas escolas com um novo plano de educação propos5 6 to por Andrew Bel e o Quacker Joseph Lancaster, o ensino mútuo. Andrew Bel acaba aplicando seus métodos de ensino em um orfanato na Índias Inglesas (1787 a 1794), na qual utiliza os alunos de maior destaque na assimilação dos conhecimentos como seus monitores, e os instrui a ensinar os demais. Por outro lado, Lancaster também decide aplicar seus próprios métodos de ensino em uma escola para crianças pobres em Londres (1798), na qual consegue instruir centenas de alunos por intermédio da monitoria, algo extremamente avançado para a época, já que o método utilizava menos professores e se fazia mais eficiente.
5 - Médico e pastor anglicano. 6 - Pedagogista e inovador de educação pública.
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O ensino mútuo (Fig. 7) desenvolvido por Bel e Lancaster tinha como principal objetivo instruir o maior número de alunos com poucos recursos e boa qualidade. Tal ensino pregava que os alunos pudessem se corrigir entre si através da eleição de monitores, assim se podia instruir 1000 alunos com um único tutor (Fig. 3), em vez de apenas 50 como no ensino simultâneo ou individual (Fig. 5 e 6), apenas o professor e o aluno. “Todavia, o principal encargo do monitor não estava na tarefa de ensinar ou de corrigir os erros, mas sim na de coordenar para que os alunos se corrigissem entre si. Para Lancaster, os monitores eram os responsáveis pela organização geral da escola, da limpeza e, fundamentalmente, da manutenção da ordem, outra tarefa relevante do monitor lancasteriano, posto que ele defendia uma proposta disciplinar de instrução, relacionada a disciplinarização da mente, do corpo e no desenvolvimento de crenças morais próprias da sociedade disciplinar, e não na independência intelectual” (NEVES, 2003).
Figura 4 - Ensino Individual. Aluno
Professor
Figura 5 - Ensino Simultâneo - Classe. Professor
Tal fato transformou novamente o espaço de aprendizagem, o método exigia uma sala que comportasse um grande número de alunos, espaço para demonstrações, além de cadeiras alinhadas ortogonalmente com espaços adequados de circulação que permitisse o aluno sair de seu lugar sem que atrapalhasse os demais. Neste âmbito, os modelos educacionais começam a se reestruturar radicalmente quanto ao acolhimento de novas ciências, programas de ensino, línguas nacionais, saberes úteis e dando lugar aos processos de ensino mais científicos ou mais empíricos e práticos. Vale ressaltar a grande importância dada aos processos de alfabetização - os quais difundiram os livros para os grupos populares -, e aos ideais iluministas como protagonizadores da expansão da educação em todos os níveis.
Figura 6 - Ensino Mútuo. Professor
Monitor
Alunos
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Figura 7 - Ambiente de Ensino MĂştuo.
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O Ensino Intuitivo É neste período que se percebe a valorização dos sentidos na aplicação do ensino e os idealizadores da articulação deste veículo no 7 aprendizado são8 os alemães Johann Heinrich Pestalozzi (1746 - 1827), e Friedrich Frobel (1782-1852). Ambos acreditavam que a educação não deveria ser imposta, mas o educador deveria compreender a razão do comportamento da criança. Segundo Frank Lloyd Wright, o princípio construído por Frobel na criação de brinquedos que estimulam o desenvolvimento (Fig. 8) do corpo o favoreceu fortemente em sua aprendizagem espacial e tridimensional.
Figura 8 - Blocos desenvolvidos por Frobel.
As ideias de uma educação fundamentada na compreensão dos sentidos e na observação é chamada de ensino intuitivo, neste ponto, a maneira de ensinar se transforma, perde-se totalmente o rigor e a imposição do conhecimento que era a principal característica dos ensinos que foram aplicados no passado. A compreensão de que a criança deve ser livre para explorar suas aptidões abre as portas para inclusão de novas atividades fora de sala e ambientes adequados para atividades específicas que estimulem a prática do conteúdo visto dentro de sala. “O método intuitivo direcionou o desenvolvimento da criança do ponto de vista mental, moral e físico, e se generalizou como o mais adequado à instrução das classes populares, capaz de reverter a precariedade do ensino, no que se refere à leitura e à escrita, ao cálculo, à priorização da memória no processo de aprendizagem, à valorização da repetição em detrimento da compreensão entre outros pontos destacados por Valdemarim (1998).” O ensino intuitivo se disseminou pelo mundo principalmente por mostrar que a educação não precisa ser imposta, muito menos que as crianças sejam submetidas a punições como pregava a escolástica da Idade Média. Segundo Faria Filho (2000), muitos debates no Brasil eram voltados para a aplicação do método intuitivo nas instituições de ensino, muito pelo qual, os diretores e professores de escolas públicas e privadas e alguns intelectuais tomaram para si a obrigação de trazer uma educação que seja capaz de mudar o rumo da nação. É neste ponto que o rumo da educação é de fato levado a uma progressão sem tamanho, a ideia imposta pelo método intuitivo e a vontade de mudança, por parte dos educadores, pela inconformidade dos modelos anteriormente aplicados vão reger grandes figuras e conceitos educacionais que revolucionam os espaços de aprender, fazendo com que a arquitetura ande de mãos dadas com o método de ensino e seja tão capaz de ensinar quanto o próprio professor.
7 - Johann Heinrich Pestalozzi foi um pedagogista suíço e educador pioneiro da reforma educacional. 8 - Friedrich Wilhelm August Fröbel foi um pedagogo e pedagogista alemão com raízes na escola Pestalozzi. Foi o fundador do primeiro jardim de infância.
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Figura 9 - Ensino Intuitivo, inserção de novas atividades.
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A Pedagogia e o Ambiente Desde a idade média os modelos educacionais visavam a aplicação do conhecimento através da transmissão do conteúdo por intermédio da figura de um professor. O conteúdo, a forma de ensinar, os materiais a serem utilizados, os ambientes escolares, a organização das cadeiras na sala e até mesmo o papel do professor são influenciados pelo método de ensino. Os métodos de ensino são ramificações derivadas das tendências 9 pedagógicas que, por sua vez, norteiam a concepção de formação do indivíduo. As tendências pedagógicas podem se classificar em liberais ou progressistas (Saviani 1997). As tendências liberais aparecem como justificativa do sistema capitalista que defende os interesses individuais da sociedade. Essas acreditam ser possível formar indivíduos capazes de desempenhar papéis sociais baseados em suas aptidões individuais. Com isso, as práticas desenvolvidas pela escola junto aos estudantes são objetivadas na maneira como a tendência liberal compreende o sujeito. Por outro lado, as tendências pedagógicas progressistas possuem como objetivo à análise crítica das realidades sociais desenvolvendo um indivíduo que observa e constrói a sua própria realidade (Libâneo 1990). A arquitetura é a principal ferramenta influenciadora capaz de desenvolver situações de aprendizagem em diferentes âmbitos. Desde os tempos da escolástica, a arquitetura deixava traços objetivados nos preceitos educacionais. Havia janelas altas para que os alunos não se distraíssem com qualquer atividade externa, o mobiliário era específico para cada tipo de leitura e as carteiras permaneciam alinhadas e paralelas à vista frontal do professor. Nos dias atuais, a arquitetura possui papel ainda mais dominante sobre os espaços de aprendizagem, ela é capaz de criar ambientes que estimulem atividades como a sociabilidade, a capacidade de resolver problemas, as funções motoras e os sentidos dos pequenos. De maneira geral, podemos visualizar a arquitetura atrelada ao modelo pedagógico e atuando como educadora, por estimular atividades formadoras.
9 - Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) propõem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mostrando que as principais tendências pedagógicas usadas na educação se dividem em duas grandes linhas de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências Liberais e Tendências Progressistas.
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Trabela 01 - Tendência Pedagógicas.
Nome da Tendência Pedagógica
Papel da escola
Conteúdos
Métodos
Manifestações
Exposição e demonstração verbal da matéria e /ou por meio de modelos.
Nas escolas que adotam filosofias humanistas clássicas ou científicas.
Os conteúdos são estabelecidos a partir das experiências vividas pelos alunos frente às situações problema.
Por meio de experiências, pesquisas e método de solução de problemas.
Montessori, Decroly, Dewey, Piaget, Cousinet, Lauro de Oliveira Lima.
Tendência Liberal Formação de atitudes. Baseia-se na busca Renovada Não dos conhecimentos Diretiva (Escola Nova) pelos próprios alunos.
Método baseado na facilitação da aprendizagem.
Carl Rogers, "Sumerhill", escola de A. Neill.
Tendência Liberal Tradicional
Preparação intelectual São conhecimentos e e moral dos alunos valores sociais para assumir seu acumulados através papel na sociedade. dos tempos e repassados aos alunos como verdades absolutas.
A escola deve Tendência Liberal adequar as necessidaRenovada Progressides individuais ao vista meio social.
Tendência Liberal Tecnicista
É modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas.
São informações ordenadas numa sequência lógica e psicológica.
Procedimentos e técnicas para a transmissão e recepção de informações.
Skinner, Gagné, Bloon, Mager. Leis 5.540/68 e 5.692/71.
Tendência Progressivista Libertadora
Não atua em escolas, porém visa levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social.
Temas geradores retirados da problematização do cotidiano dos educandos.
Grupos de discussão.
Paulo Freire.
Tendência Progressivista Libertária
Transformação da personalidade num sentido libertário e autogestionário.
As matérias são colocadas, mas não exigidas.
Vivência grupal na forma de autogestão.
Lobrot, C. Freinet, Miguel Gonzales, Vasquez, Oury, Maurício Tragtenberg, Ferrer y Guardia.
Tendência Progressivista "Crítico-social dos conteúdos ou histórico-crítica"
Difusão dos conteúdos.
Conteúdos culturais universais que são incorporados pela humanidade frente à realidade social.
O método parte de uma relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber sistematizado.
Makarenko, B. Charlot, Suchodolski, Manacorda, G. Snyders Demerval Saviani.
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O Reflexo das Pedagogias Alternativas no Espaço Escolar As pedagogias alternativas surgem em detrimento de uma nova demanda de ensino em que a escola começa a enxergar a necessidade de se adaptar às novas relações emergentes. A pedagogia alternativa de Montessori , a qual será discutida neste artigo, traz por consequência uma grande evolução da arquitetura escolar, visto que a escola tradicional era fundamentada no controle e na disciplina, dando origem a espaços bem determinados e que facilitam a supervisão dos alunos (KOWALTOWSKI, 2011). Assim surgem as pedagogias alternativas, como escape a escola tradicional, propõe novas teorias pedagógicas que valorizavam mais a criatividade e a individualidade, dando origem a projetos arquitetônicos que dão apoio a interação social (KOWALTOWSKI, 2011). É neste cenário, onde a criança não possui valor para a sociedade, que grandes nomes como Decroly, Dewey, Piaget, Cousinet e Lauro de Oliveira Lima surgem se opondo a escola tradicional e colocando a criança como protagonista. São chamados alternativos pois tais métodos eram diferentes dos que se utilizavam tradicionalmente nas escolas. A necessidade de atrelar um espaço escolar expressivo como coadjuvante no processo de aprendizado é o desafio de maior magnitude das pedagogias alternativas. Desta forma, a busca por ambientes que apóiem as atividades pedagógicas e estimulem o aprendizado dos alunos é o principal mediador no processo de ensino e aprendizagem. Na pedagogia Montessori por exemplo, o espaço físico escolar é o elemento principal, pois é visto como um veículo educador onde a criança tem liberdade para agir e deve receber estímulos do ambiente e não do adulto, desta forma, os objetos e os mobiliários presentes em sala de aula são pensados e projetados na perspectiva de manuseio da criança (CAMBI, 1999; SLIWKA, 2008; HOFSTATTER, 2012).
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Trabela 02 - Comparação Método Montessori e Tradicional.
Maria Montessori
Método Tradicional
Enfatiza as estruturas cognitivas e o desenvolvimento social.
Enfatiza o conhecimento memorizado e o desenvolvimento intelectual.
O aluno participa ativamente no processo ensino aprendizagem. A mestra e o aluno interagem igualmente.
O aluno participa passivamente no processo de aprendizagem. A mestra desempenha um papel dominante em sala.
Encoraja a autodisciplina
A principal força atuante na disciplina é a mestra.
O ensino se adapta ao estilo de aprendizagem de cada aluno
O ensino em grupo é de acordo com o estilo de ensino para adultos.
Os alunos são motivados a colaborar e se ajudar mutuamente
Não se motiva a colaboração.
A criança pode escolher seu trabalho ou atividade de acordo com seu interesse
A estrutura curricular é feita com pouco enfoque nos interesses das crianças.
A partir do material selecionado, a criança é capaz de formular seu próprio conceito (autodidata)
O conceito é entregue diretamente à criança pela mestra.
A criança trabalha de acordo com seu tempo
É estipulado um limite de tempo à criança para a realização de seu trabalho.
É respeitada a velocidade de cada criança para aprender e fazer sua a informação adquirida.
O passo da introdução é ditado pela maioria da turma ou pela professora.
Permite à criança descobrir seus próprios erros através da retroalimentação do material.
Os erros são corrigidos e assinalados pela professora.
Através da repetição das atividades, é reforçada internamente a aprendizagem, e o aluno pode desfrutar do resultado de seu trabalho.
A aprendizagem é reforçada externamente através da memorização, repetição, recompensa ou desalento.
O material multi-sensorial permite exploração física e ensino conceitual através da manipulação concreta.
Possui poucos materiais sensoriais e ensino conceitual, na maioria das vezes, abstrato.
A criança tem liberdade para trabalhar, pode mover-se pela sala, e ficar onde se sentir mais confortável, pode conversar com os colegas, mas com cuidado para não atrapalhar os demais.
A criança na maioria das vezes fica sentada em sua cadeira, e deve ficar quieta.
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O Método Montessori Síntese
Os métodos educativos elaborados pela doutora Maria Montessori (Fig. 10) mudaram os rumos da educação tradicional. Maria Montessori criou a primeira instituição de educação que não visava somente a instrução, mas a educação de vida em um momento histórico onde o processo de ensino foi marcado pela rigidez, disciplina e muitas vezes pela violência. Montessori, uma das maiores precursoras da educação mundial, segundo Silva (1939), foi uma mulher muito à frente do seu tempo, se destacando como médica, educadora, feminista e cientista. 10
Seus novos métodos de ensino levam a criança para o centro do aprendizado, como principal sujeito de renovação da sociedade. A principal ideia da doutora é que as crianças possuem uma incrível habilidade de assimilação logo nos primeiros anos de vida, e necessitam de direcionamento para garantir o melhor aprendizado. Para Montessori, a criança possui a potencial habilidade de aprender sozinha, absorvendo o que observa.
10 - Médica, educadora, feminista e cientista, era filha do casal de classe média Alessandro Montessori e Renilde Stoppan. Nasceu em 31 de agosto de 1870, em Chieravale, na Itália. Em 1896, Montessori graduou-se em Medicina, com distinção, tornando-se a primeira mulher médica da Itália. Em seguida, se interessou pelos trabalhos relacionados ao tratamento e à educação dos anormais. Montessori utilizou do material elaborado para trabalhar com aquelas crianças “deficientes mentais” e obteve um ótimo resultado, pois todas se tornaram aptas a frequentar as escolas comuns. Em 1907 criou a primeira "Casa dei Bambini", utilizou o mesmo material sensorial que havia usado com as crianças deficientes e deu continuidade, criando outros. Na Espanha, ela abriu uma escola que também foi exemplo de sua pedagogia de "seguir a criança". O Sistema Montessori estendeu-se por todo mundo.
Em sua primeira escola, Montessori aplicou seus métodos e obteve resultados surpreendentes, as crianças aprendiam a ler e a escrever sem que ninguém as tivesse ensinado diretamente. (MONTESSORI, s.d, p. 11) Após vários ensaios foi visto que as crianças absorviam o que estavam à sua volta de forma extraordinária e concluiu que a educação é muito mais do que o professor oferece durante as aulas, é um processo natural que se desenvolve no indivíduo. Não se trata apenas, para a criança, de reconhecer o que está em torno de nós ou de compreender e adaptar-se ao nosso ambiente, mas, outrossim, num período em que ninguém pode ser seu professor, de formar o complexo daquilo que serão a nossa inteligência e o esboço do nosso sentimento religioso, dos nossos particulares sentimentos nacionais e sociais. É como se a natureza tivesse salvaguardando cada criança da influência da inteligência humana, para dar a precedência ao professor íntimo que a inspira. (MONTESSORI, s.d, p. 10) O método desenvolvido pela doutora consiste em três pilares básicos: a liberdade, a atividade e a individualidade. A arquitetura ganha total relevância pela necessidade da criança estar inserida em um ambiente em que se esteja totalmente livre e a vontade, com isso, a própria criança se auto disciplinará através do interesse na realização das atividades. Desta forma, é respeitado o tempo de desenvolvimento de cada aluno e pela observação orienta-se a educação pelas individualidades de cada um.
Figura 10 - Maria Montessori.
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Segundo Montessori, as crianças constituem seu intelecto pelas mãos, tocando e explorando, e é a partir daí que a doutora elabora diferentes materiais didáticos voltados não só para as brincadeiras de sala, mas também relacionados a situações corriqueiras da vida. “A criança ama tocar os objetos para depois reconhecê-los” (DALTOÉ e STRELOW, s.d, p.25). A educadora italiana desenvolveu materiais simples e atraentes na qual o tamanho, a forma, o cheiro, a cor e a textura chamam a atenção das crianças pela experiência direta de procura e descoberta. Nada deve ser dado à criança, no campo da matemática, sem primeiro apresentar-se a ela uma situação concreta que a leve a agir, pensar, a experimentar, a descobrir, e daí, a mergulhar na abstração (AZEVEDO, 1979, p.27). As ideias da educadora se disseminaram e hoje temos escolas Montessori por todo o mundo. Maria Montessori tem um papel fundamental na história da educação, até os dias atuais temos exemplos de escolas que se orientam pelas descobertas da doutora. O método Montessori coloca a criança como figura principal no processo educativo, onde suas necessidades individuais são respeitadas e suas aptidões individuais são ressaltadas.
Figura 11 - Prática de Ensino por Maria Montessori.
Figura 12 - Maria Montessori.
Figura 13 - Maria Montessori.
O Professor Montessori se fazia contrária ao modelo de educação tradicional, a qual as aulas estão centradas no professor, sujeito ativo no processo de aprendizagem, repassando seus conhecimentos aos alunos por meio da aula teórica. No ensino tradicional é o professor que direciona os conteúdos a serem repassados e a organização do processo de ensino-aprendizagem. Segundo Montessori, a imposição da disciplina por parte do professor no ensino tradicional vem da dificuldade de condução da turma com alunos que carregam singularidades e diferenciações, além da dificuldade de explicação da prática e a aplicação da teoria em aulas expositivas. Enquanto no modelo tradicional a criança na maioria das vezes fica quieta e sentada em sua cadeira, Montessori sugere que os pequenos tenham liberdade para trabalhar e mover-se pela sala, sugerindo espaços escolares projetados para diversas atividades. No método Montessoriano a liberdade do aluno em ocupar diferentes espaços implica no desenvolvimento de atividades as quais o professor é capaz de perceber as individualidade e as aptidões de cada um. A educação é uma ação compartilhada entre o educador e o ambiente, sendo que o professor é considerado o elo entre o material e a criança.
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Os Ambientes de Aprendizagem Herman Hertzberger, um dos mais famosos arquitetos holandeses é um dos primeiros a articular em seus projetos uma relação diferenciada entre sala de aula e espaços de interação. A Escola Montessori projetada por ele em Delft na Holanda (1960 - 1966) mostra uma arquitetura que a sala de aula pode não ser o principal ambiente de aprendizagem. A escola é referência na integração do método de ensino no espaço construído. O método Montessori evidência a riqueza espacial, logo o arquiteto com o intuito de gerar ainda mais descobertas , trata de não deixar espaços inutilizados, os ambientes sempre possibilitam que o usuário os utilize segundo sua vontade e imaginação.
Figura 14 - Fundos da Escola Montessori de Herman
Hertzberger.
Figura 15 - Fundos da Escola Montessori de Herman
Hertzberger.
Nos fundos da escola (Fig. 14 e 15) o arquiteto utilizou blocos perfurados que instigam a criatividade de cada um a utilizarem da maneira que quiserem, podendo servir de tanques de areia e jardins. O material utilizado nos muros também possibilita vários usos, criando uma série de compartimentos menores, que podem servir como vasos de plantas, lugares para guardar coisas ou tantas outras funções quanto as crianças inventarem em suas brincadeiras. Em seu interior o arquiteto trabalha a ideia de que as salas de aula seriam as casas e o hall a rua, de forma que a escola funcione como uma pequena comunidade. O método educacional empregado também dá ênfase em exercícios relacionados ao cotidiano da criança como varrer o chão, lavar a louça e calçar sapatos.
Figura 16 - Área de Exposição dos alunos frente a sala de aula.
As salas de aula desta escola são concebidas como unidades autônomas, pequenos lares, por assim dizer, já que todas estão situadas ao longo do corredor da escola, como uma rua comunitária. A professora, a ‘tia’, de cada casa decide, junto com as crianças, que aparência terá o lugar e, portanto, qual será o seu tipo de atmosfera (HERTZBERGER, 1991, p. 28). Cada sala de aula possui uma vitrine voltada para o corredor (Fig. 16) com espaço de exposições, desta forma as crianças podem expor para toda a escola o que tem sido produzido naquela sala. Consequentemente, existe uma troca entre os alunos que são convidados pelos outros a visitarem sala diferentes.
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Imagem 16 - Acesso Ă Escola Montessori de Herman Hertzberger.
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O corredor se torna um local de interatividade na Escola Montessori projetada pelo arquiteto Holandês Herman Hertzberger, existe grande troca entre as crianças pela presença de uma plataforma (Fig. 21) e uma cavidade com blocos soltos (Fig. 17, 18 e 19) que podem ser retirados e reorganizados.
Imagem 17 - Blocos Interativos, Escola Montessori de
Herman Hertzberger.
“Dosar metodicamente os estímulos sensoriais, a fim de que as sensações se desenvolvam racionalmente; prepara-se, assim, a base sobre a qual construir-se-á uma mentalidade positiva”. (MONTESSORI, 1965, p. 99) Vale ressaltar que, no método elaborado pela doutora, a escola se faz como uma grande sala de aula. É possível notar que grande parte das vezes os corredores de acesso são tão munidos de equipamentos de apoio - armários abertos, prateleira e mesas - quanto as próprias salas de aula. A Escola Montessoriana Waalsdorp na Holanda responde objetivamente ao método Montessoriano quando conecta os corredores com as salas, trazendo a ideia de uma rua multifuncional, um ponto de encontro para que as crianças possam trabalhar e brincar juntas. Pela liberdade que as crianças possuem de se movimentar pelas salas, muitas vezes existe a sensação de desorganização e baderna, entretanto, cada criança está a realizar sua tarefa definida da sua própria maneira, em grupos ou individualmente. Segundo Montessori, as salas de aula devem dar liberdade para criança correr, pular, brincar, e aprender com novas experiências, desta forma, sua organização espacial não possui um layout único, ele depende unicamente da atividade a ser desenvolvida. Quanto mais sensações e descobertas a sala proporcionar, maior capacidade de aprendizagem ela possui. Os elementos e suas formas devem ser simples; o espaço, fácil de manter limpo, sem elementos que se interponha ao fluir do ambiente; de tal forma, várias atividades devem poder ser realizadas simultaneamente. "Tudo o que a rodeia penetra nela: costumes, hábitos, religião. Ela aprende um idioma com todas as perfeições ou deficiências que encontra em redor de si, sem mesmo ir à escola." (MONTESSORI, s.d, p, 58)
Imagem 18 - Blocos Interativos, Escola Montessori de
Herman Hertzberger.
Imagem 19 - Blocos Interativos, Escola Montessori de
Herman Hertzberger.
Imagem 20 - Sala de Aula da Escola Montessori Mazatlán.
As salas de aula do Colégio Maria Montessori Mazatlán (Fig. 20) no México (2016), trazem boas alternativas para que o espaço seja livre para as práticas de aprendizagem, uma vez que, a sala possui formato hexagonal que oferece um ambiente dinâmico. Desta forma, o quadro negro não é mais fixado na frente da sala junto ao professor como no ensino tradicional, e sim em uma das faces da parede. Além disso, nas salas de aula do Colégio Maria Montessori Mazatlán, nas faces das paredes hexagonais existem prateleiras abertas que permitem os alunos a liberdade de manuseio dos materiais didáticos. 21
Imagem 21 - Corredor da Escola Montessori de Herman Hertzberger.
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De maneira geral, alterar o formato tradicional retangular ou quadrada da sala é uma alternativa projetual para gerar dinamismo e movimento, desta forma, uma sala de aula com formato diferente pode instigar os alunos a fazerem usos diferentes da mesma. A Escola Montessori projetada pelo arquiteto Marlon Blackwell nos Estados Unidos mantêm a forma tradicional das salas de aula, entretanto, é possível perceber que independente da forma, as salas sempre possuem a autêntica proposta Montessori dos materiais didáticos a mostra permitindo as atividades manuais, ambiente amplo e preparado para novas organizações espaciais e espaços para exposições a fim de provocar a troca e a curiosidade dos alunos (Fig. 25). A liberdade do aluno em agir também diz respeito ao mobiliário, principalmente em sua capacidade de os carregar consigo dentro de sala. Montessori sugere que a sala seja ambiente preparado para a criança, no qual deve haver um mobiliário específico para a sua escala e que permitam dirigir a criança ao conhecimento. É possível notar que ambas as salas são munidas de carteiras de fácil manuseio que se encaixam entre si e sugerem diferentes atividades, como por exemplo; o ensino dirigido por outro (professor ou pelo próprio aluno), o ensino auto dirigido (o aluno em contato com o computador, livros e materiais didáticos) e por fim situações de acaso onde todos abrem um grande círculo e compartilham os assuntos entre si (Fig 22). Montessori sugere um ambiente preparado para a criança, no qual deve haver um mobiliário específico para a sua escala e que permitam dirigir a criança ao conhecimento. Mandei construir mesinhas de formas variadas, que não balançassem, e tão leves que duas crianças de quatro anos pudessem facilmente transportá-las, cadeirinhas de palha ou de madeira, igualmente bem leves e bonitas, e que fossem uma reprodução em miniatura, das cadeiras dos adultos [...]. Também faz parte dessa mobília uma pia bem baixa, acessível às crianças de três ou quatro anos, guarnecida de tabuinhas laterais laváveis, para o sabonete, as escovas e a toalha [...]. Pequenos armários fechados por cortina ou por pequenas portas, cada um com a sua chave própria, a fechadura, ao alcance das mãos das crianças que poderão abrir e fechar esses móveis e acomodar dentro deles seus pertences. (MONTESSORI, 1965, p 42)
Figura 22 - Sala de aula da Esola Montessori Americana.
Figura 23- Corredores da Esola Montessori Americana.
Figura 24 - Corredores da Esola Montessori Americana.
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Figura 25 - Sala de aula da Esola Montessori Americana.
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O método Montessori nos ensina que a criança está em constante desenvolvimento, por isso o importante não é ensinar, mas dar condições para que a aprendizagem aconteça. Hoje existem crianças socialmente prejudicadas, aquelas que não usufruem os benefícios de um lar e uma família organizada, e muitas vezes sentem dificuldades em adaptar-se à escola, desta forma, a doutora nos mostra que em meio a tal problemática social a criança é capaz de aprender com a própria brincadeira. A brincadeira é uma aprendizagem social, as brincadeiras dos adultos com a criança pequena são essenciais, pois permitem a ela decidir, pensar, sentir emoções distintas, competir, cooperar, construir, experimentar, descobrir, aceitar limites e surpreender–se. O brincar é o principal meio de aprendizagem da criança que gradualmente desenvolve conceitos de relacionamentos casuais, o poder de discriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular”. (DES,apud MOYLES,2002, p.37) Desta forma, é possível concluir que seu método de organização espacial permite a liberdade de expressão, pela qual as crianças revelavam suas qualidades e necessidades brincando. A arquitetura tem papel fundamental na construção deste método, levando em consideração que os ambientes tem grande influência no ato de aprender. A arquitetura escolar de cunho educativo sugerida pela doutora é caracterizada com papel ativo, onde cada espaço é capaz de trazer sensações diferentes e despertar diversos quesitos importantes para o desenvolvimento das crianças, além disso, seu método deixa a contribuição social para formação de indivíduos preparados a traçarem seus objetivos e descobrirem pelo ato da experimentação.
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Conclusão
A Escola do Século XXI O jovem atualmente vive em um contexto mundial de globalização e de eventos sociais e econômicos imprevisíveis. Com isso, surgem mudanças repentinas as quais necessitam adaptação, pois essas exigirão dos jovens habilidades que possivelmente nunca foram exigidas nas escolas do passado. Alguns exemplos destas habilidades exigidas são a capacidade de se adaptar rapidamente, a criatividade para resolver problemas, o trabalho em equipe, a responsabilidade e competência para administrar os recursos tecnológicos que se fazem presentes atualmente, entre outras. É possível notar nas escolas do século XXI um ciclo existente de desenvolvimento científico cada vez mais curto, de maneira que o conteúdo visto hoje poderá estar desatualizado no amanhã. Em vista disso, o maior foco das escolas atuais não pode ser na ministração do conteúdo em si apenas, mas também na capacitação de operar o conhecimento. Aprender a aprender tem se tornado uma grande habilidade e um assunto muito discutido nos dias atuais. Tal fato permite o ato de aprender ser fragmentado em várias teorias de diferentes formas de aprender, devido isso, o que tem sido discutido não é mais como ensinar, mas sim como aprender. Cada vez mais é possível enxergar como as escolas vêm focando a transmissão do conteúdo exclusivamente para a formação de jovens vestibulandos. Hoje em dia, o interesse dos pais é que seus filhos busquem uma formação que proporcione a estabilidade e mais chances de alcançar o sucesso. Com isso, faz-se necessário as escolas atuais enfatizarem a formação desses jovens para que se tornem cidadãos livres, capazes de exercer suas próprias escolhas e de manter os processos coletivos sempre presentes em suas vidas. A consciência dos valores humanos, a formação de indivíduos autônomos e a compreensão crítica do jovem na inserção de diferentes contextos exigem não somente espaços escolares menos focados na transmissão do conteúdo, mas também na interação social. Antes de tudo, é de suma importância o jovem compreender tal conteúdo como necessário para a sua formação, desta maneira, o mesmo saberá fazer o bom uso de sua liberdade, o bom uso das tecnologias e terá o grande senso de responsabilidade.
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Neste ponto, na era em que vivemos, as tecnologias se aliam aos processos de aprendizagem. Nos dias atuais conseguimos enxergar a inserção de diferentes tecnologias no meio escolar. A presença da música nas salas de aula tem se mostrado uma alternativa durante a realização de atividades artísticas, o que chama grande atenção como algo a ser pensado durante o processo de elaboração do projeto de uma sala de aula pelos arquitetos. Além disso, a utilização de tablets por parte dos alunos é um incentivo das escolas mais atuais, em virtude disso, cresce uma demanda de aplicativos educacionais que abordam conteúdos precisos e que fazem a correção dos alunos gerando gráficos de desempenho em cada matéria abordada, desta maneira, o professor deixa de ser aquele sujeito sobrecarregado de provas e livros, agora os processos são digitais. Os processos digitais trazem a vantagem da diminuição dos espaços de armazenagem, assim os armários que antes guardavam os testes e trabalhos dos alunos são substituídos por móveis mais úteis. Em muitas escolas atuais, na medida que o professor deixa de ser o único detentor de todo o conhecimento e se transforma no guia para a busca da aprendizagem, os alunos ganham liberdade de locomoção nas salas, pois cada indivíduo tem sua maneira própria de aprender no local que melhor se acomodar. Tal fato exige um mobiliário ajustável, confortável e de fácil manuseio. As questões de acessibilidade adentram na formação da escola do século XXI, inserindo cada vez mais os portadores de necessidades especiais em ambientes nos quais antes não eram apropriados, já que agora, a inclusão destes vem sendo mais discutida. Embora ainda estejamos no final da segunda década do século XXI, é possível notar como as escolas vem se modificando em virtude desta nova formulação educacional inovadora e atenta às realidades globais e no local a qual se situa. Ambientes amplos, integrados e bem iluminados trazem a sensação de bem-estar, desta forma, o planejamento dos mesmos tem papel fundamental na produção de conhecimento e no desempenho dos estudantes. Mesmo que cada escola possua seu modelo pedagógico, é possível afirmar que sempre haverá a necessidade de um ambiente de aprendizagem que propicie a busca pelo conhecimento.
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