Entendendo o Desconstrutivismo

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Estruturalismo, pós-estruturalismo e arquitetura Para entender o:

DESCONSTRUTIVISMO “Arquitetura deve falar de seu tempo e lugar, porém anseia por intemporalidade.”

Frank Gehry

“A Arquitetura é uma poderosa mistura de poder e impotência.”

Rem Koolhas

“Há na ideia do perdão algo de transumano. O impossível opera na ideia de um perdão incondicional, uma vez que este perdão que perdoa o imperdoável é um perdão impossível. Ele faz o impossível, faz fazer e proporciona o impossível, perdoa (este) que não é perdoável.”

Jacques Derrida

Orientadora Carolina Menzl Celaschi

“Meu trabalho sempre tem buscado Autor,“Sempre às mulheres: ‘Você Felipe disseram Carvalho e Luiz Trigueiro transformar ou reenquadrar o discurso não vai conseguir’, ‘É muito complicada arquitetura.” do’, ‘Você não pode fazer isso’, ‘Nem tente, porque não vai ganhar esse concurso’. Por isso elas precisam de autoconfiança, e pessoas próximas que as ajudem a continuar.”

Peter Eisenman

Zaha Hadid


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Estruturalismo como Abordagem de Pensamento O que determina o modo como pensamos, nos relacionamos com os outros, nos comportamos à mesa, nos vestimos e vivemos em família? Será que cultura e sociedade foram historicamente construídas pela ação do homem ou existiriam estruturas ocultas que explicariam nossos hábitos? A visão estruturalista começa com a constatação de que o todo é mais do que a soma de suas partes. Dito em outros termos, um conjunto individualizado, que se torna objeto do conhecimento, seja um grupo social, a mente humana, a língua falada, etc. Para o estruturalismo francês, movimento intelectual que atingiu seu apogeu na segunda metade da década de 1960, a segunda hipótese seria mais viável para investigar tais fenômenos. Ferdinand de Saussure

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Estruturalismo Ganha Força -

Jacques Lacan

De uma maneira mais restrita, porém, quando falamos de estruturalismo nos referimos à vertente dominante do pensamento acadêmico francês, sobretudo nos anos de 1960 e 1970, que têm como nomes mais importantes Claude Lévi-Strauss, Louis Althusser, Michel Foucault, Roland Barthes e Jacques Lacan, entre outros, tanto assim que é comum o uso da expressão "estruturalismo francês". O ponto de partida do que poderemos chamar, mais do que um método, uma corrente filosófica, que viria a substituir nos meios acadêmicos a hegemonia do existencialismo de Jean Paul Sartre, é a obra de Ferdinand de Saussure.

Claude Lévi-Strauss Louis-Althusser

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Pós Estruturalismo Pós-estruturalismo ocorre quando os temas são ampliados e o método estrutural começa a ser flexibilizado e a abranger a cultura do século 20 como um todo. Os conceitos estruturantes em sua maior parte advindos do pensamento iluminista, são revisitados e desconstruídos, para usar um termo tipicamente pós-estruturalista criado por Jacques Derrida. A desconstrução localiza certas oposições cruciais ou estruturas binárias. Que seriam a distinção entre estrutura e decoração, abstração e figuração, figura e fundo, forma e função, poderia ser dissolvida. A arquitetura poderia começar a procurar o "entre" dentro destas categorias. Uma leitura desconstrutiva vai provar que estes termos estão inscritos dentro de uma estrutura sistemática de privilégio hierárquico. A finalidade é demonstrar, como este sistema está incompleto internamente: como o termo segundo ou subordinado de cada par tem igual aspiração de ser tratado como condição de possibilidade para o sistema inteiro.

Jaques Derrida

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Pós Estruturalismo na Arquitetura As "estruturas" manifestam-se de diversas formas na arquitetura e o modelo saussureano tem sido aplicado não somente na crítica da arquitetura atual, mas também do passado. Os correspondentes à "língua" saussureana, produto cultural inacessível à intervenção individual são os estilos históricos, as poéticas estilísticas etc. As "falas" são os discursos transmitidos pelas soluções individuais, tendo por objeto o espaço, o volume, a poética mural, os elementos arquitetônicos e suas articulações.

O concurso buscava o desenho de um parque urbano para o século 21, através do terreno de 135 hectares, dividido pelo Canal de l'Ourcq. O projeto escolhido não habitava ou dependia da história como precedente, mas olhava para as questões contemporâneas e ao futuro.

Parc de la Villette, Paris, 1983, Bernard Tschumi


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A casa em Connecticut, de 1970, de Robert Venturi. A questão do interior-exterior, colocada como um par binário, é questionada e subvertida. A suposta "frente" - não exatamente o ponto de acesso - tem um discurso assim elaborado com uso de simetria, estudo de cheios e vazios e demais recursos que somente valem para o observador externo. Aquele ponto de interesse principal é, na verdade, ocupado por uma cozinha; a parte nobre está do lado oposto. Casa em Greenwich, Conecticutt. 1972, de Robert Venturi

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A linha e o plano horizontais, a linha e plano verticais -

É muito comum no trabalho dos arquitetos desconstrutivistas a quebra da relação essência-aparência no que se refere ao plano horizontal, ou plano de desempenho. O mundo que vivemos é um mundo em que a imagem do real supera o real: as fotografias manipuladas, os factóides, as manipulações da opinião, têm um poder de convencimento que substitui a "busca da verdade" iluminista. A idéia, no caso destes edifícios, é criar uma imagem facilmente recebida como falsa: um "real" que não pode ser real.

Lou Ruvo Center, Las Vegas, Nevada, 2010 de Frank Gehry


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Seattle Central Library, Seattle EUA OMA + LMN, 2004

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O "ponto-de-vista" -

A perspectiva como instrumento traz implícita a visão renascentista de mundo, o "olhar para frente", em oposição ao gótico "olhar para cima". O humanismo, o homem como centro. Mas traz também a ideia do ponto-de-vista único: sem ele não há perspectiva. E o ponto-de-vista está ligado à ideia de "sujeito", ideia essa cuja quebra é fundamental no projeto estruturalista. O "sujeito" cartesiano, livre e independente, não pode conviver com a ideia de estruturas que o antecedam, e muitas vezes governam seus mais simples pensamentos e ações. E a ideia de "ponto-de-vista" não pode conviver com a idéia da "diferença" trabalhada por Deleuze, Foucault e Derrida como fundamentais. Entrega das chaves à São Pedro, 1481/82 – Perugino


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Os eixos ortogonais -

A geometria analítica parte do método cartesiano (1637) procurando localizar os pontos objetivos no espaço por meio de três eixos coordenados, ortogonais entre si. Independentemente de sua operatividade, representa, talvez, a mais forte referência do projeto iluminista. Ela nos traz não somente a figura de um instrumento matemático capaz de operar com figuras geométricas pela álgebra, mas também todo o esforço de reduzir o conhecimento à res extensa, àquilo que se pode medir. Descartes, com sua obra, foi um dos pontos de partida do racionalismo moderno. Os eixos ortogonais são uma referência poderosa, e raramente uma planta de edifício não ostenta essa ortogonalidade, muitas vezes explícita e intencional, mas na maioria dos casos um conceito estruturante apenas implícito, talvez o mais forte dos conceitos estruturantes do mundo moderno utilizado nos projetos arquitetônicos.

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O triedro mongeano -

A geometria descritiva, criada por Gaspard Monge e instrumento de trabalho mais utilizado pelos arquitetos desde sua criação no final do século 18, O triedro mongeano, três planos hipotéticos, ortogonais entre si, formam a base do sistema projetivo arquitetônico desde a sua criação. Se torna referência não somente ao sistema utilizado na projetação, mas trazendo à memória a cultura napoleônica, da revolução industrial, do mundo neoclássico, enfim do desenvolvimento final oitocentista do grande projeto moderno maquinista que ajudou a construir. Os arquitetos desconstrutivistas trabalham muitas vezes com a desarticulação desses planos criando uma instabilidade perceptiva que melhor representa nossa instabilidade emocional e funcional, nossa insegurança quanto ao futuro do projeto moderno.

Dominion Office Building, Russia, 2015, Zaha Hadid Architects

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Cidade da Cultura, Espanha, 2011 Eisenman Architects

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O sólido geométrico puro -

No período heroico do movimento moderno, a afirmação do sólido geométrico como princípio projetual torna-se mais claro ainda do que fora anteriormente. Em Teoria e projeto na primeira era da máquina, Reyner Banham cita Ozenfant e Le Corbusier (em Depois do Cubismo, ou Aprés le Cubisme): "...cubos, cones, esferas, cilindros ou pirâmides são as grandes formas primárias que a luz revela vantajosamente... estas são formas belas, as mais belas formas". O arquitetos pós-estruturalistas, ou desconstrutivistas, trabalham com a parte material dos signos arquitetônicos, com os significantes, os elementos materiais: paredes, lajes, pilares, vigas, portas. É mais uma simplificação, incompleta e até mesmo discutível em certos aspectos, mas que pode ser perdoada por sua simplicidade didática, na medida em que ajuda até um determinado ponto a entender o pós-estruturalismo na arquitetura.

Max Reinrardt Haus, Berlim, 1993, Peter Eisenman Desconstrução do sólido geométrico


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“Estes arquitetos estavam de fato desconstruindo a essência da tradição e criticando tudo que subordinava a arquitetura a outra coisa, o valor da utilidade ou beleza ou habitação, etc. Não para construir algo que fosse inútil, feio ou inabitável, mas para liberar a arquitetura destas finalidades externas, destes objetivos exóticos.“ Jaques Derrida

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