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Olivro que chega às suas mãos este mês pro põe uma divertida (e enigmática) imersão nas dinâmicas do mercado editorial. Inspirado em uma biblioteca de livros recusados existente nos Estados Unidos, o escritor David Foenkinos teve a ideia de criar uma trama sobre a descoberta de um manus crito em uma biblioteca semelhante, mas a transporta, na ficção, para a região francesa da Bretanha. E é esse justamente o ponto de partida de O mistério de Henri Pick, romance que nos conduz por uma investigação em torno da autoria dessa obra.
Nas páginas a seguir, você encontra um texto introdutório para se aventurar no livro do mês, assim como uma reportagem sobre grandes escritores que tiveram obras rejeitadas por editoras. Em entrevista presente nesta edição, aliás, o próprio Foenkinos revela as frustrações pelas quais passou no início da carreira. Por fim, confira uma seleção de livros, filmes e séries que retratam o mundo editorial.
Boa leitura!
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VAMOS LER
O mistério de Henri Pick?
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Criamos esta experiência para expandir sua leitura. Entre no clima de O mistério de Henri Pick colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code ao lado ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os conteúdos complementares!
O primeiro passo você já deu, agora é só terminar de ler a revista. :)
Leia até a página 72 Chegamos ao fim da parte três do livro! Já conhece mos alguns personagens da história, mas ainda há muito por acontecer — incluindo um livro a ser publicado. Vamos lá?
Leia até a página 130 A descoberta do livro de Henri Pick gerou conse quências muito além do esperado por Delphine. Ao que parece, as vidas de muitos personagens não serão mais as mesmas. Que tal compartilhar suas impressões no aplicativo da TAG?
Leia até a página 179 Quantas reviravoltas! Contar um segredo a um desconhecido pode não ser uma ideia muito prudente, não é mesmo? Mal podemos esperar para saber o que vem pela frente. Então, sem mais delongas, vamos para a parte oito!
Leia até a página 243 Na busca pela solução do mistério de Henri Pick, Rouche acabou por desvendar outros mistérios que ele nem sabia que existiam — inclusive sobre ele próprio. Pensa que acabou? As próximas páginas guardam grandes surpresas!
Leia até a página 253 U-a-u! Não sei você, mas a gente não contava com essa virada final. O que achou da conclusão da história? E será que essa his tória acaba por aí? Compartilhe com outros leitores e não deixe de avaliar o livro no aplicativo!
projeto gráfico
A capa do livro do mês propõe um jogo metalite rário: ao fundo, lemos o título da obra misteriosa presente na história e o nome do autor fictício; cortes que parecem feitos com estilete buscam reforçar o tom de mistério da trama e revelam o verdadeiro nome do livro que chega a você e de seu autor, o francês David Foenkinos. O orégano e o molho remetem à atividade do personagem Henri Pick — um pizzaiolo — e são complementados pela luva, que, em um proposital contraste de estilo, faz referência a uma caixa de pizza bem tradicional, até mesmo com o lado interno em papelão. A capa da revista, por sua vez, traz um rolo de massa acoplado a uma máquina de escrever e um papel engordurado, em uma mistura de elementos que sintetiza bem a narrativa de O mistério de Henri Pick. O projeto tem assinatura de Angelo Bottino e Fernanda Mello.
mimo
Neste mês, você recebe uma cinta de livro feita com couro de origem vegana, ideal para quem ama fazer marcações e rabiscos nos livros. Mas fique tranquilo se você não é desse time: o item pode ser utilizado também em cadernos, tablets e notebooks menores, por exemplo. Ah, aqueles que assinam os dois clubes recebem um brinde extra!
O mistério de Henri Pick pode ter terminado, mas a experiência não! Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado e escute o episódio de nosso podcast dedicado ao livro do mês. No aplicativo, confira também a nossa agenda de bate-papos.
cenário e personagens essencialmente franceses, essa trama misteriosa é cheia de reviravoltas, o que mantém o leitor adivinhando até o final.
personagem é lindamente descrito e delicadamente entrelaçado na história.”
Neha Kirpal, The New Indian Express
personagem ganha vida de forma impactante; nós sentimos suas frustrações, seus desgostos e suas irritações desproporcionais.”
Louise Ward, The New Zealand Herald
em um estilo disfarçadamente simples, com uma mistura sedutora de enigma e sátira — Foenkinos claramente gosta de zombar do establishment literário francês
esse livro é leve, engraçado e erudito: um deleite.”
Laura Wilson, The Guardian
Por que ler o livro
O mistério de Henri Pick é uma narrativa leve, bem-humorada e despretensiosa sobre o múltiplo e encantador universo dos livros. David Foenkinos, autor francês best-seller de obras como A delicadeza e Charlotte, joga luz sobre os escritores esquecidos, centralizando sua história em uma biblioteca de manuscritos rejeitados por editoras. Foenkinos ironiza os vícios e engessamentos do meio editorial na França ao mesmo tempo que explora reflexões relevantes sobre a criação literária, a relação do público com obras de ficção e as concepções e sentimentos de sucesso e de fracasso na escrita, no amor e na vida. Para os curiosos pelo mundo dos livros, para quem lê e para quem escreve, para todos os amantes das palavras, o livro deste mês oferece um percurso divertido e instigante pelos bastidores da literatura.
Página aberta
DÉBORA SANDER*
O mistério de Henri Pick é uma divertida e instigante homenagem àqueles que dedicam suas vidas aos livros
A necessidade de dizer é inescapável à experiên cia humana. O encontro com a literatura, nesse sentido, pode ser a chave para recuperar alguma coisa que até então vagava sem rumo dentro de nós, “alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada”, como escreveu Galeano. Para onde vai o que quer ser expressado ao mundo, mas que não encontra espaço nos catálogos de editoras e nas estantes das livrarias? Hoje, muito disso encontra espaço na internet, sabemos, mas há outro destino possível, mais pitoresco e analógico, que é tanto criação literária quanto um lugar concreto, com endereço próprio.
Débora Sander é jornalista formada pela UFRGS e cursa pós-graduação em Direitos Humanos na PUCRS. Passou por projetos como o Fronteiras do Pensamento e a Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Hoje, colabora regularmente com a Arquipélago e com a TAG Inéditos.
O cenário do livro deste mês foi inspirado em uma visita de David Foenkinos à Brautigan, biblio teca de livros rejeitados em Vancouver, nos EUA, que materializa a ideia concebida pelo romancista e poeta norte-americano Richard Brautigan no livro O aborto (1971). Um lugar fértil para divagar sobre mil e uma questões que envolvem o universo literário: quem são as pessoas que deixam seus textos ali, e que histórias elas gostariam de contar? E se o grande romance do século estivesse escondido em um lugar assim? Em O mistério de Henri Pick, Foenkinos costura uma trama que passa por per guntas como essas, ambientada em uma versão imaginada da biblioteca na França.
A biblioteca da história fica na pequena cidade litorânea de Crozon, na Bretanha, com prateleiras destinadas a abrigar os sonhos frustrados de milha res de escritores. Delphine, uma jovem editora de livros de Paris passando férias na casa de seus pais, visita o local acompanhada do namorado, Frédéric, um escritor frustrado pelo fracasso de vendas de seu primeiro romance. O casal descobre
uma obra-prima perdida, e Delphine assume a missão de fazer o livro ser publicado. Mas o autor que assina o manuscrito não tem o perfil típico de um escritor: é o falecido Henri Pick, um morador que, ao longo de 40 anos, manteve uma pizzaria no local — e que, segundo sua esposa, não escrevia nada além de listas de compras para o restaurante. O livro, As últimas horas de uma história de amor, descreve a separação de um casal e faz um inusitado paralelo com a morte do poeta russo Aleksandr Púchkin. A obra é publicada, sob fortes holofotes da imprensa, e não para de conquistar novos leitores — mas a insólita autoria parece ter mais apelo para o público e para a mídia do que o livro em si. Há, porém, quem não esteja convencido da história por trás do fenômeno literário.
O enredo cruza as perspectivas de muitos per sonagens, atravessados de diversas e inesperadas maneiras pela publicação do best-seller. Com estilo leve e irônico, Foenkinos simboliza em cada um deles diferentes figuras do mundo dos livros: o entusiasta que cria a biblioteca, a editora ambi ciosa, o escritor fracassado, o jornalista indiscreto e o cidadão comum que é descoberto como uma grande revelação da literatura. De muitas formas, é uma trama que explora as concepções de fracasso e de sucesso. A inesperada e inflamada glória artística póstuma do dono de uma pizzaria em um vilarejo à beira-mar contrasta com as frustrações românticas e literárias dos outros personagens.
O tema é pessoalmente caro a Foenkinos, hoje premiado escritor e roteirista de cinema. À revista Femme Actuelle, o autor falou sobre sua história com os livros, que começou na adoles cência durante a recuperação de uma cirurgia
cardíaca. “A proximidade da morte desbloqueou minha sensibilidade. Passei a ler, depois a escrever. Entre os 16 e os 25 anos, escrevi todos os dias sem pretensões de publicar nada”, relatou. Ao longo dos primeiros dez anos de sua carreira, o autor publicou sete romances e vendeu pouco. Foi só com A delicadeza (2009) que o reconhecimento veio em maior escala: vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares, tornando-se um dos maiores nomes da literatura francesa contemporânea. Dirigiu também a adaptação audiovisual A delicadeza do amor — estrelada por Audrey Tautou. O filme teve duas indicações ao prêmio César, o mais importante do cinema francês. Em 2014, o autor ganhou os prêmios Renaudot e Goncourt des lycéens pelo romance Charlotte, inspirado na trágica história de vida da pintora francesa Charlotte Salomon.
Uma das grandes provocações que Foenkinos faz na espirituosa narrativa de O mistério de Henri Pick tem a ver com a ideia dualista que situa o fracasso e o sucesso em polos opostos. A narrativa nos mostra que esses aspectos coexistem, fazem parte da dinâmica da vida. Para o próprio autor, mesmo com tantos reconhecimentos, a facilidade de escrever não está necessariamente dada. A cada nova criação, retornam os desafios. “Toda vez, sou confrontado com o mesmo problema: não sei como contar a história, é como se eu começasse do zero a cada vez que vou escrever”, relatou à Femme Actuelle.
O mistério de Henri Pick é uma divertida e insti gante homenagem àqueles que dedicam suas vidas aos livros. Um passeio despretensioso pelos bastido res da literatura, da criação literária aos processos de edição. Uma narrativa sobre frustrações — na carreira, no amor, na sempre desafiadora imagem da página em branco à espera de uma nova história a ser contada. Uma aposta na coragem necessária para escrever palavra após palavra e na ousadia de expor ao mundo aquilo que acreditamos ter a dizer.
Achados e perdidos
CAIO DELCOLLI*
Grandes escritores rejeitados mostram que não há receita para o sucesso — e que o passar do tempo forma legados
A lguns mistérios da literatura não se encontram necessariamente nas páginas dos romances policiais. Se existissem, Hercule Poirot e Sherlock Holmes bem que poderiam trabalhar em um dos casos que há tanto tempo ronda o mercado livreiro: por que tantos escritores são rejeitados?
A rejeição pode se dar de muitas formas. Faz parte do cotidiano de editoras, por exemplo, enviar cartas de retorno negativo a autores. Vários deles alcançam o devido reconhecimento somente depois de irem parar no caixão. Há casos em que ambas as possibilidades se interseccionam, assim tornando o escritor, pobre criatura, uma figura duplamente amargurada. Um exemplo é o de O mistério de Henri Pick, de David Foenkinos, em que uma editora descobre um lugar capaz de fazer cócegas no imaginário de qualquer leitor — uma biblioteca de livros rejeitados. É onde ela se depara com As últimas horas de uma história de amor, assinado por Henri Pick, pizzaiolo já morto da cidadezinha em que a biblioteca se localiza.
Caio Delcolli é formado em jornalismo e escreve para Folha de S. Paulo, Rolling Stone, Galileu, O Estado de S. Paulo e GQ, entre outros veículos. Está trabalhando em seu primeiro romance.
O ótimo romance estava simplesmente ali, parado em uma prateleira, intocado. Pense você: quantas grandes obras — e, é claro, grandes porcarias — nós nunca lemos por causa disso? O mistério de Henri Pick proporciona, mesmo que na ficção, um alento aos escritores rejeitados. Mesmo que declinados, eles podem encontrar um lugar para si, onde podem ser lidos e, com sorte, notados.
O livro de Pick se torna aclamado pela crítica e um sucesso de vendas. Jean-Michel, um crí tico literário, questiona a integridade da obra e se torna obcecado por desmascarar os envolvidos
na publicação. Até onde se sabe, o pizzaiolo não escrevia e nunca nem foi visto lendo um livro. Ou ele é de fato o responsável pela obra-prima? Intrigas à parte, a história lembra algumas da vida real.
Nos anos 1950, o italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa submeteu o manuscrito de O Leopardo à Mondadori. Naquela ocasião, o parecerista era Elio Vittorini, grande nome do modernismo e tam bém escritor, conhecido por Conversa na Sicília. O romance de Lampedusa (enviado pela TAG Curadoria em 2017) aborda as transformações sociais da Itália durante o Risorgimento, período repleto de guerras em que ocorreu a unificação do território que se tornou o Estado-nação italiano no século 19. Para Vittorini, um marxista, o romance de Lampedusa era politicamente “regressivo” e, assim, o recusou. Lampedusa morreu em decorrência de um tumor maligno no pulmão direito sem ver O Leopardo ser publicado, no ano seguinte, após outro romancista, Giorgio Bassani, tornar-se editor na Feltrinelli e dar o aval. O Leopardo se tornou um best-seller em toda a Itália e conquistou o Strega, principal prêmio literário do país.
Carrie, um dos clássicos de Stephen King, rece beu trinta cartas de rejeição. J. K. Rowling e seu agente, quando circulavam pelo mercado com o pri meiro volume de Harry Potter, ouviram “não” doze vezes antes da contratação feita pela Bloomsbury. O “sim” veio da gatekeeper ideal: a filha de oito anos do então diretor da editora disse ao pai achar Harry Potter superior aos outros livros que ela andava lendo.
Uma evidência de que o capital social vinculado a um nome pode ajudar na aprovação também envolve Rowling. A escritora foi rejeitada de novo quando adotou o pseudônimo Robert Galbraith para assinar as histórias do detetive Cormoran Strike. A autora foi recusada pelo menos uma vez até conseguir a publicação na Little, Brown and Company. “Eu posso dizer agora que recusei J. K. Rowling”, escreveu no Twitter a editora Kate Mills, da Orion Books, quando a verdadeira identidade de Galbraith foi revelada. “Eu li e disse não a O chamado do cuco. Quem mais vai confessar?”
A lista é longa: William Golding, Marcel Proust, Herman Melville e Emily Dickinson são outros exem plos dos que amargaram rejeição antes do renome. Os pareceristas devem estar se revirando no túmulo. Welington Andrade, doutor em Literatura Brasileira pela USP e diretor da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, acredita que as editoras brasi leiras muitas vezes não têm preparo para lidar com a literatura que não seja a mainstream. Ele men ciona como exemplo um episódio rocambolesco provocado pelo jornal Folha de S. Paulo. Em 1999, um repórter enviou a seis das maiores casas edito riais do país uma cópia de A estação, novela que é um dos trabalhos menos famosos de Machado de Assis, sem utilizar o nome do escritor. Todas elas recusaram a obra. Apenas três se deram ao trabalho de responder, mas nenhuma sinalizou ter percebido que se tratava de um texto machadiano.
O repórter menciona fazer sentido para uma edi tora contemporânea recusar um texto que parece estar “um século atrasado”. Mas, no frigir dos ovos, nenhum sinal de reconhecimento de Machado é algo bastante revelador. “A recusa mostrou que os editores não estavam preparados”, analisa Andrade. “Foram incapazes de sequer pensar se alguém teria copiado Machado. É difícil mostrar a sua genialidade sem estar investido de uma expectativa social.”
No mercado livreiro do Brasil, as editoras jovens e independentes tendem a ser as que descobrem as novas vozes da cena literária nacional. A des peito disso, em muitos casos, apenas a morte e sua aura de dignidade se encarregam de eleger, com o tempo, o próximo nome de grande projeção.
Dois casos expressivos são o de Lima Barreto, o homenageado da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2017, e o do dramaturgo Qorpo Santo, pseudônimo de José Joaquim de Campos Leão, que, uma vez descoberto nos anos 1960, quase cem anos após morrer, foi catapultado à fama.
“O que falta nessa equação é o público leitor, que, no Brasil, não é robusto o suficiente para sustentar muitos investimentos editoriais, e professor prepa rado para ir além do mainstream”, pontua Andrade.
O autor do mês, David Foenkinos. Crédito: Mantovani/ Editions Gallimard
“Meus livros foram rejeitados por muitas editoras no início”
JÚLIA CORRÊA*
Em conversa com a TAG, David Foenkinos fala sobre a criação de O mistério de Henri Pick, de suas próprias experiências no meio editorial e das adaptações de seus livros para o cinema
Qual foi a sua inspiração para escrever O mistério de Henri Pick? O livro foi baseado em alguma história real?
Júlia Corrêa é editora na TAG. Jornalista formada pela UFRGS, é mestranda em Teoria Literária e Literatura Comparada na USP. Antes, foi repórter cultural do Estadão e colaboradora do portal Fronteiras do Pensamento.
Descobri a existência de uma biblioteca de livros rejeitados. Ela realmente existe, nos Estados Unidos. Adorei essa ideia de que poderia haver um lugar onde todos os escritores frustrados que não encon tram editoras pudessem depositar seus manuscritos. Transpus essa biblioteca para a França, para uma região selvagem. A partir daí, imaginei que uma editora encontraria ali um manuscrito extraordi nário e iria em busca de seu autor.
Foenkinos em sessão de autógrafos na Suíça.
Crédito: Boris Dupont
Você já teve livros rejeitados? Como lidar com a rejeição e seguir escrevendo?
Claro que sim! Meus livros foram rejeitados por muitas editoras no início. E depois, quando fui publicado, também não foi fácil. Digo no meu livro que, às vezes, é ainda mais difícil ser publicado e ser lido por qualquer pessoa do que não ser publicado! Meu primeiro romance de sucesso, A delicadeza, foi o meu oitavo romance. Fiquei particularmente feliz que a adaptação do filme foi bem no Brasil.
O livro aborda, no fundo, o interesse cada vez maior pela vida íntima dos escritores. Qual a sua opinião sobre esse tema? O que você pensa de autores como a italiana Elena Ferrante, que optaram pelo anonimato?
É, de fato, um dos assuntos do livro. Às vezes, gosta mos ainda mais de todas as histórias que cercam o escritor do que de seu próprio romance. O sucesso de Elena Ferrante foi intensificado pelo mistério ao seu redor. No meu livro, o romance encontrado na biblioteca dos livros recusados supostamente foi escrito por um escritor misterioso, que fascina. Isso contribui para o sucesso, até que um jornalista vai investigar esse escritor. Foi realmente ele que escreveu o livro?
Você já declarou que a escrita de Charlotte demandou uma longa pesquisa e muita dedicação. Como foi com O mistério de Henri
Pick? Pode nos contar um pouco de seu processo criativo de um modo geral? Como é a sua rotina de escrita?
Cada um dos meus romances é muito diferente. Eu alternei livros bem-hu morados com livros mais sérios, como Charlotte, que era o retrato trágico da pintora Charlotte Salomon. Com O mistério de Henri Pick, me lancei nos thrillers pela primeira vez, já que há um mistério e uma resolução no final. Eu queria me divertir com o leitor, que ele nunca soubesse onde estaria a verdade até o momento final. Então, para esse livro, tive de elaborar um plano preciso. Ao contrário de outros dos meus romances, é claro que eu sabia o final desde o início da escrita.
Como é a experiência de ver seus livros adaptados para o cinema? O que você achou da adaptação de O mistério de Henri Pick?
O filme ficou realmente ótimo. E posso dizê-lo ainda mais porque não participei. Também aproveita bem o humor da história, e o suspense é muito bem mantido. É estrelado por uma dupla de atores incríveis, Fabrice Luchini e Camille Cottin, que atua na série Dix pour cent
Pode mandar um breve recado aos seus leitores brasileiros? Eu sinto falta deles e quero voltar ao Brasil! Tenho lembranças sublimes das minhas visitas ao país, princi palmente do festival de Paraty, para o qual tive a sorte de ser convidado duas vezes. Eram encontros a um só tempo literários e muito alegres.
A ESTANTE DO AUTOR
livro que leu:
, de Jack London.
que está lendo:
Shylock, de Philip Roth.
que mudou a sua vida:
insustentável leveza do ser, de Milan Kundera.
que você gostaria de ter escrito:
,
que
,
que dá de
, de Roberto Bolaño.
que não
acabar:
, de James Joyce.
O
O
O
Mundo editorial
Confira uma seleção de filmes, séries e livros que mostram os bastidores da criação literária e do mercado editorial
Meu ano em Nova York
O filme é inspirado no romance My Salinger Year, de Joanna Rakoff. Disponível na Netflix e prota gonizada por Margaret Qualley, gira em torno de uma jovem que assume o cargo de assistente em uma grande editora e começa a responder, sem a permissão de sua chefe, às cartas enviadas por fãs de J. D. Salinger — recluso, o autor de O apanhador no campo de centeio recusava-se a interagir com os seus leitores.
Monsieur & Madame Adelman
De 2017, o filme francês dirigido por Nicolas Bedos mostra as trajetórias de Sarah e Victor. No funeral do marido, a esposa é abordada por um jornalista que deseja escrever sobre a vida dele, que foi um escritor renomado. Ao compartilhar as suas memó rias, Sarah acaba revelando uma série de segredos. Cheia de reviravoltas, a comédia está disponível no Google Play e na Apple TV.
Bartleby e companhia
O protagonista desse livro do escritor espanhol Enrique Vila-Matas dedica-se a rastrear e cata logar autores que optaram pelo silêncio e pela reclusão, como J. D. Salinger e Robert Walser. A partir da figura de Bartleby, personagem criado por Herman Melville, e misturando diferentes gêneros literários, Vila-Matas escreve sobre o ato de não escrever, discutindo temas como a originalidade na pós-modernidade. No Brasil, o livro foi publicado pela Companhia das Letras.
Meu ano em Nova York mostra a rotina de uma assistente editorial.
Crédito: IFC Films
Amor e anarquia
Com um humor singular, a série sueca assinada por Lisa Langseth apresenta Sofie, uma mulher contratada para trabalhar em uma pequena editora que passa por apuros. Junto às questões privadas da protagonista, que entra em um estranho jogo com o técnico de informática do escritório, acom panhamos dilemas e dificuldades atuais do mercado editorial. Está disponível na Netflix.
As palavras De 2012, o filme narra a história de um autor em crise, com trabalhos rejeitados por diversas editoras, que encontra um manuscrito aparentemente sem dono e decide publicá-lo com a sua assinatura. Disponível no Prime Video e no Telecine, o longa traz no elenco nomes como Bradley Cooper, Olivia Wilde, Jeremy Irons e Zoe Saldana.
Lembre-se: nosso aplicativo é um ótimo espaço para trocar sugestões de leituras com os outros taggers. Ler O mistério de Henri Pick o fez lembrar de outras obras? Já conhecia os títulos da nossa lista? Compartilhe suas dicas e impressões por lá!
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encontros TAG:
Guia de perguntas sobre O mistério de Henri Pick
1. Qual é a sua avaliação sobre a escrita de David Foenkinos?
2. O livro acaba por revelar o interesse exacerbado pela vida íntima dos escritores. Discuta esse tema a partir dos eventos da trama.
3. Você já parou para pensar em quantos livros deixamos de ler devido às recusas de manuscritos por parte das editoras e outras dinâmicas sutis do mercado editorial? Leia a matéria da página 12 e faça reflexões sobre o tema.
4. Expectativas, frustrações, criatividade e reconhecimento.
Em que medida o livro nos permite refletir sobre esses sentimentos?
5. O que você achou do fim do livro? Já imaginava esse desfecho?
dezembro janeiro
Nada melhor do que fechar o ano com uma boa comédia romântica, não é mesmo? Escrito por uma autora best-seller do New York Times, o livro de dezembro gira em torno de uma agente literária e um editor que se veem envolvidos em uma série de coincidências.
Para quem gosta de: comédias românticas, romance contemporâneo, livros sobre livros
O primeiro livro do ano é um drama ambientado na Nova Zelândia. A narrativa apresenta duas irmãs que, afastadas por motivos obscuros, precisam confrontar memórias da infância. Com isso, uma série de segredos e traumas do passado vêm à tona.
Para quem gosta de: dramas familiares, histórias emocionantes, tramas misteriosas
“Creio que seja difícil matar uma ideia, porque as ideias são invisíveis e contagiosas e se movem rápido.”
– NEIL GAIMAN