Jan2016 "O seminarista"

Page 1

JANEIRO DE 2016 O Seminarista


Arthur Dambros arthur@taglivros.com.br Gustavo Lembert da Cunha gustavo@taglivros.com.br Álvaro Scaravaglioni Englert alvaro@taglivros.com.br Pablo Soares Valdez pablo@taglivros.com.br Tomás Susin dos Santos tomas@taglivros.com.br Daniel Romero daniel@taglivros.com.br Maria Eduarda Largura maria.eduarda@taglivros.com.br Guilherme Rossi Karkotli guilherme@taglivros.com.br Antônio Augusto Portinho da Cunha Bruno Miguell M. Mesquita brunomiguellmesquita@gmail.com Pedro Menezes pedro@primeiracomunicacao.com.br Gráfica Centhury TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Celeste Gobbato, 65/203 | Praia de Belas | Porto Alegre-RS CEP: 90110-160 | (51) 3023.4011 | contato@taglivros.com.br


Ao Leitor No ano que passou, ao ver as fotos que nossos associados postavam de suas bibliotecas pessoais, percebemos algo que nos deixou felizes: a maioria deixa os livros da TAG juntos, em um cantinho especial de suas bibliotecas. Vendo isso, tivemos uma ideia: que tal tornar essa coleção ainda mais mágica? Para que cada um guarde seus livros e complete, com eles, uma verdadeira coleção, confeccionamos uma série de boxes literárias! Com a embalagem personalizada, você poderá guardar os livros da TAG junto a suas respectivas revistas, destacando cada kit em sua biblioteca. Estamos ansiosos para saber o que vocês acharam desta box – e das próximas que virão! Aproveitando essa novidade, reformulamos tudo: nossas caixas ganharam nova ilustração e a revista, novo formato – tudo para combinar com o novo ano que chegou. Mas isso vocês já perceberam. Agora, resta deliciarem-se com a recomendação do nosso primeiro curador do ano, Luis Fernando Verissimo! Desejamos a vocês um excelente ano, repleto de leituras marcantes – e nos esforçaremos para contribuir para isso! Esperamos que nos acompanhem nesta jornada literária por muitos e muitos anos.


A INDICAÇÃO DO MÊS

ECOS DA LEITURA

A INDICAÇÃO FEVEREIRO

04 09 16 18 22 24 28

O curador: Luis Fernando Verissimo O livro indicado: O Seminarista

Fonseca por trás das armas De Edgar Allan Poe a Rubem Fonseca Nas telas Os nonagenários da literatura

Sérgio Rodrigues



4 Indicação do Mês

A INDICAÇÃO DO MÊS


Indicação do Mês 5

O curador: Luis Fernando Verissimo Luis Fernando Verissimo nasceu em 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Quando tinha seis anos de idade, seu pai, o escritor Erico Verissimo, aceitou um convite para lecionar na Universidade da Califórnia e levou a família para morar nos Estados Unidos. Nessa época, Erico ainda não havia publicado a maior parte das obras que o consagrariam como um dos maiores nomes da nossa literatura, mas já havia lançado Olhai os Lírios do Campo (1938) e era um proeminente escritor. Erico sempre foi um intelectual: conta-se que, aos 13 anos de idade, já lia autores como Aluísio Azevedo, Joaquim Manuel de Macedo, Émile Zola e Fiodor Dostoievski. Assim, quando Luis Fernando nasceu, o berço literário já estava pronto. Seus primeiros brinquedos foram os livros, e seu playground, a biblioteca do pai. Luis Fernando conta que ainda lembra de alguns momentos de sua infância e adolescência em que ouvia sua mãe conversando com Clarice Lispector, ou seu pai recebendo telefonemas de Jorge Amado. Apesar dessa precoce relação com o universo da literatura, Verissimo cresceu sem nunca pensar em ser escritor. Quando criança, conta que queria ser aviador; na adolescência, passou a sonhar em ser arquiteto; depois, no início da juventude, como todos aqueles que cresceram nas décadas de vinte e trinta nos Estados Unidos, apaixonou-se pelo Jazz. Passou a viajar pelo país para assistir a espetáculos de Charlie Parker e Dizzy Gillespie, e até aprendeu a tocar saxofone, instrumento que o acompanha até hoje. Quando completou vinte anos, Verissimo voltou ao Brasil. Primeiro, trabalhou no departamento de arte da Editora Globo, em Porto Alegre, e depois foi para o Rio de Janeiro, trabalhar como tradutor e redator publicitário, onde conheceu sua futura esposa, Lúcia Helena Massa,


6 Indicação do Mês

com quem viria a ter três filhos. Em 1967, então com trinta anos de idade, voltou à capital gaúcha – para iniciar, sem ter consciência disso na época, sua carreira como escritor. Foi contratado pelo jornal Zero Hora, onde passou a fazer de tudo. Como era muito tímido para ir às ruas e conseguir entrevistas, acabou trabalhando nos bastidores, editando matérias e revisando textos. Escreveu até horóscopo – “meu primeiro exercício na ficção”, brincou o escritor. Até que um dia um colunista do jornal saiu de férias e Verissimo se ofereceu para assumir seu lugar temporariamente. A crônica acabou surgindo naturalmente, pois “é um gênero indefinido. Ninguém sabe exatamente onde ela inicia e onde termina e, assim, eu escrevia qualquer coisa e chamava de crônica”. O fato é que deu certo, o temporário virou permanente e, mais ou menos por acaso, Verissimo começou a ser chamado de escritor. De lá para cá, publicou milhares de crônicas e mais de sessenta livros, tornando-se um dos mais populares autores contemporâneos. A maioria de suas obras consiste em compilações de crônicas publicadas em jornais, mas também escreveu alguns romances, com destaque para O Jardim do Diabo (1987), O Clube dos Anjos (1998) e A Décima Segunda Noite (2006). Sua obra mais recente é As Mentiras que as Mulheres Contam, publicada em 2015 pela editora Objetiva. Das tirinhas que lemos no jornal pela manhã, ao romance que está ao lado da nossa cabeceira, Verissimo está por todos os lugares. Quase impossível não conhecer o Analista de Bagé, um psicanalista freudiano da fronteira gaúcha, com métodos inusitados e linguajar campeiro. Ou a Velhinha de Taubaté, “a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo”, criada como uma crítica ao governo do general Figueiredo. Ou ainda Ed Mort, um dos detetives mais cômicos da nossa literatura policial, um trapalhão que gostaria de ser tão charmoso quanto


Indicação do Mês 7

Sherlock Holmes – mas, é claro, não consegue. Seus personagens têm traços fortes, tão caricatos quanto o próprio autor – pois para Verissimo o humor é a arte do exagero. Sua narrativa é veloz, repleta de diálogos e conduzida por um humor satírico – você lê cada linha com um sorriso no rosto, antecipando o momento em que dará boas risadas. Quando Luis Fernando Verissimo ingressou no jornal Zero Hora, seu pai já havia publicado todos os volumes da trilogia O Tempo e o Vento e era considerado um dos principais escritores da língua portuguesa do século XX. Bastou Verissimo assinar suas primeiras crônicas que as comparações passaram a ser inevitáveis. Mas isso não foi problema, Verissimo matou no peito e chutou a gol. Optou convicto por um caminho diferente do traçado pelo pai: apesar de ter se aventurado pelos romances, foi principalmente na crônica e no cartum que construiu seu legado literário. Os caminhos foram diferentes, mas levaram ao mesmo lugar: ao posto de um dos principais escritores brasileiros de suas respectivas épocas. Quando entramos em contato com Verissimo para perguntar sobre seus livros favoritos, a resposta veio aos poucos. Começou aqui perto, com elogios a Milton Hatoum; depois foi para os escritores americanos de sua juventude, com destaque para Scott Fitzgerald; por fim, voltou aos brasileiros, e pôs um ponto final na conversa quando tocou no nome de Rubem Fonseca – “um homem que escreveu literatura policial como ninguém no Brasil”.

RUBEM FONSECA TEM UM ESTILO ENXUTO, MAS QUE NÃO O IMPEDE DE DAR MERGULHOS PROFUNDOS NA CONDIÇÃO HUMANA NOS SEUS CONTOS E NOS SEUS ROMANCES. INCLUSIVE OS ROMANCES POLICIAIS, QUE ELE ESCREVE COMO NINGUÉM NO BRASIL. E MAIS NINGUÉM TRATA DA VIOLÊNCIA COMO ELE. –LUIS FERNANDO VERISSIMO

“Aos amigos da TAG, abraços do Luis Fernando Verissimo”.


8 Indicação do Mês

Rubem Fonseca


Indicação do Mês 9

O livro indicado: O Seminarista O gênero literário conhecido como romance policial foi fundado por Edgar Allan Poe, em 1841, com a publicação de Assassinatos na Rua Morgue. O conto se passa em Paris, onde o mistério acerca do assassinato brutal de duas mulheres permanece sem solução. Inúmeras testemunhas alegam terem ouvido o assassino, embora não concordem sobre o que foi dito ou em qual língua, tornando o caso inconclusivo. Eis que surge o detetive C. Auguste Dupin, que reconsidera cada um dos fatos com sua acurada inteligência e, tranquilamente, desvenda o mistério. Segundo o próprio Poe, esse foi um de seus “contos de raciocínio”, em que os casos policiais são resolvidos não pelo sangue, mas pela lógica. Depois veio Sherlock Holmes, em versão ainda mais romanesca, de lupa, sobretudo e com seu cachimbo sempre à mão, reinando tranquilo no domínio de sua inteligência e capaz de solucionar qualquer enigma. Se os precursores do romance policial criaram uma aura de herói em seus detetives – gênios da lógica que pareciam ter vindo de outro planeta –, os de Rubem Fonseca podem ser encontrados no dia-a-dia. Os personagens de Fonseca, talvez o maior expoente da literatura policial brasileira, são pessoas comuns, homens e mulheres do cotidiano, que deram ao romance de Fonseca outro adjetivo: urbano. São marginais, prostitutas, policiais, empresários, pessoas que ele mesmo encontrou e com quem conviveu enquanto trabalhava no 16º Distrito Policial do Rio de Janeiro.


10 Indicação do Mês

A VIOLÊNCIA, A CRIMINALIDADE, O ABUSO, O MENOR ABANDONADO INDUZIDO AO CRIME, A TOXICOMANIA, A PERMISSIVIDADE. A LIBERTINAGEM, NÃO SÃO CRIAÇÕES SUAS, MAS ESTÃO AÍ, NA RUA, NAS PRAIAS, NOS EDIFÍCIOS DE APARTAMENTOS, NAS FAVELAS. –DEONÍSIO DA SILVA

José Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1925, mas com oito anos de idade já havia se mudado para o Rio de Janeiro. Formou-se em Direito na Universidade do Brasil, que posteriormente veio a se chamar de Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aos vinte e sete anos, já formado, ingressou na carreira policial, como comissário do 16º Distrito Policial, em São Cristóvão. Destacou-se na Escola de Polícia, com interesse especial para a psicologia do crime. Em seu segundo ano, recebeu licença para estudar – e, posteriormente, lecionar – essa disciplina na Fundação Getúlio Vargas. Junto a outros nove policias, foi escolhido para fazer um curso de aperfeiçoamento nos Estados Unidos, quando aproveitou a oportunidade para estudar Administração de Empresas na Universidade de Nova York. Ao longo dos seis anos em que trabalhou no Distrito, exerceu tarefas intelectuais: passou a maior parte do tempo em gabinete, cuidando do serviço de relações públicas da polícia e longe da atuação nas ruas. Apesar de não ser o homem que enfrentava os riscos do embate com os criminosos, teve acesso privilegiado para observar de perto a relação da sociedade com o crime. Foi além do que havia estudado em Direito, das definições legais e da aplicação da legislação criminal, e observou o que está abaixo disso tudo: as tragédias humanas que compõem a vida criminosa. Tais experiências, sem que Rubem Fonseca soubesse na época, seriam a inspiração do escritor e o substrato de suas obras. Cinco anos após sua saída da polícia, depois de ter trabalhado como executivo da Light, uma empresa de distribuição de energia, resolveu retomar sua carreira como policial. Desta vez, porém, através da ficção: lançou Os


Indicação do Mês 11

Prisioneiros (1963), seu livro de estreia como escritor. Com o lançamento, arrombou a porta da literatura brasileira e entrou dando tiros para o alto. Bastou esse pequeno livro – Os Prisioneiros é composto por onze pequenos contos, totalizando não mais que duzentas páginas – para chamar a atenção da crítica. Dois anos depois, quando lançou sua segunda coletânea de contos – A Coleira do Cão (1965) – já era considerado um dos mais originais prosadores do país. O crítico Wilson Martins escreveu, em 1966, no jornal O Estado de São Paulo: “Sr. Rubem Fonseca vence brilhantemente a prova do segundo livro. Se figurarmos os nossos autores de hoje em seus lugares respectivos na escada da glória, nada mais fácil do que perceber que, com ele, a literatura brasileira ganhou um dos seus escritores mais importantes”. Rubem Fonseca tornou-se conhecido por suas narrativas velozes, enredadas em cenários urbanos e recheadas de violência e erotismo. Marginais que invadem festas da classe alta, assassinos contratados por grandes empresários ou políticos, pedófilos que planejam passar as férias com meninas de doze anos – histórias que registram o cotidiano terrível e incômodo das grandes cidades. Mas a violência de Rubem Fonseca não está apenas no enredo: está também na linguagem. De estilo seco e entrecortado, com frases curtas e fortes elementos de oralidade, Rubem jamais poda sua linguagem e não emprega qualquer eufemismo. A dureza do enredo é transmitida à linguagem, característica que fez o crítico Alfredo Bosi afirmar que Rubem Fonseca inaugurou uma nova corrente na literatura brasileira: a brutalista.

A METÁFORA SURGIU PARA ISSO, PARA NOSSOS AVÓS NÃO TEREM DE DIZER FODER. ELES DORMIAM COM, FAZIAM AMOR, PRATICAVAM RELAÇÕES, CONGRESSO SEXUAL, CONJUNÇÃO CARNAL, COITO, CÓPULA, FAZIAM TUDO, SÓ NÃO FODIAM. –RUBEM FONSECA, FELIZ ANO NOVO


12 Indicação do Mês

Quando um enredo violento é, ainda por cima, jogado ao leitor sem amenizações, ele choca – principalmente nas décadas de sessenta e setenta, período de suas primeiras publicações. Apesar de ter participado ativamente do golpe de 64, Rubem Fonseca veio a ser censurado, em 1975, com o livro Feliz Ano Novo, por motivos nunca esclarecidos. Além das obras citadas, pelo menos outras vinte foram lançadas pelo autor, entre coletâneas de contos, novelas e romances. Ganham destaque Lucia McCartney (1967), Feliz Ano Novo (1975), A Grande Arte (1983), Buffo & Spallanzani (1986) e Agosto (1990), que lhe renderam o Prêmio Camões pelo conjunto da obra, o Prêmio Machado de Assis e o Jabuti, por cinco vezes. Rubem Fonseca é um daqueles raros escritores brasileiros que conseguem combinar sucesso de crítica e público. Suas obras são citadas e estudadas pelos acadêmicos na mesma medida em que exemplares são comprados pelos leitores comuns. Alguns críticos, como Carlos Graieb, afirmam que Rubem Fonseca foi o senhor da literatura brasileira na década de oitenta, reinando praticamente sozinho e com visível destaque. O escritor teria sido, nos contos e nos pequenos romances, algo parecido com o que Luis Fernando Verissimo acabou se revelando para a crônica.

RUBEM FONSECA É UM CONTISTA DE RAÇA, NA ESCALA DE MAUPASSANT E TCHEKHOV, UPDIKE OU CAPOTE. –RAFAEL PEREZ GAY, ESCRITOR MEXICANO

Uma de suas características mais marcantes é a contraposição entre o banal e o erudito. No conto Intestino Grosso, em vez de contar que um personagem é banguela, o narrador apenas descreve suas dificuldades ao comer um pêssego – em uma referência à estrofe “Ousarei comer um pêssego?”, do poema A Canção de Amor de Alfred Prufrock, de T. S. Eliot. A dissonância entre um personagem banguela e a erudição de um poema chama a atenção. Esses contrastes, característica fonsequiana, podem também ser encontrados em O Seminarista (2009), seu mais recente romance.


Indicação do Mês 13

Ao contrário da impressão que pode causar o título, o livro não narra a história de um menino enviado a um internato, mas sim a de um matador profissional, o melhor de todos – O Especialista, como é chamado. Seu nome é José, frequentou o seminário durante a juventude, na época em que ainda pensava em se tornar padre, mas acabou sendo expulso por comportamento libidinoso. Seus amigos o chamariam de Zé, se ainda tivesse amigos. Daquele tempo, só restaram as frases em latim, o Horácio e o Cícero que frequentemente menciona em seus diálogos. José quer sair dessa vida, deixar de ser o Especialista; não por remorso, mas para se aposentar. Após tantos fregueses despachados, quer a vida tranquila que os pagamentos recebidos ao longo dos anos podem lhe proporcionar. Mal sabia ele que os fantasmas de seu passado recente voltariam para atormentá-lo, e o Especialista se encontraria no cerco de outros profissionais que querem pôr fim a sua vida e transformá-lo no freguês a ser despachado. Escolher o livro do mês entre as obras de Rubem Fonseca é fácil: depois de ler a primeira, você lerá todas elas de qualquer forma. Apesar do cenário violento, já esperado em qualquer livro de Rubem Fonseca, O Seminarista é saboroso, um romance para ser lido em um ou dois dias. De leitura fluida e viciante, agradará tanto àqueles leitores ávidos por ação e tiroteios quanto ao leitor comum, em busca de uma trama envolvente. A obra levará ao associado um pouco do gostinho da literatura policial urbana, da qual Rubem Fonseca foi precursor e maior expoente, iniciando no Brasil uma grande onda literária – tal qual fez Edgar Allan Poe há quase dois séculos nos Estados Unidos.


ECOS DA LEITURA

Ilustração de Francisco José de Souto Leite sobre o personagem Mandrake, de Rubem Fonseca


Ecos da Leitura 15

Quando Edgar Allan Poe publicou o conto O Gato Preto, muitos pensaram que o autor odiava gatos e que seria capaz de assassinar seu próprio animal de estimação. É normal quando leitores confundem a personalidade dos personagens com a do próprio autor. O primeiro eco deste mês busca trazer um pouco de Rubem Fonseca, o homem por trás dos assassinos de aluguel. Falando em Poe, foi ele o criador do gênero literário chamado policial. De lá para cá, muita coisa mudou, e o nosso segundo eco busca levar ao leitor um pouco da história – e também da contemporaneidade – desse gênero que cativa cada vez mais leitores. Pensando naqueles que gostam de complementar suas leituras com bons filmes, selecionamos em nosso terceiro Eco alguns dos livros de Rubem Fonseca que já foram adaptados às telas. Rubem Fonseca completou, no ano passado, noventa anos de idade. Em nosso último eco, trazemos outros dois nonagenários escritores brasileiros que ainda brilham na nossa literatura. Equipe TAG contato@taglivros.com.br

Indique um amigo para o clube e ganhe uma ECOBAG EXCLUSIVA para levar seus livros sempre com você!


16 Ecos da Leitura

Fonseca por trás das armas Rubem Fonseca é, praticamente, um desconhecido do grande público. Ele não dá entrevistas e não faz aparições públicas para promover seus livros, um recluso tal qual J. D. Salinger ou Thomas Pynchon (que, aliás, é seu amigo pessoal). Por muito tempo, principalmente durante as décadas de setenta e oitenta, em que fez o lançamento da maior parte de seus sucessos, o mistério acerca do homem Rubem Fonseca permaneceu uma curiosidade. Eis mais uma semelhança com Edgar Allan Poe, que frequentemente era confundido com seus personagens e considerado alguém macabro, prestes a assassinar seu próprio gato (quando, na verdade, gostava de gatos). Não é de surpreender que, quando algum jornalista tinha a oportunidade de arrancar algumas palavras do autor, questionava-o a respeito de sua vida pessoal. Ao longo de mais de cinquenta anos – só de carreira como escritor! – já se sabem algumas coisas. E uma delas é que tomar seu passado na polícia e o teor de seus contos e romances por sua personalidade é um erro. Ao contrário de seus personagens, Rubem Fonseca é, como se diz, um queridão. Em 2012, num dos raros eventos dos quais participou, o Correntes D’Escrita, em Portugal, Rubem Fonseca defendeu a loucura como principal atributo de um escritor, dizendo que “escrever é uma forma socialmente aceita de loucura”. Questionado pelo auditório se a loucura era atributo suficiente, Rubem respondeu que não: “É preciso também ser alfabetizado”. O bom humor, a tranquilidade e a simpatia também fazem parte da vida privada do autor. João Ubaldo Ribeiro, de quem era amigo íntimo, dizia que eles se reuniam toda terça-feira em algum restaurante no Leblon para almoçar,


Ecos da Leitura 17 Rubem Fonseca, em uma de suas raras fotografias, andando de bicicleta com o escritor Zuenir Ventura (foto: Zeca Fonseca)

e que as conversas eram as mais divertidas e frugais. “Nós ficamos conversando num lugar aberto para a calçada”, disse Ubaldo ao jornal O Povo. “É possível que gente passe e ache que eu e Zé Rubem estamos tendo altos papos estéticos. Na realidade, ele, que é viúvo, está comentando as moças que estão passando pela calçada”. Eis aí, ao menos, um ponto em que é razoável comparar o autor com seus personagens: é um mulherengo. Quando tinha oitenta anos de idade, falando sobre seus vícios, disse: “eu não bebo, não fumo, mas fodo”. E para manter essa forma toda, afirmou que vai três vezes por semana à academia, sempre pelas sete horas da manhã. Revelou recentemente que, apesar de não ter dado indícios ao longo de sua carreira na Polícia de que ambicionava ser escritor, e de ter lançado seu primeiro livro somente com quase quarenta anos de idade, sua primeira experiência como escritor foi aos dezessete anos. Na época, conta que ofereceu seu manuscrito a um editor, que ficou chocado com a quantidade de palavrões em seu texto (imagine as palavras que ele deve ter pensado em falar ao editor ao receber a negativa). Zé Rubem, como é chamado pelos amigos, é fã da série policial Law and Order, mas não gosta de Game of Thrones – e nunca gostou de Papai Noel, o que explica a cena retratada na contracapa do livro O Seminarista.


18 Ecos da Leitura

De Edgar Allan Poe a Rubem Fonseca O primeiro detetive da literatura teve vida curta. C. Auguste Dupin apareceu pela primeira vez em 1841, no conto Os Assassinatos da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, presente na edição de outubro de 2015 da TAG. Ressurgiu em 1845, para protagonizar apenas outras duas histórias: A Carta Roubada e O Mistério de Marie Roget. Quatro anos depois, seu criador faleceu, abrindo vaga para seu sucessor no trono da literatura policial. Candidato à altura surgiu somente quarenta e cinco anos depois. Em 1887, no romance Um Estudo em Vermelho, o britânico Sir Arthur Conan Doyle apresentou ao mundo seu detetive Sherlock Holmes. O personagem seguiu os rastros de seu antecessor: excêntrico, trabalhador noturno, sempre raciocinando à luz de velas e tragando seu cachimbo. A popularidade do detetive foi tanta que, hoje, o lar de Sherlock em Londres – a imortalizada rua Baker Street, 221-B – é museu do personagem e atração mais visitada do que o Big Ben. A popularidade da literatura policial foi elevada a níveis estratosféricos três décadas depois, quando a dupla de detetives Auguste Dupin e Sherlock Holmes recebeu mais um elemento. Em 1920, surgiu Hercule Poirot, o detetive da britânica Agatha Christie, que viria para formar a trinca de ouro da primeira fase dos romances policiais. Esse “homenzinho meticuloso, sempre organizando as coisas em pares, preferindo os quadrados ao invés dos redondos”, conforme sua criadora o descreveu, foi responsável pelo maior sucesso de público que a literatura já conheceu – Agatha Christie só não vendeu mais que William Shakespeare e que a Bíblia.


Ecos da Leitura 19

Sherlock Holmes, interpretado por Basil Rathbone


20 Ecos da Leitura

A segunda fase Aos poucos, os detetives britânicos acabaram descambando em uma caricatura de si mesmos: sempre eruditos, com educação refinada e inteligência fora do comum; compartilhavam traços excêntricos, tomavam drinques com o dedinho empinado e resolviam qualquer mistério. O assassino podia não ser sempre o mordomo, mas frequentemente o era – e as fórmulas das histórias, aos poucos, começaram a ficar previsíveis. Enquanto isso, nos Estados Unidos, um homem saído da agência de detetives de Pinkerton preparava-se para redirecionar os rumos dessa literatura. Dashiell Hammett trocou a inteligência pelo sangue, a lupa pela pistola e os heróis de cachimbo por pessoas comuns. Levou o crime para o meio da rua. Para ele, o assassinato não era um quebra-cabeça para divertir sua capacidade intelectual, mas uma profissão, praticado com um motivo concreto, nunca para combinar com a gravata. E nada de enxugar gelo: carros explodiam com passageiros dentro, balas esfacelavam miolos e inocentes morriam de morte matada – e não com um gole de um drink envenenado durante uma ceia requintada. Tudo em um estilo seco como o seu Dry Martini. Seu personagem foi Sam Spade, detetive cético e cínico, que surgiu pela primeira vez nas páginas de O Falcão Maltês, em 1930, e embalou a nova literatura policial, posteriormente classificada como noir.

RUBEM FONSECA É O NOSSO SAM SPADE. –CARLOS GRAIEB

Se tudo começou com Auguste Dupin, Sherlock Holmes e Hercule Poirot, com décadas distanciando cada um deles, a literatura noir intensificou o consumo dos romances policiais, e o trio inicial deu origem a inúmeros outros personagens. Acompanhando Dashiell Hammett, vieram escritores como Raymond Chandler e o belga


Georges Simenon. Na década de oitenta, até Umberto Eco adentrou no gênero, publicando O Nome da Rosa, uma espécie de romance policial ambientado na Idade Média, que vendeu mais de vinte milhões de exemplares. O livro contém um tributo explícito a Conan Doyle, na figura do franciscano Guilherme de Baskerville, em alusão a O Cão dos Baskerville – além de uma homenagem a Jorge Luis Borges, outro grande fã dos livros policiais, com o personagem Jorge de Burgos. Frutos dessa nova literatura policial são nossos dois grandes escritores do mês de janeiro: Luis Fernando Verissimo e Rubem Fonseca. O primeiro talhou o detetive Ed Mort, que surgiu pela primeira vez em 1979, no conto A Armadilha, como paródia dos detetives norte-americanos. Ed Mort é um detetive particular carioca, todo atrapalhado, de língua afiada, coração mole e sem um tostão no bolso. Já Rubem Fonseca é mais sério – seu protagonista de maior renome é Mandrake, um advogado criminalista chegado a um vinho português. Ou então Zé – ou melhor, O Especialista –, o matador de aluguel durão e mulherengo do livro selecionado para este mês. Desde as primeiras histórias de detetives de Edgar Allan Poe, publicadas há quase dois séculos, até os contemporâneos brasileiros como Rubem Fonseca, a literatura policial é prolífica e os caminhos para nela nos aprofundarmos são muitos. Nossa sugestão é começar por O Seminarista, é claro. Quanto aos próximos, agora você pode escolher.


22 Ecos da Leitura

Nas Telas O estilo de escrita de Rubem Fonseca, muitas vezes descrito como cinematográfico, facilitou a adaptação de suas obras às telas. O próprio escritor foi também roteirista. Logo após ter publicado Lucia McCartney, em 1967, Rubem Fonseca foi convidado pelo diretor David Neves a adaptar o romance para o cinema. O convite foi aceito, e quatro anos depois estava indo ao ar Lucia McCartney: uma garota de programa, o primeiro filme roteirizado pelo autor. Depois, vieram vários outros. Entre séries, novelas e filmes inspirados nas histórias do autor, ou roteirizados por ele, destacamos cinco.

A GRANDE ARTE (1991) Este foi o primeiro longa metragem de Walter Salles, e contou com o roteiro de Rubem Fonseca em parceria com Matthew Chapman. O filme contou com orçamento de 5 milhões de dólares, e teve o ator norte-americano Peter Coyote liderando o elenco, também integrado por Raul Cortez, Giulia Gam e Paulo José. Pelo roteiro, Rubem Fonseca ganhou o prêmio da APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte.

AGOSTO: A MORTE DE GETÚLIO VARGAS (1993) A TV Globo escolheu o romance Agosto para adaptar em formato de minissérie. A novela narra a investigação do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, ocorrido na rua Tonelero, que acaba por adentrar nos acontecimentos de agosto de 1954, que levaram ao suicídio do Presidente da República, Getúlio Vargas.

BUFO & SPALLANZANI (2001) O diretor e produtor Flávio Tambellini já havia assinado um longa adaptado de Rubem Fonseca antes – A Extorsão (1975). Em 2001, recorreu ao autor novamente para filmar Bufo & Spallanzani. O filme narra a história do detetive Ivan Canabrava (vivido por José Mayer), que investiga o caso de um fazendeiro morto logo depois de fazer um seguro de um milhão de dólares. O filme contou também com participação de Tony Ramos e Maitê Proença. O roteiro foi premiado no Festival de Miami de 2001.


Ecos da Leitura 23

MANDRAKE (2005) Em 2005, foi a vez da HBO brasileira adaptar os contos de Rubem Fonseca em uma série para a televisão, que ganhou outras duas temporadas em 2007 e 2012. O famoso detetive Mandrake é interpretado por Marcos Palmeira, e a série tem como diretor José Henrique Fonseca, filho do escritor.

O COBRADOR (2006) Coprodução internacional dirigida pelo mexicano Paul Leduc, O Cobrador – In God we trust – foi premiado nos festivais de Gramado e Havana. O longa é baseado em quatro contos de Fonseca: o próprio O Cobrador (do livro homônimo), Passeio Noturno (de Feliz Ano Novo ), Cidade de Deus (de Histórias de Amor ) e Placebo (de O Buraco na Parede ). Lázaro Ramos interpreta o protagonista, neste filme que também conta com Peter Fonda no elenco.


24 Ecos da Leitura

No dia 11 de maio do ano passado, Rubem Fonseca completou noventa anos de idade. Ele não é o único autor nonagenário em atividade – ao menos outros dois grandes escritores compõem esse time: Dalton Trevisan e Lygia Fagundes Telles. Não é somente pela idade que eles se destacam: a longevidade do trio está também em sua influência literária. O Prêmio Camões, que é a mais prestigiada condecoração literária em língua portuguesa, elegeu até hoje onze brasileiros para receber a honraria. O primeiro foi João Cabral de Mello Neto, em 1990. Depois, outros sete ganharam – entre eles Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e Lygia Fagundes Telles, nossos nonagenários.

Quando Rubem Fonseca lançou seu livro de estreia, em 1963, Dalton Trevisan já completava quatro anos na literatura, desde o lançamento de Novelas nada exemplares (1959). Os dois autores são frequentemente comparados, pois pertenceram a um momento semelhante da literatura brasileira. Antes deles, o conto brasileiro estava muito arraigado ao ambiente rural e aos subúrbios. Com Fonseca e Trevisan, a ficção passou a dialogar com a nova vida social e econômica do país, marcada pela urbanização das cidades. “Os dois são parte decisiva da reinvenção do gênero conto na literatura brasileira dos anos 1960”, afirmou Alcir Pécora, professor da Unicamp. Dalton Jérson Trevisan nasceu em 14 de junho de 1925, em Curitiba, Paraná. Em 2012, no ano em que foi agraciado com o Camões, também recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. “Observador atendo dos pormenores da realidade”, nas palavras do crítico Otto Maria Carpeaux, Trevisan escreveu apenas um romance – A Polaquinha (1985) – e inúmeros contos. Merecem destaque as coletâneas Morte na Praça (1964), Cemitério de Elefantes (1964), O Vampiro de Curitiba (1965) e Ah, é? (1994).


Ecos da Leitura 25

Os Nonagenários

Lygia começou sua carreira ainda antes de seus colegas. Nascida em 19 de abril de 1923, já publicava seu primeiro livro aos 15 anos de idade, a coletânea de contos Porão e Sobrado (1938), financiado pelo próprio pai. Em uma época em que a mulher não estava tão presente na literatura brasileira, Lygia foi precursora: “Eu queria mostrar que a mulher, no Brasil, não precisava ser rainha do lar. Queria dizer que ela pode segurar a tocha da coragem e do desejo de mostrar a igualdade entre homens e mulheres”. Três anos depois, ingressou na faculdade de Direito, um curso dominado por homens. Sofreu preconceito, e ouviu de sua própria mãe que ela ficaria “solteirona, velha e desdentada”. Ao que respondeu: “Mamãe, deixa, eu me arrumo”. Atualmente Lygia é membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia Paulista de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. Seus maiores sucessos foram Ciranda de Pedra (1954), Antes do Baile Verde (1970) e As Meninas (1973). Preocupada com seu legado literário, Lygia pede: “Me leiam. Não me deixem morrer”. Não a deixaremos, Lygia, assim como não deixaremos morrer nenhum dos nossos nonagenários!


26 Espaço do Leitor

Espaço do Leitor

A Raquel disse que não achava a tesoura em casa, e resolveu abrir o kit de outubro com uma faca mesmo! Quando abriu, viu que era Edgar Allan Poe, o pai da narrativa policial, achou que a cena combinava com o macabro e compartilhou a foto com os outros associados no grupo da TAG no Facebook (se a foto se espalhar, vão pensar que a faca foi o mimo do mês!).

A Ana já tinha um bonequinho de corvo em casa. Agora, vai poder colocá-lo ao lado do livro de outubro para enfeitar a biblioteca!

A Larissa aproveitou para combinar filosofia com um pouco de cerveja.


Espaço do Leitor 27

Além de Rubem Fonseca, outro autor que é frequentemente mencionado por Verissimo é F. Scott Fitzgerald, reconhecidamente um de seus favoritos. É claro que o saxofonista não deixaria de mencionar o famoso romance da “era do jazz”, O Grande Gatsby, como uma de suas recomendações à TAG. Logo nos lembramos de um e-mail que recebemos meses atrás, antes mesmos de termos conversado com Luis Fernando Verissimo sobre suas obras favoritas. Ele veio do associado Victor Monteiro, e era intitulado “Ilustrações literárias”. Por coincidência, Victor havia acabado de fazer um desenho em homenagem ao autor americano.


A INDICAÇÃO DE FEVEREIRO UM DOS MAIORES ROMANCES DO SÉCULO 21. O AUTOR MANTÉM UM OLHAR FIRME, IMPLACÁVEL, QUASE FRIO, SOBRE CENAS E SITUAÇÕES DIANTE DAS QUAIS A MAIORIA DOS ESCRITORES DESVIA OS OLHOS. A COMPLEXIDADE DA SUA LITERATURA SE INSTALA ABAIXO DA SUPERFÍCIE DO TEXTO. ESTÁ SOBRETUDO NA DIMENSÃO ÉTICA DA HISTÓRIA, A DAS ESCOLHAS QUE UM SER HUMANO FAZ - OU SE RECUSA A FAZER - DIANTE DAS SINUCAS QUE O MUNDO LHE APLICA. – SÉRGIO RODRIGUES, ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO

FOTO: BEL PEDROSA

Considerado um dos cem melhores livros já escritos em língua inglesa pelo jornal britânico The Guardian, e vencedor do Booker Prize, o livro indicado por Sérgio Rodrigues traz a história de um professor de Literatura que tem um caso forçado com uma aluna, pelo qual é acusado e punido. Desempregado, detestado pelos colegas, viaja à fazenda da filha para ajudá-la nas tarefas domésticas, com a esperança de encontrar tempo para escrever um livro. Na fazenda, o autor apresenta uma realidade pós-apartheid a que o professor da cidade grande não estava acostumado: conflitos raciais, perigo constante e violência. Completamente envolvente, o livro de fevereiro não é sobre as desigualdades sociais africanas – o autor utiliza-se disso apenas como pano de fundo para uma história muito bem tecida, com cenas fortes e personagens marcantes.

Informações completas a respeito do curador do mês e do livro recomendado podem ser encontradas em www.taglivros.com.br ou então na revista do próximo mês. Caso já tenha lido o livro, envie e-mail para contato@taglivros.com.br para conhecer as alternativas.


Este foi o nosso kit de março de 2015, com a indicação de Luiz Felipe Pondé. Como o livro era do Dostoievski, enviamos uma mini-garrafinha de vodka com rótulo personalizado para decorar a biblioteca! Caso queira adquirir algum kit passado, basta enviar e-mail para contato@taglivros.com.br.


Creio que este mistério é considerado insolúvel pela mesma razão pela qual deveria ser considerado de fácil solução. – AUGUSTE DUPIN

contato@taglivros.com.br www.taglivros.com.br facebook.com/taglivros @taglivros


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.