"A árvore mais sozinha do mundo" TAG Curadoria - Julho/2024

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JUL 2024 A árvore mais sozinha do mundo

TAG — Experiências Literárias

Tv. São José, 455 – Porto Alegre, RS (51) 3095-5200 (51) 99196-8623

contato@taglivros.com.br www.taglivros.com @taglivros

Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Ana Lima Cecilio

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Estúdio Arado

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Ipsis

Olá, tagger

São infinitos os meios de contar uma história. Infinitos os narradores possíveis, infinitas as maneiras de criar vozes, de inventar personagens. A história deste livro é sobre uma família de agricultores no Sul do Brasil que estão ligados à terra de modo intrínseco. Mas quem conta o que acontece, aqui, não é nenhuma das filhas, nem a mãe, nem o pai. São objetos que estão por perto, como a árvore do jardim ou o espelho português na sala de estar.

No livro de aniversário dos dez anos da TAG, Mariana Salomão Carrara dá o salto arriscado de reinventar um modo de narrar a partir de um mosaico impressionante de narradores inanimados — mas capazes de sentimentos profundos — que contam a história de uma família que está lutando pela sobrevivência. Quem iria imaginar que um espelho ou uma árvore seriam capazes de chorar? Essa é justamente uma das magias da literatura. E esse é um dos presentes que a TAG pode oferecer aos seus leitores. De 2014 até o momento em que você recebeu este livro, foram 204 presentes, 204 experiências literárias. Cada uma única e especial, pensada com todo o carinho para o nosso leitor. Este livro é nosso presente e também um convite para continuarmos explorando novos horizontes literários juntos.

Que venham as próximas décadas.

Experiência do mês

JULHO 2024

Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer.

Mimo

um

Para celebrar este aniversário especial, decidimos presentear com o nosso favorito: livro em dobro! Mantendo o clima festivo, o mimo do mês presta uma homenagem aos 100 anos de falecimento de Franz Kafka, com uma coletânea inédita e exclusiva de seus contos. E um bônus: conhecer outro lado artístico do autor, em uma edição toda ilustrada com gravuras de sua autoria.

solicitado

Para quem sabe que o livro sempre rende boas conversas

a responsabilidade recaiu sobre o Arado, estúdio dedicado ao imaginário popular brasileiro. A capa, com cores especiais vibrantes, é adornada por folhas de tabaco, que simbolizam o cotidiano da família de agricultores que protagoniza a história. Contudo, por trás da aparente beleza da flora local, emerge algo mais sombrio: um frasco de inseticida ocupa o centro do projeto, sugerindo uma narrativa marcada por dualidades e contradições.

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Para ajudar a embalar a sua leitura

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Mariana salomão carrara Mariana salomão carrara Mariana Salomão Carrara experimenta com a linguagem, confirmando seu lugar único na novíssima literatura brasileira, para retratar país que, de norte a sul, encobre as suas mais profundas mazelas.

sumário

Por que ler este livro

Dor de amor? Dúvidas na vida? Nosso consultório literosentimental responde com dicas de livros 04 06 12 16 20 22 24 27 28

Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais

A autora

As muitas vozes de Mariana Salomão Carrara

Dez em dez

Uma homenagem à primeira década de vida da TAG

Cenário

De onde veio, do que fala, o que é o livro que você vai ler

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês

Leia. Conheça. Descubra.

A escrita forte e sensível de Lygia Fagundes Telles

Vem por aí

Para você ir preparando seu coração

Madame TAG responde

“Mexeu muito comigo, terminei a leitura há alguns dias e ainda não sai da minha cabeça.”
Pamella Ames, Tester da TAG
Por que ler este livro
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Por que ler este livro

Viver outras vidas e estar na pele de outras pessoas é, certamente, uma das grandes vantagens da literatura. Os narradores deste livro, inéditos e inusuais, farão você entrar numa outra lógica e começar a enxergar o mundo com outros olhos: qual é a história que as coisas contam? O que os objetos que nos cercam têm a dizer? Este livro abre as portas para um mundo encantado, povoado de vozes e olhares diferentes, capazes de revelar verdades com que os humanos jamais sonhariam. E, você vai ver, é um caminho sem volta.

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As muitas vozes de Mariana Salomão Carrara

Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, ela é uma das vozes mais importantes da literatura brasileira contemporânea

Apesar de jovem, e de ter uma carreira como defensora pública, Mariana Salomão Carrara é uma das autoras de maior destaque da literatura brasileira contemporânea, tanto pela sensibilidade de criar vozes fortes e convincentes, quanto pela importância dos temas que aborda. Nascida em São Paulo, Mariana construiu uma trajetória literária marcada pela exploração de temas como identidade, memória, relações familiares, espiritualidade e morte.

Em seu primeiro romance, Se Deus me chamar não vou, Mariana conta a história de Maria Carmem, uma menina desajeitada que demora a encontrar seu lugar no mundo, entre uma insegurança brutal e uma vontade imensa de fazer sua vida dar certo. Aqui já é possível entender o imenso talento da autora de forjar uma narradora convincente, autônoma e incrivelmente real. Com doses preciosas de humor, o livro é um arejo na literatura brasileira contemporânea.

Já em É sempre a hora da nossa morte amém, Mariana faz um mergulho profundo nas inquietações — humanas, demasiado humanas — sobre a nossa finitude, nossa precariedade e o processo de envelhecimento, ao criar uma narradora que é uma velha que vai perdendo a memória e confunde sua interlocutora (uma enfermeira levemente impaciente), os leitores e até a própria narradora. É um exemplo impressionante de destreza narrativa.

A autora
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Até que, em seu livro mais recente, Não fossem as sílabas do sábado, Mariana cria uma realidade dolorosa, em que uma mulher tem que conviver ao mesmo tempo com a notícia de uma gravidez inesperada e a aceitação do luto pelo marido recém-morto. Memória, família, amor e perda são os ingredientes de uma história consistente, poética e que nos faz como que entrar na cabeça da personagem. Esse livro, com tanta delicadeza, rendeu a Mariana o Prêmio São Paulo de Literatura.

Todos esses livros, somados a uma imaginação selvagem e uma gigantesca vontade de criação, apontam um caminho fértil, repleto de livros que encantam os leitores e ensinam os melhores caminhos da literatura.

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©Renato Parada
©Renato Parada 8

Narrar com entrega total

Mariana Salomão Carrara fala de como nascem os narradores inusitados e de onde vem a verdade da escrita

Muito se escreveu sobre a vida rural no Brasil, mas não me lembro de ver representado o mundo das plantações de tabaco. Como esse universo veio parar na sua literatura? Durante as pesquisas para o livro Não fossem as sílabas do sábado, chegou a mim uma matéria sobre a “epidemia de suicídios” no Sul do país, reportando índices de suicídio nas regiões produtoras de tabaco muito mais altos que a média do país. A hipótese é de que a depressão atinge especialmente essa população em razão dos agrotóxicos da fumicultura. A matéria também contava que, somando-se à agressividade dos defensivos agrícolas, muitas famílias também têm de lidar com graves endividamentos, o que estimula o cenário de “epidemia de suicídios”.

Ao ler sobre o sistema de produção e venda das folhas de tabaco, lembrei de um caso, de anos antes, que eu havia atendido brevemente na triagem da Defensoria de São Paulo: um casal queria entender melhor a situação da sobrinha que estava “perdendo tudo” lá no Rio Grande do Sul.

Quando esses pontos se ligaram, eu soube que ia escrever essa história. Já tinha se tornado literatura na minha cabeça, só precisava de uns anos de muita pesquisa para guiar, sem muitas amarras, mas com o necessário zelo, minha liberdade de criar.

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Os narradores insólitos deste livro me possibilitaram liberdade total para decidir seus registros de linguagem, para brincar com suas percepções sobre o ser humano e sentir a passagem do nosso tempo diante das coisas que nos acompanham.

Os narradores pouco usuais são uma marca da sua literatura. Como nasceu a ideia de narrar assim?

Eu gosto muito da primeira pessoa, com suas livres digressões, narrações caóticas e fragilidades disfarçadas. E gosto, principalmente, da visão e conhecimento parciais desses narradores. Essa história, também em razão da quantidade de informações técnicas que não poderiam entrar na ficção, precisava de narradores que soubessem apenas aquilo que veem no seu dia a dia, concluindo tudo sobre o funcionamento da plantação, dos negócios, dívidas, intempéries, tudo limitado à sua perspectiva, às vezes unicamente sensorial. A ideia era que a vida da família fosse narrada inteiramente por essas testemunhas incansáveis e despercebidas.

Você entende os narradores de A árvore mais sozinha do mundo como uma espécie de radicalização dos seus narradores, como se fosse um prolongamento dessa ousadia narrativa? Ou eles têm uma existência autônoma na sua imaginação? Os narradores insólitos deste livro me possibilitaram liberdade total para decidir seus registros de linguagem, para brincar com suas percepções sobre o ser humano e sentir a passagem do nosso tempo diante das coisas que nos acompanham.

Não tinha pensado nessa radicalização das vozes narradoras dos meus outros livros, é mesmo possível enxergar assim: uma menina com medo da morte, uma jovem mãe viúva, uma senhora idosa que não sabe se teve uma filha, e então partimos para os outros extremos deste livro. Mas, para mim, cada narrador aqui existe também como personagem, autônomo, e são os olhos e pensamentos deles que vão definir o que saberemos sobre os demais.

Como surgem as ideias pros romances? De onde vêm as histórias?

É a primeira vez que uma ideia de romance me surge de fatores tão externos. Meus outros livros vieram de encontros entre inquietações minhas e a fala de alguém, uma visão na rua, um instante no meio de um filme. Depois eu nem sei precisar o que

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foi. A maior parte da história surge a partir da própria escrita, eu também acabo descobrindo o livro enquanto ele acontece.

O que mais te chama atenção num livro? O que faz você achar que está na frente de uma obra-prima?

Fico perplexa quando sinto as duas vibraçõezinhas caminhando juntas no mesmo êxito: a história — o enredo, as personagens — e o prazer estético. Fica uma sensação de que, se eu não tivesse descoberto aquele livro, eu estaria um passo aquém no alcance da minha satisfação com a vida, porém eu não saberia disso. Então a obra é deliciosamente inútil, ao mesmo tempo que pode distender nossa razão de viver e de amar a humanidade pelo que é capaz de produzir.

Como criar uma personagem tão diferente de você e fazer com que ela pareça tão real?

Acho que dá para dizer que é essa uma das grandes diversões da escrita, que me remete ao prazer que tinha ao brincar sozinha, por toda a infância. Lembro muito de uma brincadeira em que a caneta era a protagonista, em conflito com um minúsculo dinossauro de plástico. Enquanto eu manipulava os objetos e lhes atribuía falas e personalidades, eu não existia, eu era inteira aquela caneta assustadiça e subserviente.

Acho que a verdade dessa personagem tão distinta do autor está nessa entrega total e nos pontos em comum que compartilhamos com todos os humanos — e, neste livro, quem sabe, com os não humanos também!

MINHA ESTANTE

O primeiro livro que eu li: Memórias de um burro, da Condessa de Ségur.

O livro que estou lendo: Palmeiras selvagens, do William Faulkner.

O livro que mudou minha vida: As meninas, da Lygia Fagundes Telles.

O livro que eu gostaria de ter escrito: Os meus sentimentos, da Dulce Maria Cardoso.

O último livro que me fez rir: Índice médio de felicidade, do David Machado.

O último livro que me fez chorar: Sobre a terra somos belos por um instante, do Ocean Vuong.

O livro que dou de presente: Kramp, da María José Ferrada.

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Dez em dez

Será que temos orgulho da nossa história? Nas seguintes páginas, convidamos o leitor a dar um pulo no passado, relembrando os momentos que nos uniram, nos enriqueceram e nos emocionaram ao longo desses dez anos. Que venham mais outras décadas para rechear a nossa história de risadas, lágrimas e, claro, ótimas leituras.

10 LIVROS MAIS AMADOS

não é apenas um romance brilhantemente construído; é sobre a maneira como as histórias são desenvolvidas, como o significado é criado e como a devoção é persistente. Shafak consegue misturar tragédia e deleite sem amenizar o sabor de nenhum dos dois.” New York Times Book Review

Uma mulher nua, sem cabelos nem memória, é retirada da terra na pequena cidade de Almofala, fronteira entre Portugal e Espanha. Os únicos traços de sua origem são o sotaque brasileiro e um colar de búzios, mas a impressão é de que as pessoas que a recebem aguardam há muito a sua chegada. Nesse outro tempo em um país estranho, ela conhece Jorge, e o encontro entre os dois parece delinear um novo destino à sua frente. Ainda assim, ela precisará lidar com as imagens que, vez por outra, assombram sua mente — lembranças pouco nítidas de um amor perdido e de pessoas de um lugar muito distante. Ao finalmente familiarizar-se com a realidade imposta, porém, a mulher é confrontada com uma verdade incontornável: é impossível seguir sem saber de onde se veio.

A ILHA DAS ÁRVORES PERDIDAS

Oração para Desaparecer

“Shafak é apaixonada por dissolver barreiras, sejam de raça, nacionalidade, cultura, gênero, território ou as de uma natureza mais mística.” Sunday Times Oração para Desaparecer

SOCORRO ACIOLI

As alegrias da maternidade, Buchi Emecheta

O olho mais azul

O mundo se despedaça

Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, Maya Angelou

A terceira vida de Grange Copeland, Alice Walker

K., Bernardo Kucinski

A ilha das árvores perdidas, Elif Shafak

Memphis, Tara M. Stringfellow

Oração para desaparecer, Socorro Acioli

Em algum lugar lá fora, Jabari Asim

MAYA ANGELOU eu sei por que o pássaro canta na gaiola
A ILHA DAS ÁRVORES PERDIDAS Elif Shafak Elif Shafak A história de Ada começa em um lugar que ela nunca conheceu: na ilha de Chipre, em 1974, quando dois jovens apaixonados se encontravam escondidos debaixo de uma figueira. A árvore, que testemunhou o amor dos dois e a chegada da guerra que viria a desolar a ilha, foi levada para Londres, e dezesseis anos depois é a única ligação de Ada com a sua ancestralidade. A garota, então, embarcará em uma busca pela própria identidade, tecendo uma linha até o passado dos pais e revelando tudo o que se perdeu no tempo. A ilha das árvores perdidas
ISBN 978-85-359-3461-8 9 7 8 8 5 3 5 9 3 4 6 1 8
CL34618 Oração para desaparecer (TAG) - 030723.indd All Pages 03/07/23 14:57 12

10 MIMOS MAIS AMADOS

Difusor (Kit O alforje

Porta-copos (Kit Voragem)

Diário de leitura + marcadores magnéticos (Kit As últimas testemunhas)

Canudo inox (Kit Primavera num espelho partido)

Kit livros clássicos (Kit Autobiografia)

Livro Eu morreria por ti (Kit Moisés negro)

Álbum de fotos (Kit Espelho partido)

Livro Os sofrimentos do jovem Werther (Kit À beira-mar)

Planner "Amanhã vai ser outro dia" (Kit Mama)

Vela aromática (Kit Memphis)

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HARUKI MURAKAMI

O alforje

Sul da fronteira, oeste do sol

As últimas testemunhas

Autobiografia

Intérprete de males, Jhumpa Lahiri

Sul da fronteira, oeste do sol, Haruki Murakami

Afirma Pereira, Antonio Tabucchi

O mapeador de ausências, Mia Couto

A ilha das árvores perdidas, Elif Shafak

Memphis, Tara M. Stringfellow

O garoto do riquixá, Lao She O garOtO dO riquixá Lao She

HARUKI MURAKAMI Sul da fronteira, oeste do sol muito tempo, coração vazio, especialmente para ela. no fundo de um restaurante, uma discreta “reservado”. acreditando que eu novamente.
posfácio de Rita Kohl 15/05/20 10:52 13

10 MOMENTOS MAIS ICÔNICOS

Marca dos primeiros 1000 associados [2016]

Primeira edição exclusiva [2016]

Primeiro encontro com associados na Flip [2017]

Lançamento do app [2018]

Criação da TAG Inéditos [2018]

Prêmio Excellence Award, em inovação, na Feira do Livro de Londres [2018]

Pedido de casamento na nossa sede em Porto Alegre [2019]

Lançamento do Cabeceira [2021]

Prêmio Jabuti de melhor capa [2021]

Fusão com a livraria Dois Pontos [2023]

10 PALAVRAS MAIS FALADAS NO APP

Indicação

Envolvente

Livro Leve

Amei Odiei Alguém

Impossível Ler

Autores

14

mais de 3 MILHÕES DE LIVROS enviados para 2.034 CIDADES brasileiras

240 HISTÓRIAS escritas por 184 AUTORES de 40 PAÍSES lidas por mais de 280.000 LEITORES que organizaram

2.500 ENCONTROS em 10 ANOS DE TAG!

Agricultura familiar, exploração e resistência cultural

Como a plantação do tabaco, um produto tão tradicional, se organizou como cenário de A árvore mais sozinha do mundo

A Região Sul do Brasil tem uma longa história ligada à produção de tabaco. Ao longo das décadas, muitas famílias encontraram na cultura do tabaco uma fonte de subsistência e uma tradição cultural profundamente enraizada. No entanto, por trás dessa aparente estabilidade, encontramos uma realidade complexa, marcada por questões de agricultura familiar, exploração por grandes empresas e a resistência cultural das comunidades envolvidas.

Cenário
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AGRICULTURA FAMILIAR E A CULTURA DO TABACO

A agricultura familiar desempenha um papel fundamental na produção de tabaco no Sul do Brasil. Muitas famílias dependem da plantação de tabaco como principal fonte de renda e sustento. Essas famílias muitas vezes cultivam tabaco em pequenas propriedades rurais, utilizando métodos tradicionais de cultivo que são passados de geração em geração.

Para essas famílias, a cultura do tabaco vai além de uma simples atividade econômica; ela está intrinsecamente ligada à sua identidade cultural e ao seu modo de vida. As técnicas de plantio, colheita e cura do tabaco são transmitidas oralmente e fazem parte do patrimônio cultural dessas comunidades.

EXPLORAÇÃO PELAS GRANDES EMPRESAS

Apesar da importância das famílias na produção de tabaco, elas frequentemente enfrentam condições adversas e exploração por parte das grandes empresas tabagistas. Essas empresas exercem um domínio significativo sobre a cadeia produtiva do tabaco, desde a compra da matéria-prima até a distribuição e venda dos produtos finais.

As famílias plantadoras muitas vezes ficam presas em um ciclo de dependência das empresas tabagistas, que controlam os preços, impõem contratos desfavoráveis e, em muitos casos, exercem pressão para que as famílias usem técnicas de cultivo intensivas e pesticidas nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Além disso, as famílias frequentemente enfrentam dificuldades financeiras devido à flutuação dos preços do tabaco no mercado internacional e à falta de diversificação de suas fontes de renda. Isso as torna ainda mais vulneráveis à exploração pelas grandes empresas.

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RESISTÊNCIA CULTURAL E LUTA POR DIREITOS

Apesar dos desafios enfrentados, as famílias plantadoras de tabaco no Sul do Brasil têm demonstrado uma forte resistência cultural e uma determinação em defender seus direitos e sua forma de vida.

Em muitas comunidades, os agricultores se organizaram em cooperativas e associações para fortalecer sua voz e negociar melhores condições com as empresas tabagistas. Essas organizações buscam garantir preços justos para o tabaco, condições de trabalho dignas e o respeito aos direitos dos agricultores.

Além disso, algumas famílias têm buscado diversificar suas atividades agrícolas, cultivando outros produtos além do tabaco, como hortaliças, frutas e produtos agroecológicos. Isso não apenas reduz sua dependência das empresas tabagistas, mas também promove práticas agrícolas mais sustentáveis e resilientes.

Outra forma de resistência cultural é o resgate e valorização das tradições locais relacionadas ao cultivo do tabaco. Muitas comunidades promovem festas, celebrações e eventos culturais que destacam a importância histórica e cultural do plantio do tabaco na região.

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PERSPECTIVAS E DESAFIOS

Apesar dos esforços de resistência e organização das famílias plantadoras de tabaco, elas continuam enfrentando desafios significativos. A pressão das grandes empresas tabagistas, a instabilidade econômica e as mudanças climáticas representam ameaças contínuas a sua subsistência e bem-estar.

No entanto, há também motivos para otimismo. O crescente interesse em práticas agrícolas sustentáveis, a conscientização sobre os impactos negativos do tabagismo e o apoio crescente a políticas de desenvolvimento rural podem criar oportunidades para transformações positivas na indústria do tabaco.

À medida que as famílias plantadoras de tabaco continuam sua luta por direitos e justiça, é fundamental que sejam ouvidas e apoiadas em seus esforços para construir um futuro mais justo e sustentável para si e para as gerações futuras.

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Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

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A ÁRVORE MAIS

SOZINHA DO MUNDO

é narrada por objetos que fazem parte do cenário da história como

Se adaptar, de Clara Dupont-Monod

Belíssima história de uma família que precisa se adaptar ao nascimento de uma criança inadaptada.

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que tem uma família muito especial, com várias descobertas sobre suas personagens como Os Malaquias, de Andréa del Fuego

Três órfãos lutam para reconstruir a vida em sua propriedade depois da morte dos pais.

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que conseguem aliar a tristeza com doses de humor como

A ÁRVORE MAIS

SOZINHA DO

MUNDO, de Mariana Salomão Carrara

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6 que parece tratar de um universo encantado e cheio de mistérios como A casa dos espíritos

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que traz o encanto de jogar luz em personagens simples e sedutoras como Os romances de Jorge Amado

Um dos autores mais importantes da literatura brasileira, que consagrou o jeito brasileiro de ser.

que se passa num cenário rural, em que a produção agrícola familiar é muito importante como Renascer

Um fazendeiro, sua esposa vidente e família enfrentam anos turbulentos na América do Sul.

Remake da novela que encantou o Brasil com o cenário do sul da Bahia, entre as plantações de cacau.

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Da mesma estante

Livros que poderiam estar na mesma prateleira que o livro do mês

NARRADORES INUSUAIS

Usar narradores fora da curva é um jeito de produzir livros deslumbrantes — embora, algumas vezes, um tanto assustadores.

SE ADAPTAR, Clara

Dupont-Monod

Dublinense 144 pp.

As pedras da casa contam a história de uma família, cada hora focando um de seus membros, para construir uma história sensível e doce sobre estar aberto aos desafios que a vida impõe.

ENCLAUSURADO, Ian McEwan

Companhia das Letras 200 pp.

Espécie de uma releitura do

Hamlet, essa

história é narrada por um feto, ainda na barriga da mãe.

O VERÃO SELVAGEM

DOS TEUS OLHOS, Ana Teresa Pereira

Todavia 112 pp.

A história de Rebecca, livro genial filmado por Hitchcock, contada pelo espírito de Rebecca, que assiste a tudo que acontece na sua casa depois da sua morte.

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GARANTA SEUS LIVROS AQUI:

Lá no site, além de aproveitar seu desconto de associado TAG, você tem mais informações sobre os livros — e muitas outras dicas!

AS MULHERES DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Pequena seleção para conhecer vozes de mulheres que escrevem hoje e que vão deixar marcas na literatura brasileira

OS TAIS

CAQUINHOS,

Natércia Pontes

Companhia das

Letras 144 pp.

Duas irmãs criadas por um pai amoroso, ainda que ausente, um retrato belíssimo de afeto, memória, parentalidade e humor.

A PEDIATRA,

Andréa Del Fuego

Companhia das

Letras 160 pp.

Uma narradora odiosa conta uma história absurda — e como pode ser engenhoso e engraçado desafiar o bom-mocismo!

AS PEQUENAS

CHANCES,

Natalia Timerman

Todavia 208 pp.

A história do luto pelo pai é ocasião para um balanço da vida, o entendimento de si mesma e a possibilidade de reconstrução.

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LEIA. CONHEÇA. DESCUBRA: Lygia Fagundes Telles

Não é de surpreender que Mariana Salomão Carrara tenha destacado a "dama da literatura brasileira" como uma de suas influências mais significativas. Assim como a autora do mês, Lygia Fagundes Telles tem a profundidade humana como tema central. Com uma escrita igualmente perspicaz e sensível, ela conduz os leitores por um labirinto de emoções, do qual dificilmente saem os mesmos.

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Nome

Lygia Fagundes

da Silva Telles

Nascimento

19 de abril de 1918

Morte

3 de abril de 2022

Um erro genial

Quando morreu, Lygia dizia que tinha 98 anos. Documentos descobertos por um pesquisador, entretanto, provaram que ela mentiu a idade durante décadas e que tinha, na verdade, 103.

Lygia teve uma infância povoada de histórias: filha de juiz, ela morou em várias cidades do interior paulista, sempre acompanhada de babás que lhe contavam contos e lendas populares. Foi, portanto, muito cedo que ela começou a se interessar por contar suas próprias histórias.

Já em São Paulo, rompendo expectativas para as mulheres de sua época, Lygia foi fazer faculdade de Direito, o que lhe garantiu uma fértil convivência com os maiores intelectuais da época.

Foi lá que conheceu Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Hilda Hilst e Paulo Emílio Sales Gomes, um dos mais importantes críticos de cinema brasileiro, com quem se casaria mais tarde, depois de se separar do primeiro marido (outra ruptura com a época).

Tudo aconteceu ao mesmo tempo: a formatura em Direito, o casamento com Gofredo da Silva Telles, o nascimento do filho único e suas primeiras publicações — muito bem recebidas, apesar de ela considerá-las “ginasianas”.

Muito à vontade ao transitar dos contos para os romances, Lygia foi demonstrando uma sensibilidade e uma força raras ao tratar de temas universais, como a memória, o rancor, o amor e a solidão.

Numa linguagem irônica, com traços da literatura fantástica, ela constrói um universo próprio, com personagens densas, que parecem ter em comum a dificuldade de estar em contato.

Lygia ganhou os mais importantes prêmios da língua portuguesa — três Jabutis, o Coelho Neto e o Prêmio Camões, entre muitos outros. Foi a terceira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Mas talvez o que mais conte em sua trajetória seja a adesão fiel de milhares de leitores.

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Eu tenho vocação para a alegria, mas é uma vocação mal cumprida.

PARA COMEÇAR

AS MENINAS

Um dos mais importantes livros sobre a ditadura brasileira, a partir da história de três amigas diferentes que são espelhos da época.

ANTES DO BAILE VERDE

Contos perfeitos estilisticamente, com histórias envolventes e arrebatadoras em que conflitos amorosos se misturam ao fantástico para criar a melhor literatura.

PARA SE APAIXONAR DE VEZ

OS CONTOS

Uma bíblia de como contar bem histórias, para a gente mergulhar e não querer sair mais. Histórias incríveis para levar para a vida.

OBRA-
-PRIMA
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No próximo mês

Encontre as 8 PALAVRASque dão dicas do spoiler do próximo mês.

Uma história muito italiana — e, mais especificamente, napolitana —, sobre memórias, amizades e traumas.

por aí
Vem
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Itália - fantasia - sonho
-
bailarina - Nápoles
-
dialeto
-
línguas
-
amor platônico

Madame TAG responde

Madame TAG, não sei mais o que fazer para frear o que penso ser uma compulsão! Para conter os meus mais loucos desejos! Não posso entrar numa livraria ou sebo, pois sempre saio com pelo menos um livro na mão. Não posso ver uma capa atraente ou um título famoso que já quero que o livro seja vizinho dos inúmeros moradores da minha estante. Compro sem dó. O que devo fazer para me livrar dessa insana compulsão? Por favor, me ajude! Conto com a sua vasta sabedoria.

Ah, meu pobre obsessivo, com o que exatamente você está preocupado? Com gastar muito dinheiro? Ocupar todos os cantos da sua casa? Não ter tempo de ler tudo? Ora, meu amigo, tudo isso são bobagens. Quanto mais nos rodeamos de livros, mais eles fazem parte do que nós somos. Veja bem, eu não disse “de uma biblioteca”, “da sua cabeceira”, mas do que nós somos. É claro que é impossível ler todos os livros atraentes do mundo, e também não me parece certo dizer que podemos ter todos os livros do mundo. Mas cair em tentação e comprar aquela capa irresistível ou aquele título chamativo é um jeito de ir se cercando de bons amigos, que estarão ali quando você precisar — e quantas pessoas em volta não estão nem perto de oferecer tamanho conforto?

Além disso, cercar-se de livros é um jeito de se autoconhecer. Os livros que compramos, ainda que não lidos (ou até mais se ainda não lidos) dizem muito sobre o momento em que estamos. Passar os olhos na estante de alguém é o melhor jeito de saber onde está seu coração, sua cabeça e sua vontade. Mesmo para quem nunca escreveu nenhum livro, uma biblioteca é uma espécie de obra. Uma obra construída de curiosidade e desejo, de impulso de conhecimento e pedido de carinho. Ou seja, a obra mais completa e verdadeira que você vai ter. Portanto, meu querido, pare imediatamente de chamar seu amor pelos livros de “insana compulsão” e abrace esse delicioso bom gosto que só as melhores pessoas têm.

Quer um conselho de Madame TAG? Escreva para madametag@taglivros.com.br

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“Por que as coisas nos parecem sempre belas quando protegidas pela distância?”
– LYGIA FAGUNDES TELLES

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