Herdeiras do mar
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Querido leitor, Nesta caixinha, você tem um livro que aquece o coração. Não que ele não horrorize — o retrato da autora da Coreia do Sul ocupada por japoneses muitas vezes nos faz segurar a respiração —, mas o amor entre as irmãs Hana e Emi tudo supera. Nesta revista, você vai saber mais a respeito das mulheres haenyeo, a linhagem de mergulhadoras da qual as protagonistas fazem parte. As belas fotografias em preto e branco da capa do livro e dos postais que você recebe como mimo também são assunto por aqui: conversamos com o fotógrafo que as tirou sobre a experiência dele com as haenyeo na ilha Jeju. Nós também entrevistamos, exclusivamente para você, a autora de Herdeiras do mar, Mary Lynn Bracht. A escritora falou sobre seu sonho de adolescência de escrever e sobre sua pesquisa para compor os cenários e os personagens do livro. Ela também dá uma opinião surpreendente a respeito do rótulo "ficção feminina". Esperamos que você goste.
Boa leitura!
Sumário
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Primavera dos significados
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Desenterrando histórias
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A verdade na ficção
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Sob o comando delas
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Spoiler: o próximo mês
O título de Herdeiras do mar já antecipa o leitor sobre o que está por vir: esta história aborda, entre outras temáticas, a relação das personagens com o ambiente marítimo. Tanto a capa do livro quanto o mimo do mês, um conjunto de cartões-postais, estampam fotografias das mergulhadoras da ilha de Jeju, cenário em que se passa a obra. Não esqueça de avaliar o kit no aplicativo da TAG!
Fotografia: Luciano Candisani @lucianocandisani
Este mês na sua caixinha
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Primavera dos significados No idioma original Em inglês, o título de Herdeiras do mar é White Chrysanthemum, ou seja, crisântemo branco. Na Coreia, a flor representa o luto. Não à toa, esta é uma história sobre perda — mas, principalmente, uma homenagem àquelas mulheres que resistiram à guerra.
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No Japão, sakura significa flor de cerejeira. Reza a lenda que a palavra teve origem no nome da princesa Konohana Sakuya Hime, divindade que, segundo a mitologia nipônica, caiu do céu perto do Monte Fuji e, ali, transformou-se na flor que nomeia. É um dos nomes femininos mais populares do país, e simboliza a felicidade, a pureza e a renovação. Há outra interpretação para o vocábulo, porém, que parece se relacionar diretamente com a história do mês. Saudando o início da primavera e o fim do inverno japonês, flores brancas e rosadas surgem nos galhos secos das árvores de cerejeira, adornando e colorindo os parques urbanos. Mas logo as pétalas caem e as flores morrem, encerrando o espetáculo que não dura mais do que uma semana — o que explica a ligação popular entre a planta e a efemeridade da existência. Hana, uma das protagonistas de Herdeiras do mar, sofre com os percalços da condição humana ainda jovem; apelidada de Sakura em um momento decisivo da narrativa, ela mostra ao leitor que a vida é cheia de acontecimentos súbitos, mas, em seu todo, fugaz. Mary Lynn Bracht, autora da obra, dedica Herdeiras do mar a todas as mulheres que já sofreram durante períodos de conflito político, social e econômico: “a guerra é terrível, brutal e injusta e, quando termina, é necessário que haja pedidos de perdão, reparações, e que a experiência dos sobreviventes seja lembrada”. O drama histórico que você recebe em março carrega reminiscências das antigas e dolorosas
Playlist Leia o romance ao som de uma playlist inspirada na história: bit.ly/HerdeirasDoMar
feridas: apesar de protagonizado por personagens fictícias, o romance dá voz às milhares de pessoas que foram enganadas, sequestradas e abusadas por militares japoneses durante a colonização da Coreia, em meados da Segunda Guerra Mundial. O livro conta a trajetória de Hana e de sua irmã mais nova, Emi. Em meados de 1943, as duas viviam na província sul-coreana de Jeju, pequena ilha conhecida por seus balneários e vulcões. Pertencente à linhagem semi-matriarcal de mulheres haenyeo, Hana auxiliava a mãe nas tarefas do ofício ancestral, mergulhando nas profundezas do mar para tirar o sustento da família. Um dia, no entanto, ela é capturada por um soldado japonês e transportada para a região da Manchúria, no leste asiático, onde é forçada a se tornar uma mulher de consolo em um bordel de beira de estrada: a expressão se refere às vítimas de escravidão sexual que, naquela época, eram estupradas para servir aos desejos dos homens que atuavam em bases militares. Longe de Emi, que, por sua vez, martiriza-se pela ausência e pela separação da irmã, Hana está determinada a encontrar seu caminho de volta para casa a qualquer custo. Alternando a linha temporal e os pontos de vista das heroínas, Herdeiras do mar vai cativar o leitor ao retratar a esperança que nos move em tempos de crueldade, violência e opressão — e que nos impulsiona a enxergar a beleza da vida, embora ela seja efêmera como uma flor.
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Desenterrando histórias
Fotografia: Tim Hall
"A história das mulheres ressoa em mim. Mulheres poderosas. Eu sinto que a minha mãe e as amigas dela são sobreviventes de suas próprias histórias”, disse Mary Lynn Bracht em entrevista ao The Bookseller, em 2018, quando perguntada sobre as inspirações por trás de Herdeiras do mar. De fato, a autora do mês traz à luz acontecimentos da Coreia do Sul que, por muito tempo, foram esquecidos ou não receberam a devida relevância ao longo dos anos. Mary Lynn nasceu na Alemanha, mas cresceu em uma comunidade de imigrantes sul-coreanos nos Estados Unidos. Hoje, mora em Londres. Estudou Antropologia, Psicologia e Escrita Criativa, além de ter recebido o prêmio de melhor romance de estreia da Guilda de Escritores da Grã-Bretanha pelo livro que você tem em mãos. Inspirada por nomes como Toni Morrison, Kyung-Sook Shin, Annie Proulx e Chimamanda Ngozi Adichie, é dona de um estilo de escrita pungente que vai surpreender até o leitor mais inveterado de dramas. Nesta entrevista exclusiva para a TAG, leia a relação da escritora com as temáticas que marcam Herdeiras do mar. TAG — Para começar: li que você foi desencorajada a escrever no início. Você pode contar sobre como se descobriu escritora e sobre seus primeiros passos na carreira? Mary Lynn Bracht — No ensino médio, disse à minha mãe que queria ser escritora, mas ela ficou
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horrorizada! Ela me convenceu a não seguir esse caminho. Em vez disso, então, fui à universidade com uma bolsa da Aeronáutica para estudar ciências da computação e me tornar piloto da força aérea. Mudei de ideia depois do primeiro ano e me transferi para outra escola para estudar antropologia e psicologia, as quais achava muito mais interessantes. Durante a universidade, eu escrevia contos nas margens das minhas anotações e perguntava se teria a chance de terminar um romance. A chance veio uma década depois, com o nascimento do meu filho, quando comecei um curso de escrita criativa. Eram aulas sobre a escrita de romances e, depois da primeira, eu fiquei viciada. Terminei um primeiro romance, horrível, que está em algum lugar do meu apartamento e jamais verá a luz do dia. Depois, me juntei a um grupo de escrita na biblioteca local e recebi feedbacks semanais sobre vários experimentos de escrita. Ter me dado tempo para escrever e para ler foi um primeiro passo essencial para me tornar escritora. Alguns anos depois, enquanto estudava para um mestrado em escrita criativa, escrevi os primeiros capítulos de Herdeiras do Mar. Demorou muito para realizar meu sonho de adolescente, mas valeu esperar. Não acho que teria as mesmas histórias comigo se não houvesse seguido o caminho que segui.
Ficamos muito curiosos para saber como você pesquisou as mulheres haenyeo para o livro. Como foi o processo criativo? Não tenho relação com as mergulhadoras haenyeo. Durante minha pesquisa sobre a história da Coreia, encontrei uma reportagem sobre a diminuição da população das haenyeo. O artigo destacava a necessidade de manter a cultura e as tradições haenyeo para futuras gerações. A ameaça do desaparecimento delas devido à idade avançada se comparava à perda das mulheres de consolo restantes. A força e 7
a determinação dessas mergulhadoras são incríveis, e decidi inserir essas características nas irmãs Hana e Emi. Minha pesquisa começou online, com reportagens e publicações sobre as haenyeo. Também encontrei livros, fotografias e documentários sobre as haenyeo de Jeju. Com as histórias das haenyeo e das mulheres de consolo, consegui criar uma família de mergulhadoras com habilidades únicas que as ajudariam a sobreviver às atrocidades da guerra. No verão de 2017, levei minha mãe à ilha Jeju para visitar o museu haenyeo e para assisti-las em ação, vestindo suas roupas de mergulho e desaparecendo no mar.
O que mais a surpreendeu na pesquisa sobre as haenyeo e sobre a ocupação japonesa da Coreia? A abolição da cultura coreana durante a ocupação japonesa me surpreendeu. Banir a língua, a escrita e até mesmo os nomes nativos significava uma espécie de morte cultural para toda a nação. Meu avô cresceu durante a ocupação japonesa e foi forçado a falar japonês na escola, onde apenas a história japonesa era ensinada. Há histórias lindas sobre coreanos colonizados que se mobilizaram para ensinar coreano e a história da Coreia pois jamais perderam a esperança de que seriam libertados da ocupação nipônica.
Você diz que não pensa em Herdeiras do Mar como um livro feminista, mas mais como um livro humano que, mesmo escrito por uma mulher, com personagens mulheres, é um livro que deveria ser lido por todos. Na sua opinião, qual é o papel da ficção na promoção de igualdade de gênero? A maior parte dos romances são trabalhos multi-gênero, que não cabem em uma categoria apenas. Há estudos que mostram que rotular livros como “ficção 8
feminina” ou “feminista” barra a leitura de homens e meninos, quando eles deveriam ler mais livros assim para entender a experiência de mais da metade da população do mundo! Mulheres leem desde cedo livros escritos por homens e sobre homens, e isso amplia nosso entendimento sobre a experiência e o ponto de vista masculino através da história. Livros escritos por homens com histórias masculinas geralmente são tidos como “universais” e simplesmente rotulados como “ficção”, ou “ficção literária”. É quase como se esse gênero garantisse uma leitura segura para os homens, enquanto o rótulo de “ficção feminina” os afasta da leitura de livros escritos por e sobre mulheres. Se queremos promover a igualdade de gênero, todos os livros devem ser vistos como universais, independentemente do gênero do autor ou dos protagonistas.
Por último: você está trabalhando em algum novo projeto? Sim, trabalho no meu segundo romance. Ele conta a história de três gerações de mulheres cujas vidas são impactadas pelas guerras americanas no Oriente Médio.
A estante da autora O primeiro livro que li: Provavelmente um “Escolha sua aventura” quando era criança. Eu adorava ficção científica! O livro que estou lendo: The overstory, de Richard Powers. O livro que mudou minha vida: O som e a fúria, de William Faulkner. O livro que eu gostaria de ter escrito: Drácula, de Bram Stoker. O ultimo livro que me fez chorar: Please Look After Mother, de Kyung-sook Shin. O último livro que me fez rir: As desventuras de Arthur Less, de Andrew Sean Greer. O livro que eu dou de presente: O poder, de Naomi Alderman. O livro que eu não consegui terminar: As vinhas da ira, de John Steinbeck.
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A verdade na ficção
Lee Ok-seon Fotografia: Tsukasa Yajima
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Da sua irmandade, Hana e Emi tiraram as forças para sobreviver à Segunda Guerra Mundial na Coreia do Sul — na vida real, entretanto, o cenário nem sempre foi esperançoso. Poucas mulheres puderam contar com qualquer tipo de amparo enquanto eram compelidas a enfrentar as atrocidades cometidas pelo Império do Japão durante o século XX. Em entrevista à BBC, em 2017, a sul-coreana Lee Ok-seon questionou o uso do termo mulheres de consolo como forma de
Kim Hak-sun foi a primeira a quebrar o silêncio, em 1991, sobre a exploração feminina na Segunda Guerra Mundial. A coragem da ativista incentivou muitas sobreviventes a contarem as suas experiências como escravas sexuais. O movimento foi fundamental para a discussão pública a respeito do dos crimes de guerra, do feminicídio e dos direitos das mulheres.
se referenciar às vítimas da escravidão sexual ocorrida naquela época: “Não fomos por vontade própria, fomos sequestradas e nos obrigavam a ter relações com muitos homens todos os dias”. Aos 15 anos, ela seria enviada pela família para trabalhar como empregada doméstica, mas, no meio do caminho, foi raptada e levada até um bordel na China, quando o país estava sob o controle nipônico. Lá, foi escravizada sexualmente durante três anos e, por causa das agressões, perdeu parte dos dentes e da audição. Para alguns pesquisadores, a história das mulheres de consolo está entre um dos sistemas de tráfico e crimes de guerra mais brutais da humanidade. Apesar disso, só foi reconhecido como tal décadas depois, e o assunto ainda gera desacordos entre os dois países — para saber mais, leia a linha do tempo escrita por Mary Lynn Bracht no final de Herdeiras do mar. Estima-se, hoje, que cerca de 200 mil mulheres sul-coreanas tenham passado pelos mesmos sufocos que a protagonista do mês. Filipinas, Tailândia, Vietnã, Malásia, Taiwan e Indonésia são alguns dos outros países de onde jovens eram retiradas à força dos seus lares — todas elas serviam aos prazeres das tropas militares japonesas nas chamadas “estações de conforto”, que não eram nada mais do que prostíbulos ilegais e desumanos. Após o término da guerra, muitas foram abandonadas à própria sorte e faleceram; as que sobreviveram, como Lee Ok-seon, tiveram que viver o resto das suas vidas à mercê de doenças, ferimentos e humilhações causadas tanto pelos abusos físicos quanto psicológicos. 11
Sob o comando delas Fotografias: Luciano Candisani
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Imagine mergulhar mar adentro utilizando apenas o ar e a força dos próprios pulmões. Pode parecer difícil para alguns, mas esse é o dia a dia das mulheres haenyeo, que compartilham a mesma linhagem secular de Hana e Emi, personagens de Herdeiras do mar. Aproximadamente quatro séculos atrás, quando a Coreia do Sul era um país baseado na mão de obra e na hegemonia masculina, as mergulhadoras da ilha sul-coreana de Jeju deram início a uma sociedade semi-matriarcal — neste tipo de estrutura familiar, o papel de provedora e de liderança é exercido predominantemente pelas mães da comunidade. Ainda hoje, para sustentar suas famílias e fomentar a economia local, as haenyeo chegam a passar mais de cinco horas seguidas na água em busca de polvos,
peixes, conchas e outros frutos do mar. A maioria delas tem entre 60 e 90 anos e, apesar da idade avançada, conseguem imergir até 10 metros de profundidade em cada mergulho — elas contam com nada mais do que um traje de mergulho simples, óculos para proteção e nadadeiras. Atualmente, cerca de 4.500 mulheres realizam a pesca submarina na ilha. A prática evoca alguns dos valores que permeiam o século XXI: a sustentabilidade, a responsabilidade ambiental e a preservação cultural. Além disso, elas evidenciam a importância dos laços de amizade formados em pequenas comunidades e do amor pelo legado feminino que as move. Não à toa, em 2016 a cultura foi incluída na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, e o estilo de vida dessas mulheres continua a atrair olhares interessados. No ensaio Haenyeo, mulheres do mar, o fotógrafo e autor brasileiro Luciano Candisani conta a história das mergulhadoras de Jeju por meio de fotografias em preto e branco, produzidas ao longo de duas viagens à Coreia do Sul. O trabalho veio a público em uma exposição no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, em setembro de 2019, e houve convites para novas exposições no Brasil e no exterior. Candisani, que é fotógrafo da National Geographic, também finaliza um livro fotográfico sobre as haenyeo, que será lançado ainda este ano pela editora Vento Leste. Uma de suas fotografias agracia a capa de Herdeiras do mar e também figura no conjunto de cartões-postais que você recebe como mimo. Leia uma entrevista exclusiva com o fotógrafo:
TAG — Há vinte anos você registra espaços naturais e comunidades litorâneas de várias partes do mundo. O que inspirou você a fotografar as mergulhadoras de Jeju? Luciano Candisani — Sou fascinado pelo modo de vida dessas pessoas que se lançam ao oceano pelas mais diversas razões e com ele estabelecem laços 13
quase viscerais de existência. Vejo um heroísmo e uma sabedoria nisso. O meu ensaio sobre as haenyeo surgiu durante as filmagens do longa-metragem Haenyeo: a força do mar, de Lygia Barbosa da Silva. Ela decidiu contar a história da senhoras mergulhadoras da ilha de Jeju de uma forma não convencional: usaria o olhar de um fotógrafo — o meu, no caso — como guia para o roteiro do filme. A história das haenyeo já me fascinava, e recebi o convite da Lygia com entusiasmo. A primeira mostra da exposição teve um grande sucesso de público e crítica. No momento, buscamos apoiadores para a itinerância da exposição e finalização de um livro sobre as haenyeo.
Para você, qual a importância de registrarmos e de transmitirmos os valores dessa cultura, ainda tão pouco conhecida? A cultura das haenyeo carrega lições fundamentais sobre muitos temas caros a todos nós. Hoje, não temos outra saída a não ser repensar de forma consistente as nossas definições de prosperidade e a nossa relação com os recursos naturais do planeta e com as demais espécies.
Quais foram os desafios para fotografar as mulheres haenyeo mar adentro em atividade?
Assista a uma entrevista com o fotógrafo Luciano Cardisani: bit.ly/Conversa LucianoCandisani 14
Foi uma experiência surpreendente. Algumas têm certa dificuldade de locomoção em terra mas, ao entrar na água, deslocam-se com muita facilidade no fundo mar. Em muitos momentos, tive dificuldade de acompanhar o ritmo daquelas senhoras, principalmente por causa da frequência dos mergulhos. Elas pareciam entrar em um estado de concentração e de transe total, que as permitia subir e descer na água sem quase nenhum intervalo entre as imersões.
Para criar o ensaio Haenyeo: mulheres do mar, você passou mais de um mês na companhia das
mergulhadoras. Quais lições você aprendeu com elas durante esse período? Viajei para Jeju em 2017, com a expectativa de fotografar mais uma história sobre o tema da sustentabilidade, que já abordo há vinte e cinco anos. Porém, ao conviver com as mergulhadoras, outros temas surgiram de forma natural: é por isso que falo dos conceitos de pertencimento, longevidade, saúde na maturidade e da Ficou curioso? importância da convivência em Por ser de natureza semicomunidade. Certo dia, eu estava matriarcal, a cultura haenyeo com uma haenyeo de 90 anos no permite a aproximação masculina. Em contrapartida, hoje ainda há mar e as ondas quebravam forte sociedades fundamentadas na no costão. Sofri para sair da água matrilinearidade, conceito da paleoantropologia que designa a e me cortei nas pedras vulcânicas descendência com base na linhagem afiadas. Aquela senhora, porém, materna — isso pode ser visto no soube entender as ondas, o vento clã indiano de Khasi, em uma região do estado de Meghalaya, e na e as pedras, e simplesmente saiu tribo chinesa Mosueo, conhecida andando por uma passagem segura popularmente como Reino das mulheres; ambas lutam para manter na encosta. Ou seja, percebi que a as tradições locais. força está na sabedoria e não nos músculos ou na juventude.
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Spoiler: o próximo mês Uma leitura para quem gosta de ficção científica O cenário: cidadezinha isolada no sul da Califórnia
Uma doença misteriosa e contagiosa Narrativa hipnotizante Autora best-seller do New York Times
Fechamos o primeiro trimestre de 2020 em grande estilo: em janeiro, conhecemos a trajetória de Trevor Noah, comediante sul-africano; em fevereiro, fomos transportados para um reduto nos arredores de Londres; em março, vibramos pela redenção das mulheres de consolo da Coreia do Sul. Em abril, você receberá algo diferente de tudo o que lemos juntos até aqui. No próximo mês, vamos torcer pela sobrevivência de diversos personagens que, contaminados por um vírus desconhecido e perigoso, entram em um sono profundo — do qual ninguém sabe ainda se é possível acordar.
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FONTE: https://glo.bo/36y7ykI
Vocě já leu uma mulher este ano? A Academia Brasileira de Letras tem 40 membros, mas apenas 5 são mulheres.
Apenas 28% dos autores publicados no Brasil são mulheres.
Em março, e no resto do ano,
Estoque sujeito a disponibilidade.
vamos ler mais autoras brasileiras?
Acesse bit.ly/AutorasTAG ou aponte a câmera do seu celular para o QR Code para aproveitar seus descontos de associado. 17
“As pessoas vão esquecer o que você disse, as pessoas vão esquecer o que você fez, mas as pessoas nunca esquecerão como você as fez sentir.” – Maya Angelou 18