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Acerta altura do livro deste mês, lemos que “se as pessoas estivessem dispostas a ler umas às outras e ver a luz de outras culturas, não haveria guerras”. Enquanto não vislumbramos o fim dos conflitos, podemos, ao menos, fazer a nossa parte. E a leitura de As montanhas cantam, obra que você recebe agora, é uma excelente oportunidade de ampliarmos a nossa compreensão de uma localidade que nem sempre recebe os devidos holofotes.
Trata-se de uma emocionante saga familiar a partir da qual a vietnamita Nguyễn Phan Quế Mai, autora do romance, acaba por apresentar um panorama histórico de seu país natal. Como ela mesma afirma em conversa com a TAG, “o Vietnã não é apenas a guerra, mas um país com mais de quatro mil anos de história e cultura”.
Além da entrevista com a autora, você confere a seguir um texto introdutório ao livro, incluindo uma lista com os principais personagens, além de uma reportagem sobre os eventos que são pano de fundo da obra.
Boa leitura!
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VAMOS LER
As montanhas cantam
Criamos esta experiência para expandir sua leitura. Entre no clima de As montanhas cantam colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code ao lado ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os conteúdos complementares!
Leia até a página 80
Iniciamos a narrativa com Diệu e Hương passando por maus momentos em meio à guerra do Vietnã. Logo entendemos que essa não é a primeira vez que a família vivencia graves combates. Estamos apenas começando!
Leia até a página 132
Algumas guerras chegam ao fim enquanto outras começam. Em meio a tudo isso, a família tenta lidar com as marcas deixadas em cada um. Diệu, que está se dando bem com seus negócios clandestinos, acaba chateando membros do grupo familiar. Hương e sua mãe têm conflitos. O que está achando da história até aqui? Que tal compartilhar suas impressões no app da TAG?
Leia até a página 196
A reforma agrária, em 1955, é dura para o que restou da família de Diệu. Precisando fugir da fome, ela peregrina até Hanói com os filhos, mas as condições ficam cada vez mais adversas para seguir com as crianças. Já passamos da metade do livro; sigamos!
Leia até a página 275
Hương e sua mãe se aproximam, e ela acaba descobrindo um de seus maiores traumas. Na peregrinação de Diệu até Hanói, ocorrida quando seus filhos ainda eram crianças, ela chega à cidade e se abriga em um templo, trabalhando de faxineira para um casal. Além disso, também está frequentando aulas de defesa pessoal. Em 1976, Hương parece estar gostando de Tâm. Será que esse amor vai para frente?
projeto gráfico
O projeto gráfico deste mês busca ressaltar a riqueza da cultura vietnamita, tão bem representada no livro de Nguyễn Phan Quế Mai. A arte da capa reproduz a obra de um famoso artista do país no século 20, Nguyễn Tường Lân. A pintura traz como destaque o bambu, um símbolo nacional muito presente em As montanhas cantam.
mimo
A TAG e a Nescafé unem-se para sugerir um ritual de leitura perfeito. Além da obra do mês, que comove com uma narrativa potente, você recebe um sachê com 40g do Nescafé Gold — um convite para vivenciar e compartilhar experiências sensoriais únicas. E não para por aí: os associados do clube terão a chance de ganhar uma caixa surpresa da Nescafé através de um sorteio! Acesse o app para mais informações!
Leia até o final
Mesmo com altos e baixos, o livro finaliza com uma mensagem positiva, não concorda? Acesse o app e comente o que achou da história deste mês!
As montanhas cantam pode ter terminado, mas a experiência não!
Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado e escute o episódio de nosso podcast dedicado ao livro do mês. No aplicativo, confira também a nossa agenda de bate-papos.
“[Um] romance envolvente e emocionante que, em mais de um sentido, remedeia a história.”
The New York Times Book Review
“Uma narrativa luminosa que ressoa através de gerações.”
O, The Oprah Magazine
POR QUE LER O LIVRO
As montanhas cantam venceu prêmios como o BookBrowse Best Debut Award, o Blogger’s Book Price e o International Book Awards, todos em 2021. Também foi best-seller do New York Times e eleito um dos melhores livros do ano pela National Public Radio (NPR) dos EUA. Tem sido traduzido para cada vez mais países pelo êxito de Nguyễn Phan Quế Mai em apresentar uma visão rica e original da história do Vietnã.
Do Vietnã para o mundo
EDUARDO PALMA
Em As montanhas cantam, trajetórias de uma família documentam a rica história do Vietnã
As montanhas cantam, da escritora vietnamita Nguyễn Phan Quế Mai, dá seu tom logo na primeira página: homenagens para a avó da autora, que morreu na Grande Fome, nos anos 1940; para o avô, vítima das consequências da reforma agrária de 1955; e para o tio, que teve a infância roubada pela Guerra do Vietnã.
Mas não se engane. Não é um livro (só) sobre guerras e conflitos. A obra também trata de perdão, solidariedade, pertencimento e reconciliação. Acompanhamos as vivências de quatro gerações da família Trần, que foi muito próspera, em eventos históricos que marcaram o país asiático no último século.
É uma jornada panorâmica pela história de uma nação que hoje abriga quase 100 milhões de habitantes, atravessando o período colonial francês, a ascensão do governo comunista, a separação, a Guerra do Vietnã e até os tempos mais recentes. Em todos esses momentos, elementos como fome, sofrimento e invasões estrangeiras marcam e moldam os personagens, retratados com a delicadeza de uma autora que já havia publicado poemas e livros em seu idioma, mas nunca em inglês.
O escritor e pesquisador Viet Thanh Nguyen, vencedor do Prêmio Pulitzer em 2016, diz que o livro é a versão vietnamita do clássico As vinhas da ira, de John Steinbeck. “Abrange tudo, desde essa fome da qual ninguém fora do Vietnã ouviu falar, na década de 1940, até a Guerra do Vietnã”, explicou em palestra proferida em 2021.
O livro é narrado majoritariamente por Hương, apelidada de Goiaba por sua avó Diệu Lan. A matriarca
é figura central na história e tem parte em vários capítulos. Entre idas e vindas durante o século, as datas iniciais dos capítulos ajudam na localização e no contexto histórico. Em sua escrita, Quế Mai faz questão de deixar muitas expressões no idioma local. Cita comidas típicas, exalta provérbios e tradições de seu país.
A riqueza de detalhes vem das experiências da autora, que nasceu em 1973 no norte do Vietnã, comandado pelo governo comunista, e depois mudou-se com a família para o sul, quando tinha seis anos de idade. Desde jovem, sofreu preconceitos e passou por dificuldades. Chegou a trabalhar em campos de arroz para ajudar a família. Foi o gosto pela leitura, sempre incentivada pelos pais, que abriu seu mundo para novos horizontes.
Mais velha, ganhou uma bolsa de estudos na Austrália. Concluiu seu curso universitário e foi para a capital vietnamita, Hanói, onde encontrou trabalho em uma companhia multinacional. Conheceu seu marido, um diplomata alemão, com o qual passou a ter uma vida de mudanças frequentes, para países como Bélgica, Bangladesh, Filipinas e Indonésia.
Quế Mai trabalhou com tradução e comunicação, até mesmo para a ONU, e tinha a escrita como hobby. Mas prêmios nacionais de poesia a animaram a seguir e começar a escrever livros. É assim que surgiu As montanhas cantam. A autora entendia que não havia um livro como esse sobre seu país e sobre a guerra disponível em inglês. Questionada
sobre o que gostaria que os leitores levassem do livro, responde que é a valorização da vida normal, simples e cotidiana. Um privilégio em tempos de guerra. Também vemos essa resposta em uma das reflexões da personagem Hương: “Imaginei quantas pessoas ao redor do mundo estavam tendo um dia normal e não sabiam como isso era sagrado e especial”.
LISTA
DE PERSONAGENS:
Hương: personagem principal, neta de Diệu Lan, também chamada de Goiaba.
Diệu Lan: personagem muito importante, é a avó de Hương, que narra algumas histórias do passado.
Madame Trần: mãe de Diệu Lan, participa de alguns momentos no passado.
Hùng: marido de Diệu Lan, avô de Hương.
Minh: filho mais velho de Diệu Lan e tio de Hương; foge para o sul na reforma agrária e escreve uma carta marcante.
Ngọc: mãe de Hương.
Thuận., Hạnh e Sáng: Filhos de Diệu Lan e tios de Hương.
Công: irmão de Diệu Lan morto na Reforma Agrária.
Acesse o QR Code abaixo e confira um vídeo com a pronúncia dos nomes dos personagens.
Um século de conflitos
Confira os principais eventos históricos vividos pelo Vietnã no século XX; para especialistas, colonização francesa, ocupação japonesa e guerra com os EUA forjaram o Vietnã contemporâneo
Além dos personagens do livro As montanhas cantam, de Nguyễn Phan Quế Mai, o próprio Vietnã e sua história fazem parte do fio condutor que se entrelaça ao longo das gerações da família Trần. A TAG ouviu especialistas e preparou um passo a passo com os principais eventos históricos mencionados no livro.
DOMÍNIO COLONIAL FRANCÊS
No final do século XIX, os franceses avançaram sobre territórios em outros continentes, como a Ásia. Uma das principais colônias francesas no Sudeste Asiático foi a Indochina — com grande população e recursos estratégicos, ela abrangia o que hoje são partes do Vietnã, Laos e Camboja.
A colonização alterou a estrutura econômica, social e a política regional, com a cobrança de impostos, extração de recursos agrícolas e minerais, e imposição de novos costumes religiosos e culturais. A monarquia local perdeu poder e passou a dividi-lo com administradores europeus.
“A presença dos franceses inaugurou uma era de subordinação aos colonizadores que durou até 1954. Eles dividiram a economia entre o sul agrícola e o norte em crescente industrialização para atender aos seus interesses”, explica o diplomata Fausto Godoy, que trabalhou na Embaixada do Brasil no país.
ASCENSÃO DO NACIONALISMO
A presença francesa fortaleceu sentimentos nacionalistas na população vietnamita, que passou a organizar a resistência. É possível acompanhar esse processo em partes do livro de Quế Mai, quando se fala do Viet Minh, partido fundado em 1941 que buscava a independência do país e que lutou militarmente contra japoneses e franceses. Inspirado por ideias socialistas e aprendizados advindos de vivências no exterior, como na União Soviética, seu líder era Ho Chi Minh.
INVASÃO JAPONESA
Os japoneses entraram no Vietnã em 1940, após acordos com os franceses. Era o contexto da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). No livro, vemos o medo causado por essa ocupação na viagem do pai de Diệu Lan para vender batatas em Hanói e a forma como o tratam quando o encontram. O Vietnã viveu, portanto, uma dupla colonização. Os japoneses deixaram o país após a derrota na Segunda Guerra.
GRANDE FOME
De acordo com a pesquisadora franco-vietnamita Christelle Nguyen, múltiplos fatores resultaram na morte de quase 2 milhões de pessoas na Grande Fome, entre 1944 e 1945, principalmente a ocupação japonesa, que promoveu a destruição dos tradicionais campos de arroz e sua substituição por juta, além da obrigação de estocar arroz para consumo e exportação. A Grande Fome matou quase 10% da população. O quinto capítulo do livro trata do tema por meio das memórias de Diệu Lan, com sua mãe procurando comida em lugares improváveis. Esse desastre fortaleceu a mobilização de camponeses e outras populações mais pobres. “A questão da sobrevivência fez com que as massas seguissem a coalizão da independência e contribuiu para o caos político que possibilitou que a revolução de agosto de 1945 acontecesse”, afirmou Christelle, em artigo na revista The Diplomat.
A revolução mencionada pela pesquisadora é o processo de independência liderado pelo Partido Comunista do Vietnã, movimento apoiado por diferentes setores sociais.
“O nacionalismo é a força dominante no Vietnã porque, em mais de dois milênios, a nossa história foi definida principalmente pela luta existencial contra invasores estrangeiros que tentaram nos subjugar — sejam chineses, mongóis, franceses ou japoneses”, afirma Michael N., internacionalista vietnamita. “Nesse cenário, a legitimidade mais importante para os vietnamitas foi a capacidade de defender a soberania da nação e expulsar os invasores”, complementa.
PRIMEIRA GUERRA DA INDOCHINA
Iniciado em 1946, esse conflito opôs o Viet Minh e os franceses, que não aceitavam a declaração de independência vietnamita. Foi um conflito nacional com apoio internacional — era o contexto da Guerra Fria emergindo, e os Estados Unidos apoiaram os franceses. Do outro lado, o Viet Minh recebeu apoio da União Soviética e da China. A guerra acabou em 1954, com vitória vietnamita. No entanto, a França reconheceu apenas o norte do país como independente.
DIVISÃO DO PAÍS
Em 1954, são celebrados os Acordos de Genebra, que dividem o Vietnã. No norte, um governo comunista, com base em Hanói, liderado por Ho Chi Minh, com apoio soviético e chinês. No sul, um governo capitalista, com sede em Saigon, apoiado por norte-americanos e franceses. Nessa época, o país presencia o maior fluxo de pessoas de sua história. Milhares de pessoas abandonam suas propriedades, negócios e empresas no norte e migram para o sul. Outras deixaram o país em barcos.
É nesse contexto que se dá a Reforma Agrária, cujo processo é descrito no livro. Terras foram confiscadas e divididas para pequenos agricultores, com tribunais parciais. Essa reforma angariou apoio popular ao governo e impulsionou a debandada de cidadãos para o sul — movimento visível no livro com o avô de Hương e marido de Diệu Lan.
GUERRA DO VIETNÃ
Como todos os conflitos, também neste múltiplos fatores entraram em campo. No âmbito interno,
prevaleceu o sentimento nacionalista de unificar o país e de resistir a intervenções estrangeiras. Nesse contexto, forças do norte atacam o sul para tentar derrubar o governo e realizar a unificação. Para frear o que via como uma possibilidade de avanço comunista na região, os EUA entram no conflito em 1955. Partes do livro evidenciam as contradições da guerra, como pessoas do norte lutando no sul.
De acordo com Andrew J. Pierre, associado sênior do Carnegie Endowment for International Peace, uma campanha de “nortificação” foi realizada após a independência, com mais de 400 mil pessoas indo para campos de reeducação. Em texto para a revista Foreign Affairs, ele relata: “Dezenas de milhares foram mortos e mais de 100.000 fugiram em barcos. O governo impôs o comunismo no sul e restringiu severamente a liberdade de expressão e a prática religiosa”.
SALDO DA GUERRA
Cerca de 1,3 milhão de militares — do sul do Vietnã, do norte do Vietnã e dos EUA — perdeu a vida. As mortes de civis são estimadas de 2 a 3 milhões de pessoas — o que equivale à população de um país como o Uruguai hoje. Mais de 2 milhões de toneladas de bomba foram usadas, bem como armas químicas como o napalm e o agente laranja, que ainda hoje deixam consequências desastrosas. Além desses números, a guerra forçou milhões de pessoas a deixarem suas casas.
“O Vietnã foi palco de um dos momentos mais traumáticos da história contemporânea”, avalia o diplomata Fausto Godoy. Com a partida dos EUA em 1973 e a derrota dos sulistas para os comunistas, em 1975 tem início uma nova era na história do país.
ATUALIDADE
A nova era é marcada pelo processo de reformas chamado “Đổi Mới”, empreendido em 1986. “Este processo é devido à mudança de ênfase na direção da política econômica, de agrícola para os setores de manufatura e serviços e de maior integração com os países e economias da vizinhança”, resume Godoy.
“O Vietnã não é apenas a guerra”
Nguyễn Phan Quế Mai fala sobre a concepção de As montanhas cantam, comenta como mudou sua visão sobre os conflitos de seu país e ressalta o desejo de difundir a cultura vietnamita
Você já disse que este livro foi sua pesquisa da vida inteira. Sua perspectiva sobre a Guerra do Vietnã mudou ao longo do tempo? Como a vê hoje?
Nasci e cresci no Vietnã, então aprendi uma perspectiva unilateral da guerra. Minha pesquisa e as entrevistas com pessoas que lutaram em diferentes lados da guerra realmente abriram meus olhos para as perdas e tristezas vividas por todos, bem como para suas necessidades de cura. Então, sim, minha perspectiva mudou tremendamente e me fez perceber minhas responsabilidades de documentar histórias não contadas relacionadas à complicada história do Vietnã e minhas responsabilidades de escrever pela paz, usando o melhor meio: a literatura. A Guerra do Vietnã terminou em 1975, quarenta e oito anos atrás. Mas, para muitas pessoas, a guerra não acabou, pois ainda precisam lutar contra o trauma de longa data, bem como pela busca por familiares desaparecidos. Meu romance destaca esse tipo de luta na esperança de
que haja mais empatia e mais apoio para aqueles que são afetados por guerras e conflitos armados.
O que a motivou a incluir o ponto de vista narrativo de Hương, uma menina tão jovem?
Acho que, como raça humana, ainda somos muito ingênuos sobre o impacto devastador de guerras e conflitos armados sobre indivíduos, famílias e sociedades. Hương representa essa ingenuidade. Somente quando ela viveu a guerra e a experimentou diretamente, ela pôde compreender seu horror. A decisão de ter uma voz infantil também é determinante na minha abordagem ao contar histórias porque as crianças são curiosas e abertas a aprender coisas novas. E elas são mais indulgentes. Há uma tendência das pessoas de desumanizar o inimigo. Tendo Hương como personagem, pude mostrar sua vontade de mergulhar em Uma casa na floresta, de Laura Ingalls Wilder, para que pudesse fazer amizade com a americana Laura. Assim, um leitor que nunca experimentou a guerra
pode assumir os olhos inocentes de Hương e aprender sobre a brutalidade da guerra e seu impacto devastador.
Você escrevia em vietnamita e era reconhecida em seu país natal. Quais desafios essa mudança trouxe?
Como só tive a chance de aprender inglês na oitava série, sempre houve uma distância entre o inglês e eu. A distância é útil porque me dá a capacidade de refletir com calma e objetividade sobre os muitos eventos históricos do meu país que causaram efeitos devastadores para minha família e muitos vietnamitas que conheço. No entanto, essa distância não é ideal quando se trata de partes íntimas do meu romance. Partes que eu só poderia escrever guiada pelas batidas do meu coração, em vez do raciocínio da minha mente. Nesses casos, a língua vietnamita vem em meu socorro. Por exemplo, foi minha língua materna que me forneceu a entrada no diário de Ngọc (mãe de Hương). Anteriormente, eu havia lutado para escrever seu diário por muitos dias, até uma noite, quando mudei para o vietnamita. Comecei uma nova versão do diário com as palavras “Anh ơi!”, da maneira íntima que Ngọc chamava seu marido desaparecido, e minhas lágrimas rolaram junto com as anotações do diário.
Aliás, pode falar mais de sua escolha em usar expressões e provérbios vietnamitas no livro?
Cresci dentro do Vietnã e só viajei para fora do país em 1993, quando tinha 20 anos. Nos dias de hoje,
onde quer que eu esteja, volto para casa com frequência. Eu sou uma árvore profundamente enraizada no Vietnã. O solo vietnamita cuidou de mim com abundância de provérbios e expressões idiomáticas, através de conversas diárias. Como resultado, os provérbios, expressões idiomáticas e imagens usados em As montanhas cantam fazem parte do meu vocabulário vietnamita. Conheço muitos provérbios, mas selecionei apenas aqueles que são exclusivos da cultura vietnamita. Por exemplo, o provérbio “m ư a d ầ m th ấ m lâu” — “a chuva suave e persistente penetra na terra melhor que uma tempestade” — é sobre o valor da paciência. É exclusivo do Vietnã porque minha terra natal é um país tropical onde chove muito. A frase seria natural para a vovó Diệu Lan usar porque ela é agricultora e trabalha com a terra.
Para muitos brasileiros, o Vietnã é uma ideia distante, desconhecida, associada à guerra. O que você gostaria que os leitores, principalmente ocidentais, levassem de seu livro?
O Vietnã não é apenas a guerra, mas um país com mais de quatro mil anos de história e cultura, com pessoas que são parecidas com os brasileiros em muitos aspectos: no amor pela família, pela boa comida, boa música, boa literatura. Espero que meus leitores se apaixonem pelo Vietnã depois de lerem meu livro. Amo minha pátria com cada célula do meu corpo e estou emocionada por transferir esse amor para meus leitores.
vem aí
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Perguntas sobre As montanhas cantam
1. O livro tem como pano de fundo diversos eventos históricos do Vietnã. O que você já sabia do país? O que achou da perspectiva mostrada pela autora?
2. Quais são as suas impressões sobre a trajetória de cada personagem e o modo como elas se entrecruzam na história, com a alternância de tempos narrativos? Você gostou mais de algum personagem em especial?
3. Discuta o modo como os traumas históricos e transgeracionais são abordados no livro.
4. Avalie a presença de provérbios e outras expressões culturais vietnamitas ao longo do livro.
5. Ao final da leitura, quais reflexões o romance despertou em você?
O roubo de um violino herdado por um jovem músico negro é o mote do livro de setembro, que foi indicado aos Goodreads Choice Awards de Melhor Mistério & Suspense e de Melhor Romance de Estreia em 2022.
Para quem gosta de: mistérios, tramas com questões raciais, temática musical
Prepare-se para se aventurar em um suspense eletrizante. No livro que você recebe em novembro, escrito por uma autora britânica, o testemunho de um crime cometido pelo filho abre espaço para uma mãe revisitar acontecimentos do passado.
Para quem gosta de: suspenses, histórias de crime, viagens no tempo
“Buscamos algo que nos pareça verdade; buscamos compreensão; buscamos aquele princípio que nos liga profundamente ao padrão de toda a vida; procuramos as relações das coisas, umas com as outras.”
– JOHN STEINBECK