Set2018 "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola"

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setembro | 2018

Eu sei porque o pรกssaro canta na gaiola


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Ao Leitor O mês de setembro tem como curadora Conceição Evaristo, uma das principais expoentes da literatura brasileira contemporânea. Presente no cenário literário desde os anos 1990, Evaristo ganhou visibilidade nacional a partir da publicação do romance Ponciá Vicêncio (2003), conquistou o Prêmio Jabuti com o livro de contos Olhos d’água (2014) e já teve seus títulos traduzidos ao redor do mundo. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola é uma das obras que mais inspiraram Evaristo a seguir a carreira literária. Maya Angelou, a autora, foi capaz de fazer seu nome ressoar mesmo em uma época de discriminação à mulher negra. Nesse livro, Angelou reformula os pressupostos autobiográficos ao produzir uma narrativa em que o trabalho com a linguagem gera uma potencialidade capaz de transpassar sua inscrição inicial, conquistando, assim, o território literário. Guiados pela escritora, acompanhamos sua infância e juventude, que cresce em meio à segregação racial dos Estados Unidos do início do século XX. O leitor vê a transição de uma menina insegura de seu lugar no mundo para o despertar de uma mulher consciente de sua humanidade e que viria a se tornar uma das escritoras mais inspiradoras de seu tempo. Boa leitura!

Equipe Tag


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C A indicação do mês

A curadora Conceição Evaristo

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Ecos da Leitura

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Curiosidades Maya Angelou

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B

Leia depois de ler Bicando a porta da gaiola Carol Bensimon

r!

Spoile


Sumário A INDICAÇÃO DO MÊS

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Entrevista com Conceição Evaristo O livro indicado Eu sei porque o pássaro canta na gaiola

ECOS DA LEITURA

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Segregação racial e os ativistas dos direitos civis americanos Versos de Maya

ESPAÇO DO ASSOCIADO

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TAG Pets

A PRÓXIMA INDICAÇÃO

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O curador de outubro Alejandro Zambra


Joyce Fonseca


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A curadora Conceição Evaristo

“Um dia, agora, ela já sabia qual seria a sua ferramenta: a escrita. Um dia, ela haveria de narrar, de fazer soar, de soltar as vozes, os murmúrios, os silêncios, o grito abafado que existia que era de cada um e de todos. Maria Nova escreveria um dia a fala de seu povo.” Quando descreve os pensamentos da protagonista do romance Becos da memória (2006), Conceição Evaristo sabe que muitas vozes a acompanham. Entende, no seu íntimo, que sua enunciação é sustentada por um agenciamento coletivo, muito maior que apenas sua própria voz, ou a de uma personagem de ficção: seus pares, sua mãe, seus tios e tias, todos aqueles que por muitas gerações foram subalternizados nutrem sua escritura. Evaristo é uma das vozes mais importantes da literatura brasileira da atualidade, com traduções para inglês e francês, além de prêmios e palestras ao redor do Brasil. A escritora e sua obra, antes celebradas apenas dentro do Movimento Negro, percorreram um longo caminho até que recebessem o olhar e a apreciação do resto do país. Com outras mulheres negras – algumas muito mais jovens do que ela – que passam a conquistar um espaço no cenário literário, ela afirma ser parte de um grupo que não é marcado pela idade: “Eu me sinto parte de uma geração como escritora, (...) uma geração em que a gente canta com orgulho essa identidade negra”.

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Joyce Fonseca

Conceição Evaristo tem suas origens arraigadas na favela do Pendura Saia, região em que hoje está localizada a parte alta da Avenida Afonso Pena, zona sul de Belo Horizonte, onde nasceu em 1946. Cresceu cercada de mulheres, decisivas na sua formação. Entre elas, sua mãe, uma lavadeira que, assim como fizera a escritora Carolina Maria de Jesus, escrevia as dificuldades do seu dia a dia em um diário. Conciliando os estudos com o trabalho como empregada doméstica, a menina encontrou nos livros um alento para a precariedade financeira em que se encontrava sua família. Com a leitura, veio a necessidade de escrever, tornando-se não só algo que lhe dava ânimo, mas também um momento de “tormento”, em que todas as dúvidas e os questionamentos vinham à tona.

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“Foi marcante o momento em que percebi as questões raciais. Eu como menina negra. O que havia de estranho nisso tudo, notar a questão racial, a pobreza em que a gente vivia. Naquele momento eu já sabia que queria alguma coisa, só não sabia o quê. Mas de uma coisa eu tinha certeza: aquela vida que eu tinha não podia ser eterna. Eu tinha a certeza de que aquela vida não era justa.” – Conceição Evaristo


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Quando a realidade de sua vida na cidade mineira não comportava mais seus sonhos, Evaristo partiu para o Rio de Janeiro, onde se formou em Letras pela UFRJ – hoje é Mestra em Literatura Brasileira pela PUC-RJ e Doutora em Literatura Comparada pela UFF. A partir daí ampliou seu engajamento político com movimentos sociais negros e coletivos culturais, e a chance de publicar seu primeiro poema em uma coletânea lançada pela editora paulista Quilombhoje que, segundo ela, é “o rito de passagem para vários escritores afro-brasileiros”. O movimento social negro e, em especial, as mulheres desse movimento, foram os primeiros a legitimarem seu texto, divulgando-os em salas de aula, em saraus e dando-os como presente para amigos.

cinada com as histórias de pessoas próximas, familiares e conhecidos da favela onde nasceu. A publicação mais recente de Conceição Evaristo é o livro de contos vencedor do prêmio Jabuti (categoria Contos e Crônicas), Olhos d’água (2014), que reúne histórias protagonizadas por mulheres negras vivendo em situações de grande vulnerabilidade.

A escritora passou a ser reconhecida nacionalmente somente depois da publicação de Ponciá Vicêncio (2003), seu primeiro romance e o mais celebrado até hoje, selecionado como leitura obrigatória em diversos vestibulares do Brasil. Trata-se de uma obra sobre a perda das raízes culturais da população negra no Brasil a partir da escravidão: “Não há como pensar na história do Brasil sem pensar a memória da escravidão. Mas [é necessário] sempre pensar essa memória dolorida como um espaço de resistência”.

“O que marca minha escrita é essa tentativa de criar outro texto literário, no qual eu possa revelar minha subjetividade de mulher negra na sociedade brasileira. Eu não quero trabalhar com estereótipos ou trabalhar com um imaginário que a sociedade já tem a respeito. Quero criar de um outro lugar.”

O segundo romance, Becos da memória, foi escrito na década de 1980 e publicado quase vinte anos depois. Nele, acompanhamos a vida da protagonista Maria Nova, jovem fas-

Aos 71 anos, Conceição Evaristo finalmente desfruta do merecido reconhecimento literário. Na última década, deu palestras pelo Brasil, foi homenageada na Ocupação do Itaú Cultural de São Paulo e uma das principais atrações da FLIP 2017. Mesmo com a visibilidade em alta, sabe que a luta pela representatividade negra no país está apenas começando.

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Joyce Fonseca

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Seu primeiro livro, Becos da memória, ficou guardado cerca de vinte anos e só foi publicado em 2006. Como você enxerga as dificuldades e mudanças do cenário editorial em relação à publicação de autoras negras?

minhas, e notadamente nas editoras voltadas para as publicaçoes de autoria negra, como a Mazza Edições, a Nandyala, a Malê, a Ogum Toques, dentre outras que vão se organizando com esse objetivo.

Posso considerar que houve poucas mudanças, pois se observarmos o mercado editoral de ponta, isto é, as grandes editoras, não se encontram publicações de escritoras negras brasileiras, com raríssimas exceções. As nossas publicações ainda acontecem em editoras de médio porte, como a Pallas, que já publicou três obras

Desde 1995, você vem trabalhando com o conceito de sua autoria “escrevivência”, que faz um jogo com as palavras “escrever, viver, se ver”. O que o termo significa e como ele poderia ser usado para analisar a obra de Maya Angelou? Sem dúvida alguma, o conceito de “escrevivência” pode ser usado


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Entrevista Conceição Evaristo

para analisar, para ler, para compreender a obra de Maya Angelou. Foi de suas experiências pessoais e do coletivo que a autora construiu a matéria de sua escrita. O movimento que se dá justamente depois de um profundo mergulho interior em seus momentos de análise, em que o seu analista a aconselha a escrever as suas memórias de infância e juventude. Contrariamente a outros escritores consagrados brasileiros, você costuma dizer que não nasceu rodeada de livros, mas de palavras. De que maneira esta literatura oral influenciou seu estilo narrativo?

Tenho afirmado que a minha vivência, desde pequena, sob os efeitos da oralidade, me deu a capacidade da escuta, aprimorando meus ouvidos não só para os significados das palavras, mas também para a sonância das mesmas. Capto na escuta, a musicalidade da frase. E tento então levar para o texto escrito a dinâmica da oralidade. O ritmo, as repetições, os gestos, as expressões que dominam o corpo no exercício do narrar, que assiste intensamente na minha infância e juventude, me fazem desejar e buscar modos de traduzir na escrita, a estética da oralidade, mesmo sabendo que é impossível tal façanha.

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Em Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, uma frase importante do livro ressoa no seu percurso de escritora: “O fato de que a mulher Negra americana adulta surge como um personagem formidável costuma ser visto com surpresa, aversão e até beligerância. Raramente é aceito como resultado inevitável da luta vencida por sobreviventes que merece respeito, se não aceitação entusiasmada”. De que forma a força do coletivo e do movimento negro influenciaram sua trajetória? Do coletivo retiro a força e a certeza de que não estou sozinha. O discurso do Movimento Negro e do Movimento de Mulheres Negras tem me orientado, me ensinado a refletir sob a condição do negro, e especialmente da mulher negra na sociedade brasileira. E mais do que isso, o MN foi o primeiro lugar de recepção de minha obra. Foi a militância negra de mulheres e homens que leu primeiro a minha escrita e que foi difundindo os meus textos em sala de aula, em pesquisa acadêmica, etc. Minha primeira publicação foi na série Cadernos Negros, uma edição anual que já perdura há 41 anos, sob a coordenação do coletivo Quilombhoje. É na força do coletivo que encontro coragem e ensinamentos para me apresentar diante dos mais variados públicos. O que você diria aos mais de 25 mil leitores do clube que vão ler Eu sei por que o pássaro canta na gaiola pela primeira vez? Que estarão com uma obra instigante, dolorosa e profundamente humana. Ler Maya Angelou é mergulhar na vida estadunidense do início do século XX, com suas problemáticas raciais e acompanhar a trajetória de mulher que, apesar de tanto sofrimento, de tanta violência sofrida, ainda encontrou forças para se comprometer com a luta dos Direitos Civis dos Negros Americanos. Ler Eu sei por que o pássaro canta na gaiola é entender, também, como a escrita, como a literatura pode ser um meio, um exercício de reflexão e de sublimação da dor.

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E O livro indicado

Eu sei porque o pássaro canta na gaiola Poucas pessoas podem chegar ao fim da vida e afirmar que não viveram só uma, mas várias, infinitas delas. Maya Angelou é um exemplo: atuou como cantora, poeta, jornalista, dançarina, atriz, roteirista, diretora... Presenteou o universo literário com sete autobiografias, três ensaios e diversos livros de poesia. Ao longo de cinquenta anos, protagonizou peças, filmes e produções televisivas, sendo a primeira mulher negra a escrever para uma produção de Hollywood. Recebeu incontáveis prêmios, títulos honorários e homenagens de presidentes americanos. Foi ativista dos direitos civis, lutou ao lado dos líderes sociais Malcolm X e Martin Luther King Jr. e foi amiga íntima do escritor James Baldwin.

“Angelou tornou-se reconhecida não apenas como porta-voz dos negros e das mulheres, mas de todas as pessoas comprometidas em elevar os padrões morais da vida nos Estados Unidos” Carol E. Neubauer, em Southern women writers: the new generation

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Para atingir seus objetivos, Angelou teve de enfrentar, antes de tudo, sua realidade social de mulher negra nos Estados Unidos. Aos 17 anos de idade, depois de uma infância prejudicada pelo racismo e por um estupro traumático, encontrava-se solteira e com um filho a tiracolo. Seus meios para sobreviver variavam entre trabalhar como motorista, garçonete, cozinheira, dançarina de clubes noturnos e prostituta. Apesar das dificuldades, seus sonhos continuavam os mesmos: a dança, a atuação, a música e a escrita, talentos que exercitava em âmbito particular.

O entusiasmo com as composições musicais e a poesia levaram Angelou a aprimorar suas habilidades de escritora e constituir uma carreira literária. No final da década de 1950, em Nova York, entrou para a Corporação dos Escritores do Harlem e lá conheceu o escritor James Baldwin, integrando o número cada vez maior de jovens escritores e artistas negros associados à luta

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Craig Herndon

No início dos anos 1950, Maya casou-se com o ex-marinheiro grego Tosh Angelos e pôde dar continuidade a seus estudos artísticos. O casamento durou pouco tempo, mas suas apresentações em clubes de São Francisco, onde residia à época, atraíram olhares de agentes locais e renderam-lhe contratos e apresentações pela Europa com a ópera Porgy and Bess. Nos anos seguintes, ela ainda faria apresentações de dança na televisão e lançaria um álbum de música.


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pelos Direitos Civis. Assim teve a samente abalada. Com a ajuda de seu oportunidade de ouvir e ser proamigo Baldwin, ela encontrou confundamente tocada pelos discursos solo na escrita e começou a trabade Martin Luther King Jr., líder do lhar naquela que, dois anos depois, se Movimento dos Direitos Civis, de tornaria sua primeira publicação, Eu quem Maya ficou tão próxima que sei por que o pássaro canta na gaiola, ele a convidou para obra que chega ao asfazer parte da Consociado neste mês. ferência da Lide“Um estudo rança Cristã do Sul A obra conta a traje(SCLC, em inglês). tória da infância até bíblico da o início da juvenvida no meio Nos anos 1960, Maya tude da escritora. A da morte.” mudou-se para o pequena MargueCairo, no Egito, e exrite Anne Johnson – James Baldwin perimentou a carrei(esse é seu nome) e ra jornalística – foi seu irmão Bailey Jr. editora do semanal são enviados, aininglês The Arab Observer. Em 1962, da muito pequenos, pelos pais para em Accra, capital de Gana, teve diviver com a avó em Stamps, cidade versas ocupações, como escritora americana de escancarada segregafreelancer, editora do The African ção racial. Apelidada de Maya pelo Review, roteirista, broadcaster e irmão, a menina Marguerite vê-se ainda trabalhou no Teatro Nacional enclausurada em um mundo ao qual de Gana. Na cidade, acompanhou sente não pertencer: uma realidaos processos de independência dos de hostil que tem como parâmetro países africanos e tornou-se íntima único de beleza a pele branca, que do líder dissidente Malcolm X. discrimina e violenta o negro. Maya Angelou regressou aos Estados Unidos em 1964, com a intenção de ajudar Malcolm X a estruturar a Organização da Unidade Afro-Americana. Pouco tempo após sua chegada ao país, Malcolm X foi assassinado e os planos foram interrompidos. Maya, então, envolveu-se com a produção de televisão e manteve-se ativa no Movimento dos Direitos Civis, trabalhando mais intimamente com Luther King Jr. O assassinato dele, ocorrido no dia do aniversário de Maya, em 1968, deixou-a inten-

Na narrativa, acompanhamos os principais acontecimentos da vida de Angelou, divididos em episódios marcados pela presença constante do racismo e do sexismo. Para contar suas histórias, desde as humilhações de sua avó e seu tio, os encontros e desencontros com os pais até o hediondo estupro do qual foi vítima aos 8 anos de idade, Angelou lança mão, por vezes, de uma linguagem metafórica; por outras, descreve, com uma linguagem marcada pela objetividade, seu

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rancor frente à injustiça da discriminação. Se sofreu com o racismo e com a violência sexual cuja consequência, entre tantas outras cicatrizes emocionais, a deixou muda por cerca de cinco anos, também viveu a descoberta e a libertação por meio da literatura. Por ser uma autobiografia com elementos geralmente percebidos em romances, como diálogos e desenvolvimento temático, o livro desafiou as convenções literárias da época. Sua não linearidade também fugia do padrão de livros do gênero: acompanhamos cenas que, no lugar de contarem as experiências de Maya de maneira temporal, privilegiam a transformação de menina insegura em jovem autoconsciente, capaz de enfrentar as injustiças do mundo

com a certeza de seu lugar nele e de sua identidade enquanto mulher, negra e mãe. Obra fundamental da história recente americana, a publicação de Eu sei por que o pássaro canta na gaiola fez de Maya uma celebridade instantânea. Foi indicada ao National Book Award de 1970, recebeu traduções para diversas línguas, é presença constante nas listas de livros mais influentes do mundo e, desde seu lançamento, nunca saiu das prateleiras norte-americanas. A pequena Maya do livro tornou-se uma personagem simbólica e representativa para todas as meninas afro-americanas – até aquele momento, mulheres negras não eram descritas com profundidade psicológica e realismo nos romances e autobiografias

“Uma infância de sofrimento e abuso a levou a parar de falar – mas a voz que ela encontrou ajudou gerações de americanos a encontrar o arco-íris no meio das nuvens, e inspirou o resto de nós a sermos o melhor de nós mesmos.” – Barack Obama Edouard Rieben

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A INDICAÇÃO DO MÊS

do país. A obra foi utilizada em escolas e universidades e celebrada por criar novos paradigmas para o gênero autobiográfico. A descrição imagética e brutal do estupro, do racismo e da sexualidade, no entanto, levou o livro a ser banido de diversas cidades americanas. O sucesso e a controvérsia impulsionaram a carreira de Angelou, que ainda escreveria mais seis livros com teor autobiográfico, diversas coletâneas de poesia e voltaria a trabalhar com produções televisivas e cinematográficas. Ela foi a primeira mulher negra a escrever para uma produção de Hollywood, Georgia, Georgia, em 1972. Continuou a atuar na televisão e em filmes, sendo nomeada a um Emmy por sua participação no seriado Roots, em 1977, e dirigindo seu primeiro filme, Down the Delta (1996). Maya foi designada por sucessivos presidentes dos Estados Unidos para desempenhar várias funções. Gerald Ford a nomeou para participar da Comissão do Bicentenário da Revolução Americana, e Jimmy Carter a convidou para trabalhar na Comissão Presidencial do Ano Internacional da Mulher. Um dos propulsores da fama de Maya Angelou nos anos 1990 foi a leitura de seu poema On the pulse of morning na cerimônia de posse do presidente Bill Clinton, transmitida para o mundo inteiro. Em 2010, Maya recebeu a mais alta condecoração civil americana, a Presidential Medal of Freedom, das mãos do então presidente Barack Obama.

Mesmo muito debilitada fisicamente nos últimos anos de vida, Angelou continuava a trabalhar. Quando faleceu, em 2014, causando comoção internacional, escrevia uma oitava biografia contando detalhes de seu relacionamento com líderes nacionais e mundiais. Durante seu memorial em Wake Forest University, seu filho Guy Johnson lembrou que, apesar da constante dor que sentia, ela escrevera quatro livros durante os últimos dez anos. Tendo em vista a grandiosidade de tudo o que representou, não restam dúvidas: o legado de Maya Angelou se alastra rumo à eternidade que foi sua vida.

“Eu aprendi que as pessoas vão esquecer o que você disse, as pessoas vão esquecer o que você fez, mas nunca esquecerão o que você fez elas sentirem.” – Maya Angelou

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Michael Ochs Archives/Getty Images

ECOS DA LEITURA

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ECOS DA LEITURA

Curiosidades

Maya Angelou A vida de Maya foi tão multifacetada que é difícil transmiti-la em poucas páginas. Além de sua influência na arte e na luta contra o racismo, alguns outros fatos são notáveis o suficiente para que qualquer leitor mereça saber.

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ECOS DA LEITURA

Durante os anos 1990, Maya escreveu diversos livros para crianças, incluindo A vida não me assusta (1993), que recebeu ilustrações do artista Jean-Michel Basquiat.

Em 1957, Maya lançou seu primeiro e único álbum de música: Miss calypso

Nos anos 1980, porém, ela voltaria à musica: com Roberta Flack, escreveu a canção And so it goes. Angelou também fez colaborações com os artistas de R&B Ashford & Simpson para o álbum Been Found, responsáveis por colocar o nome da artista por três vezes nas listas da Billboard. Em 2007, ela e o jazzista Wynton Marsalis fizeram uma colaboração chamada Music, deep rivers in my soul, que traça a história da música afro-americana.

Maya ganhou três Grammy’s, foi indicada a um Emmy e recebeu vários prêmios por sua atuação em diversos campos da arte. Influenciou, também, diversos músicos e cantores como Steven Tyler, Fiona Apple e Kanye West.

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A partir de Eu sei porque o pássaro canta na gaiola, Maya Angelou fez repetidamente o mesmo ritual de escrita: ia para um hotel pela manhã e alugava um quarto no qual os funcionários eram instruídos a remover os quadros da parede. Ela, então, escrevia deitada na cama, com uma garrafa de xerez, um baralho de cartas para jogar Solitário, o dicionário de sinônimos Roget’s Thesaurus e a Bíblia, e iria embora somente ao fim do dia.

Apesar da repercussão positiva, Eu sei por que o pássaro canta na gaiola também foi criticado por muitos pais, o que levou a seu banimento, no anos 1980, das escolas americanas. A obra chegou a ser considerada uma das dez mais frequentemente banidas das salas de aula e bibliotecas dos Estados Unidos.

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O título da obra do mês é inspirado neste trecho do poema de Paul Laurence Dunbar:


I know why the caged bird sings, ah me, When his wing is bruised and his bosom sore,— When he beats his bars and he would be free; It is not a carol of joy or glee, But a prayer that he sends from his heart’s deep core, But a plea, that upward to Heaven he flings— I know why the caged bird sings!

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ECOS DA LEITURA

Dunbar, aliás, é creditado por Maya como inspiração para sua carreira de escritora – ao lado de Shakespeare.

Além do inglês, Maya falava outras cinco línguas: francês, espanhol, hebraico, italiano e fanti (uma das línguas de Gana).

Celebridades de todos os campos artísticos costumavam ir à casa de Maya para pedir conselhos. Em uma entrevista em 2013, comentou que nomes como Richard Pryor, Dave Chappelle e Chris Rock já a haviam visitado e foram recebidos por ela como suas “crianças”.

Se você quiser saber mais sobre Maya, há na Netflix um documentário especial sobre a autora: Maya Angelou – e ainda resisto (2016), de Bob Hercules e Rita Coburn Whack.

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ECOS DA LEITURA

Segregação racial e os ativistas dos direitos civis americanos Embora a escravidão tenha sido abolida, depois de quatrocentos anos, em 1863, durante a Guerra Civil americana, a segregação racial continuava existindo nos Estados Unidos. Ao longo dos anos, emendas foram surgindo para garantir direitos civis, como o do voto, por exemplo, aos cidadãos afro-americanos. Algumas decisões governamentais, entretanto, iam na direção contrária e perpetuavam a discriminação. Em 1896, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu a constitucionalidade do direito dos estados da União de impor a segregação racial em locais públicos sob a doutrina do separate but equal (“separados mas iguais”). Muitos estados, particularmente no Sul, usaram essa decisão como justificativa para aprovar leis restritivas, conhecidas como leis Jim Crow, que relegavam afro-americanos a cidadãos de segunda classe. Em muitas cidades, negros não podiam dividir táxis com brancos, ou entrar em prédios pela mesma por-

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ta. Eram obrigados a beber em bebedouros diferentes, usar banheiros diferentes, frequentar outras escolas, ser enterrados em outros cemitérios. Eram excluídos de restaurantes e bibliotecas públicas. Em parques, via-se a placa: “Negros e cachorros não são permitidos”. Afro-americanos tinham de dar espaço para brancos passarem e eram proibidos de olhar mulheres brancas nos olhos. A Ku Klux Klan, que havia desaparecido, voltou em 1915 – e os linchamentos aumentaram. Apesar disso, a comunidade negra crescia às margens. Estabelecimentos administrados por homens e mulheres negros aumentaram exponencialmente, assim como seu poder econômico. A experiência na Primeira Guerra Mundial, acompanhada da exposição a diferentes visões raciais na Europa, influenciou veteranos negros e alimentou reivindicações por liberdades e igualdade nos Estados Unidos e, dessa forma, muitos líderes surgiram. Entre os primeiros, estava William Edward Burghardt “W. E. B.” Du Bois, um dos fundadores do National Association for the Advancement of Colored People (NAACP) e líder do Niagara Movement, grupo ativista que reivindicava os direitos igualitários entre cidadãos estadunidenses. Du Bois – que insistia em direitos civis plenos e na representação política, que seria trazida pela elite intelectual afro-americana – era contrário ao


ECOS DA LEITURA

Atlanta compromise, criado pelo líder Booker T. Washington, que cedia direitos aos negros de maneira submissa às leis dos brancos. Anos mais tarde, outro nome de relevância a surgir foi Rosa Louise McCauley Parks, ativista conhecida pela participação nos Boicotes aos Ônibus de Montgomery. Em dezembro de 1955, Parks recusou-se a dar lugar a um passageiro branco no lugar destinado aos negros, o que acarretou em sua prisão. Parks tornou-se um dos ícones do Movimento dos Direitos Civis, viajando e proferindo palestras sobre o incidente, que resultaria na oficialização do boicote por líderes sociais e na criação do Montgomery Improvement Association (MIA), organização que teve como primeiro presidente Martin Luther King Jr., na época um jovem ministro ainda desconhecido. Em 1957, Luther King Jr. criou o Southern Christian Leadership Conference (SCLC), com o qual liderou protestos pacifistas contra a segregação racial. Ele também foi um dos responsáveis pela Marcha sobre Wa shintgon, em 1963, em que fez seu famoso discurso “I Have a Dream” (“Eu tenho um sonho”). No ano posterior, King recebeu o Prê-

W.E.B Du Bois

Rosa Louise McCauley Parks

mio Nobel da Paz por combater a desigualdade racial por meio da resistência não violenta. Malcolm X, por outro lado, não via com simpatia as ideias de King e criticou com veemência a Marcha em Washington. Conhecido por sua política radical, o defensor dos direitos dos afro-americanos conseguiu mobilizar brancos e negros na conscientização sobre os crimes cometidos contra a população negra nos Estados Unidos, conduzindo uma parte do movimento racial nas décadas de 1950 e 1960, ao defender três pontos fundamentais: o islamismo, a violência como método para autodefesa e o socialismo. Apesar de contrários política e ideologicamente, Martin Luther King Jr. e Malcolm X foram dois dos ativistas mais importantes da história americana, mobilizando e inspirando todas as gerações posteriores. Seus brutais assassinatos deixaram o país estarrecido e de luto, mas seus ideais seguiram fortes e marcaram ativistas que viriam depois. Entre eles, estava Maya Angelou, amiga íntima de ambos, que começou sua própria revolução com a publicação de Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, em 1970.

Martin Luther King Jr.

Malcolm X

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ECOS DA LEITURA

Maya Versos de

A

ntes mesmo de escrever em prosa, Maya Angelou se considerava exclusivamente poeta e dramaturga. Embora hoje seja mais conhecida por seus livros autobiográficos, a autora teve uma produção prolífica de poesia e chegou a concorrer ao Pulitzer com a coletânea Just give me a cool drink of water ‘fore I diiie (1971). Muitas das canções que escreveu durante os anos 1950, quando se envolveu com o teatro e a música, foram parar em suas coletâneas de poesia. No início de sua carreira literária, essas compilações se alternavam com as publicações das autobiografias da autora.

E, assim como nas autobiografias, os temas mais recorrentes da poesia de Maya Angelou eram o amor, as perdas dolorosas, a música, a discriminação, o racismo e a escravidão. Ela trabalhou também com a descrição da beleza e a força

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da mulher negra, criticou a guerra no Vietnã e pediu por justiça na sociedade. Seu estilo, não facilmente categorizado, utiliza-se da linguagem oral, muitas vezes agressivo, e remete a estruturas e a cadências musicais – em especial, do blues. Além de livros, Angelou também publicou poemas únicos – alguns deles foram recitados em cerimônias especiais. Além da famosa leitura de “On the pulse of the morning”, na posse de Bill Clinton, em 1993, destacam-se “A brave and startling truth”, na comemoração dos 50 anos das Nações Unidas, “We had him”, lida por Queen Latifah no funeral de Michael Jackson e “His day is done”, escrito em homenagem a Nelson Mandela e publicado em forma de livro. Apresentamos, aqui, um de seus poemas mais famosos, em tradução gentilmente cedida por Francesca Angiolillo.


ECOS DA LEITURA

Ainda assim me levanto Tradução de Francesca Angiolillo.

Você pode me inscrever na história Com as mentiras amargas que contar Você pode me arrastar no pó, Ainda assim, como pó, vou me levantar.

Você pode me fuzilar com palavras E me retalhar com seu olhar Pode me matar com seu ódio Ainda assim, como ar, vou me levantar.

Minha elegância o perturba? Por que você afunda no pesar? Porque eu caminho como se tivesse Petróleo jorrando na sala de estar.

Minha sensualidade o agita? Você, surpreso, se consterna Ao me ver dançar como se tivesse Diamantes entre as pernas?

Assim como a lua ou o sol Com a certeza das ondas no mar Como se ergue a esperança Ainda assim, vou me levantar.

Das choças dessa história vergonhosa Eu me levanto De um passado que se ancora doloroso Eu me levanto Sou um oceano negro, vasto e irrequieto Indo e vindo contra as marés me elevo.

Você queria me ver abatida? Cabeça baixa, olhar caído, Ombros curvados como lágrimas, Com a alma a gritar enfraquecida? Minha altivez o ofende? Não leve isso tão a mal Só porque eu rio como se tivesse Minas de ouro no quintal.

Esquecendo noites de terror e medo Eu me levanto Na luz nunca tão clara da manhã bem cedo Eu me levanto Trazendo os dons dos meus antepassados Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos Eu me levanto Eu me levanto Eu me levanto.

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ESPAÇO DO ASSOCIADO

T TAG Pets

Em maio deste ano, recebemos de Milton Hatoum a seguinte mensagem, acompanhada da clássica foto com o gatinho na caixa do livro que enviamos ao nosso curador de maio:

Olá, pessoal!

Recebi as caixas da TAG. Muito obrigado. A edição ficou belíssima. Gostei também do “Caderno TAG”, com a entrevista e ótimos artigos. Na “Arte & Letra” (Curitiba), onde lancei A noite da espera, várias pessoas já estavam lendo e apreciando o romance de Salih. Espero que a recepção dos leitores seja positiva. Parabéns a toda a equipe.

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ESPAÇO DO ASSOCIADO

Assim como ele, nossos associados também adoram compartilhar fotos dos seus pets nas caixinhas da TAG. Porém, elas não são mais exclusividade dos gatinhos!

Quer ver mais dessas fofuras?

É só entrar no app da TAG Curadoria e acompanhar as novidades dos leitores e seus amigos peludos – ou penados, escamados, etc... 29


LEIA DEPOIS DE LER

Este espaço foi pensado para você retornar à leitura da revista depois de ter terminado o livro. Aqui, mensalmente, um dos colunistas do nosso blog - taglivros.com.br/blog - vai produzir um texto especialmente para você analisar de forma mais complexa a obra.

Spoiler!

Bicando a porta da gaiola Carol Bensimon Em 2003, o Museu da Tolerância de Los Angeles inaugurou uma exposição permanente que trata da vida de quatro figuras notáveis: o músico Carlos Santana, o ator Billy Crystal, o jogador de beisebol Joe Torre e a escritora Maya Angelou. Se você visitar esse prédio marrom escalonado perto de Beverly Hills, vai encontrar em uma das salas a réplica do Mercado de Stamps, Arkansas, onde Maya passou boa parte de sua infância. Estão lá os picles e a farinha que a pequena Marguerite pesava com exatidão. “Nesse mundo de fast food”, disse Angelou durante o evento de abertura, “todo mundo se sente como um pedaço de grama. Na verdade, nós somos árvores. Temos raízes. Não podemos ser eliminados com um cortador de grama. Com um passado, podemos ficar mais eretos”. Maya Angelou faleceu onze anos depois, em 2014, mas suas me-

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mórias permaneceram tão sólidas quanto árvores e quanto a recriação daquele mercadinho sulista em plena Califórnia: Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, o primeiro de sua série de livros autobiográficos, é um campeão de vendas há décadas e uma inspiração potente que ultrapassa gerações. Trata-se de um desses casos em que uma trajetória pessoal dá voz a todo um povo oprimido. O livro abrange um período que vai de 1931 a 1945 – do momento em que Marguerite e o irmão Bailey são enviados para morar com a avó, no sul dos Estados Unidos, até o desenrolar de um fato marcante que inaugura a vida adulta da autora. Conforme a primeira cena do romance autobiográfico sugere, a infância de Marguerite será marcada por um forte sentimento de inadequação. Ainda assim, há


LEIA DEPOIS DE LER

muitos episódios singelos, mais felizes do que tristes: o sabor de certas comidas, a comunhão com Bailey, a descoberta da leitura. Por mais dura que seja a infância, sempre tendemos a olhar para ela com um carinho saudosista. A maturidade, depois, vai alargando o mundo. Nos primeiros anos em Stamps, o território de Marguerite parece restrito à casa, ao Mercado e ao quintal, o que de certa maneira a protege das questões políticas, do preconceito e da precariedade da vida do negro sulista no período do Entre Guerras. É como se ela visse as mazelas do outro somente pelo buraco da fechadura, sem entender muito bem os “comos” e os “porquês”. Às vezes, no entanto, essa crueza do mundo externo invade seu espaço, como na cena em que as meninas brancas pobres humilham sua avó, ou naquela em que o tio Willie se esconde em um tonel para evitar um possível linchamento. A prosa de Angelou, que tem rompantes poéticos, mas que também sabe ser contida e antissentimental, acaba dando força a cenas de violência atroz. Um bom exemplo é o encontro com o dentista branco que se recusa a tratá-la. É triste pensar que a violência que atravessa a infância de Marguerite também vem de onde menos se espera: do núcleo familiar, ou melhor,

do núcleo familiar reconstituído, com a presença do Sr. Freeman e, posteriormente, de Dolores. A formatura do ensino médio vem inaugurar uma nova fase na vida de Marguerite, mas a aura de possibilidades excitantes se destrói no momento em que um branco entra em cena para fazer um discurso preconceituoso. Negros devem se contentar com menos e, se tudo der certo, podem virar atletas, é o que diz o homem nas entrelinhas, estimulando parágrafos de revolta e decepção por parte da narradora: “Os alunos brancos teriam a chance de se tornar Galileus e Madames Curie e Edisons e Gauguins, e nossos garotos (as meninas nem estavam na conta) tentariam ser Jesses Owens e Joes Louis”. Em São Francisco, com 16 anos, Marguerite se torna a primeira negra a trabalhar nos bondes da cidade. É o primeiro passo de uma bonita e sofrida caminhada em busca de dignidade e expressão. Ao longo das décadas seguintes, Maya Angelou vai se tornar uma referência fundamental, lida e cultuada no mundo inteiro. Mas, naquela tarde, sentada no escritório da Railway pela enésima vez, pronta para fazer uma bateria de exames e preencher intermináveis formulários, Maya sabia que a luta estava apenas começando.

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A PRÓXIMA INDICAÇÃO

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O curador de outubro Alejandro Zambra

A curadoria do mês de outubro está nas mãos do chileno Alejandro Zambra, poeta, romancista, ensaísta e um dos nomes mais celebrados da literatura latino-americana contemporânea. Licenciado em Literatura Hispânica na Universidade do Chile e com doutorado em Literatura pela Universidade Católica do Chile, Zambra já foi eleito um dos melhores escritores jovens de língua espanhola pela revista britânica Granta.

ULF Andersen/Getty

Convidado a fazer parte do time de curadores da TAG, Zambra indicou um romance instigante, obra-prima de um aclamado autor italiano que a publicou há mais de 70 anos. Um

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jovem oficial do Exército é convocado para servir num forte e deposita grandiosas expectativas nessa experiência. O que ele encontra, no entanto, é frustrante – e os acontecimentos que sustentam a narrativa desvelam, pouco a pouco, angustiantes questionamentos existenciais. O estilo sóbrio e alegórico do livro – que fez seu autor ser comparado a Kafka – e sua temática que permanece relevante nos dias de hoje dificilmente passarão despercebidos por todos aqueles que já se viram imobilizados e seduzidos pela rotina e, a partir da espera, temem renunciar à própria vida.

“Apesar de sua brevidade, este é, sem dar lugar a dúvidas, um dos grandes romances sobre espera da literatura do século XX.”


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“A liberdade tem que ser total. Um pedaço de liberdade não é liberdade.” – Max Stirner


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