Take 32

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MOTORES

TAKE.COM.PT | ANO 6 | NÚMERO 32


TERCEIRA A FUNDO CARLOS REIS

Depois de uma edição dedicada a décadas de glamour e bom cinema em Cannes e de um número com cerca de cento e quarenta páginas sobre filmes e séries apocalípticas, os poucos mas extraordinários escribas da redacção virtual da Take Cinema Magazine decidiram aproveitar a estreia de Rush como desculpa para encher o depósito em tempo de calor e férias e olear o teclado para a afinação de mais um exemplar temático único, desta vez dedicado aos mais diversos motores que deixaram a sua marca em gerações infindáveis de cinéfilos. Dos clássicos Bullit ou Vanishing Point às mais recentes sagas como The Fast and the Furious ou The Transporter, dos intemporais DeLorean DMC-12 ou Shelby Mustang GT 500 à mais contemporânea Pussy Wagon de Tarantino, do imponente Boeing 747 de Air Force One ao pequeno mas corajoso Orca de Jaws, a Take tentou não esquecer-se de nenhuma máquina que deixasse o "Stig" cinéfilo presente dentro de cada um dos nossos leitores chateado. Por falar em "Stig"... sim, estivemos à conversa com o homem que se escondeu num fato e capacete branco durante treze temporadas de Top Gear, descobrindo muitos dos seus segredos cinéfilos e abordando ainda a sua polémica saída do show da BBC, após ter revelado à revelia da produção a sua identidade. Por isso, camaradas desta longa guerra que teve início em Fevereiro de 2008, façam o favor de se sentar no lugar do pendura e aproveitar a boleia; pode ser que o homem ao volante do nosso Aston Martin seja o vosso bem conhecido Bond, James Bond.



ARTIGOS

ANTEVISÕES

02 Terceira a fundo . editorial 06 11 carros que marcaram o cinema 12 Velocidade Furiosa 18 Aviões, Barcos e Motas 28 A Fórmula no cinema 42 Drive-ins 46 James Bond 50 Perseguições memoráveis 60 15 filmes onde os carros brilharam mais alto 78 O fenómeno Top Gear 82 À conversa com Ben Collins 88 Stand Automóvel

32 Rush - Duelo de Rivais

CRÍTICAS 34 Um momento, uma vida 36 O grande prémio 40 Senna 62 The great race 63 Bullitt 64 The italian job 65 Les Mans 66 Duel 67 Vanishing point 68 Death race 2000 69 Grand theft auto 70 Days of thunder 71 Crash 72 Gone in sixty seconds 73 Driven 74 The transporter 75 Death proof 76 Holy motors

Director José Soares. josesoares@take.com.pt Editor Carlos Reis. editor@take.com.pt Editor adjunto João Paulo Costa. editor.adj@take.com.pt Colaboraram nesta edição Aníbal Santiago. Carlos Reis. João Paulo Costa. Miguel Ferreira. Nuno Reis. Pedro Miguel Fernandes. Pedro Soares. Sandra Gaspar. Sara Galvão. Tiago Silva. Design José Soares. Imagens Arquivo Take. Alambique. Big Picture Films. Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema. Clap Filmes. Columbia TriStar Warner Portugal. Costa do Castelo Filmes. Fox Portugal. Films 4 You. iStock. LNK Audiovisuais. Leopardo Filmes. ZON Lusomundo Audiovisuais. Midas Filmes. Pris Audiovisuais. Sony Pictures Portugal. Universal Pictures Portugal. Valentim de Carvalho Multimédia. Vendetta Filmes. Imagem de capa Still do filme The Man with the Golden Gun de Guy Hamilton

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11 CARROS QUE MARCARAM O CINEMA

CHEVY NOVA JOÃO PAULO COSTA

Foram dezenas, senão centenas, os carros que deixaram a sua marca no cinema e em gerações de cinéfilos que se apaixonaram muitas vezes não só pelos filmes, mas também pelos bólides que queimavam pneus em cidades tão icónicas como São Francisco, Nova Iorque ou Paris. Mesmo sem terem como enfoque o automobilismo, são vários os exemplos cinematográficos em que um ou outro carro ganhou praticamente o estatuto de personagem dentro da narrativa, tornando-se assim figura da cultura pop norte-americana e internacional. Do poderoso e imponente Shelby Mustang GT 500 de Gone in 60 Seconds ao DeLorean DMC-12, autêntico símbolo de uma trilogia inesquecível, a Take Cinema Magazine decidiu escolher onze carros tão ou mais famosos que os filmes em que entraram e descobrir não só o que é feito deles, como a razão de tanto charme e admiração entre adeptos da velocidade, gulosos da pipoca ou simplesmente fãs da Sétima Arte.

Quando Tarantino pretendeu informar-se junto de um coordenador de duplos sobre a ideia de tornar o seu automóvel 100% seguro, acabou a escrever um guião dedicado ao assunto. E assim nasceu o agora famoso Chevy à prova de morte que, conduzido por Stuntman Mike (Kurt Russell) um psicopata também ele com historial como duplo em arriscadas cenas de automobilismo, se tornou numa arma mortífera. No filme, o carro é completamente destruído após ceifar diversas partes dos corpos de um grupo de miúdas jeitosas, mas a protecção funciona na perfeição e Mike, após uma orgásmica estadia no hospital para curar uns ossos partidos, depressa está em condições de voltar à estrada e colar outras tantas nínfetas aos estofos. O Chevy e o seu patinho colado no capot não têm tanta sorte, mas provavelmente chegaram ao fim do caminho com um sorriso nos lábios. Filme: Death Proof Realização: Quentin Tarantino Ano: 2007

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DELOREAN DMC-12

FERRARI 250 GT SPYDER CALIFORNIA

ANÍBAL SANTIAGO

SARA GALVÃO

Conhecido como o carro da trilogia Regresso ao Futuro, o DeLorean DMC-12 foi produzido entre 1981 e 1982 pela empresa DeLorean Motor Company. Mais do que pelas suas características, este modelo tornou-se icónico graças à saga Regresso ao Futuro, onde o excêntrico e inventivo Dr. Emmett Brown alterou o veículo de forma a transformá-lo numa máquina para viajar no tempo. No caso do primeiro filme da saga, Marty McFly tem de utilizar o DeLorean para viajar em direcção ao passado para evitar a morte de Emmett, mas logo acaba por ir parar a 1955 e deparar-se com os seus pais, indo inadvertidamente alterar o curso da história, algo que o vai obrigar a ter de fazer de tudo para juntar os seus progenitores. O DeLorean real não permite viagens no tempo, mas contou com um enorme culto à sua volta, mesmo após ter deixado de ser produzido.

Os pais de Ferris Bueller deram-lhe um computador em vez de um carro. E quando o vemos o prazer com que entra no Ferrari do pai de Cameron, é fácil perceber a afronta - para o miúdo que valoriza a liberdade acima de tudo, um carro é um bilhete para a aventura e a fuga às responsabilidades - veja-se a alegria épica dos dois trabalhadores no parque de estacionamento quando o levam para umas, err, voltinhas. Já para Cameron, o carro é uma lembrança de que a vida familiar está longe de ser ideal, e por isso deixar Ferris conduzir o menino querido do pai é dar o primeiro grito de independência - que se apura quando ele resolve assumir responsabilidade pela “morte” do Ferrari. Tudo isto para dizer não há nada melhor do que um Ferrari para viver um bocadinho.

Filme: Back to the Future

Filme: Ferris Bueller’s Day Off

Realização: Robert Zemeckis

Realização: John Hughes

Ano: 1985, 1989, 1990

Ano: 1986

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FORD MUSTANG GT

MINI COOPER S

ANÍBAL SANTIAGO

ANÍBAL SANTIAGO

O Ford Mustang começou a ser produzido em Dearborn, no Michigan, a partir de Março de 1964, tendo sido apresentado pela primeira vez ao público a 17 de Abril de 1964 na New York World's Fair. O veículo gerou uma enorme popularidade, tendo sido criadas várias variantes, entre as quais o Ford Mustang GT, utilizado em Bullitt, um marcante filme de acção realizado por Peter Yates. Com este veículo, Frank Bullitt (Steven McQueen), um polícia que procura a todo o custo fazer cumprir a lei numa cidade de San Francisco marcada pelo crime, protagoniza uma perseguição marcante pelas estradas, demorada e incrivelmente entusiasmante. Esta perseguição demorou cerca de três semanas a ser filmada, tendo sido um dos momentos icónicos deste filme e ajudado a popularizar o Ford Mustang junto dos fãs desta obra cinematográfica e do carismático Frank Bullitt.

Criados pela British Motor Corporation, os Mini surgiram como automóveis de reduzidas dimensões e visual apelativo, cujas mudanças introduzidas posteriormente por John Cooper permitiram incrementar as capacidades do veículo. Estes automóveis surgiram em grande estilo em The Italian Job, um filme realizado por Peter Collinson, onde um grupo de criminosos desenvolve um assalto em Itália, tendo como veículos de fuga... três Mini Coopers S. Conduzidos pelos astutos criminosos, estes veículos surpreendem em algumas cenas emotivas e icónicas, enquanto atravessam alguns locais históricos e turísticos italianos tais como a Via Roma, a igreja Gran Madre de Dio, entre outros, sempre a grande velocidade.

Filme: Bullitt

Filme: The Italian Job

Realização: Peter Yates

Realização: Peter Collinson

Ano: 1968

Ano: 1969

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PLYMOUTH FURY

PORSHE 928

JOÃO PAULO COSTA

CARLOS REIS

Aparentemente, Christine é mais uma entre os da sua espécie: bonita, com estilo, e bem a par das tendências da moda de 1957, mas por detrás dessa aparentemente perfeição made in America esconde-se uma alma sombria e violenta. Falta referir que Christine é um Plymouth Fury produzido em série pela Chrysler numa fábrica em Detroit. E é esse mesmo automóvel pelo qual se apaixona Arnie, o jovem adolescente que o compra por uma pechincha a um sucateiro local, ignorando as tendências homicidas do veículo, restaurando-o e devolvendo-lhe a beleza perdida com o tempo. Christine é uma criação de Stephen King adaptada por John Carpenter para o grande ecrã e uma deliciosa metáfora sobre a adolescência: as obsessões e rebeldias resultantes do desejo de independência e sobretudo da descoberta sexual. Um slasher metalizado pintado a vermelho bem vivo

Considerado o Porsche mais famoso da história cinematográfica segundo uma sondagem recente entre os adeptos da marca, o 928 de 1979, com caixa manual de cinco velocidades, tornou-se um carro de culto nos anos oitenta, muito por culpa do sucesso que fez com Tom Cruise ao volante e Rebecca De Mornay no banco do pendura no filme em que cantarolar "Old Time Rock and Roll" lançou o adolescente Tom para uma das mais conseguidas carreiras da sua geração em Hollywood. Tendo sido o carro no qual, segundo o produtor Jon Avnet, Cruise aprendeu a conduzir, o 928 que supostamente tinha sido "afogado" algures no Lago Michigan foi vendido no Verão de 2012 em leilão por 37 mil euros, quantia nada má tendo em conta que o mesmo já contava com cerca de 170 mil quilómetros nas suspensões e é, para muitos, um dos piores Porsches de sempre em termos de mecânica.

Filme: Christine

Filme: Risky Business

Realização: John Carpenter

Realização: Paul Brickman

Ano: 1983

Ano: 1983

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CHEVROLET C-2500 CREW CAB SILVERADO

SHELBY MUSTANG GT 500

SARA GALVÃO

PEDRO MIGUEL FERNANDES

A primeira vez que vemos a peculiar carrinha que A Noiva conduz, não percebemos porque é que uma assassina em busca de vingança escolheria um carro tão indiscreto. Claro, é o carro perfeito para Buck, o dono, que vende o corpo de comatosas para fins de divertimento privado, e como a cavalo roubado não se olha o dente, torna-se sem dúvida a ironia sobre quatro rodas, um cavalo do Apocalipse para a vingança sobre Bill e um hino acidental ao girl power encarnado por Thurman. Não percebemos bem o que acontece ao veículo - no segundo volume apenas nos é dito que “morreu”, mas postumamente tornar-se-ia num ícone pop por direito próprio, ao ser usado pelo próprio Tarantino como veículo pessoal e no videoclip “Telephone” de Lady Gaga.

Grandes máquinas, perseguições em alta velocidade e ladrões de automóveis. Estes são os ingredientes de Gone in Sixty Seconds (60 Segundos, título em português), filme que marcou a estreia de Dominic Sena na realização. Numa fita rodeada de bombas, autêntico sonho para qualquer amante dos veículos de quatro rodas, a joia da coroa é um Shelby Mustang GT 500, que já tinha sido o ‘protagonista’ do filme original homónimo, no qual se baseia este remake protagonizado por Nicolas Cage. É este o alvo principal do grupo de ladrões liderado por Cage, que num piscar de olho ao filme original vai buscar também o nome de código: Eleanor. Para a história ficam magníficas perseguições, que culminam num salto por cima de um engarrafamento na Ponte Vincent Thomas, em Los Angeles.

Filme: Kill Bill

Filme: Gone in Sixty Seconds

Realização: Quentin Tarantino

Realização: Dominic Sena

Ano: 2003

Ano: 2000

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VOLKSWAGEN BEETLE

XB GT FORD FALCON COUPÉ

PEDRO MIGUEL FERNANDES

CARLOS REIS

Há carros que ganham estatuto de ícone e tornam-se reconhecíveis à légua. O Volkswagen Beetle é um desses e na Sétima Arte o carocha, como ficou conhecido em Portugal, tornou-se famoso numa série de comédias da Disney estreada em 1968 com The Love Bug (Se o Meu Carro Falasse, no título português). Desde então o Herbie, um carocha de corrida que ganha vida, protagonizou mais quatro filmes e um telefilme, assim como uma série de televisão. A sua última aparição no grande ecrã teve lugar em 2005, num título destinado a recuperar o mítico personagem de quatro rodas, apresentando-o às novas gerações. No papel principal de Herbie: Prego a Fundo encontramos Lindsey Lohan, que acabaria por utilizar o carocha como veículo para lançar a sua acidentada carreira.

Um "mad" Ford para um "Mad Max". Adaptado do exclusivamente australiano XB GT Ford Falcon Coupe de 1973, o desde então chamado "Pursuit Special" tem uma longa história que pode ser descoberta com uma simples pesquisa na internet. 200 cavalos, um motor de 5.8cc e muito estilo, num modelo trabalhado e desenhado apenas para o filme original, mas que acabou por ser repescado para o segundo capítulo da saga com Mel Gibson no papel principal. Preto e com linhas demoníacas, acreditem que este Interceptor só não deu cabo da Tina Turner no fim da trilogia porque não sobreviveu - na narrativa, não na vida real, onde continua vivo e de saúde na casa de Bob Fursenko, um fã da saga - a uma perseguição violenta na primeira sequela. De resto, não houve barbudo de dentes podres que lhe resistisse.

Filme: The Love Bug

Filme: Mad Max

Realização: Robert Stevenson

Realização: George Miller

Ano: 1968

Ano: 1979

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VELOCIDADE FURIOSA CARROS, FAMÍLIA, E A GENIALIDADE DA MÁQUINA DE HOLLYWOOD SARA GALVÃO

Numa calma noite de Verão, Rob Cohen leu um artigo na revista Vibe intitulado Racer X, sobre um clube de corridas ilegais em Nova Iorque possivelmente enquanto Ruptura Explosiva de Bigalow passava de fundo na tv - e teve a ideia para um filme que iria não só lançar um franchise bastante lucrativo, como dar um pontapé de saída à carreira de Vin Diesel como herói de acção e, claro, abrir todo um mundo de corridas ilegais organizadas por adolescentes por esse mundo fora - porque todos sabemos que filmes como este só podem inspirar o mal, o pecado e o crime.


E talvez a maior parte das pessoas que não tiveram a oportunidade, ou recusaram terminantemente ver qualquer dos filmes da série, pensem que Velocidade Furiosa é mesmo isso, um monte de tipos com ar de criminosos (excepção feita a Paul Wheeler, que é o menino bonito de serviço) a espetarem nitrogénio nos carros desportivos que claramente roubaram e a fazerem corridas desnecessariamente perigosas (para eles e para todos os peões que tiverem o azar de andar pela rua fora de horas) que acabam sempre com carros a explodir e eles a saírem sorridentes e irrealisticamente ilesos dos montes de sucata fumegante. E não estão longe da verdade. Os críticos, aparentemente, partilham uma opinião semelhante. Afinal, a sequela Velocidade Furiosa 2 foi nomeada para dois Razzies, um para Pior Sequela ou Remake e a outra para Pior Desculpa de Sempre para Fazer um Filme (só pipoca, sem conteúdo).

carros, carros, carros. E o filme de Rob Cohen - e os seguintes - dãonos exactamente isso: uma história previsível, a parte inferior de rapariguinhas jeitosas a passearem-se em roupas bastante justas, e mais carros do que se possam contar. Podem ter pedido emprestado as narrativas a outros filmes, mas não quer dizer que não tenham os seus temas chave - a importância da família acima de tudo, e a luta pela supremacia da estrada entre o músculo americano e os carros de tuner japoneses. Família. Não só a de sangue, mas a rede de amigos próximos que nos rodeia. A única coisa mais importante que o Dodger que conduz para Dominic Toretto, interpretado por Vin Diesel. (é fácil esquecer, mas Diesel é um óptimo actor - veja-se a curta-metragem que fez e que atraiu a atenção de Spielberg, Multi-Facied). E se bem que no início Brian (Paul Walker), o polícia sob disfarce, entre no grupo apenas para fazer o seu trabalho, o espírito de camaradagem, apoio e amizade entre os membros do gangue que ele tem como missão apanhar, destroem quaisquer dúvidas que Brian possa ter - ele é um deles, e como um deles quer ficar. Ter uma família significa uns crimezitos aqui e ali? Pois assim seja.

Como explicar então os resultados de bilheteira, e os anunciados Velocidade Furiosa 7, 8 e 9? Estarão as audiências cinéfilamente educadas cegas a algo óbvio para qualquer miúdo de 12 anos? Ou as audiências de hoje são miúdos de 12 anos? Vamos ser honestos - ninguém vai ao cinema ver um filme chamado Velocidade Furiosa pelas subtilezas da trama. Vai-se para ver perseguições de carros, corridas de carros, carros a capotarem,

Um aparte. Já não estamos nos anos 50 (se bem que as presentes situações políticas pelo mundo fora pareçam semelhantes), mas um 14


filme que glorifica crime e corridas ilegais não pode ter uma vida fácil na máquina de bolinhas de sabão cor-de-rosa que é Hollywood. Daí a importância de dar aos nossos amigos criminosos um “ideal” por que lutar, e um “vilão” para lutar contra. Porque uma coisa é roubar peças de carros para salvar o carro de um miúdo que foi parar às mãos dos mauzões, outra é matar o referido miúdo à queima-roupa. Assim Dominic e a sua trupe ganham uma aura de Robin dos Bosques que nos permite ficar contentes quando eles fogem à polícia com uma montanha de dinheiro (porque, bem, o dinheiro era de uma barão da droga e eles merecem ter uma vida melhor).

diz a Han e a Chris para a deixarem a ela e à agente Riley Hicks ir falar com o suspeito de construir o super-carro que os maus da fita usam porque “são mulheres”. Quer isto dizer que vão seduzir o indivíduo até ele lhes dar as respostas? Não. Vão bater-lhe até quase à morte. Não me parece justo pedir profundidade às personagens femininas num filme onde poucas são as personagens que a têm, mas quando há modelos femininos como Gisele, Mia e Lety - e Gisele altera o papel tradicional dos géneros ao sacrificar a vida para salvar o amado - gritos de sexismo parecem-me despropositados. De volta à trama. Dominic e Brian representam dois tipos aparentemente opostos de pessoas, que acabam por ter mais coisas em comum do que julgam. Dominic é o criminoso com grande sentido de honra, o religioso homem de família com um barbeque no jardim, o homem que gosta de músculo americano e prefere um bom Dodger a um emasculado carro japonês, cheio de componentes eléctricas e computadores de bordo. Ele é um condutor da velha guarda, e quando o vemos pela primeira vez ele é o rei invicto das corridas de rua. Já Brian, o polícia com um passado bastante duvidoso, gosta dos carros com acessórios, e sente-se mais seguro ao volante de um motor japonês. Quando correm um contra o outro, Dominic vence sempre - algumas das vezes mais por esperteza do que pelo carro que conduz, se bem que Brian não hesita em chamar

E já que estamos nos apartes, falemos do que a maior parte das mulheres gosta de falar quando posta em frente de um filme como este. De referir, o número de planos feitos de posteriores femininos e do inerente sexismo que vai de mão dada com qualquer filme claramente direccionado ao público masculino. Bem, deve haver uma falha no meu sistema genético, porque não consigo ver sexismo em nenhum dos filmes (bem, talvez um bocadinho no terceiro, mas nada demasiado gritante). O que vejo é um punhado de boas actrizes, Michelle Rodriguez, Jordana Brewster, Devon Aoki, Gal Gadot e Elsa Pataky, que mostram ser tão passíveis de serem heroínas de acção como qualquer dos actores com quem contracenam. Numa cena memorável no sexto filme, Gal Gadot, que interpreta Gisele, 15


a isso batota. Portanto, moral dos primeiros filmes, músculo americano vence sempre (não fosse isto um filme feitos nos bons velhos Estados Unidos...). Mas quando Brian vence Dominic pela primeira vez, não quer dizer que de repente a tecnologia tenha vencido a velha guarda - não. Pura e simplesmente Dominic aceita Brian na família que ele tanto desejava. E por vezes, ambos os tipos de carros são necessários para vencer o Mal - ou então nenhum deles é bom o suficiente, e então a esperteza entra novamente em acção (vide Velocidade Furiosa 5).

como deviam (o público americano, sobretudo, não percebeu qual o interesse de ter corridas por uma montanha abaixo, onde a perícia e não a velocidade interessam). Resolveu-se então fazer uma sequela decente do primeiro filme (de certo modo, o segundo e o terceiro filme não estão muito longe da definição de spin-off), e trazer a equipa original de volta. Sucesso. Justin Lin e os executivos da Universal pensaram então que talvez não estivessem a ser ambiciosos o suficiente - se conseguissem elevar os filmes de serem apenas para maníacos da cultura automobilística e os tornassem mais parecidos com Os Incorruptíveis contra a Droga, (ou Ocean’s Eleven + carros, que é a descrição mais exacta do quinto filme) talvez conseguissem expandir as audiências (e as receitas de bilheteira, claro). E talvez trazer Dwayne Johnson (The Rock) para contracenar com Vin Diesel? Os fãs no Facebook mostravam-se bastante ávidos de os ter aos dois no ecrã ao mesmo tempo. Et voilá. Sucesso estrondoso. Claro, os brasileiros ficaram bastante chateados com o retrato das favelas do Rio no filme (que foi filmado em Porto Rico...) e com o sotaque horrendo do nosso Joaquim de Almeida, mas de resto, parecia que os produtores tinham chegado ao fim do arco-íris e encontrado um pote de ouro. Velocidade Furiosa 6 continua na linha do grupo original (com um regresso inesperado), e acrescenta a idiotice do desafio das leis da física (pessoas a voar de um lado para o outro na autoestrada) e possivelmente a maior pista de descolagem da história do

Todos os filmes da série estão relacionados, se bem que não cronologicamente ordenados - nomeadamente, os eventos de Velocidade Furiosa 3 - Tóquio Drift acontecem depois do sexto volume da série. Também há duas curtas relacionadas com a série, Turbo Charged Prelude, que explica rapidamente os acontecimentos entre o primeiro e o segundo filmes, e Los Bandoleros, que acontece entre o segundo e o quarto filmes. Há também muito a aprender com o franchise, do ponto de vista da indústria cinematográfica de blockbusters. O primeiro filme, com Diesel e carros, foi um bom sucesso de bilheteira. O segundo, com carros mas sem Diesel, apenas um sucesso moderado (e um completo fracasso crítico, como referimos acima). O terceiro foi o terror - mesmo no Japão, e elevando a arte da condução ao nível de concentração e prática das artes marciais - as bilheteiras e os fãs não responderam tão positivamente 16


Cinema, da Humanidade e quiçá, do Universo (há mesmo websites que se dedicam a tentar calcular o suposto comprimento da pista, usando cálculos de velocidade do avião para descolagem, duração da sequência, etc. Resultado? Entre 17 a 25 quilómetros.) E Vin Diesel já revelou, haverá um sétimo (em filmagens de momento), oitavo e nono filmes na série. Nove filmes, (quase todos) com as marcas de auteur de corridas ilegais, nitrogénio e Vin Diesel. Não há dúvidas - Velocidade Furiosa pode bem se ter tornado algo bastante diferente das suas origens, mas como o vinho do Porto, a idade melhorou-a definitivamente. É pipoca, mas pipoca caramelizada.

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AVIÕES, BARCOS E MOTAS CARLOS REIS

Não pertencem única e exclusivamente aos carros e a outras viaturas de quatro rodas os motores que fizeram história no cinema, seja pela sua eficácia numa qualquer perseguição policial ou simplesmente pelo estilo e imponência que atribuíram ao seu herói ou vilão. No mar, nos ares ou sobre duas rodas, decidimos também investigar e relembrar uma longa história de casos de sucesso entre o público – por vezes autênticos fenómenos culturais que levaram a milhares de vendas - arriscando um top com três embarcações marítimas, três aeronaves e três motociclos que deixaram uma marca profunda e inesquecível na Sétima Arte.

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BOEING 747 AIR FORCE ONE

Realizado por Wolfgang Petersen, Air Force One é um thriller de acção do final dos anos noventa onde um grupo de terroristas russos liderados pelo inigualável Gary Oldman consegue sequestrar a maior e mais segura fortaleza aérea já construída, nada mais, nada menos do que o avião presidencial norte-americano. Com Harrison Ford no papel do Homem mais poderoso do planeta, o filme conquistou o público – inclusive o então presidente norte-americano Bill Clinton - e a bilheteira, revelando muitos segredos e pormenores do Boeing 747-200B altamente personalizado para servir e proteger o muitas vezes denominado número um do mundo livre.

© PH2 (AW) Daniel J. McLain

Muitos não sabem mas Air Force One é o callsign que o controlo de tráfego aéreo usa para contactar qualquer aeronave da Força Aérea norteamericana que transporte o presidente dos Estados Unidos da América desde 1953, altura em que aconteceu um incidente com uma aeronave que transportava o presidente Dwight Eisenhower devido a uma confusão com dois callsigns idênticos. Depois de dois Boeing 707 presidenciais, o 747 governamental entrou em funções em 1990 e já tem ano marcado para a retirada: 2017. O próximo avião presidencial será, ao que tudo indica, um Boeing 777, apesar de nenhuma fonte oficial o ter confirmado ainda. A rainha dos céus – alcunha desta verdadeira besta aérea de quatro motores e capacidade para cerca de quatrocentos passageiros – está em actividade desde 1969, sendo ainda hoje um dos modelos aeronáuticos mais usados em todo o mundo – foram até 2012 construídos 1458 unidades, sendo companhias bandeira como a British Airways, a Lufthansa, a KLM ou a United Airlines algumas das que mais 747s têm nas suas fileiras. 19


GRUMMAN F-14 TOMCAT TOP GUN

Supersónico e com dois lugares, o Grunman F-14 Tomcat é um dos melhores caças jamais construídos. Desenvolvido pela marinha norteamericana numa altura em que não tinham nenhuma aeronave à altura para combater os MiG na guerra do Vietname, os F-14 acabaram por substituir os F-4 Phantom II e tornar a frota dos Estados Unidos da América tacticamente superior à de qualquer oponente, muito por culpa dos então moderníssimos sistemas e tecnologias de voo que o Tomcat oferecia: navegação ímpar a baixa altitude, mira de infravermelhos para ataques nocturnos e alta precisão de ataque a curta e longa distância.

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Pois bem, aproveitando esta onda mediática em torno dos F-14 após o fim da guerra e baseando-se num artigo de uma revista californiana intitulado "Top Guns", Tony Scott e Jerry Bruckheimer decidiram hollywoodizar o fenómeno em 1986, orquestrando aquele que foi considerado por muitos como um dos filmes mais cool dos anos oitenta: Top Gun. Pouco precisa ser dito sobre o blockbuster que lançou Tom Cruise para a fama - haverá algum leitor que não o tenha visto e não se lembre ainda da deliciosa jukebox musical que dá vida a tantas cenas -, pelo que nos ficamos pelas curiosidades provavelmente desconhecidas sobre as filmagens: a marinha disponibilizou dezenas de F-14 e pilotos para a rodagem, tendo a Paramount pago cerca de 7 mil e 800 dólares por hora de combustível e custos operacionais de cada aeronave que voasse apenas por motivos relacionados com o filme. Cada mudança de rumo no porta-aviões que albergava as descolagens e aterragens dos caças - necessárias por vezes devido à luminosidade ou para apanhar o pôr-do-sol, por exemplo - custou à produção 25 mil dólares. Os Tomcats deixaram de fazer parte da frota norte-americana a 22 de Setembro de 2006, tendo sido substituídos pelos F-18. Ironicamente, hoje apenas a Força Aérea do... Irão conta com F-14 nas suas bases, tendo estes sido cedidos em 1976, nada mais, nada menos, do que pelos Estados Unidos da América, então amigo diplomático do governo iraniano. 20


BOEING 707-300 AIRPLANE!

O Boeing 707-300 foi um avião de longo alcance com quatro motores, fabricado entre 1958 e 1979, com capacidade para transportar entre 140 a 189 passageiros. Considerado o primeiro avião a jacto da Boeing, foi a primeira aeronave a revelar-se um autêntico sucesso comercial a nível de vendas para todo o mundo.

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Não admira pois que tenha tido extrema visibilidade em inúmeras produções cinematográficas e televisivas dos anos sessenta e setenta, já que era o modelo mais usado no planeta. Recentemente a série Pan Am recriou o interior e o exterior do 707-300 para a sua curta existência - a série foi cancelada logo na primeira temporada -, facto normal se tivermos em conta que este foi o avião bandeira da companhia nos seus anos áureos. Mas mais do que ser hoje o avião privado de personalidades como John Travolta, o B707 foi o palco da comédia mais divertida da história do cinema - quem o disse foram os leitores da britânica Empire, numa sondagem realizada em 2012: Airplane!. Sátira de 1980 da Paramount Pictures, Airplane! foi escrito e realizado pela tripla David Zucker, Jerry Zucker e Jim Abrahams. Com Robert Hays, Julie Hagerty, Peter Graves e Leslie Nielsen nos principais papéis, o filme parodiou vários filmes catástrofe do passado, com especial atenção para Zero Hour!, de 1957 e Airport, de 1975, nos quais baseou a sua premissa e personagens chave. Relembrado hoje pelo mistura praticamente perfeita entre comédia de ocasião e o mais puro absurdo, visual ou verbal, Airplane! foi um sucesso comercial nos Estados Unidos da América, custando apenas três milhões e meio de dólares e arrecadando, apenas na bilheteira, cerca de 83 milhões de dólares. 21


RMS TITANIC TITANIC

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Quem não viu o Titanic de James Cameron que se acuse. Certo, ninguém. Primeiro filme a alcançar a marca do bilião de dólares em receitas chegou aos 1.84 biliões nesse ano e o seu recorde só foi ultrapassado já em 2009 por Avatar, Titanic venceu onze das catorze categorias para as quais estava nomeado nos Óscares, incluindo as muito desejadas estatuetas para Melhor Filme e Melhor Realizador. Mas a verdade é que o mega blockbuster de Cameron não foi o único filme a focar-se no histórico desastre marítimo de 1912: Saved from the Titanic foi lançado apenas vinte e nove dias após o naufrágio e contava com uma sobrevivente do acidente como actriz principal: a estrela do cinema mudo Dorothy Gibson; já o britânico A Night to Remember, do final dos anos cinquenta, é ainda hoje considerado o relato historicamente mais fiel e preciso do naufrágio, mesmo que seja raramente recordado como filme-chave na recomposição da vida do RMS Titanic depois do épico de Cameron ter aparecido. Detalhes do RMS Titanic? Construído em Belfast, na Irlanda, o seu nome surge da mitologia grega, com o significado Gigante. Com 269 metros de comprimento, 28 metros de largura e 32 metros de altura, o RMS Titanic pesava 52,310 toneladas e, entre passageiros e tripulação (cerca de novecentos), conseguia transportar aproximadamente 3.547 pessoas. E luxo, muito luxo... que infelizmente de nada serviu para evitar que dois terços dos azarados a bordo falecessem na fatídica viagem que atirou o Titanic para os livros de história. 22


ORCA JAWS

"Acho que vamos precisar de um barco maior" é talvez uma das citações mais famosas não só das grandes obras da carreira de Steven Spielberg, como uma daquelas frases que não passa despercebida a nenhum cinéfilo que se preze. Pequeno ou não, a verdade é que nunca houve um barco tão minúsculo que se portasse tão bem perante tamanho desafio, fiel ao seu nome - "Orca" -, único animal capaz de fazer frente - e vencer - ao grande Tubarão Branco. Do mesmo tamanho da ameaça que deu nome ao filme, a "Orca" nunca deu parte fraca e transformou uma batalha aparentemente desigual numa guerra para colocar a ordem correcta na cadeia alimentar: Homem > Tubarão.

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Protótipo para todos os sucessos de Verão que se seguiram, Jaws é para muitos considerado o "pai" dos blockbusters e tornou-se o filme mais rentável de sempre na altura da sua estreia, estatuto que manteve até à estreia da saga Star Wars. Após as filmagens, a "Orca" foi comprada por um técnico de efeitos especiais, que restaurou o barco e usou-o para recreio na costa californiana. Quando a fita foi lançada e transformou-se no "monstro" de bilheteiras que todos sabemos, o estúdio comprou de volta o barco ao técnico por uma fortuna e tornou-o numa das atracções da Universal Studios em Los Angeles durante décadas. Em 1996, e devido ao seu mau estado, a Universal tentou levantar a "Orca" com alguns cabos para o restaurar, operação que deu para o torto, tendo o barco acabado por partir-se aos bocados, sem reparação possível. Outra "Orca" usada exclusivamente para as cenas de ataque do tubarão mecânico esteve durante anos e anos abandonada no porto de Menemsha, em Rhode Island, até ao dia em que desapareceu durante os anos noventa, sendo hoje o seu paradeiro desconhecido. 23


MOLLY AIDA FITZCARRALDO

Brian Sweeney Fitzgerald, conhecido como Fitzcarraldo, quer construir uma "opera house" na remota terreola de Iquitos, no Peru. Para angariar o dinheiro que precisa, e depois de várias tentativas de negócio falhadas - foi intitulado pelo povo de "Conquistador Inútil" - decide tornar-se num magnata da borracha. Decidido a triunfar, custe o que custar, vai entrar uma odisseia aparentemente impossível para transportar a borracha através de uma monstruosa embarcação - de seu nome Molly Aida - numa nova rota fluvial. O problema é que, para tal, vai ter que mudar o barco de rio. Por terra, selva e montanhas. Tudo à custa de muito sofrimento e de inúmeras vidas humanas. O mais chocante? É uma história baseada em acontecimentos verídicos. Realizado pelo polémico Werner Herzog e uma lenda na história da Sétima Arte devido à sua complicadíssima produção - as filmagens demoraram cerca de quatro anos e Herzog insistiu em arrastar na vida real um barco de 320 toneladas (mais 290! que o verdadeiro Molly Aida) em terrenos com quarenta graus de inclinação, usando métodos ainda mais complicados que o verdadeiro Fitzcarraldo, rejeitando todas as tentativas do estúdio em usar efeitos especiais - e ao suposto endoidecimento do principal Klaus Kinski devido ao isolamento prolongado e às dificuldades técnicas, o Molly Aida tornou-se uma estrela por mérito próprio, sendo a sua jornada em terra motivo para um dos documentários cinematográficos mais interessantes de sempre: Burden of Dreams. 24


TRIUMPH TR-6 TROPHY 650CC THE GREAT ESCAPE

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A cena mais célebre de The Great Escape - aquela em que a personagem de Steve McQueen tenta fugir aos militares alemães saltando uma vedação de arame farpado numa mota - foi obviamente efectuada por um duplo (Bud Ekins, o mesmo que posteriomente fez de McQueen ao volante do Mustang de Bullitt), mas foi McQueen e a Triumph que, como carne e unha, entraram na cultura pop norte-americana como símbolos de liberdade e determinação. Disfarçadas de BMWs germânicas no filme de 1963, por questões de credibilidade narrativa, as Triumph TR-6 Trophy de 650CC, fabricadas entre 1956 e 1973 tornaram-se às custas de McQueen um dos modelos mais vendidos da década de sessenta, principalmente nos Estados Unidos da América. 25


HARLEY-DAVIDSON EASY RIDER

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Talvez a marca de motas com o nome mais mediático em todo o planeta, a Harley-Davidson, mais do que uma simples mota, representa uma maneira de estar na vida, uma visão e uma forma de conduzir únicas que atraem dezenas de milhares de motards em todo o mundo. A sua energia e tenacidade atraíram durante os anos sessenta e setenta aqueles cujo estilos de vida eram considerados alternativos. Muito desse sucesso a marca pode agradecer a Easy Rider, filme de 1969 produzido por Peter Fonda e realizado por Dennis Hopper, que imortalizou uma marca através de várias gerações, tornando-se um símbolo cinematográfico que definiu e fortificou uma contracultura, o nascer e padecer do movimento hippie. 26


THE BAT-POD THE DARK KNIGHT

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Uma das preocupações que assolava Christopher Nolan para a sequela do muito bem conseguido Batman Begins era como conseguir superar as expectativas tecnológicas dos fãs do alter-ego de Bruce Wayne depois de ter criado o Tumbler, o portentoso SUV com que Batman defendeu a cidade de Gotham no seu renascimento cinematográfico. Ora bem, a sua solução foi o Bat-Pod, uma mota armada com metralhadoras e mísseis que se separava do Tumbler sempre que necessário. Desenhada do zero por Nathan Crowley, designer de produção de The Dark Knight, o Bat-Pod era conduzido deitado e manobrado com os cotovelos - e não com as mãos -, o que se revelou um verdadeiro desafio até para os duplos profissionais contratados para o efeito. Partindo do pressuposto que alguns acidentes iam ocorrer, foram construídos logo à partida seis BatPods para as filmagens. Felizmente, apenas um deles não resistiu - tendo ainda assim apenas sucumbindo nas gravações do terceiro e último capítulo da saga de Nolan. 27


A FÓRMULA NO CINEMA ANÍBAL SANTIAGO

Modalidade venerada pelos fãs de automobilismo, a Fórmula 1 raramente teve a mesma repercussão nos meios cinéfilos, com as obras cinematográficas relacionadas com a temática a serem bastante escassas. Medo do público não aderir a adaptações relacionadas com esta modalidade? Dificuldades com os direitos para desenvolver filmes relacionados com esta temática? Pouca vontade dos estúdios? Várias são as perguntas que podemos levantar sobre esta modalidade não ser apetecível para servir de ponto de partida para o desenvolvimento de obras cinematográficas. Rush, o próximo filme de Ron Howard a chegar às salas de cinema, não promete uma mudança de panorama, embora tenha o mérito de adaptar uma história fervilhante sobre um pedacinho marcante da Fórmula 1: a rivalidade entre o piloto britânico James Hunt e o piloto austríaco Niki Lauda, que marcou a temporada de 1976 na Fórmula 1. Este foi um ano apaixonante na Fórmula 1, com a personalidade e habilidade dos pilotos a terem tanta ou mais importância que os bólides, algo que surgia ainda adensado por estas rivalidades, com estes conflitos a serem fundamentais para apimentarem o desporto, como podemos verificar em Senna, um documentário realizado por Asif Kapadia, que aborda boa parte da vida desportiva do lendário Ayrton Senna, incluindo a sua rivalidade com Alain Prost. Embora o retrato que Asif Kapadia apresenta sobre a sua pessoa não tenha agradado a Prost, não deixa de ser latente que ao longo da


carreira de Ayrton Senna existiu uma enorme tensão entre este e Alain Prost, ou não fossem ambos dois atletas de excelência que disputavam apenas e só o título de campeão da Fórmula 1. O destino pode ter levado demasiado cedo Ayrton Senna, mas o seu legado é tratado com enorme respeito neste documentário apaixonado, onde se nota um vasto trabalho de investigação e uma enorme habilidade do cineasta na utilização de imagens de arquivo.

1. Diga-se que Bobby Deerfield ainda conta com um protagonista que é piloto de Fórmula 1 e ainda temos a oportunidade de ver este em esporádicas corridas, ao contrário de Iron Man 2, onde o circuito do Mónaco é utilizado apenas para colocar em cena o antagonista Whiplash, enquanto este e Homem de Ferro se digladiam de argumentos, num combate típico deste género de filmes, cujo especial motivo de interesse é mesmo a pancadaria.

Se Senna surge como um documentário centrado na vida profissional e pessoal de um piloto de Fórmula 1, já Bobby Deerfield, um filme originalmente estreado em 1977, aparece como um melodrama centrado num piloto ficcional, que inicia um romance improvável com uma mulher em estado terminal. A Fórmula 1 e as competições são praticamente deixadas de lado ao longo de Bobby Deerfield, com Al Pacino a interpretar o personagem do título, um piloto cuja vida muda quando um colega morre durante uma prova, deixando-o com várias dúvidas e marcado na alma, tendo a companhia inesperada de Lillian Morelli (Martha Keller), uma mulher espirituosa e faladora, que aos poucos o complementa, apesar do piloto manter uma relação com Lydia. Grande parte de Bobby Deerfield é centrado na relação entre o protagonista e Lillian, algo que conduz a que esta obra realizada por Sydney Pollack seja considerada mais como um melodrama romântico do que um filme sobre Fórmula

Quem não tem os circuitos de Fórmula 1 apenas para enfeitar e a profissão de piloto como mero adorno para o melodrama é Grand Prix (1966), um clássico que desafia o teste do tempo e ainda se revela como a obra mais capaz na representação da modalidade. Realizado por John Frankenheimer, Grand Prix apresenta-nos a um conjunto de pilotos e circuitos de Fórmula 1, mesclando de forma harmoniosa o desenvolvimento dos personagens com corridas emotivas, ao longo das suas quase três horas de duração. Com uma história centrada num restrito conjunto de pilotos, Grand Prix apresenta-nos a várias temáticas relacionadas com a modalidade na época em que o filme foi lançado e que ainda podem encontrar alguma repercussão nos dias de hoje. Não faltam os perigos vividos pelos pilotos, os seus medos e ansiedades, o vício que estes parecem ter pelo perigo, 29


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o papel dos media, a rivalidade e amizade entre elementos, as disputas entre os principais fabricantes automóveis, entre outros elementos que surgem associados ao drama humano dos personagens e às corridas. As provas surgem impressionantes, beneficiando da colaboração do lendário Saul Bass como consultor de imagem, onde contamos com uma vasta panóplia de efeitos e ângulos de câmara, com o split-screen a ser utilizado de forma assertiva, numa obra que continua a ser das mais bem sucedidas a retratar o ambiente e as competições relacionadas com automobilismo. Ao analisarmos os quatro filmes sugeridos ao longo do artigo, podemos reparar não só no espaçamento temporal entre cada obra, mas também na forma distinta como cada uma aborda a modalidade. Grand Prix mescla drama e romance com corridas de carros, Bobby Deerfield pouco uso dá à faceta de piloto do protagonista procurando acima de tudo desenvolver o relacionamento amoroso deste com Lydia, enquanto Iron Man 2 nunca tem a Fórmula 1 como elemento fundamental do enredo. Já Senna surge como um exemplo de um documentário bem conseguido, capaz de explorar a vida desportiva e pessoal de Ayrton Senna durante os anos que este competiu na Fórmula 1, a sua rivalidade com Alain Prost, o seu feitio muito próprio, a sua sede por vitórias, retratando com um enorme respeito um homem que inspirou o Brasil e cuja morte não impediu de continuar com uma enorme legião de fãs. No entanto,

todos estes exemplos são muito curtos, com a Fórmula 1 e até as restantes modalidades relacionadas com o automobilismo a serem algo "esquecidas" nas obras cinematográficas. Grand Prix, Bobby Deerfield e Senna são algumas das poucas obras cinematográficas que tiveram como pano de fundo a Fórmula 1, uma modalidade iniciada a 13 de Maio de 1950 no Circuito de Silverstone, no Reino Unido, que desde então tem vindo a conquistar adeptos em todo o Mundo, embora esta popularidade não se tenha traduzido em filmes que tiveram como base a modalidade ou os seus atletas. O que não deixa de ser curioso, sobretudo se tivermos em atenção as histórias apaixonantes no vasto historial da Fórmula 1, embora seja necessário ter em conta que os direitos de adaptação nem sempre são os mais fáceis de conseguir e a pouca disposição dos estúdios de Hollywood em arriscarem no desenvolvimento de projectos que não prometem lucro supostamente garantido. Se Rush tiver sucesso a nível do público e da crítica, esta situação pode vir a mudar, no entanto, o panorama actual é muito pobre no que diz respeito a obras cinematográficas sobre esta modalidade. Feita esta abordagem generalista sobre os filmes com temáticas relacionadas com Fórmula Um, segue a análise a três dos filmes abordados, Grand Prix, Bobby Deerfield e Senna e a antevisão a Rush.

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No dia 3 de Outubro de 2013, se não existirem alterações de última hora, estreia nas salas de cinema portuguesas Rush, o novo filme realizado por Ron Howard. Com o título nacional Duelo de Rivais, o filme surge como uma das poucas obras cinematográficas a ter como pano de fundo a Fórmula 1, uma modalidade muito apreciada por fãs de automobilismo, mas pouco aproveitada como temática para obras cinematográficas. Se o panorama vai mudar perante um possível sucesso desta obra cinematográfica é algo que não sabemos, o que temos a certeza é que Duelo de Rivais vai ter como pano de fundo um pedacinho emocionante da história da Fórmula 1, a rivalidade entre os pilotos James Hunt e Niki Lauda. Uma rivalidade daquelas dignas de serem recordadas, das quais podemos encontrar em quase todos os desportos, e ajudam a condimentar o mesmo, com os fãs a dividirem-se nos apoios e paixões. Com o argumento de Peter Morgan (o mesmo de The Queen, Frost/Nixon, Damned Utd, entre outros), Rush tem a possibilidade de fazer justiça a estes dois grandes nomes da Fórmula 1, que são interpretados por dois actores bem distintos, Chris Hemsworth e Daniel Brühl, cujos perfis se encaixam na perfeição nos personagens que interpretam.

RUSH - DUELO DE RIVAIS Título original: Rush Realização: Ron Howard Elenco: Daniel Brühl, Chris Hemsworth, Olivia Wilde Ano: 2013

Chris Hemsworth, conhecido por blockbusters como Thor e Snow White and The Huntsman, interpreta o mediático piloto britânico James Hunt, conhecido como um dos últimos pilotos românticos de Fórmula 1. 32


Com uma vida sentimental algo polémica, Hunt competiu na Fórmula 1 entre 1973 a 1979, tendo conhecido o melhor ano da sua carreira em 1976, quando venceu o seu primeiro e último torneio de Fórmula 1. Lauda é interpretado por Daniel Brühl, um actor que protagonizou filmes como Good Bye Lenin!, Salvador, Inglorious Basterds, Eva, entre outros, que conta com um perfil menos mediático, embora tenha um talento considerável para a arte da representação, um pouco como o personagem que interpreta, que conta com três títulos de campeão da Fórmula 1 no currículo (1975, 1977 e 1984). A rivalidade entre Lauda e Hunt foi um ponto dominante da temporada de 1976 da Fórmula 1, recheado de episódios marcantes, onde o circuito da Alemanha, em Nürburgring, parece ter sido decisivo, com Lauda a sofrer um acidente que o deixou de fora durante três provas, um imponderável que nem o regresso em grande lhe permitiu ultrapassar o rival.

ambiente fervilhante entre estes dois pilotos, tendo para isso recorrido a réplicas dos veículos utilizados, filmado em locais como Reino Unido, Alemanha e Áustria, esperando certamente captar a atenção dos fãs deste desporto e dos cinéfilos em geral. Por aqui esperamos com alguma ansiedade aquilo que Rush tem para nos dar.

A temporada de 1976 foi apaixonante para a Fórmula 1, em grande parte graças a esta disputa entre Niki Lauda e James Hunt, pelo que a responsabilidade de Ron Howard em transportar para o grande ecrã esta história é enorme, embora este conte com um currículo que nos deixe relativamente descansados em relação à sua habilidade para a realização cinematográfica. Depois de realizar obras como Apollo 13, Cinderella Man, Frost/Nixon, entre outros trabalhos, Howard procura recriar o

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Bobby Deerfield (Al Pacino) é um piloto de Fórmula 1 norte-americano, que se encontra a competir no Circuito Europeu, afastado de tudo e de todos os seus familiares embora se preocupe pouco com isso. A chegada do irmão para o visitar para discutir a herança logo é marcada pela aparente indiferença deste, que tem ainda de lidar com o espectro da morte, ao ter visto um colega morrer recentemente. Ao visitar um colega ferido, que se encontra internado no hospital em Itália, Bobby encontra Lillian Morelli (Marthe Keller), uma italiana tagarela, que é o oposto deste e se prepara para o complementar na perfeição. Bobby finge que é um amigo do famoso piloto Bobby Deerfield, Lillian finge que não padece de alguma doença. Os dois não podiam ser mais antagónicos a nível de comportamentos, mas revelam uma química assaz curiosa, bem distinta do que Bobby apresenta com a sua companheira, Lydia (Anny Duperey), em Bobby Deerfield uma obra cinematográfica realizada por Sidney Pollack, baseada no livro Heaven Has No Favorites de Erich Maria Remarque.

UM MOMENTO, UMA VIDA Título original: Bobby Deerfield Realização: Sydney Pollack Elenco: Al Pacino, Marthe Keller, Anny Duperey Ano: 1977

Considerada uma obra menor de Sidney Pollack, Bobby Deerfield ameaça estampar-se em algumas curvas mais perigosas que teima em seguir, mas consegue chegar à meta final com resultados bastante satisfatórios, apresentando-nos a um drama com alguns momentos sublimes e intensos. Pode não ser um vencedor como o seu protagonista, 34


mas consegue ser uma obra cinematográfica agradável, que tem no desenvolvimento da dupla de protagonistas e do seu relacionamento o foco central do enredo, apesar de não descurar a dimensão perigosa da profissão do protagonista, algo esbatido pelo facto das corridas surgirem como uma mera ilustração para a narrativa. Uma profissão que aparece representada como cheia de glamour, mas também de perigos, onde o espectro da morte afecta o quotidiano destes desportistas, uma faceta explorada logo no início do filme, quando nos deparamos com um funeral de um piloto, marcado por um clima de comoção, que contrasta com a candura do romance entre Bobby e Lillian, uma dupla que beneficia imenso da química entre Al Pacino e Marthe Keller.

dupla. Bobby desafia a morte, enquanto Lillian luta contra a mesma. Ambos sabem que a morte pode chegar mais cedo do que planeavam, trair os seus sonhos e desejos, e destruir o que resta das suas vidas. Talvez por isso entendamos a urgência destes dois em estarem juntos, em se amarem improvavelmente, no interior de um drama que está longe de ser inovador, mas nem por isso deixa de ser capaz de prender a nossa atenção. Por vezes usa e abusa dos momentos melosos e utiliza a faceta de piloto de Fórmula 1 do protagonista como mera ilustração, mas acerta no relacionamento entre o casal de protagonistas, na procura de ter alguns momentos de humor e na exploração da beleza de alguns cenários, surgindo como um drama agradável, que tem sido demasiado massacrado pela crítica sem o merecer.

Embora não tenha uma história particularmente inovadora e um argumento que nos deixe totalmente fascinados, Bobby Deerfield compensa algumas das suas limitações com as boas interpretações de Al Pacino e Marthe Keller, como o casal que domina as atenções da narrativa. Pacino interpreta de forma sublime um indivíduo misterioso, aparentemente cínico e pronto a não mostrar sentimentos, que aos poucos se deixa cativar pela faladora Lillian. Keller surge fascinante como Lillian, uma mulher extrovertida, que procura expor os seus sentimentos, falar sem parar, gritar quando sente necessário, enquanto espera pela morte. O espectro da morte marca o relacionamento desta

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Exemplo paradigmático de um filme que tem como pano de fundo a Fórmula 1 que consegue mesclar na justa medida as corridas de automóveis com um enredo interessante, Grand Prix continua a ser um dos filmes mais marcantes relacionados com a modalidade que tantos fãs tem angariado junto dos aficionados de automobilismo. Existe toda uma preocupação em abordar temáticas relacionadas com o quotidiano dos pilotos, as suas superstições, as relações pessoais, a relação destes com os media, a diferente abordagem que cada um tem aos fenómenos que envolvem este desporto e o vício dos pilotos pelo perigo, sempre tendo como pano de fundo um conjunto restrito de personagens.

O GRANDE PRÉMIO Título original: Grand Prix Realização: John Frankenheimer Elenco: James Garner, Eva Marie Saint, Yves Montand Ano: 1966

Logo de início somos apresentados a uma corrida no circuito de Monte Carlo, onde personagens como Jean-Pierre Sarti (Yves Montand), Pete Aron (James Garner), Nino Barlini (Antonio Sabàto) e Scott Stoddard (Brian Bedford) disputam o campeonato de Fórmula 1 de 1966. Nessa corrida, somos apresentados a várias qualidades do filme, entre as quais um trabalho de fotografia assertivo e uma boa edição, com os veículos a avançarem furiosamente, enquanto somos apresentados a um vasto conjunto de ângulos e movimentos de câmara que incrementam a narrativa, quando inesperadamente nos deparamos com um acidente que envolve os veículos de Stoddard e Aron.

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Um dos elementos que mais desperta a atenção em Grand Prix passa pela capacidade que John Frankenheimer tem em gerir harmoniosamente o enredo, consolidando os personagens ao mesmo tempo que intercala as suas histórias com emocionantes corridas de carros, algo que eleva a obra cinematográfica e a coloca como um objecto distinto no interior dos vários filmes sobre automobilismo. Veja-se o caso de Le Mans, que explora as corridas mas descura por completo o desenvolvimento dos personagens e dos laços criados entre estes, algo que nunca acontece com Grand Prix, que conta com um conjunto de personagens e relacionamentos bem construídos, com Frankenheimer a aproveitar as quase três horas de duração do filme para proporcionar um drama capaz de agradar aos fãs de Fórmula 1 e a todos aqueles que não se interessam pela modalidade, beneficiando ainda de um elenco coeso, que ajuda a explorar os personagens e dar-lhes outra dimensão ao longo das várias tramas.

Stoddard fica gravemente ferido, algo que desperta a atenção dos media em relação às possibilidades deste voltar a competir e algum sentimento de raiva da sua namorada, a bela Pat (Jessica Walter), que se afasta deste. Se Stoddard está com a vida complicada, o mesmo se pode dizer de Aron, que conta com o seu bólide destruído, vê o pedido para regressar à equipa da Ferrari rejeitado e encontra-se obrigado a assumir a função de jornalista até Izo Yamura (Toshiro Mifune, sempre carismático, mesmo com as suas falas dobradas) convidá-lo para integrar a sua equipa, a Yamura Motors. Por sua vez, Sarti, um piloto experiente, já nos últimos anos da sua carreira, parece aparentemente incólume a todos estes problemas, tendo vencido o circuito e conhecido a jornalista Louise Frederickson (Eva Marie Saint), uma mulher que promete mudar a sua vida, após vários anos de um casamento de fachada. Quem está em aparente grande forma é o expansivo Nino, um italiano falador, que beneficia imenso da capacidade de Sabàto em criar um personagem extravagante, muito ao seu jeito e pronto a gerar alguns sorrisos. É nestes personagens que se concentra a narrativa, sempre muito preocupada em desenvolver os relacionamentos humanos, enquanto nos apresenta a vários circuitos que integram a competição e as respectivas corridas.

James Garner é um desses casos, ao dar vida a Peter Aron, um piloto aparentemente caído em desgraça, que simboliza a efemeridade e velocidade com que tudo se desenrola no mundo da Fórmula 1. Aron cedo vai do sucesso à desgraça, procurando logo de seguida regressar em grande, enquanto se envolve num triângulo amoroso com Pat, a mulher

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do seu rival, Scott Stoddard, um personagem interpretado com grande assertividade por Brian Bedford. O relacionamento amoroso entre Pat e Scott surge caótico, em grande parte graças ao contraste de ideias em relação à Fórmula 1 que cada um tem e às suas próprias personalidades, com o argumento a explorar bem estas duas figuras, um pouco à imagem do que faz com os personagens interpretados por Yves Montand e Eva Marie Saint. Montand dá uma enorme credibilidade ao seu personagem, um piloto em final de carreira aparentemente cínico, que aos poucos se abre junto da jornalista interpretada por Saint, uma relação que cresce de circuito para circuito, enquanto a prova chega perto da sua imprevisível e trágica conclusão.

entre outros elementos, que beneficiam uma obra pensada ao pormenor. Um elemento fulcral para esta atenção ao pormenor nas corridas foi o trabalho de Saul Bass como consultor a nível de imagem (para além de ter elaborado os créditos iniciais do filme e supervisionado a montagem final da obra), contribuindo para todo este espectáculo imagético envolvente, onde vários pilotos colocam as suas vidas em risco pelo título e parecem viciados no perigo. Estes pilotos são personagens ficcionais mas profundamente humanos, que procuram vencer o perigo e o destino para lutarem pelo título, enquanto John Frankenheimer desenvolve uma obra onde se nota o seu claro interesse pela modalidade. A história que envolve os personagens pode até não ser a mais inovadora ou problematizante, mas ajuda a dar uma dimensão extra às corridas, que mesclam imagens ficcionais com trechos de provas reais (vale a pena recordar que pilotos como Phil Hill, Graham Hill, Juan Manuel Fangio, Bruce McLaren, entre outros, têm participações especiais), belissimamente filmadas com recurso à Panavision 70 mm. Grand Prix é um exemplo paradigmático de um filme que tem como pano de fundo a Fórmula 1 que é bem conseguido, surgindo como uma obra intensa, salpicada de romance, drama, algum humor e muitas corridas, onde no final o maior vencedor é John Frankenheimer.

Capaz de explorar alguns dos diferentes circuitos, para dar conta da imensidão da prova e os vários locais geográficos onde decorre, Grand Prix transporta-nos para um período diferente da Fórmula 1, procurando abordar temáticas relacionadas não só com a vida pessoal e profissional dos pilotos, mas também com os perigos da modalidade, a forte cobertura da imprensa, a procura dos fabricantes em se imporem, não faltando as célebres corridas de carros. As corridas surgem quase sempre intensas, beneficiam de um bom trabalho de sonoplastia e edição, mas também de uma escolha acertada nos planos, uma utilização recorrente e acertada dos split screens, que incutem outra dimensão às corridas,

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Piloto lendário da Fórmula 1 e desportista marcante apesar da sua morte prematura, Ayrton Senna tem em Senna um documentário que respeita o seu legado, entusiasma e se revela verdadeiramente apaixonante. Realizado pelo estreante em documentários Asif Kapadia, Senna apresenta-nos a Ayrton Senna, desde a sua chegada à Fórmula Um em 1984, até à sua trágica morte no circuito de San Marino em 1994. Se não conhece a carreira do piloto, nem percebe de Fórmula Um, não se preocupe, pois Senna revela-se um documentário bastante acessível neste quesito, com o cineasta a conseguir apresentar uma estrutura narrativa coesa, alicerçada em vastas imagens de arquivo, alguns depoimentos relevantes e uma notória investigação que permite abordar várias facetas de Ayrton Senna, sempre tendo como foco a sua vida profissional. Esta ganha um enorme impulso quando Senna assinou pela McLaren, onde tinha como companheiro e futuro grande rival Alain Prost. Esta rivalidade é um dos temas centrais do filme, com Asif Kapadia a apresentar uma postura algo maniqueísta na representação desta rivalidade, com Ayrton Senna a ser o herói e Alain Prost a ser o antagonista, omitindo alguns elementos relevantes da relação entre ambos, embora não deixe de ser verdade que os atletas foram grandes rivais e viveram momentos bem conturbados, enquanto disputavam o título de campeão de Fórmula 1.

SENNA Título original: Senna Realização: Asif Kapadia Elenco: Ayrton Senna, Alain Prost, Frank Williams Ano: 2010

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Uma rivalidade daquelas à altura das grandes lendas, essenciais para a construção de certos mitos e que tão comummente surgem no desporto. Ayrton Senna não era perfeito, mas tinha um talento e uma capacidade de superação notáveis, sendo uma soma de vários defeitos e várias qualidades, que resultaram numa figura apaixonante de acompanhar. Senna apresenta-nos assim a várias facetas deste irreverente piloto brasileiro, tais como a sua faceta mais superstar como a relação com Xuxa, a faceta de atleta irreverente que pretende vencer contra tudo e contra todos, a faceta de brasileiro orgulhoso pela sua nação e homem de fé, e até a sua rivalidade com Prost e as suas lutas contra a política na Fórmula 1 (em particular com o Presidente da FIA na época, JeanMarie Balestre). Senna surge assim como um documentário envolvente e apaixonante, rico em informação e pronto a demonstrar o poder de entretenimento deste tipo de obras cinematográficas. Uma obra vibrante, que consegue entusiasmar e até causar alguma comoção, que nos apresenta ou reapresenta a Senna, que explora as virtudes e os defeitos do mesmo, enquanto Asif Kapadia tem uma estreia em grande na realização de documentários.

uma técnica que agiliza a narrativa e serve de complemento para as imagens que nos vão sendo exibidas. Um conjunto de imagens de arquivo muitas das vezes entusiasmantes, que revelam a enorme perícia de Senna nas pistas e também a sua enorme loucura, que surge exposta em todo o seu esplendor quando atirou o seu carro em direcção ao bólide de Alain Prost no circuito do Japão em 1990, de forma a tirar o adversário da corrida e ser campeão, repetindo o que o atleta francês lhe fizera em 1989. Senna remete-nos para uma era diferente da Fórmula 1, onde as máquinas estavam menos evoluídas, os pilotos tinham menos segurança e Ayrton Senna surgiu como uma lenda pronta a orgulhar o Brasil. Os seus depoimentos facilmente levam a perceber o porquê de ser amado pelo seu povo e fãs do automobilismo e ser muitas das vezes detestado pelos adversários. Senna queria a vitória, queria dar espectáculo e arrebatava consigo o público, um pouco à imagem do documentário realizado por Asif Kapadia, que se revela uma justa homenagem a este atleta.

Uma estreia que fica marcada pela enorme felicidade de juntar frequentemente o áudio dos depoimentos com as imagens de arquivo,

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DRIVE-INS

ASCENSÃO E QUEDA DE UM FENÓMENO AMERICANO CARLOS REIS

ao seu novo sócio. A sessão de abertura ocorre a 6 de Junho de 1933 e o local é publicitado como um "Automobile Movie Theatre", para não confundir potenciais interessados. O filme escolhido, Wives Beware, um lançamento do ano anterior. Surpresa ou não, a estreia foi um tremendo sucesso. Casa cheia - perdão... parque cheio -, a 25 cêntimos o bilhete por carro, mais 25 cêntimos por cada pessoa dentro dele. Preço bem superior ao que se pagava então para ir a uma sala de cinema tradicional, mas que revelou ter sido uma aposta ganha.

Os cinemas drive-in são considerados uma invenção do norte-americano Richard Milton Hollingshead Jr., na altura com trinta anos de idade. No seu próprio quintal em New Jersey, testou o conceito de colocar um projector Kodak no tejadilho do seu carro e visionar uma película numa tela que estava presa a uma árvore. Em poucas semanas, a vizinhança começou a passar lá por casa para experimentar a ideia e, com isso, Hollingshead aproveitou para testar uma mão cheia de configurações possíveis para a colocação de vários veículos, sem que nenhum deles ficasse prejudicado ao nível do campo de visão. A solução final acabou por consistir numa série de rampas cuja inclinação variava conforme a proximidade com a tela. Foi exactamente esta conjugação estrutural que Richard patenteou, o que lhe iria permitir receber uma certa quantia por cada cinema drive-in que abrisse no futuro. Ou pelo menos era assim que ele pensava.

O tempo passou e em 1949 haviam cerca de 155 drive-ins nos Estados Unidos da América. Muitos deles usaram o sistema de parqueamento de Hollingshead, o que lhe rendeu alguns tostões valentes, mas com o boom dos drive-ins nos anos cinquenta, muito por culpa dos anos pósSegunda Guerra Mundial e da banalização do uso do carro no quotidiano de americanos de todas as camadas sociais, esse número aumentou para cerca de 3700, muitos deles tremendamente simples, usando uma simples parede branca como tela e um projector do mais barato que havia apenas para fazer dinheiro. Fossem estes, ou mesmo os que apareceram mais complexos, com muito mais condições e até inseridos dentro de parques de diversões, quase todos arranjaram maneira de dar a volta à patente de Hollingshead e arranjar os seus próprios esquemas de parqueamento das viaturas. E, do nada, um negócio de milhões, em

A patente foi submetida no dia 6 de Agosto de 1932 e aceite a 16 de Maio de 1933, tendo ficado com o número de série 1909537. Com essa vitória na secretaria, Hollingshead planeava agora construir o primeiro cinema drive-in, de modo a promover a ideia ao público em geral, bem como a potenciais investidores. Juntamente com o seu primo forma uma empresa - a "Park-In Theatres Inc." - e avança para as obras na Crescent Boulevard, em New Jersey, num parque de estacionamento que pertencia 43


por questões de desenvolvimento urbanístico das respectivas cidades, cujos principais players viam edifícios de milhões onde na altura existiam parques de estacionamento cinematográficos de tostões.

crescendo, esvaziou-se monetariamente para o seu criador. De produtos de limpeza automóvel a comidas e bebidas de todos os géneros e feitios, os drive-ins tornaram-se um poço de dinheiro para os mais variados operadores envolvidos no negócio. Não admira pois que no início dos anos sessenta, o conceito drive-in tenha sido internacionalizado, aparecendo pela primeira vez em países como a Austrália, o Reino Unido ou a Dinamarca. O início dos anos setenta marcou a introdução das frequências AM dos rádios de cada carro para "ouvir o filme", algo cuja execução por parte dos operadores dos drive-ins era relativamente fácil e barata. O uso das frequências FM apareceu na década de oitenta, com melhor qualidade sonora e com custos semelhantes.

Com ofertas de milhões sobre terrenos que anos antes tinham custado poucos milhares de dólares, muitos foram os donos dos drive-ins que nem sequer hesitaram - ou não estivesse ainda por cima o negócio deles nas ruas da amargura. Durante os anos noventa aguentaram-se vivos cerca de setecentos recintos, muitos deles com capacidade para poucos carros, em pequenas terriolas do interior dos Estados Unidos. Outros, maiores, realizaram investimentos que permitiram melhorar as suas condições, a vários níveis, acalmando e contrariando uma tempestade que ameaçava não deixar quaisquer sobreviventes, mesmo funcionando muitos deles numa dinâmica de gerar pouco prejuízo e não algum lucro. Entre eles, aquele que foi e é ainda hoje considerado o melhor drive-in do EUA: o Capri Drive-In em Coldwater, aberto desde 1964.

Nenhuma apresentação à história dos drive-ins, por mais sintética que fosse, estaria completa sem uma referência aos "ninhos de amor". Sim, para gerações de norte-americanos, os cinemas drive-in são a recordação de lugares onde deram o primeiro beijo, o primeiro apalpão ou mesmo algo mais sério. Eram o sítio perfeito para namorar, locais onde muitos casamentos começaram - e muitos outros terminaram. Ironia ou não, foi exactamente a pensar neste público mais apaixonado, e numa tentativa de abrandar ou inverter uma queda de afluência aos drive-ins que começou a sentir-se nos anos setenta, que estes começaram a apostar em sessões eróticas/pornográficas. E foi esta a praga que, ao tornar-se uma fonte inesperada de lucros - as comissões pagas a estas distribuidoras eram muito inferiores às pagas aos grandes estúdios de Hollywood -, acabou por matar os cinemas drive-in na sua essência durante os anos setenta e oitenta. O que antes era cool, agora era depravado. O que antes era para adolescentes e famílias, agora era para os mais ousados ou mesmo desavergonhados. Dez carros numa sessão XXX rendiam mais aos operadores do que cinquenta numa sessão "normal", pelo que a ganância falou mais alto na grande maioria dos milhares de cinemas de estrada que existiam. Juntemos a isto o desenvolvimento da televisão e o aparecimento dos primeiros multiplex cinematográficos, e a queda de um fenómeno americano era mais do que certa. No final dos anos oitenta, já eram menos de mil os drive-ins em funcionamento, sendo que muitos deles estavam ainda ameaçados

Mas tanto este Capri como todos os que se aguentaram a soro durante décadas, têm hoje mais do que nunca o seu futuro em risco. A eliminação das películas de 35mm em detrimento dos conteúdos digitais podem marcar o fim definitivo de um mito. O upgrade para a projecção digital custa cerca de 70 mil dólares por unidade, custo que, dada a actual crise financeira mundial e as margens de lucro finíssimas dos operadores drive-in deixam poucas ou nenhumas alternativas. O tempo assim dirá. Quanto ao nosso herói, Richard Milton Hollingshead Jr., faleceu em 1975, vítima de um cancro. Apesar da sua família ter pedido inúmeras vezes à Academia - sim, aquela que entrega Óscares honorários todos os anos - para reconhecer a sua influência na indústria cinematográfica, os seus pedidos nunca foram aceites e Hollingshead nunca foi alvo de nenhuma homenagem. Mesmo tendo em conta que, foi este o Homem que nos colocou a ver filmes com estrelas, debaixo de um céu cheio delas. O idiota que criou um fenómeno e patenteou a ideia errada.

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© 2009 TP DICKENS

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JAMES BOND

LICENÇA PARA CONDUZIR PEDRO MIGUEL FERNANDES

passaram a estar na mira dos seus fãs, para mais tarde serem recordados mais pelos gadgets incorporados por Q. nos carros do espião. Aqui não há como esquecer o assento ejectável do Aston Martin DB 5 (um dos mais populares automóveis de 007, com aparições em seis filmes da série e destruído, para tristeza de muitos fãs, numa das sequências do último 007: Skyfall) que surge em 007 – Contra Goldfinger ou o Lotus Esprit S1, o carro anfíbio que teve o seu momento de glória em 007 - Agente Irresistível. Mais recentemente, com a evolução das novas tecnologias, Bond tem aparecido ao volante de automóveis cada vez mais sofisticados, que contam com os mais ‘modestos’ GPS ou sistemas que o permitem controlar as viaturas de forma remota. Mas se os automóveis são as principais viaturas utilizadas como meio de locomoção pelas diversas personagens da série, várias são as máquinas mais ‘exóticas’ que passam pelas mãos de 007, que ao longo dos 23 filmes da série se mostrou um hábil condutor de motos, incluindo motos de água, aviões (grandes e pequenos, como é o caso do Acrostar Mini Jet que tem uma aparição em 007 – Operação Tentáculo) e até uma gôndola transformada em hovercraft que ajuda o espião a escapar dos vilões numa perseguição de 007 – Aventura no Espaço, passada em Veneza. Exotismos à parte, a Take Cinema Magazine aproveita esta edição especial dedicada aos motores no Cinema para apresentar quatro dos principais automóveis que fizeram história na série Bond.

No universo de James Bond há gostos para tudo. Além dos fãs das belas Bond girls e dos fantásticos gadgets criados por Q., um dos secundários mais queridos da série de filmes protagonizada pelo agente favorito de Sua Majestade, há quem aguarde a estreia dos novos filmes de 007 só para ver qual o bólide conduzido pelo mítico espião britânico. O papel dos automóveis conduzidos por James Bond tem sido tão importante, que parte das comemorações do 50º aniversário da estreia do primeiro filme da personagem criada por Ian Fleming, celebrada no ano passado, foi dedicada a esta faceta da série, com uma grande exposição organizada pelo National Motor Museum, no Reino Unido. Ao longo de mais de 50 anos de filmes, num total de 23 títulos, muitos foram os automóveis conduzidos por James Bond que fizeram as delícias dos fãs das quatro rodas e ganharam um cantinho especial na mitologia da personagem criada por Ian Fleming e levada ao Cinema pela primeira vez em 1962, quando chegou às salas 007 – Agente Secreto. O primeiro a ganhar o estatuto de Bondmobile, protagonista de uma perseguição por estradas sinuosas que culmina numa passagem por debaixo de um guindaste acidentado, foi o Sunbeam série II Alpine. Desde então, desde a Aston Martin à Bentley, poucas foram as marcas de luxo que não ficaram associadas às aventuras de James Bond, tanto ao serviço do agente secreto como de muitos dos seus inimigos e das Bond girls. Desde essa sequência de estreia, os automóveis de James Bond 47


ASTON MARTIN DB5 Se há automóvel que é de imediato associado a James Bond é o Aston Martin DB5. Desde a primeira aparição, em 007 – Contra Goldfinger, este bólide já entrou em mais cinco títulos da série, acabando por ser destruído no último filme no duelo final entre 007 e Silva, o inimigo de Bond neste capítulo da série. Clássico dos clássicos no universo do espião britânico, este foi o primeiro veículo a ser equipado por Q., que instalou gadgets icónicos como o assento ejectável, um sistema de mudança de matrículas ou um precursor dos modernos sistemas de GPS, que ajuda o herói a encontrar a viatura de Goldfinger. As metralhadoras escondidas na parte frontal do DB5 são também imagens de marca deste que é um dos carros favoritos dos fãs.

LOTUS ESPRIT S1 Um dos mais pitorescos automóveis conduzidos por Bond ao longo da série pertence ao período em que a personagem foi interpretada por Roger Moore. Numa fase considerada menor por muitos, onde o franchise começa a entrar por caminhos de certa forma mais paródicos, o Lotus Esprit S1 de 007 – Agente Irresistível ganha o estatuto de carro mais popular desta fase devido a uma característica muito peculiar: consegue transformar-se em submarino e andar debaixo de água, ludibriando os inimigos do agente secreto numa perseguição rocambolesca. Tal como o Aston Martin DB5, também o Esprit S1 está bem equipado com inúmeros gadgets, desde mísseis terra-ar ou um mecanismo que permite criar uma barreira de fumo debaixo de água. O Lotus Esprit regressa numa versão Turbo em 007 - Missão Ultra-secreta.

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ASTON MARTIN DBS Talvez o mais trágico dos carros de James Bond, o Aston Martin DBS é o sucessor do DB5 e aparece pela primeira vez em 007 - Ao Serviço De Sua Majestade. Passado em parte em Portugal e interpretado pelo australiano George Lazenby, que substituiu Sean Connery no papel, é neste carro parco em gadgets que morre a única mulher com quem o espião se casa. Mais recentemente o DBS foi recuperado nos modelos V12 e V12 Vanquish. O primeiro é conduzido por Daniel Craig nos seus dois primeiros filmes enquanto James Bond (007: Casino Royale e 007: Quantum of Solace) e o segundo, que tem como gadget de referência um sistema de camuflagem que permite esconder o automóvel dos radares inimigos, tem o seu momento de glória em 007 - Morre Noutro Dia, a derradeira interpretação de Pierce Brosnan enquanto Bond.

TOYOTA 2000 GT Considerado o primeiro super-carro japonês, aquele que fez com que a indústria automóvel mundial começasse a olhar para o Japão com outros olhos, o Toyota 2000 GT foi o veículo de eleição James Bond em 007 - Só Se Vive Duas Vezes, a sua aventura por terras nipónicas estreada no ano de 1967. Além de ser um carro raro e de coleção, dado que foram fabricadas apenas cerca de 300 unidades fruto de uma parceria entre a Toyota e a Yamaha, para este episódio de James Bond foram criados dois modelos descapotáveis, algo que não vinha na série original, o que torna o automóvel japonês um dos favoritos dos amantes das quatro rodas. Estes dois modelos nunca chegaram a ser comercializados no mercado, o que dá um estatuto de ícone ao 2000 GT guiado por Bond.

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© CMSeter


PERSEGUIÇÕES MEMORÁVEIS PEDRO SOARES

Diz a lenda que, quando os irmãos Lumiére apresentaram pela primeira vez o cinematógrafo ao mundo, num café em Paris, o público levantouse assustado das cadeiras ao ver o comboio de L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat a chegar à estação e a ir ao seu encontro. Esse gesto fundador do Cinema acabou por lhe deixar um gosto pela velocidade e vertigem, captada e representada tão bem pelas perseguições automóveis, que apaixonam o público com os seus bólides a alta velocidade, manobras perigosas e decisões arricadas. Algumas delas ficaram mesmo para a história da sétima arte, tendo inscrito o seu nome no panteão das grandes cenas do Cinema. Eis algumas das mais memoráveis perseguições...


BULLITT

É quase unanimamente considerada a melhor perseguição de toda a história do Cinema e quem somos nós para discordar? De facto, os quase dez minutos em que Ford Mustang GT 390 de Steve McQueen é perseguido por um suspeito Dodge Charger escuro para depois lhe trocar as voltas e virar o bico ao prego são quase perfeitas: o suspense dos momentos iniciais, a música de Lalo Schifrin, a tensão da perseguição final, os planos do retrovisor com o Mustang no seu encalce e o barulho real das mudanças a entrar fazem deste momento – totalmente sem diálogos – uma sequência que vale todo o filme e mais alguns. E, tal como a camisola de gola alta de Steve McQueen (que fez, ele próprio, toda a condução), os carros de Bullitt tornaram-se icónicos no que diz respeito a alta velocidade e Cinema.

Título original: Bullitt Realização: Peter Yates Ano: 1968

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UM GOLPE EM ITÁLIA

You're only supposed to blow the bloody doors off! O desabafo de Michael Caine, em Um Golpe em Itália, é uma das mais memoráveis falas do cinema britânico, mas é, provavelmente, a perseguição final que o inscreveu na cultura popular. Neste heist movie em que Caine é contratado para roubar a fábrica da FIAT, em Itália, são quase vinte minutos de assalto, em que cerca de metade são dedicados a três Mini Cooper S (iconicamente pintados com as cores da Union Jack) a escapulirem-se da polícia pelos locais mais improváveis das congestionadas ruas de Turim, numa espécie de roteiro turístico alternativo da cidade italiana ao som do não menos mítico Isaac Hayes.

Título original: The Italian Job Realização: Peter Collinson Ano: 1969

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RONIN

Nunca chegamos a descobrir que raio havia na mala que toda a gente cobiça, em Ronin, mas as perseguições automóveis que John Frankenheimer ensaia nas ruas de Paris e Nice são suficiente para cortar qualquer frustração. Frankenheimer era um tipo elegante, que sabia filmar sem se perder em grandes fogachos ou fogo-de-artífico desnecessário, e aqui filma como se Sam Peckinpah filmasse uma perseguição de carros. A segunda, com Robert De Niro e Jean Reno ao volante de um Peugeot 406, perseguidos por um BMW M5, em contra-mão nas ruas de Paris e pelos túneis do Sena, é de uma vertigem de tirar o fôlego, que nos deixa o coração nas mãos ao relantim.

Título original: Ronin Realização: John Frankenheimer Ano: 1998

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O ROCHEDO DIE HARD: NUNCA É BOM DIA PARA MORRER

Se as perseguições anteriores se destacam pela velocidade, pela elegância e pela condução acima da média, filmes como O Rochedo destacam-se pela destruição total (ou não fosse ele realizado por Michael Bay!). O contraste na perseguição não podia ser maior: à frente Sean Connery, ao voltante de um jipe Hummer; no seu alcance, Nicolas Cage ao voltante de um... Ferrari F355 amarelo. No entanto, o último tomo da trilogia Die Hard, assinado por John Moore, não lhe fica nada atrás no que diz respeito a caos e carros esmagados. Apesar do filme não ser nada de especial, esta sequência merece espreita-lo nem que seja uma vez, para ver uma autêntica orgia de metal torcido, carros capotados e veículos esmagados nas ruas de Moscovo.

Título original: The Rock

Título original: A Good Day to Die Hard

Realização: Michael Bay

Realização: John Moore

Ano: 1996

Ano: 2013

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À PROVA DE MORTE CORRIDA CONTRA O DESTINO

Quentin Tarantino sempre gostou de reciclar os sub-géneros do Cinema e, em À Prova de Morte, prestou homenagem aos road movies xungas, ao dar a Kurt Russell um carro à prova de morte com o qual ele podia enfaixar-se contra outros automóveis e sair ileso. Quem não estava para aturar essas brincadeiras era um grupo de improváveis heroínas, lideradas pela dupla Zoe Bell, que durante a perseguição derradeira passa a maior parte do tempo no capot do seu Dodge Challenger. Carro este que é o mesmo de Corrida Contra o Destino, um clássico de culto da contracultura dos anos 70, em que um veterano do Vietname tem de entregar o automóvel em São Francisco para ganhar uma aposta. Um filme que é uma enorme e longa perseguição, altamente estilizada e com a paisagem norte-americana como pano de fundo constante, numa obra altamente iconoclasta, que continua a influenciar a cultura popular actual, como o teledisco de “Show me how to live” dos Audioslave.

Título original: Death Proof

Título original: Vanishing Point

Realização: Quentin Tarantino

Realização: Richard C. Sarafian

Ano: 2007

Ano: 1971

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60 SEGUNDOS

Mesmo sem ser propriamente inspirado, 60 Segundos é um filme melhor que o original, de 1974. Nem que seja pela maior carga de testosterona, carros velozes e, claro, a Angelina Jolie. Nicolas Cage é então o melhor assaltante de carros, que consegue roubar qualquer automóvel em menos de 60 segundos. Para salvar o seu irmão das mãos de uns terríveis bandidos, vai ter então que roubar 50 carros numa só noite. O ponto alto é um Mustang GT500, nome de código Eleonor, que é o ponto caramelo deste filme assinado por Dominic Sena. Sem grande elegância, mas acompanhando a força do motor do Mustang, Nicolas Cage chuta aqui para canto qualquer comparação com o filme original, desprovido de qualquer pingo de adrenalina do género.

Título original: Gone In Sixty Seconds Realização: Dominic Sena Ano: 2000

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BEAT THE DEVIL

Entre 2001 e 2002, a BMW produziu uma série de 8 curtas-metragens para a internet com realizadores e actores, com o objectivo de promover os seus carros. Em comum todas elas têm um BMW, claro, e Clive Owen, na pele de um condutor a soldo, que embarca nas mais variadas missões. A mais memorável será, porventura, este Beat the Devil, realizado por Tony Scott, em que Owen leva James Brown (ele mesmo, o Padrinho da Soul), a renegociar o contracto que fez com o Diabo (aqui encarnado pelo não menos genial Gary Oldman, em modo Las Vegas) em 1954, em troca de fama e fortuna. A solução é então fazerem uma corrida: de um lado, James Brown e o seu condutor, Clive Owen, ao voltante de um BMW Z4; ao lado, o Diabo e o seu motorista, Danny “Machete” Trejo, ao volante de um Pontiac Firebird Trans Am de 76, pintado com umas chamas escarlates. Filmado com todos os tiques, filtros e maneirismos de Scott, Beat the Devil é um festim aos olhos e sentidos, cheio de referências pop e um Marylin Manson num cameo tardio, a bater à porta da casa do Diabo enquanto se queixa do barulho. Título original: Beat the Devil Realização: Tony Scott Ano: 2002

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PERIGO EM ALTA VELOCIDADE

Escrever um artigo sobre perseguições memoráveis do Cinema e não falar de Perigo em Alta Velocidade é como ir a Roma e não ver o Papa ou como falar da história do Benfica e não mencionar Eusébio. É que o filme do holandês Jan de Bont é todo ele uma enorme perseguição, já que é esse o conceito de Perigo em Alta Velocidade. Há um autocarro armadilhado, conduzido pela Sandra Bullock, que, se abrandar, explode. A solução é andar às voltas pela cidade, a alta velocidade, enquanto o agente Keanu Reeves (ele que também tem no currículo a maior perseguição da história do Cinema, mas a pé, cortesia de Katheryn Bigelow, em Ruptura Explosiva) salta para dentro do autocarro em andamento e tenta lembrar-se de uma solução antes que a gasolina acabe. Obviamente que estava mais que visto que a sequela iria ser um desastre.

Título original: Speed Realização: Jan de Bont Ano: 1994

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15 FILMES ONDE OS CARROS BRILHARAM MAIS ALTO Steve McQueen, Tom Cruise, Michael Caine, Kurt Russell ou Sylvester Stallone foram apenas alguns dos protagonistas de filmes com muitos carros, sobre carros ou mesmo em que apenas um carro foi o centro das atenções de toda a narrativa ou parte dela. Bem, dito assim, talvez estes e muitos outros actores não tenham sido protagonistas mas apenas acessórios para os verdadeiros heróis das histórias, máquinas como a Eleanor de Gone in Sixty Seconds ou o Mustang GT de Bullit. Numa edição dedicada a motores que marcaram a Sétima Arte, a Take Cinema Magazine analisou quinze filmes, de todas as épocas, de todos os géneros e para todos os gostos, em que foram os carros quem brilharam mais alto. Gentlemen, start your engines!


THE GREAT RACE

Título nacional: A Grande Corrida à Volta do Mundo Realização: Blake Edwards Elenco: Tony Curtis, Natalie Wood, Jack Lemmon

1965 ANÍBAL SANTIAGO

Existe uma aura de saudável loucura e humor, onde tudo é exagerado, irreal, cheio de cor e ilusão em The Great Race, uma obra que raramente faz sentido mas facilmente consegue captar a nossa atenção. Realizado por Blake Edwards, The Great Race apresenta-nos a uma corrida de carros que se desenrola na transição para o Século XX, que coloca em competição o Grande Leslie (Curtis) e o maléfico Professor Fate (Lemmon), aos quais se junta Maggie (Wood), uma intrépida jornalista e sufragista, enquanto se deslocam pelos mais distintos locais. Entre os EUA, um pequeno reino asiático, França, entre outros territórios, The Great Race apresenta-nos a uma miríade de personagens, cenários e mini-histórias, perdendo muitas das vezes o foco no enredo principal, com os personagens a envolverem-se nos mais tresloucados episódios, parecendo que a competição pouca importância tem para os mesmos.

Mais do que estar interessado em explorar a corrida e criar interesse no desfecho da mesma, Blake Edwards prefere apostar nas subtramas e no aproveitamento do humor splapstick, algo a espaços divertido, mas nem sempre capaz de sustentar um filme de tão longa duração. No entanto, existe sempre um certo charme a rodear esta obra, nem que seja pelo seu jeito meio ingénuo e cândido, que procura apenas divertir e não ser demasiadamente levado a sério, onde se nota uma enorme procura de Edwards em desenvolver um filme de comédia a uma escala global e grandiosa. The Great Race pode não nos dar uma grande corrida, mas oferece uma comédia meio louca e de enorme leveza, que facilmente se transforma numa obra ideal para uma tarde de puro escapismo.

“(...) um certo charme a rodear esta obra, nem que seja pelo seu jeito meio ingénuo e cândido (...)”

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BULLITT

Título nacional: Bullitt Realização: Peter Yates Elenco: Steve McQueen, Jacqueline Bissett, Robert Vaughn

1968 ANÍBAL SANTIAGO

Requisitado pelo ambicioso Senador Chalmers (Vaughn) para proteger uma testemunha chave num caso contra a máfia, o tenente Bullitt (McQueen) logo vê a sua habilidade profissional ser colocada em causa quando o quarto do hotel onde os seus homens se encontram a vigiar o mafioso é atacado por criminosos, em Bullitt, um icónico filme de acção realizado por Peter Yates. Perante a morte da testemunha, Bullitt procura conseguir o apoio do médico para encobrir a morte do primeiro e correr contra o tempo para descobrir os criminosos, enquanto transgride a lei, trava-se de argumentos com Chalmer e procura a todo o custo resolver o caso, numa obra intensa, onde não faltam tiroteios, perseguições de carros implacáveis, mortes, sangue, violência, e polícias que procuram a todo o custo cumprir o dever, mesmo que para isso tenham de violar as leis e assumir uma postura próxima da dos criminosos.

Um desses polícias é Bullitt, um personagem magnificamente interpretado por Steve McQueen, que oferece uma aura única ao protagonista, enquanto este se envolve numa investigação intrincada e violenta, recheada de reviravoltas, identidades trocadas e políticos pouco recomendáveis, numa cidade de San Francisco marcada pelo crime onde homens como o protagonista são o garante da manutenção da autoridade. Filme de acção intenso e violento, Bullitt apresenta-nos a uma obra muito marcada por vários elementos noir, momentos icónicos, um Steve McQueen cheio de carisma e uma história bem amarrada, que continua a entusiasmar e a ter uma cena de perseguição nas estradas verdadeiramente memorável.

“(...) um Steve McQueen cheio de carisma e uma história bem amarrada (...)”

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THE ITALIAN JOB

Título nacional: Um Golpe em Itália Realização: Peter Collinson Elenco: Michael Caine, Noel Coward, Benny Hill

1969 ANÍBAL SANTIAGO

The Italian Job beneficia de um conjunto de personagens carismáticos, cujas personalidades dicotómicas se complementam na justa medida e incrementam um caper movie britânico, que mantém um charme irresistível. Realizado por Peter Collinson, The Italian Job apresenta-nos a Charlie Croker (Caine), um criminoso que acaba de sair da prisão e decide colocar em prática um dos planos de um antigo companheiro, falecido num suposto acidente de viação: invadir os controlos do trânsito de Turim, causar um dos maiores engarrafamentos da história e roubar quatro milhões de dólares em barras de ouro. O golpe seria desenvolvido com o recurso a três Mini Coopers, cujas pequenas proporções poderiam ser as ideais para se movimentarem no caótico trânsito, algo que Croker procura colocar em prática ao reunir uma equipa pronta a desenvolver o Golpe em Itália.

O assalto, desde a sua preparação até à sua execução, revela-se entusiasmante, com doses harmoniosas de acção, humor e alguma tensão, onde os Mini Coopers avançam pelas zonas comerciais de Via Roma, descem as escadas da igreja Gran Madre di Dio, cumprem proezas mirabolantes, desafiam o nosso sentido de credibilidade e proporcionam alguns momentos únicos. Pelo meio, Michael Caine enche o ecrã de carisma como um assaltante cheio de estilo, Noël Coward interpreta um gangster sui generis, enquanto Peter Collinson desenvolve um filme entusiasmante, composto por one liners que ficam na memória, um tema sonoro que tarda em sair do ouvido e muita loucura. Sem se levar a sério, incrivelmente divertido e entusiasmante, The Italian Job apresenta-nos a um mirabolante pedaço de cinema, onde o maior golpe é conseguir roubar a nossa atenção. “Sem se levar a sério, incrivelmente divertido e entusiasmante (...)”

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LE MANS

Título nacional: Le Mans Realização: Lee H. Katzin Elenco: Steve McQueen, Siegfried Rauch, Elga Andersen

1971 ANÍBAL SANTIAGO

Mais preocupado em apresentar emotivas corridas de carros do que uma história complexa, Le Mans é uma das poucas obras cinematográficas a ter como pano de fundo as 24 Horas de Le Mans, uma competição muito popular junto dos aficionados de automobilismo, que tem aqui um exemplar algo irregular. As corridas podem ser intensas e entusiasmantes de seguir, apresentando um realismo fora do comum e transmitindo um pouco a atmosfera da competição na época, mas a nível narrativo pouco tem para contar e oferecer ao espectador, com os diálogos entre os personagens a parecerem quase sempre pequenos interlúdios para as corridas. Se não percebe quase nada sobre a prova, não se preocupe, pois num momento algo didático do primeiro terço somos apresentados às regras da competição e à rivalidade entre os pilotos Michael Delaney (McQueen) e Erich Stahler (Rauch), através do apresentador da prova.

Quem é fã da competição certamente tirará maior prazer da visualização desta obra realizada por Lee H. Katzin, que beneficia imenso do carisma de Steve McQueen como Delaney e do realismo das corridas de carros. Um conjunto de corridas onde somos transportados para um passado recente da competição, bem como a todos os perigos e parafernália que envolve a competição, desde a procura da imprensa em criar rivalidades entre atletas, o ritmo frenético das boxes, os bastidores das corridas, embora tudo seja apresentado muito levemente, visto que o grande propósito do filme em explorar as corridas. Entre zooms inquietos, corridas frenéticas, carros para apreciar e muita velocidade, Le Mans promete agradar sobretudo aos fãs da prova, colocando em destaque toda a beleza e emotividade da mesma.

“(...) todos os perigos e parafernália que envolve a competição (...)”

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DUEL

Título nacional: Duelo na Estrada Realização: Steven Spielberg Elenco: Dennis Weaver, Jacqueline Scott, Eddie Firestone

1971 JOÃO PAULO COSTA

britânico havia feito anos antes com Os Pássaros, aquilo que torna o filme verdadeiramente arrepiante é a aparente aleatoriedade da ameaça. Não só nunca descobrimos porque é que David é assediado por este sombrio camião pujante e enferrujado como nem sequer chegamos a ver o rosto do camionista. Dessa forma, é o veículo que ganha uma vida própria e se afirma como uma encarnação do mal. David, desamparado no vasto deserto americano, é o homem comum apanhado em circunstâncias anormais. E será mesmo essa cadeia predatória moderna, onde o homem aparece como presa da máquina, que torna a experiência de Duelo na Estrada tão arrepiante quanto fascinante, tendo-se tornado também no melhor cartão de visita possível para um realizador que dali a nada iria chegar ao topo da cadeia alimentar da indústria do cinema americano.

Antes de apavorar meio mundo com o terror emergente do azul do oceano em Tubarão, já Steven Spielberg andava a dar cartas no universo do terror e suspense. De forma tão eficaz, aliás, que mesmo tendo sido produzido originalmente para televisão, Duelo na Estrada acabou por ter direito a exibição em sala. A premissa não podia ser mais simples: David percorre o deserto em direcção a uma reunião de negócios quando se cruza com um camionista que, sem motivo aparente, começa a perseguilo violentamente. Pegando nesta pequena história adaptada por Richard Matheson do seu próprio conto publicado na revista Playboy, Spielberg inspirou-se a fundo nas lições do mestre Hitchcock e pôs o seu próprio talento ao serviço do projecto que acabaria por o catapultar para um nível superior na hierarquia de Hollywood. Não é por acaso que se evoca o nome de Hitchcock. Tal como o mestre

“(...) tão arrepiante quanto fascinante (...)"

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VANISHING POINT

Título nacional: Corrida Contra o Destino Realização: Richard C.Sarafian Elenco: Barry Newman, Cleavon Little, Dean Jagger

1971 ANÍBAL SANTIAGO

Kowalski (Newman) aposta que consegue entregar um carro de Denver até San Francisco, até às três horas do dia seguinte, algo que procura cumprir, mesmo que para isso não obedeça às ordens da polícia para parar o veículo. Aos poucos descobrimos que Kowalski foi um polícia e antigo combatente na Guerra do Vietname, enquanto este deambula pelas estradas aparentemente solitárias do Sudoeste dos EUA, cobertas por alcatrão ou arenosas, onde ressurgem memórias do passado e a polícia o persegue de forma intensa, ao mesmo tempo que este se transforma uma espécie de anti-herói nacional. A contribuir para o mito da sua figura encontra-se o DJ Super Soul, que na rádio relata os seus feitos, ao mesmo tempo que este "cavaleiro solitário" conduz o seu Dodge Challenger branco de 1970 em direcção ao seu destino. Se o carro tem um destino, Kowalski não parece ter um rumo, tendo

nas memórias do passado uma companhia aparente, enquanto procura a todo o custo fugir das autoridades numa jornada solitária e obsessiva, marcada por estranhas figuras e acontecimentos. Kowalski é o protagonista de Vanishing Point, uma obra marcante realizada por Richard C. Sarafian, que coloca em destaque alguns elementos da contracultura norte-americana da época, não faltando o rock (magnífica banda sonora), as drogas (consumo de anfetaminas), liberdade sexual (a motoqueira nua pelas estradas), o desafio às autoridades, bem como a beleza natural dos territórios por onde deambula o protagonista. O resultado final é uma obra icónica, onde Barry Newman interpreta um motoqueiro misterioso, fiel aos seus valores e ideias, que gosta de desafiar o perigo, enquanto lida com os seus fantasmas interiores.

“(...) Se o carro tem um destino, Kowalski não parece ter um rumo (...)"

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DEATH RACE 2000

Título nacional: Corrida da Morte no Ano 2000 Realização: Paul Bartel Elenco: Sylvester Stallone, David Carradine, Mary Woronov

1975 ANÍBAL SANTIAGO

Com uma enorme violência e improbabilidade de conseguirmos levar a sério o seu enredo, Death Race 2000 apresenta-nos de forma algo caricatural a um território dos EUA distópico, onde um dos desportos mais populares é a Corrida de Estradas Transcontinental Anual. No caso do filme, assistimos à vigésima prova desta competição, que coloca um grupo de pilotos excêntricos a percorrerem as estradas dos EUA, enquanto tentam atropelar transeuntes. Destes participantes destaca-se o enigmático Frankenstein (Carradine), um piloto mascarado conhecido não só pelas suas habilidades, mas também pelo mito em volta da sua figura, no interior de uns EUA desprovido de valores éticos e morais. Este é um território distópico, marcado pelo desrespeito em relação à lei e aos direitos humanos, onde o público delira com as mortes em directo e os pilotos surgem espampanantes e ridículos.

Embora seja praticamente impossível levar a sério este filme realizado por Paul Bartel, cujo enredo é de pleno mau gosto, Death Race 2000 acaba por conseguir fazer uma crítica social, que hoje até ganha uma maior pertinência com a “moda” dos reality-shows, onde tudo vale para conseguir a atenção do público, conseguindo ainda em simultâneo criticar o aparato que rodeia os desportos automobilísticos. No entanto, é tudo demasiado caricatural, sempre muito dependente do carisma dos seus actores, numa obra marcada pela violência extrema, nudez gratuita, personagens unidimensionais e diálogos de qualidade duvidosa. Pelo meio encontramos um grupo rebelde que procura travar as corridas e o Presidente despótico, humor de cariz duvidoso, algumas surpresas, muitas corridas e mortes em quantidades assinaláveis.

"(...) obra marcada pela violência extrema, nudez gratuita, personagens unidimensionais e diálogos de qualidade duvidosa."

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GRAND THEFT AUTO

Título nacional: O Massacre dos Bólides Realização: Ron Howard Elenco: Nancy Morgan, Ron Howard, Don Steele

1977 SARA GALVÃO

Não. Carl Johnson não está neste filme. Este é o ligeiramente embaraçoso - porque não mau o suficiente para atingir estatuto de culto primeiro filme de Ron Howard, produzido com a ajuda de Roger Corman e filmado em apenas 15 dias. Rapariga rica enamora-se de rapaz humilde (intepretado pelo próprio Howard) e fogem da familia dela no Rolls Royce do pai, em direcção a Las Vegas para um casamento instantâneo, desencadeando uma perseguição que atinge níveis nacionais quando é anunciada uma recompensa milionária pela captura dos pombinhos. Claro que no fim o amor triunfa, o pai da rapariga perdoa o novo genro e todos são felizes para sempre, principalmente os mecânicos da área. Carros existem neste filme para serem destruídos, ponto final - e o car smash movie foi um género extremamente popular nos anos 70.

Os acidentes são tão espalhafatosos quanto ridículos, enquanto toda a gente sai ilesa dos resquícios de metal (isto é uma comédia, no final de contas). E destruída é a grande estrela do filme, o Rolls Royce Silver Cloud I de 1959 que a filha desnaturada usa para a sua fuga. Outros carros que povoam o ecrã incluem um Volkswagen Sedan laranja, um belíssimo Bugatti tipo 35 B dado a explosões súbitas, e mais Cadillacs e Chevrolets que se possa contar. Ah, e um helicóptero. Evidentemente. Não é Velocidade Furiosa. E não é Citizen Kane. É um filme idiota, para uma daquelas noites idiotas em que queremos ver o quão maus os grandes de Hollywood começaram. E, só para isso, aproveita-se.

All you had to do was to follow the damn train, CJ!

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DAYS OF THUNDER

Título nacional: Dias de Tempestade Realização: Tony Scott Elenco: Tom Cruise, Nicole Kidman, Robert Duvall

1990 CARLOS REIS

O acelerar dos motores. A febre das corridas NASCAR nos Estados Unidos da América. Tom Cruise no papel do jovem condutor Cole Trickle, cuja razão e coração se vêem superados constantemente pela necessidade intrínseca de vencer. Mas quando um brutal acidente quase termina com a carreira e vida de Cole, apenas a ajuda de uma belíssima médica (Nicole Kidman) e de uma estranha amizade fará com que Trickle consiga readquirir a força que necessita para voltar a competir, ganhar e amar. Realizado pelo britânico já falecido Tony Scott - com quem Tom Cruise tinha trabalhado uns anos antes em Top Gun - e com uma banda sonora electrizante do conceituado Hans Zimmer - que não resistiu, a pedido de Cruise, a um tema dos lendários Whitesnake -, Days of Thunder consegue convencer o mais fanático pela velocidade nas suas cenas de pista e, mesmo sem fugir aos caminhos comuns de qualquer romance desportivo, agarrar suficientemente o espectador a uma química de

ecrã irrepreensível entre Cruise e a então companheira Kidman. De resto, e mesmo estando longe daquele feeling irresistível de Ases Indomáveis, Dias de Tempestade entrega o que promete, sem inventar nem dramatizar em excesso, sabendo que o seu principal trunfo está no charme do seu protagonista num dos role-playing onde ele nunca perdoou, tanto na crítica como nas bilheteiras: o de underdog determinado a vencer contra tudo e contra todos. Seja num Pontiac Grand Prix, num Honda Accord ou num Ford Thunderbird, tudo verdadeiros clássicos do quase sexagenário Daytona 500.

“(...) consegue convencer o mais fanático pela velocidade (...)”

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CRASH

Título nacional: Crash Realização: David Cronenberg Elenco: James Spader, Holly Hunter, Elias Koteas

1996 JOÃO PAULO COSTA

A certa altura de Crash (1996), uma das personagens centrais fala na “transformação do corpo humano pela tecnologia moderna” e num instante parece estar a recordar um dos principais temas da obra do canadiano David Cronenberg, seja através das mutações genéticas de um cientista em A Mosca (1986), seja através dos vírus deformadores de Coma Profundo (1977) ou, neste caso, da relação perversa com os automóveis. Crash, baseado no romance de J.G. Ballard, apresentanos um grupo de pessoas que encontram excitação sexual por entre destroços de colisões por eles provocadas. O fetichismo automóvel é assim levado aos limites do suportável pelo espectador mais sensível (se quisermos resumir o enredo do filme: uma série de acidentes e muito sexo sem inibições de qualquer espécie), mas na verdade aquilo que realmente incomoda não é tanto o que se passa diante dos nossos

olhos mas sim o que isso significa: Quando a chama das relações humanas só consegue acender em contacto com a frieza metalizada das máquinas, Cronenberg fala-nos (como falava Ballard) do cada vez maior distanciamento do homem no mundo moderno, mecanizando a sua vertente física e emocional, onde apenas a extrema proximidade com a morte parece fazer despertar essa humanidade perdida. Vaughan (Elias Koteas) é disso o principal exemplo, um predador sexual que acasala após sinistras danças de choque com o seu automóvel e que tem como hobby reproduzir acidentes mortais de famosas estrelas de cinema como James Dean. Talvez seja por nos fazer olhar de forma tão crua para nós próprios, que desde a sua estreia há quase duas décadas no Festival de Cannes tem sido um dos mais debatidos trabalhos do seu autor.

“(...) O fetichismo automóvel é assim levado aos limites do suportável (...)”

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GONE IN SIXTY SECONDS

Título nacional: 60 Segundos Realização: Dominic Sena Elenco: Nicolas Cage, Angelina Jolie, Giovanni Ribisi

2000 ANÍBAL SANTIAGO

Se conseguirmos desligar o lado mais pragmático do nosso cérebro e esquecermos a carreira errática de Nicolas Cage, o remake de Gone in Sixty Seconds revela-se um agradável filme de acção, que não prima pela originalidade e um argumento elaborado, mas sim por nos proporcionar quase duas horas de entretenimento cheio de ritmo e muito estilo. Realizado por Dominic Sena, um realizador cujo sentido estético não prima pela sensibilidade, Gone in Sixty Seconds apresenta-nos a Randall Raines (Cage), um antigo mestre na arte de roubar carros, que regressa a Long Beach para salvar o seu irmão, Kip (Ribisi), tendo de roubar 50 carros em 72 horas, caso contrário, este, o seu irmão e a mãe de ambos serão mortos por um perigoso gangster. Gone in Sixty Seconds poderia ser utilizado de forma irónica para descrevermos o tempo em que esta obra cinematográfica realizada

por Dominic Sena demora a desaparecer da nossa memória. Longe de ser uma obra memorável, este remake surge recheado de personagens clichés, momentos implausíveis, frases de efeito, plot holes e muita acção, onde apesar de tudo somos envolvidos de forma algo satisfatória para o interior desta história onde um gang resolve desenvolver um assalto impossível a 50 carros de luxo em pleno espaço citadino, algo que promete não dar bom resultado e proporcionar alguns momentos de tensão. Apesar de não contar com o argumento mais elaborado, nem um conjunto de personagens secundários devidamente desenvolvidos, Gone in Sixty Seconds mantém um certo poder de atracção junto do espectador, transformando o assalto a um conjunto de carros em algo de entusiasmante, mas pouco memorável.

“(...) quase duas horas de entretenimento cheio de ritmo e muito estilo.”

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DRIVEN

Título nacional: Corrida Alucinante Realização: Renny Harlin Elenco: Kip Pardue, Sylvester Stallone, Estella Warren

2001 AN]IBAL SANTIAGO

Driven é um acidente em larga escala, daqueles em que acreditamos que quase todos os seus envolvidos se queiram esquecer de tão embaraçoso ser. Cheio de diálogos pueris e um elenco que prima pela pouca habilidade na arte da representação, Driven é a prova de que ter estilo não chega, apresentando-nos a uma obra recheada de clichés e lugarescomuns, que nos fazem pensar que ao realizar A Ilha das CabeçasCortadas Renny Harlin também ficou com parte do seu talento para a realização cerceado. Não falta um triângulo amoroso pouco convincente, corridas com efeitos especiais embaraçosos, problemas pessoais risíveis, numa obra que perde imenso o foco da história, deambulando de subtrama em subtrama e oferecendo-nos algo ainda menor que o talento do seu protagonista para a arte da representação. A história centra-se em Jimmy Bly (Pardue), um piloto de CART novato,

que está a surpreender tudo e todos ao disputar o título com o conhecido Beau Brandenburg, até falhar numa etapa decisiva na disputa pelo título de campeão, algo que leva o seu chefe de equipa a chamar os serviços do veterano Joe Tanto (Stallone). Pelo meio tem de lidar com um agente abusivo (que por acaso é seu irmão), envolve-se num triângulo amoroso ao apaixonar-se pela namorada de Beau, enquanto procura conquistar o título, embora isso pouco interesse no interior desta salganhada. Irregular no seu argumento, incapaz de manter o foco na sua história e acompanhado por uma banda sonora inadequada, Driven falha em quase toda a linha, sendo que o seu valor de entretenimento depende acima de tudo da seriedade com que encaramos a obra.

“(...) Driven é a prova de que ter estilo não chega (...)"

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THE TRANSPORTER

Título nacional: Correio de Risco Realização: Corey Yuen Elenco: Jason Statham, Qi Shu, Matt Schulze

2002 CARLOS REIS

e guião a cargo do francês Luc Besson, Correio de Risco deu início de forma refrescante, despreocupada e divertida a uma saga de capítulos cinematográficos e televisivos cujo sucesso comercial cresce exponencialmente a cada novo capítulo que é lançado. Energético, estiloso e com uma cinematografia acima da média, só a sequência da perseguição inicial num cenário idílico algures no sul de França justifica o preço do DVD não só para qualquer fã de adrenalina sobre quatro rodas, como para qualquer cinéfilo capaz de respeitar as limitações estruturais de um filme de acção feito pura e simplesmente para entreter o espectador. De resto, uma banda sonora aprazível, uma Qi Shu deslumbrante e um Jason Statham vários furos acima de Seagals e companhias merecem um visionamento, nem que seja para abrir alas ao muito melhor Audi A8 6.0 de 450 cavalos que o anti-herói conduzirá nas respectivas sequelas.

Frank Martin é o melhor no seu negócio devido às regras rígidas que impõe aos seus clientes: nunca alterar algo previamente acordado, não mencionar qualquer nome, nunca abrir a "encomenda" e, acima de tudo, numa fazer uma promessa que não possa ser cumprida. Estas são as suas regras. As do carro que conduz, um belíssimo BMW 750i E38, com um motor V12 de 322 cavalos são ainda mais importantes: respeitem o carro e ele respeitará o cliente, cinto de segurança obrigatório e, importante, nunca beber café no seu interior. Se todas estas regras forem cumpridas, Martin conseguirá levar as suas missões até ao fim, entre derrapagens, perseguições policiais e tiroteios a alta velocidade. Mas tudo vai mudar no dia em que a "carga" é, nada mais nada menos, do que uma bela asiática raptada por uma rede internacional de tráfico de escravos. Realizado em parceria por Corey Yuen e Louis Leterrier, com produção

“Energético, estiloso e com uma cinematografia acima da média (...)”

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DEATH PROOF

Título nacional: Á Prova de Morte Realização: Quentin Tarantino Elenco: Kurt Russell, Zoe Bell, Rosario Dawson

2007 CARLOS REIS

Para perceber e apreciar alguns dos equívocos propositados do filme (película arranhada, saltos na montagem, o aparecimento do preto e branco), convém saber que esta é uma homenagem de Tarantino ao “Grindhouse”, termo recentemente desusado que definia locais cinéfilos, de medianas condições, que passavam sessões contínuas ou semi-contínuas de exploitation movies, os chamados filmes de “Série Z”, carregados de sexo, carros e violência mas com poucos recursos e efeitos especiais, lacunas derivadas dos limitados orçamentos dos seus autores. Uma jukebox musical e toques de telemóvel, uma cicatriz ou um simples hamburger, conversas banais sobre tudo e mais alguma coisa, o amarelo riscado com o preto, a violenta emancipação feminina e alguns carros antigos. A vingança. Com Tarantino, a mínima particularidade é suficiente

para prestar homenagem ao cinema e para transformar um simples argumento de desforra, numa fita de culto. E é assim Quentin, um realizador tão genial como autónomo, que assina não só a realização do filme, como a direcção de fotografia, o argumento e ainda escolhe a dedo a banda sonora das suas obras. Como se não bastasse, neste À Prova de Morte cria ainda um confronto tão delicioso quanto romântico entre dois clássicos automóveis que marcaram uma geração: o Chevy Nova de 1971, nas mãos do temível Kurt Russel, e o Ford Mustang de 1972 - o mesmo de Vanishing Point, cujos 375 cavalos e motor V8 acabam nas mãos sedutoras de três gatas assanhadas. Um verdadeiro orgasmo partilhado entre cinéfilos e amantes do ruído de um bom motor.

“Um verdadeiro orgasmo partilhado entre cinéfilos e amantes do ruído de um bom motor.“

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HOLY MOTORS

Título nacional: Holy Motors Realização: Leos Carax Elenco: Denis Lavant, Edith Scob, Eva Mendes

2012 TIAGO SILVA

É numa França caleidoscópica que se vê repentinamente transformada em palco bizarro e imprevisível que Leos Carax desenvolve o seu mais recente delírio surrealista. Holy Motors, fenómeno mediático e surpreendente que gerou enorme aparato crítico entre as grandes publicações e os mais importantes festivais de cinema do mundo, tem como base um conceito complexo e inovador que inevitavelmente o torna num dos trabalhos mais enigmáticos dos últimos anos. Na corrente de filmes anteriores do realizador como Mauvais sang e Pola X mas mantendo sempre um ritmo e originalidade únicos, a obra questiona o que é afinal o acto de representação, explorando as suas diversas facetas e criando situações impensáveis e de teor extremo. Corroborando a temática do filme, Denis Lavant oferece uma interpretação memorável dando corpo a uma galeria de personagens de

invulgar excentricidade (que não passam, na verdade, de variações da sua identidade solitária como Monsieur Oscar) e oferece uma reflexão sobre o que fica deste lado do ecrã. Neste contexto, são as limusinas brancas da estranha empresa que ajudam a fazer do cinema de Holy Motors um “lugar verdadeiro que existe fora dos filmes”, nas palavras de Carax. Ao longo de todo o filme, as viaturas são convertidas em espaço de metamorfose das personagens (assumindo particular importância o papel de Édith Scob como chauffer) e tornam possível a realização das farsas que compõem a insólita narrativa. Esta ideia é ainda mais acentuada na inesquecível cena final na garagem, que ao evocar Les yeux sans visage de Georges Franju em contraponto ao diálogo nervoso que os veículos estabelecem, cria uma das mais belas homenagens do cinema moderno. “(...) as viaturas são convertidas em espaço de metamorfose (...)”

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© TODD ANTONY / BBC


O FENÓMENO TOP GEAR CARLOS REIS

Humor, dedicação e honestidade poderão muito bem ser os três adjectivos que melhor definem a razão para o sucesso tão improvável quanto merecido daquele que todos esperavam fosse apenas mais um programa televisivo sobre carros. E que, verdade seja dita, assim o foi de 1977 a 2002, ano em que sofreu uma reformulação massiva a todos os níveis, transformando-o no que é hoje: nada mais, nada menos, do que a série de televisão mais pirateada em todo o mundo, mesmo sendo transmitida em mais de uma centena e meia de países, com uma audiência global estimada de 350 milhões de telespectadores.

excepção, ou não precisassem eles de se aquecer com qualquer coisa - o pior foram as multas que a estação teve que pagar pelo comportamento socialmente inadequado. Segurança acima de tudo? Quase nunca, seja de jipe no "Caminho da Morte" na América do Sul, de carripana num safari africano ou em circuitos em que carros, motas e helicópteros passam a poucos metros uns dos outros em alta velocidade. Que o diga Hammond, que passou vários meses hospitalizado devido a um traumatismo craniano resultante de um acidente a cerca de 506 km/h num carro de corridas drag.

Descrito pelos seus grandes mentores - o trio de apresentadores Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May - como "aventuras de homens idiotas com carros idiotas", a verdade é que o programa da britânica BBC2 tornou, em pouco mais de uma década, três jornalistas especializados em automobilismo em verdadeiras super estrelas planetárias, ao nível daqueles que moram lá para os lados de Hollywood e que muitas vezes são convidados para participar num dos mais adorados segmentos do programa.

Preocupações ambientais? Isso é para meninos. Nem o mais "verde" apreciador de um bom espectáculo televisivo conseguirá resistir a sentirse alegremente culpado com as mais originais e divertidas sequências que a produção do Top Gear prepara para cada episódio. Episódios esses que custam, isoladamente, quase um milhão de euros, um valor recorde muito criticado por alguns devido ao actual contexto sócio-económico inglês, mas que ainda assim representa apenas parte dos lucros que a marca "Top Gear", nos seus mais variados formatos e franchises, gera.

Esqueçam tudo o que aprenderam sobre segurança rodoviária ou análise pormenorizada de carros. BMWs? Clarkson detesta-os. Se conduzir não beba? Quase sempre, mas o Polo Norte revelou-se uma quase boa

E, admirem-se, Top Gear é também politicamente controverso. É raro o mês que passa sem que haja uma polémica que meta a BBC em problemas com as mais variadas entidades, seja pelas piadas machistas 79


© 2009 Justin Leighton

constantes sobre prostitutas, pelas provocações típicas de Clarkson quase sempre com palavrões à mistura ou com farpas a membros do governo. Postura que lhe fez ganhar o respeito dos fãs e que, aliás, já lhe valeu cerca de cinquenta mil assinaturas numa petição que pretendia que o apresentador "com mau feitio" se candidatasse ao cargo de Primeiro Ministro. Cargo esse ocupado agora por Gordon Brown, uma das vítimas favoritas de Clarkson. Mas nem só dos três apresentadores se fez o sucesso insofismável do programa. Longe estaria Clarkson de imaginar que a sua ideia de contratar um piloto profissional de corridas para o programa, de modo a consolidar de forma consistente - e espectacular, já agora - alguns dos segmentos pensados para a reinvenção do aborrecido magazine semanal da televisão britânica acabaria por se tornar, quase por acidente, num dos ingredientes chave e imagens de marca de Top Gear: o "The Stig". Tudo porque a produção não conseguiu encontrar um único piloto que fosse tão convincente a falar para as câmaras como a dominar a embraiagem e optou por torná-lo num herói mascarado, cuja identidade seria para sempre uma incógnita, protegida por um contrato altamente sigiloso. Até ao dia em que, farto de ver os colegas que davam a cara ganharem rios de massa com presenças, livros e participações especiais, Ben Collins, piloto inglês cujo currículo invejável conta com uma vitória nas

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famosas 24 Horas Le Mans, decidiu revelar-se como o homem de branco, lançando um auto-biografia que acabaria por tornar-se num dos livros mais vendidos do ano no Reino Unido, bem como ser usado como justacausa para a produção do Top Gear terminar a sua ligação ao programa, disparando várias críticas ao piloto por ter quebrado um dos segredos mais bem guardados de sempre entre os media britânicos, que durante oito anos não conseguiram descobrir quem era o "The Stig". Mas a ele voltaremos mais à frente.

com o recorde de uma década para um programa exibido na BBC entre 2001 e 2010: o último episódio da nona temporada alcançou uns estonteantes oito milhões de espectadores domésticos. Entre especiais irresistíveis, com a tripla a atravessar o Texas com um carro repleto de marcações homossexuais ou a tentar alcançar o polo norte magnético num Toyota Hilux modificado para andar sobre gelo - e a entrarem no Guinness como os primeiros a alcançarem-no de carro - ou reportagens únicas como a que os conceituados "60 Minutos" da CBS norte-americana lhes dedicaram, a popularidade actual e crescente da série que há pouco mais de dez anos esteve em vias de ser cancelada é inequívoca. Porque Top Gear percebeu que a sua principal arma era a massificação e diversificação do seu público-alvo, transformando-se num blockbuster televisivo para todos os gostos, mesmo aqueles que, como eu, não ligavam patavina ao mundo automóvel. Porque não é preciso perceber ou gostar de carros para gostar de Top Gear. E é esse o trunfo que o diferencia de todos os outros.

Actualmente na sua vigésima temporada moderna, Top Gear abandonou os aborrecidos estúdios dos anos oitenta e noventa como pano de fundo, tendo agora o seu próprio circuito de corridas, um antigo aeródromo usado durante a Segunda Guerra Mundial, que a produção do programa comprou ao Estado. Um hangar de reparação de aviões abandonado no aeródromo foi ainda reformulado para servir de escritórios e de estúdio para toda a equipa por detrás do fenómeno Top Gear. Uma hora de programa em vez da tradicional meia-hora que Clarkson, sozinho, teve direito durante anos e especiais regulares como "Star in a Reasonably Priced Car", "The Cool Wall", "The News", "Power Laps" ou a destruição de caravanas das mais diversas formas e feitos (sim, um piano a cair no tejadilho de uma caravana não a deixa em bom estado, podemos já adiantar) marcam este renascimento de Top Gear em 2002, que culminou 81


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"Ser o duplo do James Bond nas cenas de condução nos últimos dois capítulos da saga foi uma grande honra para mim, mas também um grande fardo a nível familiar.."

À CONVERSA COM

BEN COLLINS

O HOMEM NO FATO BRANCO CARLOS REIS

Ben, antes de mais, muito obrigado por nos concederes esta entrevista. Vamos começar... pelo fim da tua vida enquanto "The Stig": estás em paz com o trio de apresentadores do Top Gear? Pelo que saiu nas notícias, a coisa ficou feia entre vocês. Desde que saíste, voltaste a falar com algum deles? Depois de eles me terem tratado como um bombista por ter ousado abandonar o programa, acho que as coisas já começaram a acalmar. Já estive recentemente com o James e o Richard e demo-nos bem. Ou seja, falta apenas o outro, aquele mais alto. O Jeremy tem um forte gancho de direita mas eu sou rápido, logo espero encontrar-me com ele no futuro.

Provavelmente Ben Collins será um nome que pouco ou nada dirá ao tradicional leitor cinéfilo da nossa revista. Mas se o apresentarmos como o "The Stig" original, aquele que criou em seu redor uma autêntica mitologia televisiva e pop, as coisas já mudam de figura. Quando em 2010 decidiu quebrar uma das cláusulas do seu contrato - manter o herói mascarado anónimo, um verdadeiro enigma para o público e para a imprensa, que chegou a pensar que dentro daquele capacete branco estaria o heptacampeão mundial de F1 Michael Schumacher (o que acabou por ser usado pelo programa num episódio para confundir os fãs) - e publicar a sua autobiografia em livro, anunciando ao mundo que era ele o "Homem no Fato Branco" - título que deu ao livro -, a sua vida virou-se do avesso. Clarkson e a produção correram imediatamente com ele de Top Gear, mas Collins ganhou popularidade suficiente - o seu livro foi um dos mais vendidos do ano no Reino Unido e recebeu fortes elogios da crítica - para compensar financeiramente e pessoalmente a sua saída. Piloto de corridas com currículo invejável, duplo de James Bond nos últimos dois capítulos 007 e fã de Ayrton Senna, a Take Cinema Magazine mostra ao mundo o lado mais pessoal do "The Stig", numa entrevista exclusiva realizada no passado mês de Agosto.

Foste o "The Stig" durante oito anos, treze temporadas. Como é que tudo começou? Houve alguma espécie de casting? Foi todo um processo muito oficial. Fui convidado pelo produtor da série Andy Wilman para um casting no circuito do Top Gear, um antigo aeródromo militar do tempo da Segunda Guerra Mundial, no meio do nada. Cheguei lá, deram-me as chaves de um carro velho, e contaram o tempo que demorei a fazer duas ou três voltas. Bati o melhor tempo por volta que eles tinham lá em dois segundos. Mas não soube logo no dia, até porque o Andy é uma velha raposa. Deixou-me dois meses na expectativa por uma resposta até finalmente contratar-me para a série.

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Os nossos leitores querem saber qual foi o carro que conduziste no programa que mais gostaste. E o pior! E qual a celebridade que mais gozo te deu conhecer. Gosto muito de carros desportivos, principalmente os Ferraris. O 459 provavelmente continua a ser o meu favorito mas nunca esquecerei o dia em que conduzi o Porsche Carrera GT, o único modelo da Porsche com o motor no meio do carro. É ainda hoje um dos mais desafiantes e mais recompensadores carros que já conduzi. Desafiante porque o carro derrapou-me várias vezes durante as voltas iniciais, depois recompensador porque quando o aprendemos a conduzir, é simplesmente a melhor máquina do mundo para conduzir em velocidade. E eu adoro velocidade. O pior carro foi o TVR (ndr: carro desportivo inglês), absolutamente horroroso à vista e perigoso à condução, porque confere ao condutor uma falsa sensação de segurança e depois... tenta-te matar. Foi terrivelmente mal construído e até os espelhos estavam sempre a cair. Quanto às celebridades, gostei de conhecer todas elas mas é claro que ensinar alguns truques de condução ao Tom Cruise e à Cameron Diaz não pode ser considerado um dia normal no trabalho. Eles foram espectaculares ao volante e igualmente encantadores com a equipa longe dele. Ficamos todos surpreendidos com a sua simplicidade. O Tom quase que capotou o carro barato, mas depois divertiu-se tanto a dar umas volta a 250 km/h num Bugatti Veyron que o próprio atrasou-se para a antestreia britânica do seu filme. Inesquecível.

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Escreveste "The Man in the White Suit", considerado pelo New York Times como o "Garganta Funda do Mundo Automóvel". O livro foi muito bem recebido pelos fãs do Top Gear mas acabou por ser a razão pelo qual tiveste que abandonar o programa. Fala-nos um pouco do livro e diz aos portugueses porque é que o devem comprar. O meu livro é leitura obrigatória para qualquer pessoa com insónias. Espero que dê uma perspectiva real das sensações que uma pessoa sente quando leva um carro ao seu limite. Quando a necessidade pela velocidade nos atinge e a adrenalina começa a correr nas nossas veias, é uma experiência mágica, uma pela qual sou viciado desde criança. Conduzir carros a 320 km/h e ser duplo de condução nos filmes do James Bond pode ser considerado por alguns como algo extremo, mas o que me deixa feliz é que consigo retirar dessas experiências, bem como da minha condução do dia-a-dia o mesmo prazer, a mesma energia. No livro há ainda, claro, inúmeros segredos sobre o Top Gear, mas nenhuma referência a qualquer "garganta funda", pelo menos que me recorde. Estou agora a trabalhar no meu segundo livro, mais focado em como conduzir bem do que na minha vida pessoal. Saiu recentemente um estudo que defendia que conduzir bem e com estilo ajuda-te a levar as miúdas para a cama, portanto é uma altura boa para lançar esta nova obra.

duplos do mundo é muito divertido. De peritos em artes marciais que nos podiam matar apenas com o olhar a campeões de ginástica feitos de borracha, apanhamos um pouco de tudo. Ser o duplo do James Bond nas cenas de condução nos últimos dois capítulos da saga foi uma grande honra para mim, mas também um grande fardo a nível familiar. Depois de despir o fato de 007, a cabeleira e o carro de alta velocidade, chegamos a casa e o que temos no frigorífico são couves-lombarda para o jantar... é aí que te apercebes que afinal não és lá grande agente secreto como imaginaste todo o dia. E o futuro? Algum projecto televisivo ou cinematográfico que nos possas contar? Acabei há pouco tempo de trabalhar no The Amazing Spider-Man 2, que foi muitíssimo divertido, e vou agora para a Polónia participar numa série televisiva local chamada Automaniak, com o papel de fazer uma imensidão de maluquices sobre quatro rodas. A minha outra prioridade é finalizar alguns planos de corridas que tenho para o próximo ano nas 24 Horas de Le Mans. É simplesmente a melhor corrida do mundo. Ben, o mundo precisa de saber qual o filme "motorizado" favorito do Stig. E, já agora, qual o seu filme favorito, sem restrições de género. O meu filme "motorizado" favorito é o Vanishing Point, porque nos leva para uma era onde a edição e pós-produção das cenas não aldrabavam, como hoje, o que realmente acontece na estrada durante as filmagens. A história é forte e apresenta-nos alguns dos ícones visuais mais famosos

Duplo do James Bond, isso é que deve ter sido algo especial para ti. Alguma história engraçada nas filmagens que nos possas contar? Aprecias este tipo de trabalhos cinematográficos? Trabalhar com equipas de efeitos especiais e com alguns dos melhores 85


dos Estados Unidos da América. E borracha queimada, tanta! Filme favorito? Blade Runner.

faz. Para uma voltinha de graça, acho que escolhia um Bugatti Veyron espelhado. Espelhado porque assim conseguia ver o sorriso na minha cara sempre que entrasse nele.

Tens uma longa carreira como piloto de corridas, mesmo tendo em conta que só começaste aos 19 anos. Qual foi a tua corrida mais memorável? E porquê? As minhas primeiras 24 Horas de Le Mans, em 2001, continuam gravadas na minha memória como as mais intensas. Estava a competir na categoria LMP1, a velocidades superiores a 350 km/h, e choveu durante 17 das 24 horas. Haviam carros a despistarem-se a toda a hora e, durante a noite, chequei a aquaplanar a 290 km/h. Foi assustador e por pouco não fui contra uma parede. Conduzi sempre nos limites durante quatro horas, apenas para mais tarde me aperceber que estive na liderança da corrida durante todo o tempo em que estive na pista, mais rápido do que uma mão cheia de pilotos de F1 e de veteranos de Le Mans que andavam por lá. Foi algo extraordinário para mim.

Pergunta que fazemos a todos os nossos entrevistados: quem foi a tua primeira paixoneta cinematográfica? Essa é difícil. Provavelmente a Wilma de Buck Rogers. Nunca sobrestimem o poder de um fato espacial todo-o-terreno feito de licra. Já alguma vez estiveste em Portugal? No que é que pensas quando ouves o nome do nosso país? Foi em Portugal a minha despedida de solteiro. Lembro-me vagamente de alguns passos de dança, de beber whiskey em quantidades exageradas e de ser reconhecido por um fã de corridas britânico... quando andava à procura das minhas roupas.

Quem é, ou foi, o teu piloto favorito na história da F1? Ayrton Senna. Ele era um herói sublime e o melhor condutor de todos os tempos. Um verdadeiro perfeccionista. Que carro conduzes no teu dia-a-dia? E, se pudesses ter qualquer carro do mundo sem pagares por ele, qual escolherias para colocar à frente da tua porta de casa? Actualmente tenho um Audi S5 com motor V8... e adoro o barulho que 86


RESPOSTAS RÁPIDAS: Senna ou Prost? Senna, mas o Prost era/é também um génio. Vettel ou Webber? Não conheço o Seb (Vettel) mas sou amigo do Mark (Webber) e ele é o máximo. Hunt ou Lauda? Hunt Hamilton ou Alonso? Actualmente, acho que o Alonso é o melhor piloto da F1. Audi, BMW ou Mercedes? Audi. Mas adoro os BMWs série M e todos os AMGs da Mercedes. Top Gun ou Days of Thunder? Top Gun Shelby Mustang GT 500 (Gone in 60 Seconds) ou Ford Mustang GT (Bullitt)? Bullitt Clarkson, Hammond ou May? O Stig, estúpido!

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Š Cindi Christie


STAND AUTOMÓVEL

OS 10 CARROS MAIS FAMOSOS DA TV MIGUEL FERREIRA

Vamos parar de respirar. As personagens trocam os glóbulos vermelhos pelos hidrocarbonetos e aceleram quando gritam. Ao longo da história da televisão muitos foram aqueles que encheram de pó os cérebros falantes e os atiraram sem misericórdia para segundo plano. Ganharam plano, luz e lugar. É por eles que as memórias palpitam e pedem regressos. Justiceiros, pães de forma e generais. Sejam bem vindos ao stand automóvel dos 10 carros mais famosos do pequeno ecrã.


PONTIAC FIREBIRD TRANS AM 1982

Fabricante: Pontiac (General Motors) Produção: 1982-1992 Série: Knight Rider (1982-1986) Quilometragem: Uma vez à mesa tivemos uma discussão enorme sobre a possibilidade ou impossibilidade de o famigerado carro preto conseguir entrar em andamento nas traseiras do camião. Não havia internet. Os tempos eram outros. Os cabelos também. Não me lembro quem ganhou mas recordo-me bem de brincar ao brasileiro para dizer “kitche, kitche, vem-mi buscá!”. K.I.T.T. (Knight Industries Two Thousand) era um supercarro, comandado por um supercomputador, com a bela da inteligência artificial, conduzido por um superagente que levou um tiro na cara e depois uma supercirurgia. Passou de Michael Long a Michael Knight (David Hasselhoff) e encontrámos uma das parelhas mais icónicas da história da televisão. A combater o crime, sempre com a luz vermelha

a rasgar, de um lado para o outro. O carro de carne e osso, terceira geração do modelo Pontiac, deu lugar, em 2008, a um Ford Mustang Shelby GT500 que se transformava em três versões diferentes, na reinvenção da série original. Também é K.I.T.T. sob a desculpa de Knight Industries Three Thousand. Como todas as outras, que foram muitas, tentativas esta também falhou. Correu uma curta temporada na NBC e depois acabou.

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FERRARI TESTAROSSA 1986

Fabricante: Ferrari Produção: 1984-1996 Série: Miami Vice (1984-1990) Quilometragem: Desde Ben and Kate – comédia da Fox, de 2012, com piada, cancelada obviamente com brevidade – que não consigo pensar em Don Johnson sem pensar na sua filha Dakota Johnson. Suspiro. Mas essa história fica guardada para a “Take Giraças”. Aqui temos de falar de outra bomba, o Ferrari Testarossa, branco, que Sonny Crocket (Johnson) conduzia pelas ruas de Miami, cheio de pinta, bikinis, mojitos e música. Era o momento deles, para nosso deleite. O mais engraçado, nesta história de Ferraris é que nem sempre foram Ferraris, embora toda gente pensasse que sim. Durante as primeiras duas temporadas Crocket conduziu um Ferrari Daytona Spyder 365 GTS/4 preto que na verdade era um Chevrolet Corvette modificado. Os executivos da Ferrari ficaram

tão aborrecidos/maravilhados com a atenção que o falso carro recebeu que decidiram providenciar à série dois Testarossas. O outro espatifou-se no meio do argumento e veio então a máquina verdadeira. Em 2006, na adaptação ao grande écran, levada a cabo por Michael Mann, Colin Farrell (o novo Crocket) conduz um Ferrari F430 Spider. Esqueceu-se foi do resto, da magia.

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DODGE CHARGER R/T 1969

Fabricante: Chrysler Corporation Produção: 1966-1978 Série: The Dukes of Hazzard (1979-1985) Quilometragem: Constantemente, de novo, a Jessica Simpson despida em espuma a esfregar o popó. De novo, não agora. Até porque, não é o disparate cinematográfico de 2005 que merece a nossa atenção mas sim a emblemática série de 1979. Nela, os primos Bo (John Schneider) e Luke Duke (Tom Wopat), com a ajuda do tio Jesse (Denver Pyle) e da prima Daisy (Catherine Bach), levavam a vida sempre um passo à frente das autoridades do Condado de Hazzard, num número infindável de sarilhos e aventuras. A praticar o bem claro e tal não seria tão bem praticado se não fosse o seu único (e épico) veículo de fuga: o General Lee. Quem? Um Dodge Charger de 1969, laranja, com a bandeira da Confederação pintada no tecto e o número 01 estampado nas portas. Viva ao sul. E

viva também à buzina, inesquecível. Se não ouviu eu espero. Já está. Óptimo. Para não esquecer mesmo. E se por um lado o que a série fez foi tornar icónico este modelo por outro fez também o favor de o espatifar. Sim porque depois do salto a integridade cómica, e física, não podia ser mantida daquela maneira. Assim estima-se que entre 240 a 300 Dodge Chargers foram destruídos durante o tempo de vida da série. Era de tal forma necessário arranjar mais para rebentar, uma vez que na altura já não eram fabricados, que sempre que os produtores viam um na estrada corriam atrás do dono para o tentar comprar. Feitas as contas sobraram 17 Generais originais. Poucos mas bons de certeza.

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GMC VANDURA 1983

Fabricante: General Motors Produção: 1971-1996 Série: The A-Team (1983-1987) Quilometragem: De certeza que já ouviram o início, onde uma voz masculina nos explica quem são e que se alguma vez tivermos problemas podemos chamá-los. The A-Team, Soldados da Fortuna cá, Esquadrão Classe A lá, no Brasil. Como também nos lembramos da célebre dobragem, “adoro quando um plano dá certo!”. Acusados de um crime que não cometeram os quatro veteranos do Vietname formaram assim um conjunto da pesada que ajudava os inocentes enquanto se mantinha em fuga. Nomes compridos e corriqueiros que se espremiam em singulares alcunhas ou apelidos: Hannibal (George Peppard), Murdock (Dwight Schultz), Faceman (Dirk Benedict) e B.A. (Mr. T). Pertencia a este último o seu modo de transporte, tão vincado no nosso imaginário como

eles próprios: uma carrinha GMC Vandura, preta e cinzenta, com uma grossa listra vermelha nos lados. Era pisada, esmagada, metralhada, mas no episódio seguinte estava pronta de novo para a ação. Se vou falar da adaptação para cinema que teve lugar em 2010? Acho que não, já ando deprimido o suficiente.

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FORD GRAN TORINO 1975

Fabricante: Ford Produção: 1968-1976 Série: Starsky and Hutch (1975-1979) Quilometragem: Eu a pensar que Gran Torino era uma música do Jamie Cullum, afinal é também um carro. Estou a brincar, já sabia que era um carro, não sabia é que era o carro da dupla de bófias Starsky and Hutch. A série da ABC falava, como muito bem escondido no título, do dia-a-dia de David Starsky (Paul Michael Glaser) e Ken Hutchinson (David Soul), dois polícias de rua que perseguiam criminosos com a ajuda de um informador chamado Huggy Bear (Antonio Fargas). Eram os anos 70, os cabelos fartos, um moreno, outro louro, suportados por uma belíssima máquina da altura: um Ford Gran Torino vermelho com uma gorda listra branca. A série arrancou com um modelo de 1975, atualizado para um de 1976 que rasgou alcatrão durante a segunda, terceira e quarta

temporadas. O sucesso da máquina foi tal que a Ford produziu 1000 réplicas do carro, tal e qual como aparecia na série. A realidade a brincar à ficção. Prego a fundo.

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CHEVROLET SPORTVAN 108 1968

Fabricante: General Motors Produção: 1967-1970 Série: Scooby Doo, Where Are You! (1969-1973) Quilometragem: Primeiro é importante partilhar o facto de que o nome Scooby Doo ter surgido da interpretação de “Strangers in the Night” de Frank Sinatra. Dooby dooby doo. Segundo dizer que há uns anos atrás apanhei um amigo meu a sair do Scooby-Doo 2: Monsters Unleashed. Vinha assim meio escondido e ainda hoje, apesar do flagrante delito, ele continua a dizer que foi sem querer. Ou que não tinha nada para fazer em casa. Enfim, a mesma desculpa que utilizei quando fui ver O Chupeta. Por fim, em terceiro, falar do que nos trouxe aqui hoje, a Mystery Machine, veículo oficial da Mystery Inc., formada pelos míticos Fred Jones, Velma Dinkley, Norville “Shaggy” Roger, Daphne Blake e Scooby-Doo, o Dogue Alemão que fala. Entre muitas outras coisas divertidas e outras nem

assim tanto. A Chevrolet Sportvan 108 de 1968 foi a inspiração para a animação original sendo que depois, em todas as outras variantes existiram modificações. Apesar de toda essa evolução, das novas séries, dos filmes em cinema (complicados), dos filmes falsos diretos para DVD (ainda mais complicados), a mítica carrinha, com o seu ar hippie inofensivo, mantém-se presente nos dias de hoje pronta para descortinar os mistérios do futuro.

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CHRYSLER IMPERIAL 1966

Fabricante: Chrysler Produção: 1955-1975 Série: The Green Hornet (1966) Quilometragem: Eu gostava muito de falar de uma nostalgia virgem, sem planos de remakes, adaptações ou revisitações. Mas não dá. Não dá mesmo. E não é de agora, a própria história já é memória da memória, reciclagem transformada com um cerne tão distante que por vezes se torna indistinto. Anos 30, programa de rádio. Britt Reid, milionário dono do jornal "Daily Sentinel", vive uma vida dupla como o vigilante mascarado Green Hornet. Combater o crime e outras bofetadas. Claro que não estava sozinho, fazendo-se acompanhar do seu fiel companheiro, igualmente mascarado, Kato, mestre em Kung Fu que conduz um carro altamente armado e equipado, o Black Beauty. E uma vez que foram os motores que nos trouxeram, não serve muito dizer que da rádio vieram

os filmes, depois a série, depois a banda-desenhada e por fim outro filme. Foi na televisão que apareceu o Chrysler Imperial preto de 1966. A tentar apanhar o comboio do sucesso alcançado pela série do Batman os mesmos produtores lançaram-se para Green Hornet e foram buscar Dean Jeffries para criar um carro que rivalizasse com o Batmobile e que fosse simultaneamente mais realista. Apesar de a série ter durado apenas duas temporadas, de apenas dois modelos terem sido produzidos, o gigante negro ficará para sempre artilhado nas nossas memórias.

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CITROËN 2CV Fabricante: Citroën Produção: 1948-1990 Série: Duarte & Companhia (1985-1989) Quilometragem: Era Primavera quando nos fizeram chegar a vontade: remake de "Duarte & Companhia". O diretor de programas da RTP disse, na altura, que a ideia está a ser pensada e poderá ganhar forma ainda este ano ou em 2014. Acrescentou ainda que não pode ser mais do mesmo e que tem de haver uma atualização. Isto é tudo muito engraçado mas o que queremos saber é: onde fica o dois cavalos vermelho? É bom que nos mesmo sítio porque tolero bem um Ivo Canelas e um Pepê Rapazote mas trocar o mítico Citroen por outro carro qualquer vai cair muito muito mal! Foi ele que nos anos 80 nos levou encantados de um lado para o outro a acompanhar e a vibrar com as aventuras de Duarte (Rui Mendes), Tó (António Assunção), Lúcifer (Guilherme Filipe) e Átila (Luís Vicente).

Foram seis temporadas daquela que é uma das séries de polícias mais conhecidas e lembradas de todos os portugueses. Agora todos a cantar para matar o bichinho: nós somos Duarte e Companhia!

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VOLKSWAGEN TYPE 2 (T2) Fabricante: Volkswagen Produção: 1967-1979 Série: Lost (2004-2010) Quilometragem: Muitos, como eu, continuam a ver televisão na esperança de um dia voltar à ilha. “We have to go back”, gritava um Jack barbudo e desesperado, a antever a nossa constante angústia. De série em série lá procuramos aquela nova rocha que possa preencher o vazio. Até lá resta-nos recordar, uma e outra vez. E se todas as personagens conseguiram delimitar um espaço, a estrada não seria a mesma sem a mítica carrinha da Dharma Initiative. Na realidade eram muitas as que este secreto projeto utilizava para transportar pessoas e mantimentos ao longo da ilha. Apareceu pela primeira vez no décimo episódio da terceira temporada, “Tricia Tanaka Is Dead”, trata-se de uma carrinha Volkswagen Type 2, carinhosamente conhecida em terras lusas como “pão de forma”.

Fabricada desde 1950, foi a linha que sucedeu ao “carocha” (Type 1) e teve apenas três carroçarias diferentes, sendo que a que aparece na série é o modelo T2a, em branco e azul, produzido até 1972. O símbolo frontal da marca foi substituído por um logo da Dharma do mesmo tamanho. Recentemente a Volkswagen anunciou o fim da produção do T2, fabricado no Brasil desde 1957 o que faz dele o modelo mais produzido na história automóvel. É um adeus sim, mas um adeus que, como Lost, promete incessantes regressos.

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MACH 5 Fabricante: Pops Racer (Daisuke Mifune) Produção: 1967 Série: Speed Racer (Mach GoGoGo) (1967-1968) Quilometragem: É neste ponto, mesmo à beirinha do fim, que vocês dizem: ah mas assim não vale, o Mach 5 não existe. Claro que existe. Certo que inicialmente era apenas cor na pequena tela, anime japonesa dos anos 60, que contava a história de Speed Racer (Gô Mifune), um jovem piloto que aspirava com a glória e fama nas pistas de corrida. Para isso contava com a ajuda dos amigos, família e da incomparável máquina, construída por seu pai, Mach 5. Este carro branco de competição, com o número 5 gravado nas portas laterais e um gigantesco M vermelho no capô, possuía uma série de características especiais, escondidas nos botões de A a G, presentes no seu volante. Cada um deles com uma funcionalidade distinta que permitiam ao herói ganhar o dia e salvar

a pele. Como não poderia deixar de ser, o tempo lá traz a inovação e reinvenção, e o filme de 2008 despertou de novo a febre das pistas. Ou nem por isso porque é uma valente embrulhada mas o que importa é a vontade. Expressa na sua magnitude noutro lado, na veia imaculada dos fãs, criadores do projeto americano “The Real Mach 5” que como o nome indica teve como missão construir o dito cujo. Mesmo. Para correr o país em busca de sonhos. O que não deixa de ser incrível, continuar a sonhar, poder ver algo encerrado no nosso imaginário ganhar vida, como se nada fosse. Quem sabe se um dia, na “Take Naves Espaciais” não estarei aqui a falar do projeto “The Real Millennium Falcon”.

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