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Embora 80% das espécies vegetais existentes no planeta tenham sido estudadas morfologicamente pelos botânicos, classificandoas pela forma do caule, da folha, da flor e do fruto, apenas 5% destas espécies foram estudadas quimicamente e, com relação à atividade farmacológica, o número de espécies estudadas diminui consideravelmente. Considerando-se que, historicamente, os metabólitos secundários de plantas vêm sendo utilizados pela humanidade, como medicamentos, desde o início de nossa civilização, e que, nos dias atuais, mesmo com o grande desenvolvimento de drogas obtidas por síntese orgânica, eles continuam desempenhando um papel de destaque na saúde pública, torna-se fundamental o conhecimento da quí-

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mica e farmacologia das plantas utilizadas para estes fins. Dentro deste contexto, os Departamentos de Química, Bioquímica e Farmacologia, Microbiologia, Biofísica e Fisiologia e Biologia da Universidade Federal do Piauí vêm desenvolvendo, desde 1981, parcerias no sentido de contribuir para o conhecimento da constituição química e da ação farmacológica de plantas do cerrado piauiense, utilizadas na medicina popular e, desta forma, propõem a continuidade deste estudo, através de colaborações de pesquisadores de outras Universidades do Nordeste. Os pesquisadores, através do Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-Graduação, deram início à criação de uma base de pesquisa

em Química e Farmacologia de Produtos Naturais que tem por objetivo realizar levantamento etnobotânico de plantas do cerrado piauiense; extrair, isolar e identificar constituintes de óleos essenciais e investigar seu potencial antimicrobiano, antiinflamatório, pró-inflamatório e sobre o Sistema Nervoso Central; verificar se o uso popular de plantas medicinais do cerrado, como antiinflamatórias, analgésicas e antimicrobianas é validado, através de testes farmacológicos com seus extratos hidroalcoólicos, além de realizar estudo sistemático sobre alguns componentes minerais e vitamina C presentes nas várias espécies. Além do caneleiro (veja página 5), outras espécies de plantas estão em fase avançada de estudos pelos pesquisadores da UFPI.

Foto: Acácio Véras

Estudo químico e farmacológico de plantas do Piauí

Dezembro de 2006 l Nº 10 l Ano III

ISSN - 1809-0915


Estudo Articulado

EDITORIAL

Encerramos o ano com o nº 10 do nosso Informativo Científico Sapiência. Um informativo que, consoante sua natureza, aborda temática multidisciplinar da pesquisa científica piauiense. A pesquisa científica exige, cada vez mais, uma especialização crescente e o seu fruto tecnológico passa por diversas áreas do conhecimento como é o caso da produção de um fármaco, seja de origem natural ou sintética. Para ilustrar como o processo que se efetiva, podemos imaginar, por exemplo, um profissional de ciências humanas que recolhe em suas pesquisas informações do saber popular sobre o uso de determinada planta que tem uma finalidade terapêutica. O saber popular deve ser respeitado, valorizado, no entanto legitimado pelo crivo científico. A identificação botânica da espécie, o seu depósito em herbário é o primeiro passo para aprofundar o estudo. A etnobotânica que estuda os usos tradicionais dos vegetais pelo homem é uma ciência multidisciplinar que envolve a botânica e a antropologia. Identificado a espécie botânica, o químico da área de produtos naturais vai preparar extratos sobre os quais serão feitos ensaios farmacológicos e fisiológicos para verificar se aquela atividade terapêutica, atribuída pela cultura popular, ocorre de fato. Comprovada a atividade terapêutica, o químico de produtos naturais separa, purifica e identifica os constituintes químicos. Eles devem ser separados e purificados para que novos testes farmacológicos e fisiológicos possam ser feitos para identificar exatamente quais as substâncias químicas que agiam naquele extrato. Identificando este constituinte químico, sua atividade terapêutica e sua inocuidade, estaremos diante de um potencial fármaco que pode vir a ser lançado no mercado.

Neste ponto não podemos fazer uma história linear, pois o agrônomo pode usar sua competência técnica para construir Farmácias Vivas, agregando valor ao conhecimento botânico e farmacológico. O farmacêutico pode aplicar protocolos de testes e propor aos órgãos reguladores e ao mercado fitoterápicos com o mesmo rigor científico com que é lançado um medicamento por uma grande indústria farmacêutica. A indústria farmacêutica trabalha em grande escala e, na maioria das vezes, não compensa extrair o constituinte químico que apresenta atividade, mas apenas descobrir a sua estrutura química. Então é a vez de convocar químicos da área de síntese orgânica para descobrir uma rota sintética a fim de produzir em quantidade e com grande grau de pureza, aquele mesmo composto que apresenta atividade e que está misturado com outros na natureza. Mesmo após passar em todos os testes clínicos e ser colocado no mercado, não se pára a pesquisa sobre determinado fármaco. Há sempre efeitos colaterais que devem ser minimizados e ações que podem ser potencializadas. Neste ponto, entra o químico teórico que procura uma relação matemática entre a estrutura química da droga e sua atividade farmacológica. Uma vez que esta relação esteja estabelecida, se pode propor um grande número de compostos alternativos ao fármaco em questão, procurando aquele que tenha maior potencial terapêutico e com menor efeito colateral que o existente no mercado. Das diversas alternativas apontadas pelo estudo teórico, as mais interessantes são objeto de estudo, através de síntese e testes farmacológicos e clínicos. Outras alternativas de estudos científicos podem ser propostas, como a modificação genética de plantas para aumentar a produção de uma substância química. Mas, o que nos interessa é mostrar, neste Sapiência, a existência de pesquisadores piauienses, trabalhando em quase todas as etapas desta grande cadeia e produzindo conhecimento que engendra do popular para depois retornar à sociedade pelo crivo da ciência. Feliz 2007 Acácio Salvador Véras e Silva

Recebemos n À FAPEPI: Que teve força para participar da construção de um Piauí melhor desenvolvido, sustentada na ciência, no fazer e no produzir conjunto de tantas pessoas com conhecimento, vontade e esforço construindo bases, linhas, metas e novos rumos em busca de uma sociedade melhor. Parabéns! Profa. do Depto. de Nutrição da UFPI / Maria Rosália Ribeiro Brandim n Quero, antes de tudo, parabenizar a FAPEPI por ter enfrentado as incertezas do projeto da Residência Agrária (MDAINCRA) e executado a complexa e ingrata tarefa a que se dispuseram (gerenciamento das bolsas). Sem vocês (Só tive contato com o Fábio Nóbrega) a coisa não andaria! Seremos eternamente gratos pela disposião da parceria, independentemente dos rumos que a Educação do Campo tomar. Parabéns a todos vocês! Nosso país conta agora com mais este “tijolo” da construção da cidadania brasileira e especialmente, do campo. Que Deus ilumine sempre o magnânimo povo do Piaui! Prof. Fabio Nolasco / UNEMAT - Cáceres - MT n Recebemos o v.3 n.7 de 2006 e tão logo o expomos em nossa biblioteca a aceitação foi imediata por nossa comunidade, que nos solicitou os demais números publicados pela FAPEPI. Parabenizamos o nível e a qualidade do informativo SAPIÊNCIA. cordialmente, Claudia Malena P. Vieira Gaspar / Bibliotecária - Chefe / Biblioteca Central do CCMN/UFRJ

Informativo Cientiífico da FAPEPI

Nº 10 * Ano III * Dezembro de 2006 / ISSN - 1809-0915 Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) (86) 3216-6090 Fax (86) 3216-6092

Presidente da FAPEPI Acácio Salvador Véras e Silva Conselho Editorial: Acácio Salvador Véras e Silva, Francisco Laerte Juvêncio Magalhães (UFPI) e W elington Lage (AESPI) Editora-Chefe: Márcia Cristina

Textos: Márcia Cristina (Mtb-1060) e Thais Loiola Fotos: Acácio Véras, Márcia Cristina e Thais Loiola Revisão: Assunção de Maria Sousa e Silva Editoração Eletrônica: Invista Publicações & Editora Ltda. 86 3221-0215 / 9974-4821 Tiragem : 6 mil exemplares

Críticas, sugestões e contatos: sapiencia@fapepi.pi.gov.br • Fones: (86) 3216.6090 / 3216.6091 Fax: (86) 3216.6092 • www.fapepi.pi.gov.br

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Metátese de Olefinas: da síntese de fármacos aos dispositivos eletrônicos José Milton Elias de Matos* A palavra metátese é uma combinação das palavras gregas meta (troca) e tithemi (lugar). Em gramática, significa transposição de fonemas ou sílabas do lugar próprio para outros, gerando uma outra palavra com significado distinto (ex: toga ® gato). Em química, reação de metátese refere-se à troca de átomos ou grupos entre duas moléculas. Tratandose de olefinas, ocorre a troca dos átomos de carbono que formam a dupla ligação, sendo que esta reação ocorre na presença de um catalisador. Embora sejam conhecidos desde meados do século passado, os estudos sobre a reação de metátese de olefinas tiveram um avanço significativo a partir da década de 1990, devido ao desenvolvimento de novos catalisadores. Dentro deste contexto, destacam-se catalisadores de metais pertencentes ao grupo da platina, em particular o Rutênio. Estes catalisadores têm apresentado reatividade e seletividade superiores aos catalisadores derivados de titânio, tungstênio e molibdênio. São ativos em solventes polares ou próticos, tais como álcoois, água, fenóis e ácidos fortes, como por exemplo, ácido tricloroacético. São tolerantes a grupos funcionais contendo heteroátomos tais como O, N, P, Cl, e Br, ampliando o número de substratos que podem ser usados. São ativos à pressão ambiente e a temperaturas abaixo de 100 oC. Além das reações poderem ser conduzidas em solventes comuns sem prévia purificação, os catalisadores podem ser estocados por semanas em atmosfera ambiente sem substancial decomposição. É ainda, de grande importância que estes novos catalisadores continuem ativos no fim da reação, podendo então ser usados em um novo ciclo de reação. A metátese de olefinas proporciona a síntese de uma variedade de olefinas especiais, como civetona, que é um importante constituinte de diversos perfumes. Encontramse vários trabalhos sobre reações de metátese aplicada à oleoquímica (com uso de óleos comestíveis). Aplicações estas voltadas principalmente para a produção de civetona. A metátese de olefinas envolve cinco tipos principais de reações químicas, sendo elas: ROMP - “Ring Opening Metathesis Polymerization”, RCM - “Ring Closing Metathesis”, ADMET - “Acyclic Diene Metathesis”, ROM “Ring Opening Metathesis” e CM – “Cross-Metathesis”. Destas reações, chamamos atenção para a RCM (metátese por fechamento de anel), que é muito empregada na síntese de fármacos (como o antibiótico everninomicina 13.384-1) e fragrâncias (como a civetona, fragrância de perfumes musk). Outro tipo de metátese muito importante é a ROMP (Polimerização via metátese por abertura de anel), que hoje encontra importante aplicação em polimerização sobre superfícies semicondutoras para utilização como dispositivos eletrônicos. Poucos Grupos de pesquisa no Brasil têm se dedicado ao estudo de reações de metátese de olefinas e ao desenvolvimento de catalisadores para este tipo de reação. Dentre estes grupos, destacamos o grupo do Professor Benedito (IQSC/USP), onde a pesquisa focaliza aspectos na química de metátese dentro do desenvolvimento e caracterização de sistemas catalíticos, observando-se reações individuais que sejam etapas chaves no ciclo catalítico ou que o atuem como iniciadores nas reações de metátese. No Brasil, encontram-se ainda outros poucos grupos dedicados a pesquisas na área de metátese. Mas, todos esses grupos estão voltados mais para o desenvolvimento de catalisadores, com pouca dedicação à aplicação ou desenvolvimento tecnológico. É importante salientar que, em outubro de 2005, os pesquisadores Richard R. Schrock (Massachusetts Institute of Technology), Robert H. Grubbs (California Institute of Technology) e Yves Chauvin (Institut Français du Petrole) receberam o premio Nobel de Química, na área de metátese de olefinas. Isto mostra a importância de pesquisas neste campo da química, haja vista que esta é uma área que ainda está em ascensão e que encontra aplicações diversas. De maneira geral, apesar de as pesquisas na área de metátese terem avançado bastante, tem-se muito, ainda, a ser feito, principalmente na área de oleoquímica e nanotecnologia. E para todas essas aplicações, o estudo de novos catalisadores encontra um vasto campo. * Doutor em Química - Pesquisador DCR Prof. Departamento de Química da UFPI jmematos@gmail.com

RESUMOS DE TESES Preparação e caracterização de pós e filmes finos cerâmicos de titanato de chumbo e estrôncio obtidos por método químico

Envelhecimento do trabalhador no tempo do capital: problemática social e as tendências das formas de proteção social na sociedade brasileira contemporânea

Estudo das propriedades farmacológicas da resina de Protium heptaphyllum (Aubl.) March. e de seus principais constituintes, mistura de a-e-amirina

Sérgio Henrique Bezerra de Sousa Leal Professor e Pesquisador da UFPI Defesa: Universidade Federal de São Carlos, 2006 sergioleal@ufpi.br

Solange Maria Teixeira Professora da Universidade Federal do Piauí Defesa: Universidade Federal do Maranhão, 2006. Email: solangemteixeira@zipmail.com.br

Francisco de Assis Oliveira Professor da UFPI /Depto de Bioquímica e Farmacologia/NPPM Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2005 fassisol@terra.com.br

Realizou-se a síntese de pós e filmes finos cerâmicos de titanato de chumbo e estrôncio com concentração de estrôncio variando de 0 a 100% em mol, utilizando-se um método de síntese química - o dos precursores poliméricos baseado em Pechini. Esse método permite a síntese em meio aquoso, ao ambiente, com a utilização de reagentes facilmente disponíveis. Para isto, otimizou-se as condições de síntese, de modo a eliminar a presença de fases intermediárias e/ou sencundárias. Os pós-cerâmicos tratados termicamente em diferentes temperaturas sob atmosfera ambiente foram estudados por calorimetria diferencial exploratória (DSC), difração de raios X (DRX), espectroscopia no infravermelho (FTIR), espectroscopia micro-Raman (FTRaman), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e microscopia eletrônica de transmissão (MET), que permitiram a identificação das fases cristalinas, parâmetros de rede e tamanho médio dos domínios de coerência cristalográfica (cristalitos). A transição de fase tetragonal para cúbica foi observada nesse sistema com o aumento da concentração de estrôncio no sistema (Pb1- xSr x)TiO 3. Uma fase pseudocúbica foi observada para x=0,5, indicando completa a solubilidade no sistema. Além disso, foi realizado um estudo do efeito da atmosfera de síntese no processo de cristalização desses pós-cerâmicos. Filmes finos foram obtidos pela técnica “spin coating” por deposição da solução polimérica em substratos de Pt/Ti/SiO2/Si rotacionados a 7600 rpm por 30 s e calcinação a 600°C por 4 h. Foi discutido o efeito do íon substituinte na microestrutura e morfologia desses filmes, através de um estudo sistemático e detalhado utilizando-se DRX, FTIR, microscopia óptica e microscopia de força atômica (AFM); onde se verificou que a introdução de estrôncio na matriz de titanato de chumbo resulta em uma diminuição do tamanho médio de grãos desses filmes.

Com o objetivo de analisar tanto os determinantes da problemática social do envelhecimento do trabalhador, na ordem do capital, sob práticas temporais regidas por essa lógica, quanto as formas de respostas do Estado e da sociedade, mediante as propostas e iniciativas pioneiras de trabalho social com idosos; de segmentos da burguesia brasileira e do Estado, por meio de programas sociais para a “terceira idade”e da legislação social contemporânea que inclui Política Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso; buscou-se configurar o desenho e as tendências da política social contemporânea de resposta a esse problema social. Mediante procedimentos metodológicos essenciais à pesquisa documental, como a análise de conteúdo de documentos, sistematizações e análises de dados estatísticos oficiais, efetivaram-se os referidos objetivos. Os resultados do processo investigativo reforçam a centralid ad e d o envelhecimento d o trabalhado r na constituição da “problemática social”, da relação capital/ trabalho como fundamento comum ou da exacerbação e agravamento d a questão so cial, materializad as nas determinações e na configuração das condições de vida de frações da classe trabalhadora que envelhece, em especial, os de baixa renda. Demonstram, ainda, o reforço da cultura privacionista nas formas de trato dessas mazelas sociais, que é corolário dos mecanismos de enfrentamento da questão social na atualidade e das novas simbioses entre “público” e “privado” que o capital promove, de modo a ocultar essa dimensão privacionista. Essa cultura se exterioriza tanto nas formas de assunção ou divisão de responsabilidades sociais com a proteção social para a sociedade civil, quanto no reforço do individualismo nos modos de intervenção social que transmutam problemas sociais em problemas individuais, expresso nas terapias de ajustamento, de valorização, de inserção social, dentre outras, cujo foco é o indivíduo, mantendo intactas as estruturas geradoras de desigualdades sociais. Conclui-se que as formas de respostas à problemática so cial do envelhecimento mascaram a centralid ade do envelhecimento do trabalhador na constituição do problema social e reforçam o modelo liberal de trato dessas mazelas sociais.

O trabalho investigou os efeitos tóxicos e farmacológicos da resina (R) e da mistura de triterpenos a- e b-amirina (a,b-amir). Na avaliação dos efeitos tóxicos utilizamos camundongos e Artemia sp. Quanto aos efeitos sistêmicos, avaliamos a atividade antiinflamatória de R (edema de pata por carragenina-Cg, granuloma por “pellets” de algodão e permeabilidade vascular por ácido acético) e de a,b-amir (edema por histamina-HIS, serotonina-SER, dextranaT40 e COM48/ 80). Examinamos as atividades gastroprotetora e antisecretória de R (lesões gástricas pelo EtOHabs e acidificado e secreção ácida pela ligação pilórica) e as atividades gastroprotetora (lesões gástricas pelo EtOHabs em animais dessensibilizados por capsaicina-C), antipruriginosa (dextranaT40; COM48/80 e desgranulação de mastócitos), antinociceptiva (capsaicina subplantar-CS, intracolônica-CIC e resposta hipotérmica) e hepatoprotetora (lesões por acetaminofeno-AAF e GalN/ LPS) de a,b-amir. Apenas a,b-amir mostrou toxicidade para Artemia sp. Na permeabilidade vascular e granuloma, R demonstrou efeito antiinflamatório, exceto no edema por Cg. R preveniu as lesões gástricas por EtOHabs e acidificado, depleção de GSH e efeito antisecretório. a,b-amir exibiu gastroproteção, envolvendo neurônios sensoriais sensíveis à C. a,b-amir apresentou atividade antiedematogênica, exceto por SER. Foi observada atividade antipruriginosa, redução da desgranulação de mastócitos e efeito antinociceptivo, além da inibição da nocicepção por CS ou CIC. A antinocicepção pelos triterpenos (C) não foi alterada pelo vermelho de rutênio, mas foi inibida pela naloxona, sugerindo mecanismo opióide. A participação a2-adrenérgica foi eliminada, visto que a ioimbina não reverteu a antinocicepção visceral de a,b-amir (C). Os triterpenos bloquearam a hipertermia (C), mas não reverteram a hipotermia, sugerindo participação do receptor vanilóide. a,b-amir reduziu o aumento sérico de ALT/AST, restabelecendo a GSH hepática, diminuindo as alterações histopatológicas (AAF) e potencializando o tempo de sono (PBS), indicando inibição do CITP450. A mistura protegeu os animais da mortalidade por GalN/LPS, reduzindo as lesões hepáticas e os níveis de ALT, mas não de AST ou GSH hepáticos, sugerindo efeito neuroimunomodulatório. Os triterpenos, não manifestaram efeitos sedativos/incoordenação motora. R e a,b-amir possuem baixa toxicidade e atividades antiinflamatória e gastroprotetora. a,b-amir exibiram atividade antipruriginosa, antinociceptiva e hepatoprotetora, cujos efeitos envolvem, em parte, os neurônios aferentes sensoriais primários.

Ressonâncias da Tropicália. Mídia e Cultura na Canção Brasileira

Matrizes de Cultura e Identidade: árabes e americanos após o 11 de Setembro

Caracterização mecânica da castanha de caju (Anacardium ocidentale l.) para fins de beneficiamento e desenvolvimento de decorticador de cilindros rotati-

Feliciano José Bezerra Filho. Professor da Universidade Estadual do Piauí. Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005. felicianofilho@uol.com.br.

Gustavo Fortes Said Professor de Comunicação Social da UFPI Defesa: Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, 2006. Email: gsaid@ufpi.br

Max César de Araújo Professor do DEAS/CCA/ UFPI Defesa: Universidade Estadual de Campinas, 2005 max@ufpi.br

A tese teve como objetivo apresentar o movimento tropicalista como provável diferenciador no processo de modernização da canção popular brasileira. Para isso, a pesquisa buscou recuperar, sincrônica e diacronicamente, momentos de relevância modernizadora na história da música popular brasileira contemporânea, destacando a Tropicália como recorte caracterizador. A partir da investigação sobre a forma da canção e seus desdobramentos, chegou-se aos conceitos de ‘assimilação e expansão’ aplicados à experiência estética do tropicalismo, conceitos extraídos dos estudos semióticos da canção empreendidos por Luiz Tatit, que possui larga pesquisa acadêmica em torno do tema no Brasil. Além de Luiz Tatit, a pesquisa também buscou investigadores da canção, enquanto fenômeno estético e comunicacional, entre os quais, Mário de Andrade, José Miguel Wisnik, Celso Favareto, aliando seus campos de análises a teóricos da cultura, da literatura e da comunicação, como Roberto Schwarz, Paul Zumthor, Edgar Morin, Renato Ortiz, Milton Santos, dentre outros. C omo corpus de análise, a pesquisa centrou-se no fenômeno estético da Tropicália, que teve sua presença histórica nos anos de 1967 e 1968, e as implicações extensivas à cultura brasileira, observando as replicações e as transformações do ambiente cultural em torno do paradigma da canção brasileira e da criação da cultura em ambiente globalizado e interativo. Sob uma denominação geral de “ressonâncias”, a pesquisa procurou provar que os propósitos estéticos da Tropicália não só não estão esgotados como se manifestam nas obras de artistas contemporâneos como Tom Zé e o movimento manguebeat, mesmo que, sob novas circunstâncias, essas novas experiências dialogam com a herança estética tropicalista. Como resultado, a pesquisa verificou que, no cenário musical brasileiro contemporâneo, percebemos ressonâncias, desdobramentos da Tropicália; que as intenções estéticas e culturais deste movimento estão disseminadas, e a presença foi notada pela avaliação de canções produzidas por alguns artistas, aqui colocados como portadores de modos de fazer musical, delineados e inaugurados pelos tropicalistas.

A principal questão desta tese diz respeito a quais representaçõ es foram utilizadas por distintos prod utos culturais para construir as categorias do Ocidente e do Oriente, após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, justamente num momento em que se intensificaram, na produção cultural industrializada, as referências aos países do Oriente Médio e aos Estados Unidos. Portanto, esta pesquisa tem a pretensão de discutir a formação da identidade de árabes e americanos, destacando as representações que mais apareceram em diversos produtos culturais. Para isso, definiu-se como co rte crono lógico o perí odo entre o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 e a 2a Guerra do Golfo, em 2003. A amos tra da pesquisa comportou diversos produtos culturais (como comics de super-heróis e literatura de cordel), incluindo também alguns produtos jornalísticos (revistas Veja e The New Yorker), ainda que, a título de ilustração, o autor tenha também mencionado alguns vídeos, cartoons, livros e outros. Como técnica de pesquisa, empregou-se a análise de conteúdo temática, no sentido de verificar quais os temas que mais prevaleceram quando à construção da identidade de árabes e americanos pelos produtos citados. As categorias temáticas definidas e analisadas foram as seguintes: heróis, super-heróis versus anti-heróis e vilões; o Bem versus o Mal; a pátria versus o estrangeiro; comunidade versus império. As constatações a que chegou o trabalho de investigação estão centradas na idéia de que, no período aludido, ao invés de somente se repetirem as construções polarizadas do Eu e do Outro, confirmando a hipótese do ‘Choque de Civilizações’; houve também uma troca e um intercâmbio de elementos de matrizes culturais distintas, caracterizando o ambiente de hibrid is mo cultural tão prop alado p elas teorias pó smodernas.

A agroindústria do caju tem como principal produto econômico a amêndoa da castanha e, atualmente, utiliza o impacto aleatório como princípio de decorticação, com perdas de 40 a 50% de amêndoas inteiras. O desenvolvimento de mecanismos mais adequados para a ruptura da casca e liberação de amêndoas inteiras, exige conhecimento e aplicação de parâmetros associados às propriedades mecânicas do material. Este trabalho investigou algumas destas propriedades da castanha ‘CCP 76’, tais como: variações nas dimensões características, massa e volume, microestrutura, fragilidade do endocarpo e rigidez da amêndoa. Investigou-se também, a deformação específica limite como parâmetro tecnológico para a abertura das castanhas, através de ensaios de impacto. Com os resultados obtidos nestes estudos, desenvolveu-se um protótipo decorticador de cilindros rotativos que utiliza o princípio da compressão combinado com um impacto direcionado. Utilizou-se a metodologia de superfície de resposta para avaliar os resultados dos ensaios mecânicos e de desempenho do protótipo proposto, com castanhas tratadas em diferentes níveis de umidificação e tratamento térmico. Os resultados obtidos evidenciaram alterações nas dimensões características, na massa e volume das castanhas, como também, na microestrutura do endocarpo. Os resultados do ensaio de cisalhamento do endocarpo e resistência da amêndoa apontaram diferenças entre material in natura e o tratado termicamente. Nos ensaios de impacto, obteve-se 77,55% de abertura das castanhas com liberação da amêndoa inteira, utilizando a deformação específica limite de 19%, aplicada ao longo da largura. O protótipo decorticador proposto apresentou desempenho de 67,35% para ruptura total da casca e amêndoa inteira liberada, com apenas uma passada pelos cilindros, utilizando a rotação combinada de 11501750rpm. A preparação das castanhas, através do efeito combinado do tempo de umidificação e tratamento térmico, não afetou o desempenho do protótipo na faixa de variação utilizada, mas apontou a região de tendência onde as respostas são mais adequadas.

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Profa. Dra. Roseli Barros

tificação taxonômica da planta e também o seu nome científico. “Depois, esse material é incorporado ao Herbário e está pronto para ser publicado em revistas científicas”, afirmou. Roseli trabalha há mais de 10 anos com a Etnobotânica e no Piauí já fez estudos inclusive em Quilombos, buscando não somente as plantas usadas por eles, mas também toda a vegetação existente no entorno dessas comunidades. “Já fizemos trabalhos em dois quilombos: o Olho d’água dos Pires e o Quilombo dos Macacos. As categorias encontradas são as mais variadas: tem as plantas de uso melífera, medicinal, forra-

Que História é Essa?

LIVROS

Autora: Claudete Maria Miranda Dias 200 páginas R$ 15,00 clau@ufpi.br O título do livro representa as numerosas indagações, interpretações, análises e questionamentos que se podem fazer à história, seja ela social, política, econômica, cultural, religiosa, ideológica, enfim todas as variadas tendências, correntes, parâmetros, conceitos, opiniões e estudos que existem no mundo acadêmico. Grande parte dos artigos é resultado de estudos e pesquisas em História social da colonização e da independência do Brasil e do Piauí, do passado, do presente e do cotidiano, escondida há séculos sob os escombros da memória ou vista apenas sob o ângulo tradicional das elites dominantes.

Nos Caminhos do Repente

Autor: Pedro Mendes Ribeiro R$ 20,00 232 páginas Contato: (86) 9981-5132 A 2ª edição ampliada do livro pode ser considerada a única gramática do repente escrita no mundo. A forma de se fazer poesia com todos os gêneros de cantoria e do repente é a proposta do livro, que mostra ainda que a métrica utilizada pelo violeiro é a mesma utilizada por nomes como Camões, Victor Hugo, Castro Alves e Gonçalves Dias. A obra revela todos os gêneros usados pela literatura de cordel. O autor organizou o livro a pedido de pesquisadores da Universidade de Sorbonne, França.

História, Pensamento e Ação Organizador: Antônio Carlos dos Santos R$ 35,00 426 páginas hbac@ufpi.br Este livro é resultado dos trabalhos apresentados no III Colóquio Nacional de Filosofia, realizado em 2005, na UFS. O mesmo reúne vários artigos e um deles é do prof. Dr. da UFPI, Helder Buenos Aires de Carvalho. Os objetivos do Colóquio foram três. Primeiro, promover o intercâmbio entre os pesquisadores; segundo, reunilos para debaterem problemas ligados à Filosofia da História e terceiro adensar a reflexão crítica já apreendida por grupos de pesquisas da Filosofia.

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geiro, aquelas que servem de vegetação para cobrir casas e até mesmo algumas necessárias para fazer carvão. Tudo que eles utilizam na vida deles, nós resgatamos e distribuímos em categorias de uso”, destaca. A pesquisadora explica que somente em Olho d’água dos Pires foram encontradas mais de 100 espécies medicinais, sendo que muitas das plantas investigadas já são conhecidas pela população. No entanto, a pesquisadora alerta sobre o mau uso dessas plantas. “Um exemplo que podemos citar é o Ipê Roxo que é muito conhecido por possuir substâncias anti-cancerígenas. O chá da casca do Ipê possui propriedades que, se utilizadas corretamente, ajudam a prevenir o câncer. Entretanto, não se pode divulgar isso sem um estudo e formas corretas de utilização das plantas. Não pode ser disseminado que o Ipê Roxo combate a doença, já que as pessoas passariam a coletar erroneamente a planta e acabar com as poucas espécies existentes no mundo”, alerta. Segundo Roseli Barros, apesar da enorme riqueza em termos de flora, as plantas medicinais ainda são pouco estudadas no Estado. “O Piauí é um verdadeiro oásis. Existe aqui muita riqueza em plantas medicinais que merece ser estudada”, pontuou a pesquisadora. TROPEN – Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (86) 3215-5566 rbarros@ufpi.br

O semi-árido piauiense: vamos conhecê-lo? Autoras: Iracildes Maria de Moura Fé Lima e Irlane Gonçalves de Abreu R$ (a definir) 143 páginas. cidinhafe@yahoo.com.br Neste livro professores dialogam com estudantes sobre o dia-a-dia no semi-árido, destacam as belezas e riquezas de nossa terra e discute com os jovens do semi-árido a realidade local, visando incentivar o surgimento de soluções criativas para problemas antigos dos moradores do semi-árido. O livro faz uma amostragem do clima, do ambiente, relevo, vegetação e também explica o trabalho das primeiras comunidades do local, passando pelos índios, portugueses, africanos, a formação das vilas e cidades, chegando à atualidade.

Piauí Projetos Estruturantes Autor: Cid de Castro Dias R$50,00 300 páginas cidcastrodias@uol.com.br Nesse trabalho, o autor aborda projetos executados ou em execução que mais se destacam por inovações tecnológicas, pela importância das obras dentro do contexto econômico, urbanístico e social ou se caracterizam por marcantes mudanças estruturais, como é o caso da transferência da Capital de Oeiras para Teresina, com profundos reflexos na vida administrativa e política do Estado. O objetivo é oferecer subsídio à pesquisa sobre projetos e obras executadas em nosso Estado, consideradas as imensas dificuldades encontradas por engenheiros, arquitetos, professores e estudantes.

Tópicos em Bioética Organizadores: Sérgio Costa, Malu Fontes e Flávia Squinca R$ 15,00 176 páginas dmmra@oi.com.br O livro reúne 10 artigos de profissionais especializados em Bioética, em Teresina. No Norte e Nordeste do Brasil, o tema vem crescendo em razão da necessidade das prioridades relacionadas ao desenvolvimento regional e às políticas públicas de saúde. “Experimentação animal”, “Aborto por anencefalia”, “pesquisa com embriões extra-uterinos”, “fim da vida”, “deficiência”, dentre outros são questões abordadas com transparência. O propósito da obra é a consolidação da Bioética e apresentar idéias desenvolvidas por alunos do Curso de Especialização, idealizado pelo Instituto Camilo Filho e NOVAFAPI.

Plantas medicinais: importância e desafios Mariana Helena Chaves* A utilização de plantas para fins curativos se iniciou junto com a civilização humana e por longo período foi extremamente relevante no tratamento de suas enfermidades. No final do século XIX, ocorreu o declínio da utilização direta dos produtos naturais e em parte se deu pela substituição paulatina dos extratos totais pelas substâncias ativas isoladas, os chamados princípios ativos. O interesse pelas drogas de origem vegetal tem crescido bastante e atualmente, apesar do grande desenvolvimento da síntese orgânica e de novos processos biotecnológicos, 25% dos medicamentos prescritos nos países industrializados são originários de plantas e 44% de todas as novas drogas têm envolvimento de produtos naturais. De acordo com Hostettmann (2003), dos medicamentos atualmente prescritos, 56% são produtos sintéticos, 24% são derivados de produtos naturais, 9% são produtos sintéticos modelados a partir de produtos naturais, 6% são produtos naturais e 5% biológicos. O isolamento de constituintes farmacologicamente ativos responsáveis pelas propriedades medicinais da planta é essencial para a elucidação estrutural, modificação estrutural e estudo do modo de ação das drogas, seus efeitos colaterais, toxicidade, etc. Para realização destas investigações são necessárias quantidades superiores a 1g da substância de interesse, e para sua obtenção, o processo não é simples, sobretudo considerando que as plantas podem conter centenas de constituintes diferentes, na maioria das vezes presentes em quantidades pequenas e frequentemente uma única substância ou uma série de substâncias relacionadas são responsáveis pelas propriedades farmacológicas, observadas em extratos brutos. Os processos envolvidos na obtenção de um constituinte puro, farmacologicamente ativo são bastante longos e tediosos, além de requererem uma abordagem multidisciplinar envolvendo botânicos, farmacognosistas, químicos, farmacologistas e toxicologistas. Esta pesquisa, apesar de empírica, pois cada planta representa uma matriz diferente, portanto com uma constituição química na maioria das vezes bastante diversificada, é desenvolvida em linhas gerais, seguindo os seguintes passos: 1.Escolha da planta a ser estudada. Esta deverá ser feita por indicação do seu uso popular, identificando-se qual a parte usada (folha, casca, raiz, semente), porém, esta não é a única forma de escolha, podendo ser feita também considerando as relações quimiotaxonômicas, ou seja, através do conhecimento pré-existente do tipo de substância com suas respectivas ações farmacológicas obtidas de outras espécies do

gênero ou família botânica. Além disto, a escolha da planta para estudo químico-farmacológico poderá ser feita de forma aleatória. Contudo as possibilidades de sucesso na obtenção de uma substância farmacologicamente ativa sempre são maiores quando se parte de uma planta com indicação de uso popular. 2.Coleta da planta e identificação botânica (nome científico e família), esta etapa é fundamental em função do nome popular variar de acordo com a região. 3.Preparação de extratos e análise cromatográfica preliminar, esta pode envolver desde métodos mais simples como a cromatografia em camada delgada ou métodos mais sofisticados como a cromatografia líquida de alta eficiência. 4.Realização de ensaios farmacológicos preliminares do extrato bruto para verificação da indicação do uso popular e também com a finalidade de impulsionar ou não o processo de isolamento do(s) princípio(s) ativo(s). 5.Isolamento do(s) princípio(s) ativo(s), o qual inclui vários passos consecutivos de separação cromatográfica, onde cada fração deve ser submetida à bioensaios resultando em um fracionamento biomonitorado. 6.Identificação e/ou elucidação da estrutura molecular das substâncias isoladas por métodos físico-químicos e químicos. 7.Isolamento em grande escala para realização de ensaios farmacológicos e toxicológicos. 8.Preparação de derivado-análogos das substâncias farmacologicamente ativas e realização de biensaios para investigação da relação estrutura atividade e até mesmo a redução de possíveis efeitos tóxicos. 9.Realização de síntese total ou parcial. Esta etapa tem como finalidade a disponibilidade do princípio ativo em grande escala para a produção do medicamento com custos mais acessíveis. Evidentemente quando isto não é possível, devido à alta complexidade estrutural, recorrese aos conhecimentos agronômicos e de biologia molecular para o cultivo do vegetal e até mesmo o desenvolvimento de uma variedade capaz de produzir o princípio ativo em quantidades mais expressivas. Convém ressaltar que, somente através de uma abordagem multidisciplinar, é possível se obter êxito no estudo de plantas medicinais, mesmo assim uma pesquisa completa para se disponibilizar no mercado uma nova droga de origem natural gasta em média entre 10 a 15 anos. *

Doutora em Química atuando na área de Química de Produtos Naturais Profª Associada do Dpt. Química da UFPI mariana@ufpi.br

Experiências de ruptura de relações amorosas Dilcio Guedes*

ARTIGOS

As plantas medicinais têm sido um importante recurso terapêutico desde os primórdios da Antigüidade até os dias atuais. No passado, representavam a principal arma terapêutica conhecida. Atualmente, mesmo com a modernidade, as plantas medicinais ainda são muito utilizadas por pessoas de todas as classes sociais. No entanto, para se chegar a um medicamento feito a partir de uma planta medicinal, são necessários anos de pesquisa, dedicação e competência para um resultado satisfatório. E é esse o trabalho da professora Roseli Farias Melo de Barros, que é Doutora em Taxonomia Vegetal pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e especialista em Etnobotânica, a ciência que estuda a interação de comunidades humanas com o mundo vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica. A Etnobotânica busca o conhecimento gerado através do resgate do saber popular com ações que viabilizem e garantam o uso desses recursos pela população. Já os estudos em Taxonomia Vegetal são essenciais ao conhecimento da biodiversidade e ao inventário da flora brasileira, já que fornecem subsídios para outras áreas da Botânica e áreas do conhecimento afins, além de embasar programas de conservação. O conhecimento popular e a constatação científica de determinados fins terapêuticos são fortes indícios da eficácia de uma planta medicinal. A pesquisa é feita inicialmente através de entrevistas com a população, que indica quais plantas são utilizadas com fim terapêutico. Depois de coletada é feita a iden-

Foto: Thais Loiola

Plantas Medicinais: do resgate ao reconhecimento

Graças à experiência clínica e investigações multiculturais, verifica-se que certas pessoas emitem co mportamentos coerentes com as rep resentaç ões de ap ego aprendid as com seus cuidadores em relação aos comportamentos afetivos com seus parceiros amorosos. Bowlby (1969, 1973) nos ensina que a construção dessas representações advém da necessidade de obter uma base de segurança. A experiência de segurança (ou sua ausência) constituirá, a partir dos estágios das representações simbólicas, a estrutura de conhecimento e de compreensão sobre os sinais emitidos pelas pessoas, indicadores da possibilidade ou da impossibilidade de formar e manter o apego. A compreensão desta dinâmica permitiu que estudiosos propusessem categorias de tipos de apego, segundo o modelo internalizado. Por exemplo, o estilo seguro caracterizaria os indivíduos que procuram o reconforto e apoio de suas figuras de apego, quando se encontram em situação de estresse (i.e., separação, ou outra origem de ameaça real da ruptura do laço), mas que retornaram ao estado de homeostase, quando a figura de apego se apresenta e fornece suporte. Esta condição de permite ao sujeito voltar sua atenção e seus interesses a outros domínios. O estilo ansioso-resistente caracterizaria os indivíduos que procuram o conforto e apoio de suas figuras de apego de forma compulsiva, com demandas excessivas de atenção, mesmo em circunstâncias onde não existe ameaça real de ruptura do laço e estes indivíduos não retornam ao estado de homeostase, quando a figura de apego se apresenta e os apóia. Tais aspectos podem explicar porque eles permanecem ansiosos quanto a qualquer possibilidade de ruptura: isso pode lhes impedir de se voltar para outro domínio de interesses. O estilo evitante caracterizaria os indivíduos que inibem os comportamentos de demanda de atenção e reconforto e apoio de suas figuras de apego. Quando eles se encontram em situação de estresse, tendem a não expor (ou não deixar explícita) suas demandas. Então, os indivíduos evitantes focalizam sua atenção aos outros domínios exteriores, manifestando alto grau de auto-suficiência e relativa desconfiança interpessoal. E, finalmente, o estilo desorganizado caracterizaria aqueles que não sabem qual estratégia empregarem, seja porque as repostas de suas figuras de apego exprimem fragilidade emocional, seja porque as respostas, emitidas por estas figuras, geram medo, como, por exemplo, nos casos de sujeitos que estão ligados a pessoas muito agressivas e outras que sofrem de problemas psicopatológicos graves ou pós-traumáticos. No campo teórico, nós compreendemos que as reações ante as situações de estresse vividas nas relações amorosas estão intimamente ligadas a fatores da personalidade e de representações, construídas no ambiente familiar. Tais aspectos influenciariam outras dimensões do funcionamento psíquico dos sujeitos (por exemplo, as relações interpessoais na família, com seus pares, no contexto de trabalho, da educação das crianças, etc). Alguns estudos mostram que os sujeitos têm tendências a utilizar estratégias de gerenciamento de situações de estresse com seus pares, moderando os comportamentos de negociação e de enfrentamento (coping) do estresse. Nossos resultados com casais brasileiros que vivenciaram a ruptura de suas relações demonstraram que a ativação do luto estava correlacionada negativamente com a segurança com a mãe e fortemente correlacionado com a segurança vivida com parceiro amoroso mais recente. Pessoas que apresentaram um luto inibido utilizaram mais da negação e da planificação. Aqueles que tinham o luto resolvido apresentaram mais estratégias de aceitação que aqueles que apresentaram um luto inibido ou hiperativado. As pessoas que apresentaram um luto hiperativado procuravam mais o suporte emocional que aquelas que tinham um luto inibido ou resolvido. Como conclusão, a hipótese segundo a qual quanto mais a relação com as figuras de apego é segura, mais o sistema de apego é ativado e, portanto, mais elaborada e completa é a experiência de luto não pôde ser confirmada para todas as figuras de apego (apenas para parceiros). Na experiência de segurança com estes, observou-se o mesmo fenômeno. A hipótese, segundo a qual a relação com as figuras de apego é segura, menos se utiliza de estratégias de negação e de desapego, de busca de suporte emocional e de ativação da culpabilização. Quando da ruptura de uma relação amorosa com os parceiros mais recentes, mostrou-se verdadeira, à exceção das estratégias de desapego e de auto culpabilização que não se diferenciam em relação ao tipo de representação de apego. * Professor Assistente I da UESPI Doutorando em Psicologia do Desenvolvimento pela Université Paris X

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Pesquisadores da UFPI avançam no estudo de plantas medicinais

Foto: Thais Loiola

jeto foi aprovado com financiamento obtido através de convênio celebrado entre a UFPI e o CNPq/BID (PDCT-NE). Os recursos deste Projeto permitiProfa. Dra. Fernanda Almeida ram a construção de um Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais - NPPM 2 (400 m ) e aquisição de alguns equipamentos. Como parte das metas científicas do projeto, ações farmacológicas de chás de algumas plantas medicinais foram investigadas. Em 1997, o grupo de pesquisadores, então oriundos dos Departamentos de Química, Biologia, Biofísica e Fisiologia, Parasitologia e Microbiologia, e Bioquímica e Farmacologia, ao retornarem de cursos de Pós-Graduação, aprovaram junto ao CNPq, através do Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-Graduação, Foto: Arquivo pessoal

O estudo de plantas medicinais no Piauí foi aprofundado há cinco anos, depois que uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Universidade Federal do Piauí se organizou e conseguiu desenvolver projetos e angariar recursos com perspectivas de desenvolver produtos fitoterápicos, fitofármacos ou cosmecêuticos. Por enquanto, os estudos com plantas medicinais estão em nível avançado com pelo menos cinco espécies vegetais: (Cenostigma macrophyllum - caneleiro, Protium heptaphyllum - almécega, Terminalia brasiliensis – catinga de porco, Qualea grandiflora – pau terra da folha larga e Combretum leprosum - mufumbo). Essas espécies têm tido mais interesse científico por apresentarem alto potencial farmacológico, comprovando seu uso popular no tratamento de várias doenças. Fazendo um retrospecto, o estudo de plantas utilizadas na medicina popular no Piauí teve início no ano de 1981, quando um grupo de pesquisadores da UFPI propôs ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico-CNPq um projeto de pesquisa sobre a atividade biológica de plantas medicinais de uso popular no trópico semi-árido do Piauí. Este pro-

Núcleo de Tecnologia Farmacêutica desenvolve medicamento genérico contra a esquizofrenia

um projeto de criação de uma base de pesquisa em Química e Farmacologia de Produtos Naturais (Vigência 1997-1999). Esta base teria o objetivo de realizar levantamento etnobotânico de plantas do cerrado piauiense; extrair, isolar e identificar constituintes de óleos essenciais e investigar seu potencial farmacológico; validar o uso popular de plantas medicinais do cerrado, além de realizar estudo sistemático sobre alguns componentes minerais e vitamina C presentes nas várias espécies. Este projeto foi realizado na região de cerrado do município de Nazaré do Piauí. Paralelamente, os pesquisadores participaram do Projeto “Grupo emergente para implantação do Mestrado em Química”, que resultou na implantação do mesmo, tendo como uma das áreas de concentração a Química Orgânica e subárea Produtos Naturais. Posteriormente, o grupo deu continuidade ao estudo de plantas medicinais, com o desenvolvimento das atividades programadas no Projeto “Estudo químico e farmacológico de plantas do Estado do Piauí”, financiado pelo CNPq, através do Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-graduação (segunda fase), com vigência até agosto de 2001.

O fortalecimento das pesquisas com plantas medicinais no Piauí se deu quando o grupo participou da edição do PROCAD (Programa Nacional de Cooperação Acadêmica - 2001-2005) em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC). Este programa favoreceu o estreitamento da troca de conhecimentos entre os dois centros de pesquisa, contribuiu para a formação de um professor doutor na área de Farmacologia e um mestre na área de Química de Produtos Naturais, assim como foi responsável pelo treinamento de pesquisadores e alunos de Iniciação Científica da Universidade Federal do Piauí. O PROCAD proporcionou ainda a aprovação de sua reedição (2006-2009) e a aquisição de novos equipamentos e materiais de custeio. Paralelamente, outros projetos foram propostos individualmente por pesquisadores do grupo e aprovados, tais como: CNPq-Universal e FAPEPI. O financiamento mais expressivo ocorreu com a aprovação, em 2004, do Projeto de Pesquisa em Plantas Medicinais do Piauí, que é coordenado pela Profa. Dra. do Departamento de Química da UFPI, Mariana Helena Chaves. Este projeto, ainda em andamento, é objeto do convênio mantido entre FAPEPI/FINEP. Os recursos do convênio são de R$ 365.000,00 e com a contrapartida da UFPI chegam ao valor total de R$ 482.462,81. Esse montante já possibilitou a aquisição de equipamentos de maior porte, ampliação e climatização do NPPM (200 m2) e está programada a construção do Biotério Setorial do NPPM (124 m2). Os benefícios alcançados com a infra-estrutura física e de equipamentos fortaleceram a área de concentração Química Orgânica, subárea Produtos Naturais, do Mestrado em Química da UFPI e deu suporte à criação de um programa de pós-graduação em nível de Mestrado Acadêmico em Farmacologia (Subárea Farmacologia de Produtos Naturais), cuja proposta foi recentemente aprovada pela CAPES, e iniciará no primeiro período de 2007. A UFPI conta atualmente com uma massa crítica de pesquisadores qualificados nas áreas de Microbio-

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Foto: Márcia Critina

Financiamentos promoveram a capacitação e estruturação de laboratórios

Profa.Dra. Mariana Helena Chaves verifica extratos no Rotaevaporador, equipamento do Laboratório de Produtos Naturais

logia (02), Bioquímica (02), Imunologia (01), Farmacologia (04), Fisiologia (01) e Química de Produtos Naturais (04), com forte atuação em programas de iniciação científica (PIBIC-CNPq/UFPI e PIBIC/UFPI) e pós-graduação, seja como orientadores (Mestrado em Química/ UFPI e Doutorado da Rede Nordeste de Biotecnologia - RENORBIO) ou co-orientadores (Mestrado em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos/UFPB). As linhas de pesquisa em desenvolvimento incluem: (I) Isolamento e elucidação estrutural de produtos naturais de plantas e própolis; Análise de misturas complexas: óleo essencial e ácidos graxos. (II) Avaliação de atividades farmacológicas de produtos naturais (antimicrobiana, fungitóxica, antinociceptiva, antioxidante, antiinflamatória, hipolipemiante, hipoglicemiante, efeitos sobre a reprodução, Sistema Nervoso Central, Cardio-

vascular e Digestivo, citotoxicidade em diferentes tipos celulares, mecanismos de ação de princípios ativos). A implantação do novo Programa de Pós-Graduação permitirá a formação de recursos humanos qualificados na área de Farmacologia de Produtos Naturais, que juntamente com o Programa de PósGraduação em Química contribuirão para o conhecimento da composição química e ação farmacológica de plantas medicinais da flora piauiense, seu aproveitamento racional e o desenvolvimento científico e tecnológico da região. Laboratório de Produtos naturais – LPN – UFPI Fone: (86) 3215-5841 mariana@ufpi.br

Em Teresina, o Núcleo de Tecnologia Farmacêutica (NTF) da UFPI foi instituído em 19 de setembro de 1980, com a finalidade de produzir medicamentos com segurança, qualidade e eficácia. Atualmente, o projeto de maior destaque é a produção de um medicamento genérico para tratamento da esquizofrenia. O NTF integra hoje a Rede Brasileira de Produção Pública de Medicamentos (RBPPM), criada em dezembro de 2005. Essa rede é formada pelos laboratórios farmacêuticos oficiais do Brasil e tem por finalidade a produção de medicamentos para atender as diretrizes da política nacional de saúde. Dentre os projetos em execução no Núcleo está o de “Medicamentos Excepcionais: desen- Profa. Dra. Antônia Maria das Graças Lopes Citó volvimento farmacotécnico e controle de qualidade de Olanzapina Comprimidos”. O projeto é os produtores, decorrente do fato de que alguns financiado pelo CNPq e ao final da sua execu- medicamentos são importados ou possuem apeção é esperado o posterior registro de um medi- nas um fabricante no Brasil. A Olanzapina está sob patente do NTF até camento genérico (equivalente farmacêutico e bioequivalente), junto a Agencia Nacional de Vi- 2007 e como faz parte do programa de medicagilância Sanitária - Anvisa, implicando na ampli- mentos excepcionais, todas as secretarias de ação do acesso da população brasileira a medi- saúde do país são obrigadas a comprá-lo. No camentos eficazes, seguros e de reconhecida ranking nacional, é o medicamento de maior qualidade, que é uma das metas perseguidas pelo impacto dos recursos financeiros em folha das Ministério da Saúde. Em última análise, espera- Secretarias de Saúde, vindo a ocupar a quinta se disponibilizar ao setor público um medicamento posição deste ranking. “Baseado nisso, é que excepcional de alto valor agregado e que atual- olhamos a necessidade de desenvolvê-lo. Analisamos dados que mosmente é produzido e fornecido travam que a Secretaria ao país por uma única empreO projeto da produção do Estadual de Saúde do sa de origem estrangeira. genérico da Olanzapina terá Piauí gastava por mês R$ Desde 1º de Janeiro deste duração de 24 meses e, ao 57 mil só com este mediano, os pesquisadores do NTF final deste, espera-se que o camento sintético e alopáse propõem a desenvolver um mesmo possa ser mais tico”, informou a profesmedicamento genérico da acessível à população brasileira. Essa é uma das sora Maria das Graças Olanzapina, na forma farmametas perseguidas pelo Freire de Medeiros. cêutica comprimido, com teoMinistério da Saúde É por conta dessa neres de 5mg e 10mg. A equipe cessidade de redução de de pesquisa é coordenada pela farmacêutica, professora doutora Antônia Maria impacto nos recursos que o desenvolvimento das Graças Lopes Citó e pelos professores dou- da Olanzapina está sendo desenvolvido pelo Nútores José de Arimatéia Dantas Lopes, Cleide cleo de Tecnologia Farmacêutica. “Queremos Maria Leite de Souza e Graziela Ciaramella ter a Olanzapina produzida aqui no Piauí, regisMoita. Participam também os professores mes- trada no Ministério da Saúde. Esse registro vai tres Lívio César Cunha Nunes, Maria das Gra- coincidir com a conclusão do prédio do NTF e, ças Freire de Medeiros, Eilika Andréa Feitosa assim, o Núcleo poderá fazer parte da rede de Vasconcelos e o farmacêutico Marcio dos San- laboratórios oficiais do Ministério da Saúde aptos a produzir este medicamento e atender às tos Rocha. A Olanzapina é um medicamento excepci- secretarias de saúde do Estado”, explica Maria onal produzido atualmente no Brasil por apenas das Graças Medeiros. “Acredito que a todos estes laboratórios será um laboratório farmacêutico privado. O Programa de Dispensação de Medicamentos de Ca- dada infra-estrutura para a produção de mediráter Excepcional tornou-se, no Brasil, um gran- camentos que atendam a demanda do Sistema de desafio para os gestores em saúde, no que Único de Saúde em todos os Estados”, explicou diz respeito ao atendimento da crescente de- a coordenadora do Núcleo, Dra. Graça Citó. De manda frente à escassez de recursos públicos, acordo com ela, o NTF está sendo reformado, aliada à falta de concorrência entre laboratóri- ampliado e modernizado para atender às novas

resoluções vigentes da Anvisa. “Estamos criando uma outra divisão do NTF, porque lá já existem várias divisões: temos a coordenadoria geral, a coordenadoria de controle de qualidade, de produção, de garantia de qualidade e agora está sendo criada uma Farmácia-Escola que é uma divisão de manipulação”, explicou. O projeto da produção do genérico da Olanzapina terá duração de 24 meses e, ao final deste, espera-se que o mesmo possa ser mais acessível à população brasileira. Essa é uma das metas perseguidas pelo Ministério da Saúde. O NTF possui quatro medicamentos já registrados junto à ANVISA (Benzoato de Benzila, AAS, Dipirona e Paracetamol). Além dos medicamentos alopáticos, o NTF também desenvolve pesquisa em medicamentos fitoterápicos e apiterápicos (oriundos de produtos da colméia).

Outros Projetos No NTF também são desenvolvidos projetos com plantas. A professora Graça Citó trabalha com óleos essenciais. Já a professora Maria das Graças Medeiros está desenvolvendo a sua tese de doutorado baseada no estudo de uma planta conhecida por Lippia Origanoide, cujo óleo possui uma potente ação antimicrobiana. Os testes realizados com o óleo essencial de Lippia forneceram maior atividade do que o antibiótico Vancomicina, contra uma cepa de bactérias multiresistentes. “O resultado foi excelente”, define Medeiros. No futuro, a coordenadora do Núcleo de Tecnologia Farmacêutica diz que a proposta é usar a estrutura do mesmo para produção de fitoterápicos. “Isso vai depender da pesquisa química das plantas com maior potencial de reatividade farmacológica e a partir deles desenvolvermos o produto farmacotécnico”, disse Graça Citó. De acordo com a professora Maria das Graças Medeiros, a intenção é que o NTF dê forma farmacêutica às pesquisas desenvolvidas no Departamento de Química da UFPI. “Aqui são identificados os compostos, no núcleo de plantas medicinais, eles identificam as atividades e, no NTF, criamos as formas farmacêuticas para essas substâncias extraídas de plantas ou substâncias sintéticas, como é o caso da Olanzapina. E neste ponto fica clara a importância do NTF frente a estas pesquisas: o Núcleo dá forma a elas”, finaliza. Departamento de Química – UFPI Núcleo de Tecnologia Farmacêutica – NTF (86) 3215-5577 gracito@ufpi.br

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Das espécies de p lantas con hecidas p elo uso popular medicinal n o Piau í e qu e vêm send o estu dadas p ela Un iver sid ad e Fed eral d o Piauí – UFPI, a Protium heptaphillum (almécega) tem apr esentad o importantes p ropried ades de f ins terapêuticos. Da família Burseraceae, que compreende 16 gêneros e mais de 800 espécies trop icais e subtro picais, o gênero Protiu m é o mais r epresen tativo com cerca de 136 espécies. Dela se extrai uma r esina oleosa e amor fa, cu jas aplicações gerais vão d esde a fabricação de vernizes e tintas, na calafetagem de embarcações a cosméticos e repelentes de insetos. Na p arte ter apêutica, a espécie se apresenta como cicatrizante e exp ectorante, assim como ações antiinflamatória e antimicrobiana. Na medicina popular, gomas de óleo de resina de espécies Prot iu m são u sadas p ar a vários Prof. Dr. Francisco de Assis Oliveira fins, como, por exemplo, estimulante, antiulcerenos arenosos, úmidos ou secos, com altura que roso e antiinflamató rio. varia de 10 a 20 metros, encontrada em todo BraOs estudos com a planta foram iniciados no sil, fornece excelente madeira para a construção Departamento de Fitoquímica da UFPI que extraiu civil. Além de almécega, é conhecida na Amazôa resina usada popularmente no combate a todas nia como almecegueira, breu-branco-verdadeiro, as indicações terapêuticas cialmecegueira cheirosa, tadas acima. Com a resina, a almecegueira de cheiro, “Verificamos as suas atividapesquisa vem sendo aprofundes no combate à inflamação, almecegueira vermelha dada pelo Departamento de e almecegueiro bravo. Bioquímica e Farmacologia/ atividades gastrintestinais, A tu a lm e n te , o s NPPM da UFPI, com coordeanalgésicas e hepáticas e p es q u i s ad o r e s do nação do Prof. Dr. Francisco constatamos que o princípio NP PM d es en v o lv em de Assis Oliveira. pr ojetos relacio nad os ativo realmente mostrou Há p o u co s r elato s n a ao estudo químico-farefeito farmacológico” literatu ra acerca de estud os macológico dessa esq u í mico e f a r mac o ló g ico pécie, com o intuito de co m esp écies d o gên er o Pro t iu m . Sab e - se aprofundar as investigações dos efeitos do óleo q ue, a p artir de in cisõ es f eitas n o tro n co d a essencial e do seu constituin te majo ritário em esp écie, ob tém-se u m ó leo- r esina ar omático , modelos exp erimentais contra inflamação, dor d e co lor ação amarelo - clara, solid ificad or em e úlcera gástrica. “Da resina, conseguimos obcon tato co m o ar e in flamável. A resin a é u titer o princípio ativo fixo, que são o s terpenóilizada n a medicin a po pu lar ain da como balsâdes. Fizemos uma avaliação to xicológica e farmica e analgésica. maco lógica tanto da resina, q uanto do princíÉ uma árvore de grande porte, propícia a ter-

Resina do gênero Protium bruta e preparada no Laboratório de Produtos Naturais

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Folha e semente da Almécega

pio ativo. Verif icamos que a resina não apresentou toxicidade, assim como as substân cias fixas”, informou o Dr. Francisco Oliveira. Nos exames para avaliar a toxicidade da planta, os testes foram bastante positivos e a espécie foi considerada segura neste quesito. “A Protium não demonstrou efeito tóxico até uma dose aceitável, de confiança. Por exemplo, utilizamos até cinco gramas por quilo, via oral, em animais experimentais, o que é considerada uma concentração muito alta de substâncias tóxicas, mas não ocorreram alterações da fisiopatologia ou mesmo morte”, afirma o pesquisador, esclarecendo que no homem ainda não foram realizados testes, mas diante dos resultados com ratos, já se pode predizer que há uma perspectiva de segurança para a não toxicidade. Num segundo passo, o Dr. Francisco Oliveira explicou que foram avaliadas as potencialidades da planta quanto ao uso popular. “Verificamos as suas atividades no combate à inflamação, atividades gastrintestinais, analgésicas e hepáticas e constatamos que o princípio ativo realmente mostrou efeito farmacológico, ou seja, conseguimos comprovar, através de experimentos pré-clínicos, que as indicações populares podem ser validadas”. Para o Dr. Francisco Oliveira, a perspectiva quando se estuda um produto com efeito farmacológico é que chegue a ser, no futuro, um medicamento fototerápico ou fitofármaco. “O passo inicial que realizamos foi de toxicidade e farmacológica pré-clínicas, que é em animais de laboratório. A partir daí, com esses dados, é possível inferir, dar continuidade ao estudo em seres humanos”. Segundo Oliveira, o próximo passo seria buscar, junto a empresas, a possibilidade de comercialização desses princípios na forma de medicamentos, de preferência, mais acessíveis à população.

Depto. de Bioquímica e Farmacologia – UFPI (86) 3215-5872 e 3215-5631 fassisol@terra.com.br

NPPM e LPN comprovam potencialidades terapêuticas do caneleiro O estudo da espécie Cenostigma macrophyllum Tul. var. acuminata Teles Freire vem sendo realizado na Universidade Federal do Piauí desde 1997 pelo Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais através da avaliação de suas propriedades farmacológicas e desde 1998 o trabalho transcorre em colaboração com o Laboratório de Produtos Naturais do Departamento de Química da mesma instituição, responsável desde então pela avaliação da composição química da espécie. No NPPM, as pesquisas são comandadas pela Profa. Dra. Fernanda Regina de Castro Almeida. NO LPN, a pesquisa é coordenada pela Profa. Dra. Mariana Helena Chaves. A Cenosti gma macrophyllum é uma angiosperma pertencente à família Leguminosae, subordinada à subfamília Caesalpinioideae e incluída na tribo Caesalpinieae que possui 47 gêneros, entre os quais se inclui o Cenostigma Tul; constituído de quatro espécies de hábitos arbóreos e arbustivos distribuídas nas formações de mata, cerrado e caatinga das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Das quatro espécies identificadas, Cenostigma tocantinum Ducke, Cenostigma gardnerianum Tul., Cenostigma macrophyllum Tul., Cenostigma sclerophyllum, somente a última, que ocorre no chaco paraguaio, não é exclusivamente brasileira. Considerações botânicas e fitoquímicas da família Leguminosae foram revisadas e os dados demonstram que esta família é particularmente rica em flavonóides e compostos biogeneticamente relacionados como rotenóides e isoflavonóides, representando esta última classe, 95% dos isoflavonóides já identificados em todas as plantas já estudadas. Alcalóides, terpenóides e esteróides são exemplos de outras classes de metabólitos secundários presentes em muitos representantes da família. Os taninos, todavia, têm freqüência muito baixa se comparada aos flavonóides, tendo sido relatadas apenas três ocorrências em Caesalpinioideae. Do ponto de vista farmacológico, muitas plantas da família Leguminosae são utilizadas popularmente como antidiarreicas, laxativas, adstringentes das gengivas e no tratamento de ferimentos, tendo sido comprovado em extratos brutos, diversas atividades entre as quais antiúlcera, hipoglicemiante e antimicrobiana. Dentre as espécies com estudo em andamento pelo grupo de Química e Farmacologia

Foto: Acácio Véras

Fotos: NPPM/UFPI

Comprovadas ações terapêuticas da planta do Gênero Protium

A C. macrophyllum é popularmente conhecida como caneleiro, canela-develho, fava do campo e maraximbé. Ela ocorre nos Estados do Mato Grosso, Pará, Rondônia, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia e Piauí. É uma árvore que pode atingir até 20 metros, com a superfície do caule provida de sulcos. Sua floração ocorre de agosto a fevereiro e frutifica entre fevereiro a junho. O fruto é um legume plano e achatado, as flores são amarelas, discretamente perfumadas, reunidas em inflorescências, com uma pétala inferior mediana menor, lembrando uma orquídea. Devido a estas características a espécie é extensivamente utilizada como ornamental em Teresina, o que a tornou planta símbolo da cidade.

de Produtos Naturais da UFPI, a C. macrophyllum foi a mais estudada, reunindo diversos resultados promissores. Foram isolados e identificados triterpenos pentacíclicos, esteróides livres e glicosilados, tocoferóis e biflavonas do extrato etanólico das folhas. Do extrato etanólico das cascas do caule foram isolados e identificados esteróides livres, glicosilados e esterificados com ácidos graxos, um triterpeno pentacíclico, ferulatos de alquila, ácidos graxos, ácido elágico e quantidade significativa de uma substância fenólica de ocorrência rara, d e -nominada dilactona do ácido valoneico. O perfil dos ácidos graxos do óleo das sementes, determinado por cromatografia gasosa, enquadra esta Leguminosa como uma fonte importante de ácidos graxos poliinsaturados, especialmente o ácido linoléico, além disso, o óleo mostrou-se ainda rico em tocoferóis e carotenóides. Tais constatações abrem possibilidades diversas de aplicação prática do óleo especialmente na cosmecêutica, uma vez que, o ácido linoléico exerce grande influência sobre os mecanismos de regeneração celular em tecidos superficiais. O extrato das folhas e das cascas do caule do caneleiro apresenta excelente atividade seqüestradora de radicais livres determinado, principalmente, pela dilactona do ácido valoneico e o ácido elágico. Estas substâncias poderão ser candidatas ao desenvolvimento de um antioxidante natural, após avaliação toxicológica. Outra possibilidade de aproveitamento do caneleiro trata-se do óleo da semente, que é rico em ácido linoleico, tocoferóis e carotenos. Além deste, as biflavonas presentes em quantidades significativas nas folhas poderão ser aproveitadas no tratamento de complicações crônicas do diabetes. Pode-se concluir que os resultados obtidos abrem perspectivas para que no futuro se possa contribuir para a produção de bioprodutos a partir do caneleiro. Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais – NPPM/UFPI (86) 3215-5872 – nppm@ufpi.br e fercalmeida@yahoo.com.br Laboratório de Produtos Naturais/Departamento de Química/UFPI

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O cientista cearense Francisco José de Abreu Matos e professor emérito da Universidade Federal do Ceará (UFC) tem meio século dedicado ao estudo das plantas. Aos 82 anos, conquistou reconhecimento nacional e internacional pelo desenvolvimento de estudos com plantas medicinais no Brasil e por ser o pai do Projeto Farmácia Viva. Farmacêutico-químico, graduado pela UFC,, em 1945, especializouse em Farmacognosia na USP, em 1958, e alcançou o doutorado na mesma especialidade através do concurso para professor Catedrático da UFC, em 1960. No mesmo ano conquistou a Livre-Docência. Matos trabalha na UFC desde 1970, onde estuda a fitoterapia, uso de plantas medicinais em tratamento de saúde. Há 21 anos, criou e coordena o projeto Farmácias Vivas, presente em aproximadamente 40 municípios cearenses e mais seis estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro. Com trabalhos publicados no Brasil e no exterior, muitos dos quais sobre estudos envolvendo as áreas da taxonomia botânica, química de produtos naturais secundários e farmacologia, ele publicou vários livros entre eles: Farmácias Vivas (1998), Plantas Medicinais: guia de seleção e emprego de plantas usadas em Fitoterapia no Nordeste do Brasil (1998), Plantas Medicinais do Brasil (2002), Óleos Essenciais de Plantas do Nordeste (1981), Constituintes Químicos Ativos de Plantas Medicinais Brasileiras (1991), Introdução à Fitoquímica Experimental (1997) e O Formulário Fitoterápico do Professor Dias da Rocha (1997). A idéia do ‘Farmácia Viva’ ganhou o Brasil, ao propor algo tão simples quanto desafiador: unir o conhecimento popular ao científico. Segundo ele, “é importante o trabalho de determinação da eficácia terapêutica das plantas usadas pelo povo. No Nordeste são mais de 600 espécies e dessas somente cerca de 100 têm determinadas, muitas vezes, só parcialmente sua eficácia e segurança”. Sapiência – Como partiu a idéia de criação do Projeto Farmácia Viva? Dr. Matos - Pouco depois de aposentado, fiz um retrospecto de minha atividade ao longo 20 anos, como professor e pesquisador em regime de Dedicação Exclusiva na UFC, nas áreas de farmacognosia e de química orgânica, especialmente com produtos naturais. Numerosas comunicações em congressos, trabalhos publicados no Brasil e no exterior, muitos dos quais sobre estudos, envolvendo as áreas da taxonomia botânica, química de produtos naturais secundários e farmacologia, realizados em equipes de plantas medicinais em ocorrência no Nordeste tinham aí a justificativa de suas propriedades. Isto, mais a minha participação no

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Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais, o PPPM, idealizado e coordenado pela antiga Central de Medicamentos do Ministério da Saúde (CEME), formaram a base para a criação do Projeto Farmácias Vivas, com o objetivo de promover a substituição de plantas usadas empiricamente por outras com a garantia de eficácia e segurança disponíveis na região. Havia chegado à hora de retribuir para o povo o que recebi em muitos anos de estudos como aluno da escola pública, do ginásio até a universidade. Sapiência - Esse projeto é de suma importância porque auxilia no tratamento de saúde de comunidades mais carentes. Porém,

recione recursos para formação de pessoal e pesquisas e permitam a ampliação dessa metodologia e sua implantação a cada região do país. Sapiência - O Brasil concentra pelo menos 22% das espécies de plantas floríferas conhecidas e catalogadas hoje na natureza. Das cerca de 120 mil espécies de plantas catalogadas no Brasil pela OMS, apenas duas mil são utilizadas como medicinais e, destas, apenas 10% são pesquisadas, de forma que, no futuro, se descubram eficácias terapêuticas. Por que a ciência não deu, até agora, a devida importância no âmbito das pesquisas químico-farmacológicas? Dr. Matos – Pesquisas químico-farmacológicas são desenvolvidas habitualmente pelas grandes empresas farmacêuticas dos países do primeiro mundo com gastos de vários milhões de dólares na busca de novas moléculas biologicamente ativas, que viram patentes. Essas pesquisas no Brasil são realizadas a uma velocidade bem menor proporcional ao volume de recursos aplicados pelo Governo. Mais rendoso seria o trabalho de determinação da eficácia terapêutica das plantas usadas pelo povo. No Nordeste, são mais de 600 espécies, somente cerca de 100 têm determinadas, muitas vezes, só parcialmente sua eficácia e segurança.

não existem incentivos e nem políticas públicas que o fortaleça. Esses são os principais entraves para que ele seja ampliado? Dr. Matos – Em parte sim. Apesar de ter sido uma idéia que deu certo e tem demorado muito a ser assumida pelos cursos da área de saúde das universidades, mesmo tendo sido aprovada em concurso promovido pela Fundação Banco do Brasil como uma tecnologia social efetiva. Conseqüentemente não se alcançou número mínimo necessário de profissionais das áreas da saúde e de agronomia para a ampliação do projeto. Espera-se que a recente aprovação por Decreto Presidencial da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fototerápicos di-

Sapiência – A região dos cerrados possui uma fonte de riquezas incalculável com relação a plantas medicinais, a maioria ainda não estudada. Porém, há poucas leis ambientais que protegem esse ecossistema, como ocorre nas Florestas Amazônica e na Mata Atlântica. É possível, assim, que boa parte dessas espécies, que ajudam no desenvolvimento da fitoterapia, venha a ser extintas? Dr. Matos – Sim, tanto no cerrado como na caatinga várias espécies estão sob risco, inclusive algumas usadas nos programas municipais de fitoterapia como a Aroeira do Sertão e a Imburana de Cheiro ou Cumaru do Nordeste. Com a ampliação do consumo, cresce o mercado de cascas e aumenta o risco de extinção da espécie. Este é outro aspecto da exploração de plantas para a fitoterapia. Sapiência – Os pesquisadores do Núcleo

de Pesquisas de Plantas Medicinais (NPPM) e Departamento de Química da UFPI estão desenvolvendo estudos em parceria. Projetos aprovados pelo CNPq contribuem até para a criação do Laboratório de Produtos Naturais e a criação do mestrado na área pode virar uma realidade. Como o Senhor analisa essa dinâmica do fazer pesquisa no Nordeste? De que forma as pesquisas em rede beneficiam determinada região? Dr. Matos – Em todo o Nordeste, existem tão bons pesquisadores quanto nos estados mais ricos do Centro-Sul. A parceria é uma boa forma de reunir boas cabeças de um lado e boas instalações de outro, além de acelerar o processo de capacitação dos grupos. Por outro lado, cria a oportunidade de estudo das plantas nordestinas muito pouco estudadas. Sapiência – Como a população pode se beneficiar dos resultados de estudos com plantas medicinais? Dr. Matos – O projeto Farmácias Vivas e a Política Nacional de Plantas Medicinais já demonstram os benefícios deste estudo. A experiência tem mostrado que é possível controlar 80% dos males de uma comunidade com fitomedicamentos preparados com apenas 15 espécies do elenco selecionado pelo Projeto Farmácias Vivas. Sapiência – O que falta para transformar os artigos científicos oriundos das teses e dissertações na área de plantas medicinais em patentes ou medicamentos fitoterápicos no Brasil? Dr. Matos – Patentes requerem sigilo durante as pesquisas o que é incompatível com os estudos feitos por professores cujo apoio dos órgãos financiadores depende da produção científica do pesquisador. Para aproveitamento das pesquisas na criação de fitoterápicos há necessidade de uma metodologia aplicada a esse objetivo. Sapiência – Que avaliação pode ser feita sobre o potencial farmacológico da nossa flora e o desenvolvimento de pesquisas nessa área? Dr. Matos - O potencial é fantástico, especialmente na região amazônica. Mesmo no Nordeste é também muito grande, mas tempo para tornálo realidade depende de mais investimentos em pessoal e material adequadamente dirigido, o que

está previsto no documento que divulga a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Seria muito bom que todos os interessados assistissem atenciosamente ao excelente videoclipe “O problema dos fitoterápicos” produzido sob os auspícios do CNPq e da Fiocruz. Sapiência – Há uma crítica sobre o conhecimento da Botânica disseminado na sociedade: o homem de hoje praticamente não conhece/identifica mais as plantas como no passado. Isto é decorrente da urbanização ou do desprezo à natureza em nome da tecnologia? Como isto afeta a pesquisa em plantas medicinais? Dr. Matos – Isto acontece principalmente no meio urbano onde as pessoas se desligam da natureza, forçadas pela luta pela sobrevivência e quase que hipnotizadas pela propaganda do “tome isso”, “beba aquilo”, compre, compre, compre. Sapiência – Amantes da natureza idealizam as virtudes dos produtos naturais, incluindo as plantas. Essa afirmativa é correta? Qualquer produto, por ser natural, é bom? Dr. Matos – Ser natural não significa ser bom. O chá de espirradeira indevidamente usado para interromper uma gravidez não desejada, muitas vezes mata também a própria mãe. Um supositório de babosa usado pelo povo para tratar crises de hemorróidas pode provocar grave intoxicação renal se contiver quantidade apreciável do sumo amarelo das folhas. Sapiência – Qual produto ou planta que vem sendo objeto maior de suas investigações científicas atualmente? Dr. Matos – Duas plantas se constituem objeto maior de minhas atenções no campo da fitoterapia: o açafrão-da-índia (Curcuma longa L.) ou Açafroa no Ceará, e o Agrião-do-brejo (Eclipta erecta L.). A primeira atua como normalizador dos níveis de triglicérides e colesterol no sangue, ação antiPAF, antiinflamatória, antidispéptica e protetora do intestino contra o câncer de cólon. A segunda, por suas atividades imunoestimulantes, potencialmente capaz de diminuir a freqüência das infecções oportunísticas dos portadores do vírus HIV e sua ação hepatocitoprotetora, potencialmente útil no controle do bem-estar de pacientes em tratamento antitumoral com os potentes quimioterápicos.

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