Estudo pode predizer o tempo de espera do paciente para transplante densamente povoada por diferentes triA análise estatística b os amer índ ias”, do estudo sobre o perfil co mp lemen tou a genético da população de Dra. Semiramis do Teresina é reveladora. A Monte. freqüência das especificiA p esq uisa dades HLA observada na reforça o conceito amostra de Teresina foi indo uso dos gen es termediária entre os cauHLA como instrucasianos e negros e não mento de investigafoi observada freqüência ção da composição elevada das especificidaétnica de população des típicas de populações e permite concluir ameríndias. Ou seja, as qu e o mestiço de amostras de sangue dos Teresina apresenta teresinenses p esqu isacaracterísticas genédos, comparadas com as ticas predominantedemais, mostraram uma mente bi-híbrida de Família teresinense: gerações de piauienses cujos maior aproximação do te- antecedentes vieram do Sudeste do País gen es d e o r igem resinense com o branco caucasiana e negra. europeu e com os brasileiros descendentes de eu- Para o LIB, os dados têm implicações para os proropeus, oriundos de São Paulo. Comprovando o que gramas de transplante de órgãos com doador não diz a literatura sobre a história do Piauí e sobre a aparentado do Estado. Uma vez sabendo-se dos dizimação dos índios no Estado, há pouquíssima antígenos HLA do tipo étnico dominante na região, participação da etnia ameríndia. “O Piauí é um dos pode-se predizer o tempo em lista de espera do repoucos estados da Federação cuja herança amerín- ceptor para os programas de transplante de rim e dia foi comprometida, apesar de ter sido uma região medula óssea com doador não aparentado. Arquivo pessoal
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Críticas, sugestões, artigos e contatos: marcia@fapepi.pi.gov.br Fone: (86) 3216-6090 / 3216-6091 Fax: (86) 3216-6092 • www.fapepi.pi.gov.br 1 Sapiência, dezembro de 2005
críticos, conscientes e com maior capacidade de intervenção positiva com suas ações na sociedade. Cidadãos com capacidade de entender o valor da pesquisa para o desenvolvimento do país e perceber a importância do conhecimento, inclusive para a escolha de políticos comprometidos com a ética e a dignidade. Devido às complexidades naturais da Ciência e Tecnologia faz-se necessário traduzi-las para os não-especialistas, sejam eles os responsáveis por decisões do destino da sociedade como os políticos, legisladores, burocratas e outros, seja ele um cidadão comum. Essa é uma atividade de grande importância para o crescimento dos países tecnologicamente menos desenvolvidos. Precisa-se esclarecer, cada vez mais, à sociedade sobre os impactos sociais da Ciência e Tecnologia, e a importância crescente dada para Ciência e Tecnologia se deve a diversos fatores, dentre eles: P Fantásticos resultados sócio-econômicos obtidos por países menos desenvolvidos do que o Brasil; P Necessidade de soluções dos problemas básicos da humanidade; P Visível aumento da produção científica no Brasil; P Necessidade de maximização de resultados. A popularização da ciência é um desafio no mundo todo e também no Piauí. Por isso nasceu o Sapiência, que está ocupando o espaço no nosso Estado e a FAPEPI de forma perspicaz assumiu essa responsabilidade e vem conduzindo-o com seriedade. Ao concluir o ano de 2005, temos o dever de agradecer a toda comunidade científica que conosco fez o Jornal Sapiência e nos preparar para que o próximo ano tenha maior participação da comunidade. Queremos ter o trabalho, como já aconteceu este ano, de fazer seleção entre tantas opções que surgiram de textos e temas para o Jornal. Feliz 2006
Recebemos
n Achei muito bom o número dedicado à arqueologia e tenho recebido muita correspondência elogiando. Niède Guidon - Doutora em Arqueologia e criadora do Parque Nacional da Serra da Capivara n O texto do Sapiência nº 05 sobre nanotecnologia está muito bem escrito, parabéns. Valtencir Zucolotto - Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais pelo Instituto de Física de São Carlos-SP (IFSC-USP)
n Escrevo para parabenizar pelo Sapiência nº 5. Tive a oportunidade de ver o jornal e este número está muito bom desde as fotografias (estética) até as reportagens que estão excelentes. Sucesso nos próximos números! Carla Eiras - Bolsista DCR (Desenvolvimento Científico Regional) FAPEPI- CNPq / Universidade Federal do Piauí
Errata
Reportagem na edição anterior (no 5), página 12, 2º parágrafo: “Re alizado primeiro mapeame nto da carnaúba no Piauí”. Onde se lê: “Com os resultados verificou-se...”. Leia-se: “Com os resultados verificou-se que Campo Maior tem mais carnaúba, que se destaca com 24,6% da área do município, sendo que os municípios de Luzilândia e Joaquim Pires possuem percentuais de áreas estimadas de carnaúba correspondentes a 10,46% e 13,71%, respectivamente”. Onde se lê: “Dez municípios onde há maior presença de carnaúba no Piauí (%) por área estimada do município)”. Luzilândia .......................................................... 31,39% Joaquim Pires ..................................................... 26,78% Campo Maior ...................................................... 24,60% São José do Divino ............................................ 24,01% Batalha ............................................................... 22,96% Ilha Grande ........................................................ 19,77% Caraubas ............................................................. 15,26% Piracuruca .......................................................... 14,49% José de Freitas .................................................... 14,40% Por to .................................................................. 13,44%
Leia-se: “Dez municípios onde há maior presença de carnaúba no Piauí (% por área estimada do município)”. Campo Maior ........................................................... 24,60% São José do Divino ................................................. 24,01% Batalha .................................................................... 22,96% Caraubas .................................................................. 15,26% Piracuruca ............................................................... 14,49% José de Freitas ......................................................... 14,40% Ilha Grande ............................................................. 13,77% Joaquim Pires .......................................................... 13,71% Parnaíba .................................................................. 13,51% Por to ....................................................................... 13,44%
Informativo Cientiífico da FAPEPI
Nº 6 * Ano II * Dezembro de 2005 Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) (86) 3216-6090 Fax (86) 3216-6092
Presidente Acácio Salvador Véras e Silva Editora-Chefe: Márcia Cristina Textos e fotos: Márcia Cristina (Mtb-1060) e Robert Pedrosa (Mtb-964) Conselho Editorial: Laerte Magalhães (UFPI), Welington Lage (AESPI)
2 Sapiência, dezembro de 2005
Editoração Eletrônica: Invista Publicações & Editora Ltda. 86 3221-0215 Tiragem : 6 mil exemplares
Teresinense tem mais genes do branco que do negro e do índio
* Sérgio Ibiapina Ferreira Nessa última década uma das maiores conquistas observadas no campo da ética, em nosso país, foi, sem sombra de dúvidas, a constituição dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs). O papel precípuo dos CEPs é o de atuar no controle social, no que diz respeito ao caráter ético dos experimentos científicos, abrangendo todo e qualquer tipo de pesquisa que envolva seres humanos. É da natureza dos CEPs manter uma configuração multidisciplinar, incluindo, na sua composição, não apenas profissionais de diferentes áreas, mas também pessoas que não estejam necessariamente vinculadas à promoção ou à produção da pesquisa científica. Em 1988 o Brasil já dispunha de diretrizes éticas sobre experimentos científicos, constituindo-se na primeira resolução elaborada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS). Infelizmente, tal resolução ficou à margem das instituições e dos pesquisadores, por um longo período de tempo. Em razão desta apatia, o CNS, em outubro de 1996 aprovou a resolução de número 196/96, e em menos de uma década, 450 CEPs instalaram-se no país. Poder-seia dizer que a primazia desse trabalho consiste no múnus público, isto é, os integrantes dos CEPs não recebem qualquer remuneração pelo trabalho que desempenham. Dentre as funções exercidas pelos CEPs, uma que se destaca por sua inquestionável relevância é a de proteção dos sujeitos da pesquisa em suas vulnerabilidades, impedindo que os interesses do pesquisador ou do financiador da pesquisa se sobreponham aos direitos individuais da pessoa humana. Concomitante ao papel desempenhado pelos comitês, a norma contém dispositivos no tocante à operacionalização quando da análise de um protocolo, fixando prazos que devem ser observados por cada CEP concluindo por sua aprovação, aprovação com pendência ou pela reprovação do projeto. Desta forma, o pesquisador principal deverá ter sempre uma resposta que não ultrapassará trinta dias, prazo previsto para que o CEP avalie o projeto, não dissociando os ingredientes éticos da metodologia utilizada. Uma outra novidade na norma vigente foi a criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) que avoca para si, concomitantemente à apreciação por um CEP local, a análise de projetos em áreas temáticas especiais, como é o caso da pesquisa com novos fármacos e vacinas; pesquisas na área da reprodução humana; genética; participação de povos indígenas na condição de sujeitos da pesquisa, dentre outras. A CONEP também se constitui em instância decisória, caso se verifique contencioso entre o pesquisador principal e o CEP que apreciou originalmente protocolo de pesquisa. Ultimamente, a CONEP tem procurado registrar todas as pesquisas realizadas no Brasil, mediante cadastro on line, o que possibilitará o levantamento do número e das modalidades de pesquisa que estão sendo realizadas nos diferentes centros do país. Na atualidade, é improvável que alguém possa oferecer dados reais quanto ao número de pesquisas em andamento ou em fase de conclusão no território brasileiro. Convém aguardar. * Médico, especialista em Medicina Interna, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética – Regional Piauí. costa.sic@webone.com.br
A Revista da Associação Médica Brasileira (AMB), divulgou artigo (*) científico de pesquisadores da Universidade Federal do Piauí sobre pesquisa interdisciplinar do perfil genético da população de Teresina. Com o título “Polimorfismo do sistema HLA em uma amostra de mestiços da população de Teresina, Piauí”, a pesquisa revela dados interessantes. Apesar da composição étnica de 72% de mestiços, o teresinense tem forte composição genética do branco europeu (caucazóide), uma aproximação genética intermediária do negro, uma grande distância do ameríndio e quase nenhuma descendência do índio. O perfil do estudo não foi o de apresentar números percentuais, o objetivo era descobrir o tipo genético do teresinense, utilizando-se o Sistema de Histocompatibilidade Humana, o HLA (Antígeno Leucocitário Humano), determinado a partir de amostra de sangue de pessoas residentes em Teresina com duas descendências parentais piauienses de duas gerações. O trabalho envolveu pesquisadores, professores e alunos da UFPI, em 1999, e foi fundamental para que pudessem se iniciados os trabalhos no Laboratório de Imonogenética e Biologia Molecular (LIB), um dos mais modernos do País e um dos dois únicos existentes no Nordeste com equipamentos de última geração capazes de realizar seqüenciamento genético e testes de histocompatibilidade por técnicas moleculares, fundamentais para a realização de transplantes de rins e medula óssea. A coordenadora da pesquisa e também do LIB,
Tecnico do LIB - UFPI faz hibridização de HLA de doadores e recptores de órgãos para descobrir tipagem de tecidos
Foto: Márcia Cristina
EDITORIAL
A ciência da informação tem hoje como tema central a popularização da ciência. O conhecimento científico é cada vez mais necessário ao cidadão comum, até mesmo para suas decisões diárias. Em muitas ocasiões, notícias científicas são divulgadas, no entanto, a maioria dos indivíduos não está preparada para ler e entender os textos escritos por pesquisadores, pois são textos que parecem ser dirigidos a outros pesqui sadores, i ncompreensí vei s para quem não tem o conhecimento profundo na área. São leituras que exigem conhecimentos específicos. Por isso a necessidade de jornais de informações científicas para facilitar o acesso ao cidadão comum. A informação científica pode ser trabalhada principalmente de duas formas: na linguagem jornalística ou na linguagem acadêmica (científica propriamente dita), onde os leitores, normalmente, são especialistas no assunto e buscam revistas especializadas, periódicos ou os livros para suas atualizações e aprendizagem, é uma leitura densa, áspera e pesada. A informação científica apresentada nos jornais e revistas semanais deve ser uma leitura mais leve, sem rebuscamento em termos técnicos. Esses meios de comunicação apresentam tos (temas) diversificados e procuram atrair leitores de todas as áreas. É próprio de o jornalismo ser diverso e alcançar públicos diferentes. A leitura de temas científicos em periódicos jornalísticos reforça a percepção dos seguimentos sociais que consideram importante informar e formar cidadãos mais
Comitê de Ética em Pesquisa: uma realidade brasileira
LIVROS
Informação Científica
Dra. Semiramis Jamil Hadad do Monte, explicou que o HLA é o sistema genético hereditário com a função biológica de defender o organismo de qualquer reação que seja estranha ao ser vivo. Daí ser um sistema determinante para o processo de transplante de órgãos e tecidos. “Nos transplantes, o HLA é considerado o prin-
cipal antígeno de compatibilidade entre o órgão doado e o sistema imune do receptor. receptor. Por isso é preciso estudar o doador e o receptor para o sistema HLA e escolher o melhor doador, tendo como referencial a maior identidade HLA”, explicou a Dra. Semiramis. Segundo a doutora, o conhecimento do perfil étnico da população teresinense estudada pelo HLA reflete a mistura de etnias que nortearam o processo de colonização do Piauí e serve como referencial para a determinação dos antígenos HLA de maior e menor freqüência na população local. A pesquisa, basicamente, começou com um trabalho de campo árduo. Os alunos, coordenados pelos pesquisadores, saíram em busca de teresinenses, oriundos de pais e avós piauienses, já que a capital do Piauí, por ser muito jovem, apenas 153 anos, não possui geração teresinense. “Foram coletadas amostras de sangue de 97 pessoas adultas, de famílias diferentes, piauienses. Então tínhamos em mãos informações genéticas de três gerações de piauienses”, enfatizou a pesquisadora. As amostras foram cruzadas com HLA de portugueses, europeus, paulistas, brasileiros negros e de populações ameríndias, que, historicamente, contribuíram no processo de colonização do Piauí. * MONTE, Semiramis J. H.do, MOITA N., J. M., RAMPIM, Gisele F. et alli. HLA polymorphism in a racially admixed sample of the population of Teresina, Piauí. Rev. Assoc. Med. Bras.,SP, vol.50, nº 4, p.422-426, Oct./Dec. 2004.
Gestão, Financiamento e Controle Social da Educação
Indústria de Teresina Aspectos da qualidade e da competitividade
Organizadora: Liliene Xavier Luz 125 páginas R$ 12,00 luzlili@unicamp.br , elie@usp.br, adelaide.fcoutinho@bol.com.br
Francisco Pereira da Silva Filho 201 páginas R$ 40,00 fcofilho@superig.com.br
A obra reúne uma coletânia de textos de vários autores com temáticas voltadas para os mecanismos de controle social no campo da educação, ao financiamento para a educação, à inserção do terceiro setor na educação pública e aos conceitos relativos à gestão educacional.
Fruto de pesquisa cujo propósito foi diagnosticar o Sistema de Gestão da Qualidade, praticados na indústria de Teresina, o livro sugere idéias e soluções que permitam o desenvolvimento da qualidade e da competitividade neste segmento industrial, a movimentação e o tipo de ISSO 9000, infra-estrutura, planejamento estratégico, entre outros.
Guizos da Transgressão Mamonas Assassinas e Falcão: Riso, Cultura e Mídia Odailton Aragão Aguiar 110 páginas R$ 20,00 dailto@uol.com.br A indústria cultural faz-se cada vez mais presente na vida de todos, impondo seus valores, modas e gostos, através da massificação provocada pelos meios de comunicação. Utiliza-se do riso, do jogo, do lúdico, da brincadeira e também da performance para vender novos produtos, antes considerados marginais. Foi partindo dessa realidade que desenvolvemos a nossa pesquisa de mestrado, onde a leitura dos Mamonas Assassinas e de Falcão como textos de cultura e de barbárie acabou ganhando corpo.
Coisas de cidade
Organizadores: José Geraldo Vasconcelos e Shara Jane Holanda Costa Adad 249 páginas R$ 20,00 falcides@uol.com.br A cidade é resultado da atuação do homem na natureza, o que resulta na construção de outra natureza. Nesta perspectiva, o espaço físico e as culturas são elementos constitutivos da vida dos moradores de uma cidade. Assim, “Coisas de cidade” trabalha a relação dos habitantes da cidade com as configurações físicas e imaginárias dela, o que reflete as formas de como estes as constroem, ocupam, usam e disputam lugares, dando sentido a eles, projetando sonhos, vivendo carências, no entretecer de uma trama imbricada de costumes, tradições, crenças, hábitos, códigos políticos.
Fragmentos Históricos: Experiências de pesquisa no Piauí
A internet na universidade brasileira Maria de Fátima Uchôa de Castro Macêdo 200 páginas R$ 20,00 fuchoamacedo@yahoo.com.br Este trabalho, resultado de tese de doutorado, teve como propósito detectar a apropriação de conhecimento através do uso da internet no ensino da graduação na UFPI. Nem mesmo a instituição possui aparato tecnológico disponível que possa subsidiar os docentes a utilizarem a internet no dia-a-dia.
Organizadores: Francisco de Assis Nascimento, Geraldo Pedro da Costa Filho e Sheila Sousa da Silva 246 páginas R$ 15,00 falcides@uol.com.br
cultura, a
A obra reúne a produção de jovens pesquisadores de História da UFPI. Os artigos tomam como objetos o cinema na cidade de Parnaíba, a educação no Piauí, a condição feminina, a Belle Époque, em Parnaíba, a indústria e muito mais.
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RESUMOS DE TESES
Algumas pesquisas apontam drogas provenientes de produtos naturais como sendo possíveis inibidores da acetilcolinesterase (AChE) e eficazes no tratamento da doença de Alzheimer. Entre elas é citado a galantamina, um alcalóide isolado de plantas da família Amarilidaceae, já aprovado pelo “Food and Drog Administration” (FDA) e considerada mais eficiente e com menos efeitos colaterais. Acredita-se que a inibição da enzima AChE promova o aumento da concentração da acetilcolina, na sinapse, diminuindo ou retardando a progressão dos sintomas associados à doença. Vários inibidores da enzima apresentam poderosa ação inseticida já tendo sido utilizados na guerra. A busca de novos inibidores, através de espécies vegetais, coloca-se como alternativa viável, pois os ensaios são rápidos e podem ser realizados por cromatografia em camada delgada, através do ensaio enzimático de Ellman et al., modificado por Rhee et al., para cromatografia em camada fina (CCD) ou em microplaca. Com o objetivo de identificar novos inibidores da AChE, foram realizados estudos fitoquímicos, monitorado por ensaios para atividade inibitória da AChE de Kalanchoe brasiliensis Camb, Senna siamea (Lam.), Irwin & Barneby e Anacardium occidentale L. O extrato acetato de etila (AcOEt) das folhas de Kalanchoe brasiliensis (Crassulaceae), planta antiflamatória, mostrou inibição da enzima AChE. Do extrato AcOEt de Kalanchoe foram isolados os flavonóides ativos: 8-metoxiquercetina 3-O-a-L- raminopiranosil-7-O-a-L-raminopiranosídeo e 8-metoxicanferol 3-O-raminosídeo-7-O-a-L- raminopiranosídeo. De Anacardium occidentale, obtiveram-se ácidos anacárdicos monoeno e dieno, ativos para a inibição da AChE em CCD e contra as larvas do Aedes aegypti. Os extratos n-hexânicos das folhas, lenho e raízes de Senna siamea mostraram resultados positivos em CCD frente à inibição da enzima, indicando que a espécie é promissora na busca de novos inibidores. Vários estudos têm demonstrado que o uso de compostos antiinflamatórios diminui a progressão da doença de Alzheimer e a degeneração neuronal ou reduzem o risco do seu desenvolvimento. A peroxidação lipídica contribui para a progressão da doença, e o uso de antioxidantes que impede essa peroxidação pode ser uma terapia alternativa para seu tratamento. Por este motivo, foram realizados ensaios em paralelo de potencial antioxidante dos extratos e compostos isolados.
Avaliação ambiental da represa de Piracuruca (Piracuruca – Piauí), com ênfase nas características físicas e químicas da água e na comunidade zooplanctônica Jeremias Pereira Silva Filho Professor da UFPI Defesa: – Escola de Engenharia de São Carlos, USP, 2002 jpsfbibita@superig.com.br A represa de Piracuruca está localizada no município de Piracuruca, a 3°58’S e 41°40’W, na região Norte do Estado do Piauí. A vegetação do entorno é do tipo cerrado, com solos ácidos e pobres em nutrientes. O seu uso é caracterizado pela pecuária extensiva e agricultura de subsistência. O presente estudo visa à caracterização da represa de Piracuruca considerando os fatores físicos e químicos da água e a comunidade zooplanctônica. As características físicas e químicas de um ambiente aquático são fundamentais para o conhecimento de seu funcionamento. Em termos de oxigenação da água, o epilímnio apresentou valores relativamente altos de oxigênio dissolvido e anoxia no hipolímnio, tanto em escala sazonal como interanual. Para a temperatura foram observadas pequenas amplitudes de variação e formação de termoclinas nas camadas superiores do epilímnio. Devido às características arenosas dos solos e a decomposição da matéria orgânica na represa, os materiais suspensos foram predominantemente caracterizados pela fração inorgânica nos dois períodos amostrados. As altas concentrações de fósforo, derivadas principalmente da decomposição da vegetação submersa não removida durante a fase de enchimento do reservatório, ocasionaram um elevado grau de trofia para o ecossistema. O zooplâncton foi composto por vinte e nove táxons de Rotifera, nove de Cladocera e três de Copepoda, não havendo diferenças significativas na composição dos táxons encontrados na região “litorânea” e na região limnética. Para o zooplâncton foi registrado um índice de diversidade relativamente alto, não ocorrendo, no entanto, diferenças sazonais significativas em termos de abundância ou composição taxonômica.
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Ferdinand Cavalcante Pereira Professor do Departamento de Ciências Sociais - UFPI Defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004 fcpereira@ufpi.br Este estudo analisa o desenvolvimento sustentável dos agricultores familiares do Vale do Gurguéia no Estado do Piauí, ameaçados pela expansão da agricultura empresarial no cerrado piauiense. Nesse contexto de modernização agropecuária pela ocupação capitalista — reconcentração de terra e avanço tecnológico — e (re)colonização da região, os tradicionais produtores familiares enfrentam os impactos e os riscos decorrentes dessa dinâmica de transformações socioeconômicas e institucionais, a partir da construção de novas identidades socioprofissionais no desenvolvimento de formas organizativas sustentáveis, enquanto estratégias alternativas de sobrevivência e de reprodução social. Para tanto, esses agricultores desenvolvem relações socioculturais que se orientam tanto pela recriação de novos contextos interacionais e institucionais de sociabilidade, quanto pela especialização de produtos e profissionalização. Nesse sentido, associações e cooperativas emergem como apoio à produção e à conquista de cidadania, espaço político de luta e inclusão social. A sustentabilidade da agricultura familiar é fundamental para o desenvolvimento rural dessa região, porque a sua inserção econômica e social na produção capitalista depende de políticas públicas agrícolas e agrárias conseqüentes. A conclusão do estudo mostra que a forma social de produção familiar na região constitui o setor com maior potencial inclusivo dos seus diferentes segmentos, ressignificados segundo os valores culturais locais no uso social da terra e na organização social, para além da reprodução mercantil simples. Enfim, as relações sociais com a terra, o trabalho e o mercado confirmam a existência de novas dinâmicas características da produção familiar em curso na região, quanto à apropriação e uso dos recursos disponíveis, instituindo novos e/ou recriando estratégias produtivas e padrões de interação social.
Poesia de Agudeza em Portugal Maria do Socorro Fernandes de Carvalho Professora do Departamento de Letras da UFPI. Defesa: UNICAMP, 2004 galatea@ufpi.br Esta pesquisa teve por objetivo evidenciar o procedimento retórico-poético da agudeza como efeito que especifica a poesia lírica seiscentista de Portugal, por um lado, como imitação da poesia antiga e, por outro, como poesia que admite metáforas agudas compostas segundo o engenho e a arte do discurso poético coevo. Os gêneros poéticos vários são ali definidos pela suavidade e jocosidade com que amplificam afetos e lugares-comuns que compõem as convenções da poesia do elogio e do vitupério, gêneros mais abrangentes das modalidades líricas. O corpus poético da tese teve como espelho editorial as antologias Fênix Renascida e Postilhão de Apolo, sem prejuízo de outras antologias de interesse. Os principais conceitos teóricos são assim definidos pela leitura de importantes artes poéticas e retóricas do período elegido, preceitos igualmente conhecidos do público cortesão e discreto dessa poesia. O estilo mediano da lírica se apresenta em função do gênero em que o poema é composto. A metáfora, artifício de linguagem mais propício à expressão das semelhanças encontradas pelo poeta, é aqui considerada modelo eminente da agudeza por favorecer o conceito, imagem formada no pens amento. A poesia líric a seisc entista mantém como finalidade primord ial o d eleite do interlocutor (maravilha), condicionado por uma noção precisa de decoro que reivindic a também o fim de proveito à poesia culta do século XVII contra-reformado. Assim, a metáfora aguda da poesia seiscentista em Portugal realiza a ação poética de maior amplificação das noções de decoro e verossimilhança que a tradição do gênero lírico comportou como poesia de imitação.
Eficácia das intervenções com sulfato ferroso e com ferro bisglicina quelato no tratamento da anemia nutricional ferropriva em escolares do município de Teresina Marize Melo dos Santos Professora da UFPI Defesa: Universidade Federal de Pernambuco, 2003 marizesantos@ufpi.br Objetivando avaliar a eficácia das intervenções com sulfato ferroso e com ferro bisglicina quelato no tratamento de escolares anêmicos, foi desenvolvido um ensaio clínico comunitário, randomizado e controlado, envolvendo crianças de 7 a 11 anos de idade, frequentando escolas públicas na cidade de Teresina. De um total de 747 crianças, foi selecionada uma amostra de 141 escolares com níveis inadequados de hemoglobina (< 12,0g/dl) e alocados em dois grupos de tratamento: 73 escolares receberam sulfato ferroso e 68 receberam biscoitos enriquecidos com ferro bisglicina quelato, durante oito semanas. Foi constituído um grupo controle, com crianças consideradas não anêmicas (Hb³ 12,0gd/ dl), para avaliar o grau de variabilidade biológica dos parâmetros em função do tempo. O impacto da intervenção foi mensurado pelo incremento nas reservas corporais de ferro, transferrinemia e hemoglobinogênese e interpretado à luz da metodologia estatística e da plausibilidade biológica, considerando-se o controle homeostático dos parâmetros. A prevalência global da anemia nutricional ferropriva foi de 28,5% (Hb< 12,0g/dl). A intervenção ferrosa mostrou um incremento significativo nos níveis de hemoglobina, de 1,1g/ dl para os escolares que receberam sulfato ferroso e de 0,9g/ dl para aqueles que receberam ferro bisglicina quelato. Porém, a eficácia da intervenção foi similar entre os escolares que receberam sulfato ferroso e ferro bisglicina quelato, mantendo esta tendência quando do ajuste das co-variáveis sexo, idade e níveis basais de hemoglobina. Não houve impacto nas reservas corporais de ferro e na transferrinemia. No entanto, escolares que apresentavam reservas corporais de ferro inadequadas (Ferritina sérica< 15 ng/ml) e transferrinemia deficiente (saturação da transferrina< 16%) tiveram um aumento significativo nos níveis médios de ferritina sérica, bem como, no percentual de saturação da transferrina. Esses resultados confirmam a eficácia da fortificação com ferro no combate à deficiência de ferro e à anemia nutricional ferropriva e ratificam o uso do esquema de tratamento semanal no tratamento a curto e médio prazos, para prevenção e controle do estado carencial.
Parceiros no amor: construção de relações conjugais igualitárias Rita de Cássia Cronemberger Sobral Professor da UFPI Defesa: Pontifícia Universidade Católica de SP, 2004 rita_sobral@ig.com.br Da perspectiva feminista e de quem crê na possibilidade concreta da construção de relações conjugais igualitárias, este trabalho apresenta resultados de pesquisa realizada com membros de casais heterossexuais, em camadas médias urbanas, residentes na cidade de São Paulo. Defendo a tese de que há casais tentando viver seus casamentos de forma igualitária, do ponto de vista de gênero. São, contudo, experiências singulares, pois representam uma opção do casal, uma vez que existe um modelo dominante de gênero, cujos alicerces encontram-se na dominação-exploração das mulheres, assim como na ideologia do patriarcado, que promovem, invariavelmente, o desencontro entre homens e mulheres. Desde a década de 1960, entretanto, questionamentos do modelo dominante de gênero, assim como mudanças sócio-econômicas do capitalismo, favoreceram modificações substanciais nas relações familiares, o que permitiu certa flexibilização ao casal de viver relações conjugais mais solidárias e negociadas, do ponto de vista de gênero. A metodologia adotada seguiu a perspectiva etno-sociológica, de Daniel Bertaux. Trata-se de uma abordagem qualitativa, com base em relatos de vida, buscando, por meio de experiências singulares, revelar processos sociais. Nesse sentido, foram realizadas vinte entrevistas. Este trabalho busca documentar o desejo, o esforço e a disposição que parecem existir no âmbito singular da relação do casamento, em que homens e mulheres expressam seu acordo com a transformação do padrão de gênero dominante. Nesse estudo, as contradições presentes no discurso de mulheres e homens são talvez a prova mais evidente dos obstáculos advindos da força da matriz de gênero culturalmente dominante, enfrentada pelo casal em sua tentativa de transformar as relações de gênero. Para compreensão do processo de construção das relações conjugais igualitárias, lanço mão de autores como: Giddens, Lopovetsky, Badinter, Butler, Lauretis, Saffioti, Scot, Fraser, dentro outros.
Aquecimento da terra - Um problema para a humanidade Adeodato Ari Cavalcante Salviano
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O aquecimento da terra vem sendo veiculado como um dos grande s pro blema s amb ienta is, c uja gravid ade tornou- se mais evidente, a partir da segunda metade da década de 1990 e a mídia tem explorado esse tema de maneira super ficia l. Co m isso a so cieda de es tá po uco comprometida com esse processo, portanto, praticamente sem poder interferir em tão grave problema. E os governantes, políticos e pessoal da iniciativa privada, estão atuando concretamente para reverter esse problema tão ameaçador para o mundo? Parece que não. Na verdade, sabe- se que o aquecimento do planeta é o responsável pelas mudanças climáticas e que isso tem a ver com o aumento das emiss ões de “gas es de efeito estufa”, p rincip almente o dióxido de carbono (CO 2 ). Sabe-se que existem ainda o metano (CH4 ) e o óxido nitroso (N 2 O) em menor quantida de, p orém com muito mais potencial de aquecimento global. Em condições normais esses gases são resp onsáveis pela manutenção d a temper atura méd ia da terra e ntre 16 e 18°C na terra, p romovendo o “efeito estufa”. Tal efeito é um processo natural e essencial à retenção de calor sobre a superfície terre str e, visto que a sua ausência far ia a te mpe ratura média variar entre –14 e –12 o C , ou seja, a terra ficaria 30 o C mais fria o que comprometeria a vida. O aumento das emissões desses gases é decorrente de ações causadas por atividades humanas como: queima de combustíveis fósseis pelas indústrias, meios de transportes e máquinas; lixões; aterros sanitários e o uso da terra para fins agrossilvipastoris. Os efeitos que o aumento da temperatura terrestre causam ainda não estão bem definidos, mas é certo que alguns já se pode perceber como: o degelo dos pólos, elevando o nível dos mares; a alte ração d o suprimento d e água doce; um eleva do déficit híd rico dos solos; além de um aumento do número de eventos climáticos extremos, como tempestades, geadas e nevascas que cada vez mais vem se tornando freqüentes e desastrosas. Os ecossistemas vegetação e principalmente o solo são considerados atualmente como grandes sumidouros de carbono. A maior quantidade de carbono nos ecossistemas terrestres é encontrada no solo, chegando a ser aproximadamente 4 vezes maior que na vegetação e 3,3 vezes maior do que na atmosfera. Recentemente, verificou-se que grande parte dos gases do efeito estufa é oriunda de atividades agrossilvipastoris, caracterizando esse setor de produção como um vilão na questão do efeito estufa. Quando o solo sob vegetação nativa é transformado em solos agrossilvipastoris, há um forte impacto no meio ambiente com o aumento da emissão de gases de efeito estufa, especialmente o CO 2. O principal problema é o manejo de solo com excessiva mecanização (uma aração e várias grada gens), e m muitos casos, duas vezes ao ano no Bra sil, agravando o processo de decomposição e combustão de matéria orgânica no solo. Por outro lado, esse modelo de manejo do solo predispõe o mesmo à erosão hídrica que degrada o solo e contribui para um elevado aumento das emissões de CO 2 para a atmosfera. Segundo pesquisas, a erosão causada pelas chuvas no mundo é responsável pela emissão líquida anual de aproximadamente 1 bilhão de tonelada de carbono (Lal et al. 2004). É consenso que a adoção de práticas conservacionsistas nas atividades agrossilvipastoris é capaz de aumentar em muito a produ-
tividade das culturas como também de transformar o solo agrícola em um sumidouro de CO 2 da atmosfera, ou seja, o solo passa a exercer o papel de real seqüestrador de carbono. Como exemplo pode se ressaltar que, num solo do tipo Latossso Vermelho, as operações de aração e grada gens res ulta m na des truição dos agr egad os d o so lo lançando 2 00 g C- CO 2 /ha/h enquanto que usando o siste ma de pla nto dire to (não e nvolve ar ação e gradagens), o mesmo solo evita que 493 g C- CO 2 /ha/h fossem emitidos para atmosfera. Outra prática agrícola importante é a da adubação verde como fonte de nitrogênio (N) derivado da fixação simbiótica - nitrogênio captado dire tamente do ar atmosférico. Neste caso, ganha- se nos dois se ntid os, contribui pa ra uma maior pro dutivida de a gros silvipastoris pelo fornecimento de N para as plantas e ajuda a aumentar a matéria orgânica do solo - estoque de C pela formação de palhada (r es to s cultura is ). Pelo exposto, as preocupações com relação aos impactos no meio ambie nte pelo manejo irracional do so lo nas a tividade s agross ilvipastoris não podem se restringir somente aos processos de erosão e qualidade de água, mas, sobretudo, às mudanças climáticas em conseqüência das emissões de gases que provocam o aquecimento da terra. Nes te sentido, neces sário se faz que o s res ponsáveis pe las políticas de pesquisas, ensino e extensão devem se preocupar com ações mais concretas em tornar o solo menos emissor e mais absorvedor de gases do efeito estufa. Estudiosos de vários países já defendem que essas práticas podem conferir ao agricultor, no futuro, um benefício complementar, ou seja, a troca do carbono absorvido ou se qüe strad o d a p ro prieda de agros silvipas tor il po r c ertifica do de emissão que seria negociável em bolsas de valores. Assim, os institutos de pesquisas e as universidades devem se engajar com vigor em um movimento cooperativo para p roduzir com rapidez informações que minimizem ao máximo esse grave problema. No caso do Brasil, e especialmente nas regiões menos desenvolvidas como o Nordeste, os governos devem rever com urgência urgentíss ima a s políticas públicas d e pes quisa, ensino e extens ão, pois a regiã o detém o s sis tema s mais cr ítico s, pa rtic ularmente na extensão rural, o que o leva a apresentar os piores índices de produtividade na maioria dos pr odutos agrossilvipastoris e a inda po ssui os quatros principais núcleos de desertificação do país, quais sejam, Seridó, RN; Cabrobó, PE; Irauçuba, CE e Gilbués, PI que para tristeza nossa é o maior, abrangendo algo em torno de sete municípios com uma área estimada em 7.682 Km2. Por isso a sociedade precisa ser melhor e mais bem informada de que ela tem que pagar um preço pelo uso de recursos naturais, necessitando, portanto, reavaliar as formas de exploração destes recursos, buscando aquelas que apresentem menor custo “ecosocioamb ienta l”, a s qua is de verão ser mass ifica das p elas mídia s, pe las escolas, enfim, por todos os meios passíveis de comunicação – o que, sem dúvida, trará um efeito imediato não só com relação a redução de emissão de gases, mas também e principalmente, um aumento na produtivida de e, em co nseqüência , melhoria na q ualida de de vida da po pulaçã o. *
Professor do Centro de Ciências Agrárias da UFPI, Doutor em Ciência do Solo. as alv iano@ uol. com. br
Um tesouro ao alcance do pesquisador Claudia Belchior Cavalcente * O p o rtal de perió dic os da C APES (www.periodicos.capes.gov.br) constitui uma fonte de pautas imprescindível para consulta tanto por parte do pesquisador como do jornalista científic o. O site contém o acervo de vinte editoras responsáveis pela publicação de quase dez mil títulos que versam sobre assuntos de domínio das diversas áreas do conhecimento: das Ciências Agrárias às Ciências da Saúde; das Ciências Humanas às Letras e Artes; das Ciências Exatas e da Terra às Engenharias. A editora SAGE, por exemplo, possui duas publicações voltadas para pesquisadores da divulgação científica: Public Understanding of Science e Science Communication. É verdade que os artigos, em sua maioria, estão escritos em inglês, o que implica a importância de saber ler nesse idioma para acompanhar os resultados das pesquisas mais avançadas. Antes de tudo, a fim de ter acesso gratuito e integral ao conteúdo das revistas, a conexão à Internet deve pertencer a uma instituição de ensino superior que possua assinatura do portal. No Piauí, somente a UFPI e o CEFET possuem este acesso de qualquer um dos seus computadores. Preenchido esse requisito, o primeiro passo será digitar www.periodicos.capes.gov.br no campo destinado ao endereço eletrônico. Uma vez no site, há duas opções: buscar uma publicação por assunto digitando uma palavra-chave relacionada ao campo do conhecimento, como “medicine”; ou inserir o nome do periódico diretamente na caixa de busca. Optando pela segunda alternativa, o passo seguinte
A riqueza escondida na floresta de mangue
será digitar o título, como por exemplo, “Science Communication” e clicar em “BUSCA”. O programa retornará o link para a página da revista, onde haverá mais alternativas: aces sar a última edição, cuja capa aparece na tela; acessar edições anteriores ou buscar um artigo específico por palavra-chave, autor ou ano de publicação. Supondo que o assunto de interesse da pesquisa seja “meio ambiente”, não impo rtando o ano da pesquisa nem o autor, deve-se digitar “environment” no campo keyword e clicar em “GO”. Os artigos serão listados por autor, título e dados da publicação (ano, volume e páginas), com as opções de acesso ao resumo (abstract) e ao texto completo (PDF). Quando o título não for auto-explicativo, a leitura do abstract facilita a tomada de decisão de abrir ou não o texto completo. Algumas editoras, como a Elsevier, também disponibilizam gratuitamente os serviços de alerta de conteúdo ou TOC alerts (Table of Content alerts), que mantém o assinante a par do lançamento de cada edição por e-mail. Apesar de ter sido desenhado com o propósito de incrementar o ensino acadêmico, o portal de informação científica da Capes abre oportunidades também para o jornalismo especializado , tanto científico como amb iental. No entanto, sua eficácia será atingida somente com o uso contínuo, seja para aplicação em sala de aula, divulgação ou simplesmente apoio às próprias pesquisas que estão sendo realizadas. Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo TROPEN/UFPI/PRODEMA. claudiabelchi@hotmail.com
Maria do Socorro Viana do Nascimento * Eliana Morais de Abreu **
ARTIGOS
Chis tiane Me ndes Feitosa Pesquisadora DCR/CNPq/FAPEPI e Profa do CEFET-PI Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2005 chisfeitosa@yahoo.com.br
A Sustentabilidade da agricultura familiar no Vale do Gurguéia-PI: construção de novas identidades socioprofissionais
Foto divulgação
Contribuição ao conhecimento químico de plantas do Nordeste do Brasil: Monitorado por ensaios de atividade anticolinesterásica de Kalanchoe brasiliensis Camb.; Senna siamea (Lam.) Irwin & Barneby e Anacardium occidentale L
As florestas de mangue constituem-se num ecossistema exclusivo das regiões costeiras, localizadas em áreas tropicais de todo o globo. São formadas pelo encontro da água doce com a salgada e sujeitas às variações das marés. Apresentam características altamente particulares como água salobra, solos muito moles e pobres em oxigênio. Contudo, são ricas em matéria orgânica em decomposição, o que contribui para enriquecer as águas estuarinas com sais e nutrientes. Essas florestas lodosas de água escura foram, por muito tempo, consideradas como um ambiente inóspito e sem grandes atrativos estéticos, principalmente pelo odor exalado e pela presença de mosquitos que muitas vezes, espantam seus visitantes. Estas características contribuíram para que veranistas e turistas considerassem o manguezal como um local inapropriado para passeios turísticos. Assim, por longo período o manguezal manteve-se ignorado e suas riquezas permaneceram escondidas. Embora considerado como um ambiente pouco atrativo para o turismo e até mesmo menosprezado, o manguezal sempre foi reconhecido pelos pesquisadores como um berçário biológico, essencial para a reprodução, alimentação e desenvolvimento dos filhotes de vários animais, assim como rota migratória de aves. Apesar de não ser rico em espécies, esse ecossistema se destaca pela grande abundância das populações que nele vivem por isso é considerado um dos mais produtivos ambientes naturais. A vegetação arbórea do manguezal é constituída por poucas espécies que apresentam adaptações estruturais e fisiológicas necessárias às condições oferecidas por esse ambiente, são: o mangue vermelho (Rizhophora mangle), o mangue branco (Laguncularia racemosa) e o mangue siriba ou siriúba (Avicennia schaueriana). Nesse ambiente, onde os caranguejos formam enormes populações nos fundos lodosos, vivem moluscos, ostras e mariscos. Associados a essas populações vivem camarões e inúmeras espécies de peixes que procuram o manguezal principalmente na fase jovem. No Brasil, devido à importância sócio-econômica que estas florestas representam para o ambiente marinho e para as comunidades pesqueiras, são protegidas por lei. Entretanto, este ecossistema, mesmo protegido por lei, vem sofrendo com as agressões humanas, como a poluição das águas, o derramamento de petróleo, o desmatamento e o aterramento para construção civil. As florestas de mangue são fontes de bens e serviços que oferecem uma rica alimentação protéica de origem marinha, tanto para a população litorânea quanto para veranistas e turistas, gerando uma fonte de renda para a região advindo da pesca artesanal e da culinária. Além disso, o turismo ecológico desponta com uma atividade alternativa para inúmeras famílias. Quanto à prática do turismo ecológico, merece destaque a experiência vivenciada pelos turistas e veranistas que visitam o distrito de Barra Grande, no município litorâneo de Cajueiro da Praia, no Piauí. Nesta localidade, um grupo de jovens liderados pelo presidente da Associação de Condutores de Turista de Barra Grande, a maioria filhos de pescadores, sabendo da importância e das peculiaridades do manguezal, elaborou um interessante roteiro ecológico voltado para atender aos anseios dos visitantes que ali procuram entretenimento. O roteiro organizado consta de um passeio ecológico pelo leito do rio Camurupim, onde os visitantes percorrem este rio num barco a remo descobrindo suas riquezas, ali o visitante tem contato direto com a exuberante floresta de solo lodoso e recebe dos jovens informações sobre a fauna e a flora local. Um suspense é gerado quando falam sobre um peixe esquisito com cauda de jacaré, boca de sapo e que rosna como um cão, conhecido como “pacamão” (Lophiosilurus alexandri ), que vive em locas ou troncos de árvores ocas caídos nas águas. Outro peixe esquisito é o “quatro olhos” (Anaplebs anaplebs). Quatro olhos? Não, na verdade, trata-se de uma espécie que ocorre em grande quantidade na região, seus olhos são divididos de modo que ficam com parte deles fora d’água, vigiando seus predadores, e a outra parte sob a água, procurando alimentos, como insetos e peixe pequenos. Outra espécie que atrai a atenção dos visitantes é o “cavalomarinho” (Hippocampus sp). Sempre presente no imaginário popular pela sua forma e comportamento singular, cabeça semelhante a do cavalo, nada com o corpo em posição vertical. O curioso é que o macho é que fica grávido. A abundância dessa espécie motivou a denominação de uma camboa com seu nome. Durante o passeio, o visitante interage com o ambiente, recebendo instruções sobre a ecologia do manguezal, podendo até participar da coleta de marisco e sururus e ver uma grande variedade de crustáceos como o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), o “aratu”, conhecido como “gatinha” (Goniopsis cruentata) e o “chama-maré” (Uca sp.). A excentricidade do ambiente é denotada também pelo espetáculo dos bandos de aves que vão ali para se alimentar especialmente na maré baixa, quando o solo está exposto. Este ecossistema garante pouso seguro para outras aves e espécies migratórias que usam suas árvores como pontos de observação e de nidificação. Além de aves e crustáceos, podem-se avistar mamíferos como o guaxinim, conhecido na região como mão-pelada (Procyon cancrivoros) que se beneficiam da riqueza do manguezal, alimentando-se de caranguejos e de peixes. Apesar de toda e ssa riqueza escondida, o manguezal é muito vulnerável aos efeitos do desenvolvimento econômico e do crescimento desordenado das populações humanas. Portanto, a exploração irracional desse ecossistema poderá comprometer a sua existência. Atitudes, como a desses jovens, são bastante louváveis, tanto pela valorização da riqueza do manguezal, como por ser uma prática sustentável. * Profª. do Depto. de Biologia da UESPI e mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente svianan@yahoo.com.br ** Consultora da Fundação Rio Parnaíba e mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente abreueliana@hotmail.com
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Rico em recursos hídricos, Piauí é pobre em distribuição de água para a população
Milcíades Gadelha, prof. Dr. na UFPI e Dir. de Recursos Hídricos da SEMAR
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dade a esses empreendimentos já realizados, estão sendo previstos quilômetros de adutoras para completar e efetivar o ciclo de abastecimento da água nessas regiões. O principal desafio do Governo do Estado do Piauí é gerir os recursos naturais fundamentado nas três dimensões de sustentabilidade assim descritas: economicamente e administrativamente viável, socialmente justa e ecologicamente prudente.
Fotos: SEMAR
O fim do desperdício
Poço Violeto desperdiçou água durante 30 anos...
...mas foi controlado em 2004: racionalização
curto espaço de tempo, nos açudes Petrônio Portela, Pedra Redonda, Salinas e Ingazeiras. O doutor em Fitotecnia Milcíades Gadelha diz que o que acontece hoje é a carência no abastecimento de água da maioria das cidades piauienses, especialmente no semi-árido. “O Piauí possui uma série de barragens e reservatórios construídos em todo o Estado, entre esses dezoito projetos que não tinham qualquer previsão de adutoras e conseqüentemente não cumpriam o objetivo maior dessas obras: a distribuição ampla de água à população”, afirma. Assim, apesar do Piauí ter um dos maiores lençóis freáticos do mundo, a água ainda está distante de muita gente. Como em toda a região do Nordeste brasileiro, essas obras foram resultados de uma política tradicional de investimentos quase que somente em barragens e reservatórios, os quais foram considerados, durante décadas, a solução final para o abastecimento de água na região do semi-árido no país. Em alguns casos, esses investimentos realizados de forma desordenada geraram problemas, sacrificando rios e inutilizando obras já terminadas. Atualmente, a visão acerca dessa temática é mais ampla. Barragens e represas estão sendo revistas em toda a região do semi-árido brasileiro e em continui-
Símbolo de desperdício de água no Piauí, seis poços da região do Vale do Gurguéia jorravam ininterruptamente, há mais de 30 anos, agora contam com registro de controle. O equipamento foi implantado nos poços: Violeto I e II, Bom Lugar I e II, Santa Fé e Rebentão, no município de Alvorada do Gurguéia, no Vale do Gurgüéia, na região sul do Estado. Os serviços, concluídos em março/2004, foram executados com recursos do Convênio Nº 003/2003, celebrado entre a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Semar. Uma nova proposta de projeto foi encaminhada à Agência Nacional de Águas - ANA, em dezembro/2004 e o convênio aprovado está em fase final de preparação para fins de assinatura. O convênio objetiva contratar consultoria para Elaboração de Projetos Executivos para Implantação de Sistema de Controles de Vazão em Poços Jorrantes no Vale do Gurguéia, Estado do Piauí. As atividades deverão ser executadas em 2 (duas) fases. Na Fase I serão identificados e priorizados 50 (cinqüenta) poços jorrantes definidos pela SEMAR, localizados no vale do rio Gurguéia e na Fase II serão executados os projetos executivos de implantação dos equipamentos de controle de vazão de 25 poços identificados como prioritários. “O quadro hidrográfico do Estado do Piauí, (Semar, 2003) restrito a uma bacia principal gera uma grande preocupação e atenção redobrada da Semar, principalmente com relação à preservação dos mananciais e nascentes dos rios, ribeirões e riachos. Daí a urgência em se estabelecer Áreas de Proteção Ambiental em todo o estado e elaborar planos gestores para as Unidades de Conservação a serem implantadas”, diz Milcíades.
Fotos: Márcia Cristina
A gestão dos recursos hídricos tem ocupado uma posição central nas discussões da questão ambiental. Apesar de cerca de 70% da superfície da Terra está coberta de água, apenas 3% são água doce e, portanto, com possibilidade de ser utilizada para consumo humano. O foto agravante é que desses 3% de água doce, 2,3% estão armazenados nas geleiras e calotas polares e somente 0,7% contidos no subsolo, lagos, rios e passíveis de uso. Assim, a má gestão e distribuição errônea de informação têm gerado a idéia equivocada de que a água é uma fonte inesgotável. “Esta visão de certa forma irresponsável começa a chocar-se com a realidade, fazendo perceber que a água é cada vez mais um recurso finito, pois a degradação do meio ambiente vem escasseando e contaminando as reservas superficiais e subterrâneas dos recursos hídricos, e a necessidade de água da sociedade moderna é cada vez maior”, afirma o engenheiro Pedro Marwell Filho, gerente de Projetos do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar). Diante do problema cada vez mais alarmante, é evidente a necessidade de preservação dos recursos hídricos. Políticas, estratégias e ações em prol da preservação são indispensáveis em todos os âmbitos, desde a fonte até o consumidor. Para isso, a Semar criou o seu Banco de Dados com informações sobre adutoras, barragens, cisternas, poços, abastecimento de água e esgotamento sanitário que serão disponibilizadas aos usuários nos sítios eletrônicos da Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMAR) e Águas e Esgotos do Piauí - Agespisa. O Conselho Estadual de Recursos Hídricos instituiu a Comissão Interinstitucional de Gestão de Reservatórios pela Resolução n° 002, de 26 de abril de 2005, composta por representantes de órgãos públicos e ainda por representantes das organizações de usuários dos reservatórios e da sociedade civil com o objetivo de discutir os aspectos relacionados com a operação e manutenção das grandes barragens e a liberação de águas para uso múltiplo. Instituiu também a Comissão Gestora do Açude de Bocaina (Resolução n° 003/05) de 26 de abril de 2005, estando prevista a instituição de outras comissões, em um
Dr. José Adail Fonseca de Castro, um dos coordenadores do projeto. Ao lado, cão infectado e já mostrando recuperação após dose de Miltefosine
Miltefosine é considerada promissora em cães A pesquisa denominada ‘Avaliação de miltefosine para tratamento da leishmaniose visceral canina’ é outro passo importante que o Piauí dá para erradicar, no futuro, o calazar. Com sinais vitais recuperados, entre eles ganho de peso, baixa no teor de anemia e na queda de pelos, a pesquisa realizada com cães afetados pelo parasita leishmania chagasi, coordenada pelo Laboratório de Imonogenética e Biologia Molecular (LIB), da UFPI, pode ser considerada, a princípio, bastante promissora clinicamente. Há quase seis meses, os estudos estão sendo realizados com 15 cães que vêm mostrando saúde no canil construído com recursos do CNPq em parceria com a UFPI, no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da instituição. Ainda não existe tratamento para animais infectados por calazar. Todos, até então, falharam. O Departamento de Zoonoses, vinculado à Fundação Municipal de Saúde, vê-se obrigado a matar os animais, após testes positivos para a leishmaniose visceral. Mas com
esta pesquisa, pioneira no Piauí, esse triste quadro pode ser mudado. A cura radical é quando o parasita, agente causador da doença, é eliminado. A pesquisa na UFPI é coordenada pela Dra. Hélida Monteiro de Andrade, que está realizando pós-doutorado na área de Proteoma, em Minas Gerais, e pelos pesquisadores Semiramis Jamil Hadad do Monte e José Adail Fonseca de Castro, este último pesquisador no LIB e doutor em doenças infecciosas e parasitárias, lotado no Departamento de Parasitologia e Microbiologia da UFPI. “Abre-se uma perspectiva de mudar o destino dos cães, que não seja a eutanásia”, disse o Dr. Castro. Segundo ele, alguns animais de porte grande chegaram no canil com 7 kg, bastante abaixo do normal, e agora apresentam peso ideal e se alimentam normalmente. Castro informou que os testes durarão dois anos. Os trabalhos foram iniciados com os exames pré-tratamento, os quais serão repetidos a cada seis meses. Entre eles, estão o TGO, TGP e
Bilirrubina – análises das funções hepáticas; uréia e creatinina – análise das funções renais; hemograma – teor de anemia e proteinograma – análise de albumina/geobolina. “Esses testes ainda estão para ser analisados”, acrescentou. O agente causador do calazar é um flebotomíneo, de pouco mais de 3 mm e vôo saltitante. Ele pica um reservatório, homem ou animal, retirando o parasita, e depois transmite a doença. Vários fatores levam ao difícil controle. Um deles é o forte apego dos seres humanos que se recusam a entregar seus animais de estimação doentes, o que representa perigo para a transmissão da doença e também porque alguns animais infectados são assintomáticos. Quando evoluem, os sintomas são: perda de peso, queda de pelos, unhas grandes, opacificação das córneas, dermatite furfurácia, ceratoconjuntivite, febre, baço e fígados grandes, falta de dinamia, paresia de patas posteriores, hemorragias e morte. LIB-UFPI – (86) 3216-6091 libpi@ufpi.br
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Embrapa inicia diagnóstico hidrológico em três regiões do Estado
Foto: ARQUIVO JONAL O DIA
Miltefosine. Gravem bem esse nome. A droga chegou ao Brasil para ser testada e, daqui a dois anos, poderá estar nas prateleiras das farmácias, como um medicamento eficaz para o tratamento da Leishmaniose Visceral (LV), doença conhecida como calazar que, mesmo com os tratamentos existentes, ainda mata. No Brasil, o Piauí é o estado pioneiro em pesquisas com a droga em humanos e também em cães. No Hospital de Doenças Tropicais Natan Portela, em Teresina, há cerca de dois meses pacientes estão sendo submetidos a testes com o medicamento, pesquisa que está sendo realizada, de forma multicêntrica, na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais, onde também ocorrem muitos casos da doença. O projeto ‘Estudo clínico para avaliação da Eficácia e segurança da miltefosine contra Leishmaniose Visceral no Brasil’, aprovado pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, tem em seu estudo de Fase II um custo de R$ 244.384,00 e é patrocinado pelo Laboratório Zentares e Organização Mundial de Saúde (OMS). Professor Dr. Carlos Henrique Costa à frente do estudo em humanos no Piauí Na Índia, a droga já é utilizada no tratamento da leishmaniose visceral, cujo número de casos é alarmante, preocupação de multagênese, ou seja, de gerar alte- dia não é mais, porque a doença já se mostrou resisacometendo somente humanos, por isso é uma antropo- rações no concepto”, explicou o pesquisador. tente a esse medicamento. Daí a importância da droga nose. No Brasil, no entanto, a doença é uma zoonoze, Como o tratamento com a miltefosine é de fácil lá, um país muito pobre e com uma falha terapêutica da uma vez que é transmitida aos seres humanos pelos ani- uso, via oral, e eficiente, a OMS deu aval para que medicação tradicional na ordem de 50%”, esclareceu. mais, sobretudo cães, raposas, e mais recentemente de- fosse testada no novo mundo, principalmente no BraComo a medicação tradicional (antimônio) não tectada em gambás. Esses canídeos funcionam como sil, país que está no topo surtia mais efeito na Ínreservatórios do parasita leishmania chagasi. das estatísticas da doendia, os pacientes ficavam A Leishmaniose Visceral já foi detectada em 62 ça. Em 2001, o Ministée 2002 a 2004, a média de óbitos sujeitos a uma situação países da Ásia, Oriente Médio, África, América Cen- rio da Saúde contactou registrada em Teresina-PI foi de 36/ano. complicada e passaram tral e do Sul, países onde cerca de 500 mil pessoas um grupo de pesquisa- Somente no primeiro semestre de 2005, já a receber a medicação são infectadas anualmente. Desses, cerca de 90% dores para comandar os são 18 óbitos. De 2002 a 2005, houve 692 venosa (An fotericina dos casos concentram-se em cinco países: Bangla- estudos, entre eles o Dr. notificações em Teresina. (SIM-FMS) B), cara para os padrões desh, Índia, Nepal, Sudão e Brasil. Na América Lati- Carlos Costa. locais. A partir daí, a milna, a LV já foi descrita em, pelo menos, 12 países, Na prática, a pesquisa foi iniciada na chamada Fase tefosine ganhou seu espaço, com resultados satisfasendo que 90% dos casos ocorrem no Brasil, especi- II, que é o de ajuste de dose e análise da eficácia terapêu- tórios e percentual de cura acima de 90%. almente na região Nordeste. O Dr. Carlos Costa informou que é cedo para tica. Só em seguida, passará para a Fase III, de comparaO medicamento miltefosine, comercialmente ção com outras drogas. “É um estudo multicêntrico, sen- avaliar o poder da miltefosine no Brasil. “Não podechamado Impávido, surgiu nos Estados Unidos, na do realizado simultaneamente, em Montes Claros, Minas mos dizer se é promissora ainda, mas há boas expectadécada de 80, para tratamento de câncer de pele, poGerais e em Teresina. Tem coordenação geral do Dr. Rei- tivas, uma vez que nós temos receio da medicação rém, se mostrou bastante tóxico. Estudos posteriores naldo Dietze, do Espírito Santo, considerado o pesquisa- tradicional, via parenteral, que dificulta um pouco o mostraram que o mesmo tinha ação importante para dor com maior experiên- tratamento das pessoas, porque é dolorosa, precisa tratamento do calazar. cia em leishmaniose vis- de internação, e algumas abandonam o tratamento. O O coordenador da ceral humana no Brasil. antimônio pentavalente só pode ser usado em seres pesquisa com miltefosiegundo o Ministério da Saúde do Serão avaliados oitenta humanos. Tanto ele, quanto a anfotericina B têm algune, no Piauí, Dr. Carlos Brasil, nos anos de 1984 a 2004, pacientes durante cerca mas toxicidades, podendo dar calafrio e ser tóxico para Henrique Nery Costa, foram notificados 48.455 casos de os rins e até problemas de coração”, explicou. diretor do Hospital de LV, em que aproximadamente 66% deles de um ano e meio, sendo Teresina é considerada a capital do calazar. DaDoenças Tropicais Na- ocorreram nos estados da Bahia, Ceará, quarenta acima de 15 dos da Fundação Municipal de Saúde (FMS) mostan Portela, relatou que Maranhão e Piauí. Nos últimos dez anos, anos, e 40 de dois a quintram que somente em 2003 morreram 51 pessoas na a partir de indícios de a média anual de casos no país foi de ze anos”, detalhou Dr. cidade, sendo que 35 não residiam na capital. Em que a miltefosine pode- 3.156 e a inc idência d e dois c asos/ Carlos Costa, com douto2004, o número de óbitos caiu para 35 (somente 7 ria ser um tratamento efi- 100.000 habi tant es ( MS, 2003) . rado em saúde pública, na Universidade de Harvard, residiam em Teresina), ano em que o controle da docaz contra o calazar, foi ença foi considerado bom, uma vez que das 193 notiEstados Unidos. iniciada uma série de Na Índia, os primeiros estudos com a miltefosine ficações 186 foram dadas como cura. ensaios em vitro e, posteriormente, em camundonCarlos Costa respondeu que as mortes por calazar gos, e constatou-se que a droga, na dose necessária foram considerados promissores. O Dr. Carlos Costa para inibir o crescimento da leishmaniose, era bas- informou que os pacientes testados foram rigorosa- ainda ocorrem porque o diagnóstico é demorado, decorrente das falhas no sistema de saúde. “A doença precisa tante segura em relação a surgimento de efeitos cola- mente selecionados, em estágio não avançado da doterais. “Estes estudos acabaram evoluindo para tes- ença. “Os testes mostraram que a miltefosine é vanta- ser compreendida. Tem pacientes que passam por mais tes em seres humanos, inicialmente na Fase I, que é josa em relação a outras substâncias, porém menos de quatro consultórios até descobrirem que contraíram a ajuste de dose, e depois para as Fases II e III, princi- vantajosa do que a medicação venosa disponível no doença. Falta rotina, medicação e falta assistência médipalmente na Índia, onde na região Nordeste, os ca- mercado (anfotericina B) e mais do que a medicação ca de qualidade. Isso é algo que me preocupa. Febre, sos de calazar são dez vezes maiores que no Nordes- tradicional naquele país, que é o antimônio pentava- palidez e baço grande são os sintomas principais. As te do Brasil. A droga não é segura o suficiente para lente (glucantime). No Brasil, o antimônio é o medica- crianças, por não terem um sistema imunológico, são as tratamento em gestantes, porque ainda existe uma mento de primeira escolha para tratar o calazar; na Ín- que mais morrem, assim como idosos”, concluiu.
Foto: SEMAR
Hospital de Doenças Tropicais testa droga contra calazar
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Recursos hídricos estão sendo analisados por técnicos e trabalho será concluído no final de 2006
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Meio Norte (Embrapa-MN) está realizando o diagnóstico de todo o potencial de recursos hídricos do Estado do Piauí, com o objetivo de contribuir para o seu uso racional pela população, especialmente os que os utilizam através da irrigação. O projeto, chamado de “Caracterização e Uso Racional de Recursos Hídricos na Região Meio Norte do Brasil”, orçado em R$ 715 mil, teve início em 2004 e deve ser concluído até o final de 2006. Os recursos são do PRODETAB/Banco Mundial, através do Banco do Nordeste e CNPq. Segundo o engenheiro agrônomo Aderson Soares de Andrade Júnior, coordenador da pesquisa e Doutor na Área de Irrigação e Drenagem pela Esalq/ USP, pelo menos três vertentes estão fazendo parte da pesquisa: a qualidade da água, a demanda hídrica e o monitoramento climático para o manejo da irrigação. “Ao final da pesquisa, beneficiaremos todos os produtores rurais, mais principalmente os pequenos e médios, que não têm recursos para investir em pesquisa”, afirma Aderson. No total, o projeto envolve sete pesquisadores da Embrapa, além de dois bolsistas e três técnicos de laboratório. A primeira vertente, que é o diagnóstico da qualidade da água para fins de irrigação e consumo humano, já foi concluída em três das quatro regiões que serão estudadas. Teresina e Parnaíba já foram analisadas, enquanto que no Vale do Gurguéia e nos 28
municípios da região de Picos os trabalhos estão em andamento. Esses locais foram escolhidos por serem os de maiores potenciais hídricos do Piauí, como Teresina (fruticultura e consumo humano), Parnaíba (Tabuleiros Litorâneos). Picos e Vale do Gurguéia por apresentarem também as mesmas características. A segunda vertente, a demanda hídrica, medirá a quantidade de água necessária para uma determinada cultura. “Atualmente, os produtores fazem as plantações e a irrigação na sorte ou na experiência que têm. E somente os grandes agroindustriais podem ter pesquisadores e agrônomos direto dentro de suas propriedades para dar orientações necessárias”, explica Aderson. A demanda hídrica é medida através de lisímetros de pesagem, equipamentos sofisticados que medem o coeficiente cultura (Kc), que determina o quanto a planta precisa de água. Até o final do projeto, serão medidos o Kc em 12 locais, sendo quatro no Vale do Gurguéia, quatro em Teresina e quatro em Parnaíba. Finalmente, a terceira vertente, que é o monitoramento climático. Nessa etapa, os pesquisadores estudam, por exemplo, quanto tempo leva para uma certa quantidade de água evaporar de acordo com o solo e com a planta. São estações metereológicas localizadas nas quatro regiões pesquisas. “Com todas essas informações, saberemos que uma planta X precisa de uma quantidade de água Y em um local Z.
Aderson Andrade, Doutor em Irrigação e Drenagem, diz que os produtores rurais serão os grandes beneficiados com o diagnóstico
E essa mesma planta (ou cultura) pode precisar de uma quantidade de água diferente em outro local”, lembra o pesquisador. Todo o resultado da pesquisa, que contribuirá para o aumento da produtividade, através da otimização das técnicas de irrigação e plantio, será divulgado os pequenos produtores através da internet, de fax e principalmente nos cursos de capacitação que já estão incluídos no custo do projeto. “As técnicas serão repassadas aos agricultores. Essa é uma iniciativa inédita no Meio Norte”, alegra-se Aderson Júnior. As culturas que não precisam de irrigação, como soja, algodão e alguns tipos de milho, serão beneficiadas com a pesquisa, já que o monitoramento climático também será estudado.
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O presidente da Agência Nacional das Aguas, José Machado, diz que o Brasil vive uma contradição. Apesar de ter uma das maiores reservas hídricas do planeta, 15% dos brasileiros não têm acesso à agua na quantidade e qualidade necessárias. E é justamente por isso que, nas regiões onde a água é escassa, existe maior tendência à competição entre os diferentes usos, sendo exigida maior preocupação dos diferentes níveis de governo e da sociedade na mitigação do problema. “Nestes casos, tendem a ocorrer os “conflitos pelo uso da água. Esses conflitos ocorriam de uma forma descontrolada em trechos de algumas bacias hidrográficas brasileiras, pela redução na quantidade ou da qualidade da água à disposição, ou mesmo pela associação dos dois problemas. Atualmente, existem instrumentos, previstos em lei, de atenuação ou eliminação de conflitos, com destaque para a outorga e à cobrança pelo uso de recursos hídricos”, afirma José Machado, que concedeu entrevista ao Sapiência após participar, em Teresina, do XV CONRID (Congresso Brasileiro e Simpósio Internacional de Uso das Aguas Subterrâneas na Agricultura Irrigada). Machado também falou que tanto o governo como a sociedade têm que combater e evitar a poluição dos nossos manacais, pois o custo da despoluição é bem maior depois.
Sapiência - Qual a finalidade do Plano Nacional de Recursos Hídricos e como ele vai ajudar a melhorar a vida da população brasileira? Como está a sua execução? Machado - O PNRH é um instrumento de longo prazo, previsto na Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997 – a “Lei das Águas” –, a ser pactuado entre o Poder Público, os usuários de água e a sociedade civil, que visa a fundamentar e orientar a gestão das águas. Através do PNRH pretende-se estabelecer cenários desejáveis em relação às águas do País, propondo a implementação de programas nacionais e regionais que compatibilizem as potencialidades e vocações das 12 regiões hidrográficas brasileiras e estabeleçam o equilíbrio entre a oferta e a demanda de água nessas unidades. A água é indispensável a todas as formas de vida e insumo básico, na maioria dos processos de produção na agricultura e na indústria, sendo ainda fundamental para a geração de grande parte da energia elétrica que consumimos e no saneamento do ambiente em que vivemos. Com isso, entende-se por que é tão importante evitar a escassez desse recurso na promoção da melhoria de vida da população brasileira. A elaboração do PNRH está sob a coordenação da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente (SRH/MMA), com o acompanhamento constante do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e o apoio da Agência Nacional de Águas (ANA). Sapiência - Se nada for feito, quando a água poderá faltar? E como evitar isso? Machado - Na verdade, ainda que o Brasil disponha de uma das maiores reservas hídricas do planeta, a distribuição dos recursos hídricos não é homogênea em nosso território e temos naturalmente algumas regiões com abundância e outras com escassez de água. Dados recentes dão conta, por exemplo, de que 15% dos brasileiros não têm acesso à água na quantidade e qualidade necessárias. E é justamente nas regiões onde a água é escassa que, logicamente, existe maior tendência à competição entre os diferentes usos, sendo exigida maior preocupação dos diferentes níveis de governo e da sociedade na mitigação do problema. Há também regiões onde,
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embora a água não seja escassa, existem múltiplos usos e usuários que, na ausência de uma gestão adequada, podem momentaneamente, ou até mesmo por um período maior de tempo, ter parte de suas demandas não atendidas ou fazer com que os demais sejam prejudicados. Nestes dois casos, tendem a ocorrer os “conflitos pelo uso da água”. Esses conflitos ocorriam de uma forma descontrolada em trechos de algumas bacias hidrográficas brasileiras, pela redução na quantidade ou da qualidade da água à disposição, ou mesmo pela associação dos dois problemas. Atualmente, existem instrumentos, previstos em lei, de atenuação ou eliminação de conflitos, com destaque para a outorga e a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Dispositivos outros estão sendo implementados em bacias, em que o atendimento aos usuários depende dos volumes totais de água acumulados nos reservatórios em cada ano, e um exemplo é a “alocação negociada de água” – alternativa utilizada.
Sapiência - Quais são as potencialidades do Brasil dentro dos recursos hídricos mundiais? Como o Piauí é visto neste contexto? Machado - O Brasil é o país com maior disponibilidade de recursos hídricos renováveis. De acordo com a FAO, temos uma disponibilidade hídrica média de 8.233 km3/ano (18% do total mundial), se computadas as águas que advêm de outros países (2.815 km3/ano). As águas “produzidas” internamente correspondem a 12% do total mundial. O Piauí encontra-se inserido na bacia do rio Parnaíba, cobrindo quase a totalidade desta. Na bacia do Parnaíba, verifica-se uma disponibilidade média de recursos hídricos superficiais de 24 km3 ao ano. Este valor corresponde a menos de 0,5% da disponibilidade brasileira, não obstante a área total da bacia equivalha a quase 4% da área do Brasil. Por outro lado, o subsolo piauiense é rico em águas subterrâneas: os aqüíferos Poti-Piauí, Serra Grande e Cabeças, que têm partes explotáveis importantes em terras do Piauí, podem produzir 150 m3/s (4,7 km3/ano) de águas aptas a múltiplos aproveitamentos. Se realizada uma divisão entre a disponibilidade anual de água superficial na bacia do rio Parnaíba e sua população, verifica-se uma disponibilidade de mais de 6.000 m3 por habitante da bacia por ano. Valor que daria à região, de acordo com classificação adotada pela Unesco, uma situação confortável (disponibilidade de água de mais de 1.700 m3/hab/ano). Sapiência - Qual a importância da Bacia do Rio Parnaíba para o Brasil? Como ela pode ser mais bem aproveitada? Machado - A bacia hidrográfica do Parnaíba pode ser considerada a segunda região hidrográfica mais importante da região Nordeste em termos hidrológicos. Logicamente, em termos econômicos, sua importância atual é basicamente regional, caracterizando-se por ati-
vidades mais de subsistência, embora já se observe a tendência de incorporação nessa prática de opções mais valorizadas, como ocorre na região de Picos, onde a produção de mel está propiciando a melhoria de vida da população. No futuro, este cenário pode se transformar, apresentando atividades como a agricultura irrigada e de sequeiro e a pecuária com maior tecnologia, podendo a região se transformar também em importante pólo turístico. Não se pode desprezar, por exemplo, a potencialidade do sul piauiense para implantação de grandes áreas com culturas de soja, arroz, milho, algodão e criação de gado, como já ocorre em trechos de cerrado nos estados vizinhos. No que se refere ao turismo, tem o Parque Nacional de Sete Cidades, as gargantas em pedra do rio Poti e, não muito distantes dali, as minas de opala de Pedro II. Já em relação à zona costeira, o Delta do Parnaíba é também área de extrema importância turística e biológica. Para o Brasil, considera-se que o desenvolvimento socioeconômico das áreas inseridas na bacia do rio Parnaíba é fundamental para consolidação de mais uma região produtiva no País e, em adição, que isso propiciaria a fixação do homem no campo e reduziria o êxodo para grandes cidades de pessoas que tradicionalmente são expulsas pela fome e falta de opção de trabalho.
Sapiência - Qual a importância do inventário de 27 mil poços no Piauí, feito pela CPRM? O que representará esse inventário para a agricultura irrigada no Estado? Machado - O inventário representa um primeiro passo para o gerenciamento do recurso hídrico subterrâneo no Estado. Ele fornece um diagnóstico do estágio de uso da água subterrânea, indicando as regiões de maior explotação por poços, os volumes explotados e os tipos de uso da água. Além disso, contribui como subsídio para a realização de estudos hidrogeológicos na de finiçã o da produtivida de e das res erva s hídricas explotáveis dos aqüíferos, etapa fundamental para uso sustentável dos recursos hídricos, irrigação ou qualquer outra atividade, como abastecimento humano ou dessedentação (sic) animal. Sapiência - Quais as potencialidades do Piauí, em termos de águas subterrâneas? Machado - O estado do Piauí possui grande potencial em reservas de água subterrânea. Ao contrário de outros estados do Nordeste, onde predominam os terrenos cristalinos, que apresentam poços com baixa va zã o e com proble mas de e le va da s alinidade das águas, no Piauí cerca de 88% da sua área são constituídas por terrenos sedimentares com bom potencial hídrico e boa qualidade de água. Os terrenos cristalinos re pres enta m apenas 12% da sua área . A Bacia Sedimentar do Parnaíba merece destaque, em função da sua ampla ocorrência, ocupando 70% da superfície do estado, e da presença de três importantes sistemas aqüíferos de extensão regional: Serra Grande, Cabeças e Poti-Piauí. Os famosos poços jorrantes do es ta do c apta m água s de stes dois primeiros aqüíferos. As disponibilidades hídricas dos sistemas Serra Grande, Cabeças e Poti-Piauí são 12,7, 7,2 e 130 m3/s, respectivamente, utilizadas principalmente em abastecimento doméstico e irrigação, nos dois primeiros, e para uso doméstico, no último.
Nos últimos 20 anos, quando a preocupação com o meio ambiente passou a ser mais difundida nas reuniões internacionais dos países ricos, discutiu-se demasiadamente a questão da possibilidade da água doce do planeta acabar algum dia. A frase mais massificada entre os povos foi de que a água, ao contrário do que as pessoas achavam, era um recurso finito e que, se seu uso não fosse controlado, iria faltar para muita gente num futuro próximo. O Secretário Estadual de Meio Ambiente, Mestre em História, Dalton Macambira, discorda, no entanto, dessa afirmação. Ele diz que a água não é um recurso finito, mas é, sim, um recurso fácil de ser contaminado e é isso que está acontecendo no planeta. “O ciclo hidrológico vai estar sempre se repetindo. Nos oceanos, a água evapora, mas o sal não. E essa água volta para a terra. A maior parte, claro, volta para o oceano, mas a que fica no continente é suficiente para reabastecer os rios, lagos, lagoas, etc”, afirma o secretário. O problema, segundo ele, é o desmatamento ciliar e a contaminação da água doce no mundo. “A gente não pode pensar em água para esse ano, mas para várias e várias gerações”. Para falar sobre a importância desse recurso, Dalton Macambira falou ao Sapiência. A pasta da qual é titular, a Semar (Secretária Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hidrícos), antes desacreditada por parte da sociedade e menosprezada por sucessivos governadores do Estado, adquiriu hoje o prestígio de grande responsável, ativa das questões ambientais e gestora (de fato) dos recursos hídricos, abundantes em território piauiense. Sapiência - Cada vez mais, temos conhecimento de que há menos água para mais pessoas. O Brasil é privilegiado, porque tem muitos rios perenes, tem o rio Amazonas, e muitos outros. O Brasil e Piauí podem ser afetado sobre esse problema da falta de água? Macambira - O Brasil é o país que tem a maior reserva de água doce do mundo. 16% de toda a água doce do mundo está no Brasil. Da água que existe no planeta, só 3% é doce. 2% são fontes que estão nas geleiras e 1% água doce de fácil acesso. E o Brasil tem 16% dessa água. Isso é muito positivo, mas deve ser uma fonte de preocupação, porque a água doce é a fonte principal de vida, ao mesmo tempo, se nós não gerenciarmos corretamente, se não usarmos de forma racional, ela não vai mais nos servir. Porque não se trata apenas de ela acabar, se trata fundamentalmente de não permitir que ela seja uma fonte de contaminação. Porque, depois de contaminada, o custo para despoluir é bem maior. A água é um recurso natural finito apenas nesta perspectiva. O ciclo hidrológico vai estar sempre se repetindo. Quando a água dos oceanos evapora, o sal não evapora. Só que a maior parte da água cai nos oceanos. A gente não pode pensar em água para esse ano, mas para várias e várias gerações. Sapiência - Já está sendo efetivada uma política para que a população faça o uso racional da água? Macambira - Em 2004, a Organização das Nações Unidas decretou aquele ano como o Ano Internacional da Água Doce. Recentemente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também fez o mesmo. Isso é um instrumento importante, pois valoriza a água. E no Brasil, que é um país riquíssimo em água, mas 75% dela está na região Norte. O Nordeste tem apenas 5% da água do País, mas o incrível é que tem lugares na região semiárida que chove mais do que algumas regiões da França. O problema é que a chuva no Nordeste é irregular, muito concentrada em um único período. Assim, as pessoas não conseguem acumular água, nos reservatórios, pois eles têm limite de armazenamento. No Vale do Gurguéia, os poços jorrantes desperdiçavam água há mais de 30 anos, sendo até capa do catálogo telefônico do Piauí. Por dia, eles produzem água suficiente para abastecer uma cidade como Bom Jesus, que tem 20 mil habitantes. Em 2004, com apoio da Agência Nacional das Águas, iniciamos o processo de contenção desse desperdício, quando colocamos um registro de controle de vazão em seis poços mais antigos. Isso era uma verdadeiro acinte, porque há regiões do semi-árido do Piauí que o povo não tem água nem para beber. Guaribas, onde a população até há bem pouco tempo só bebia “lama”, porque não havia água, fica só a 100 quilômetros do Poço Violeto, onde a água não tinha nenhuma utilização ou aproveitamento. O problema é que temos mais de 300 poços naquela região. Você imagina o esforço que vai ser para a gente continuar acabando com essa sangria do desperdício. Você veja a consciência dos governos anteriores em relação ao
desperdício de água e à gestão dos recursos hídricos no nosso Estado. Nos anos 60, na região de Picos, os poços também eram jorrantes. Como se desperdiçou muita água, houve um rebaixamento dramático do lençol freático naquela região. Hoje, não se encontra água com menos de 50 metros (de profundidade) em Picos, e essa ação humana de agressão, de desperdício, de uso indiscriminado da água, inverteu uma lei da natureza: só existe rio perene onde tem água subterrânea. Porque no período que não está chovendo é a água subterrânea, é o lençol freático que alimenta o rio e permite que ele não seque. Como lá em Picos, houve uma perfuração indiscriminada de poços, sem licença ambiental, sem nada e principalmente na área de recarga do aqüífero, aquele lugar nas serras onde a água penetra para abastecer ou reabastecer o lençol freático, começou a se retirar mais água do que entrava. Resultado: o lençol freático foi rebaixado e aí o Rio Guaribas, que passa no meio da cidade, seca no período que não está chovendo. Por que ele seca? Porque não tem mais a água subterrânea para abastecê-lo. Então, essa é uma situação extremamente complicada, mas que a gente pretende enfrentar, retomando recursos para continuar ali, investindo na colocação de controle de vazão, para evitar o desperdício dos poços jorrantes no Vale do Gurguéia. Sapiência - Como está o uso e o monitoramento das bacias hidrográficas do Piauí? Macambira - A principal bacia do Piauí é a do rio Parnaíba, com mais de 1.500 km de extensão, nascendo na Serra das Mangabeiras, no Sul e desaguando no Norte (Delta do rio Parnaíba). É uma bacia que pega parte do Maranhão e uma pequena parte do Ceará, e 98% do Piauí pertence à bacia do Parnaíba. A maior degradação ambiental - adquirimos imagens de satélite recentemente - não ocorre nos grandes projetos agrícolas. As maiores agressões que temos verificado ocorrem exatamente na agricultura familiar, que desmata a margem do rio para poder plantar nas vazantes, e na atividade pecuária. Essas são as duas atividades econômicas mais agressoras ao meio ambiente, principalmente no que diz respeito à subtração da mata ciliar. Você tira a mata ciliar e deixa o rio totalmente vulnerável ao processo de erosão das suas margens e, portanto, do processo de assoreamento dos rios. E, por incrível que pareça, a natureza sempre responde às agressões do homem. À medida que você desmata as margens dos rios, ajuda no assoreamento. Ora, todo rio corre para o mar, que recebe essa carga de sedimento e devolve como resposta da natureza às agressões humanas. Como é que ela devolve? Se você for hoje ao litoral do Piauí, verá que as dunas estão praticamente engolindo a Lagoa do Portinho. Ou seja, é o mar, a natureza devolvendo a areia que a humanidade, que nós, seres humanos, jogamos no mar através do assoreamento dos rios. Então,
escolhemos os cinco rios mais agredidos do Piauí: Poti, Parnaíba, Gurguéia, Canindé e Piauí, além do Rio Guaribas, em Picos, para obter recursos para iniciar um grande processo de reposição de mata ciliar na perspectiva de recuperação desses rios. E, por fim, para recuperar, o rio Parnaíba, temos que ter altos investimentos, com recursos internacionais. Sapiência - Porque o Piauí não tem um comitê, como sugere a Polícia Nacional de Recursos Hídricos? Macambira - A Lei de Recursos Hídricos do Ceará é de 1990, anterior a Lei Nacional de Recursos Hídricos, que é de 1997, e a Lei Estadual, que é de 2000. O Conselho Estadual de Recursos Hídricos e o Conselho Estadual de Meio Ambiente não funcionava, mas estamos botando para funcionar, inclusive com a presença da sociedade civil. Depois disso vamos passar para os comitês. O Ceará tem 15 anos na nossa frente. Estamos criando comissões gestoras nas principais barragens do Estado. 60% das comissões serão compostas pela sociedade civil. Agora, é preciso considerar que a Semar era um órgão extremamente desacreditado, não era valorizado pelos governantes anteriores, a ponto de ser extinto no governo Freitas Neto, no início dos anos 90. Ela foi recriada no primeiro governo Mão Santa, em 1996 não é à toa que a Lei de Meio Ambiente do Estado é de 1996, deste mesmo ano, e a Lei de Recursos Hídricos é de 2000. Nesses dois anos, conseguimos recuperar a credibilidade da secretaria. Ela hoje, de fato, é o órgão gestor dos recursos hídricos e dos recursos naturais do Estado do Piauí. É referência para quem trata de meio ambiente. Infelzimente, um Estado como o Piauí não tem recursos suficientes para investir no desenvolvimento. Nesse sentido, é indispensável o apoio do Governo Federal no aporte de recursos, no financiamento de projetos para o Estado do Piauí, para que a gente possa ter também esse recurso adicional para investimento nas diversas áreas. No caso nosso, principalmente na área ambiental.
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