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TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2011 • Nº 28 • ANO VIII
DR/PI
ISSN 1809-0915
Informativo Científico da FAPEPI
A Ciência em nome da Saúde
Riscos nas boleias Estudo aponta a incidência de várias doenças entre uma das categorias que mais movimentam a economia do país: os caminhoneiros
Negligenciadas Hanseníase e tuberculose ainda apresentam números alarmantes no Piauí
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TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2011
EDITORIAL Políticas públicas em saúde
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ciência sempre buscou apresentar respostas para melhorar a vida das pessoas e do ambiente que as cerca. Desde a Era Antiga, o homem já se mostrava um exímio questionador e vivia em busca do conhecimento para dirimir tantas necessidades. Um invento após outro possibilitava ao homem formas de se locomover rápido e mais seguro, passando pelos transportes náuticos, depois para os automóveis até se chegar ao avião. Na área de saúde, o Sec. XVIII foi marcado por grandes conquistas em torno da cura de doenças que deixavam baixas na casa dos seis zeros em todo o planeta; a descoberta da vacina contra a varíola, só para citar um exemplo clássico, veio dar o alento que a humanidade clamava. Mas foi somente a partir do fim da 2ª Guerra Mundial que os cientistas se debruçaram para buscar controlar várias enfermidades, como a poliomielite, o sarampo e a rubéola. É a partir das descobertas científicas que a sociedade, entidades e governo passam a traçar políticas públicas em prol de um bem comum. E pode-se afirmar que a partir da descoberta de várias vacinas e de programas sérios de saúde, como o da erradicação da pólio, o mundo praticamente eliminou essa doença, inclusive o Brasil, no final dos anos de 1980, com a eficiente campanha vacinal nacional. Por isso, um tema tão importante tinha que estar na pauta do Sapiência, uma vez que no Piauí vários projetos de pesquisa vêm sendo aprovados, premiados e contemplados com recursos, tanto da iniciativa privada, quanto federais e estaduais. Esta edição traz algumas reportagens especiais nessa
linha, ou seja, das pesquisas voltadas para políticas públicas na área de saúde. Uma delas debruça-se em estudos de uma década sobre a tuberculose e a hanseníase, doenças que colocam o Piauí em estado de alerta pela enorme quantidade de casos que surgem a cada ano, doenças contagiosas típicas de países pobres. Apesar da medicação eficaz e do tratamento gratuito na rede pública, falhas dos programas de saúde são apontadas e precisam de mudanças. Outra pesquisa aborda um sério problema de política pública que o país enfrenta: a qualidade de vida de uma classe que é primordial para a economia do país, os caminhoneiros. Infelizmente, um grupo excluído do sistema de saúde, marginalizado dentro de suas boleias nas estradas desse país. A reportagem traz os riscos advindos da vulnerabilidade quanto a DST\AIDS, prevalência de hepatite B, hipertensão, perfil glicêmico, alcoolismo e uso de outras drogas. O Sapiência também destaca pesquisa sobre a poluição no Rio Parnaíba, na capital do Piauí. Um alerta para a população que está à mercê de ser infectada por bactérias resistentes a desinfetantes, oriundas da rede hospitalar de Teresina e causadoras de uma série de doenças. Todas as reportagens desta edição sugerem políticas públicas visando à redução dos problemas apontados. Cabe às autoridades e todos os demais organismos da sociedade, de posse do que é revelado pelo conhecimento produzido, traçar os caminhos mais adequados para uma melhor qualidade de vida da população. O Sapiência tem buscado, ao longo dessas 28 edições, informar e despertar. No mais, cada um pode e deve também fazer o seu papel.
Análise da dinâmica econômica de municípios do Sul do Piauí
A Claudia Maria Sabóia de Aquino Profa. Adjunta da UFPI cmsaboia@gmail.com
José Gerardo Beserra de Oliveira Professor Adjunto da UFC jgboliv@gmail.com
região Nordeste constitui um exemplo clássico das disparidades regionais de nosso país. Bacelar (2000) afirma que já nos anos 90, os investimentos federais eram direcionados às áreas dinâmicas com vista ao mercado mundial. A lógica era fortalecer a dinâmica dos mais fortes, e abandonar as áreas não-dinâmicas e sem competitividade, condenando-as à pobreza eterna. Eram realçadas assim as disparidades intrarregionais. Como resultado desta conduta política, o semiárido do nordeste brasileiro amarga um enorme atraso social e econômico, que se materializa em baixos níveis de escolaridade, elevado desemprego, baixo nível tecnológico e em uma economia incipiente e significativamente dependente das condições climáticas da região. A partir da constatação do conjunto destas dificuldades, objetivou-se avaliar a dinâmica econômica em cinco municípios do Estado do Piauí. Os municípios escolhidos foram: São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, São Lourenço do Piauí, Dirceu Arcoverde e Bonfim do Piauí, todos inseridos no semiárido piauiense. Análise temporal de dados a partir da Pesquisa Pecuária Municipal e da Pesquisa Agrícola Municipal revela que a base da economia destes municípios gravita em torno das atividades da agricultura de subsistência e da pecuária extensiva, ambas de baixo desempenho. Este baixo desempenho em parte resulta da adversidade climática evidenciada na região, o que caracteriza estas
atividades como rotineiras e pouco lucrativas. Estudo realizado por Aquino (2010) revela um número significativo de pessoas beneficiadas nestes municípios pelo INSS e pelo Programa Bolsa Família do governo federal. Os números, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (2008), revelam em termos percentuais, um total de 71,9%, 68%, 54,1%, 62,9% e 46,1% de pessoas beneficiadas nos municípios de Bonfim do Piauí, Coronel José Dias, Dirceu Arcoverde, São Lourenço do Piauí e São Raimundo Nonato, respectivamente. Ante o exposto, confirma-se a existência de uma economia sem produção nos municípios estudados. Esta, segundo Gomes Maia (2001), é caracterizada por excessiva dependência das aposentadorias, pensões, empregos públicos disponíveis, das transferências de recursos fiscais para as prefeituras e ainda das transferências diretas de renda de programas sociais do governo federal. Com relação aos rendimentos mensais auferidos pelo chefe de família, pode-se constatar que em todos os municípios mais da metade da população enquadra-se na faixa de renda de 1/2 a 1 salário mínimo. Estas classes perfazem 66,7%, 67,3%, 64,2%, 71,8% e 55,4% para os municípios de Bonfim do Piauí, Coronel Jose Dias, Dirceu Arcoverde, São Lourenço do Piauí e São Raimundo Nonato, respectivamente. Este fato justifica o grande número de pessoas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família na área de estudo. Os dados revelam a estagnação econômica dos municípios estudados. Na análise dos dados do índice de De-
senvolvimento Familiar (IDF), verifica-se que quatro dos cinco municípios apresentam IDF sintético de 0,51, o que permite inferir uma situação de médio desenvolvimento das famílias, a exceção é o município de Coronel José Dias, que apresentou IDF de 0,48, portanto, de baixo nível de desenvolvimento das famílias do referido município. As principais carências dos municípios estudados referem-se ao acesso ao trabalho e ao conhecimento. O nível de escolaridade das famílias é uma das principais deficiências, tendo em vista que os indicadores médios nessa dimensão ficaram em 0,06, 0,04, 0,08, 0,07 e 0,08 para os municípios de Bonfim do Piauí, Coronel José Dias, Dirceu Arcoverde, São Lourenço do Piauí e São Raimundo Nonato, respectivamente. Este baixo nível de escolaridade reflete-se em dificuldades de acesso ao trabalho. Vale ressaltar que, embora constatadas dificuldades na área de estudo, esta apresenta um significativo potencial de desenvolvimento centrado na atividade do turismo sustentável, posto a área abrigar o Parque Nacional da Serra da Capivara. Muito embora esta atividade possa ser vista como alavancadora da economia local, aspectos relacionados à infraestrutura deficitária (sistema hoteleiro, serviços de alimentação, péssimas condições de estradas) e ainda a fraca capacitação profissional nos vários segmentos de serviços dificultam a sua consolidação. A formação de capital humano e a construção de capacidade gerencial dos governos municipais são condições fundamentais para a viabilidade do desenvolvimento local da região.
AO LEITOR PARA CRÍTICAS, SUGESTÕES E CONTATO:
EXPEDIENTE
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CONSELHO EDITORIAL: Bárbara Olímpia Ramos de Melo, Geraldo Eduardo da Luz Júnior, Francisco Laerte J. Magalhães, Wellington Lage e Adriana Nadja Lelis Coutinho EDITORA: Márcia Cristina REDAÇÃO E FOTOS: Márcia Cristina (MTB - 1060) Roberta Rocha (MTB - 1856)
REVISÃO DE TEXTOS Rosa Pereira IMPRESSÃO Gráfica Apollo TIRAGEM 8 mil exemplares DIAGRAMAÇÃO Invista Publicidade
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ARTIGO Fidedignidade do conhecimento e conservação
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uitas pesquisas atuais mostram que populações humanas que margeiam os recursos naturais acumulam por gerações vastos conhecimentos acerca desse mundo natural e que esse mundo pode ser domesticado. Comunidades tradicionais, segundo os pesquisadores Diegues e Arruda (2000), são assim postuladas por manterem estreita relação de dependência com a natureza, propiciando profundo conhecimento de seus processos cíclicos; pela ocupação do território por gerações, ainda que alguns membros passem por processos sazonais de ida e volta; reduzida acumulação de capital; sistemas tecnológicos simplórios e práticas de subsistência concernentes à confecção de mercadorias, entre outros. As etnociências, preocupadas em esgotar o estudo das inter-relações do animal humano com o meio circundante aprenderam a respeitar e valorizar devidamente essas relações e o conhecimento aflorado oriundo desses processos. Por conta desse respeito merecido e reconhecido, o tema que proponho discutir é carregado de certa suscetibilidade, ou por que não, dificuldade. A fidedignidade ou acurácia do conhecimento gerado localmente. Não é tarefa fácil a proposta de verificar a veracidade do conhecimento que essas comunidades cultivam com tanto esmero. De certa forma, o propósito não é pôr à prova as afirmações empíricas e sim uma tentativa, na melhor
das intenções possíveis, de conciliar estas informações com os achados técnicos, testados e devidamente verificados à luz das rígidas normativas científicas. Alguns autores caminharam por esses terrenos. Likke (2000) comparou a descrição de um determinado componente vegetacional, fornecida por informantes, com fotos aéreas e estudos de campo, encontrando consistência nas afirmações locais de que a vegetação tem mudado por conta da predominância de algumas espécies e declínio de outras. Tokarnia e colaboradores (1999) também comprovaram afirmações populares em seu estudo. Eles encontraram compostos tóxicos (glicosídeos cianogênicos) nas folhas do angico [Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan], ratificando a bem difundida informação, entre os criadores rurais de bovinos, de que não se deve oferecer essas folhas para o consumo animal. Um último exemplo de verificação de conhecimento foi realizado por Monteiro e outros pesquisadores (2006) quando testaram a indicação popular sobre a preferência do uso das cascas do caule de duas espécies vegetais medicinais do semiárido nordestino para o tratamento de inflamações e ferimentos. Esses pesquisadores encontraram que em determinadas épocas é viável a substituição das cascas por folhas, devido à similar quantidade de compostos bioativos, já que a coleta de cascas é uma prática agressiva, pondo em risco a vida do vegetal. Esse achado não confir-
mou a sabedoria popular, quando enfatiza, em uníssono, apenas o uso medicinal das cascas das duas espécies vegetais arbóreas testadas. Contudo, há uma ressalva importante encontrada nesse estudo: como no semiárido a estação seca é predominante e as folhas são recursos espo- Julio Marcelino Monteiro Prof. Depto. de Ciências Naturais – rádicos, limitado a UFPI-Bom Jesus um efêmero período, juliommonteiro@ufpi.edu.br as populações orientaram a exploração medicinal em torno das cascas das plantas em função de sua disponibilidade temporal, independente de qualquer resposta biológica. De maneira geral, os processos de resgate e afirmação do conhecimento local, a cada dia, tornamse mais importantes no auxílio para implementações de processos conservacionistas e de manejo sustentado, principalmente em áreas bastante degradadas como a nossa Caatinga, e o sucesso dessas propostas dependem, certamente, do engajamento das pessoas que vivem e dependem desses ambientes.
Direito Médico
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ale dizer, de início que, as ciências biomédicas e a Medicina vêm aprimorando-se, a exemplo das pesquisas em seres humanos que envolvem a biotecnologia contemporânea; acarretando estes estudos conflitos tanto na esfera moral quanto jurídica, fomentando o Direito Médico, que também se envolve com demais temas, como, por exemplo: erro médico, direito ao próprio corpo, responsabilidade médica, obrigações na cirurgia plástica, eutanásia, transplante de órgãos, reprodução assistida, objeção de consciência etc. Nesse sentido, verificar-se-á então, que o Direito Médico desponta como uma promissora carreira, que atua tanto no consultivo quanto no contencioso, e vem desenvolvendo-se paulatinamente. Este fato pode ser atribuído, em parte às contribuições advindas do Código de Defesa do Consumidor e da ampliação das tecnologias de informação. Nessa matéria, Genival Veloso de França (2010, p.11) afirma que “a Medicina, principalmente nesses últimos trinta anos, sofreu um extraordinário e vertiginoso progresso, o que obrigou o médico a enfrentar novas situações, muitas delas em sensível conflito com sua formação e com o passado hipocrático. O médico teve sempre como guias sua consciência e uma tradição milenar; porém, dia a dia, surge a
necessidade de conciliar esse pensamento e o interesse profissional com as múltiplas exigências da coletividade.” Para se estudar o Direito Médico, o objeto precípuo é o próprio livro dos médicos, o Código de Ética Médica (CEM), que, recentemente, foi revisto, atualizado e ampliado, resultado de mais de dois anos de trabalho, reunindo sugestões de médicos, especialistas e instituições da área médica, a fim de garantir segurança para o médico e confiança para o paciente. Vale mencionar que, hodiernamente, o número de processos por erro médico que chega ao Superior Tribunal de Justiça aumenta a cada ano, envolvendo, prioritariamente, questões sobre responsabilidade civil e penal do médico. Nesse contexto, segundo Maria Helena Diniz (2009, p. 668), “o insucesso médico não tem sido tolerado, em razão dos seguintes fatores concorrentes: a) utilização da tecnologia, que trouxe enorme desenvolvimento à ciência médica; b) massificação da medicina, que fez com que a relação médico-paciente se tornasse impessoal [...]; f) a pressa do atendimento médico, principalmente em postos do INSS e naqueles dependentes do Poder Público, para diminuir a enorme fila de espera; g) a crise do atendimento médico pela despersonalização, pois o paciente nem sequer conhece o médico que irá atendê-lo, pelas péssimas condições de trabalho, pela deficiência
de equipamentos e escassez de remédios; [...] h) a especialização, que transforma o médico num técnico altamente adestrado; [...] k) o mercantilismo desenfreado, que se dá por ato de médico especializado ou por Saulo Cerqueira de Aguiar Soares empresa médica Membro do Núcleo de Estudos e c o m p r o m e t i d a Pesquisas em Trabalho e Educação na Saúde da UFPI com o lucro [...].” saulo.soares@oi.com.br À guisa de considerações finais, em face das circunstâncias fáticas delineadas, reconhece-se a necessidade de uma Medicina mais humana que venha a contribuir socialmente e que não tenha no lucro o seu fim. Além do que, o Direito Médico cumpre eficientemente sua incumbência, em atuar nas mais variadas questões da área, tendo a função precípua da égide da vida. No meu sentir, a população deve fiscalizar as instituições hospitalares públicas e privadas, e denunciar ao Ministério Público – que defende os direitos sociais e individuais indisponíveis – sempre que achacados em sua integridade física e/ou moral.
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REPORTAGEM FOTOS: MÁRCIA CRISTINA
Águas do Parnaíba contaminadas por bactérias resistentes a desinfetantes
Francisca Lúcia de Lima Profª do Curso de Ciências Biológicas da UESPI Pró-reitora de Extensão, Ass. Estudantes e Com. da UESPI karnauba@gmail.com
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s discussões e estudos em busca de soluções em torno de questões envolvendo o mau uso do meio ambiente passaram a estar na pauta mundial a partir dos anos de 1980, quando o solo, a água e o ar do planeta começaram a apresentar cada vez mais sinais de que o homem estava usando de forma desordenada e destrutiva os recursos naturais. As mudanças climáticas, a destruição da camada de ozônio e a poluição catastrófica de rios e mares matam milhares de seres vivos e o homem, o maior causador de todos esses males, vem utilizando o seu conhecimento para buscar reverter os efeitos de tanta destruição. Políticas públicas na área da saúde foi o tema escolhido para esta edição do Informativo Sapiência e, nesse contexto, uma pesquisa iniciada em 2008 apresentou resultados preliminares alarmantes em torno da poluição crescente no principal rio que banha o Estado do Piauí, o Parnaíba. Com doutorado e pósdoutorado na área de microbiologia, a pes-
quisadora e professora da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) Francisca Lúcia de Lima coordenou uma pesquisa financiada pelo Programa Primeiros Projetos (PPP/CNPq /FAPEPI). O projeto concluiu que o Parnaíba estava infestado de bactérias resistentes a desinfetantes oriundas da rede hospitalar de Teresina, que são despejadas diretamente no rio pela rede de esgoto sem nenhum tratamento. “Susceptibilidade a desinfetantes de bactérias isoladas de afluentes da rede hospitalar na cidade de Teresina” é o título do projeto desenvolvido com o apoio de professores e estudantes do Curso de Ciências Biológicas da UESPI. Os resultados preliminares estão sendo divulgados em artigos e em congressos científicos. O estudo teve como foco a desinfecção, que é um processo físico-químico que destrói os micro-organismos, com exceção dos esporos bacterianos. As bactérias sobreviventes à exposição a essas substâncias vão parar no ambiente, e, por serem resistentes, competirão com os micro-organismos aquáticos. A resistência adquirida pelas células aos biocidas (desinfetantes e esterilizantes) pode surgir por mutação ou pela aquisição de elementos genéticos na forma de plasmídios e transposons. O objetivo da pesquisa foi avaliar a susceptibilidade das bactérias isoladas de águas residuais dos hospitais da cidade de Teresina a alguns desinfetantes utilizados no ambiente hospitalar. “Isolamos espécies de bactérias patogênicas e causadoras de vários tipos de infecção, como as do gênero Staphylococcus, Pseudomonas e também a Escherichia coli. A consequência é uma água imprópria para fins recreativos ou outros usos, devido ao fato de conter micro-organismos resistentes a desinfetantes, tornando-os perigosos à saúde”, explicou Francisca Lúcia. Além das espécies citadas, também foram analisados os gêneros Salmonela, Shiguela e as leveduras. Esses micro-organismos podem causar infecção hospitalar e doenças entéricas, como diarreias e intoxicação alimentar. No desenvolvimento do projeto, foram executadas dez coletas próximas à boca do esgoto
Coleta de amostra de água no Parnaíba (à esq.); ao lado, placa comprovando a poluição por bactérias: os pontos azuis são de colônias E. Coli e os rosas são de coliformes fecais
(Av. Maranhão, próximo à ponte Presidente José Sarney), das águas residuais da rede hospitalar, para a análise da resistência à Clorexidina, Glutaraldeído e o Iodo. Durante a realização do teste do Iodo, amostras bacterianas dos Gêneros Staphylococcus e Pseudomonas apresentaram resistência à exposição a vapores de iodo a 10%, o que indicou possíveis seleções destas linhagens no ambiente, provocado pela utilização dessa substância. O Glutaraldeído não demonstrou eficácia como desinfetante nos testes realizados, pois pelo menos 50% dos micro-organismos isolados foram resistentes à concentrações de até 5% da substância. Esses resultados indicam existir seleção de linhagens resistentes aos desinfetantes de uso hospitalar. A pesquisadora afirma que o ideal seria que a água residual oriunda da rede hospitalar fosse direto para uma estação de tratamento de esgoto e apenas depois de todos os processos de retirada de impurezas fosse devolvida aos rios. “Algumas espécies de bactérias resistentes a desinfetantes podem competir no ambiente natural com as bactérias existentes nos rios. Nessa competição, as mais resistentes acabam predominando e se multiplicando”, explicou. Os resultados finais estão sendo analisados e os dados estatísticos poderão esclarecer melhor o percentual de microorganismos resistentes encontrados. De forma geral, os resultados são um alerta para a contaminação encontrada no Rio Parnaíba e as consequências disso para a população que utiliza essa água de forma direta, sem tratamento, para fins recreativos ou para trabalho, como os lavadores de carro da Avenida Maranhão. O resultado da pesquisa poderá auxiliar ainda as autoridades para que medidas de controle nos sistemas de esgoto sejam melhoradas, no sentido de evitar maiores níveis de contaminação nos rios. Por Márcia Cristina
Poluição no rio oriunda de esgotos a céu aberto
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Novas dinâmicas para tratamentos contra a tuberculose e a hanseníase
O Viriato Campelo Prof. Dr. do Depto. de Parasitologia e Microbiologia da UFPI viriato.campelo@bol.com.br
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Brasil ocupa a 19ª posição na lista dos 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo, o único das Américas a figurar neste ranking, liderado por Índia, China, Indonésia, África do Sul e Nigéria. Ao lado do HIV/Aids, a tuberculose é uma das mais letais da lista das doenças negligenciadas, que são aquelas que prevalecem em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade e representam forte entrave para o desenvolvimento dos países. Além da tuberculose, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca como negligenciadas a dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase, leishmaniose, malária, tuberculose, entre outras. Mais de um bilhão de pessoas estão infectadas com uma ou mais doenças negligenciadas, o que representa um sexto da população mundial. No Brasil, os programas para
tratamento e monitoramento dessas doenças são ditados pelo governo federal, por meio do Ministério da Saúde (MS), que investe em programas e em pesquisas para buscar conter o avanço dessas doenças. O Programa em Pesquisa para o SUS (PPSUS) é um desses programas de fomento financiados pelo MS em convênio com as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs). Mas por que os números são tão alarmantes - tendo diminuição apenas discreta em alguns casos -, mesmo com a eficácia dos tratamentos que, na maioria das vezes, são oferecidos gratuitamente na rede pública de saúde? O Prof. do Depto. de Parasitologia e Microbiologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), e estudioso árduo de doenças transmissíveis e saúde pública, Viriato Campelo afirma que o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) ramifica-se pelos estados e municípios, mas não é descentralizado como deveria ser, conforme os princípios norteadores do SUS. “Em Teresina, quem responde pelo programa é a Fundação Municipal de Saúde, mas desenvolve suas atividades conforme as normas estabelecidas pelo MS. A Hanseníase segue o mesmo padrão. A Tuberculose e a Hanseníase, causadas por bacilos do mesmo gênero Mycobacterium – tuber-
culosis e leprae, são coordenadas como se o Brasil fosse igual geopoliticamente e sem desigualdades regionais. Não podemos ter a mesma receita, afinal todas as doenças têm sua dinâmica. O modelo de atenção de saúde vigente no Brasil, mas não hegemônico, vigilância em saúde, prega a participação da sociedade na definição de prioridades em saúde, sendo assim, essas duas doenças precisam da proximidade dos serviços com os pacientes”, considera Campelo, que também atua como orientador e professor do Mestrado de Ciências e Saúde da UFPI e coordenador do doutorado em Ciências Médicas da UFPI/UNICAMP. Com larga experiência em estudos sobre tuberculose e hanseníase, em 2009 o professor teve aprovada uma pesquisa sobre tuberculose pela FAPEPI através do PPSUS. “Avaliação das Ações
Paciente em posto de saúde com suspeita de tuberculose
FOTOS: DIVULGAÇÃO/MOHAN
FOTO: MÁRCIA CRISTINA
REPORTAGEM
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Acompanhamento em todas as fases do tratamento da tuberculose são ações importantes apontadas no estudo
do Programa de Controle da Tuberculose em Teresina Piauí, de 1999-2008” é o tema do projeto, a ser concluído no próximo ano. O objetivo é traçar o perfil epidemiológico dos novos casos de tuberculose em Teresina, identificar os óbitos por tuberculose e os óbitos por HIV associados com tuberculose, além de avaliar as ações para o controle da doença. A tuberculose é hoje a maior causa de morbidade e mortalidade entre as doenças infecto-contagiosas no mundo, sendo responsável por um quarto das mortes evitáveis em adultos. Em março de 1993, a OMS declarou a doença como uma emergência de âmbito mundial. Para o pesquisador, o Ministério da Saúde tem de mudar sua forma de lidar com os programas especiais "verticais", como saúde da mulher, do idoso, tuberculose, hanseníase, onde são ofertados cardápios fixos, como se os pacientes não mudassem nunca, e pensá-los de forma coletiva e não como dirigidos a grupos específicos e de maneira isolada. “Temos que incorporar tecnologias na vigilância, como GPS, computadores de última geração para fazer frente a estes problemas que, além de complexos, precisam de soluções rápidas, além de uma boa gestão compromissada com a população”, propõe. No mundo, 21% dos infectados estão em países desenvolvidos, ao passo que 79% estão nos países pobres e em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a maior parte dos infectados situa-se na faixa etária acima de 50 anos e nos países em desenvolvimento, 80% dos infectados encontram-se entre 15 e 59 anos, portanto,
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na faixa de maior produtividade social. Do total de oito milhões de casos novos, 5% ocorrem em países desenvolvidos e 95% naqueles em desenvolvimento. Oito estados brasileiros apresentam incidências acima da média nacional, ocorrendo em maior número no Rio de Janeiro e Amazonas e, em menor, em Goiás e Distrito Federal. Em 2005, o Piauí apresentava-se abaixo da média nacional, com 43,2 casos /100.000 habitantes; Teresina está acima da média, com 50,2 /100.000 habitantes. Nos últimos dez anos, a capital do Piauí vem apresentando uma discreta diminuição da tuberculose, com média de 327 casos novos por ano, porém, na faixa etária de 60 anos, tem havido um incremento na taxa de incidência com 118 casos novos por 100 mil habitantes. A pesquisa sobre tuberculose coordenada por Viriato Campelo avalia faixa etária, escolaridade, sexo, forma clínica, diagnóstico baciloscópico, associação com o agravo Aids, tratamento supervisionado, situação de encerramento do caso, número de contatos registrados e examinados, entre outros dados. O pesquisador reconhece que os programas federais funcionam, especialmente, por meio da Estratégia Saúde da Família. “Porém, ainda são necessárias algumas melhorias, como mais sensibilização desses profissionais quanto ao registro (prontuários, fichas de notificação, ficha de investigação, livro de tuberculose) e acompanhamento do paciente até a conclusão do caso, que geralmente é de seis meses, inclusive com a implementação do tratamento diretamente observado (TDO). Outro ponto que precisa ser fortalecido é a referência em tuberculose, pela dificuldade de agen-
damento, e contra referência para que o paciente possa voltar à sua unidade de saúde de origem e continuar seu tratamento”. Viriato Campelo considera importante desenvolver políticas públicas voltadas para a prevenção da tuberculose entre idosos, devido ao aumento da expectativa de vida e também ao risco de reativação da infecção latente pela diminuição da imunidade celular, própria do envelhecimento. “Devemos manter o programa de controle da tuberculose atento para as mudanças que vêm ocorrendo na cidade, como novas áreas de assentamento e os deslocamentos de pessoas de uma para outra área geográfica. Nos nossos estudos, a região que apresentou maior número de casos foi a do Grande Dirceu (bairro populoso de Teresina)”, explica o professor. Há alguns anos, um dos entraves para o pouco sucesso de políticas contra a tuberculose era a não conclusão do tratamento, e uma das razões para isso era a quantidade de comprimidos ingeridos pelos pacientes. Outro problema na fase do tratamento é o alcoolismo. Em 2009, o MS mudou o esquema terapêutico, acrescentando mais uma droga na fase de ataque e diminuindo o número de comprimidos. Vale ressaltar que o percentual de abandono ao tratamento em Teresina é em torno de 5%, o que está em consonância com o programa nacional, e o processo é realizado através de esquemas padronizados de poliquimioterapia com as seguintes drogas: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, em que a quantidade em miligramas é prescrita de acordo com o peso do paciente.
Médico faz avaliação em paciente com suspeita de hanseníase
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Novas concepções terapêuticas para a hanseníase podem tirar Teresina da situação de alta endemicidade Utilizar as formas tradicionais de tratamento em pacientes com hanseníase ou inovar, isso mesmo inovar, reconhecendo que as vítimas da doença são seres sociais que necessitam de atenção no sentido de elevação da autoestima, de forma a proporcionar-lhes acesso ao conhecimento, autonomia diante da vida e inserção familiar e social. Essa foi a proposta de alguns estudos coordenados ou orientados pelo pesquisador Viriato Campelo. Um desses projetos de pesquisa foi resultado de dissertação de mestrado do médico piauiense Sebastião Bona, que avaliou as recidivas de hanseníase nos dois centros de referência da doença no Piauí, no período de 2001 a 2008. A pesquisa serve como modelo para que os profissionais de saúde avaliem melhor a relação com o paciente e com a doença, tendo em vista ser contagiosa e cercada de estigmas e preconceitos, que só contribuem para um maior grau de dificuldade de eficácia no tratamento. Por isso, as metas visando à eliminação da doença incluem diagnóstico e tratamento precoce e cuidados de alta qualidade, objetivando a reabilitação eficaz para o paciente. A Hanseníase é uma das mais comuns infecções, acometendo as pessoas mais pobres de regiões como América Latina e Caribe. O Brasil responde por 93% dos casos novos de hanseníase por ano nas Américas. O Piauí é um dos estados brasileiros que apresenta alta endemicidade e Teresina é considerada
hiperendêmica. “O trabalho do Prof. Sebastião Bona contribuiu para mostrar que Teresina tem níveis de recidiva iguais ao do Brasil, país com o maior número de casos, podendo refletir com a péssima qualidade do programa de controle adotado no Brasil. O Trabalho serviu também para mostrar a necessidade de qualificar os profissionais que estão atuando nesta área pelo expressivo erro no diagnóstico de recidiva nos centros de referência de Teresina. A dissertação propôs um aprimoramento na ficha de investigação, que é de grande utilidade na coleta dos dados”, resumiu. Viriato Campelo orientou ainda outras dissertações de mestrado (Ciências e Saúde/ CCS/UFPI), uma delas de autoria do Prof. Anselmo Lustosa sobre “O impacto da Hanseníase na qualidade de vida relacionada à saúde”; outra da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), do Prof. Carlos Alberto Rodrigues de Oliveira, orientado pelo Prof. Dr. Luciano Toledo, na qual Campelo trabalhou como titular da banca examinadora de defesa e intitulada “Perfil epidemiológico da Hanseníase em menores de 15 anos em
Com o aumento das doenças negligenciadas entre idosos, profissionais começarão a dar mais atenção a essa faixa etária
Teresina”. Além disso, a Profª. Dra. Maria Leide Wan Del Rey de Oliveira - coordenadora do Programa Nacional de Controle da HanseníasePNCH, assessora do MS e membro do Comitê Assessor do Global Leprosy Program-WHO, desenvolveu um trabalho significante de pesquisaintervenção da Hanseníase junto à Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina. “No caso da pesquisa que orientei do Prof. fisioterapeuta Anselmo Alves Lustosa, suas maiores conclusões são de que o diagnóstico tardio é determinante significativo para o surgimento de deformidades; os episódios reacionais como fatores de limitação física e discriminação funcionam como limitantes em diversas dimensões da qualidade de vida das pessoas acometidas pela doença”, esclareceu. Este estudo reforça a necessidade de implementação de estratégias mais efetivas de controle da doença, visto que o estabelecimento de formas graves e incapacitantes de hanseníase está diretamente ligado à baixa qualidade de vida que, por sua vez esta relacionado à saúde, mesmo no paciente curado. Por Márcia Cristina
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ENTREVISTA
Pensar e agir local são estra políticas públicas e
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om experiência na área de Enfermagem e saúde pública, com ênfase em Vigilância em Saúde, atuando principalmente em temas referentes à imunização, vacinação, cobertura vacinal, hepatites, conhecimentos, atitudes e práticas e epidemiologia, a doutora em Enfermagem em Saúde Coletiva pela UFRJ, Telma Maria Evangelista de Araújo atualmente é professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Enfermagem da UFPI, também é professora da NOVAFAPI e Diretora de Vigilância em Saúde do Estado. Em entrevista para o SAPIÊNCIA, ela conta como é a realidade de algumas políticas públicas e ações de promoção da saúde do Piauí.
FOTO: ROBERTA ROCHA
SAPIÊNCIA – À frente da Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde do Piauí, como a Senhora avalia as políticas de saúde do Estado e como as pesquisas desenvolvidas aqui, por meio do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da UFPI, podem ser utilizadas como ferramentas para a promoção da saúde dos piauienses?
Telma Evangelista – A secretaria Estadual da Saúde está otimizando os recursos que são destinados às ações prioritárias de saúde, investindo na reorganização de serviços, dentro da lógica do modelo de vigilância em saúde preconizado pelo SUS, de modo que a população tenha um acesso real, e que as ações desenvolvidas sejam de qualidade e resolutivas. As pesquisas do NESP/UFPI e de outras instituições de ensino superior podem contribuir sobremaneira, oferecendo subsídios para a implementação das nossas práticas e para o estabelecimento de novas políticas de saúde. SAPIÊNCIA – Por que as doenças negligenciadas ainda são motivo de alerta tanto pela OMS quanto pelo Ministério da Saúde, se a ciência trouxe, ao longo das décadas, tratamentos cada vez mais eficientes oferecidos gratuitamente pelo sistema público de saúde? Telma Evangelista - Porque elas matam mais de um milhão de pessoas por ano no mundo, em que pesem os investimentos públicos, oriundos do setor público, que lhe são destinados. No Brasil e no nosso Estado, especialmente, os gastos com as doenças negligenciadas são crescentes, porque ainda convivemos com leishmaniose visceral e tegumentar, doença de chagas e até mesmo malária. Esta última, a partir de casos importados do Pará e do Maranhão. Entretanto, há alguns anos já temos casos autóctones. Ressalta-se que, por se tratar de doenças que afetam as populações mais empobrecidas, em
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atégias para a efetivação das em saúde no Piauí países menos desenvolvidos, não constituem um mercado lucrativo para a indústria farmacêutica, que por sua vez, não tem investido o suficiente em pesquisas para descobrir medicamentos mais eficazes e menos agressivos. Pesquisas apontam que entre 1975 e 2004 foram disponíveis apenas 1,3% dos medicamentos para as doenças negligenciadas, não obstante elas representem 12% da carga global de doenças. SAPIÊNCIA - Em relação à AIDS, observa-se ainda que nas regiões Norte e Nordeste a tendência é ainda de crescimento da doença. Diante deste cenário, qual é a realidade do Piauí frente à prevenção e controle, a definição de prioridades e a organização dos serviços e ações de saúde? Telma Evangelista - A SESAPI, por m e i o d a D U VA S / D S T / A I D S , v e m desenvolvendo várias ações em relação à AIDS, quais sejam: intensificação do diagnóstico precoce da AIDS, mediante o fortalecimento dos Centros de Testagem e Aconselhamento ( C TA s ) ; c o n t r o l e e d i s p e n s a ç ã o d e antiretrovirais; tratamento de infecções oportunistas; distribuição de preservativos; campanhas educativas; distribuição de suplementos alimentares para pessoas vivendo com AIDS, dentre outras, além de capacitação de profissionais de saúde para qualificação da rede de atenção. SAPIÊNCIA - O Brasil coleciona vitórias com relação a programas de saúde coletiva, como a erradicação da poliomielite desde 1989, por outro lado ainda luta contra a circulação de doenças transmissíveis do século passado. No Piauí, há números elevados sobre doenças transmissíveis, como malária, Doença de Chagas, especialmente na região de São João do Piauí e no município de Riacho Frio. O que vem sendo feito para o enfrentamento dessa questão? Te l m a E v a n g e l i s t a - E s t a m o s intensificando a busca ativa de casos, com vistas ao diagnóstico precoce, por meio de exames laboratoriais e complementares, inclusive garantindo e assegurando a referência para o diagnóstico em centros de maior complexidades (IDTNP e HGV), acessibilizando o tratamento, fazendo o controle
entomológico, além da capacitação de profissionais para a atenção necessária. SAPIÊNCIA - Os dados do MS apontam que em todo o Nordeste o número de casos da dengue aumentou 51% nos primeiros três meses de 2011 em comparação com o mesmo período de 2010. No Piauí, houve um aumento de 85% dos casos em comparação com os primeiros três meses de 2010. Como o Estado está trabalhando para estabilizar e enfrentar a situação? Telma Evangelista - Comparando-se a incidência de 2011 com a do ano de 2010, verifica-se um aumento médio de pouco mais de 50%. Para o enfretamento dos casos, continuamos implementando o nosso Plano de Contingência da Dengue, que dentre outras ações contempla: acolhimento e classificação de risco dos casos; definição de fluxos de encaminhamento; qualificação da atenção, mediante a implantação de protocolo clínico; garantia de insumos e leitos de retaguarda; seguimento do tratamento dos casos; aprimoramento da vigilância de casos e da vigilância e combate ao vetor e intensificação das ações de comunicação e mobilização. SAPIÊNCIA - O Plano Estadual de Enfrentamento às Emergências de Saúde Pública leva em consideração as demandas da população nos casos de emergência e as diretrizes de atuação das coordenações vinculadas à Secretaria Estadual da Saúde do Piauí. O que vem sendo feito para melhorar o acesso da população a estas ações? Telma Evangelista – A SESAPI está concluindo o Plano de Enfrentamento às Emergências em Saúde Pública do Estado, em articulação com outras instituições envolvidas com essas emergências, quais sejam: ANVISA, FMS, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Vigilância Epidemiológica dos Hospitais, SAMU e outros. No momento, vem utilizando a legislação e as diretrizes nacionais. Contudo, entendendo que não são suficientes para o Estado, estamos revisando também o nosso Código Sanitário. SAPIÊNCIA - O Programa de Saúde da Mulher tem a missão de executar ações dirigidas para o atendimento das necessidades
prioritárias, bem como a Política Nacional de Atenção Integral de Saúde da Mulher, que, ao longo de seus 25 anos, oferece desde atendimento do pré-natal até os casos de violência. Quais os números que se tem e o que de mais positivo essa política tem avançado? Telma Evangelista - Temos uma rede assistencial voltada para a mulher que inclui 1.429 leitos obstétricos com 10 leitos de UTI, e apresentamos 89,3% de cobertura com prénatal. Destaca-se que a taxa de natalidade tem sido decrescente. Com relação aos pontos positivos, podemos citar que a expressiva maioria dos partos são hospitalares (99,9%) e mais de 50% destes são normais; os partos domiciliares (0,16%) são assistidos por parteiras qualificadas e acompanhadas pela gestão municipal e estadual. Ressaltamos a implantação nesta gestão de seis serviços de atendimento à mulher vítima de violência sexual (SAMVVS), sendo no total de sete e o aumento do percentual de vigilância do óbito materno, o que possibilita conhecer melhor o perfil dos óbitos para que se desencadeie medidas de prevenção. Outro aspecto muito positivo é o termo de adesão à Rede Cegonha. SAPIÊNCIA - Quando o assunto é saúde mental, o tratamento dos pacientes acontece paralelamente aos de usuários de álcool, crack e outras drogas. O que vem sendo feito para o atendimento ao paciente com transtorno mental, visto que se observa a expansão do número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)? Te l m a E v a n g e l i s t a - E s t a m o s expandindo a Rede de Saúde Mental do Estado, incluindo a implantação de 14 novos CAPS (11 do Tipo I e 3 CAPSad III 24 horas), habilitando 10 novos leitos para usuários de álcool, crack e outras drogas no Hospital do Mocambinho (totalizando 20); destinando até 10% dos leitos em quatro hospitais gerais para o atendimento psiquiátrico, e temos vários projetos aprovados pelo Ministério da Saúde, dentre eles: Centro Regional de Referência para Formação Permanente de Profissionais que atuam junto aos usuários de álcool, crack e outras drogas e suas famílias; Escola de supervisores clínicos em álcool e outras drogas; Projeto Casa de acolhimento Transitório; Projeto de Consultório de Rua do SUS e outros.
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TESES Análise mutacional do gene PAX6 e de SNPs dos genes TP53 e WRN em gliomas humanos
Avaliação da genotoxicidade causada pela substância Metabissulfito de Sódio (Na2S2O5)
Caracterização bioquímica e atividade citotóxica in vitro e antitumoral in vivo de proteínas do látex de Calotropis procera
Giovanny Rebouças Pinto Professor da UFPI –Campus Parnaíba-PI Defesa: Faculdade de Medicina da USP - Ribeirão Preto, 2007 pintogr@ufpi.edu.br
Ivana Mara da Costa Machado Matos Carvalho Professora da UFPI - Campus Parnaíba-PI Defesa: Universidade Luterana do Brasil, Canoas-RS, 2011 maraivana@gmail.com
Jefferson Soares de Oliveira Professor da UFPI – Campus Parnaíba-PI Defesa:Universidade Federal do Ceará, 2011 jsoliveira@ufpi.edu.br
O gene PAX6, membro da família de genes Box pareados, codifica um fator de transcrição que desempenha um papel importante no desenvolvimento do sistema nervoso central. O gene WRN, membro da família RECQ, codifica uma proteína envolvida na resposta ao dano no DNA durante o processo de replicação, recombinação e transcrição. Recentemente, tanto PAX6 quanto WRN foram reconhecidos como genes de supressão tumoral, categoria que tem como principal representante o gene, frequentemente mutado em câncer, TP53. Os objetivos deste estudo foram: analisar o estado mutacional das regiões codificantes e reguladoras de PAX6 em gliomas; e determinar, em um estudo caso-controle, o papel dos SNPs TP53 Pro47Ser, Arg72Pro e WRN Cys1367Arg no desenvolvimento e prognóstico dos gliomas. Foram analisadas amostras de DNA de 94 pacientes com gliomas e de 100 indivíduos controle saudáveis. As sequências do gene PAX6 foram triadas por PCR-SSCP e nenhuma mutação foi encontrada nos fragmentos analisados. Por esse motivo, concluímos que o papel de supressão tumoral de PAX6, relatado em estudos prévios com gliomas, não é devido à mutação de suas regiões codificantes e reguladoras. No estudo caso-controle, os genótipos dos SNPs foram determinados por PCR-RFLP. Observamos que a distribuição genotípica dos SNPs TP53 Pro47Ser, Arg72Pro e WRN Cys1367Arg estava em equilíbrio de HardyWeinberg nos grupos analisados. As comparações de distribuições genotípicas e de frequências alélicas pelo teste do Qui-Quadrado não revelaram diferenças significativas entre os grupos caso e controle (p > 0,05). Nossos resultados apóiam a ideia de que essas variantes não são fatores de suscetibilidade para o desenvolvimento de gliomas, pelo menos na população brasileira.
O Metabissulfito de sódio (SMB) é um produto químico usado como conservante na indústria alimentícia e em outras indústrias como química e farmacêutica, sendo utilizado como alvejante, desinfetante e antioxidante. O SMB é utilizado em fazendas de carciniculturas, para evitar o aparecimento de manchas pretas nos animais, denominadas melanoses ou black spot. Os objetivos deste estudo foram: (a) avaliar a toxicidade, citotoxicidade e mutagenicidade do SMB de águas e sedimentos em uma fazenda de camarão no litoral piauiense (Cajueiro da Praia – Piauí), utilizando o teste Allium cepa; e (b) avaliar o efeito genotóxico do SMB em diferentes tecidos de camundongos, pelo Ensaio cometa e Teste Micronúcleo. Foram coletadas amostras de água no período chuvoso e seco: antes do local de despejo do SMB (Estação 1), no local de despejo do SMB (Estação 2), e depois do local de despejo (Estação 3). Através da análise dos tamanhos das raízes e do índice mitótico para as amostras de água e sedimento foi possível observar que todas as amostras, de todas as diluições e estações, demonstraram toxicidade de forma significativa (P<0,05; ANOVA). Assim, os resultados com o teste Allium cepa demonstraram toxicidade induzida pelo SMB, mas não mutagenicidade, tanto para as amostras de água quanto de sedimento. Para avaliação in vivo, foram utilizados camundongos de 5 – 7 semanas de idade, sendo empregados diferentes tecidos para os testes. Os resultados para o SMB administrado de forma oral em camundongos demonstraram que o mesmo foi capaz de induzir genotoxicidade e mutagenicidade nas maiores doses. Em relação aos grupos expostos ao SMB, um aumento significativo de danos ao DNA (Ensaio cometa) foi observado nas dosagens de 1000 mg/kg e 2.000 mg/kg em relação ao controle negativo para todos os tecidos (sangue, fígado e medula óssea). Para o Teste de micronúcleos tanto em sangue periférico como em medula óssea dos camundongos tratados com a dose mais elevada de SMB (2.000 mg/kg) demonstraram aumento significativo de células com micronúcleos, quando comparado ao controle negativo. Dessa forma, foi demonstrado efeito tanto genotóxico como mutagênico nos roedores tratados oralmente com as maiores doses do SMB. Diferença entre os sexos não foi observada. Assim, o SMB requer mais investigações, e sugere-se que o seu uso como conservante de alimentos seja controlado até que o risco definitivo sobre o genoma de diferentes organismos seja melhor estabelecido, até mesmo à saúde dos seres humanos.
Plantas medicinais no agreste pernambucano com ênfase na valoração econômica e avaliação de processos regenerativos das cascas do caule de Myracrodruon urundeuva alemão Júlio Marcelino Monteiro Professor da UFPI – Campus Bom Jesus-PI Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2009 juliommonteiro@ufpi.edu.br
Avaliação morfofuncional dos músculos mastigatórios e cervicais em adultos com e sem disfunção temporomandibular
Análise silvigênica em floresta estacional semidecídua e em cerradão no estado de São Paulo
Paulinne Junqueira Silva Andresen Strini Professora da UFPI, Campus Parnaíba-PI Defesa:Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, 2011 paulinnejsas@gmail.com
Rejane Tavares Botrel Professora da UFPI, Campus Bom Jesus-PI Defesa:Universidade Estadual de Campinas, 2007 rtbotrel@ufpi.br
Esse trabalho discorreu sobre abordagens distintas (etnobotânica, valoração ambiental e ecologia química), entretanto, guiadas por um tema convergente, a conservação e manejo sustentado. Dessa forma, realizou-se um estudo etnobotânico na Feira de Caruaru (Pernambuco, Nordeste do Brasil) e buscou-se comparar a riqueza de espécies comercializadas, entre cinco anos de intervalo, e verificar se há diferenças na importância relativa das espécies. Procurou-se também esclarecer a possível existência de sazonalidade na oferta de plantas medicinais na feira, conhecer as plantas mais comercializadas localmente e as razões que explicam sua alta procura. Não foram encontradas diferenças significativas entre a riqueza taxonômica ou a importância relativa das plantas para o inventário atual, realizado em 2006, e o anterior, em 2001. Com relação à sazonalidade da oferta de plantas, o hábito parece explicar a falta de espécies. Esses resultados podem indicar que mesmo havendo o cultivo por produtores locais dessas plantas herbáceas, os períodos de menor disponibilidade hídrica dificultam o manejo dessas plantas e afetam sua disponibilidade. Outro ponto a ser considerado é a falta de dinheiro para repor o material ausente. Com relação às espécies mais comercializadas localmente, encontrou-se o mesmo padrão de uso dos estudos disponíveis na literatura direcionados para caatinga: as arbóreas espontâneas são fortemente conhecidas, utilizadas e comercializadas. Adicionalmente, realizou-se um estudo de valoração econômica com Myracrodruon urundeuva Allemão, a partir da máxima disposição a pagar dos frequentadores da Feira de Caruaru, baseando-se no método da valoração contingente, tendo em vista a necessidade de sua conservação. Houve uma alta quantidade de pessoas que concordou em participar de propostas para custear a conservação da espécie, muito embora o valor médio da disposição a pagar (DAP) encontrado pode ser considerado baixo, em comparação a outras pesquisas realizadas no Brasil. Contudo, vale salientar que grande parte da população entrevistada apresenta restrições econômicas. Complementarmente, verificaram-se diferenças no teor de compostos tânicos nas cascas de M. urundeuva Allemão, em função de processos regenerativos após dano extrativista. Dessa forma, foi avaliada a velocidade de regeneração das cascas do caule de M. urundeuva Allemão, em função do teor de taninos, antes e depois do dano realizado. As abordagens propostas nesta pesquisa, embora distintas, são complementares, visando fornecer informações para subsidiar principalmente a conservação e manejo adequados de plantas medicinais da caatinga, enfatizando M. urundeuva Allemão, amparando-se no fato de que este bioma atualmente ainda se encontra pobremente estudado.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a força máxima de mordida (FMM), a atividade eletromiográfica (EMG) e a espessura dos músculos mastigatórios e cervicais por meio da ultrassonografia (US), além da influência clínica da postura de cabeça, em adultos com e sem a presença de DTM. A amostra foi composta por 47 indivíduos, de ambos os gêneros, sendo 19 incluídos no grupo DTM (idade de 25,4±3,8 anos), classificados pelo Research Diagnostic Criteria (RDC/TMD) e 28 no grupo controle (idade de 25,9±4,7 anos). Uma linha de prumo foi usada como referência para verificar o alinhamento e identificar clinicamente o lado de inclinação da cabeça. A FMM foi determinada por um transdutor de pressão e os valores convertidos em Newtons. A EMG e a US foram avaliadas para os músculos masseter, temporal e esternocleidomastóideo (ECM). Os resultados demonstraram diferenças estatisticamente significantes quando comparados os valores de FMM entre o grupo DTM (285,5±98,8 N) e controle (353,4±69,6 N). Diferenças significativas também foram observadas para a espessura do músculo masseter, entre o grupo DTM (11,2±1,9 mm, repouso; 13,4±1,9 mm, CVM) e o controle (12,7±1,8 mm, repouso; 14,8±2,0 mm, CVM) e entre o estado de repouso e contração, em ambos os grupos, para os músculos mastigatórios. Em relação ao gênero, a FMM foi menor nos indivíduos do sexo feminino com DTM, bem como a espessura dos músculos analisados, em ambos os grupos. Os valores de EMG para o ECM demonstraram diferenças significativas entre o estado de repouso e de CVM para o grupo controle, com maiores escores durante o apertamento dentário. Da mesma forma, diferenças significativas foram observadas entre o grupo controle e DTM para a EMG do ECM, durante a flexão de cabeça, para o ECM do lado direito (77,0 ±34,2%, DTM; 115,6 ±56,8%, controle) e esquerdo (80,7±46,1%, DTM; 113,1±49,5%, controle), e na espessura do ECM na extensão, para o lado esquerdo (10,0±2,0 mm, DTM; 10,9 ±1,5 mm, controle) e no repouso para o lado direito (10,4±1,8 mm, DTM; 11,5±1,8 mm, controle). Pode-se concluir que pacientes com DTM apresentaram menores valores de FMM e alterações na função muscular capazes de afetar os músculos mastigatórios e cervicais.
Com o objetivo de contribuir para a interpretação de mosaicos silvigênicos obtidos pelo método de interceptação de linhas para inventário das árvores de dossel, este foi aplicado em duas áreas de 5,12ha, uma em Floresta Estacional Semidecídua na Estação Ecológica de Caetetus (Gália, São Paulo) e a outra em Cerradão na Estação Ecológica de Assis (Assis, São Paulo). Análises estatísticas (Qui-quadrado e resíduos ajustados) foram aplicadas para verificar se categorias de eco-unidades estavam associadas à composição florística e/ou aos grupos sucessionais de espécies. Os mosaicos das duas áreas de estudo foram analisados quanto à influência de fatores edáficos e topográficos na distribuição de categorias de ecounidades, por meio de cruzamentos entre os mapas dos mosaicos silvigênicos e os mapas de solo e de topografia (altitude e declividade) e testes de associação (Qui-quadrado e resíduos ajustados). Os resultados encontrados para a Floresta Estacional Semidecídua indicaram maturidade e pouca perturbação no trecho estudado, sendo isso reflexo principalmente da predominância de eco-unidades em equilíbrio 2A (árvores altas com fuste longo) no mosaico silvigênico. A análise do mosaico junto com as espécies arbóreas em grupos sucessionais indicou associações coerentes entre espécies pioneiras e secundárias iniciais com eco-unidades formadas por árvores com arquiteturas que permitem maior entrada de luz no dossel. Quanto à influência de fatores edáficos e topográficos na distribuição das categorias de eco-unidades, os resultados sugerem que a disponibilidade de água em camadas mais ou menos profundas do solo pode estar influenciando a distribuição local de categorias de eco-unidades. Os resultados para o Cerradão sugerem que o forte predomínio de eco-unidades em equilíbrio 2B (árvores altas com fuste curto) na área é coerente com suas próprias características fisionômicas, com o dossel aberto induzindo reiteração precoce. Algumas espécies intolerantes à sombra como Vochysia tucanorum e Xylopia aromática ocorreram preferencialmente em eco-unidades das fases silvigênicas iniciais. No que diz respeito à influência de fatores edáficos e topográficos, os resultados obtidos indicam que o mosaico silvigênico apresentado não parece ter sido influenciado por um único fator, mas sim por uma interação entre os fatores abióticos (solo e topografia) analisados.
No presente trabalho, proteínas do látex (PL) da planta C. procera foram avaliadas quanto à ação citotóxica contra células de câncer humano e de inibição do crescimento do Sarcoma 180 transplantado em camundongos. PL apresentou significante citotoxicidade com valores de IC50 variando entre 0,11 a 1,36 µg/ml para as linhagens HL-60, SF295, HCT-8 e MDA-MB-435. Não foram observados efeitos visíveis sobre a viabilidade ou a morfologia de células mononucleares saudáveis expostas à PL por 72 h, evidenciando uma ação seletiva. PL fracionado por cromatografia de troca iônica (pH 5,0) originou três novas frações (PI, PII e PIII) e a citotoxicidade presente em PL ficou retida na fração PI. Estudos do mecanismo da ação citotóxica revelaram que PL induz apoptose celular provavelmente devido a alterações na topologia de DNA, já que PL interferiu na atividade de topoisomerase I. Nos estudos de inibição do crescimento do Sarcoma 180, observamos que animais tratados com PL por via oral (10 ou 20 mg/kg) ou intraperitoneal (2 or 5 mg/kg) tiveram o crescimento do tumor reduzido em até 51,83%; 20 mg/kg; v.o. P < 0,05, e um prolongamento no tempo de sobrevivência. A atividade inibitória de PL foi perdida quando submetida à proteólise enzimática, tratamento ácido ou com iodoacetamida, mas conservou a sua atividade in vivo após o tratamento térmico, sugerindo que proteínas termoestáveis estão envolvidas na supressão do crescimento tumoral. PL não promoveu mudanças significativas na atividade de enzimas hepáticas e no teor de ureia dos animais e a ainda impediu a leucopenia induzida pela administração do 5-FU. Em adição, não foram observadas mudanças na histopatologia do fígado de animais tratados com PL por via oral. Diferente da ação citotóxica, PII reteve a atividade in vivo e seu fracionamento em coluna de troca iônica (pH 6,0) levou à formação de novas frações das quais uma reteve a atividade de inibição do crescimento tumoral (PII-3). Esta fração possui atividade de proteinase cisteínica e atividade de inibidor de papaína, porém não está completamente claro o envolvimento dessas proteínas na atividade in vivo de PL. Este estudo confirma o potencial farmacológico das proteínas do látex de C. procera para controlar o desenvolvimento de células tumorais.
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ARTIGO
Idosas são as mais atingidas pelo Alzheimer em Teresina cionais, responsável pelo fornecimento de medicação à população necessitada. A coleta de dados foi realizada a partir das fichas cadastrais dos 1.123 idosos
residentes em Teresina que recebem a medicação, já que o total de idosos com o diagnóstico da doença no Piauí é de 1.427. Posteriormente, foi realizada a aplicação domiciliar de um formulário para 57 idosos, sendo que todas as fases da pesquisa foram aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI. Vale ressaltar que destes 57 anciões, 14 tinham condições de responder sozinhos ao formulário; 26 concluíram os estudos; 34 realizam alguma atividade de estimulação cerebral e 17,5% não houve melhora dos sintomas da doença com o uso do medicamento. Em se tratando das medicações recebidas, Livramento Fortes revela que o medicamento denominado Rivastigmina é o mais recebido pelos pacientes diagnosticados com a doença em Teresina, num total de 460 idosos, o que corresponde a 41% da amostra. Vale salientar que grande parte dos portadores de Alzheimer reside na região do centro da capital, o que corresponde a 36,9%, num total de 414 idosos. Os resultados demonstraram que dos 1.123 idosos, 779 eram do sexo feminino e que 584 possuíam idade maior ou igual a 80 anos. Segundo a pesquisadora, tais resultados, que indicaram a presença da feminização da velhice, mostraram que a doença tem maior prevalência em pessoas de
idade mais avançada. Já no que se refere à segunda fase da pesquisa, foi notificado que dos 57 participantes selecionados, 38 são do sexo feminino, o que corresponde a 66,7%, e em relação à quantidade de filhos dos pesquisados, a média foi de cinco filhos por idosos, independente do sexo. Outro dado relevante na pesquisa é referente à situação conjugal dos idosos participantes, revelando que a maioria era solteira (54,4%) e que 26 eram casados. Paralelamente, verificou-se a maior frequência de idosos da cor branca, atingindo um percentual de 61,4%; 26,3% na cor parda, 8,8% da etnia morena e apenas dois idosos no total de negros. No que tange à escolaridade, 16 idosos não chegaram a terminar o ensino fundamental; sete não completaram o ensino médio; 12 possuíam ensino médio completo, 14 possuíam o ensino superior completo, três idosos foram declarados analfabetos e cinco deles não souberam informar. No quesito renda, o estudo revelou que a grande maioria (38,5%) possuía uma renda familiar mensal acima de três salários mínimos. Destaca-se ainda que 86% são aposentados, sendo que as idosas pensionistas foram incluídas no mesmo percentual. FOTO: ROBERTA ROCHA
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Orgaização Mundial da Saúde – (OMS) define população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade, mas faz essa distinção dependendo da região onde se vive, por exemplo, em países sub e desenvolvidos. Porém, à medida que se vai envelhecendo, observa-se o aumento das doenças crônico-degenerativas e neurológicas ocorridas pelo aumento da idade, que eventualmente pode comprometer a autonomia do idoso, exigindo cuidados permanentes e apresentando a necessidade de melhores condições de atendimento à saúde. Estima-se que por volta do ano 2030, aproximadamente, dois milhões de pessoas apresentarão a Doença de Alzheimer. Com o objetivo de produzir um conhecimento sobre uma patologia de grande repercussão na população idosa, que é a mais crescente no Piauí, a professora Drª Maria do Livramento Fortes Figueiredo, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí – UFPI, desenvolveu a pesquisa “Perfil sócio-demográfico e epidemiológico dos idosos portadores de Doenças de Alzheimer em Teresina (PI)”. O Alzheimer é uma doença cerebral degenerativa que causa a demência progressiva e irreversível, comprometendo a memória e afetando a orientação, a atenção, a linguagem, a capacidade de resolver problemas e habilidades para desempenhar as atividades da vida diária. A reversão da deterioração causada pelo Alzheimer ainda não foi descoberta e os tratamentos disponíveis atualmente visam apenas à melhora cognitiva e diminuição de sintomas comportamentais, por meio de medicação e técnicas de reabilitação, além de como lidar com as vítimas, por meio dos familiares e cuidadores. A pesquisa, que contou com recursos da FAPEPI através de edital de fluxo contínuo, trata-se de um estudo documental exploratório com abordagem quantiqualitativa. Os sujeitos do estudo foram idosos portadores da Doença de Alzheimer que residem em Teresina, Piauí, e que recebem medicação na Central de Dispensação de Medicamentos Excep-
Maria do Livramento Fortes Figueiredo Profª Drª do Depto. e do Mestrado de Enfermagem da UFPI livramentofigueiredo@bol.com.br
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Livramento Fortes revela que o dado mais alarmante é referente ao uso das medicamentações recebidas e o tempo que sentiram determinada melhora quanto à doença. Do total, em 17,5% não houve melhora e 82,5% declararam que melhoraram; por outro lado, o tempo de melhora, com o uso da droga, foi de apenas alguns meses. Nesse sentido, o tratamento deve ser iniciado o mais precocemente após o diagnóstico, mas a resposta aos inibidores é bastante individual. Além disso, os efeitos das drogas hoje aprovadas para o tratamento da doença limitam-se ao retardo na evolução natural da doença, permitindo apenas a estabilidade ou melhora temporária do paciente. “Os 17,5% dos pesquisados não tiveram melhora com o uso do medicamento por ser considerado paliativo, pois é indicado para a agressividade, irritação, sendo recomendado mais para acalmar do que para estimular a memória, inclusive alguns pacientes quando faziam uso da droga tinham como reação a piora no nível de cognição, reflexos, dormiam muito e em alguns casos até agravar a doença, ou seja, os medicamentos diminuíam a agressividade e irritação, mas por outro lado ocasionava outras reações”, explica a pesquisadora.
FOTO: DIVULGAÇÃO
Medicamentos e cuidados com os idosos são objeto de novo estudo
A partir desse estudo, os pesquisadores foram estimulados a desenvolver outra pesquisa tendo como foco o perfil dos cuidadores cadastrados na Associação de Cuidados de Idosos com Alzheimer que funciona no Hospital São Marcos e presidida pelo neurologista João Carvalho. O estudo resultou no livro “Saberes e
Livros
• Abrindo Caminhos, Construindo Novos Espaços de Afirmação: Ações Afirmativas para a População Negra Brasileira na Educação Profissional e Tecnológica Autora: Iraneide Soares da Silva R$ 46,00 O livro se apresenta sob o prisma da história da Educação em três perspectivas. A primeira é o diálogo com a História do trabalho no Brasil a fim de perceber os sujeitos participantes e construtores dessa História. A segunda reflete sobre o ensino profissionalizante e a inserção da juventude negra, sobretudo, nas escolas técnicas federais e, por último, um debate histórico sobre as políticas públicas de ações afirmativas no Brasil e no mundo, especialmente na educação tecnológica.
• Broadside - A propaganda vista por dois lados
práticas dos cuidadores de Alzheimer” e retrata o cotidiano e a falta de informação com relação à doença por meio do olhar dos cuidadores, que em grande maioria são as filhas e esposas, ressaltado mais uma vez a feminização. Livramento Fortes ressalta que a importância da formação do conhecimento geral acerca da Doença de Alzheimer se insere no conhecimento de enfermagem, requerendo novas posturas, percepções e atitudes, sendo imprescindível a elaboração de um plano de atendimento aos pacientes idosos, para que seja possível identificar os erros de concepção sobre o envelhecimento. “O que precisamos é trabalhar no sentido de promoção da saúde e, como a população irá continuar envelhecendo, devemos revitalizar os centros de convivência e trabalhar com o idoso na perspectiva da autonomia da qualidade de vida, do contrário, não teremos profissionais para atender tandas doenças crônicas que irão se instalar e que não foram prevenidas através da promoção da saúde”, pontua. Por Roberta Rocha
• Como era Bom aos Domingos...Carlos Said: o homem, a vida, o mito magro-de-aço Autor: Gustavo Said Preço: R$ 35,00 328 páginas gsaid@uol.com.br Como era bom aos domingos... É a biografia do fundador da imprensa esportiva do Piauí, o professor Carlos Said, conhecido como Magro-de-Aço. Relata a viagem de seus pais da Síria para o Brasil e, num estilo textual próximo do jornalismo literário, narra os acontecimentos desportivos que fizeram com que Said, ainda na infância, despertasse a paixão pelo esporte e pelo jornalismo e atuasse em vários clubes de futebol e em quase todas as empresas de comunicação do Piauí, entre outros fatos relevantes de sua trajetória.
• Microbial Ecology of Tropical Soils
Autor - Breno Brito R$ 25,00 163 páginas broadside@brenobrito.com
Autores: Ademir Sérgio Ferreira de Araújo e Márcia do Vale Barreto Figueiredo 324 páginas U$ 175,00 asfaruaj@yahoo.com.br
A obra apresenta uma seleção de textos do autor, com análise e bastidores da propaganda. Broadside é uma referência para estudantes de comunicação e profissionais da propaganda. Trata-se de uma coletânea de 28 artigos que aborda temas como mercado de trabalho, a relação cliente e agência, tendências em comunicação, criatividade e técnicas publicitárias e o lado acadêmico da propaganda.
O livro, inédito no mundo, trata de temas relacionados à ecologia microbiana do solo, especialmente em regiões tropicais e reúne informações e resultados de pesquisas de renomados pesquisadores do Brasil e do exterior. Lançado recentemente pela Editora NovaScience, New York (EUA), tem à frente como autor o engenheiro agrônomo e Prof. Dr. da UFPI, Ademir Sérgio Ferreira de Araújo.
• Cerrado Piauiense: uma visão multidisciplinar (Volume 2)
• Rede Globo – mercado ou cidadania
Autor: Tropen-PRODEMA-UFPI 407 páginas R$ 20,00 tropen@ufpi.br
Autora: Jacqueline Dourado 344 páginas R$ 30,00 jacdourado@uol.com.br
A obra faz parte de uma coletânea de livros temáticos elaborados pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPI. O livro traz um panorama das pesquisas recentes executadas por pesquisadores com diferentes formações acadêmicas que conduziram investigações em diferentes temáticas tendo como ponto de tangência o cerrado piauiense.
O livro apresenta um debate instigante sobre como a Rede Globo constrói seus conteúdos de cidadania e como eles são representados na grade de programação. A autora questiona o que a maior rede brasileira de televisão pretende alcançar com a inserção de temáticas sociais por meio de ações de marketing e merchandising, além de avaliar como ela lida com a constituição de identidades culturais e sociais em meio a alternância de programas de caráter global ou local.
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REPORTAGEM FOTO: MÁRCIA CRISTINA
Drogas lícitas são as mais consumidas entre estudantes de ensino público e privado
Prof. Rivelilson Freitas e o bolsista Iwison Costa, que auxiliou na pesquisa do CAPS - rivelilson@pq.cnpq.br
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m estudo que começou em 2009 traz à tona um dos problemas que mais preocupam as autoridades, pais e a sociedade como um todo no Brasil, o uso e abuso de drogas. Pesquisadores de várias áreas do conhecimento vêm, por meio de pesquisas científicas, contribuindo para apontar políticas públicas que venham minimizar e solucionar os diversos aspectos negativos desse mal. Coordenador de três projetos de pesquisa nessa área, o Prof. Rivelilson Mendes de Freitas, doutor do Curso de Farmácia do Departamento de Bioquímica e Farmacologia da UFPI, buscou relacionar a questão do uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes de ensino médio do município de Picos, ao Sul do Piauí, e também o uso de drogas entre estudantes de ensino superior em instituições daquele município, intituladas “Caracterização do perfil sócio-demográfico e análise da utilização de drogas lícitas e ilícitas em instituições públicas e privadas do ensino médio e superior”, esta já concluída em agosto deste ano. O outro estudo é “Orientação farmacológica aos pacientes portadores de transtornos psicossociais atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)”. Na pesquisa com estudantes de escolas públicas foram aplicados questionários semiestruturados entre 3.600 jovens de Picos. A mesma quantidade foi avaliada entre universitários de três instituições de ensino superior (IES) de Picos, quando o pesquisador estava vinculado àquele campus
da UFPI. O perfil dos universitários usuários de drogas apontou predominância de mulheres (61,5%), solteiras (80,4%), 55,6% com faixa etária entre 17 e 22 anos, 41,6% brancas e que não exercem atividade remunerada, mas que apresentam uma renda familiar média de 2 a 4 salários (51,6%). O estudo conclui que a grande maioria faz uso do álcool e do tabaco, devido em especial à sensação de alegria, diversão e desinibição conseguida com o uso e principalmente pela influência dos amigos em eventos sociais. O perfil sócio-demográfico e a prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas de escolares em instituições públicas e privadas de ensino médio apontam para estudantes de idade entre 14 e 18 anos (94,5%), sendo que 56% eram do sexo feminino. Quanto ao consumo de drogas, prevaleceram álcool e tabaco para as lícitas e tranquilizantes e maconha para as ilícitas. Rivelilson Freitas assegura que as drogas prejudicam o desempenho social, profissional e afetivo, trazendo consequências como maior número de ausência nas atividades acadêmicas, menor desempenho escolar, maior número de reprovações, um afastamento significativo das relações familiares, comportamento antissocial, aumento do estigma social e aumento do abandono de emprego. “Não podemos deixar de considerar que os custos dos tratamentos farmacológicos são bastante significativos”. O objetivo das pesquisas foi avaliar as características associadas à utilização de substâncias químicas entre os envolvidos e
identificar os fatores que estimulam o uso de drogas lícitas e ilícitas entre discentes do 1˚, 2˚ e 3˚ ano do ensino médio e dos seguintes Cursos de Graduação: Administração, Biologia, Ciências Contábeis, Direito, Enfermagem, Letras, Sistemas de Informação e Pedagogia ofertados no município de Picos, verificando a sua incidência e prevalência entre os alunos, principalmente adolescentes, e a relação entre o uso de drogas e o padrão sócioeconômico. Como resultado dessas pesquisas, produzida em parceria com o Curso de Enfermagem do CSHNB da UFPI de Picos, já foi realizado o I Simpósio de Prevenção e Combate ao Uso de Drogas - “Drogas: responsabilidade de todos”, com a participação de discentes de ensino superior e médio, docentes da UFPI, UFC e UFPE e profissionais de saúde. “Pretendemos implantar um programa de orientação farmacológica para fornecer aos usuários de drogas informações sobre os riscos e as consequências da utilização de drogas lícitas e ilícitas, bem como fornecer subsídios para a implantação de um programa de prevenção e combate ao uso indevido de drogas no Grupo de Estudos sobre Uso de Medicamentos (GEUM) do Curso de Farmácia da UFPI, visando à redução do índice do consumo dessas drogas pelos nossos jovens e adolescentes, bem como acompanhar esses adolescentes que necessitarem de acompanhamento farmacoterapêutico”, destacou o pesquisador.
Perfil de usuários de drogas pelo mundo Um estudo organizado pela Fundação Getúlio Vargas em 2007 aponta o seguinte perfil para o consumidor declarado de drogas no Brasil: jovens do sexo masculino, solteiros e brancos; possuem um bom nível de estudo: 18% frequentam a escola privada, 60% têm entre 8 e 11 anos de estudo, 25% possuem 12 ou mais anos de estudo, 54% frequentam o ensino médio e 30% são universitários. Nos últimos anos, cresceu também a demanda de psicotrópicos, principalmente entre estudantes universitários. Nos países subdesenvolvidos, as chamadas “drogas legais”, álcool e tabaco são as mais consumidas. O Afeganistão é um dos maiores produtores de drogas (principalmente de opiáceos). A América do Sul posiciona-se em segundo lugar nesta lista de regiões produtoras, sobretudo, na zona dos Andes, famosa pela produção e tráfico de cocaína. Entre os países que mais consomem drogas, surgem os EUA, o Canadá e o México (cerca de 50% do total da droga consumida), os quais se destacam também na produção de drogas sintéticas.
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Pacientes dos CAPS precisam de acompanhamento quanto ao uso de psicofármacos
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FOTO: ARQUIVO PESSOAL
pesquisa realizada em duas unidades dos CAPS ou Centro de Atenção Psicossocial delineou os problemas de saúde, as hipóteses diagnósticas, as substâncias psicoativas utilizadas e se há ou não aderência aos tratamentos entre os pacientes atendidos nesses centros. O estudo do tipo exploratório foi realizado por meio de entrevista com pacientes em regime de hospitalidade nesses centros, antes das suas consultas ambulatoriais. O levantamento revelou que 35,5% dos pacientes tinham idade superior a 41 anos, 71% eram solteiros, 74,2% tinham apenas o ensino fundamental e 48,3% percebiam renda mensal de até um salário mínimo. Mais de 170 pessoas foram entrevistadas e avaliadas. “O principal problema de saúde identificado foi o etilismo e a hipótese diagnóstica mais comum foi o tabagismo associado ao etilismo. A maioria dos usuários administra seus medicamentos no horário certo e não pratica automedicação”, acrescentou o coordenador do estudo, Prof. Rivelilson Freitas. Os CAPS contam com atendimento multiprofissional, oferecendo cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação. Entre os transtornos psicossociais mais prevalentes atendidos nos CAPS, segundo a OPAS/OMS (2001), estão os transtornos depressivos, os transtornos associados ao uso de substâncias químicas lícitas e ilícitas, a esquizofrenia, a epilepsia, o retardo mental e os transtornos da infância e da adolescência. No estudo, observou-se que a equipe multiprofissional dos CAPS encontra-se qualificada para lidar com os sintomas e para estabelecer os tratamentos específicos para os usuários de drogas. No entanto, o relatório aponta que é importante destacar que durante os três anos de desenvolvimento dos projetos de extensão nos CAPS acompanhados, CAPS AD (Álcool e Drogas) no município de Picos, por alunos do Curso de Graduação em
Pessoas com transtornos mentais no CAPS Teresina, mostrando trabalho de arte que eles próprios confeccionam.
Enfermagem; e CAPS Leste, no município de Teresina, por alunos do Curso de Graduação em Farmácia, foi sentida a necessidade da presença do profissional farmacêutico na dispensação e orientação sobre o uso racional de medicamentos, uma vez que não se pode deixar de relatar que os usuários acompanhados apresentam uma grande incidência e prevalência de reações adversas aos medicamentos durante os tratamentos farmacológicos prescritos e que, portanto, necessitam de uma orientação específica quantos aos aspectos inerentes à sua farmacoterapia (reações adversas, efeitos colaterais, posologia, interações medicamento-medicamento e medicamento-alimento), que deve ser realizada pelo profissional farmacêutico durante a dispensação. “É importante enfatizar que os profissionais de saúde, assim como a comunidade, precisam reconhecer que as pessoas com transtornos mentais são seres integrais, dignos, com direito à liberdade, à integralidade física e moral, à reabilitação para o trabalho e à qualidade de vida. Dentro deste contexto, o CAPS é a porta de entrada ao sistema de saúde para o usuário de droga que possui algum transtorno, como também toma para si a responsabilidade de propor novas estratégias de atendimento no sentido de aumentar a rede de proteção e atenção às relações familiares”, destaca Rivelilson Freitas. Segundo a pesquisa, existe procura aos tratamentos de saúde pelos usuários de drogas e seus familiares e que, na maioria das vezes, eles aderem ao tratamento farmacológico que é dispensado de forma gratuita, mas sem uma orientação correta sobre o uso racional desses psicofármacos, uma vez que 32 e 64% destes usuários autorreferem que não administram os medicamentos no horário certo e que realizam a automedicação, respectivamente. “Embora, um pequeno número de pacientes relate que não se esquece de tomar o medicamento e nem faz uso
de bebidas alcoólicas, é importante ressaltar que um número significativo de usuários faz uso da nicotina (através do cigarro), mostrando que é necessária a implantação de oficinas terapêuticas e grupos de orientação farmacológica complementar sobre os riscos e as consequências do uso de drogas lícitas e ilícitas durante os tratamentos farmacológicos”, alerta o pesquisador. “O acompanhamento do tratamento correto com psicofármacos visa reduzir os custos com a assistência médica e garantir maior segurança aos usuários do CAPS. Podemos definir esse acompanhamento como sendo a provisão responsável pelo tratamento farmacológico, com o propósito de alcançar resultados que melhorem a qualidade de vida do paciente”, acentua. Atualmente o presente projeto realiza um grupo de Atenção Farmacêutica (ATENFAR) semanal aos usuários do CAPS, no intuito de esclarecer os problemas de saúde, os sintomas patológicos e os principais efeitos adversos identificados durante o tratamento. Alunos participantes dos grupos de pesquisa sob a orientação do Prof. Rivelilson Mendes de Freitas: Ensino superior: Danelle da Silva Nascimento, Karina L. Matos, Lidianne A. de Sousa e Silva e Nileide L. Araújo (Curso de Enfermagem do CSHNB/Picos). Ensino Médio: Alaerton Moura Josino, Fábio Leal de Brito, Sâmea R. R. Damata e Thalita de Castro Figueiredo (Curso de Enfermagem do CSHNB/Picos). CAPS AD - Picos: Diego Santos Araújo e Helen Rute Rodrigues Silva (Curso de Enfermagem do CSHNB/Picos) e CAPS - Leste Teresina: Flávio Alves dos Santos, Iwyson H. F. da Costa, Josileide B. Rodrigues, Juliana C. da Costa, Luana Allebrandt, Roberta M. M. Rocha e (Bolsistas de Extensão do Curso de Farmácia do CMPP/Teresina). Por Márcia Cristina
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Membros da pesquisa: enfermeiro Disraele Rego, Drª Claudete Ferreira de Sousa Monteiro e o fisioterapeuta Neylon Araújo Silva - claudetefmonteiro@hotmail.com
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s longas jornadas de trabalho dos caminhoneiros fora de casa são um aspecto facilitador para as práticas de risco, pelo grande número de parceiras sexuais casuais e pelo uso de drogas, pois além de viajarem continuamente por diversas cidades país afora, muitos apresentam comportamento sexual de alto risco, o que os expõem às doenças sexualmente transmissíveis (DST), em especial a AIDS e a Hepatite B. Considerando que representam uma categoria profissional de grande relevância na economia do Brasil e analisando ainda que, ao longo dos anos, eles têm sido excluídos das ações de atenção à saúde, a professora e coordenadora do Mestrado de Enfermagem da UFPI, Telma Maria Evangelista de Araújo, concluiu uma pesquisa inédita no Piauí: “Promovendo a saúde dos caminhoneiros”, subcoordenada pela professora de enfermagem da UFPI Drª Claudete Ferreira de Souza Monteiro, com participação do enfermeiro Disraeli Reis da Rocha Filho e do fisioterapeuta Neylon Araújo Silva. O estudo realizado em 2009 e financiado pela FAPEPI no programa de Fluxo Contínuo ocorreu em posto de combustível situado no bairro Tabuleta, em Teresina, por ser o local escolhido para repouso e pernoites da expressiva maioria dos caminhoneiros que passam pela capital piauiense, sendo em média uma rotatividade de 200 profissionais diariamente, perfazendo uma média de seis mil por mês. Ao todo, 965 caminhoneiros foram abordados para ações de promoção da saúde durante a pesquisa, mas somente 384 foram selecionados para a coleta de dados. Por conta do grande número de objetos de estudo, foi possível desenvolver vários subprojetos
através do extenso banco de dados. Levou-se em conta a vulnerabilidade da DST\AIDS devido às múltiplas parceiras, prevalência de hepatite B, hipertensão, perfil glicêmico, alcoolismo e outras drogas (como anfetaminas) e cocaína, lombalgias, entre outros. À medida que os achados iam aparecendo, os pesquisadores ofereciam a orientação e informação necessárias. Durante as doze semanas de coleta de dados, os pesquisadores aplicaram formulários com perguntas e realizaram a coleta de sangue para a pesquisa de marcadores sorológicos com fins nos diagnósticos de doenças primárias e pré-existentes como hipertensão arterial, diabetes, distúrbios de colesterol, triglicérides, doenças respiratórias e cardiocirculatórias e muitas outras presentes no universo dos caminhoneiros, que é dentro de suas cabines onde eles trabalham, se alimentam e dormem sem as condições de higiene necessárias com relação a sono, à produção do seu alimento e à higiene corporal. Além disso, eles abdicam do lazer, isolados e confinados em ambiente tão restrito e hostil para tal, e ainda ficam submetidos às doenças endêmicas e tropicais por onde circulam. Segundo Telma Evangelista, os caminhoneiros que foram objetos de estudo são FOTO: ARQUIVO PESSOAL
FOTO: ROBERTA ROCHA
REPORTAGEM Da boleia do caminhão à exposição a drogas e DSTs
Fase da coleta de sangue entre os caminhoneiros para averiguar doenças como DSTs e Hepatite B.
profissionais de rota longa, o que significa dizer que muitos chegam a passar até 15 dias fora de casa em uma só viagem e percorrerem, no mínimo, mil quilômetros por mês. Dessa forma, o acesso ao controle ambulatorial tornase difícil em função de estarem sempre em trânsito e não ter disponibilidade para um agendamento médico. As atitudes incorretas que comprometem a saúde, como consumo de álcool, tabaco, alimentação inadequada, privação do sono, rebite (combinação de cafeína, anfetaminas e álcool), excesso de horas trabalhadas e outros fatores comprometem e levam ao desequilíbrio orgânico e, consequentemente, às doenças. Não bastasse tudo isso, outros componentes ocupacionais participam do dia a dia desse trabalhador contribuindo para adquirir outras doenças, como perda auditiva, zumbido nos ouvidos, dores musculares difusas e localizadas, degeneração da coluna vertebral, varizes de membros inferiores, tendinites, artrites, doenças respiratórias e outras. Tudo isso acarreta a falta de liberdade diante das opressões, bem como essas características de condições subumanas de vida e de trabalho, ainda de absoluto desrespeito à dignidade humana, pela imposição das empresas contratantes.
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nhoneiros revelaram com muita naturalidade o uso de álcool e drogas nas estradas como se fizesse parte da sua rotina de trabalho e, além disso, outro dado alarmante é o local onde conseguiam as anfetaminas, sendo adquiridas nos postos de combustíveis e, na maioria das vezes, nas próprias transportadoras onde trabalhavam, ou seja, existe toda a facilidade ao acesso das substâncias para se abastecerem”, enfatiza a pesquisadora. Convêm ressaltar que 80% dos caminhoneiros eram casados, mas afirmaram que tinham múltiplas Situação em que vive a categoria, nesse caso o retrato das más condições de parceiras e não faziam uso de alimentação e higiene preservativos. Segundo Telma Evangelista, muitos dos cami“A estrutura dos serviços de saúde não dá nhoneiros não tinham noção do risco de acesso aos caminhoneiros porque não existem adquirirem alguma doença sexualmente nos postos de abastecimento locais apropriados transmissível, de modo que 44,5% nunca para estes profissionais, e outro agravante está usaram camisinha e boa parte não tinha em função de atender uma meta das empresas, conhecimento sobre a Hepatite B ou a vacina, onde os caminhoneiros utilizam drogas para se constatando o número elevado da doença e a manter acordados, o que pode ocasionar além incidência em fase aguda. do vício, acidentes graves e problemas de Da amostra, 2,9% dos caminhoneiros saúde. Um exemplo é o uso de anfetaminas, apresentaram uma prevalência elevada de mais conhecidos como rebites, para reduzir o Hepatite B, o que corresponde a um índice três sono e diminuir o cansaço em percursos de vezes maior que o número de casos da doença longa distância, chegando a passar 14 horas no Estado do Piauí, que é menos de 1%. trabalhando por dia, fazendo uso dessas Disraele Rocha explica que muitos dos substâncias e paralelamente acarretando a caminhoneiros não sabiam que estavam lombalgia por conta do tempo de trabalho”, infectados pela doença, que muitas vezes age de revela Telma Evangelista. forma silenciosa e que 4,2% entraram em De acordo com o fisioterapeuta Neylon contato com o vírus e estavam na fase mais Araújo, verificou-se que 55,5% dos aguda. “O estilo de vida e o comportamento caminhoneiros apresentaram a lombalgia e sexual são os principais res75,5% sentiram dores quando estavam ponsáveis pelo alto índice da dirigindo. “Vale dezer que o tempo de trabalho hepatite e, paralelo a isso, não só dos caminhoneiros, mas do homem vem o uso de drogas e atual, que tem em média 12 horas de trabalho álcool que acarreta por dia, acaba associando esse tempo aos na mudança de problemas lombares, pois 70% das doenças que comportaafastam o homem do trabalho estão ligadas à longa jornada”, destaca. Através dos dados coletados, os resultados apontam o álcool usado por 58,9% dos caminhoneiros, com destaque para a cerveja (79,2%). A pesquisa revela que 31% da amostra faziam uso de drogas, principalmente anfetaminas (83,1%), e 20,6% faziam uso de álcool e outras drogas concomitantemente. Segundo Claudete Monteiro, responsável pela pesquisa com relação ao álcool e outras drogas, a faixa etária e o tempo de trabalho foram associados ao uso da bebida e, portanto, conclui-se a necessidade de ações de cuidado por meio de campanhas preventivas e informativas, alertando acerca dos riscos de uso dessas substâncias no período de trabalho. “Durante os questionários, os camiFOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Uma das categorias mais economicamente ativas do país pede socorro mento”, esclarece o enfermeiro. A pesquisa alerta para os riscos de saúde a que são expostos os profissionais da estrada e as principais causas e consequências dos males revelados pelo estudo, apontando soluções que podem ser tomadas dentro e fora da boleia. O dado de maior preocupação é o das longas horas de trabalho, em jornadas estafantes, revelado pelos pesquisados. “Quando se fala em saúde do trabalhador e traçado um paralelo a outros trabalhos, os caminhoneiros fazem parte de uma classe exposta a vários riscos de saúde e acidentes. E todos os trabalhos observados no projeto mostraram resultados da prevalência do risco de doenças, o que chamou a atenção de todos os pesquisadores. Portanto, constatamos que esta é uma classe que merece um olhar mais atento e que se busque dar visibilidade aos problemas de saúde por eles vivenciados e que, por sua condição, levam riscos iminentes a outros segmentos da população. Daí a necessidade para que sejam elaboradas e implementadas políticas de enfrentamento desses problemas”, ressalta Telma. A pesquisadora revela ainda que ocorre um antagonismo, uma vez que o caminhoneiro é abandonado pelo governo, ao mesmo tempo que esse profissional é responsável por boa parte da economia do país , pois transporta mais de 90% das mercadorias que circulam no Piauí e mais de 95% do Brasil, ou seja, o país depende desses profissionais que estão excluídos e, ao mesmo tempo, não procuram os serviços de promoção à saúde, que, apesar da implementação da saúde do homem em 2009, até hoje não se tem uma estratégia que inclua os caminhoneiros. Por Roberta Rocha