Sapiencia20

Page 1

TERESINA - PI, JUNHO DE 2009 • Nº 20 • ANO V

ISSN - 1809-0915

DROGAS: RESPONSABILIDADE DE TODOS Fumo e Álcool: necessidade de políticas públicas permanentes Páginas 4, 5, 6, 10, 11, 12 e 13

Renorbio propõe revolução na produção científica e tecnológica do Nordeste Páginas 7, 8 e 9

Anabolizantes: pesquisa busca nova técnica para identificação Páginas 15 e 16




2

EDITORIAL

TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

O

Drogas: uso inevitável, mas não abuse!

termo droga vem sendo usado desde a idade média, mas sua origem é controversa, serve para designar toda substância ou matéria da qual se extrai ou com a qual se prepara um medicamento ou mesmo um veneno, pois existe um estreito limite para um medicamento se tornar um veneno e causar sérios danos a saúde de quem os consome, o que os difere é apenas a dose. As drogas são capazes de provocar profundas modificações fisiológicas ou comportamentais nos indivíduos, seu uso, sem a devida orientação, oferece sérios riscos aos seus consumidores.Explorar o universo das drogas representa um amplo espectro de ações, passa por dramas sociais vividos por famílias de viciados até descobrimento de medicamentos que aliviam sofrimentos ou mesmo curam doenças avassaladoras. Neste número, o Sapiência buscou explorar produções científicas nesta área e encontrou importantes produções nas instituições piauiense. Talvez as duas drogas que mais causam danos à sociedade, nas suas mais diversas vertentes, sejam o

A

álcool e o fumo, a matéria das páginas 14, 15 e 16 demonstra um pouco esta cruel realidade com trabalho e dados epidemiológicos aqui em Teresina, no Brasil e no mundo. Neste tema, a Fapepi tem investido recursos financeiros em pesquisas que procuram contribuir para a solução deste terrível problema de saúde da sociedade brasileira, especialmente a piauiense. A Dra. Lúcia Rosa, da UFPI, realizou uma importante pesquisa para o Piauí que teve como objetivo identificar os fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas na adolescência, nela a pesquisadora chega a diversas conclusões muito interessantes, que podem ser conferidas nas páginas 10, 11 e 12. Em busca de resultados, além dos limites normais humanos, os atletas auxiliados por profissionais das áreas de saúde buscam superar recordes utilizando recursos artificiais como os anabolizantes; além disso, cidadãos comuns perseguem, na busca de corpos mais belos, se submetem ao uso destas drogas, ignorando os seus efeitos deletérios. A ciência busca, através de testes, identificar a droga nos usuários de forma cada vez mais fidedigna, objetivando intimidar ou

mesmo inviabilizar o seu uso. Este tema está muito bem abordado no trabalho do doutorando Marco Antônio Pereira dos Santos, nas páginas 15 e 16. O aluno é vinculado ao doutorado da Rede Nordestina de Biotecnologia (RENORBIO), programa de doutorado, aprovado pela Capes, que integra todos os estados do Nordeste numa rede virtual de ações, objetivando, essencialmente, formar recursos humanos altamente qualificados para promover desenvolvimento sócioeconômico, através da Ciência e Tecnologia (Página 7). A Fapepi é integrante desta Rede e garante bolsas de doutorado para todos os alunos que desenvolvem pesquisas aqui no Piauí e que preenche o perfil de bolsista. O entrevistado nesta edição do Sapiência é o médico Carlos Henrique Nery Costa, que possui doutorado em Harvard (EUA) e há três anos coordena a Renorbio (páginas 8 e 9). Nesta excelente entrevista, ele comenta como se originou a rede, os principais desafios, as ações executadas e as dificuldades enfrentadas. Acácio Véras

Tabagismo e Câncer

proveit a n d o o D i a Mundial Sem Ta b a c o , q u e transcorreu no dia 31 de maio, como um sério alerta aos fumantes, a Sociedade Luiz Adelmo Lodi* Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que reúne os especialistas no tratamento n ã o c i r ú rg i c o d e s s a d o e n ç a , empenha-se no cumprimento da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2009: “Mostre a verdade. Advertências Sanitárias salvam vidas”. E a verdade, no caso do Brasil, é dura para os fumantes ativos ou passivos. Apesar de estar diminuindo no Brasil, a incidência do uso do tabaco ainda é bastante alta. Entre 1989 e 2001, a prevalência de fumantes caiu de 30% para 21%, segundo levantamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). Os resultados dessas pesquisas mostraram, porém, que a concentração do tabagismo é maior na população de baixa renda e de escassa escolaridade, certamente pelo menor acesso a informação, a educação e a assistência a saúde nas

classes sociais menos favorecidas. Essas deficiências são potencializadas por estratégias de mercado que estimulam o consumo ao mesmo tempo em que facilitam o acesso dessas populações aos produtos de tabaco, sobretudo os cigarros. Apesar da redução percentual da incidência do tabagismo ao longo do tempo, é penoso constatar ainda a ocorrência de 90% dos casos de câncer no pulmão (entre os 10% restantes, um terço é de fumantes passivos) e de 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer (de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero). O controle do tabagismo no Brasil poderia reduzir em um quase terço (8.181 casos) os cânceres de pulmão, que atingem 27.270 por ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) relativos a 2008. Quando a doença ataca a cabeça e o pescoço (14.160 casos anuais) sem o uso do tabaco existiriam 4.248 doentes a menos. Também haveria menos 3.165 casos entre os 10.550 vitimados por cânceres de esôfago e 5.604 casos de câncer no colo do útero do total atual de 18.680 vítimas anuais, como também 2.160 cânceres de pâncreas, entre os 7.200 atuais. Com a exceção de alguns casos iniciais dos tumores de cabeça e pescoço e do colo do útero que têm

um prognóstico favorável, a maioria das demais neoplasias associadas ao uso do tabaco é de prognóstico muito grave, pois apresenta evolução silenciosa e quando estes pacientes são diagnosticados, já se encontram em fase avançada da doença sendo praticamente inviável a cura. Deve-se assinalar que a principal substância cancerígena presente no tabaco é o alcatrão composto de mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas, formadas a partir da combustão dos derivados do tabaco. Entre elas, o arsênio, níquel, benzopireno, cádmio; resíduos de agrotóxicos, substâncias radioativas, como o Polônio 210, acetona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas para fabricação de veneno de rato. O alcatrão, aliado à nicotina substância psicoativa com grande potencial de causar dependência física e também, com acentuado efeito tóxico para o organismo humano - forma à bombarelógio de efeito retardado que com o decorrer dos anos, irá ceifar a população muitas vezes ingênua, que quando se inicia no uso do tabaco, não faz a menor idéia do que lhe espera com o decorrer dos anos. * Médico da Fundação Mário Penna em Belo Horizonte- MG lodi@oncominas.com.br

Nº 20 • Ano V • Junho de 2009 ISSN - 1809-0915 Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - FAPEPI Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092

Diretor Editorial

Acácio Salvador Véras e Silva

Conselho Editorial

Acácio Salvador Véras e Silva Francisco Laerte J. Magalhães Welington Lage

Editora

Márcia Cristina

Reportagens e fotos

Márcia Cristina (Mtb-1060) Roberta Rocha (Mtb-1856)

Revisão de texto

Assunção de Maria S. e Silva

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Invista Publicidade (86) 8844.0215

Impressão

Gráfica e Editora Halley SA

Tiragem

6 mil exemplares Publicação Trimestral

Governador do Estado Wellington Dias

Presidente

Acácio Salvador Véras e Silva

Críticas, sugestões e contatos sapiencia@fapepi.pi.gov.br marcia@fapepi.pi.gov.br www.fapepi.pi.gov.br




3 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

O

Um admirável Cérebro Novo?

atual debate sobre o doping cerebral ganhou força recentemente após a publicação de uma matéria na revista Nature João Ricardo Mendes de Oliveira* de Dezembro de 2008, ampliando assim a discussão sobre a liberação de diversos medicamentos que atualmente são consumidos por estudantes e profissionais de alta demanda cognitiva, como plantonistas, executivos, e também cientistas. O procedimento consiste em tentar aperfeiçoar, por meio do uso de medicamentos prescritos em algumas doenças neuropsiquiátricas, o potencial do cérebro de pessoas saudáveis. No entanto, estes remédios só podem ser vendidos sob prescrição médica e nunca devem ser usados na ausência de sintomas. Assim, o mercado negro tem crescido muito, principalmente através de compras via Internet.

As drogas mais comuns são rivastigmina, modafinil, metilfenideto e donezepil, prescritas para doença de Alzheimer, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ou transtornos do sono. Os relatos anedóticos e impressões pessoais de usuários referem aumento da capacidade de atenção, reflexo, diminuição da distração e maior velocidade na associação de idéias, chegando eventualmente a uma resposta mais rápida para diversas tarefas. Há uma chance real de os indivíduos que usam alguns destes medicamentos aprenderem mais rápido ou com menos esforço do que outros, mas ainda faltam estudos controlados. O doping intelectual pode parecer um tema chocante, mas o curioso é que todos fazemos ou já fizemos uso de algum item cuja promessa é exatamente aumentar a performance mental, tal como guaraná em pó, Gingko biloba, refrigerantes à base de cola, igualmente ricos em cafeína, além das anfetaminas, e os mais diversos

“ e n e rg é t i c o s ” q u e p r o m e t e m prolongar as noitadas do século XXI. Nossa posição em relação a este tema foi publicada na edição de 29 de janeiro de 2009, juntamente com colegas da França, EUA e Inglaterra, incluindo um relato anônimo de um pesquisador que revelava fazer uso deste cognitive enhancers e que defendia seu uso para um melhor desempenho de suas atividades. Mas a segurança é a maior preocupação neste momento, visto que o uso indiscriminado de tais medicamentos pode desencadear quadros de insônia, ansiedade, depressão ou mesmo psicose, além dos efeitos colaterais inerentes a cada uma destas drogas. Empresas como a Helicon Therapeutics, Cephalon and Memory Pharmaceuticals estão desenvolvendo e testando novas drogas especificamente para estes fins, em indivíduos saudáveis e que teoricamente não apresentariam os efeitos colaterais comuns aos

medicamentos atualmente usados. A boa notícia é que esta busca certamente vai repercutir no tratamento de casos patológicos, como nas demências. Estamos já vivendo uma nova realidade que se apresenta com uma miríade de questões legais, éticas e científicas, provavelmente sem respostas definitivas ou prontas. Além disso, há também uma boa chance que a expectativa de alguns e o medo de outros em relação a estas drogas não se concretizem. Estudos com crianças superdotadas mostram que outras habilidades cognitivas são igualmente importantes ou até mais que a tão valorizada “inteligência” para um futuro bem sucedido, tais como a disposição para se superar, o estabelecimento de metas desafiadoras, tenacidade nos objetivos, autoconfiança, iniciativa e também resistência à frustração. * Prof. Pós-Doutor da Universidade Federal de Pernambuco joao.ricardo@ufpe.br

Educação à distância: teoria e prática

P

a r a categorização da relação entre processo educacional e desenvolvimento cognitivo Gildásio Guedes Fernandes* em Educação a Distância (EaD) via web, a priori, é essencial a identificação de elementos teóricos sobre os processos de ensino e aprendizagem, em busca de enquadramento das questões relacionadas entre si que pressupõem adequação de elementos mediadores de interesse pedagógico aos conceitos que cercam a noção de usabilidade dos sistemas computacionais utilizados. Sob este ponto de vista, o que se discorre está na abordagem de L. S. Vygotsky, ou simplesmente, abordagem vygotskyana ou socioconstrutivismo, principalmente, no contexto da mediação simbólica e da Zona de Desenvolvimento Proximal

(ZDP), perspectiva promissora e sustentabilidade teórica para a consecução do objetivo central enunciado no título deste artigo: Educação a Distância: Teoria e Prática. Configura-se como tentativa de focalização do socioconstrutivismo com a prática educativa, com o intento de produzir informações sobre aspectos de implicações educacionais atualizadas, que contribuam com o estudo e a comparação de elementos mediadores do uso de interfaces computacionais. Por exemplo, enquanto o termo mediação, ganha, em Vygotsky, diferentes denominações, como: interação social, símbolo, signo, instrumento, unidade, formação de conceitos etc., nesta pesquisa, corresponde à funcionalidade, à usabilidade, à interatividade, ao ícone computacinal entre outros, o que permite traçar certa correlação, buscando explorar elementos teóricos capazes de fortalecer a prática concreta dos processos de ensino e aprendizagem em

atividades de uso e de aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). A prática se concretiza com as funções benfazejas do professor conteudista e do tutor na dinâmica das interações interpessoais e na ação recíproca entre os alunos, os agentes de EaD que são usuários da internet com os objetos de produção de novos conhecimentos, para identificar elementos que, de certa forma, estão diretamente relacionados e complementam as recomendações de ergonomia para Interface Humano Computador (IHC) quer seja no texto ou no monitor de vídeo. A prática deste docente, no programa de EaD da Universidade Federal do Piauí, começa com um bom texto para cada disciplina dos respectivos cursos, escrito próprio para internet, que pode ser considerado apropriado se contiver no mínimo os elementos mediadores que seguem: Alinhamento; Continuidade, Contraste, Harmonia,

Pregnância, Proximidade entre partes relacionadas, Repetição para identificação do contexto, Simetria e/ou assimetria e Tamanho. O texto não é um parque de diversão. O seu computador é ótimo, mas nem todos têm a sua configuração com o seu kit Multimídia; é preciso usar a imaginação. Quase todos usam o mesmo tipo de letra, no caso, o mais comum, o tipo Times News Roman, não é o mais adequado, recomenda-se a Arial. Às vezes as letras são tão pequenas e confusas que irritam a visão depois de meia hora de leitura. Maiores informações sobre a teoria e prática de EaD consulte a Tese de Doutorado Ergonomia Pedagógica da Interface Humano-Computador: A Interface de Ambientes Virtuais de Educação (AVE) do autor deste texto. * Prof. Dr. do Depto. de Informática e Estatística da UFPI guedes@ufpi.br




4 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

Álcool e fumo: população ainda

A

prevenção primária sobre o uso e efeito das drogas ainda não faz parte da cultura das famílias e das escolas, apesar das drogas se configurarem como um dos grandes males sociais. O médico e mestre em fisiologia humana, Francisco Teixeira Andrade é professor de Fisiologia da Universidade Federal do Piauí estuda e trabalha com prevenção primária há pelo menos 25 anos. Ele entende que o melhor caminho para evitar que pelo menos mais pessoas se tornem usuários das mais diversas substâncias psicotrópicas é a conscientização. Para o professor, o caminho que ele escolheu para alertar a sociedade sobre os riscos inerentes das drogas são por meio de palestras, especialmente voltadas para diretores e professores de escolas públicas e particulares. “São os educadores que podem e devem informar, alertar e observar os seus alunos quanto ao uso e ao perigo que levam essas substâncias que podem fatalmente levar o indivíduo à dependência e até à morte”, disse. Francisco Teixeira enfatiza em suas palestras os efeitos destruidores de todo o conjunto de psicotrópicos, que agem no Sistema Nervoso Central (SNC), produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. Portanto, são substâncias que têm a ação de aproximar, desenvolvendo várias alterações no SNC, como a de estimular, causar depressão e perturbação no cérebro, dependendo do tipo de droga a ser consumida, da quantidade, do tempo e da frequência do uso. No entanto, todo o conjunto de substâncias psicotrópicas existentes pode causar uma ou mais dessas reações no cérebro. O professor Francisco Teixeira tem uma preocupação em especial com o uso indiscriminado de dois tipos de drogas na sociedade, que geralmente nem os próprios profissionais de saúde, nem os pais e nem o governo consideram como tais: o álcool e o

Professor Francisco Teixeira trabalha com prevenção primária

tabaco. “Para a farmacologia, todas são drogas. Não se pode excluir álcool e o cigarro do grupo das drogas; são legais para maiores de idade, apesar de que a criança compra qualquer uma delas. Separar álcool e fumo das demais drogas foi uma convenção social, porém ambas estão incluídas no grupo das Substâncias Psicotrópicas causadoras de Adição”. Segundo o pesquisador, as drogas, além de produzirem efeitos básicos: estimulador, depressor e perturbador, também causam adição, do ponto de vista biológico, ou seja, o indivíduo que usa droga pode adquirir dependência química, sensibilização, compulsão, perda do controle executivo (deturpação de comportamento) e recaída (permanente busca). A adição é uma síndrome que abrange um leque de distúrbios, um dado preocupante é que a adição possui componentes irreversíveis, uma vez que o cérebro guarda sensações para sempre causadas pelo uso das drogas, segundo a opinião de alguns autores. “A droga dá uma sensação de agradabilidade fora do comum, tem um contexto de afetividade positivo, a princípio, que

o cérebro grava e perpetua”. Francisco Teixeira explica, no entanto, que é possível o resgate de funções perdidas pelo SNC, entre elas o controle executivo, por meio do tratamento adequado, o que não é possível é apagar determinadas memórias. “No caso da perda do controle executivo, significa a incapacidade de evitar o uso, de controlar doses e a frequência das administrações. A recaída pode ser exemplificada no caso da jovem que ficou famosa com o seu livro

“Christiane F. 15 anos drogada e prostituída”, que, recentemente, depois de 30 anos, voltou a usar drogas, ou como o ex-alcoólico diz para si: “Não posso tomar o primeiro gole”. Esses exemplos resumem o eterno risco de recaída, mostrando o exercício do controle executivo ou do autocontrole”. “Parar de usar droga não é um fenômeno simplório”, alerta o professor. Ele explica que o tratamento é eficaz quando há um equilíbrio entre fatores de risco e fatores de proteção. Para ele, em primeiro lugar o dependente precisa conhecer o seu problema para promover uma mudança, que deve acontecer com uma equipe gabaritada, que inclui o psicólogo, psiquiatra, terapeuta, educador físico, a família e a sociedade. Uma mãe usuária de medicamento psicotrópico ou um pai usuário de álcool estão criando futuros filhos usuários de drogas. Este é apenas um fator de risco, o doméstico. “Existem muitos outros fatores e eles estão em todos os setores da vida social”.

Êxtase está entre o grupo de drogas avaliadas na pesquisa




5 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

a desconhece os efeitos maléficos Pais e Professores: quase 80% já experimentaram álcool e fumo e menos de 40% os reconhecem como psicotrópicos

U

m levantamento preliminar realizado no ano de 2008, sobre o reconhecimento e uso de psicotrópicos, voltados para pais e professores de escolas públicas e particulares de Teresina, revela números alarmantes. A pesquisa por amostragem, coordenada pelo professor Francisco Teixeira Andrade com ajuda de alunos da UFPI, tem servido como fonte e reforço de prevenção primária em suas palestras. Ao todo, foram entrevistadas 901 pessoas: 444 pais e 457 professores. Entre os psicotrópicos da pesquisa estavam o álcool, tabaco, solventes ou inalantes, maconha, cocaína, esteróides anabolizantes, hipnóticos mais sedativos e estimulantes. Do percentual de experimentadores (não revela se são usuários ou não), aproximadamente 88% de pais e 74% de mães afirmaram terem experimentado bebidas alcoólicas. Quanto aos professores, 88% do sexo masculino e 67% do sexo feminino também já haviam experimentado. Em relação ao tabaco, afirmaram já ter experimentado aproximadamente 50% de pais e 24% das mães e entre os professores 38% do sexo masculino e 23% do sexo feminino. Quanto às demais drogas mais experimentadas por pais/mães e professores/professoras, em média, foram: hipnóticos e sedativos 20% e 19%; solventes ou inalantes 12% e 10%; maconha de 10% e 7% e cocaína 8% e 6% respectivamente. Quanto ao percentual de pais/ mães e professores/professoras que reconhecem estas drogas citadas na pesquisa como psicotrópico ou entorpecente, o resultado também é surpreendente e preocupante, pois são percentuais muito baixos, vejam os números:

CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

para o álcool 34% e 37%; para o tabaco 37% e 34%; para a cocaína foi de 57% e 54% e para maconha 56% e 52% respectivamente. Baseado nestes dados, o mestre em fi siologia Francisco Teixeira concluiu: “O álcool e o tabaco são as drogas menos reconhecidas como psicotrópicas. São também as mais consumidas. Óbvio que este não é o único motivo para tanto consumo, mas é possível que grande parte dos entrevistados imagine, equivocadamente, que somente drogas ilícitas sejam psicotrópicas”. Os dados epidemiológicos são importantes para se criar a cultura da prevenção e da conscientização quanto ao uso das drogas. Estima-se que, nos Estados Unidos, gastamse aproximadamente

500 bilhões de dólares com os problemas sociais e de saúde

decorrentes do uso de drogas, com um total de 500 mil mortes por ano. Dados da OMS de 2003 revelaram que no mundo inteiro 400 milhões de pessoas sofreram distúrbios neurológicos ou mentais e problemas psicossociais que decorrem do uso de álcool e outras drogas; no mesmo ano, 4 a 5 milhões de pessoas morreram em todo mundo decorrentes de doenças geradas pelo tabagismo; no Brasil, foram 200 mil mortes. A OMS e o Banco Mundial estimam que os gastos com saúde pública por causa do tabagismo são de 200 bilhões de dólares/ano no mundo.

Francisco Teixeira Andrade Prof. Ms. de Biofísica e Fisiologia da UFPI e doutorando em Ciência Animal no CCA da UFPI fandrade@ufpi.br




6 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Câncer de pulmão mata na mesma proporção em que é adquirido

A

dependência à nicotina é classificada pela Organização Mundial da Saúde como grupo de Transtornos Mentais e de Comportamento, que expõe os fumantes a cerca de 4.720 substâncias tóxicas. O tabagismo é visto como um grande problema de saúde pública, responsável por cerca de cinco milhões de mortes em todo o mundo. O fumo é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e está ligado à origem de tumores

malignos em oito órgãos (boca, laringe, pâncreas, rins e bexiga, além do pulmão, colo do útero e esôfago). Um estudo realizado pelo Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina – UNFSC – Florianópolis (SC), com apoio do Ministério da Saúde e INCA aponta que o câncer de pulmão está entre os mais freqüentes tipos de neoplasias, tanto em países industrializados quanto em

países em desenvolvimento. Apenas no ano 2000, surgiu aproximadamente 1,2 milhão de casos novos da doença no mundo, sendo 3/4 deles entre os homens. No mesmo ano, cerca de um milhão de pessoas morreram por câncer de pulmão. De todos esses óbitos, 45% ocorreram em países menos desenvolvidos. No Brasil, o INCA estimou, para 2006, o surgimento de mais de vinte e sete mil novos casos de câncer de pulmão, sendo 17.850 entre os homens e 9.320 entre as mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 19 casos novos a cada 100 mil homens e 10 casos novos a cada 100 mil mulheres. Além de altas taxas de incidência e de mortalidade, o câncer de pulmão apresenta elevada letalidade. A taxa de sobrevida de cinco anos de pacientes com a doença é relativamente pequena, com médias inferiores às taxas de

sobrevida de outras neoplasias, como o câncer de cólon, de mama e de próstata.A mortalidade por câncer de pulmão correspondeu a aproximadamente 12% da mortalidade geral por neoplasias no Brasil durante o período. A tendência foi de aumento em ambos os sexos e em todas as regiões, exceto na população masculina do sudeste, cujas taxas se mantiveram estáveis entre 1979 e 2004. As maiores taxas foram observadas no sul e no sudeste. Entretanto, a região nordeste foi a que apresentou o maior aumento, seguida pelo centro-oeste e o norte. Em todas as regiões, o incremento nas taxas de mortalidade foi maior entre as mulheres. O estudo concluiu que o aumento na mortalidade por câncer de pulmão no Brasil entre 1979 e 2004 exige medidas públicas que minimizem a exposição aos fatores de risco, sobretudo ao tabaco e permitam maior acesso aos serviços de saúde para diagnóstico e tratamento.

Piauí tem alto índice de fumantes

N

o Brasil, ocorrem em média 200 mil mortes/ano em conseqüência do tabagismo e estima-se que haja 25 milhões de fumantes no nosso país. De acordo com a pesquisa do Ministério da Saúde no país, de 2006, denominada Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), dos estados do Nordeste, o Piauí foi o que apresentou o maior número de fumantes adultos (18,3%). A boa notícia é que esse percentual diminuiu para 14,8% em 2007 e para 12,6% em 2008. De fato, as pesquisas revelam que o consumo de cigarros entre os jovens caiu à metade nos últimos 20 anos. O es-

tudo VIGITEL mostra que 14,8% dos jovens entre 18 e 24 anos têm o hábito de fumar. Em 1989, os jovens fumantes eram 29%. A incidência da dependência à nico-

tina é de 70% a 90% entre os fumantes regulares. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 80% dos fumantes querem parar de fumar, porém, somente 3% con-

seguem a cada ano. De acordo com a coordenação da área de doenças e agravos não transmissíveis do Ministério da Saúde, um dos fatores mais importantes no controle do tabagismo é evitar o início do vício entre adolescentes e jovens. A Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, realizada há 20 anos, mostrou que 35% da população adulta no Brasil eram fumantes. Segundo o Vigitel 2008, esse índice caiu para 15%. Apesar de o Brasil estar entre os países com menor incidência de tabagismo do mundo, o objetivo é reduzir esse número, em especial entre os jovens e mulheres fumantes. Em 20 anos, metade dos fumantes abandonou o tabagismo.




7 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

O

Programa de Pós-graduação da Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO constitui-se como um processo de pós-graduação revolucionário, pioneiro e único no Brasil. Trata-se de um consórcio entre 30 instituições do Nordeste (NE) e do Espírito Santo, que disponibilizam recursos humanos altamente qualificados e infraestrutura para a formação de doutores em Biotecnologia. Aprovado pela CAPES em 2006, com conceito 5, o curso teve início em setembro de 2006, com 04 áreas de concentração e 07 linhas de pesquisa, além disso, conta com cerca de 160 docentes dos 10 Estados envolvidos em temas relacionados à Agropecuária, à Saúde, à Biotecnologia Industrial e aos Recursos Naturais de interesse e importância para a Região NE. O objetivo da RENORBIO é contribuir para o aumento da qualidade e da relevância da produção científica e tecnológica em áreas relacionadas à Biotecnologia, com vistas à inovação e ao interesse socioeconômico do País, em geral, e da região NE, de forma a promover a transformação do sistema de Ciência e Tecnologia (C&T) em um sistema eficiente para a inovação. O processo de seleção de projetos a serem financiados, via de regra, é feito na modalidade de Editais, com chamadas para submissão de propostas que objetivem a realização de atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) nos temas relacionados acima e que gerem impactos socioeconômicos positivos para a Região Nordeste, com reflexos na

FOTO: DIVULGAÇÃO

RENORBIO Agente de desenvolvimento para o Nordeste

melhoria da qualidade de vida da população. Essa estratégia visa a integrar os esforços de desenvolvimento científico e tecnológico aos de formação de recursos humanos, visando, como efeito multiplicador, a contribuir para o desenvolvimento da região NE, ampliando os níveis de investimentos aplicados à PD&I em Biotecnologia. No Brasil, a Biotecnologia

a base produtiva da economia do País. Competitividade em Biotecnologia depende da inovação tecnológica que ocorre nas empresas. Entretanto, diferentemente dos países desenvolvidos, a maior parte do contingente de cientistas brasileiros atua em instituições públicas de pesquisa e não em empresas. O que resulta deste contexto, é que ainda que se tenha, com recursos

é uma área de forte aplicação industrial em setores que representam parte considerável das exportações nacionais e integram, de forma relevante,

predominantemente públicos, relativo sucesso científico, pouca conseqüência é obtida em termos de desenvolvimento tecnológico e seus impactos no

aumento na competitividade ou no desenvolvimento social. O Brasil é um dos maiores detentores da biodiversidade. A Região NE possui 42% da sua área constituída pelo semi-árido; uma região com clima e biodiversidade únicos em todo o mundo. Essas e outras características tornam o cenário para a Biotecnologia muito promissor. No Piauí, o cenário da RENORBIO conta com 14 docentes, sendo 06 permanentes e 08 colaboradores e de 36 alunos divididos em 03 das 04 áreas de concentração da Rede: Biotecnologia em Saúde, Biotecnologia em Agropecuária, Biotecnologia em Recursos Naturais e Biotecnologia Industrial. Vale ressaltar que nenhum dos alunos do Piauí concluiu ainda o Programa de Pós-graduação, pois se encontram no terceiro ano de curso. Apesar do seu enorme sucesso inicial, pode-se observar algumas fragilidades na RENORBIO: carência de reconhecimento pelas lideranças políticas regionais; carência de fluxo contínuo de recursos para administração da rede e projetos; falta de uma política econômica para o setor biotecnologia no NE a fim de aproveitar os ganhos com os investimentos em conhecimento, mão-de-obra e geração de um pólo e de um ciclo econômico, entre outros. Estas fragilidades e outros aspectos da RENORBIO são abordados pelo Dr. Carlos Henrique Nery Costa, Coordenador Executivo da Rede Nordeste de Biotecnologia, em entrevista ao Sapiência nesta edição.


8

ENTREVISTA: CARLOS NERY COSTA TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

Renorbio pode encontrar soluções para os

C

arlos Henrique Nery Costa, coordenador executivo do Programa de PósGraduação da Rede Nordeste de Biotecnologia - RENORBIO, é Doutor em Ciências pela Universidade Harvard, em Boston, nos Estados Unidos; Mestre em Doenças Tropicais pela Universidade de Brasília, onde se graduou. Tem mais de 30 trabalhos científicos publicados e mais de 170 comunicações em congressos científicos. Coordena a Residência Médica em Infectologia. é professor na graduação, orienta alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado na UFPI, onde é professor associado. Fora da academia, Carlos Costa ocupa o cargo de diretor geral do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella; é pesquisador colaborador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (Portugal), é coordenador da Comissão de Implantação de Unidade da Fiocruz no Piauí – Fiocruz do Sertão, consultor do Ministério da Saúde, pesquisador do CNPq e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. biodiversidade regional e com elevado valor comercial, a invenção de vacinas e de técnicas para o diagnóstico das doenças que acometem a Região e o desenvolvimento da indústria em Biotecnologia.

Dr. Carlos Nery Costa: Renorbio encontrará soluções para muitos dos problemas do Nordeste

SAPIÊNCIA - De onde veio a idéia de se criar a Renorbio? Dr. Carlos Nery - A Renorbio foi criada por um visionário. Percebendo as dificuldades de desenvolvimento do Nordeste, o agrônomo carioca de origens nordestinas, Luiz Antônio Barreto de Castro, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), imaginou que a Biologia poderia oferecer as chaves para a superação da pobreza da Região. Este brilhante lampejo, que teve a sua origem na longa experiência do pesquisador na Califórnia, resultou na criação da Renorbio, por meio de uma portaria, em 2004, do então ministro do MCT, Eduardo Campos, atual governador de Pernambuco. SAPIÊNCIA - Como ele agiu para conseguir esta enorme rede, lá de um escritório em Brasília? Dr. Carlos Nery - Luiz ABC, como é conhecido, mobilizou-se

e conseguiu dos Fundos Setoriais do MCT significativos recursos para o apoio a projetos de pesquisa em Biotecnologia no Nordeste. Para dar consistência à estratégia de redes, os projetos foram feitos em consórcios regionais. Num lance de mágica, enviou e-mails para os pesquisadores da Região, convidando-os para a tarefa inédita de criação de um doutorado em rede. A resposta entusiasmada dos pró-reitores e de pesquisadores, os pioneiros da Renorbio, resultou no maior programa de doutorado do Brasil e, se não também o maior, um dos maiores em Biotecnologia do mundo. Hoje, existem mais de 380 alunos matriculados, assistindo a aulas em salas de vídeo-conferência ou deslocandose para os laboratórios do Nordeste. A primeira tese foi recentemente defendida. SAPIÊNCIA - Como esta rede pode realmente beneficiar o

Nordeste? Dr. Carlos Nery - As duas primeiras portas para o desenvolvimento da Biotecnologia no Nordeste foram criadas: o fomento ao desenvolvimento das idéias criativas e a formação de pesquisadores locais. A partir dessas sementes, a Biotecnologia poderá dar os seus primeiros frutos: soluções inteligentes para desafios regionais. SAPIÊNCIA - Pode especificar mais que soluções e desafios são estes? Dr. Carlos Nery - A superação das restrições ao desenvolvimento do Nordeste é possível através da Biotecnologia e da Renorbio. Bons exemplos são a adaptação de espécies regionais aos extremos ambientais e o aumento da produtividade por técnicas de engenharia genética. Outros exemplos são a descoberta de produtos naturais típicos da

SAPIÊNCIA - Mas, muitos acham que a pobreza do Nordeste depende essencialmente das relações sócioeconômicas e não de razões passíveis de intervenção tecnológica... Dr. Carlos Nery - O principal elemento que restringe as economias nordestinas é o regime pluviométrico insuficiente e irregular, cortejado por terras pouco férteis e pela persistência de uma estrutura agrária ultrapassada e opressora. Com este sistema, a economia nordestina entrou em colapso. Assim, as chuvas incertas são o principal estrangulador, mas não o único da agricultura familiar que, por sua vez, se constitui no principal fundamento da economia da região. Quando consorciada com um sistema agrário dominado pelo latifúndio e em um regime de parceria de remuneração com os parcos produtos das colheitas miseráveis, o resultado é este: trágico colapso econômico e ecológico. A baixa produtividade dos solos carentes de água não permite o acúmulo de capital e, na ausência de excedentes no setor primário, não permite os investimentos e o desenvolvimento da indústria. Assim, há um nítido excesso de mão-de-obra rural que migra para as cidades devido à baixa produtividade e que vem se acentuando ao longo da história. E o resultado é este que vemos: fome, carências de expectativas econômicas no campo, seguidas pela emigração, miséria e violência


ENTREVISTA: CARLOS NERY COSTA TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

9




10 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

FOTOS: MARCIA CRISTINA

Fatores de risco são cruciais para levarem os

U

m estudo aprofundado sobre as drogas no Piauí, do ponto de vista social, foi publicado em 2008, sob a coordenação da professora doutora em Serviço Social pela UFRJ, Lúcia Cristina dos Santos Rosa, na Universidade Federal do Piauí. A pesquisa foi publicada em livro, intitulada “Uso de álcool e outras drogas na adolescência em Teresina/Piauí”, com a participação de Maria Lila Castro Lopes de Carvalho, Manoel Valente Figueiredo Neto, Alynne Patrício de Almeida, Liana Cronemberger Pereira, Denise Costa de Carvalho e Christianne Grazielle Rosa Belfort. O objetivo do estudo foi identificar os fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas na adolescência e foi financiado pelo Programa Projetos e Pesquisas

para o Sistema Único de Saúde – PPSUS, desenvolvido no Piauí com recursos do CNPq, Ministério da Saúde (MS) e da FAPEPI. Uma das conclusões do estudo é que o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens independe de classe social. Outro aspecto é que os jovens atingidos pelas drogas não contam com um aparato estatal, preparado com medidas sócioeducativas e com atendimento especializado. Os sujeitos da pesquisa foram os coordenadores dos serviços de atenção vinculados à área de saúde e assistência social de Teresina, cuja ação se centrava na atenção ao dependente químico e também as próprias pessoas dependentes em tratamento ou em cumprimento de medidas sócioeducativas, vinculadas, portanto, às políticas de saúde ou assistência social.

Quanto ao perfil dos dependentes químicos na pesquisa, 96% são do sexo masculino; com relação à idade, 59% têm até 20 anos; 59% do universo são naturais de Teresina; 64,% pararam os estudos no ensino fundamental, apenas 9% completaram o ensino fundamental e 6% são analfabetos; 52% afirmaram estarem desempregados; 70% são solteiros, 18% casados e 12% separados. Quanto à família, 40% têm por base a família conjugal (desses 28% morando com os pais e 12% coabitando com a esposa e filhos) e 32,3% são de famílias monoparentais, chefiadas pela mulher, no geral a mãe. “O que ocorre, em nível de Brasil, e também no Piauí, é que somente há poucos anos, a partir, principalmente, dos anos 80, é que o Estado passou a ver o usuário não apenas como um infrator, mas como um ser que precisa de tratamento em diversas áreas, diferenciando traficante, dependente e usuário eventual. Então, historicamente, a questão não foi tratada com medidas sócioeducativas adequadas”, explicou Lúcia Rosa. O estudo mostrou que, a partir da década de 1980 até os dias atuais, as políticas públicas no Piauí têm se mostrado tímidas. A maioria dos serviços para atendimentos aos usuários de álcool e outras drogas psicotrópicas é de iniciativa nãogovernamental voltada para NO MASCULI o s 100 SEXO 96%

80

60

40

públicos adulto e masculino concentrando-se na capital e com pouco envolvimento da família. Os objetivos específicos da pesquisa foram identificar a natureza dos fatores de risco implicados no uso de álcool e outras drogas na adolescência; contribuir na proposição de políticas públicas para minimizar os fatores de risco presentes na instalação da dependência química entre os adolescentes de Teresina e traçar um perfil da rede de serviços de atenção a usuários de álcool e outras drogas na capital piauiense. Para a Profª. Drª. Lúcia Rosa, entre os fatores de risco relacionados com o problema, principalmente do álcool, estão as amizades, os meios de comunicação, problemas familiares, entre outros. A pesquisa começou no ano de 2005, com a aprovação do edital do programa PPSUS e foi concluída em 2007. A partir dos dados coletados, os coordenadores de serviços de atenção aos adolescentes, envolvidos na pesquisa, criaram o Fórum Estadual sobre Drogas, em dezembro de 2006, coordenado pela Secretaria de Assistência Social (SASC) e pela Comunidade Terapêutica Fazenda da Paz, entidade não governamental que atua no atendimento de usuários e dependentes químicos do sexo masculino. O fórum teve como meta a criação de uma lei estadual sobre drogas, a Lei n° 5.775, a primeira do Estado. “Com essa lei, duas ações foram implementadas – a criação da Coordenação Estadual sobre S Drogas e também criação PLETO SOLTEIRO L INCOM AMENTA 70% ENSINO FUND A N de orçamento específico SI RE TE ANOS NATURAIS DE 64% ATÉ 20 para o combate, 59% 59% EGADOS DESEMPR tratamento, 52% pesquisas MILIA EFE DE FA MÃES CH 32,3%

20

OS

CASAD

18%

DOS NCLUIRAM O ENTAL CO NDAM

SEPARA

12%

ENSINO

9%

PERFIL DEPENDENTES QUÍMICOS RELATADOS NA PESQUISA Perfil dos dependentes químicos relatados na pesquisa

FU

BETOS

ANALFA

6%




11 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

adolescentes a usarem álcool e outras drogas

FOTO: MARCIA CRISTINA

e prevenção, muito embora esses recursos ainda não estejam sendo disponibilizados a contento”, destacou Lúcia Rosa. Para se ter uma idéia da carência de ações governamentais, seja na esfera estadual ou municipal, capazes de enfrentar o problema, numa perspectiva de saúde pública, somente em 2003 foi criada a Coordenação de Atenção a Dependentes Químicos, vinculada à Secretaria de Assistência Social e Cidadania do Piauí – SASC, que atende adolescentes e jovens e suas famílias, encaminhando os primeiros para os devidos tratamentos. Em 2002, o Ministério da Saúde mudou o conceito e passou a pensar em políticas para o enfrentamento do problema. “Até então, o uso de álcool e outras drogas entre adolescentes era uma questão mais ligada à segurança pública, então essas pessoas ficavam invisíveis”, completa a pesquisadora. Historicamente, no Piauí e no Brasil são as instituições

filantrópicas (ONGs), sobretudo as ligadas à Igreja, que têm atuado para atender e tratar usuários de drogas. “As igrejas ainda são fatores de proteção; as crianças e adolescentes que estão ligadas a grupos de jovens estão mais afastadas das drogas”, informa a pesquisadora. Lúcia Rosa afirma que órgãos como o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), da UNIFESP, divulgam números que indicam cada vez mais a precocidade dos jovens consumidores de álcool e outras drogas, mas ainda que o álcool é a principal substância causadora de dano a este contingente, talvez pela separação que se faz entre o álcool e outras drogas. “A separação se dá primeiro porque é uma droga lícita e de fácil acesso. Depois, porque o apelo ao consumo de álcool é forte. Nas novelas, nos filmes, se a pessoa está estressada, toma logo um drink. Beba com moderação, mas beba. A bebida é associada à festa, alegria, mulher

bonita. Numa festa de criança, os adultos bebem, senão acham chato. Vivemos numa sociedade narcotizada e numa cultura do analgésico. A indústria dos

A bebida é associada à festa, alegria, mulher bonita. Vivemos numa sociedade marcotizada e numa cultura do analgésico. A indústria dos medicamentos coloca: “se você está estressada, não muder seu estilo de vida, tome um medicamento”, declara Lúcia Rosa. medicamentos coloca: “se você está estressada, não mude seu estilo de vida, tome um medicamento.”. O perfil da população em situação de risco apresenta características como: insatisfação com a qualidade de vida; saúde deficiente; fácil acesso ao álcool e outras drogas e a precária rede de relações sociais na comunidade de origem. Uma saída encontrada, segundo a pesquisadora, são políticas públicas que estimulem crianças, adolescentes e jovens ao lazer saudável. “Por exemplo, percebo que os governos poderiam aproveitar de forma correta espaços dos p a r q u e s públicos; os nossos rios são mal aproveitados, não oferecendo n e n h u m a atividade de lazer e educativa, como passeios; as praças públicas são

feitas de forma que as árvores dão pouca sombra e não possuem brinquedos, por isso são mal aproveitadas”. Outro fator de risco apontado na pesquisa é a própria escola. “Os jovens que usam drogas abandonam a escola. Mas eles não se interessam porque a escola não tem sido atrativa. Ela precisa ser um ambiente alegre, onde o conhecimento precisa ser passado de maneira prazerosa; os professores trabalham desestimulados. A escola está formando para o vestibular e não para a vida. Temos que educar para habilidades sociais. A escola não desafia o aluno a se superar. Então se ele não tem a informação certa por meio da mídia, se ele não tem o lazer fácil, interativo, e nem a escola, o adolescente tem aí vários fatores de risco que facilitarão o acesso fácil ao álcool e às demais drogas”, explica Lúcia Rosa. O uso de álcool entre os adolescentes em Teresina geralmente começa a partir dos 12 anos ou até antes. Os efeitos deletérios são muitos porque o adolescente está em fase de desenvolvimento psíquico, em processo de amadurecimento. A família aparece na pesquisa, como um fator de risco, uma vez que está perdendo a autoridade e a ausência da figura masculina nos lares dificulta cada vez mais o processo educacional. Na pesquisa, dos 198 usuários de drogas entrevistados, 44% disseram ter um bom relacionamento com o pai e 29% afirmaram que o pai havia falecido, ou não tinha contato ou abandonou a família; 18% afirmaram ter relacionamento ruim com a figura paterna. Com relação à mãe, 44% disseram ter um bom relacionamento e 37% disseram ter um ótimo relacionamento, sendo que apenas 7% disseram ter um relacionamento ruim com a mãe e 12% afirmaram que a mãe ou faleceu ou não têm contato ou a mesma abandonou o lar.




12 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

Cobrança da masculinidade é um fator de risco

A

FOTO: MARCIA CRISTINA

Professora Dra. Lúcia Rosa afirma no livro “Uso de álcool e outras drogas na adolescência em Teresina/Piauí” que o desenraizamento cultural e a cultura machista, também, são fatores de risco, no conjunto multidimensional do uso de drogas entre os adolescentes. Isso se explica pelo fato de o adolescente está na transição da fase infantil para a fase adulta e viver uma fase de incertezas que culminam numa série de problemas quando há uma desestruturação social ao seu redor. O que ocorre nos dias atuais é uma crise da masculinidade hegemônica e são várias masculinidades hoje. O metrosexual teme assumir sua sensibilidade, o homossexual teme expressar seus sentimentos. A pesquisadora afirma que ainda domina o modelo patriarcal, aquele em que o homem não pode demonstrar emoções. “Ainda é cobrado desse homem que seja ‘durão’, competitivo, que tenha poder. Então, esses meninos

acabam tendo como modelos figuras já bastante comprometidas com o tráfico de drogas, que denotam poder, sucesso e a figura com a arma na mão. Então, em muitos casos a figura masculina de referência, com a ausência do pai ou do pai e mãe, acaba sendo esta”, disse. Na pesquisa, Lúcia Rosa destaca a questão do gênero como um fator de risco para aproximar os adolescentes em formação das drogas. “As famílias, principalmente as mais carentes, são multiproblemáticas e não têm a figura do pai. Na minha avaliação, a mãe, sozinha, não consegue dar esse referencial masculino. O homem quando fala com o filho, este escuta diferente. Autoridade e limite são as referências masculinas. Nem sempre a mulher consegue exercer a figura paterna, até porque historicamente a mulher não é reconhecida como figura de autoridade”, considera. Outra conclusão, baseada em estudos de outros autores sobre gênero, é que a mulher avançou muito e o homem ficou perdido dentro da família. As mulheres já não precisam, exclusivamente, do homem como provedor econômico único e a visão do homem que sustenta a família e a mulher que cuida do lar está meio estagnada. “Em famílias chefiadas pela mulher, as drogas em geral são mais usadas entre o público masculino; as meninas ainda são minoria, muito embora o consumo esteja entre elas aumentando”, concluiu. A pesquisa revela que a sociedade quanto mais se urbaniza, mais as relações f i c a m impessoais, m a i s anônim a s , gerando um isolamento social, uma ideologia individualista. “O adolescente numa

família sem moldes de educação e sem referenciais está, sem dúvida, propenso às drogas. A personalidade do próprio indivíduo, a autoestima, a pressão e o medo são fatores de risco no plano psíquico e espiritual que podem inseri-lo às drogas” afirma a pesquisadora. “O que vemos como forma de minimizar esses problemas vem de grupos da sociedade civil, como os grupos de hip-hop, atividade de percussão na umbanda, no esporte, entre outras ações. Outra forma de prevenção é a profissionalização...” sugere Dra. Lúcia Rosa. O Governo do Estado tem projeto de criar comunidades terapêuticas com atividades profissionalizantes. Para Lúcia Rosa essa é uma política positiva. “Falta tornar a família mais forte. A família sente-se impotente e vulnerável frente à problemática das drogas entre os adolescentes. O Estado precisa dar uma retaguarda para a família, especialmente à mãe, que tem que trabalhar fora de casa e educar os filhos. Precisa investir ainda na perspectiva de discussão da masculinidade. O que é ser homem hoje? Para ser homem é preciso beber?”, questiona. Um estigma com relação ao adolescente usuário de droga é com relação a ser bandido. “Deixa de ser visto como adolescente e passa a ser visto como a escória da sociedade. Como ele não é respeitado, acaba provocando o medo. Através do medo, ele consegue o respeito, entre aspas. No entanto, ele precisa ser resgatado, porque ele foi excluído e é vítima. Precisa-se mostrar a ele que tem chance. Enquanto o adolescente tiver esse estigma de que ele é um marginal, ele vai levar isso para o resto da vida. O medo é o equivalente físico, real, do que o respeito seria simbolicamente” finaliza. Lúcia Cristina dos Santos Roza Profª Drª do Depto. de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí luciacsrosa@yahoo.com.br

De repressão à política pública

N

o Brasil, a política de drogas, primeiramente foi materializada na Lei n° 6.368, de 1976, dispondo sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes. Todas as ações estavam até os anos de 1990, exclusivamente, vinculada às pastas do Ministério da Justiça, sob a égide de uma lógica repressiva. O uso indevido de álcool tinha relação periférica no Ministério da Saúde, em função do tratamento da dependência química, preponderantemente, em hospitais psiquiátricos, fato que estigmatizava o dependente. Os CAPSAD (Centros de Atenção Psicossocial aos Usuários de Álcool e outras Drogas) foram criados em 2001 no Piauí, primeiro em Teresina; depois implantado um em Parnaíba e outro em Picos. São dispositivos da esfera administrativa, ligados às prefeituras, da política setorial de saúde. A lógica de atenção dos CAPSAD está centrada na reabilitação psicossocial, integração e inclusão social. Em Teresina, funciona no bairro Monte Castelo. O Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu, único público do Estado, e o Sanatório Meduna, serviço particular conveniado ao SUS, também prestam serviço ambulatorial aos dependentes químicos. Embora haja restrições à atenção ao dependente de álcool e outras drogas em hospitais psiquiátricos, não são raras pessoas internadas no Areolino de Abreu com este diagnóstico. A rede de atendimento e tratamento aos dependentes é majoritariamente de entidades não-governamentais. Em Teresina, as existentes são o Grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA), Amor Exigente (voltada para a família), o Proerd (do grupo de policiais militares que fazem trabalho de prevenção nas escolas) e os Narcóticos Anônimos. Dentre as comunidades terapêuticas estão o Sítio Reviver (para mulheres usuárias de drogas), da Igreja Católica, a Oficina da Vida, a Comunidade Fazenda da Paz (usuários masculinos), a Comunidade Esperança e o Sítio Betesda (da Igreja Evangélica).




13 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

Políticas em saúde pública contribuem para o êxito do tratamento de usuários de álcool e outras drogas no Piauí

Profª. Drª. Telma Evangelista e Profª. Drª. Claudete Monteiro

P

or ser um problema multidisciplinar, que envolve várias áreas do conhecimento, seja social, de justiça e de saúde pública é que vários estudos já foram publicados nacionalmente, visando a encontrar respostas que possam atingir êxito junto à problemática do uso de álcool e outras drogas. Sob a coordenação da Profª Drª em Enfermagem da UFPI Claudete Ferreira de Souza Monteiro e sub-coordenação da Profª. Drª. Telma Maria Evangelista de Araújo, que realizaram em 2008 a pesquisa “Estudo de prevalência sobre o uso de álcool e drogas e co-morbidades associais entre usuários dos CAPSAD no Piauí”, focalizada nos três Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas - CAPSAD do Piauí: em Teresina e nos municípios de Parnaíba e de Picos. O Ministério da Saúde criou os CAPSAD, através do Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, com o objetivo de criar uma rede de assistência com ênfase na reabilitação e reinserção social, voltado para ações de promoção, prevenção, proteção à saúde e educação, estabelecendo estratégias de serviços extrahospitalares para essas pessoas. Em decorrência do uso

de álcool e de outras drogas, o indivíduo pode adquirir uma série de doenças, originárias do uso ou associadas a ele, como HIV/Aids, Hepatite C e Cirrose Hepática. Na pesquisa, foram utilizadas amostras de exames clínicos e laboratoriais de 56 usuários dos CAPSAD, no período de maio a outubro de 2008, quando foram coletadas amostras de sangue para testes de Hepatite B e C e provas da função hepática: taxas de aminotransferases (alanino e asparato – ALT e AST), bilirrubinas total, direta e indireta e albumina, além da sorologia para HIV/Aids, sob supervisão dos pesquisadores responsáveis pelo estudo. As autoras do estudo atestam que os dados da pesquisa são importantes para orientar ações em saúde na rede de atenção básica a fim de prevenir a morbimortalidade e o sofrimento individual e familiar associados ao uso de substâncias psicotrópicas. Como resultados, a pesquisa apontou que 84% eram do sexo masculino, idade entre 30 e 49 anos, destes 55% eram solteiros; 80% tinham renda familiar menor que três salários mínimos com histórico familiar de consumo de álcool e uso de tabaco; com menos de oito anos de escolaridade. O álcool liderou entre as substâncias mais consumidas, com 54% dos

consumidores, seguido pelo uso serem afetados por doenças como concomitante de álcool e outras o Hepatice e a Cirrose. drogas, com 36% e o uso exclusivo Com relação ao consumo de drogas foi identificado 11% dos crônico e/ou excessivo de álcool, usuários. Para o uso de álcool, a maior detectado pelos resultados dos parcela foi de usuários atendidos no exames laboratoriais, pode causar CAPSAD de Picos (40%); seguido uma variedade de problemas de Parnaíba e Teresina com 30% hepáticos. Aproximadamente de cada. O tipo de 15 a 20% dos bebida alcoólica A pesquisa é importante para alcoólatras vão mais utilizada foi orientar ações em saúde na d e s e n v o l v e r cachaça (82%) hepatite, ou seja, s e g u i d a d a rede de atenção básica a fim u m e m c a d a de prevenir a morbirdade cerveja (45%), cinco alcoólatras e o sofrimento individual e run (32%) e vai ter problemas vodka (27%). Em familiar associados ao uso de de saúde graves relação ao vinho relacionados ao substâncias psicotrópicas. e uísque, estes álcool, incluindo apresentaram esteatose, percentuais hepatite alcoólica iguais de 16%. Para outro tipo e cirrose, ao passo que pacientes de droga, a maconha aparece com cirrose têm maior chance de em primeiro lugar, com 39%, desenvolver diabetes, problemas seguida de craque (36%) e cocaína renais, úlceras no estômago e (21%). Cola e solventes apresentam duodeno e infecções bacterianas percentuais iguais (20%). severas. Com relação aos achados As Dras. Claudete Monteiro relacionados aos testes usados para e Telma Evangelista concluíram avaliação de lesão hepatocelular, em sua pesquisa que os CAPSad, que dizem respeito às taxas de hoje constituídos como referência aminotransferases (AST e ALT) e no tratamento de álcool e drogas, enzimas hepáticas. Grande parte vêm desde a sua implantação dos usuários (30%) apresentou no Estado do Piauí, contribuindo aumento considerável de ALT, para diminuir o estigma voltado as sendo que em 40% destes, a razão pessoas com problemas decorrentes AST/ALT foi maior que 2, o do uso dessas substâncias, antes que sugere lesão por álcool. Nos encaminhados aos hospitais demais usuários, os níveis de ambas psiquiátricos. Entretanto, o seu tiveram aumentos equivalentes, sucesso depende da sua articulação o que na prática clínica também com a rede de atenção básica, sugere a prevalência de afecção uma vez que os serviços prestados hepática, especialmente hepatopatia devem ir além do tratamento alcoólica ou medicamentosa. Nos da dependência química, e de demais usuários, os níveis de ambas atividades dirigidas para a mudança tiveram aumentos equivalentes, de comportamento, devendo voltaro que na prática clínica também se também para intervenção das sugere a prevalência de afecção complicações clínicas e surgimento hepática, especialmente hepatopatia de patologias associadas e/ou alcoólica ou medicamentosa. decorrentes, como Hepatite B e C, As bilirrubinas diretas foram Cirrose Hepática e outras, a fim de mais alteradas que as indiretas diminuir a morbidade e mortalidade com 12% e 10%, respectivamente. nesse grupo de risco. Consideram-se alterações o Claudete Ferreira de Souza Monteiro aumento, a partir de 20% acima Profª. Drª. Do Depto de Enfermagem da dos valores normais, podendo Universidade Federal do Piauí claudetefmonteiro@hotmail.com acima desse índice alguns órgãos


TESES E LIVROS

14 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009 Desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação de As, Cu, Pb em cachaça por espectrometria de absorção atômica em forno de grafite Naise Mary Caldas Pesquisador PNPD/Capes Defesa: Universidade Estadual Paulista, 2008 naisecaldas@ufpi.edu.br

O

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), segundo Instrução Normativa nº 13 de 29/06/2005 estabelece níveis máximos permitidos para vários contaminantes orgânicos e inorgânicos em aguardente de cana e cachaça. Para os contaminantes inorgânicos, esses teores foram definidos em 0,1; 5,0 e 0,2 mg L-1 para arsênio (As), cobre (Cu) e chumbo (Pb), respectivamente. Baseado nessa Instrução Normativa, métodos analíticos foram desenvolvidos para a determinação direta e simultânea de As, Cu e Pb em 36 amostras de cachaça por espectrometria de absorção atômica em forno de grafite (GF AAS) para fins de controle de qualidade. Um estudo sistemático avaliando o desempenho de seis modificadores foi realizado com o intuito de obter uma melhor compreensão da interação dos analitos com o modificador para as análises. Os modificadores tungstênio (W) e irídio (Ir) ambos com co-injeção de paládio (Pd) e magnésio (Mg) foram selecionados como os melhores modificadores. O modificador permanente Ir com coinjeção de Pd+Mg mostrou-se mais eficiente no prolongamento da vida útil do tubo de grafite. Esse benefício foi significativo, pois o tubo de grafite é o item que mais encarece os custos de uma análise química por GF AAS. Porém, a calibração por ajuste de matriz para este modificador mostrou-se mais complexa (cachaça diluída 1+1, v/v) que para o modificador W com coinjeção de Pd+Mg cuja calibração é feita através de uma solução de 10% (v/v) de etanol contendo 5,0 mg L-1 Ca, K, Mg e Na, uma solução de fácil preparo e contendo reagentes de ampla disponibilidade que permite calibrar o sistema de modo mais repetitivo. Bismuto (Bi) e antimônio (Sb) foram utilizados como padrões internos para os analitos. A avaliação da influência da matriz de cachaça na absorbância de As, Bi, Cu, Pb e Sb revelou que a padronização interna associada ao modificador W com co-injeção de Pd+Mg minimizou as interferências de matriz, melhorou a precisão e a exatidão dos resultados demonstrando ser uma estratégia eficiente na análise direta de cachaça por GF AAS. Das 36 amostras analisadas três excederam os teores máximos permitidos para Cu e Pb estabelecidos pela Instrução Normativa, sendo uma para ambos os elementos, uma para o Cu e outra para o Pb.

Letramento e apropriação do gênero textual carta de reclamação no contexto da educação de jovens e adultos

Potencial reprodutivo de caprinos com escroto bipartido: Avaliação do processo espermatogênico em animais criados no Estado do Piauí, Brasil

Bárbara Olímpia Ramos de Melo Professora da Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009. barbaraolimpiam@yahoo.com.br

Antônio Augusto Nascimento Machado Júnior Prof. Adj. da Universidade Federal do Piauí em Bom Jesus Defesa: Universidade Federal do Piauí, 2009 machadojunior2@yahoo.com.br / machadojunior@ufpi.edu.br

O

s estudos sobre os modos como se constroem as práticas de ensino-aprendizagem dos gêneros textuais em contexto escolar têm sido objeto de vários questionamentos. Neste estudo, investigamos a apropriação do gênero textual carta de reclamação, por alunos dos 3º e 4º blocos da Educação de Jovens e Adultos, participantes e nãoparticipantes de uma sequência didática, matriculados em duas escolas públicas municipais de Teresina-PI, com o objetivo de verificar quais elementos do gênero textual em estudo os alunos aprendem por meio de atividades estruturadas para este fim. Foi objetivo nosso também investigar a influência que os eventos de letramento exercem sobre a apropriação da escrita. As turmas selecionadas funcionaram como grupo controle e experimental. No primeiro, a produção escrita aconteceu como uma das atividades feitas pelo professor da turma, ou seja, foi seguido o planejamento da escola. No segundo grupo, atuamos também com a função de professora e desenvolvemos uma sequência didática. Após as análises quantitativas e qualitativas dos textos de ambos os grupos, verificamos que o desenvolvimento do tema, a continuidade tópica, os articuladores discursivoargumentativos, as relações discursivas e as modalizações tiveram sua aprendizagem facilitada e contribuíram para a construção do sentido nas produções dos alunos do grupo experimental. Tais aspectos não foram constatados nos textos produzidos pelos alunos do grupo controle. Sobre a relação entre os eventos de letramento de que os sujeitos participam e a apropriação da escrita constatamos que, quanto mais significativa a participação dos sujeitos em eventos de letramento nas suas variadas rotinas comunicativas, mais fluência eles demonstraram na construção do gênero textual em estudo. Do ponto vista mais propriamente teórico, o trabalho buscou conjugar contribuições dos estudos aplicados voltados para questões de ordem didático-pedagógica com estudos enunciativo-discursivos, fundados em uma concepção dialógica da linguagem tal qual proposta no pensamento bakhtiniano.

Caderno de Políticas Públicas Estado, políticas públicas e práticas sociais Organizadores: Simone de Jesus Guimarães, Guiomar de Oliveira Passos e Inês Sampaio Nery 161 páginas R$ 21,00 mpp@ufpi.edu.br e mppufpi@gmail.com Tornar público os resultados de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFPI é o objetivo dessa produção, que traz artigos e textos provenientes de dissertações ou teses defendidas no Programa. Os organizadores buscaram revelar objetos de estudos que se colocam na inquietude permanente dos saberes, práticas e vivências humanas e sociais.

Poesia de Agudeza em Portugal Autora Maria do Socorro Fernandes de Carvalho R$ 40,00 429 páginas posletras@ufpi.br O livro é um estudo retórico da poesia lírica e satírica escrita em Portugal no século XVII e procura responder alguns questionamentos feitos pela autora com um conhecimento sério da literatura barroca, através de textos impressos e manuscritos.

Olhos Espraiados linguagem e literatura ao sol Organização: Maria Auxiliadora F. Lima, Francisco Alves Filho e Maria do Socorro F. de Carvalho R$20,00 296 páginas posletras@ufpi.br O livro reúne 14 artigos, em sua maioria, de professores e alunos do Mestrado em Letras, os quais resultam e dialogam com as pesquisas e estudos em andamento no Programa e dão conta de diferentes temáticas relativas aos estudos literários e lingüísticos.

O

bjetivou-se avaliar a espermatogênese por meio da análise morfológica, histométrica e ultraestrutural do testículo, comparando-a entre os caprinos com escroto bipartido e não bipartido. Foram utilizados 18 caprinos divididos em três grupos (n=6) segundo a configuração escrotal: G I, caprinos com escroto não bipartido; G II, caprinos com escroto bipartido em até 50 % do comprimento testicular; G III, caprinos com bipartição escrotal superior a 50 % do comprimento testicular. Os testículos foram processados com técnica histológica para microscopia de luz e microscopia eletrônica de varredura. No epitélio seminífero foram caracterizados os estádios do ciclo do epitélio seminífero, a freqüência relativa desses estágios, a proporção volumétrica dos compartimentos tubular e intersticial, diâmetro dos túbulos seminíferos, altura do epitélio seminífero, número de células germinativas e de Sertoli por secção transversal de túbulos, número total de células de Sertoli e de Leydig e estimativa de produção espermática diária dos caprinos. Com a microscopia eletrônica de varredura foi realizado estudo dos processos das células de Sertoli nos grupos pesquisados. Foi feita análise de variância com teste SNK e calculo do coeficiente de correlação de Pearson, ambos a 5 %. O número de células germinativas e de Sertoli foi superior nos caprinos com maior nível de bipartição escrotal e a razão entre essas células permitiu a determinação do rendimento geral da espermatogênese e do índice de células de Seroli que foram maiores nesse grupo de animais. Os valores da densidade de volume e altura do epitélio seminífero, comprimento total dos túbulos seminíferos, número de células de Sertoli e Leydig, e produção espermática diária foram superiores nos caprinos do G III quando comparados com os animais do G I e G II. Com relação à ultraestrutura das células de Sertoli, identificou-se que, independe do grupo de caprinos, os processos emergentes dessas células são de dois tipos, em forma de camadas e finas cordas. Os caprinos com escroto bipartido apresentam maior potencial reprodutivo frente aos caprinos sem bipartição escrotal, pois aspectos ligados à histometria e morfometria testicular direcionam para maior capacidade de produção espermática nesses animais.

Mulheres Escritoras Autor: Saulo Cunha de Serpa Brandão R$ 10,00 saulo@ufpi.br A obra “Mulheres Escritoras” transcrita de forma prática para a versão em DVD teve início em 2001 e concluída em 2008. No início, a proposta era levantar a existência de mulheres que escreviam em jornais na cidade de Teresina-PI na primeira metade do século XX. Os pesquisadores e bolsistas desse trabalho, que virou livro, ousaram e decidiram digitalizar todos os artigos de mulheres encontrados em jornais a partir de 1875 até 1926. A falta de qualidade dos jornais fez com que o grupo optasse por essa publicação em meio digital. O projeto foi financiado por UFPI, FAPEPI e CNPq.

O Que é Computador Autor: Agenor Martins R$ 17,00 102 páginas agenor44@hotmail.com O computador está definitivamente integrado em nosso dia-a-dia. Empresas, profissionais, estudantes e a população em geral, todos já se familiarizaram com o uso e a manipulação dessa tecnologia. Mas, mesmo com a habilidade de manuseio e o conhecimento da potencialidade destes recursos, pouca gente se atreve a responder à pergunta: como funciona um computador? E é esta resposta que o autor, se propõe a oferecer, numa linguagem acessível ao grande público e tecnicamente correta.

Jornalismo Cidadão Informa ou deforma ? Autora Maria das Graças Targino R$ 30,00 250 páginas gracatargino@hotmail.com A obra apresenta a trajetória da imprensa no Brasil, desde o jornalismo literário até os dias atuais, com o webjornalismo e o jornalismo cidadão. Com base em textos divulgados nas páginas do Centro de Mídia Independente Brasil (CMI Brasil) via Internet, busca respostas para questões contemporâneas, como morte ou sobrevivência do autor; o fim ou mutação do jornalismo; se a mídia convencional determina ou não a agenda dos meios alternativos, ou se estes intervêm no jornalismo tradicional, entre outros assuntos.




15 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

FOTO: ROBERTA ROCHA

Anabolizantes: risco à saúde na busca pelo físico perfeito

Prof. Dr. José Arimatéia Dantas e o orientando Marcos Antônio Perreira

V

ários fatores têm levado pessoas comuns a usarem o esporte e os anabolizantes como meros instrumentos para crescerem e ganharem massa muscular: pressões sociais e psicológicas, por exemplo, busca cada vez mais veloz pelo “corpo perfeito”; desejo de ser aceito em uma sociedade onde o corpo virou mercadoria e sinal de status. A prática esportiva em nome do prazer e da saúde fica em segundo plano. Atletas se dopam por recordes, prêmios e medalhas e nas academias a competição é por um corpo idealizado, associado ao sucesso. Os esteróides vendidos nas farmácias são moléculas sintetizadas em laboratório derivadas do hormônio testosterona, ou seja, têm a estrutura química muito semelhante à da testosterona, mas com algumas modificações que implicam em alterações nas respostas dessa substância no corpo. Desse modo, os anabolizantes sintéticos apresentam maior efeito anabólico (responsável pelo aumento da massa muscular) e menor efeito androgênico (responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais masculinos, como o engrossamento da voz e o crescimento de pêlos na face), quando comparados aos efeitos da testosterona. Os anabolizantes foram criados visando ao tratamento de doenças que apresentavam quadros severos de catabolismo. Assim como todos os medicamentos, estes só devem ser utilizados através de

prescrição e acompanhamento médico. Apesar disso, o uso indiscriminado e acima das doses terapêuticas de anabolizantes foi relatado, inicialmente, por atletas, buscando uma melhora do desempenho, e, posteriormente, por praticantes de atividades físicas, principalmente os praticantes de musculação, com o objetivo de aumentar a massa muscular e diminuir a quantidade de gordura do corpo com menor esforço e no menor tempo possível. A maioria das academias tem como atividade física principal a musculação. De acordo com o professor de Educação Física, André Luis, que possui mais de 06 anos de experiência na área, existe, por parte dos jovens, uma busca de um crescimento muscular rápido, e por isso há quem recorra a drogas para um ganho de massa muscular mais acelerado Ele ressalta que sempre esclarece os alunos mais jovens sobre os esteróides, pois são eles que mais procuram pela substância, além de confundirem anabolizantes com os suplementos. “Acredito que a maioria procura por imaturidade e por não terem a consciência dos males que os anabolizantes causam e que podem deixar sequelas irreversíveis para o resto da vida. Condicionamento físico e ganhos

estéticos sem esforço não existem e para isso é necessário muito treino e dedicação”, afirmou André Luis. Existem os anabolizantes orais e os injetáveis. Como todo medicamento, principalmente os de venda controlada, os anabolizantes só devem ser utilizados quando prescritos pelos médicos, não devendo ultrapassar a dose máxima recomendada. Entretanto, as doses utilizadas pelos atletas podem variar de 10 a 200 vezes superiores às doses recomendadas com fins terapêuticos. O uso de altas doses de anabolizantes pode promover desde simples efeitos colaterais até doenças graves. Dependendo da dosagem, do indivíduo e do tempo de tratamento, as alterações podem ser irreversíveis e afetar diferentes tecidos. Os “anabolizantes naturais” também são conhecidos como suplementos alimentares. São compostos formados por diferentes substâncias, como: aminoácidos, vitaminas, minerais, creatina, albumina, dentre outras, que são vendidos sem o mínimo controle nas farmácias e nas lojas de produtos naturais. Essas substâncias possuem estrutura química e mecanismos de estimulação do crescimento muscular diferentes dos anabolizantes esteróides. Do mesmo modo, não devem ser ingeridas sem prescrição e acompanhamento de um nutricionista ou de um médico, porque seus efeitos em altas doses e por longos períodos ainda não foram bem definidos. Além disso, alguns estudos mostraram que muitos suplementos não

promovem benefícios ergogênicos (aumento do desempenho físico) nem anabólicos, é mais adequado substituí-los simplesmente por uma dieta balanceada. Tendo em vista os prejuízos dos anabolizantes, existe o Projeto de Lei do Senado nº 198, do ano de 1995, “que proíbe o uso de substâncias anabolizantes, naturais ou artificiais, com a finalidade de aumento de massa corporal em animais de abate” devido ao risco para a saúde humana. O instrutor físico de uma academia da cidade, Paulo Júnior lembra que as pessoas sedentárias devem começar aos poucos uma atividade física, mas mantendo uma sequência durante um grande tempo, assim conseguirão bons resultados e de forma saudável. Sem contar que é necessária uma avaliação médica e física para que a pessoa possa ser encaminhada à atividade adequada. O instrutor se posiciona totalmente contra o uso de qualquer tipo de anabolizantes e alerta: “Os jovens de hoje em dia procuram utilizar suplementos e anabolizantes para obterem resultados em curto prazo, mas o resultado traz muitos malefícios à saúde como câncer, infertilidade, calvície, impotência sexual entre outros”, conclui.




16 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

Nova técnica para detecção de anabolizantes

E

FOTO: ROBERTA ROCHA

m tempos de Olimpíadas, infelizmente, o doping é quase tão falado quanto às conquistas douradas dos atletas. Visando a um melhor resultado, é cada vez mais frequente o uso de esteróides anabolizantes (EAs) em academias por parte de atletas para ganho de massa muscular e desempenho e por não atletas para aprimoramento da estética. Entretanto, tais recomendações são contraindicadas tendo em vista seus efeitos colaterais, tais como: atrofia testicular, impotência sexual, desenvolvimento de mamas em homens, virilização em mulheres, aumento da incidência de câncer, diabetes, pressão alta, mortes súbitas e inúmeros outros. Levando em conta esta temática, o Professor Marcos Antônio Pereira dos Santos, doutorando da Rede Nordeste em Biotecnologia (RENORBIO), iniciou uma pesquisa que tem como objetivo analisar com exatidão o uso desses esteróides no controle de dopagem no esporte. Utilizará como base substâncias em matrizes complexas e a técnica da cromatografia bidimensional tradicional e compreensiva, de forma a aumentar a sensibilidade, seletividade e abrangência em termos de diversidade de substâncias. Para Marcos Antônio, a

técnica na qual ele propõe aumenta os EAs e apresente laudos. Através a exatidão nas medições, pois para desta pesquisa, será possível criar ele, “a técnica utilizada atualmente, um novo diagnóstico tendo como a CG/C/EMRI, é limitada pela viés as ferramentas da biologia contribuição da matriz à razão molecular e química analítica de isotópica de substâncias de forma a padronizar a aplicabilidade interesse (ou seja, são quase do uso dos esteróides anabolizantes idênticas no comportamento para rastrear essas substâncias. químico, mas diferem na massa A inovação desta pesquisa atômica ou número de massa demonstra que por meio da biologia e assim se molecular, comportam é possível No Brasil, há uma carência diferentemente detectar melhor de pesquisas e de laboratórios no espectrógrafo o esteróide, para a realização de de massa, nas pois o atleta exame antidoping. transformações que faz uso da A nova técnica piauiense radioativas e nas substância em pode criar um diagnóstico por propriedades treinamentos é meio da biologia molecular e físicas). Já a capaz de alterar da química analítica. utilização da o desempenho. cromatografia Desta forma, g a s o s a a técnica bidimensional com combustão desenvolvida, a partir da pesquisa, acoplada à espectrometria de ajudará de maneira eficaz a massas por razão isotópica (CG- impedir a adulteração ou tentativa CG/C/EMRI), pode aumentar a de adulterar qualquer parte do exatidão dessas medições. Essa controle de doping do atleta. técnica tem um grande caráter Portanto, Marcos Antônio inovador no controle de dopagem ressalta que a aplicabilidade desta no esporte que sofre com as pesquisa ocasionará um grande limitações impostas pela técnica impacto na área de dopagem no atual, a qual conduz a inúmeros esporte, pois será uma opção para as falso-negativos”. federações esportivas realizarem a No país, são poucos os análise de doping, além de orientar centros que desenvolvem pesquisa os profissionais da área de saúde, com antidoping, além de haver atletas e áreas afins do desporto uma carência de laboratórios para a preservação da integridade credenciados que examine, detecte física e mental de nossos atletas e

praticantes de atividade física. A pesquisa já foi iniciada e está sendo desenvolvida utilizando a infraestrutura física do departamento de química da UFPI. Serão analisados um grupo de indivíduos que faz uso de esteróides e outro que não faz uso da substância, avaliando a alteração da expressa genética para se chegar à diferença entre os grupos por meio de um parâmetro molecular. Além disso, com a técnica da cromatografia bidimensional tradicional e compreensiva será possível verificar a quantidade utilizada pelo atleta e se é um hormônio natural ou artificial. “Será analisado a expressão genética antes e depois da substância aplicada, pois o hormônio só irá expressar o gene anabólico”, explicou Marcos. Para o orientador de Marcos, o professor Dr. José Arimatéia Dantas Lopes, o estudo que vem sendo realizado já se destaca por si só porque são poucas as pesquisas nesta área. “Através desta pesquisa, o Estado do Piauí se insere entre os grandes centros e coloca o nosso grupo de pesquisa entre os grupos de ponta no Brasil”, ressaltou Arimatéia. Marcos Antônio Pereira dos Santos Doutorando da Renorbio marco@bol.com.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.