Sapiencia16

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TERESINA - PI, JUNHO DE 2008 • Nº 16 • ANO V

ISSN - 1809-0915

“É necessário corrigir as assimetrias” diz presidente do CNPq

Conheça os rumos da pesquisa nanotecnológica no Piauí

Entrevista nas págs. 6 e 7

Págs. 8 e 9

Mal de Alzheimer: Pesquisas com plantas do Nordeste em busca da cura Pág. 11


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OPINIÃO TERESINA - PI, JUNHO DE 2008

Incentivo à Pesquisa no Piaui O Sapiência consolida-se como principal divulgador das pesquisas científicas desenvolvidas no Estado do Piauí. E isso se deve ao apoio das principais instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico: UFPI, EMBRAPA, UESPI, CEFET como fontes das matérias até aqui veiculadas. Nesta edição, focamos de modo especial as principais pesquisas desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Científico Regional – DCR. O Programa é uma das ações da FAPEPI, em convênio com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico – CNPq cujo objetivo é trazer doutores pesquisadores para o Estado e contribuir para a fixação destes, nas instituições científicas piauienses, e fortalecer os grupos de pesquisa existentes nesse Estado. Outro importante objetivo deste programa é criar novas linhas de pesquisa de interesse regional, visando a promover a renovação do quadro de recursos humanos das instituições de ensino superior, públicas, piauienses a fim de que tenhamos uma comunidade científica piauiense com condições de avançar o processo de desenvolvimento do Estado. Eis, portanto, algumas razões pelas quais o Sapiência

privilegia nesta edição as ações desse Programa. Pelo convênio FAPEPI/CNPq encontram-se disponíveis 10 bolsas para doutores que podem ser pleiteadas por qualquer instituição de pesquisa e ou ensino do nosso Estado, para tanto, basta acessar o edital exposto permanentemente na homepage da Fapepi (www.fapepi.pi.gov.br) e seguir as orientações. Os projetos enviados são avaliados por consultores ad hoc e, uma vez aprovados, os bolsistas assinam o contrato. Feito isto, podem dar início aos seus trabalhos. Acácio Véras

A inserção das tecnologias digitais na construção da imagem de um candidato

Lúcio Alves de Barros¹

O

Acácio S. V. e Silva Júnior2

artigo aborda a inserção das tecnologias digitais, notadamente a internet, na construção da imagem de um candidato. O anseio central dessa pesquisa passa por identificar o determinante desse mecanismo nas relações políticas em busca do poder. Acredita-se que a internet tenha colaborado para um ‘novo’ caminho das disputas eleitorais, configurado novas relações e reconfigurado outras fundamentais no processo eleitoral. Nesse sentido, o artigo limitouse a análise da página do candidato Luís Inácio Lula da Silva (Lula), na sua campanha de reeleição em 2006, cuja peculiaridade foi a utilização da Internet como lugar estratégico e privilegiado de ressonância das idéias e preparo político do candidato. No intuito de melhor entender o casamento entre mídia e tecnologia digital concentramos a análise nas páginas veiculadas durante as duas últimas semanas do primeiro turno, (14 de setembro, 2006 a 28 de setembro de 2006) e em três partes: os quatro primeiros dias (14 à 17 de setembro de 2006), seguido por dois grupos de cinco dias (18 à 22 de setembro de 2006 / 23 à 28 de setembro de 2006), que finalizaram a campanha do primeiro turno de sua candidatura. Verificou-se nesse dias a construção da realidade no site, seu design, escopo político, relação com o público (tendo por base a interação) e o

conteúdo programático. Tais chaves de análise, apesar de verificadas separadamente, formam um único contexto, um micro cenário, cuja ressonância é revelada na construção de uma imagem que levou Lula a mais quatro anos no poder. O próprio senso comum já tratou de dizer muitas coisas que encontramos em teses e mais teses de doutorado: “uma imagem fala mais que mil palavras”. Todavia, longe do senso comum e das variantes dos conceitos, deixa-se evidente o que se entende por uma imagem em construção tendo por princípio que a imagem produzida não está dissociada de interesses e de visões de mundo. Ela transcende os limites da própria idéia, haja vista as inúmeras possibilidades de sua emergência e construção da realidade. A sociedade informática, termo criado por Adam Schaff, talvez traduza com acuidade os momentos pelos quais passa a contemporaneidade. Mais do que nunca, a imagem deixa de ser o antigo objeto retratado pelo globo ocular para converter-se em imagerie (produção de imagens), uma práxis operacional que insere o sujeito numa situação de experimentação visual, acrescida pela possibilidade de integrar outros registros desencadeantes da sensibilidade corporal. Neste caminho, em primeiro, defende-se a imagem como representação. Em segundo, opera-se na análise da esfera pública e do que vem sendo chamado de ciberespaço. Para se ter uma acepção, no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu sua propaganda eleitoral afirmando que não desejava “baixaria”, os sites na internet do PT e de sua campanha divulgaram um boletim com ataques a familiares do tucano Geraldo

Alckmin. Esse foi o “tom” de início da campanha, na qual se percebeu a desvinculação de uma imagem austera no campo pragmático a uma imagem mais agressiva na Internet. Porém o texto teve repercussão no restante da campanha “extra site” e a base de duras críticas foi retirado do ar, determinação dos agentes de comunicação da campanha. O então responsável pela internet tanto do PT quanto da campanha de Lula, Valter Pomar, assumiu a autoria do boletim na tentativa de desvincular da campanha e do próprio presidenciável. O episódio alertou os profissionais da campanha que, pelos jornais, afirmaram que tais ataques poderiam colocar em risco a reeleição de Lula, haja vista que eles vitimizaram Alckmin e sua família. A partir deste “acontecimento”, os destaques da campanha de Lula na internet passaram por uma transformação radical, integrando efetivamente as partes da campanha de reeleição do candidato. Diante dessa investigação, no período acima citado, quanto à construção da imagem de um candidato, aliado aos anos de acompanhamento de evolução da internet, identificou-se elementos significativos sobre a importância da internet no futuro político e, principalmente, na maneira de se fazer campanha política no Brasil. Certamente essa nova visão será contribuição fundamental para campanhas eleitorais futuras como pré1 - Doutor em Ciências Humanas: sociologia requisitos básicos para pleitos vitoriosos. e política pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e Docente nas Faculdades ASA de Brumadinho e Faculdade Minas Gerais FAMIG. 2 - Mestrando em Comunicação Social Pontífícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG.

Nº 16 * Ano V* Junho de 2008 ISSN - 1809-0915 Informativo produzido trimestralmente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí FAPEPI Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092

Diretor Editorial Acácio Salvador Véras e Silva

Conselho Editorial Acácio Salvador Véras e Silva Francisco Laerte J. Magalhães Welington Lage

Editora Márcia Cristina

Reportagens e fotos Márcia Cristina (Mtb-1060) Roberta Rocha (Mtb-1856)

Revisão Gramatical Assunção de Maria S. e Silva

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Invista Publicidade (86) 3221-0215

Impressão Grafiset 99 - 3212 2177

Tiragem 8 mil exemplares

Governador do Estado Wellington Dias

Presidente Acácio Salvador Véras e Silva

Críticas, sugestões e contatos: sapiencia@fapepi.pi.gov.br marcia@fapepi.pi.gov.br • Fones: (86) 3216-6090 / 3216-6091 Fax: (86) 3216-6092 • www.fapepi.pi.gov.br


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ARTIGO TERESINA - PI, JUNHO DE 2008

Lília Raquel Fé da Silva1 Marinalva Soares de Araújo2 Auricelia Sousa de Carvalho3 Alice Francisca Fé da Silva4 O proces-so pedagógico requer atividades que implementam a aprendizagem dos alunos fora do período regular de aula, e o dever de casa desempenha bem essa função. É uma atividade bastante desenvolvida nas escolas, mas que vem perdendo o seu real objetivo dentro do processo pedagógico devido às modificações no sistema de ensino e às opiniões por parte dos educadores, alunos e pais a respeito de sua utilidade. Sua importância está relacionada ao processo avaliativo e à interação dos pais com os filhos no meio educacional. Com o objetivo de verificar a importância e o efeito do dever de casa no processo pedagógico para os professores e a estrutura escolar em geral bem como a participação dos pais no acompanhamento das atividades pedagógicas e sua influencia na vida escolar dos filhos é que um grupo de professoras se propôs realizar a pesquisa em quatro escolas públicas estadual de nível fundamental da cidade de Corrente-PI. No processo avaliativo, o dever de casa é uma tarefa didática necessária e

Foto: Arquivo Pessoal

O dever de casa no ensino fundamental em escola pública: gestão pedagógica e a atuação da família no processo ensino-aprendizagem permanente no trabalho docente tendo como objetivo acompanhar e verificar o andamento do processo de ensino aprendizagem. É um meio avaliativo que necessita estar presente constantemente no processo pedagógico. Através dessa atividade o professor pode diagnosticar e controlar o rendimento escolar com relação à aprendizagem. Além do professor o dever de casa auxilia também a família que passa a ter mais contado com o cotidiano escolar do aluno. Assim, a interação família - escola é imprescindível no processo pedagógico, objetivando resultados mais positivos. Sendo parte do processo ensinoaprendizagem, o dever de casa afeta seu planejamento e conseqüentemente o trabalho docente, além da vida familiar, ao pressupor a conexão entre as atividades de classe e de casa e uma estrutura doméstica de apoio ao aproveitamento escolar. Contudo, devido a essa relação de conexão entre a escola e o meio familiar em que o dever de casa propicia, em alguns momentos, essa relação entra em conflitos desarticulando o propósito da prática pedagógica com a utilização do dever de casa e o papel da família, bem

como também da escola na participação dessa atividade. Na pesquisa, o dever de casa tanto foi concebido como uma atividade que requer ao menos supervisão dos pais, visto que é uma tarefa que deve ser realizada com autonomia. Para a maioria das professoras investigadas, o dever de casa serve como uma importante ferramenta na avaliação e na assimilação do conteúdo exposto em sala de aula. Porém as professoras se frustram quando a criança não traz o dever de casa feito e reclamam da falta de cooperação dos pais, os quais também se frustram quando seus filhos ou filhas não sabem fazer o dever e eles não têm tempo ou conhecimento para ajudar.

Para as famílias, a sua participação na vida escolar dos filhos através das atividades escolares é de suma importância, servindo como apoio e incentivo para se obter melhores resultados no processo ensinoaprendizagem. Nas camadas mais pobres, as mães, na sua maioria, têm pouco capital cultural e escolar e esse detalhe as condicionam como não aptas a avaliarem a adequação pedagógica, fato evidenciado por algumas mães entrevistadas. Segundo as investigadoras, as mães, por terem filhos em colégios públicos, não se sentiam “obrigadas” a acompanhá-los no processo pedagógico. Mesmo com algumas contradições de opiniões, a maioria dos entrevistados tem no dever de casa uma imprescindível atividade no processo pedagógico. Entretanto sua suposta eficácia depende não apenas da contribuição da família, mas, sobretudo do planejamento pedagógico empreendido pela professora. ¹Bióloga pela Universidade Estadual do Piauí; liliaraquelfe@yahoo.com.br 2 Bióloga pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI; smarinalva@bol.com.br, 3 Bióloga pela UESPI e Tecnóloga em Gestão Ambiental – CEFET-PI; auriceliadecarvalho@yahoo.com.br 4 Professora da rede estadual com especialização em Gestão Escolar; alice.fesilva@hotmail.com

Pirólise de óleo vegetal: método alternativo de obtenção de biocombustíveis E m virtude das alterações climáticas no nosso planeta, ultimamente, grande parte da comunidade científica tem Geraldo Eduardo direcionado seus da Luz Júnior estudos para a resolução dos problemas ambientais. Dentro desse contexto, o desenvolvimento de combustíveis que agridam menos o meio ambiente é um dos principais objetos de estudo. Algumas alternativas já vêm sendo utilizadas, como são os casos do álcool hidratado e do biodiesel, obtido por transesterificação. Outros métodos alternativos de obtenção de combustíveis líquidos estão sendo

estudados, como a pirólise ou craqueamento de biomassa. As primeiras tentativas de obtenção de combustíveis líquidos por esse último método foram impulsionadas pela dificuldade de obtenção de combustíveis de origem fóssil na época da segunda guerra mundial. No entanto, com o término da guerra, as pesquisas foram suspensas e só retomadas, timidamente, na segunda metade da década de 1980. Atualmente, fatores ambientais, econômicos e sociais intensificaram as pesquisas nessa área, especialmente na obtenção de combustíveis semelhantes ao diesel e à gasolina, por craqueamento de óleos vegetais. Em tal processo, um óleo vegetal é aquecido a temperaturas que variam de 350 a 700 ºC, a pressão ambiente, com ou sem um catalisador.

Os produtos do craqueamento são basicamente misturas de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos - líquidos e gasosos – água, monóxido e dióxido de carbono, quando o processo é catalisado. Na ausência de um catalisador, compostos oxigenados, como ácidos, aldeídos e cetonas, também são obtidos. Vários catalisadores foram testados até o momento. Dentre os quais se encontram as zeólitas ZSM-5, USY e â e o material mesoporoso MCM-41. As pesquisas nessa área estão sendo desenvolvidas há mais tempo em países como Malásia e Canadá, que investigam a pirólise de óleo de palma, conhecido no Brasil como óleo de dendê e de canola, respectivamente. No Brasil, os pesquisadores da UnB já investigaram a pirólise de óleo de mamona, rícino e soja e, recentemente,

o grupo de catálise e petroquímica da UFRN começou estudos no sentido de desenvolver sistemas catalíticos que sejam mais seletivos para obtenção de diesel ou de gasolina, pelo referido método. A obtenção de combustíveis líquidos por pirólise de óleos vegetais é um processo mais simples e barato do que por meio da transesterificação; podendo inclusive utilizar a infraestrutura presente nas refinarias de petróleo, como indicam algumas pesquisas. Além disso, os biocombustíveis líquidos obtidos por esse método são bem semelhantes aos oriundos do petróleo e praticamente não apresentaram enxofre e nitrogênio em suas composições. *Professor Assistente da UESPI Doutorando em Química na UFRN geraldoeduardo@gmail.com


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REPORTAGEM TERESINA - PI, JUNHO DE 2008

DCR cumpre papel no desenvolvimento da CT&I no Piauí O Programa de Desenvolvimento ênfase na troca de transferência de Científico e Tecnológico Regional – conhecimentos no campo da ciência. DCR – Piauí, implantado pela FAPEPI, Hoje, o Programa de em convênio com o Conselho Nacional Desenvolvimento Científico e de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional – DCR produz Tecnológico – CNPq, vem desde bons resultados no cumprimento de seus novembro de 2003 estimulando a objetivos. Para além da produção fixação de doutores em resultante das instituições de ensino pesquisas, um Ao todo, o superior e pesquisa, número de Programa já institutos de pesquisa, pesquisadores de contemplou 38 empresas públicas de outros Estados, como bolsistas. Desses, 10 de São Paulo, Minas pesquisa e concluíram seus desenvolvimento, Gerais, Paraná e do projetos e quase empresas privadas e Ceará já estão fixados micro empresas que ou ainda todos se fixaram no atuem em investigação desenvolvendo seus Piauí, sendo científica ou estudos no Piauí. aprovados em tecnológica no Estado, O professor concurso da UFPI, propiciando o em química da UESPI, Embrapa e fortalecimento dos Universidade em instituições grupos de pesquisa Estadual do Piauí – privadas. existentes e a criação UESPI, Dr. Nouga de novas linhas de Cardoso Batista, pesquisa de interesse regional, mediante considera que o programa DCR tem se a contínua integração entre o setor mostrado de grande relevância na acadêmico/científico e o Estado. implantação de novas linhas de O DCR, como é mais conhecido, pesquisas, promoção de intercâmbio firma-se entre os mais importantes entre instituições de ensino superior e programas com que a FAPEPI trabalha centros de pesquisas. Segundo ele, “o e, ano a ano cresce a adesão de novos programa tem permitido aos jovens bolsistas, contribuindo, sobremaneira, doutores envolver-se com atividade para o desenvolvimento científico e acadêmica nos cursos de graduação. tecnológico em nosso Estado, com Este aspecto tem sido observado como

um fator importante ao incentivo de alunos graduandos”, considera o professor. A FAPEPI, em suas responsabilidades, executa o convênio na parte administrativa, financeira e operacional. Assim, concede auxílio de instalação de cada novo doutor que chega ao Estado. Cabe ao CNPq a concessão das bolsas. Em seu primeiro ano de execução, 2004, ainda na gestão do presidente do CNPq, Erney Plessmann de Camargo, o Programa contemplou 10 bolsas no valor aproximado de R$ 1,8 milhão. Pesquisadores de outros Estados desenvolvem seus projetos em instituições como a UFPI, UESPI, Embrapa e CEFET. Em 2005, o convênio foi novamente renovado e foram investidos mais de R$ 2 milhões para implementação de 15 bolsas. O pesquisador e Chefe de Comunicação e Negócio da Embrapa Meio Norte, Valdemício Ferreira de Sousa considera o programa excelente. “O DCR tem sido, é e continuará sendo muito importante para atrair, alocar e fixar jovens doutores no Piauí. Além disso, contribui para ampliar a realização de projetos de pesquisa e o desenvolvimento de conhecimentos e tecnologias importantes para o desenvolvimento do Estado”, considera.

O PROGRAMA DCR/PI PRIORIZA PROJETOS RELACIONADOS A ALGUMAS ÁREAS E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS 1 ÁREAS ESTRATÉGICAS ) ) ) ) ) )

Biotecnologia em saúde Biotecnologia em recursos naturais Biotecnologia em agropecuária Sanidade e reprodução animal Recursos minerais Energia

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ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: Fruticultura Apicultura Aqüicultura Turismo Ovinocaprinocultura

) ) ) ) )

Áreas como Genética e melhoramento animal; Química inorgânica; Pesca, Aqüicultura e Maricultura; Física – Polímeros; Engenharia de Água e Solos; Geoquímica orgânica, entre outros já foram desenvolvidos ou estão em curso. Para a FAPEPI, o programa vem mostrando, de fato, a grande contribuição quanto à qualificação dos recursos humanos existentes na área de C&T no Estado, criando condições para ampliação de demandas propiciando o desenvolvimento e o potencial do Estado em vários setores.

Foto: Arquivo Pessoal

Estudo indica melhoramento genético em Bovinos Zebus

Raimundo Martins* Estima-se que 80% do rebanho bovino brasileiro tenham genes de origem zebuína, seja na forma de raças definidas ou através de cruzamentos. Estes animais encontram-se difundidos pelo país, inclusive no Nordeste, devido às suas características de resistência e tolerância às condições adversas. Foi necessário um estudo das influências do meio, para que se pudesse avaliar os animais e definir planos de melhoramento.

A pesquisa “Estimação de componentes de (co)variância e de parâmetros genéticos e ambientais em características de crescimento de bovinos zebus criados nas regiões meionorte e norte”, realizada com auxílio do DCR, objetivou analisar os efeitos dos fatores de meio sobre ganhos de peso, do nascimento aos 18 meses, em animais dessa raça criados nessas regiões a partir de avaliações genéticas para cada característica estudada, de forma a fornecer subsídios e indicar critérios adequados ao estabelecimento de métodos para a seleção de animais jovens. De acordo com o pesquisador, os programas de melhoramento genético necessitam como requisito básico de um sistema de identificação e da medição de características de interesse econômico e acrescenta que “o acompanhamento e o correto controle de registros genealógicos é de fundamental importância para estimação de valores genéticos”. A pesquisa, realizada em duas fases, avaliou as estimativas dos fatores ambientais sobre o peso da

desmama e as estimativas dos parâmetros genéticos e da tendência genética dos pesos da desmama. Na primeira fase, foram estimados parâmetros biológicos relativos ao peso ao nascer e de pesos ajustados em escalas de dias. Foram estudados rebanhos de 350 fazendas, totalizando 37.000 bovinos das raças Zebuínas em 08 estados da região Norte e sub-região Meio-Norte. As diferenças entre os Estados foram muito evidentes, o que pode ser atribuído, em grande parte, às condições de meio mais favorável, sob a influências climáticas, de administração e de composição genética do rebanho. As diferenças decorrentes do sexo evidenciaram a superioridade de peso dos machos em relação às fêmeas, indicando a possibilidade de alimentação diferenciada entre os dois sexos, visando a diminuir o tempo adequado para o abate de machos e o preparo das fêmeas para iniciar mais cedo o acasalamento. Já na segunda fase, foram estudados rebanhos de 257 fazendas, totalizando 79.051 animais da raça

Nelore Pode-se verificar que as estimativas de correlações genéticas foram altas e positivas entre os pesos aos 205, 365 e 550 dias de idade, o que indica que a maioria dos genes que influenciam os pesos em determinadas idades. Raimundo Martins esclarece que isto é importante porque possibilita que os animais possam ser selecionados mais cedo. Pode-se concluir que as estimativas de herança genética indicam que a seleção para o peso será mais eficiente nas idades mais avançadas do animal e sugere que é possível antecipar a seleção para a desmama, sem prejuízo ao peso. Raimundo Martins explica que nas condições de criação, os criadores selecionam os animais mais pelas características anatômicas e raciais que pelo desempenho produtivo e revela que “de acordo com os resultados obtidos para tendências genéticas, isso vem diminuindo ao longo dos anos, pois se Pró-Reitor de um Pesquisa e de Pós-Graduação verificou ganho genético Universidade para o Desenvolvimento do considerável”. Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP rmartinsfilho@yahoo.com.br


REPORTAGEM

5 TERESINA - PI, JUNHO DE 2008

Danielle Azevedo* A Doutora Danielle Maria Machado Ribeiro Azevedo, bolsista do Programa DCR (2004-2006), concluiu o projeto “Avaliação Genética de Ovinos da Raça Santa Inês para a Sustentabilidade da Produção de Carne do Estado do Piauí”, desenvolvido no Departamento de Zootecnia (DZO) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPI, continuou no Piauí e atualmente é pesquisadora da Embrapa Meio-Norte, na área de Produção Animal. “Quando tentei a bolsa, tinha dois objetivos principais: o desenvolvimento do projeto supracitado e apoio às atividades em disciplinas e orientação de alunos nos cursos de graduação em Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. Fui contemplada e por isso considero um programa realmente promissor, tanto para os pesquisadores, quanto para os centros de ensino e pesquisa e para todo o Estado”, garante. Doutora em Zootecnia na Área de Produção Animal pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2003, Danielle Azevedo foi autora da primeira tese em Produção Animal no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. Atualmente, é editora científica da Revista Científica de Produção Animal. Ela explica que seu interesse por estudos com a raça Santa Inês se justifica em razão da baixa rentabilidade do animal para corte, devido, principalmente, aos baixos níveis de tecnologia. “A ovinocultura é uma atividade explorada em todos os continentes.

No Nordeste, em decorrência do sistema ultra-extensivo de criação, em associação às condições adversas do semi-árido, os ovinos sofreram uma seleção natural ao longo dos séculos. Esta seleção levou ao desenvolvimento de animais cujas principais características são rusticidade, boa capacidade de reprodução e pele de ótima qualidade, porém, tardios, de porte reduzido e carcaça inferior”, descreveu. Danielle Azevedo explica que poucos criadores têm atentando para este novo mercado consumidor. Prova disso é que, no Nordeste, apesar dos ovinos serem criados, principalmente, para produção de carne, a pele, a lã, o leite e o esterco têm funções complementares. A oferta de animais para abate origina-se basicamente de rebanhos não especializados, formados por animais de dupla aptidão, mal conformados para carne e de baixo rendimento de carcaça. “A qualidade da carne dos ovinos Santa Inês é comprovada. Os “pé duros” são ovinos sem padrão racial definido (SPRD), resultantes de diversos cruzamentos (ou acasalamentos) indiscriminados que levaram a animais de menor porte e maior adaptabilidade às nossas condições adversas, mas também menos produtivos e totalmente sem padrão de carcaça”, respondeu a pesquisadora sobre a hegemonia dos “pé duros” na região Nordeste. “Neste contexto, o incremento na eficiência de produção de carne ovina exige a seleção e a obtenção de animais com uma composição corporal dentro das especificações de mercado, o que está na dependência da precisão dos métodos utilizados, para identificar os animais superiores dentro de seus próprios rebanhos e na abrangência em que estes serão disseminados ao rebanho comercial”, pontuou.

Foto: Arquivo pessoal

Estudo desenvolve fita barimétrica inovadora para avaliação em ovinos

Fita barimétrica que mede a composição corporal de animal da raça Santa Inês Tentativas de melhoramento genético do rebanho ovino do Nordeste têm sido realizadas, do ponto de vista étnico, com a introdução de raças exóticas, como a Bergamácia, a Somalis e a Rabo Largo e, mais recentemente, Suffolk e Dorper. Entretanto, a tendência atual é o reconhecimento do potencial da ovinocultura nordestina, selecionando-se para isso os melhores animais dentro de raças e/ou tipos nativos já adaptados às condições da região semi-árida. Embora não exista um censo que estratifique por raças ou tipos nativos os ovinos existentes na região, estima-se que cerca de 80 a 90% do rebanho sejam de animais de raças deslanadas, padronizadas, tais como a Morada Nova, a Santa Inês e a Somalis. Dentre estas, a raça Santa Inês destaca-se, possuindo a maior população de ovinos controlados pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO). Apesar do seu alto valor adaptativo e reprodutivo, a raça Santa Inês ainda não passou por programas dirigidos de melhoramento genético, sendo a seleção dos m e l h o r e s exemplares baseada, principalmente, em

suas caracte-rísticas morfológicas, pouco correla-cionadas com as características de produção. Foram utilizados dados de 1.933 ovinos da raça Santa Inês de duas microrregiões do estado do Piauí, com o objetivo de avaliar a viabilidade de utilização do perímetro torácico para estimativa do peso vivo. Os animais foram agrupados quanto ao nível tecnológico de manejo, sexo e idade. Os valores aproximados entre peso vivo real e estimado para sexo e idade indicam que as equações de regressão mostram-se adequadas para estimar o peso vivo de ovinos Santa Inês com base no perímetro torácico, com elevados coeficientes de determinação. A correlação entre peso vivo e perímetro torácico foi superior (P<0,05) para ovinos machos em relação às fêmeas, sugerindo maior eficiência de seleção para peso vivo com base no perímetro torácico nos ovinos machos. A partir das equações de regressão obtidas, foram confeccionadas fitas barimétricas, agrupadas segundo o sexo, e estas foram validadas a partir de dados de 189 ovinos. Os maiores valores de correlação foram obtidos para ovinos machos dente-de-leite. “A barimetria é eficiente para estimativa do peso vivo de ovinos da raça Santa Inês no Piauí, a partir do perímetro torácico. Fitas barimétricas confeccionadas, a partir de equações de predição de peso vivo com base no perímetro torácico, considerando o agrupamento por sexo, podem ser utilizadas em substituição a outros equipamentos de pesagem, sendo mais eficientes para da animais da classeNorte dente*Pesquisadora Embrapa-Meio de-leite”, Parnaíba concluiu. dmmra@oi.com.br


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ENTREVISTA: Marco Antonio Zago

fotos divulgação

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Marco Zago

Zago diz que a estratégia do Plano de Ação do Governo favorece setores como: energia, segurança pública, saúde e semiárido

O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, Marco Antonio Zago, médico formado na Universidade de São Paulo (1970), cursou mestrado e doutorado (1975) em Clínica Médica e, por último, fez pós-doutorado pela Universidade de Oxford, Inglaterra. Entre as suas condecorações, recebeu comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2002, e GrãCruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2006. Pesquisador interessado nas doenças hematológicas de bases genéticas e nas alterações genéticas das doenças neoplásicas hematológicas. É um dos primeiros investigadores a utilizar métodos de análise direta de DNA para diagnóstico médico e para estudos de genética populacional humana no país. Mais recentemente, tem conduzido estudos sobre a contribuição de mecanismos genéticos às tromboses. Com 25 anos de atividade científica, produzindo uma obra bastante abrangente, descreveu um dos primeiros exemplos no mundo de extensa deleção do gene do fator VIII da coagulação, que resulta em forma grave de hemofilia A. Ainda na produção científica possui cerca de 180 publicações científicas, incluindo artigos completos, cartas, revisões, teses e artigos críticos, dos quais 161 estão listados no PUBMED da National Library of Medicine/NCBI. Em maio de 2007, seus trabalhos haviam recebido 1.830 citações, segundo o Web of Science. Entre os cargos e funções ocupados, Marco Zago é professor titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador 1A do CNPq. Diretor clínico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Divulgação Científica, que edita a revista Brazilian Journal of Medical and Biological Research, e seu editor, juntamente com LJ Greene e A Calixto. Atualmente, é membro do Comitê Gestor do Fundo Setorial de Saúde, da Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBio). Nesta edição que o Sapiência trata de um dos maiores programas de C&T que o Piauí já teve em toda a sua história; o DCR, em convênio entre CNPq e FAPEPI, Marco Zago é o nosso entrevistado. Ele fala sobre os programas que o CNPq e o MCT desenvolvem nas regiões brasileiras, os desafios para a C&T e para os pesquisadores do país e as parcerias com as FAPs que contribuem para a viabilidade das políticas de regionalização e expansão científica e tecnológica.

Sapiência - Os investimentos em C&T são compatíveis com o crescimento econômico do país? Marco Zago - Mesmo ainda não tendo alcançado o objetivo de investimento da ordem de 1.6 % do PIB em CT&I, é evidente que o aumento do PIB implica aumento conseqüente dos investimentos no setor. Assim, pode-se afirmar que os investimentos em CT&I têm crescido significativamente e são compatíveis com o crescimento e as possibilidades do país. Além do mais, o Plano de Ciência e Tecnologia institui mecanismos que devem aumentar a contribuição do setor privado para CT&I. Sapiência - O desenvolvimento do país está diretamente vinculado ao investimento em CT&I. Quais são, então, os setores prioritários para o CNPq, neste momento? Marco Zago - Como instituição vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e uma das suas principais agências executoras, os setores prioritários para o CNPq são aqueles expressos no Plano de Ação 2007/2010 do próprio MCT, que podem ser resumidos nos quatro eixos estratégicos que definem a Política Nacional de CT&I: 1) expansão e consolidação do Sistema Nacional de CT&I; 2) aceleração do desenvolvimento de ambiente favorável à inovação nas empresas; 3) fortalecimento das áreas estratégicas ao desenvolvimento nacional e, particularmente, energia, aeroespacial, segurança pública, saúde, defesa nacional, Amazônia e Semi-Árido; e 4) a popularização e difusão das ciências. Sapiência - O que está sendo feito e o que precisa fazer para preparar o sistema de CT&I para os próximos desafios?


ENTREVISTA: Marco Antonio Zago

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ago: desenvolvimento do país depende de investimento em CT&I Marco Zago - No nosso entendimento, o elemento essencial é a formação de uma massa de pesquisadores, técnicos e engenheiros de alto nível, o que vem sendo alcançado com a formação de cerca de dez mil novos doutores a cada ano, associada a uma política consistente de financiamento visando ao desenvolvimento de toda a cadeia do conhecimento relacionada aos diversos setores prioritários para o desenvolvimento científico, econômico e social. Sapiência - Quais os planos para incentivar a atividade de pesquisa e estimular o surgimento e a atuação de novos pesquisadores no país? Marco Zago - Além da ampliação da massa crítica anteriormente referida, alcançada pelo número significativo de bolsas e do financiamento da pesquisa nos diversos setores prioritários, é importante destacar também o esforço no sentido de se buscar corrigir as assimetrias regionais e setoriais. A correção dessas assimetrias é, pois, prioridade da Política Nacional de CT&I. Destaco dois aspectos fundamentais dessa política, que são a ampliação da participação do setor empresarial no esforço de desenvolvimento científico e tecnológico e o incentivo à colaboração do CNPq com os estados e Fundações Estaduais de Apoio à Pesquisa (FAPs). Sapiência - Como o CNPq percebe as diferenças regionais e intra-regionais, em termos de desenvolvimento e potencial econômico, de tal modo a contribuir com a redução das discrepâncias? Marco Zago - Alguns indicadores são utilizados nesse diagnóstico. Entre eles, os mais

significantes são tradicionais no sistema de acompanhamento e avaliação do sistema de C&T, tais como o número de pesquisadores/ doutores em relação à população, a produção científica e tecnológica, a capacidade de formação de novos recursos humanos, entre outras. Além de indicadores acadêmicos e científicos, a produção industrial, econômica e indicadores sociais como IDH são considerados no diagnóstico. A partir do diagnóstico é possível inserir medidas corretivas e discricionárias para se alcançar resultados de curto, médio e longo prazos. Assim, grande parte dos recursos hoje investidos em CT&I vem dos fundos setoriais, cujas leis de criação garantem que pelo menos 30% dos investimentos têm que ser aplicados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Marco Zago - Além da consolidação das parcerias existentes, buscando mecanismos de aperfeiçoamento na sua execução e explorando outras alternativas de atuação conjunta. Sapiência - Como o Senhor avalia a política de CT&I do MCT/CNPq para o Brasil, através das FAPs? Marco Zago - O CNPq tem papel decisivo na implantação dessas parcerias e, por isto mesmo e l a s conti-

Sapiência - As FAPs têm hoje um relevante papel de fomento à CT&I nos Estados; parcerias importantes com órgãos como a FINEP, a CAPES e o CNPq. Em sua avaliação, como fortalecer estas parcerias?

nuam sendo prioritárias. Além de fortalecer a política nacional, as parcerias com as FAPs viabilizam a implantação de prioridades específicas regionais, sobre as quais


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REPORTAGEM TERESINA - PI, JUNHO DE 2008

Os avanços da nanotecnologia no Piauí

Welter Cantanhêde da Silva*

Divulgação

De tempos em tempos ouvimos falar que a ciência avançou de tal forma que o homem passou a poder fazer coisas antes impensáveis. Foi assim com a criação da máquina a vapor, do microscópio, da penicilina, do avião e de tantos outros inventos que revolucionaram a existência humana. Vivemos agora os grandes avanços obtidos na

nanotecnologia, que vem revolucionar as relações produtivas atuais. Nano é um prefixo que quer dizer um bilionésimo de alguma grandeza. Um objeto com um nanômetro tem um bilionésimo de um metro (numericamente 0,0000000001 metro), isto é, algo muito pequeno, aproximando-se das dimensões dos átomos que formam toda a matéria que conhecemos. Para termos uma idéia, um simples fio de cabelo tem o diâmetro de aproximadamente 30.000 nanômetros. Já um átomo possui em média 0,2 nanômetros. É nessa dimensão pequeníssima que trabalha a nanotecnologia e a nanociência. O acesso a tal dimensão vem sendo facilitado após o desenvolvimento de uma tecnologia que permite ao cientista visualizar as dimensões muito pequenas, próximas do tamanho dos átomos. Desde 2001, o Brasil estimula oficial e diretamente as pesquisas na área, a partir da criação

de quatro redes brasileiras de atuação no segmento da nanociência e nanotecnologia. Após a posse do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criado o Programa de Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia, incluído no PPA 20042007 (Plano Plurianual, que determina o planejamento estratégico dos investimentos do país durante quatro anos). A nanotecnologia é extremamente importante para o Brasil porque a indústria brasileira terá de competir internacionalmente com novos produtos para que a economia do país se recupere e retome o crescimento econômico. De acordo com o professor de Química da UFPI e Doutor em Química Inorgânica, Welter Cantanhêde da Silva, tanto a Nanotecnologia como a Nanociência referem-se aos estudos e aplicações tecnológicas de objetos e artefatos que possuem dimensões físicas em torno de um bilionésimo de 1 metro (nanômetro), desta forma, novas propriedades químicas e físicas surgem se manifestando nesse nível molecular e com inúmeras linhas de pesquisa. A nanotecnologia vem sendo estudada no Piauí e apresenta resultados importantes. Por exemplo, o pesquisador Dr. Welter Cantanhêde, iniciou, a partir de 2004, um projeto dentro do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR) – convênio FAPEPI/CNPq – com o objetivo de caracterizar e estudar a reatividade de filmes nanoestruturados construídos a partir de complexos inorgânicos e polímeros sintéticos. Através do estudo inicial, o pesquisador já publicou dois artigos (Qualis A) e um capítulo em livro de

Catálise, concluiu a orientação de quatros iniciações científicas e um mestrado, foi premiado pelo comitê do CNPq como melhor trabalho e apresentação oral no XIV Encontro de Iniciação Científica da UFPI, em 2006 e revisou um periódico internacional no Journal of Organometallic Chemistry. A pesquisa de Welter estuda as estruturas bioeletrocatalíticas, ou seja, analisa a catálise heterogênea de moléculas biológicas como: a cisteína – um dos mais importantes aminoácidos que tem sido amplamente utilizado como suplemento alimentar, aplicações farmacêuticas e no tratamento de doenças de pele; a glutationa – tripeptídeo de ação antioxidante e desativação radicalar (radicais livres: responsáveis pelo envelhecimento precoce, mal de Alzheimer e câncer) e ainda o peróxido de hidrogênio, mais conhecido como água oxigenada, que se pode, por exemplo, verificar os níveis aceitáveis de peróxido para evitar a contaminação do leite. Welter afirma que os países de primeiro mundo investem intensamente em nanotecnologia. Entretanto, o Brasil precisa correr para superar etapas, mas os órgãos de fomento estão contemplando, aos poucos, esta área. Para o pesquisador, o desenvolvimento de uma universidade passa pelo incentivo à pesquisa e o programa DCR atinge este objetivo. “Outro ponto importante desse programa para a universidade é a formação de novos mestres e alunos de iniciação científica em áreas até então carentes, portanto, parabenizo o trabalho que vem sendo feito pela FAPEPI, através do professor Acácio Véras, que vislumbrou as pesquisas como promissoras e por isso tenho orgulho de ter feito parte da equipe que * Prof. Dr. do de Química da participou doDepto. programa”, conclui UFPI. Welter. welter@ufpi.edu.br

Fotos: Roberta Rocha

Da goma natural a biossensores, rumos da pesquisa bionanotecnológica

Carla Eiras

Outra pesquisa de destaque desenvolvida no Estado, através do convênio FAPEPI/CNPq do Programa DCR, é da Doutora em Ciências Carla Eiras, que aborda a nanotecnologia no estudo de preparação de filmes finos por meio de compostos nanoestruturados a base de polímeros condutores e gomas naturais. De acordo com a pesquisadora, a cada dia novas fronteiras são alcançadas com testes envolvendo filmes

automontados para as mais diversas aplicações. Os estudos com as gomas naturais e filmes fazem parte de uma recente área da ciência denominada de bionanotecnologia. A idéia de trabalhar com as gomas naturais na fabricação de filmes finos surgiu do interesse de se conjugar as propriedades destas gomas com as propriedades de outros materiais já estudados no desenvolvimento de

sensores e biossensores, além disso, buscou-se agregar valor a um produto com apelo regional. A pesquisadora Carla Eiras revela que “para a realização deste estudo foram coletadas gomas de árvores características da Região Nordeste tais como: chichá, angico, caju e a resina de almecega, numa colaboração com a UFC. As gomas foram utilizadas na preparação de filmes multicamadas, utilizando-se a técnica de


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Estes materiais interagem eletrostaticamente, resultando em uma estrutura tipo “sanduíche”. Uma característica importante observada pela equipe de Carla Eiras é a melhora acentuada na estabilidade de polímeros condutores ao serem intercalados com as gomas. Mesmo o projeto ainda em andamento, a pesquisadora considera que houve êxito ao se preparar filmes finos a base de gomas para aplicação em sensores e biossensores. “Sem dúvida alguma, a utilização das gomas naturais na formação de filmes finos para aplicação em sensores foi um marco para a pesquisa em nanotecnologia no Piauí, pois, com esses resultados, publicamos vários trabalhos em congressos nacionais e internacionais e ainda tivemos um artigo aceito num periódico internacional bastante conceituado o Biomacomolecules”, pontuou Carla.

automontagem, um processo simples e de fácil execução, mas bastante versátil uma vez que possibilita a conjugação de diferentes matérias de interesse”. Carla Eiras afirma que as gomas têm despertado relevante interesse devido à sua fonte de obtenção, natural e renovável, à sua biodegrabilidade e ao fato de suas propriedades mecânicas e de processabilidade serem semelhantes aos polímeros sintéticos, o que poderia resultar na substituição do material sintético pelo natural. A pesquisadora optou pela técnica de automontagem pela simplicidade dos aparatos, fácil acesso e baixo custo, além da possibilidade de gerar novas propriedades quando se trabalha com manipulação em escala molecular. A técnica consiste na deposição de materiais de cargas de sinais opostos sobre substratos sólidos.

Na prática, os filmes podem funcionar como sensores, ou seja, aumentar os limites e a sensibilidade de detectação de moléculas alvo e/ou células. Esses filmes podem, por exemplo, ser usados para se detectar herbicidas em lavoura ou mesmo ajudando no diagnóstico de patologias. Em recente trabalho, a equipe de Carla Eiras mostrou a aplicação de um filme automontado para a detecção de células de Leishmania chagasi, um parasita causador de Leishimaniose, assim, no futuro, novas drogas podem ser testadas anti-Leishimaniose neste sistema. É importante ressaltar ainda que a pesquisa possui caráter multidisciplinar e contou com a colaboração de vários laboratórios e instituições como o Lapetro, Universidade Federal do Piauí - Campus Teresina e Parnaíba, Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella (IDTNP) e a Universidade de São Paulo

– USP, de São Carlos. Carla Eiras declara que o projeto DCR foi o início de uma nova frente de trabalho bastante promissora dentro da UFPI que gerou e ainda está gerando muitos frutos no ambiente acadêmico com os projetos de mestrados que ainda estão em desenvolvimento no Centro de Ciências da Natureza da UFPI, sob sua orientação ou colaboração. “O programa DCR foi muito importante em minha formação profissional, com ele tive a oportunidade de sair de meu doutorado, vir para o Piauí e aqui, ao lado de grandes amigos, juntamos esforços num trabalho pioneiro para o estado e hoje começamos a colher nossos frutos, divulgando a ciência e a pesquisa desenvolvida neste Estado”, finaliza. * Profa. Dra. da UFPI - Campus Parnaíba carla.eiras.ufpi@gmail.com

Fotos: arquivo pessoal

Cultivo da melancia com irrigação por gotejamento

Cláudio Ricardo da Silva* A melancia é uma cultura com cultivo disseminado praticamente em todo Estado do Piauí, notadamente, sob regime de escassez de água. O município de Barras está entre os maiores produtores, principalmente nas áreas próximas ao rio Parnaíba. Como cultivos irrigados destacam-se os distritos de irrigação do DNOCS, em Parnaíba (Tabuleiros Litorâneos), Piripiri (Açude Caldeirão) e Guadalupe (Platôs), com áreas significativas de produção. A irrigação da melancia no Estado tem sido feita de maneira geral por sistemas (irrigação por sulcos ou aspersão convencional) que consomem muita água, apresentam baixa uniformidade de aplicação, podendo criar um microclima favorável a ocorrência de doenças fúngicas. Isto supondo, na melhor das hipóteses, que os projetos de irrigação foram feitos com critérios técnicos. E por que os produtores optam por estes sistemas? Muitas vezes, por tradição, economia, ou mesmo por desconfiança de métodos mais eficientes quanto à aplicação de água.

O sistema de irrigação por gotejamento foi o foco da pesquisa do Dr. Cláudio Ricardo da Silva, bolsista DCR/FAPEPI de 2005 e 2007. Com doutorado em Irrigação e Drenagem pela Universidade de São Paulo, seu projeto “Manejo de fertirrigação por gotejamento na cultura da melancia” obteve resultados positivos. Ele explica que nesse sistema, a água é aplicada de forma localizada (com baixo volume), com boa uniformidade e, em razão disso, pode-se aplicar o adubo juntamente com água, obtendo-se vantagens. O objetivo do projeto foi definir as doses ótimas de nitrogênio e potássio em combinação com a melhor freqüência de aplicação para aperfeiçoar a qualidade e a produção de frutos de melancia irrigada por gotejamento. “Entre as vantagens, há economia de fertilizantes (pela menor volatilização e melhor assimilação pelas raízes), parcelamento da adubação adequando às quantidades de fertilizantes, às necessidades da cultura e redução do gasto com mão de obra, que seria utilizada para aplicar o adubo na área se fosse feita de maneira convencional, haja vista que o tempo gasto no processo é bem menor e apenas um operador é suficiente, em muitos casos”, descreveu. Entretanto, como desvantagens deste sistema, o pesquisador explica que como o gotejador tem um orifício pequeno - e desta forma está sujeito a obstruções físicas seja ela proveniente da água de irrigação ou mesmo de resíduos do adubo -, se não for bem conduzido, pode-se perder todo o sistema. “Neste processo, tem que haver

um critério técnico bem maior por parte do produtor, se não os resultados podem ser desastrosos. Costumo comparar como que você trocar sua moto 125cc por uma moto 1000cc. Os ganhos podem ser fantásticos, mas é preciso ter cuidado”, explanou Cláudio Silva. “Neste experimento, fomos aumentando a dose de Nitrogênio (N) e potássio (K) e quantificando a produtividade (kg de fruto por hectare). Vimos que a produtividade aumentou linearmente até um valor, sendo que após este pico o aumento da dose de adubo começou a prejudicar a produtividade. Neste experimento, observamos diferenças significativas quanto ao

número de frutos formados, mas não observamos nenhuma diferença quanto ao tamanho e qualidade do fruto, a qual estava dentro de padrões normais para o consumo, para qualquer dose de N e K”, concluiu. Atuando como professor da UFPI no campus de Bom Jesus, Sul do Piauí, Cláudio Ricardo da Silva disse que o programa DCR/FAPEPI obteve êxito. “O projeto da melancia foi inovador, e procuramos divulgálo a nível local em forma de Dia de Campo, bem como através das publicações em periódicos”. *Prof. Dr. da UFPI- Campus Bom Jesus claudio@ufpi.br

Em campo: pesquisador faz análise do cultivo da fruta e compara métodos anteriores


TESES

10 TERESINA - PI, JUNHO DE 2008 Construtivismo - De Marco Teórico-Pedagógico a grife: um estudo a partir das mensagens veiculadas na internet

Cleânia de Sales Silva Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da UFPI Defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2006 cleania@ufpi.br

A pesquisa teve como objetivo apreender as representações sociais veiculadas on-line acerca do construtivismo. Este objetivo foi construído em face da inserção da teoria construtivista no meio educacional há mais de duas décadas e da sua consolidação como referência em diferentes contextos sociais, principalmente no midiático. Considerando a Internet como novíssimo espaço de comunicações sociais, portanto, campo privilegiado (e ainda não explorado) para estudos das representações sociais, elencamos este meio midiático como campo investigativo. A questão que direcionou o estudo foi: como esta teoria consegue penetrar em várias camadas sociais, influenciar as leituras de mundo e os comportamentos de diferentes pessoas? Que modificações ela sofre e qual o papel da Internet neste processo? O corpus da pesquisa constituiu-se das matérias sobre a teoria disponibilizadas na Internet, nas páginas em português da Google, no período de 27 de julho de 2004 a 17 de agosto de 2004. Os dados foram analisados com base no esquema de análise de conteúdo elaborado por Moscovici (1961) e nos pressupostos teóricos da comunicação social, em especial da hipermídia. Os resultados revelaram que a Internet participa de forma determinante na processo de popularização da teoria construtivista, não somente difundindo seus pressupostos teórico-metodológicos para o domínio público, mas propagando crenças e imagens positivas destes e utilizando-os a serviço de interesses políticos e financeiros. A popularização do construtivismo na Internet e as representações sociais veiculadas a respeito configuram um processo no qual a teoria passa de marco teórico-pedagógico para grife, assumindo um caráter comercial e o status de solução para os problemas da educação e da sociedade, incitando atitudes, no público em geral, que venham atender a interesses mercadológicos. Reconhecendo a diversidade e a versatilidade das informações on-line e do acesso a elas, chamamos atenção para a relatividade destes resultados, para o grande desafio que a hipermídia impõe ao estudo dos fenômenos comunicacionais, e, sobretudo, para a necessidade de novas pesquisas que investiguem as formas de socialização das informações na hipermídia e suas implicações na construção dos universos simbólicos e nas práticas sociais.

Propriedades Fotofísicas de Substituintes Aromáticos em Derivados da N-metil-1,8-naftalimida: uma correlação entre dados teóricos e experimentais Janildo Lopes Magalhães Bolsista do Programa Desenvolvimento Científico Regional FAPEPI/CNPq – UESPI/PI Defesa: Instituto de Química de São Carlos/U. de São Paulo, 2006 Janildo.magalhaes@gmail.com Os compostos N-metil-1,8-naftalimida (NI), 4-fenóxiN-metil-1,8-naftalimida (PNI) e 4-naftóxi-N-metil-1,8naftalimida (NNI) foram sintetizados e caracterizados por técnicas usuais de caracterização de compostos orgânicos. As propriedades fotofísicas desses compostos foram estudadas tanto no estado estacionário quanto resolvidas no tempo. Com base nessas medidas, verificamos que os espectros de absorção e de emissão apresentam deslocamento batocrômico quando os grupos fenóxi e naftóxi são introduzidos no anel naftalênico. Quando estes compostos são comparados com NI (não-substituído), os espectros de absorção apresentam deslocamentos de 27 e 28 nm e os de emissão de 50,2 e 65,4 nm para o PNI e NNI, respectivamente. Os compostos possuem altos rendimentos quânticos (=0,50-0,92) em solventes apolares e baixos em solventes polares apróticos e próticos (= 0,12-0,014), que pode ser uma conseqüência da estabilização do estado singlete (S1). A intensidade de emissão dos compostos em dioxano decresce com adição de água, e a supressão ocorre pela combinação estática e dinâmica em conseqüência de uma interação específica soluto-solvente. O caráter doador-retirador dos substituintes foi avaliado por voltametria cíclica, onde os substituintes fenóxi e naftóxi garantem um caráter eletrodoador aos compostos correspondentes (PNI e NNI), uma vez que apresentam, respectivamente, seus potenciais de redução mais negativos -1,187 e -0,985 V em relação a -0,829 V do NI. Numa tentativa de compreender melhor o comportamento desses substituintes, implementamos cálculos de DFT (Teoria do Funcional de Densidade). Estes sugerem que as propriedades fotofísicas dos compostos podem estar intrinsecamente relacionadas com as suas geometrias podendo assim explicar o deslocamento mais pronunciado na emissão em virtude de um maior grau de conjugação entre o grupo aromático substituinte e a naftalimida.

Ácido Abiético e (+)- Esclareolídeo como matérias-prima na preparação de um intermediário-chave e síntese de diterpenos labdânico com atividade Marinaldo Sousa de Carvalho Bolsista do Programa Desenvolvimento Científico Regional FAPEPI/CNPq – CEFET/PI Defesa: Universidade de Campinas/SP, 2007 mnaldo1@yahoo.com.br O ácido abiético (Fig.1) é um diterpenóide que pertence à classe dos abietanos e encontra-se como componente principal da resina de Pinus elliottiis, tem ampla aplicação na síntese de compostos biologicamente e farmacologicamente ativos. O objetivo do trabalho consistiu na modificação estrutural deste ácido e na preparação de um composto, denominado de intermediáriochave (IC), no qual permita obter a partir deste, compostos da classe dos labdanos e que apresentem alguma atividade biológica. Neste trabalho, IC foi obtido do (+)-esclareolídeo (Fig.2) comercial e dele foi realizada a reação de acoplamento com o furil-lítio para obtenção de derivados da classe dos labdanos. Foram sintetizados 52 compostos, 18 são inéditos. A maioria dos compostos sintetizados foi submetida a testes preliminares de citotoxicidade contra Artemia salina (indicador de possível atividade anti-tumoral perante algumas linhagens de câncer). Outro teste realizado foi o de inibição respiratória em Chromobacterium violaceum, essa bactéria é patogênica ao homem quando este se encontra em estado de imunodepressão. O terceiro ensaio realizado foi feito utilizando a enzima GAPDH de Trypanosoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas. Dos compostos submetidos ao teste de citotoxicidade, sete apresentaram resultados significativos, destacando-se com maior atividade o composto novo da Fig.3 (DL50 = 0,21 mg/mL). Nos testes de inibição respiratória em cromobactéria dois compostos (Figs.4 e 5) apresentaram boa atividade. Dos compostos submetidos aos testes de interação/inibição enzimática apenas o composto da Fig.6 apresentou inibição satisfatória diante da enzima GAPDH de Tripanosoma cruzi.

Composto reagente com enzima GAPDH de Tripanossoma cruzi

LIVROS

Márcia Cristina

Jornalismo, cultura e poder Autora: Ana Regina Barros Rego Leal R$ 30,00 350 páginas ana.rani@uol.com.br

O Nordeste na Reforma Psiquiátrica Autor: Lúcia Cristina dos Santos Rosa R$ 25,00 135 páginas luciacsrosa@yahoo.com.br

O livro dedica-se prioritariamente ao jornalismo, com destaque para o webjornalismo, que se sobressai dos demais temas com três capítulos. O enfoque são as relações de poder deste com as diversas esferas com as quais se relaciona como também, as questões éticas e a interferência mercadológica na redação. Discorre sobre outros temas relacionados à comunicação, como a história da propaganda política no século XIX e comunicação corporativa.

O objetivo do livro é processar um balanço dos avanços e das dificuldades do processo reformista em saúde mental na realidade dos estados nordestino, apresentando a realidade hospitalocêntrico, os avanços sintetizados no movimento denominado reforma psiquiátrica brasileira, bem com identifica os principais protagonistas deste processo em cada estado. Conclui que o processo que ocorre em cada estado é heterogêneo e singular, mas, os Estados que mais destaque ganhou neste processo em termos de pioneirismo foram: Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Cerrado Norte do Brasil

Palavra de Honra: Palavra de Graça

Organizadora: Larissa Barreto R$ 60,00 380 páginas www.useb.com.br O livro apresenta uma avaliação panorâmica dos principais elementos da biodiversidade, geologia, geoindicadores, hidrografia e uso do solo dos cerrados na região do rio Balsas, no sul do Maranhão. Subsidiado por diversos inventários detalhados de campo, o livro tem versão em português e em inglês, e é resultado de parceria entre a UFMA, UEMA, UnB e Embrapa Meio-Norte.

Letras em Revista Org. Curso de Letras da UESPI, Distribuição gratuita às bibliotecas, fundações e universidades públicas. 286 páginas prop@uespi.br Primeira revista de produção científica do Curso de Letras da UESPI reúne artigos de professores e alunos dessa e de outras Universidades, das áreas de Literatura e Lingüística. A diversidades de enfoques dá o tom e, além de entrevista com a professora doutora Regina Zilberman, traz análises de poesia ou prosa angola, portuguesa, piauiense, canção tropicalista, estudos semióticos, pragmática e outros que vêm fomentar necessário diálogo no contexto acadêmico. Apoio PQI/CAPES.

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Tópicos em Manejo e Fertilidade do Solo com Ênfase no Meio-Norte do Brasil Autores: Luiz Fernando Carvalho Leite, Francisco das Chagas Oliveira, Ademir Sérgio Ferreira Araújo 216 páginas R$ 30,00 luizf@cpamn.embrapa.br O livro traz contribuições de diversos pesquisadores sobre o tema “Manejo e Fertilidade do Solo”, enfatizando os resultados de pesquisas obtidos na região MeioNorte do Brasil. Os capítulos estão estruturados de forma a proporcionar uma leitura dinâmica e os assuntos têm importância para estudantes, produtores, técnicos, professores e pesquisadores que tenham interesse nesta área das ciências do solo.


REPORTAGEM

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Chistiane Mendes Feitosa* A pesquisadora Dra. Chistiane Mendes Feitosa, atualmente professora do campus da UFPI na cidade de Picos, Sul do Piauí, também foi bolsista DCR e permaneceu no Estado. O seu estudo, iniciado em 2005, sobre o “Monitoramento de Plantas do Nordeste do Brasil, visou à descoberta de novas substâncias inibidoras da acetilcolinesterase, enzima associada ao Mal de Alzheimer”. Após quase três anos de estudos e diante de resultados apresentados, a bolsista concluiu que as plantas medicinais utilizadas popularmente no Nordeste do Brasil, com resultado positivo diante da enzima acetilcolinesterase, são promissoras na busca do isolamento de inibidores da enzima acetilcolinesterase. Após isolamento, estes inibidores presentes nos extratos das plantas medicinais podem ser submetidos a testes mais específicos para auxiliarem no tratamento da doença. Em sua pesquisa no Programa DCR, no primeiro ano foi realizada uma coleta de mais de 30 espécies de plantas medicinais no Núcleo de Plantas

Medicinais da UFPI (NUPLAM). O objetivo principal foi selecionar extratos de plantas inibidoras da acetilcolinesterase, enzima associada ao Mal de Alzheimer. A doença de Alzheimer (DA) atinge pessoas de todo o mundo, é neurodegenerativa, atingindo inicialmente a memória, a capacidade de raciocínio e a comunicação. Com o passar dos anos, o individuo não consegue memorizar fatos recentes e não reconhece alguns dos familiares. O aparecimento da doença está associado à redução de neurotransmissores cerebrais, como acetilcolina, noradrenalina e serotonina. A doença não tem cura, o tratamento é sintomático e consiste na tentativa de restauração da função colinérgica; a elevação do nível da acetilcolina pode se mostrar útil na melhora da deficiência da aprendizagem, um dos sinais da doença. Testes de memória e um exame de Ressonância Magnética Nuclear são os primeiros procedimentos para detecção da doença, pois é observado perda de tecido cerebral. A Galantamina, alcalóide de plantas da família Amaryllidaceae é um produto natural considerado o mais efetivo no tratamento; apresenta menos limitações que fisostigmina e tacrina, substâncias já utilizadas no tratamento. Estes medicamentos, disponíveis no mercado a um preço elevado, tornam a busca de novos inibidores de origem vegetal, como plantas medicinais, uma alternativa interessante e viável. Atualmente, a Dra. Chistiane Feitosa desenvolve projeto na UFPI do programa PIBIC/UFPI de Iniciação Cientifica. O projeto tem como principal foco a pesquisa de novos compostos antioxidantes e inibidores da enzima

acetilcolinesterase direcionada para a doença de Alzheimer, a partir de plantas medicinais do Nordeste do Brasil A pesquisa segue a mesma linha anterior do Programa DCR. O projeto de iniciação científica é intitulado “Estudo monitorado de Plantas medicinais do Nordeste do Brasil, visando à descoberta de novas substâncias inibidoras da Acetilcolinesterase (AChE), enzima associada ao Mal de Alzheimer. Alzheimer e plantas medicinais antioxidantes, antiflamatórias e inseticidas”, no qual é orientadora da aluna Marina Maria de Oliveira do Curso de Biologia do Campus de Picos. “Neste trabalho, realizamos um screening, que é uma seleção de várias espécies, às quais foram submetidas ao teste para busca de novos inibidores através de extratos de plantas medicinais utilizadas na medicina popular do Nordeste do Brasil. De cada planta, foram elaborados três tipos de extratos: hexânico, acetato de etila e metanólico. Vários estudos têm demonstrado que o uso de compostos antiinflamatórios diminui a progressão da Doença de Alzheimer e a degeneração neuronal ou reduz o risco do seu desenvolvimento”, explicou. A pesquisadora informou também que estudos em animais têm mostrado que o acúmulo de radicais livres está relacionado ao déficit de memória, cognição e aprendizado, durante o processo de envelhecimento. Esses sinais assemelham-se àqueles observados na doença de Alzheimer. “Estudos epidemiológicos mostram que o consumo regular de produtos vegetais

Divulgação

Fotos: Márcia Cristina

Plantas medicinais são promissoras no tratamento do Mal de Alzheimer

Áreas cerebrais afetadas pela doença de Alzheimer ricos em substâncias antioxidantes diminui o risco e a incidência de diversas moléstias, pois inibe a formação de radicais livres. Pesquisas demonstram que o tratamento à base de anti-oxidantes corrige problemas relativos à memória, ao aprendizado e à cognição, provocados por envelhecimento ou moléstias”, descreveu. Esses compostos ajudam, portanto, na cura de doenças degenerativas. Diante desta realidade, “o projeto é viável e interessante pois busca, através de técnicas simples como cromatografias, o isolamento desses inibidores que futuramente poderão ser utilizados no tratamento da doença supracitada”, defende Chistiane Mendes Feitosa. Algumas espécies como Azadiractha indica (Neem indiano), Lippia sidoides (Alecrim Pimenta), Myracrodruon urundeuva (Aroeira do sertão); Bauhinia forficata (Pata de vaca) e Cenostigma macrophyllum (caneleiro) apresentaram atividades anticolinesterásica e foi comprovado, através de levantamento bibliográfico, as atividades antioxidante e antiflamatória dessas espécies. Sendo que essas atividades são importantes no tratamento da doença de Alzheimer. A Dra. Chistiane Mendes Feitosa teve recentemente o projeto de pesquisa aprovado sob EDITAL PRPPG-PESQUISA 02/2007, Programa Pesquisador da UFPI e já se encontra em desenvolvimento com plantas coletadas na região de Picos. O tema é “Extração de óleos essenciais de plantas medicinais aromáticas da região de Picos-PI e estudo da atividade anticolinesterásica e toxidade aguda em Artemia salina”, cujo estudo envolve plantas como caneleiro, babosa e outras. *Profa. Dra. da UFPI - Campus Picos chisfeitosa@gmail.com


REPORTAGEM

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Fotos: Arquivo Pessoal

Pesquisadores paulistas se fixam no Piauí e contribuem com pesquisas sobre caranguejo

João Marcos de Góes* Estudar o caranguejo é uma necessidade para o Piauí, uma vez que esse crustáceo é bastante numeroso na região litorânea do Estado, especialmente nos mangues do Delta do Rio Parnaíba, de onde sai o caranguejo que abastece os mercados locais e também do Ceará. Devido à cata e venda desordenada, levando a uma constante ameaça de extinção, há necessidade de conhecimentos aprofundados, de forma que garanta novas populações do crustáceo para gerações futuras. O Programa DCR/CNPq/ FAPEPI contemplou em 2004 duas linhas de pesquisa sobre esses animais, consumidos em bares e restaurantes do Brasil. Os estudos foram realizados no litoral do Estado. Uma das linhas tem como pesquisadora a Dra. Lissandra Corrêa Fernandes Góes, bióloga em Zoologia pela

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP de BotucatuSP que concluiu a pesquisa “Biologia e comportamento reprodutivo do caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) na região do Delta do rio Parnaíba, Piauí”; a outra é do Dr. João Marcos de Góes, doutorado em Ciências Biológicas pela mesma universidade e trabalhou com o monitoramento da estrutura populacional e crescimento relativo da mesma espécie. Para a FAPEPI, o programa vem cumprindo, de fato, o seu objetivo. Tanto que atualmente o Dr. João Marcos de Góes, pesquisadorbolsista da Embrapa, em Parnaíba, foi aprovado em 1° lugar em concurso para professor Adjunto da UFPIParnaíba, na área de Zoologia. Nesse período publicou vários artigos, livros e resumos em anais de congressos ou periódicos oriundos desse projeto. Além disso, obteve prêmio de melhor trabalho científico sobre nova ocorrência de três espécies de braquiúros no manguezal de Parnaíba e outro prêmio de melhor trabalho de iniciação científica. A Dra. Lissandra ressalta que entre os caranguejos coletados, 65% da amostra foram representada por machos, 31% por fêmeas e 4% por fêmeas ovígera. Pelos dados obtidos, ela explica que se pode inferir que o tamanho mínimo encontrado para fêmeas sexualmente maduras foi de 28,3 mm de LC (largura do cefalotórax); para machos este valor foi de 31 mm de LC. do Rio Parnaíba. Os pontos de coleta foram: o mangue de Parnaíba, Macapá, Cajueiro da Praia, dois pontos na Ilha das Canárias e Ilha do Caju. A pesquisadora declara ainda que “com base na presença de fêmeas ovígeras, foi possível estabelecer que o período reprodutivo da espécie estudada acontece entre os meses de dezembro a maio, sendo que a maior ocorrência de

fêmeas com ovos se dá em fevereiro, março e abril. Assim pode-se caracterizar esta espécie com uma reprodução sazonal, ou seja, o período reprodutivo ocorre em determinado período do ano e não ao longo do ano todo”. Ao final do terceiro ano de bolsa DCR, Lissandra Góes foi aprovada no concurso para professor substituto na UESPI (Parnaíba) e também atua como professora contratada pela faculdade FAP (Parnaíba). “O projeto DCR veio em um momento em que precisávamos de mudança em nossa vida profissional, uma vez que no Estado de São Paulo o mercado de trabalho está muito saturado. Acredito que o objetivo do programa tenha sido atingido, pois estou inserida no mercado de trabalho desta região e envolvida em projetos de pesquisa que certamente contribuirão para o desenvolvimento científico regional”, frisou, com satisfação. O monitoramento da estrutura populacional dos caranguejos coletados na APA do Delta foi o ponto central do estudo do Dr. João Marcos de Góes. Ele informou que a população apresenta uma tendência unimodal nas classes de tamanho, isso quer dizer que ocorre normalmente quando a população é estável na natureza, apontando que a taxa de mortalidade é semelhante à taxa de nascimento de novos indivíduos. “Podemos sugerir que até esse ponto o caranguejo-uçá mantêm seu desenvolvimento e sua estabilidade populacional. Novos estudos serão realizados para monitorar a estrutura da população na região do delta. Podese acrescentar que na época da desova uma fêmea pode liberar até 230.000 ovos em uma única desova. A abundância do caranguejo Ucides cordatus para a região do delta está em torno de 1,36 indivíduos por m2”. O pesquisador também avaliou a “andada”, uma denominação que as

Perfil do catador do Delta do Rio Parnaíba O objetivo de estudo do Dr. João Marcos de Góes dentro do projeto DCR foi observar também o perfil sócio-econômico do catador de caranguejouçá da APA do Delta do Rio Parnaíba, assim como verificar seu conhecimento sobre a biologia e a interação com o meio e leis de defeso dessa espécie. Vinte e seis catadores foram entrevistados no período de agosto de 2005 a julho de 2006. Todos eram do sexo masculino, com idade entre 16 e 51 anos, com tempo médio de 22 anos de profissão, catando aproximadamente de 51 caranguejos por dia durante a estação chuvosa e 83 na estação seca, e indo ao mangue geralmente quatro vezes por

semana. A renda média familiar mensal era R$ 291,00. Dos catadores, 92,3% afirmaram conhecer o período de defeso, porém, destes apenas 61,5% conheciam o período correto. Os catadores afirmam que os caranguejos se alimentam de folhas, raízes e brotos, e que seus principais predadores são o macaco-prego e o guaxinim. Entre eles, 69,2% perceberam a diminuição do tamanho do pescado e o aumento do esforço na captura. O estudo do conhecimento etnobiológico dos catadores pode servir de base para trabalhos que visem à preservação desse crustáceo, assim como para a conservação e exploração sustentável do seu ecossistema.

Expulsão de ovos durante a andada

comunidades litorâneas empregam ao comportamento que o caranguejo-uçá apresenta em determinadas épocas do ano, quando machos e fêmeas saem das tocas e caminham sobre o sedimento do manguezal com propósito reprodutivo. O objetivo deste estudo foi observar o comportamento do caranguejo-uçá durante a “andada” na APA do Delta do Parnaíba, e testar a hipótese de que as fêmeas têm a necessidade de subirem nas raízes para extrusão dos ovos, os quais, assim que são liberados, apresentam constituição pastosa, e o contato da água com os ovos recém-exteriorizados poderia causar danos e possíveis perdas. A conclusão desse estudo à hipótese levantada foi verdadeira e que a extrusão dos ovos em local seco é o principal evento que ocorre durante a andada.

Lissandra Fernandes Góes** *Prof. Dr. da UFPI - Parnaíba jmarg@uol.com.br **Profa. Dra. da UESPI e FAP - Parnaíba lissandragoes@uol.com.br


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