TERESINA - PI, DEZEMBRO DE 2009 • Nº 22 • ANO V
ISSN - 1809-0915
Mestrados de Agronomia e Meio Ambiente Programas de Pós-Graduação geram pesquisas e desenvolvimento para o Piauí
Moscas-das-frutas causam prejuízos em cultura da manga Págs. 4 e 5
Conhecimento da Biodiversidade do semiárido é ampliado com novas pesquisas Págs. 15 e 16
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Foto: Arquivo Pessoal
EDITORIAL
TERESINA - PI, DEZEMBRO DE 2009
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Produção de ciência e informação científica
resce o número de programas de pós-graduação no Estado do Piauí, ao mesmo tempo em que a economia e as condições climáticas e agroindustriais cobram respostas em níveis cada vez mais elevados de conhecimento técnico. Regiões que antes pareciam improdutivas passam a apresentar produtividade compatível ou, por vezes, até acima de outras com produção já bastante conhecida como resultado da intervenção de investimentos grandiosos que necessitam de profissionais qualificados. O desenvolvimento econômico produz um paradoxo: a transformação dos cerrados em região produtora de alimento, principalmente, à base de grãos, transforma a paisagem pela substituição da vegetação nativa, podendo daí derivar complicações com o meio ambiente. Ao mesmo tempo, as mudanças no clima global afetam não apenas a flora como também a fauna e o solo exigindo de gestores públicos investimento em novas tecnologias educacionais e de superação das condições adversas; das instituições de pesquisa e pesquisadores são exigidos resultados mais rápidos e seguros no que concerne à adoção de novas técnicas de manejo e de contraposição às atuais tendências socioambientais. É papel, então, das instituições
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de fomento à pesquisa, como a FAPEPI, ir-se associando aos empreendimentos que visem a atender a estas novas demandas em pesquisas de tal modo que as responsabilidades fiquem claramente demarcadas e sejam de fato capazes de corresponder às necessidades que o desenvolvimento socioeconômico e ambiental necessitam. Além dos aportes financeiros de amparo à pesquisa, a Fapepi entende que o compartilhamento do conhecimento técnico e dos experimentos científicos possa contribuir para que um número sempre crescente de pessoas participem do debate em torno das questões afeitas aos problemas atuais. Do mesmo modo, busca fortalecer a prática consagrada no campo da ciência de estimular a publicação de artigos e matérias que deem publicidade às soluções conquistadas pelo esforço dos pesquisadores, na busca de compreender as mudanças que ocorrem no mundo e propor ações de adesão ao que se comprove eficiente e necessário ao bem da vida no planeta. Esta Edição do Sapiência, em consonância com estas perspectivas, traz como foco principal os relatos do que vem sendo pesquisado nos programas de Pós-graduação stricto sensu em agronomia e meio ambiente. Por um lado, a pesquisa que se dispõe a contribuir com a exploração das riquezas de nosso estado, por outro, a investigações científicas que
nos alertam para os modos mais adequados de desenvolvimento sustentado e sustentável. Neste sentido, os cursos de mestrado, ao mesmo tempo em que se voltam para a formação qualificada de profissionais que devem corresponder às novas demandas que a realidade atual solicita, abrem perspectivas para o futuro de novos profissionais que antes teriam que sair para outros centros em busca desta qualificação. O Piauí, então, deixa de ser um ponto de partida de seus jovens promissores em busca de oportunidade e passa a ser um ponto de chegada de jovens vindos de regiões, onde não há ainda acesso aos cursos, especialmente, de mestrado. Somam-se a isto as oportunidades criadas em programas como o DCR, por exemplo, implantando no Piauí pela FAPEPI em convênio com o CNPq, em que doutores de outros centros são trazidos para trabalhar em nosso Estado gerando novos fluxos de interesse em áreas de pesquisa que antes não haviam por aqui. Esta inversão do movimento migratório de pessoas com objetivos e atividades científicos aponta para o início de uma nova realidade e um futuro bastante promissor para o nosso Estado. Laerte Magalhães
O que é ciência?
o seu diálogo Teeteto (todas a citações foram extraídas da tradução Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri com prefácio de José Trindade Santos. Gulbenkian (2005), Platão (427-347 a.C), coloca o jovem Teeteto, Felipe C. Marques conhecedor das Tupinambá* doutrinas gnosiológicas dos sofistas, especialmente da doutrina da ciência-sensação do grande Protágoras de Abdera (480– 410a. C.), a conversar com o experiente filósofo Sócrates (469-399a.C). O filósofo levanta a questão sobre a natureza do saber. Expõe-se, assim, talvez pela primeira vez explicitamente na Filosofia, o confronto entre verdade e relativismo. Platão procura desmentir a subjetividade gnosiológica dos sofistas, que afirmavam que os sentidos determinassem o conhecimento. Segundo Platão é possível chegar ao conhecimento através da razão. A filosofia seria então a busca da verdade, vontade de saber. Mas, o que é a ciência (saber)? Esta questão é proposta por Sócrates ao jovem Teeteto, que responde com uma honestidade digna de nota: “saber não é outra coisa que não percepção” (151e). Sócrates então diz que essa definição assemelha-se à opinião antes expressa por Protágoras, só que dita de forma diferente, já que este afirma que a “´medida de todas as coisas´ é o homem, ´das que são, enquanto são, das que não são enquanto não são´” (152a). Teeteto exprime assim o pensamento dos espíritos positivos: é real aquilo que se apresenta à experiência sensível, é verdadeiro aquilo que se oferece à nossa percepção imediata. Ele quer
dizer portanto que as coisas são como parecem a cada um de nós. “da maneira como uma coisa me aparece, assim ela é para mim, da maneira como ela te aparece, assim ela é para ti. Pois tu e eu somos homens” (152 a) “Não acontece por vezes, um de nós sentir um mesmo sopro de vento frio e outro não? E um sentir pouco frio e outro muito? (152b), deve-se admitir, portanto, que o vento nada é em sim mesmo, mas depende da pessoa que ele atinge, sendo portanto sensação. A concepção de Teeteto nos leva a teoria de Protágoras do homem-medida de todas as coisas, entendendo-se por homem o sujeito sensível, constelação de determinações particulares. Não se entende por homem portanto o sujeito racional capaz de organizar a realidade através de conceitos universais e necessários. O homem de Protágoras, seria portanto, um ser social reflexo dos condicionamentos culturais, situado sociopoliticamente, jamais puro, jamais neutro em sua forma de abordar as coisas. Cada um de nós assimilaria o real de forma particular e contingente. Na falta de uma medida absoluta, há uma multiplicidade de medidas relativas a cada particularidade (MANON, 1992). A tese do homem-medida de Protágoras é cética e subjetivista por princípio. A cada um sua verdade. E uma opinião não é mais verdadeira que outras, todas exprimem com a mesma autoridade as forças que as constituem. Assim, essa tese é inseparável de uma concepção de ser – o que chamamos na filosofia de ontologia – pois se a ciência é sensação, da forma com elas aparecem para a subjetividade empírica, assim elas são. A sensação é o verdadeiro, “ela tem sempre [em vista] um objeto real e não é possível o erro” (152c). O subjetivismo de Protágoras implica uma concepção de ser em que a realidade é reduzida às aparências. Ora, uma vez que
Nº 22 • Ano V • Dezembro de 2009 ISSN - 1809-0915 Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - FAPEPI Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092 Diretor Editorial Acácio Salvador Véras e Silva Conselho Editorial Acácio Salvador Véras e Silva Francisco Laerte J. Magalhães Welington Lage Editora Márcia Cristina Reportagens e fotos Márcia Cristina (Mtb-1060) Roberta Rocha (Mtb-1856) Revisão de texto Assunção de Maria S. e Silva Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Invista Publicidade (86) 3084.2019 Impressão Gráfica e Editora Expansão
as aparências não têm permanência, deve-se concordar com Heráclito (540–470 a. C.) que nada é, tudo se torna. Assim, Platão faz aparecer a equivalência das três teses: a) A tese de Teeteto da ciência-sensação; b) a tese de Protágoras do homem-medida de todas as coisas, e; c) a tese de Heráclito do mobilismo universal. Ora, como é possível uma ciência sobre tais fundamentos? Sócrates adverte que Protágoras, com sua tese faz “cada um de nós autosuficiente em relação à sabedoria. Ora, [e como explicar então que], sobre o melhor e o pior, alguns se distingam, sendo esses os sábios [?]” (169d). Pois, prossegue Sócrates, se o que parece a cada um é o que parece, então, “ó Protágoras”, como explicar que os próprios homens “pensem que existem, em si mesmos, a sabedoria e a ignorância?” (170b). Sim, pois quando a maioria dos homens ficam doentes, por exemplo, procuram um médico e não outro homem qualquer. Isto prova que reconhecem naquele mais saber do que nos demais, esperando inclusive serem salvos por ele. Conclui Sócrates, “acham que o saber é um pensamento verdadeiro e a ignorância uma opinião falsa” (170b). Ou será que Protágoras e seus seguidores negam “que ninguém crê que outro seja ignorante e tenha opiniões falsas [?]” (170c). Sócrates, portanto, no Teeteto, ao contrário de Protágoras, procura colocar ordem no saber, caracterizando a opinião como aparência e o saber como verdade, sendo a primeira atingida pelos sentidos e a segunda pela inteligência. * Prof. do Col. Agrícola de Floriano CAF/UFPI felipe_tupinamba@yahoo.com.br
Tiragem 6 mil exemplares Publicação Trimestral
Governador do Estado Wellington Dias
Presidente
Acácio Salvador Véras e Silva
Críticas, sugestões e contatos sapiencia@fapepi.pi.gov.br marcia@fapepi.pi.gov.br www.fapepi.pi.gov.br
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Arquitetura Verde
Maria Betânia Guerra¹, Maria Geni Moura², Sandra Selma Saraiva³
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o sudeste de Amsterdã, em 1987, foi construída a sede de um banco onde todos os escritórios recebem ar e luz naturais promovendo grande satisfação dos ocupantes no novo local de trabalho. Essa estrutura é caracterizada como um edifício orgânico, no qual se encontra a integração da arte com materiais naturais e locais, a luz do sol, as plantas verdes, a conservação da energia, o silêncio e a água. Em Davis, Califórnia, na década de 70, o Village Homes, um projeto habitacional com tipo misto de residências, cujas ruas estreitas fazem com que os carros reduzam a velocidade, permitiu menos pavimentação e maior sombra das árvores. É cercado por cinturões verdes com árvores frutíferas, zonas
agrícolas em meio às casas, utilizando uma drenagem natural do terreno, uma orientação solar adequada e abundante espaço aberto. Usam-se hortas e pomares orgânicos. Ali se tornou excelente lugar de moradia e o m² mais valorizado da cidade. Já no Novo México, um hotel de luxo de construção da década de 60, caracterizava-se como um caixote de aço e vidro, tendo sido transformado numa estrutura que imita o adobe. Na reforma, foram utilizados materiais de construção, mobília e elementos artísticos. Recursos locais foram incorporados através de materiais confeccionados por artesãos tradicionais. O restaurante do hotel utiliza os produtos da agricultura orgânica local. Os projetos acima indicados são uma fusão bem sucedida da eficiência de recursos, sensibilidade ambiental, atenção com o bem estar humano e sucesso financeiro e são concebidos como “projetos verdes”. Isso demonstra que os prédios verdes são competitivos, tanto no aspecto econômico como estético, além de terem flexibilidade no seu uso. A utilização de novos materiais, desenvolvidos com tecnologia sustentável, somados aos antigos, como terra batida, adobe e caliça, traz a vantagem de serem todos eles seguros, duráveis e versáteis, bem como de não utilizarem elementos tóxicos.
Com o aperfeiçoamento dos padrões de design, muitos projetos provam que a atual tecnologia de ponta pode produzir prédios comerciais capazes de atingir metas sinergéticas. As principais características desses prédios são usar orientação e forma física com o fim de melhor aproveitar a energia solar, desviar o calor e o vento indesejáveis e fazer o aproveitamento de sua massa térmica, a sombra, o acabamento das superfícies e da paisagem, no sentido de otimizar os ganhos em aquecimento solar e refrigeração passivos. O aperfeiçoamento do isolamento e da calafetagem, como também a utilização das superjanelas, ajuda no equilíbrio da temperatura do edifício. Quanto à iluminação, os sistemas modernos projetam a luz exatamente nas direções que banham o teto e as paredes, sem inundar o volume vazio da sala, eliminando as oscilações, o zumbido, a ofuscação, dentre outros, e produzindo cores agradáveis e precisas. Um dos fatores de economia foi a substituição das lâmpadas incandescentes e de mercúrio pelas de metal halogênio. O conforto pode ser complementado com a utilização de equipamentos de escritórios projetados para serem supereficientes também ergonomicamente. Os projetos verdes, além de economizarem cerca de 70% a 90% do
consumo tradicional de energia, oferecem benefícios econômicos adicionais e ainda mais valiosos, pois são vendidos e alugados mais depressa, oferecem conforto visual, térmico e acústico que se converte em pouco stress e alto desempenho, promove excelente qualidade do ar interior, o que aumenta a produtividade e reduz os riscos de enfermidades. Nas construções verdes, os construtores fazem questão de programar um processo de design altamente integrado, e uma das melhores maneiras de garantir tal coisa consiste em fazer um projeto conjunto. Os participantes colaboram em uma espécie de mesa redonda breve, intensa, multidisciplinar, orientada para o trabalho em equipe, a fim de assegurar que sejam captadas as principais idéias entre os elementos do projeto. Assim, tanto arquitetos como construtores devem estar atentos às novas formas de pensar, perceber e intervir na cidade, incorporando novos saberes e conhecimentos à prática da profissão. Professoras do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPI betaniaguerra@uol.com.br s3arquitetura@yahoo.com.br ² Profa da Faculdade de Arquitetura do Instituto Camillo Filho genibmura@terra.com.br
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Caprinos do Nordeste: Uma visão realista
Adriana Mello de Araújo*
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s primeiros caprinos chegaram ao Brasil na época da colonização. Os animais trazidos da Europa não tinham especificação de raça. Segundo historiadores, tratava-se de animais de pequena estatura e rústicos, para comerem pouco e sobreviverem durante o trajeto marítimo até a América. Durante anos convivendo com as condições adversas do sertão nordestino, estes animais que aqui se estabeleceram adquiriram características de adaptação e resistência ao calor. Assim sendo, tais animais formaram diversos grupos com características próprias, dando origem aos ecotipos nordestinos. O desenvolvimento destas raças locais deu-se mais através do isolamento genético e da seleção natural do que pela intervenção do homem. Desses animais, cinco ecotipos são citados: Moxotó, Marota, Canindé, Gurguéia e Repartida. Dentre estas raças, a Moxotó é a mais tradicional e é originária de Pernambuco com de registros desde 1977. As mais ameaçadas de preservação são os tipos Repartida e Marota. As características
principais inerentes aos tipos naturalizados de caprinos são a rusticidade, a prolificidade e a alta qualidade do couro. Nos últimos cinquenta anos, o processo de modernização da atividade agropecuária foi fomentado por agências de desenvolvimento regional que, utilizando enfoques reducionistas da realidade rural, apoiaram vários projetos oficiais, visando a incentivar de forma sistemática a importação de animais e material genético. Tais aplicações de recursos públicos aceleraram a erosão da biodiversidade caprina do nordeste brasileiro. Pesquisa - Pecuaristas que valorizaram a criação tradicional conservaram para o futuro animais ditos naturalizados, termo usado aos descendentes dos tipos trazidos ao País na época da colonização. No mundo científico, grupos liderados pela FAO iniciaram o processo de monitoramento da biodiversidade agropecuária ao constatarem o avanço no processo de erosão genética. A razão para esse esforço de conservação na Europa é manter a flexibilidade para atender a mudanças de demanda do mercado e do sistema produtivo. No Brasil, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia lançou o que hoje se denomina RENARGEN (Rede Nacional de Recursos Genéticos), abraçando e gerenciando vários projetos preexistentes nas Unidades descentralizadas da Embrapa. A Embrapa Meio Norte iniciou o primeiro núcleo de conservação do Piauí em 1980, no município de Castelo do Piauí. Nessa base física, a Unidade possui caprinos Marota, que podem representar o último grande rebanho desse ecotipo do Brasil. Em 2005, mais um rebanho foi incorporado ao
patrimônio da Embrapa Meio Norte o da Cabra Azul, ecotipo também fortemente ameaçado. A reserva estratégica de tal patrimônio, repositório de genes inerentes a rusticidade e adaptação, podem garantir a sobrevivência da atividade para os pequenos agricultores familiares. A avaliação do genoma de animais autóctones, pela sua caracterização molecular, fornecerá informação necessária a programas de melhoramento genético no futuro, com grande utilidade para o pequeno e médio produtor rural da região, fornecendo-lhe carne, leite e pele sem a necessidade de grandes investimentos. Sendo assim, a Embrapa Meio Norte consolida-se como uma importante instituição de pesquisa na conservação de recursos genéticos, principalmente, para a pecuária sustentável do semiárido. Atualidades - Hoje, com uma visão mais sistêmica do meio rural do Nordeste, vislumbram-se prejuízos ecológicos e sociais da perda da diversidade de recursos genéticos. Os sistemas de produção tradicionais, ecológicos e no âmbito da agricultura familiar são grandes beneficiários dos recursos genéticos autóctone, agregando valor social e ambiental aos produtos originários dos caprinos naturalizados. A possibilidade de agregar valor ao caprino, através de certificações de origem, acena com um futuro promissor para os ecotipos caprinos do Nordeste Curiosamente, observa-se um fluxo contínuo desse patrimônio genético para os rebanhos particulares. Os criadores do Nordeste começam a se mobilizar em associações de raças naturalizadas e algumas
feiras e exposições desses animais começam a aparecer no cenário do agronegócio. O preço de mercado de bons animais naturalizados chega a ser competitivos com o das raças importadas já estabelecidas, como a Anglonubiana. Tal mudança pode ser favorável para retirar os recursos genéticos do perigo de extinção, pois a preservação privatizada “on farm” é uma estratégia de conservação muito eficiente e autosustentável. Entretanto, o sistema de produção tradicional, quase absoluto em algumas áreas com restrições severas de acesso à água e alimentação, embora atingido pela onda de cruzamentos apregoada por agentes de desenvolvimento, está longe de não depender de recursos genéticos autóctones. Ao contrário, começa a haver uma deterioração completa de sistemas de produção até então recomendáveis, porém insustentáveis na sua aplicação. Assim, as pesquisas na área de melhoramento genético precisam avançar rapidamente para contornar essa falsa teoria de que a incorporação maciça de recursos genéticos geraria sistemas produtivos eficientes para o semiárido. Estudos avaliando a eficiência (inclusive econômica) dos sistemas de produção sustentáveis, com recursos autóctones melhorados para o semiárido, devem ser estimulados, como forma de garantir a sustentabilidade da produção e a conservação dos caprinos autóctones para todos. *Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte Doutora em Genética e Melhoramento adriana@cpamn.embrapa.br
REPORTAGEM
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Foto: Márcia Cristina
Programa de Pós-Graduação em Agronomia é um dos mais fortes no Estado
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endo um dos 19 programas de pós-graduação “stricto sensu” em nível de mestrado no Piauí, o de Agronomia é mais um desses programas a ser destacado nesta edição do Sapiência. Este Informativo já divulgou algumas das pesquisas desenvolvidas pelos programas de Ciência Animal, Educação, História, Letras, Políticas Públicas, Química e Saúde. Nesta edição, o destaque será ainda para o mestrado de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Os dois programas são desenvolvidos na Universidade Federal do Piauí (UFPI). Tanto o Programa de PósGraduação em Agronomia (PPGA), quanto o de Desenvolvimento e Meio Ambiente são reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O PPGA tem, entre suas metas, formar mestres que possam melhorar o quadro de pessoal qualificado tanto na universidade, quanto fora da instituição, aumentando o nível das pesquisas desenvolvidas nesta área, bem como o perfil dos profissionais no mercado de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento do Piauí nessa área. O programa tem contribuído também para a melhoria do curso de graduação e melhorando o quadro docente, que atualmente em toda Universidade, exitem 11 professores com pós-doutorado, 212 doutores, 335 mestres, para um total de 915 docentes. Somente no PPGA há 14 docentes no quadro fixo, sendo dois com pósdoutorado, além de 15 professores colaboradores. O mestrado em Agronomia é ligado ao Centro de Ciências Agrárias – CCA, situado no Campus da Socopo em Teresina, teve sua criação em 2003, representando uma evolução na história da pósgraduação do CCA-UFPI por tratar-
se do segundo curso recomendado pela CAPES. O coordenador, Prof. Dr. Luiz Evaldo de Moura Pádua, informou que o mesmo obteve conceito 3 na última avaliação da CAPES, no triênio 2004-2006 e pós-graduou 39 profissionais até outubro deste ano. Nos últimos três anos, a produção científica dos docentes diretamente envolvidos com o Mestrado consta de cerca de 40 artigos em periódicos e 118 trabalhos apresentados em congressos. O curso desenvolve projetos financiados pelo CNPq e CAPES através de projetos institucionais além de contar com auxílios individuais de pesquisa financiados por instituições da região como a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI), BNB-FUNDECE, e parcerias técnico/científicas mantidas com a EMBRAPA Meio Norte. Como já foi destacado em edição anterior do Sapiência, o CCA da UFPI ainda conta com Mestrado em Ciência Animal, o mais antigo do Centro, iniciado em 1999. Este, por sua vez, gerou a implantação do primeiro doutorado institucional da UFPI e também do Piauí. Um fato interessante com relação ao Mestrado de Agronomia é que uma de suas linhas de pesquisa da Área de Concentração, em função das suas especificidades, se desmembrou do programa e gerou um novo mestrado. Assim, foi criado um novo programa egresso do PPGA, o de Manejo de Recursos Genéticos Vegetais, em 2008. O coordenador do PPGA, Luiz Evaldo de Moura Pádua informou que essa subárea se tornou muito importante, daí a necessidade de um curso específico para a mesma. Com a mudança, a Área de Concentração em Produção Vegetal, que é a linha geral do programa, ficou dividida em três subáreas: Manejo
de espécies vegetais cultiváveis; Manejo ecológicos de artrópodes e fitopatógenos; e Manejo de solo e Água. Em nível de mestrado acadêmico, foi criado recentemente, no campus da UFPI na cidade de Bom Jesus, sul do Piauí, o Programa de PósGraduação em Agronomia - Solos e Nutrição de Plantas, que também é ligado ao CCA. Os estudantes do curso de graduação em Agronomia do Estado são privilegiados, pois após sua formação, poderão contar com três cursos em nível de mestrado somente na Área de Ciências Agrárias da UFPI e ainda dois doutorado, sendo um institucional e outro interinstitucional. Os profissionais que seguirão para o mercado de trabalho serão cada vez mais qualificados, tanto no lado acadêmico, quanto na iniciativa privada. “O CCA tem se revelado como um centro tipicamente voltado para a pesquisa. O seu corpo docente é qualificado e a constante preocupação da unidade com a qualificação de seus professores e produção cientifica é uma realidade. Neste sentido, a UFPI/ CCA mantém ainda um convênio com a Universidade Estadual Paulista (UNESP-Jaboticabal), no qual é desenvolvido um Doutorado Interinstitucional no âmbito do PPGA, que se constitui em mais uma oportunidade para a formação de novos doutores. Nele, temos doutorandos da UFPI, da UESPI e também da rede estadual de ensino”, destacou o vice-coordenador do Mestrado em Agronomia, Adeodato Ari Cavalcante Salviano. Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGA) (86) 3215-5753 ppga@ufpi.edu.br
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Técnicas de manejo mecanizadas no cerrado piauiense provocam degradação do solo
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Departamento de Engenharia Agrícola de Solos do Centro de Ciências Agrárias da UFPI tem realizado vários estudos voltados para uma área que desperta interesse de investidores no Piauí, os cerrados. Algumas dissertações sobre a região já foram apresentadas no Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGA) e tiveram artigos publicados em revistas de ciências agronômicas. O Prof. Dr. Adeodato Ari Cavalcante Salviano, orientador de algumas dessas dissertações, é um especialista no tema solo, cerrado piauiense, adubação orgânica, atributos físico e erosão. O destaque e o interesse por pesquisas na área do cerrado se dão pela importância que elas têm para essa área, considerada a última fronteira agrícola do Brasil. No Piauí, o cerrado ocupa mais da metade da área territorial, com mais de oito milhões de hectares, sendo cinco milhões agricultáveis. Os cerrados do Piauí têm características importantes que atraem os investidores, entre outras podemos citar: terras com preços competitivos, relativamente muito baixos, áreas com relevo plano a suavemente ondulado, com grande possibilidade de mecanização, solos fáceis de serem trabalhados fisicamente e regiões com precipitações pluviométricas adequadas para uma safra agrícola compensadora. O PPGA já tem publicado pelo menos três dissertações sobre o cerrado piauiense, entre elas a de Maria da Conceição Bezerra Martins, que apresentou estudo intitulado “Propriedade química em Latossolo Amarelo de Cerrado do Piauí sob diferentes sistemas de manejo” e a de Wilton Fontelene: “Atributos físicos de um Latossolo Amarelo sob sistemas de manejo no cerrado piauiense”, ambas sob orientação do
Prof. Dr. Adeodato Salviano, ambas publicadas em 2008. O cerrado está presente em toda região Sudoeste e parte do extremo Sul do Piauí. O Latossolo é a área com maior representatividade e potencial agrícola. No entanto, engana-se quem acredita que o solo desta região é rico. Na verdade, os estudos comprovam que o cerrado possui baixo estoque de matéria orgânica, principalmente pela retirada da vegetação natural. “De um modo geral, os solos
mecanização que pode provocar problemas de degradação física do solo, principalmente com o aparecimento de camadas compactadas e de grandes áreas de erosão”, declarou o Dr. Salviano. Para o engenheiro agrônomo Wilton Fontelene, é no Latossolo Amarelo onde ocorre a adoção de práticas de manejo inadequadas, provocando, assim, a sua degradação. “Os sistemas de manejo, plantio direto e preparo convencional, em relação às áreas de cerrado nativo ocasionam uma Foto: Arquivo PPGA
À esq., em baixo, o professor Adeodato Salviano (UFPI), Luiz Gonzaga Figueredo Junior (UESPI - Parnaíba); mestrandos Wilton Fontenele e Maria da Conceição Matias; Marcelo Moura e o estudante de graduação Aluizio Coelho, em amostragem de solo no cerrado.
de cerrados, do Brasil e, particularmente, do Piauí, por própria definição, são pobres em nutrientes de plantas e de acidez elevada. Mas, hoje, essa limitação pode ser resolvida com aplicação de calagem e de adubação. Portanto, em termos químicos a correção do solo pode ser realizada. É importante lembrar que em relação ao relevo e, conseqüentemente, a mecanização, os solos do Piauí são muitos bons. Muito cuidado deve existir com relação ao excesso de
degradação das condições físicas do solo, o que implica em se pesquisar melhores sistemas de manejo para a exploração mais racional do cerrado piauiense”, disse o mestre, que realizou o estudo na Fazenda Progresso, localizada no município de Uruçuí, no Sudoeste do Estado. No local, o pesquisador fez coleta de amostras do solo para as determinações da estabilidade, de agregados em água, densidade do solo e matéria orgânica. Os sistemas de plantio direto e plantio
convencional proporcionaram aumento na densidade do solo e redução da matéria orgânica, da estabilidade de agregados e da taxa de infiltração de água no solo quando comparados a áreas de cerrado nativo e área recémdesmatada. Com relação às condições químicas analisada também na região de Uruçuí por Maria da Conceição Bezerra Martins, os solos trabalhados apresentaram melhores condições dos que os de vegetação nativa, ou seja, as práticas de calagem e adubação, quando empregadas racionalmente, melhoram as condições nativas do solo. Em seu estudo, ela conclui que a substituição nativa pelos sistemas plantio direto e convencional melhora as propriedades químicas do Latossolo Amarelo do cerrado piauiense. Ela complementa que “o período de três anos não é suficiente para o sistema plantio direto promover aumento da fertilidade para o sistema de um Latossolo Amarelo em relação ao plantio convencional e que novos estudos em médios e longos prazos devem ser realizados para monitorar e ratificar os efeitos desse sistema conservacionista”. “Portanto, entendemos que os solos do cerrado podem ser trabalhados, mas é necessário se adequar a práticas de manejos que melhorem as condições físicas do solo. O uso indiscriminado de máquinas agrícolas, sem uma preocupação maior em saber da real necessidade destas, permite a degradação do solo. Usando-se da máxima “mobilizar o solo o tanto quando necessário, mas o mínimo possível”, esclareceu o pesquisador Adeodato Salviano. Adeodato Ari Cavalcante Salviano Prof. Dr. do Depto. de Eng. Agrícola e Solos – CCA/UFPI asalviano@uol.com.br
REPORTAGEM
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Foto: Arquivo Pessoal
Moscas-das-frutas um risco permane
Sávio Silveira Feitosa*
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Piauí possui uma área de plantação considerável de manga, sendo um grande produtor e até exportador da fruta no Brasil. Contudo, a presença de pragas, como as moscas-dasfrutas, tem provocado grandes impactos na cadeia produtiva, pois estes insetos fazem parte de um grupo responsável por grandes prejuízos econômicos na cultura da manga. As larvas, além de destruírem a poupa, facilitam a entrada de pragas secundárias e de patógenos, provocando redução da produtividade e qualidade dos frutos. O conhecimento da flutuação populacional e a época de maior ocorrência de uma
Foto: Divulgação
determinada espécie de inseto de importância econômica são requisitos indispensáveis para o estabelecimento de um controle eficiente e racional. Foi com o propósito de conhecer e estruturar a população de moscasdas-frutas em pomares cultivados no Estado do Piauí que o mestrando do Programa de PósGraduação em Agronomia da UFPI, Sávio Silveira Feitosa começou a produzir o estudo, intitulado “Análise faunística de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) em pomar com quatro variedades de manga no município de José De Freitas, Piauí”, dissertação defendida em 2007. A escolha do local se deu em uma fazenda de produção comercial (FRUTAN), que além de produzir manga das variedades americanas (Tommy Atkins, Keit, Kent e Palmer), possui extensa área de produção de limão Tahiti. A pesquisa levou em consideração a importância econômica das moscas-dasfrutas, bem como a adoção de programas efetivos de controle por parte das empresas produtoras de frutas, que sob o ponto de vista ecológico têm sido empregados estudos visando à
caracterização das comunidades de insetos de uma determinada área. Para conhecer a estrutura da população de moscas-das-frutas no município de José de Freitas, o pesquisador analisou os índices faunísticos de tephritídeos do gênero Anastrepha. A análise faunística da população de moscas-das-frutas na fazenda em questão revela que Anastrepha obliqua e Anastrepha serpentina apresentaram os maiores índices de frequência. A maior riqueza de espécies registrada é pertencente à variedade Kent, seguida das variedades Keitt, Tommy Atkins e Palmer. Foram instaladas armadilhas modelo McPhail no pomar para a captura dos insetos. Na análise, foi calculada a frequência, dominância, constância e riqueza dessa comunidade. A Anastrepha obliqua é a única espécie dominante e constante em pomar comercial de manga no município de José de Freitas. “O trabalho visou a registrar a flutuação populacional das espécies de moscas-das-frutas associadas a variedades de manga, bem como correlacionar a ocorrência das moscas com as médias mensais de temperatura, precipitação e umidade relativa, e também avaliar os atrativos alimentares utilizados na captura dos insetos”, explicou o Mestre Sávio Feitosa, que atualmente trabalha como engenheiro agrônomo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/Sede-DF). O estudo teve como orientador o Prof. Dr. Paulo Ramalho, do Departamento de Fitotecnia
O s p re j u í z o s p e l a ocorrência destas pragas refletem no m e rc a d o i n t e r n o e externo, o que sugere melhor monitoramento. do PPGA-CCA/UFPI. A fruticultura brasileira, atualmente, é considerada uma das maiores do mundo, no que se refere à produção de frutas frescas e área cultivada. Os avanços tecnológicos têm proporcionado crescimento da atividade agrícola no Brasil, especialmente no campo da fruticultura, onde a preocupação com a qualidade sanitária dos produtos tem sido um fator primordial, já que muitos deles são consumidos na forma in natura. Considerando esse mercado de exploração de frutos, a manga, o melão, o mamão, a uva e os citros são responsáveis por 78% da receita total das exportações nacionais, sendo que os principais concorrentes do Brasil são o México, para o mercado norte-americano, e a África do Sul, em relação ao mercado europeu, ressaltou o autor. Sávio Feitosa informou que o Estado do Piauí tem ótimas condições climáticas para a exploração de frutíferas, o que permite enquadrá-lo como produtor e exportador de frutas frescas, destacando-se a mangueira (Mangifera indica L.), pertencente à família Anacardiaceae, que apresenta uma grande variabilidade de cultivares e pode ser encontrada em toda a extensão territorial. Em
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ente em pomares de mangas no Piauí decorrência da expansão das áreas cultivadas, surgiram problemas fitossanitários e, dentre esses, a ocorrência de moscas-das-frutas. Os prejuízos refletem-se tanto no mercado interno, pela perda de frutos para a comercialização e, consequentemente, diminuição da oferta, resultando em aumento de preços; como no mercado externo, pela diminuição da quantidade exportada e, principalmente, pelas restrições quarentenárias impostas pelos países importadores. “As espécies mais importantes, sob o ponto de vista de danos, são Anastrepha obliqua e Anastrepha fraterculus”, informou. O monitoramento durou 52 semanas, quando foram capturados 176 tephritídeos, distribuídos em quatro espécies do gênero Anastrepha. As espécies encontradas foram: A. obliqua, A. serpentina, A. distincta e A. ethalea. A. obliqua e A. serpentina foram capturadas em todas as variedades estudadas, enquanto A. distincta, nas variedades Tommy Atkins, Keitt e Kent, e A. ethalea só foi encontrada na variedade Kent. As maiores incidências de moscas-das-frutas ocorreram nos meses de agosto e novembro de 2004 e maio de 2005. Essas incidências verificadas em agosto e novembro de 2004 foram proporcionadas em função da abundância de frutos maduros de todas as variedades de manga encontradas nesse período. No Piauí, as pragas das mangueiras necessitam de estudos que forneçam informações, para permitir a racionalização do seu controle, sendo que, com relação às moscas-das-frutas, as pesquisas ainda são realizadas de maneira esporádica, uma vez que o primeiro registro de espécies foi baseado em coletas ocasionais de insetos obtidos diretamente de frutos nas cidades de Teresina e Angical. O conhecimento da flutuação populacional e a época
de maior ocorrência de uma determinada espécie de inseto de importância econômica são requisitos indispensáveis para o estabelecimento de um controle eficiente e racional, pois permitem viabilizar o planejamento de estratégias de manejo mais eficazes. “As moscas-das-frutas são pragas importantes para o campo da fruticultura, pois seus danos são causados diretamente nos frutos, ou seja, na parte que se consome. Isso não significa dizer que as pragas que atacam a raiz, caule, ramos e flores não sejam importantes. As larvas dessas moscas, que se desenvolvem no interior dos frutos, são responsáveis por esses danos diretos, inviabilizando os frutos para a comercialização; é aí que os produtores entram, pois devem fazer o monitoramento dos insetos que estão associados aos seus plantios, principalmente se forem no campo da fruticultura. Por ser uma praga polífaga, as moscasdas-frutas têm relação com uma série de espécies frutíferas, como, por exemplo, manga, caju, mamão, goiaba, cajá, etc. Estas frutas são de ampla ocorrência no Piauí, havendo principalmente para as anacardiáceas (manga e caju), plantios comerciais, desde grandes propriedades como a FRUTAN, como os pequenos plantios dos agricultores familiares. Muitas outras espécies frutíferas são atacadas pelas moscas-das-frutas, entretanto, podem não ocorrer em regiões quentes como o Piauí, como, por exemplo, o pessegueiro, mais comum no Sul do pais. Por estes e outros motivos, esses insetos são bastante estudados no mundo inteiro”, destacou. *Engenheiro Agrônomo –Perito Agrário – Incra/DF savioeng@yahoo.com.br
Foto: Márcia Cristina
Manga: do Piauí para o mundo
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manga é originária da Índia, no continente asiático, onde é cultivada há 4.000 anos e integra a culinária local sob as mais diversas formas. O primeiro país do ocidente a conhecer a manga foi Portugal, na época da expansão do império naval português até o sudeste Asiático. Os portugueses disseminaram a cultura, inicialmente na África, depois no Brasil, que foi, assim, o primeiro país da América a cultivar a fruta. Historicamente, a produção de manga no Brasil foi feita de forma extensiva, onde era explorada principalmente em áreas esparsas e quintais de pequenas propriedades com a utilização de variedades locais. Somente a partir de meados dos anos 80 e estendendose por toda a década de 90 é que a exploração da cultura se tornou maior comercialmente. Modernas técnicas, como irrigação e indução floral, associadas a variedades americanas de alta produção, como a Tommy Atkins, Haden, Keitt, Kent, Palmer e Van Dike foram cruciais para a expansão da mangicultura no Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, de onde foram difundidas as novas variedades de manga para o restante do País, e nos pólos de agricultura irrigada do Nordeste. Nesta região, há incorporação de plantios tecnificados, principalmente no Vale do São Francisco, que abrange os Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, e em outras áreas irrigadas, como as dos Vales do Jaguaribe, Açu-Mossoró e Parnaíba, situadas nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, respectivamente. A cultura da manga adaptou-se às condições do Estado do Piauí e, hoje, assume um papel importante na sua economia. Seu cultivo é uma alternativa frutícola que tem atraído a implantação de plantios empresariais, visando ao mercado externo.
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ENTREVISTA: LUIZ EVALDO DE MOURA PÁDUA TERESINA - PI, DEZEMBRO DE 2009
Programa tem dado respostas para o setor primário
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Foto: Márcia Cristina
Sapiência – O Programa de Pós-Graduação em Agronomia tem se mostrado fundamental no nosso Estado, caracterizado por atividades econômicas primárias. Quais as maiores contribuições que os novos mestres têm dado em diferentes campos de atuação na agricultura, já que a linha de pesquisa central do programa é em produção vegetal?
Luiz Evaldo Pádua – O programa tem efetivamente dado respostas interessantes para o setor primário piauiense. Pesquisas têm se voltado para o aprimoramento da cultura do feijão Caupi, de grande expressão econômica para o Estado do Piauí, bem como trabalhos têm sido desenvolvidos na área da fruticultura (cajá, manga) e agricultura em geral, exemplificandose com a cana-de-açúcar. Por outro lado, é importante salientar que o mestrado é acadêmico e dessa forma muitas pesquisas básicas são conduzidas e proporcionarão respostas interessantes no futuro; essa é a razão de ser da universidade, estar à frente das investigações. Um exemplo da preocupação do PPGA é a busca do entendimento científico de como ocorreu o processo de degradação das terras em Gilbuéis (município ao extremo Sul do Piauí). Sapiência – Além das opções de mestrado e do próprio doutorado em Ciência
A n i m a l , o P ro g r a m a a i n d a desenvolve o Doutorado Interinstitucional (DINTER) em parceria com a UNESPJaboticabal. Como o Sr. observa essa troca de conhecimentos com outros professores de outros Estados? Luiz Evaldo Pádua – Absolutamente fantástica na medida em que as trocas de experiências com os professores da UNESP têm trazido para âmbito da UFPI ganhos extremamente significativos, uma vez que todas as pesquisas de Doutorado têm sido conduzidas no Estado do Piauí. Sem dúvidas isso representa um grande salto no desenvolvimento científico da UFPI e do Piauí. Sapiência – Apesar de o Piauí ser um Estado potencialmente agrícola, ainda não supera outros Estados neste setor, pelo menos em riqueza e investimentos. Com relação aos conhecimentos científicos aplicados no setor agrícola os piauienses têm obtido resultados importantes reconhecidamente? Cite exemplos. Luiz Evaldo Pádua – Não. Na realidade, a pesquisa se encontra em um nível que vai além da tecnologia que é empregada pelos agricultores piauienses. Somos um Estado pobre. Vejo a possibilidade em médio prazo de apresentarmos avanços nos sistemas de produção a nível de pequenos produtores, isso através do uso de tecnologias
Foto Ilustrativa
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGA) da UFPI, o primeiro programa em nível de mestrado na área existente no Piauí, Luiz Evaldo de Moura Pádua, possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do Ceará, especialização em produção Vegetal pela UFPB/UFPI, mestrado em Entomologia pela Universidade de São Paulo, doutorado em Ciências e pós-doutorado, ambos pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Associado II da Universidade Federal do Piauí. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Ecologia de Insetos voltada ao manejo Ecológico de Pragas, atuando principalmente nos seguintes temas: bioecologia, controle alternativo, manejo de ecológico de insetos associados às plantas cultivadas, plantas inseticidas e criação de insetos in vitro para uso em bioensaios. Colabora em programas de pós-graduação da UFPI pela sua vocação para a pesquisa em ciências e experiência em estatística e métodos quantitativos. Já foi Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e participou de pelo menos 20 bancas de mestrado e oito de doutorado.
as quais já dispomos. O grande produtor, esse sim, faz uso de tecnologias de ponta as quais, de certa forma, possuímos. Sapiência – A competitividade no CCA tende a ser cada vez maior. O aluno que termina a graduação sabe que precisa o quanto antes se pósgraduar para chegar competitivo no mercado. No entanto, será que o mercado consegue absorver tanta mão-de-obra qualificada? Luiz Evaldo Pádua – Claro. O único pré-requisito é que os nossos profissionais detenham a qualificação adequada. E isso estamos fazendo. Temos egressos ocupando lugares de destaque em todos os segmentos, em universidades do Brasil, além de ex-aluno fazendo doutorado em parceria (sanduíche) com a Inglaterra. Sapiência – Quais as contribuições que o mestrado têm trazido tanto a nível de universidade quanto para o crescimento da área no Piauí, como um todo? Luiz Evaldo Pádua – A riqueza de um povo está intimamente correlacionada com a geração e o acúmulo do conhecimento, e a Universidade Federal do Piauí tem feito isso com maestria nos últimos anos. Seu crescimento nesta área é incontestável. E PPGA não foge a regra geral.
ENTREVISTA: JOSÉ LUÍS LOPES ARAÚJO
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Mestrado preocupado com a exploração das riquezas ambientais
Sapiência – Como o senhor avalia o Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente nesses 07 anos de trajetória? José Luís - Em função da área de concentração do mestrado ser centrada no “Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste”, já contamos com 93 dissertações defendidas, às quais investigaram temas relacionados nos âmbitos socioeconômico, ambiental e da biodiversidade dos estados do Piauí e Maranhão, portanto, consideramos uma experiência exitosa na UFPI, pela sua preocupação com o futuro das formas de exploração de nossas riquezas. Sapiência – Quais as principais contribuições do Mestrado para o Desenvolvimento Regional? José Luís - Formação de pessoal qualificado para atender a crescente demanda do setor público e da iniciativa privada, por profissionais com conhecimento sobre a problemática ambiental, haja vista a Resolução nº. 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONOMA) obriga a solicitação de licenciamento ambiental por parte de todo empreendimento econômico utilizador de recurso ambiental, considerado efetiva ou potencialmente poluidor, junto ao órgão ambiental competente. Outrossim, forma profissionais capazes de elaborar e implementar projetos de intervenção, na perspectiva de proporcionar desenvolvimento com vistas a satisfazer as necessidades e anseios da geração presente sem comprometer o atendimento das necessidades das futuras gerações. Logo, a relevância de contribuição da UFPI, por meio do MDMA, enquanto instituição pública voltada para a produção e disseminação do
saber através do ensino, pesquisa e extensão, configura-se nesse retorno para a sociedade. Os resultados das pesquisas estão sendo divulgados por meio de artigos em periódicos Qualis-CAPES, livros, capítulos de livros e em eventos nacionais e internacionais. Desde 2006 estão sendo publicados livros pela Editora da Universidade Federal do Piauí (EDUFPI), contendo coletânea de artigos advindos das dissertações desenvolvidas no MDMA, com os títulos: Teresina: uma visão ambiental – 2006; Cerrado piauiense: uma visão multidisciplinar – 2007; Sustentabilidade do SemiÁrido – 2009 e Biodiversidade e Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste – 2009 (no prelo). Sapiência – O senhor acredita que o Programa está correspondendo aos avanços científicos e tecnológicos esperados e exigidos pela CAPES? José Luís - A CAPES realiza avaliações trienais, para definir o conceito de cada programa de pósgraduação. O MDMA ainda é jovem e continua no conceito 3, que possibilita o seu funcionamento com apoio financeiro das agências brasileiras CAPES, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) e da alemã Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD), por meio da concessão de bolsas de mestrado. Todavia, para atingir conceito mais elevado, faz necessário incrementar a produção intelectual dos corpos docente e discente em periódicos Qualis. No entanto, salientamos que não obstante esse contexto, o MDMA é reconhecido pela comunidade nordestina e
piauiense, possuindo grande inserção social e visibilidade. Sapiência – A CAPES, aprovou recentemente programa de Doutorado do qual o MDMA/ UFPI será integrante. Como funcionará o Doutorado e quais as suas linhas de pesquisa? José Luís - O Doutorado funcionará na modalidade Associado em Rede, integrado pelas instituições UFPI, UFS, UESC, UFRN e UFC, com sede nesta última. Essa categoria expressa que os doutorandos serão diplomados tanto pela Universidade sede, como pelas demais associadas na qual o aluno foi selecionado. Tendo em vista que a área de concentração é “Desenvolvimento e Meio Ambiente”, a geração de conhecimento embasa-se na matriz interdisciplinar, das abordagens críticas e sistêmicas voltadas para a construção de um desenvolvimento sustentável atento às necessidades regionais e às demandas reprimidas de qualificação de recursos humanos, constituindo-se em desafio para as ciências no contexto do Nordeste do Brasil, uma vez que o modelo de desenvolvimento ainda predominante na região se caracteriza pela degradação dos recursos naturais, da cultura e das condições sociais. Nessa, faz-se necessária a formulação e instauração de estratégias de desenvolvimento alicerçadas em alternativas tecnológicas inovadoras e de gestão do patrimônio natural e cultural. Destarte, em função dos objetivos a que se propõe, o Doutorado estabelece como linhas de pesquisa Planejamento e Gestão de Zonas SemiÁridas e Ecossistemas Limítrofes, e Ordenamento Te r r i t o r i a l e Gestão de Conflitos nos Ambientes Costeiros. Para a primeira turma,
com início em 2010, na UFPI serão disponibilizadas quatro vagas, sendo distribuídas pelos seguintes professores: Antonia Jesuíta de Lima, José Machado Moita Neto, Maria do Socorro Lira Monteiro e Roseli Farias Melo de Barros. José Luís – De que forma o Mestrado e o Doutorado podem influenciar na qualificação de futuros profissionais? José Luís - O Mestrado vem cumprindo seu papel na formação de profissionais competentes que estão desempenhando funções em diferentes esferas das administrações pública e privada, em órgãos relacionados ao ensino, planejamento, meio ambiente, assim como prestando serviços de qualidade na elaboração de projetos e/ou consultorias. O Doutorado será uma oportunidade dos egressos do mestrado aprofundarem suas pesquisas, visando a contribuir com a implementação do desenvolvimento regional sustentável.
Foto: Roberta Rocha
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osé Luís Lopes Araújo é coordenador do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA/PRODEMA/ UFPI/TROPEN) e possui graduação em Licenciatura Plena em Geografia na UFP (1977), mestrado na Universidade Federal de Pernambuco (1985) e doutorado na Universidade de São Paulo (1996). Atualmente é Professor Associado da UFPI e seus estudos estão mais ligados aos temas: sustentabilidade, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, pequena produção e preservação ambiental. Escreveu vários capítulos de livros, artigos, participou de mais de 40 bancas de Mestrado, sendo também orientador de alunos de Mestrado e Iniciação Científica. Nesta entrevista para o SAPIÊNCIA, ele ressalta os avanços do Programa de Mestrado que coordena e fala sobre a recentemente aprovação do Doutorado.
REPORTAGEM
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começou a ser construída em 1995, mas somente em 1999 é que começaram os trabalhos para a criação do Mestrado, com assessoramento da Rede PRODEMA e elaboração de uma proposta da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UFPI e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Em agosto de 2002, a UFPI ingressou na Rede PRODEMA, instituído como Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA/ PRODEMA/UFPI/ TROPEN). O MDMAtem como área de concentração o “Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste”, e as linhas de pesquisa são Biodiversidade e Utilização Sustentável dos Recursos Naturais e Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Desenvolve estudos e pesquisas centrados numa ótica eminentemente multidisciplinar, buscando a harmonização entre os objetivos sociais, ecológicos e econômicos do desenvolvimento em bases sustentáveis considerando as particularidades do Trópico Ecotonal do Nordeste. De acordo com o coordenador do Mestrado, o Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo, a linha de pesquisa Biodiversidade e Utilização Sustentável dos Recursos Naturais parte do princípio
A sustentabilidade orienta-se numa visão que contemple as relações entre sociedade e natureza, evitando impactos negativos... (PRODEMA) que atualmente envolve 08 (oito) universidades nordestinas e 07 (sete) cursos de Mestrado, todos voltados para a construção de um novo paradigma: “desenvolvimento sustentável”. A idéia de um curso de pós-graduação stricto sensu
de que sem a biodiversidade, enquanto dimensão, não há desenvolvimento, orientando seus estudos no sentido de interpretar como os recursos naturais podem ser utilizados, observando a capacidade de resiliência (excelência) dos ecossistemas. “A geração de saberes direcionados para a biodiversidade do Nordeste e das áreas Ecotonais do Piauí, terras secas e desertificação, e fragmentação de ecossistemas produzirá conhecimento técnicocientífico sobre os recursos naturais da região na perspectiva de conservação e utilização racional dos recursos naturais, subsidiando políticas de desenvolvimento sustentáveis”, destacou o coordenador. Já a linha de pesquisa Políticas de
Desenvolvimento e Meio Ambiente objetiva consolidar os esforços de compreensão das potencialidades econômicas dos recursos naturais do Meio Norte em perspectiva integrada com o desenvolvimento. A sustentabilidade do desenvolvimento orienta-se numa visão que contemple as relações entre Sociedade e Natureza, fundamentando modelos de desenvolvimento integrado, com a função de evitar impactos negativos sociais e ambientais predatórios, haja vista que os recursos naturais são um bem escasso. Nesse sentido, fez-se necessário estabelecer novos conceitos na relação sociedade-
Foto: Divulgação
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M e s t r a d o e m Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí – UFPI/TROPEN foi criado em 2001, implementado em 2002 e é vinculado ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Foto: Roberta Rocha
Criado doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
REPORTAGEM
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o meio ambiente, pode ser um potencial candidato ao curso. Ou o dirigido aos alunos recémgraduados, profissionais com experiência no mercado de trabalho, técnicos ou professores das redes públicas e privada, dos diferentes graus de ensino. Para o Prof. Dr. José Luis, enquanto os primeiros estão à procura de se qualificar para ingresso no mercado de trabalho, cada vez mais exigente quanto à capacitação dos profissionais; aqueles com maior tempo de graduação estão à procura de atualização de conhecimentos, para atenderem as demandas da sociedade
atual a qual exige uma formação continuada. Nos últimos quatro anos, a Rede PRODEMA estava trabalhando na proposta de um doutorado, o que foi alcançado neste final de setembro de 2009. Com a aprovação pela CAPES, o Programa de Doutorado Associado em Rede terá participação inicial de cinco Programas de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente ligados à Rede PRODEMA, pertencentes à UFPI, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Rio Grande de Norte
(UFRN), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e à Universidade Estadual Santa Cruz (UESC) de Ilhéus-BA. A área de concentração do doutorado instituído é Desenvolvimento e Meio Ambiente, com as linhas de pesquisa: Ordenamento Territorial e Conflitos dos Ambientes Costeiros e Planejamento e Gestão de zonas semiáridas e ecossistemas limítrofes. O início das aulas está previsto para o primeiro período de 2010, com a UFPI, oferecendo quatro vagas. Prog. de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (86) 3215-5535 mdma@ufpi.br
LIVROS As Diversidades do Envelhecer: Uma abordagem Multidisciplinar Organizadores: Ludgleydson F. de Araújo; Cecília M. R. G. de Carvalho e Virginia Ângela M. de L. e Carvalho 186 páginas R$ 39,90 udgleydson@yahoo.com.br O livro aborda reflexões sobre temas da velhice. Os textos, desenvolvidos por pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras, oferecem subsídios a todos aqueles que trabalham com o segmento idoso no sentido de estimular a escuta e a importância do processo de ressignificação do que é ser velho, envelhecer e envelhecimento; além de se constituírem referência para novas propostas de modelos de intervenção na área da Gerontologia.
Temas de Engenharia Civil
Educação e afrodescendência no Brasil Organizadores: Ana Beatriz Sousa Gomes e Henrique Cunha Júnior R$ 25,00 290 páginas anabeatrizgomes@yahoo.com.br Com a participação de pesquisadores de várias partes do Brasil, o livro apresenta textos que refletem sobre a prática pedagógica, o movimento negro e a educação escolar, a política de igualdade racial, a literatura e a cultura afrodescendentes. O leitor encontra registro de uma variedade de propostas educativas realizadas no sentido de valorizar a população negra, apontando para a necessidade de uma nova dimensão do pensar a história, a cultura e a educação brasileiras.
Da Academia a Rua: aspectos da formação do policial civil
Autor: Anísio de Sousa Meneses Filho R$ 60,00 496 páginas anisiomeneses@secrel.com.br
Autor: José da Cruz Bispo de Miranda R$ 15,00 304 páginas bispomir@uol.com.br
Este livro apresenta 348 questões comentadas de Engenharia Civil, abrangendo os temas mais explorados nos concursos públicos na área. Em linguagem simples e objetiva, ele condensa uma ampla gama de assuntos técnicos, permitindo uma eficaz revisão e atualização do conteúdo básico desenvolvido nas escolas de engenharia. Constitui, assim, uma valiosa ferramenta de estudo para os concursandos. O conteúdo do curso de graduação em Engenharia Civil é aqui apresentado na forma de questões comentadas, práticas e teóricas, enriquecidas com fartas ilustrações.
A obra analisa a relação entre os novos e antigos policiais civis no campo policial, em TeresinaPiauí, no período de 2001 a 2003. A tese proposta, por meio da análise de algumas questões - como, por exemplo, se a influência no comportamento dos novos policiais tem relação com práticas já estabelecidas nos distritos policiais, - busca apontar a compreensão da relação entre novos e antigos policiais em um campo de deteriorização dos valores éticos entre os policiais e de reprodução das práticas policiais tradicionais
Trabalho e desigualdades
Arquitetura Piauiense
Organizadores: Solimar Oliveira Lima, Francisco de Oliveira Barros Júnior e Valdenia Pinto de Sampaio Araújo Distribuição Gratuita 200 páginas s.olima@bol.com.br
Organizadora: Prof. Dra. Alcilia Afonso R$ 30,00 105 páginas kakiafonso@hotmail.com
Este livro reúne ensaios envolvendo diferentes autores (as), saberes, áreas e práticas, abordando temas pertinentes, no sentido de indicar caminhos para que as políticas públicas possam traduzir o direito ao trabalho às populações discriminadas. A obra trata de diferentes sujeitos excluídos: jovens, idosos, negros, mulheres, portadores de transtornos mentais e homossexuais, todos da cidade de Teresina - PI.
Este livro/caderno de desenhos resgata a produção arquitetônica piauiense através de desenhos, esboços e croquis de várias cidades piauienses realizados por alunos e ex-alunos da disciplina arquitetura brasileira 2, do curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento de Construção Civil e Arquitetura do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Piauí (DCCA/ CT/ UFPI) e que formam parte de um grupo de pesquisa intitulado ‘’Amigos do Patrimônio’’.
Foto: Divulgação
natureza, garantindo a preservação ambiental, diante das potencialidades para o desenvolvimento da região. Atualmente, o MDMA conta com 21 docentes, distribuídos entre permanentes e colaboradores e oferta, anualmente, 20 vagas. Ao todo já ingressaram no curso 141 alunos e possui 93 dissertações defendidas, sendo que, atualmente, conta com 39 alunos matriculados. Quanto ao perfil dos alunos, leva-se em conta dois aspectos: o enfoque interdisciplinar aberto às distintas formações de graduação, em que qualquer profissional que deseje aprofundar estudos na busca do desenvolvimento, respeitando
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Foto: Roberta Rocha
Estudo pioneiro aponta alto risco de conta
Paulo César Lima Sales*
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Foto: Arquivo Pessoal
m regiões rurais é comum a utilização de poços freáticos para abastecimento. Dependendo da
região, os poços freáticos são também conhecidos como: poço raso, poço cacimba ou cacimbão, poço caipira, poço amazonas, dentre outras denominações. Por serem alimentados por água de superfície os poços freáticos estão suscetíveis à contaminação dependendo da forma de sua construção e de seu manuseio. A falta dessas informações nas populações utilitárias dos poços as torna vulneráveis a doenças transmitidas por agentes patógenos que possam estar presentes na água. Dentre a grande variedade de microorganismos presentes na água dos poços, encontra-se o grupo dos oomicetos (Oomycota), conhecidos como fungos aquáticos. A diversidade e distribuição de oomicetos no Brasil ainda são pouco conhecidas, não havendo estudos relacionados aos impactos causados devido a sua presença em água para consumo humano.
As comunidades estão altamente suscetíveis a adquirir alguma patologia através d o m a n e j o inadequado da água. Nesse contexto, o biólogo Paulo César Lima Sales, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPI, sob orientação do professor Dr. Ribamar Rocha, desenvolveu uma pesquisa buscando conhecer a diversidade de oomicetos em poços freáticos em três povoados do município de Timon, Maranhão; bem como diagnosticar a vulnerabilidade das comunidades estudadas à doenças veiculadas pela água, por meio de parâmetros de potabilidade e conhecimento de seu manejo pelas comunidades estudadas. Oomicetos são organismos cosmopolitas presentes em uma grande variedade de ambientes, tanto aquáticos como terrestres. Estes organismos são
s e m e l h a n t e s fisiologicamente e morfologicamente aos demais fungos, tendo como principal característica possuir os esporos dotados de dois flagelos necessários para sua dispersão na água. Para o levantamento dos oomicetos, foram realizadas coletas de água e do solo marginal de 14 poços utilizando a técnica de iscagem múltipla com substratos celulósicos (semente de sorgo, epiderme de cebola e palha de milho), queratinosos (fios de cabelo e ecdise de cobra) e quitinosos (asas de insetos e exoesqueleto de camarão), distribuídos em placas de Petri esterilizadas que, após colonização dos substratos, são observados ao microscópio. Através da coleta foi possível isolar 17 espécies de oomicetos, sendo todas as ocorrências a primeira citação para o estado do Maranhão e três delas novas citações para a região Nordeste. Algumas espécies isoladas são parasitas de plantas ou animais, por isso, de grande interesse econômico. Estes organismos encontramse depositados na coleção de culturas do Laboratório de Fungos Zoospóricos, da Universidade Federal do Piauí. As águas dos poços também passaram por análises físicoquímicas e bacteriológicas para verificação da presença de coliformes fecais. As análises demonstraram que a água da maioria desses poços estava em desacordo com os padrões de potabilidade definido pelo Ministério da
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aminação por fungos em ‘poço cacimbão’ Foto: Arquivo Pessoal
Saúde. Paulo César avalia que o alto índice de coliformes fecais significa que deve existir alguma forma de contaminação desses poços. Através da observação direta das famílias durante a pesquisa e por meio de entrevistas, foi constatada que a vulnerabilidade das comunidades se torna mais evidente quando se analisa o manuseio da água, desde a sua coleta até o consumo. O pesquisador verificou que entre as famílias estudadas, apenas uma usava fossas sépticas, ou seja, a população sofre com a falta de saneamento básico, podendo ser fonte de contaminação para os poços. “As comunidades estão altamente suscetíveis a adquirir alguma patologia através do manejo inadequado da água. Por exemplo, constatamos que boa parte da população considera a coação da água como o único método de tratamento, mas sabemos que isso não é o suficiente. Para se ter uma idéia, apenas 07 famílias apresentavam filtros em casa e nenhuma citou a fervura da água ou a cloração como método de tratamento. O que torna a comunidade bastante vulnerável” enfatizou Paulo César.
Pesquisador fazendo a coleta da água e do solo marginal dos poços utilizando a técnica de iscagem
Foto: Divulgação
Imagem e gráfico do fungo Pythium Palingenes
Através da análise desses dados, o pesquisador está elaborando um folheto informativo a ser distribuído às famílias que tiveram seus poços como objeto de estudo. A intenção de Paulo César é estender esta campanha
educativa às escolas pra atingir as crianças como também garantir o apoio das associações da região a fim de contribuir para uma melhor qualidade de vida desta população. Desta forma, se a comunidade souber a melhor forma de como construir os poços e manusear a água corretamente ela estará tomando as medidas necessárias para se prevenir de doenças transmitidas por agentes patógenos veiculados através da água. O pesquisador explica que “medidas simples como filtração associada a cloração são suficientes para prevenir
parasitoses transmitidas pela água. Como não são conhecidos os impactos causados pela presença de oomicetos na água para consumo humano, as mesmas medidas utilizadas na prevenção de doenças veiculadas pela água são eficazes para inibir a presença de oomicetos, utilizando-se, assim, o princípio da prevenção”. Paulo acrescenta que os domicílios não atingidos por uma rede de distribuição podem seguramente usufruir da água provinda de poços freáticos, desde que os mesmos sejam devidamente protegidos de contaminação e se faça o manuseio adequado de sua água. * Biólogo e professor da Rede Pública Estadual de Ensino paulobiologo@hotmail.com
TESES
14 TERESINA - PI, DEZEMBRO DE 2009 Estudo Químico do Basidiomiceto Lentinus strigellus
Estratégias para prospecção e predição de peptídeos antimicrobianos
A climatologia da cidade de Teresina-PI: as variantes topoclimáticas dos espaços livres
Bartholomeu Araújo Barros Filho Professor do Instituto Federal do Piauí Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009 kaujo1@yahoo.com.br
Guilherme Dotto Brand Pesquisador DCR/CNPq/FAPEPI Defesa:Universidade de Brasília, 2007 gdbrand@gmail.com
Carlos Sait P. de Andrade Professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Defesa: Universidade Federal de Pernambuco, 2009 carlossait@yahoo.com.br ou carlossait@hotmail.com
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estudo químico do basidiomiceto Lentinus strigellus foi realizado através da investigação da produção de metabólitos secundários em diferentes meios de culturas, além da sua utilização em processos de biorredução de compostos carbonílicos pró-quirais (cetona e β-cetoéster). A partir de L. strigellus cultivado em meio de peptona foi possível isolar os benzopiranos 2,2-dimetil-6-metoxicroman4-ona, 4-hidroxi-2,2-dimetil-6-metoxicromano e 3R,4Sdihidroxi-2,2-dimetil-6-metoxicromano do meio líquido. Do micélio, foram isolados o alcalóide indólico echinulina e a antraquinona fisciona, ambos inéditos para o gênero Lentinus. Do microrganismo cultivado em Czapek, enriquecido com caldo de batata, foram isolados do meio líquido os mesmos benzopiranos produzidos em peptona, além de 3S,4Sdihidroxi-2,2-dimetil-6-metoxicromano. Quando Czapek foi utilizado como meio de cultivo, foram isoladas a panepoxidona e a isopanepoxidona. Células em crescimento de L. strigellus em meio de batata-dextrose foram investigadas, pela primeira vez, na biorredução estereoseletiva da acetofenona e nove derivados aromáticos, além das cetonas alifáticas ciclohexilmetilcetona, octan-2-ona, undecan-2-ona e do β-cetoéster 4-cloroacetoacetato de metila. A maioria das cetonas aromáticas foi convertida ao respectivo álcool de configuração S, em excessos enantioméricos superiores a 99%. Exceto para a undecan-2-ona, as cetonas alifáticas foram reduzidas enzimaticamente ao álcool de configuração S em elevadas taxas de conversão e excessos enantioméricos. O β-cetoéster 4-cloroacetoacetato de metila foi quimiosseletivamente reduzido ao álcool correspondente de configuração R, mas com excesso enantiomérico moderado. Palavras-chave: Lentinus strigellus, Basidiomiceto, Biocatálise, Álcoois quirais.
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s capítulos um e dois tratam da prospecção de peptídeos bioativos da secreção de Phyllomedusa hypochondrialis. Mais especificamente, o primeiro aplica técnicas proteômicas para o estudo de peptídeos relacionados à bradicinina (BRPs). Dezoito BRPs, assim como suas modificações póstraducionais, foram caracterizados por sequenciamento MS/MS denovo e experimentos de geração de imagens por MALDI em um fragmento de pele. Essas moléculas tiveram alta similaridade com as cininas plasmáticas de alguns mamíferos e répteis. O capítulo dois descreve a mesma aproximação metodológica para o estudo de peptídeos antimicrobianos da família das dermaseptinas. As estruturas primárias de sete moléculas foram obtidas por experimentos MS/MS de novo, degradação de Edman e sequenciamento de cDNA. Comparações foram feitas entre peptídeos e drogas comerciais com relação a suas atividades antimicrobianas e contra Leishmania amazonensis. Os capítulos três e quatro tratam do estudo da interação de peptídeos membrano-ativos com membranas modelo, com ênfase em sua categorização em grupos e predição de atividade. Dezessete peptídeos membrano-ativos foram sintetizados e tiveram suas interações com vesículas fosfolipídicas estudadas por diferentes técnicas biofísicas. Por esta aproximação ficou clara a existência de no mínimo cinco subgrupos funcionais de peptídeos membranoativos, sendo três desses grupos compostos por antimicrobianos. Também as relações estrutura e função são revistas de acordo com esta nova perspectiva. O capítulo quatro descreve a determinação de parâmetros termodinâmicos para a adsorção do mesmo grupo de dezessete peptídeos em vesículas fosfolipídicas. As isotermas de interação obtidas por calorimetria (ITC) foram analisadas pelo método de partição em superfície. Esse método é capaz de extrair das isotermas uma constante de afinidade intrínseca ao peptídeo (Kp), a qual exclui efeitos eletrostáticos, além de uma constante de afinidade aparente (Kapp).
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objetivo deste estudo é verificar as condições climáticas de Teresina-PI, através de uma avaliação das variantes topoclimáticas dos espaços livres, interligadas sistemicamente por fluxos de energia e matéria, consequência da complexa interação superfície terrestreatmosfera. Para os fins desta pesquisa, consideram-se espaços livres alguns parques ambientais urbanos, com evidentes variabilidades locacionais, implicando, por conseguinte, características naturais e/ou construídas, diversas entre si; constituem fatores climáticos importantes para compreender as variações dos microclimas da cidade, notadamente em relação ao comportamento de seus elementos. Dessa forma, a climatologia de Teresina é apresentada sob a ótica sistêmica, atentando-se para as suas interligações escalares com outras dimensões espaciais e climáticas, hierarquicamente inferiores e superiores. A Teoria Sistêmica de Ludwig Von Bertalanffy, a Teoria da Complexidade, de Edgar Morin, e a Teoria do Clima Urbano, de Carlos Augusto de F. Monteiro constituem as principais bases de referência, para um diálogo acerca da natureza complexa do clima urbano de Teresina, conforme demonstram os resultados obtidos pela pesquisa. Os dados coligidos resultaram de levantamentos empíricos, por meio de medidas climatológicas realizadas em campo, com o auxílio de termo-higrômetro e anemômetro digitais, focalizando os seguintes elementos: temperatura do ar; umidade relativa do ar; direção e velocidade do vento. Foram selecionados sete espaços livres de Teresina – cinco Parques Ambientais e duas Estações Meteorológicas –, sendo realizados levantamentos em temporalidades sazonais e horárias distintas. Constatou-se que o clima da cidade, compreendido pelo comportamento médio de seus elementos, não pode ser apreendido como totalidade, porque a variedade de nexos entre cada sistema escalar permite uma organização climática irrepetível noutro espaço ou noutro sistema. Logo, Teresina não representa apenas o estado médio de seus elementos no espaço, mas um compósito complexo de suas manifestações na cidade.
Metodologia para Modelagem, Validação e Programação de Controladores Lógicos Industriais Usando Statecharts Básicos
Validação do Harris Infant Neuromotor Test (HINT) para a Língua Portuguesa
História, Memória e deserto: os soldados brasileiros no Batalhão Suez (1957-1967)
Raimundo Santos Moura Professor UFPI / CCN Defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2009 rsm@ufpi.br ou raimoura@gmail.com
Grazielle Roberta Freitas da Silva Professora Adjunta/Enfermagem/UFPI Defesa:Universidade Federal do Ceará, 2009 grazielle@edu.ufpi.br
Manoel Ricardo Arraes Filho Professor e Pesquisador DGH-UFPI Defesa: Universidade federal Fluminense (UFF), 2009 ricardoarraes@uol.com.br
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om o advento da informática industrial muitos esforços têm sido realizados para o desenvolvimento de notações e semânticas usadas para classificar e descrever diferentes tipos de sistemas, sobretudo na fase de modelagem. Tais esforços fornecem a infraestrutura necessária para a solução de problemas reais de engenharia e a construção de sistemas práticos que visam, principalmente, o aumento da produtividade, qualidade e segurança de processos. Além disso, apesar de muitos estudos tentarem desenvolver métodos “amigáveis” para programação de controladores lógicos industriais, estes ainda são programados através de métodos convencionais no estilo tentativa e erro e, na prática, usualmente não existe documentação escrita para esses sistemas. Asolução ideal para este problema seria usar um ambiente computacional que permita engenheiros industriais implementar o sistema usando linguagens de alto nível e que obedeçam padrões internacionais. Baseado nessa perspectiva, esta Tese apresenta um procedimento para modelar a planta e o controle de sistemas com dinâmica discreta que incluem operações sequenciais, paralelas e temporizadas, usando o formalismo denominado Statecharts Básicos. A validação da metodologia foi realizada por meio de estudos de casos com exemplos típicos de aplicações da área de manufatura. O primeiro exemplo apresenta um controle sequencial para um etiquetador de peças e serve para ilustrar a dependência entre os dispositivos da planta. O segundo exemplo discute mais de uma estratégia de controle para uma célula de manufatura. O modelo da célula usada nos exemplos possui 72 configurações possíveis e, com um controle sequencial, a planta ficou restrita a 8 configurações, enquanto que com um controle paralelo, a planta atuou em 26 configurações diferentes, sendo, portanto, um controle menos restritivo. Por fim, foi apresentado um exemplo para ressaltar a característica modular da nossa metodologia. Neste exemplo, os sensores para identificação de peças presentes em cada posição da célula foram removidos, gerando a necessidade de alterações no modelo do controle para propagar as informações do sensor de entrada de peças para as demais posições da célula.
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bjetivou-se validar a versão do HINT para a língua portuguesa. Estudo metodológico, longitudinal, com amostra por conveniência consecutiva composta por 73 crianças e responsáveis atendidos no Centro de Desenvolvimento Familiar(CEDEFAM) em Fortaleza-CE, entre setembro/ 2007 e dezembro/2008. Executado em em 3 momentos. No primeiro, em idade de 3 meses e 16 dias a 5 meses e 15 dias, sendo aplicado o HINT por 2 avaliadores devidamente treinados. Em seguida, reaplicação do HINT, 2 e 9 dias após a primeira por um único avaliador. E a terceira, entre 8 meses e 16 dias a 10 meses e 15 dias, usando os mesmos critérios da primeira avaliação. Utilizou-se o programa SPSS® 13, para o cálculo psicométrico, respeitando-se os aspectos éticos. No concernente à confiabilidade interclasse, na primeira avaliação, mostrou o coeficiente Kendall tau b entre 0,501 e 1,00. Dos 21 itens, 4, 7, 12, 18, 19, 20 e 21 tiveram 100% de concordância. Na terceira, um item(item 6) não alcançou excelente concordância, e 15 obtiveram 100% de confiabilidade. Calculada a concordância do escore total, teve-se valor de 0,801(p= 0,001) e 0,898(p= 0,001) na primeira e terceira avaliação. No teste-reteste, os itens 4, 7 12, 18, 19, 20 chegaram a 100% de correlação, tanto entre os itens quanto entre as avaliações. Na correlação interitem, os itens 3, 6, 15, 16 e 17 apresentaram baixa correlação. Em contrapartida, os demais foram bons (itens 2, 5, 8, 9, 11 e 13) e excelentes(itens 1, 10 e 14). O escore total foi de excelente correlação interitem(α =0,913). Na correlação entre avaliações, o item 3(seguimento visual) e o 17(postura dos pés) apresentaram baixa correlação. Em contrapartida, os demais foram bons(itens 6, 13, 15 e 16) e excelentes(itens 8, 9, 10 e 21). O escore total foi de excelente correlação entre avaliações(α =0,954). Quanto à validade de critério, usou-se r de Pearson, entre os 2 instrumentos(HINT eAlberta Infant Motor Scale -AIMS), na primeira e na terceira avaliação. Na primeira, para o avaliador 1, verificam-se os seguintes resultados: r= - 0,673; e para o avaliador 2, r= -0,670. Na terceira avaliação, o avaliador 1 apresentou r= -0,512 e o avaliador 2: r= -0,523. Confirma-se validade e confiabilidade, mas sugere-se que o HINT seja aplicado em outras realidades/contextos.
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ste trabalho faz uma análise sobre a primeira Força de Paz da ONU, enviada para a região do Oriente Médio, compondo a UNEF (United Nations Emergency Force). Deste modo, o Exército brasileiro enviou ao Egito um Batalhão de Infantaria com efetivo acumulado de aproximadamente 6.300 homens (de janeiro de 1957 a julho de 1967), denominado de “Batalhão de Suez”, integrando a Força de Emergência das Nações Unidas I (FENU I), organizada com a finalidade de separar forças egípcias e israelenses. Neste estudo, o interesse consiste em reconhecer as impressões daqueles “homens de paz”, em um mundo de ódio secular e de identidades extremamente diferentes; e descobrir suas visões acerca do conflito, sobre a vida cotidiana do povo e da cultura de egípcios, palestinos e israelenses; enfim, resgatar a memória e a história da participação dos militares brasileiros. Para tanto, a análise foi realizada a partir do corpus de entrevistas com treze soldados piauienses, e também por meio de depoimentos de veteranos de outros Estados brasileiros, sobre si próprios, a realidade vivida e a cultura material que encontraram no contexto do processo de paz instaurado no deserto do Sinai, na Faixa de Gaza e em Jerusalém, durante a Missão de Paz. O estudo da História do Batalhão Suez foi realizado com base em documentos oficiais da ONU, dos Exércitos e da UNEF, tais como relatórios, ofícios, memorandos, mapas, correspondências etc., disponíveis nos arquivos do Exército e nos sites oficiais da ONU e do Batalhão Suez. A História Oral tornou-se fundamental no desenvolvimento inicial da pesquisa, posto que reconhecer os depoimentos como fontes históricas relevantes, construídas na relação entrevistador e entrevistado, é fortalecer e amadurecer uma concepção de história que problematiza os sujeitos “ordinários” e os significados que atribuem às suas experiências, expressos por meio de seus valores, atitudes e crenças; em outras palavras, sua subjetividade. Uma vez que se trabalhou com a História Oral, antes de tudo, como uma metodologia, as fontes orais foram pensadas não exclusivamente como fornecedoras de informações em si mesmas, mas como reveladoras de importantes significados da Missão para a paz na região e na vida de cada um dos entrevistados.
REPORTAGEM
15 TERESINA - PI, DEZEMBRO DE 2009
Prof. Dr. José de Ribamar de Sousa Rocha*
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Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta. Era de se esperar, portanto, que possuísse grandes coleções botânicas e zoológicas. De modo geral, existe uma lacuna muito grande no conhecimento da situação das coleções existentes no Nordeste. Estima-se que o Bioma da Caatinga inclua uma biodiversidade da ordem de mais de 20.000 espécies, entre animais, fungos e plantas. O conhecimento amplo e detalhado dessa biodiversidade pode levar à preservação do patrimônio natural através da conservação das paisagens, ecossistemas, espécies de plantas, animais e fungos e da variabilidade genética de suas populações, além de promover o desenvolvimento econômico e humano de maneira sustentável. O Projeto de Pesquisa em Biodiversidade – PPBio foi criado em 2004, pelo Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT com o objetivo de ampliar a base de conhecimento da biodiversidade brasileira. O Programa visa a articular a competência regional e nacional para que de forma planejada e coordenada se amplie o conhecimento da biodiversidade do semiárido e se dissemine esse conhecimento para diferentes setores da sociedade. O PPBio tem abrangência nacional e iniciou sua implementação nas
regiões da Amazônia e do SemiÁrido, tendo o compromisso de ser implementado em todas as regiões e biomas brasileiros. O PPBio do Semiárido vem dando continuidade aos estudos sobre biodiversidade iniciados pelo IMSEAR (Instituto do Milênio do Semiárido). Ele tem como objetivo articular atividades de instituições de pesquisa do Nordeste, buscando levantar e caracterizar as espécies de plantas, animais, fungos e microrganismos do semiárido, através de uma rede de inventários composta de 17 instituições, ampliando as coleções biológicas e caracterizando a biodiversidade regional por meio de estudos filogenéticos, populacionais e bioquímicos em grupos importantes da Caatinga. Previsto para 10 anos, o PPBio ampliará o conhecimento sobre a biodiversidade do semiárido, contribuirá para a manutenção e a modernização dos acervos biológicos do Nordeste e estimulará a formação e a fixação de pessoal qualificado, promovendo desenvolvimento científico e
tecnológico na Região. Devido à grande área incluída no semiárido - cerca de 800.000 km - foram escolhidas seis áreas de extrema importância biológica, cada qual representando uma das oito ecorregiões do Bioma Caatinga. Estão sendo realizadas expedições em cada uma dessas áreas para a coleta de fungos, plantas e animais (vertebrados e invertebrados). As áreas selecionadas que vem sendo inventariadas no projeto são: Buíque/Vale do Pojuca (PE), Dunas do São Francisco (BA), Raso da Catarina (BA), Senhor do Bonfim (BA), Seridó (PB/RN) e Serra das Confusões (PI). No Piauí, a Universidade Federal do Piauí-UFPI é a instituição integrante da rede de inventários do PPBio, através do Departamento de Biologia, envolvendo as áreas de botânica, micologia e zoologia. O curador/pesquisador do PPBIO na área de fungos, professor doutor José de Ribamar de Sousa Rocha, do curso de graduação em Ciências Biológicas e do mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, é responsável pela Coleção de Culturas de Fungos Zoospóricos e possui um acervo de mais de 100 espécies em meio de cultura (sob refrigeração e em temperatura ambiente); desidratadas (estruturas de resistência de Allomyces spp.); e em substratos orgânicos. A Coleção de Cultura de Fungos Zoospóricos da UFPI tem no acervo linhagens dos municípios da Bahia, do Rio Grande do Norte, cujas pesquisas foram realizadas ou estão em desenvolvimento no Laboratório de Fungos Zoospóricos. No Piauí, as linhagens são oriundas do Parque Nacional de Sete Cidades, Parque Nacional da Serra das Confusões, Floriano, Nazária e locais de Teresina, como Lagoa Azul, Parque Zoobotânico, Parque Ambiental da Floresta Fóssil às margens do rio Poti, Parque Ambiental do Encontro dos Rios, rio Parnaíba, Horta Comunitária da Tabuleta e
outros. Estas linhagens são catalogadas e referenciadas em bancos de dados com informações importantes sobre as espécies. Na prática, esses organismos de estudo são coletados a partir de amostras de água e solo dos locais estudados e são levados para o laboratório, onde é feito o isolamento e sua identificação. De acordo com o professor José de Ribamar, a Coleção de Culturas é um trabalho contínuo, pois como nem sempre será possível encontrar com facilidade esses microorganismos na natureza, estes estarão disponíveis já catalogados e purificados na coleção para estudos. Ribamar acrescenta que “a biodiversidade representa a riqueza para um país que possui uma grande variedade de organismos, onde esses têm um patrimônio genético que conta a própria história da vida e que podem ser utilizados em diversas pesquisas, aproveitando o potencial natural que apresentam para o desenvolvimento sustentável”. Algumas linhagens presentes na Coleção são de espécies raras. Por exemplo, Pythium palingenes, que foi relatada pela primeira vez, nos Estados Unidos, e redescoberta no Parque Nacional de Sete Cidades, no Piauí, 90 anos depois, como registra a tese de doutorado do professor José de Ribamar. Outras espécies encontradas no estado do Piauí são as primeiras ocorrências para o Brasil (Allomyces moniliformis, A. neo-monilformis, Aphanodictyon papillatum, Aphanomyces keratinophilus, Catenochytridium carolineanum, Pythiogeton
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Biodiversidade do semiárido: Projeto PPBio amplia conhecimento
REPORTAGEM
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do Norte/Nordeste. A Coleção teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do De um modo geral, nós Piauí - FAPEPI para realizamos pesquisas a sua instalação em 2006, através de um básicas, onde se coletam os projeto para aquisição de equipamentos. O organismos na natureza, total de investimento isolam, descrevem ultrapassou os oito mil reais e foi destinado e apontam possíveis para a compra de potencialidades destas destilador de água, refrigerador, filtro espécies de água, câmaraclara que, acoplada no microscópio, possibilita a dichotomum, P. utriforme) e quase iconografia (desenho do fungo para todas as outras espécies da Coleção documentação científica), dentre são os primeiros registros para o outros aparelhos. Nordeste brasileiro. “Encontramos O professor José de Ribamar diversos fungos zoospóricos que ressalta a importância da FAPEPI não tinham relatos de ocorrência no ao aprovar o projeto inicial, pois Brasil e, a partir da coleção, estamos com o investimento destinado à partindo para outros tipos de estudos, Coleção foi possível dar o suporte pois alguns desses organismos são necessário para a realização das potencialmente patogênicos a plantas pesquisas. “Através da FAPEPI e animais. Por exemplo, em uma foi possível obter equipamentos área de produção agrícola, fazemos para dar continuidade ao projeto o isolamento e o reconhecimento de implantação da Coleção de desses microorganismos; a partir Cultura no Laboratório de Fungos daí, saberemos a que tipo de Zoospóricos da UFPI”, destacou cultura eles podem ser patogênicos. Ribamar e complementou afirmando Assim, será possível fornecer que “a disponibilização de bolsas de orientação para os produtores Iniciação Científica Júnior (PIBIC sobre o manejo dessas culturas de Jr.) pela FAPEPI, além de incentivar forma a evitar danos provocados experiência em atividade científica por estes microorganismos que, para estudantes da rede pública, é um de forma natural, podem estar importante recurso para treinamento presentes no solo e na água. em micologia junto a Coleção de Outros, desses microorganismos, Culturas. Atualmente, o PPBio dá são importantes patógenos de apoio às atividades com a concessão peixes. Orientação de manejo em de bolsas para estagiários e na piscicultura é imprescindível na aquisição de equipamentos para a prevenção e controle desses agentes ampliação da Coleção”. da “saprolegniose” e de outras A Coleção de Culturas doenças em peixes”, explicou José permite a conservação de genoma, de Ribamar. preservando o patrimônio genético Atualmente, a Coleção e de parte da diversidade genética, consta com 143 linhagens de disponibilizando-o para estudos em diferentes grupos taxonômicos processos industriais, ambientais de fungos cadastrados e é uma e educacionais, contribuindo das poucas coleções de fungos efetivamente para o conhecimento zoospóricos do Brasil, pois existem da micota apenas três, sendo a única
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TERESINA - PI, DEZEMBRO DE 2009
brasileira. Para o professor, o estímulo ao estudo e preservação dos fungos zoospóricos incentivará a conservação do meio ambiente e o uso racional de seus recursos naturais, além de incrementar a formação de futuros profissionais preocupados com a preservação e o modo de utilização da potencialidade destes e de todos os organismos. A Coleção de Culturas dá suporte para a formação profissional como o desenvolvimento de estágios curriculares e de extensão. Pesquisas para elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) também são desenvolvidas por estudantes do curso de graduação em Ciências Biológicas da UFPI. Em nível de pós-graduação, são desenvolvidas pesquisas para produção de dissertações do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Os estágios em biologia de fungos zoospóricos e em ilustração científica são oferecidos regularmente, inclusive para estudantes de outras instituições. Quando o assunto são os resultados, José de Ribamar revela: “de um modo geral, nós realizamos pesquisas básicas, onde se coletam os organismos na natureza, isolam, descrevem e apontam possíveis potencialidades destas espécies. Assim, é dado suporte para estudos subsequentes. Outros
projetos podem ser desenvolvidos, como por exemplo, a indústria especializada (farmacêutica, química, alimentícia, etc.) pode pesquisar a produção de substâncias por estes organismos para novas aplicações, etc. Ainda não temos suporte para pesquisa avançada, mas, por outro lado, como o objetivo primordial da maioria de nossos projetos é o conhecimento da biodiversidade, então um dos resultados alcançados é, exatamente, termos um maior conhecimento do patrimônio da nossa diversidade biológica”. José de Ribamar ressalta que, a partir da Coleção, foi possível fazer um levantamento das espécies patogênicas representativas da micota zoospóricas do Estado do Piauí, organizar um banco de dados por linhagens de espécies de forma a preservar o genoma, além da produção de informações e divulgação desses resultados em periódicos especializados e em eventos científicos, como também no treinamento especializado para estudantes e profissionais. *Professor Doutor em Ciências Biológicas da UFPI rrocha@ufpi.br