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TERESINA -- PI, PI, JUNHO JUNHO DE DE 2010 2010 Nº Nº 24 24 ANO ANO VI VI TERESINA n

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ISSN 1809-0915

O potencial do babaçu Projeto Projeto de de pesquisa pesquisa cria cria arranjo arranjo produtivo produtivo local local do do babaçu babaçu ee amplia amplia conhecimento conhecimento para para inovações inovações tecnológicas tecnológicas

Identificados insetos que prejudicam desenvolvimento da cana-de-açucar Página 14


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EDITORIAL Inovações tecnológicas através do Babaçu I

ndiscutivelmente, as Universidades Públicas brasileiras e seus Institutos de Pesquisas deram um grande salto na melhoria da sua qualidade durante o Governo Lula. Isto é refletido na excelente produção científica destas instituições, basta observarmos a destacada colocação obtida pelo Brasil na produção de ciência, ocupando a décima terceira posição no mundo, sendo responsável por mais de 2% da ciência lançada no planeta. Por outro lado, continuamos extremamente carentes em inovação tecnológica. Ainda não conseguimos transformar a nossa grande produção de ciência em produtos inovativos nas empresas. Existe um distanciamento inaceitável entre o público (universidades) e o privado (empresas/indústrias) gerando perdas incalculáveis à sociedade. Esta afirmativa se confirma quando verificamos que os investimentos financei-

Ar tigo

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atmosfera terrestre é formada por uma película de gases naturais que permite a passagem da radiação solar, e absorve grande parte do calor emitido pela superfície aquecida da Terra, formando assim, o efeito estufa natural, fenômeno de essencial importância para a manutenção da vida na biosfera. Os gases da atmosfera, inclusive Eliana Morais o dióxido de carbono (CO2), agem de Abreu* como uma membrana protetora que impede que o calor absorvido da irradiação solar escape para o espaço exterior, mantendo um estado de equilíbrio térmico sobre a superfície terrestre durante o dia e a noite. Embora a quantidade de CO2 que existe permanentemente na atmosfera seja relativamente pequena, ela é muito importante para manter a temperatura da superfície terrestre constante, via efeito estufa. Porém, este fenômeno é garantido tanto pela presença do CO2, como pelo vapor de água e de outros gases que mantém a Terra aquecida, de modo a propiciar condições favoráveis para a continuidade da vida. Por analogia, vamos entender o mecanismo do efeito estufa. Considere um carro exposto ao sol com os vidros fechados. O vidro ao permitir a passagem da luz do Sol, vai acumulando calor no interior do carro, que fica cada vez mais quente, formando uma estufa. Assim, pelos princípios da física, quanto maior for a concentração de

ros em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) no Brasil representa apenas 1,1% do seu PIB, enquanto que os chineses aplicam 1,4%. O Fundo Verde-Amarelo dos Fundos Setoriais tem sido um dos meios pelos quais o Governo Federal tem estimulado a interação Universidade/Empresa a melhorar e assim corrigir este grave erro. Outro importante marco neste caminho tem sido a criação de um arcabouço legal (Lei de Inovação, 2004; a Lei do Bem, 2005 e a Lei Rounet da Pesquisa, 2007) mais propício à cultura empreendedora e de inovação no Brasil. O Sapiência, neste número, traz um dos projetos aprovados pela FAPEPI que representa muito bem esta preocupação governamental. A FAPEPI (Governo estadual) em parceria com a FINEP (Governo Federal) estão investindo mais de seis milhões no Projeto de Pesquisa intitulado “NÚCLEO INTE-

RINSTITUCIONAL DE ESTUDOS E GERAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS PARA O FORTALECIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO BABAÇU” – GERATEC. Trata-se de um de um projeto interinstitucional envolvendo UESPI, UFPI e IFPI, objetivando desenvolver ações voltadas para o atendimento das demandas de Inovações Tecnológicas das atividades produtivas do agronegócio do Babaçu no Estado do Piauí. Através deste projeto estamos tendo grandes investimentos em estruturas físicas de laboratórios e na compra de equipamentos possibilitando aos pesquisadores condições necessárias para realização de pesquisas científicas e tecnológica cujo objetivo é transformar o coco babaçu natural, que possui baixo valor agregado, em novos componentes tecnológicos com alto valor econômico. Acácio Véras

Entendendo o efeito estufa gases, maior será o aprisionamento do calor. Portanto, mais alta será a temperatura. Assim também funciona o efeito estufa natural. Ali, os gases naturais, incluindo o CO2, se acumulam na atmosfera agindo como um obstáculo que impede o calor proveniente do Sol de sair da atmosfera. Com isso, a temperatura do globo terrestre se mantém constante, favorecendo a existência das diversas formas de vida. Por ser um processo natural e equilibrado, sua ação é bastante benéfica ao meio ambiente. Por outro lado, a liberação na atmosfera de outros gases como metano, óxido nitroso e clorofluorcarbonos, de forma contínua e excessiva, provoca o efeito estufa maléfico. O aumento da concentração dos gases estufa na atmosfera funciona como um isolante por absorver uma parte da energia irradiada pela Terra. Assim, mais calor fica retido na atmosfera e o planeta se torna cada vez mais quente, reduzindo as possibilidades de sobrevivência de muitas espécies. Apesar dos clorofluorcarbonos, em passado recente, terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a utilização destes gases, visto que eles contribuíram para agravar o efeito estufa e provocar a destruição da camada de ozônio que protege a Terra contra os raios nocivos do sol. Mesmo assim, atividades como a indústria, a agricultura e os transportes públicos continuam liberando os gases de efeito estufa para a atmosfera. Estudos comprovam que a queima de combustíveis fósseis aliada ao desmatamento, ao longo dos últimos cem anos,

intensificaram a concentração de CO2 na atmosfera com reflexos no aumento da temperatura da terra. Nesta perspectiva, o aquecimento crescente da superfície terrestre vem alterando o clima, resultando em frequentes ondas de calor e enchentes, no avanço do mar sobre o continente, na perda de habitats e da biodiversidade, com reflexos negativos na produção agrícola e na qualidade das reservas de água. Para combater a intensificação do efeito estufa, em 1997, foi ratificado o Protocolo de Kyoto, tratado internacional em vigor desde 2005, que estabelece compromissos para a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa. Diversos países, inclusive o Brasil, ratificaram este tratado, menos os Estados Unidos, o maior emissor destes gases, do mundo. Embora alguns países em desenvolvimento já utilizem tecnologias limpas e renováveis, a concentração dos gases estufa na atmosfera ainda é alarmante. Daí a urgente necessidade de se combater o efeito estufa por meio do uso sustentável de combustíveis alternativos, da reciclagem de materiais e da eficiência energética. Em suma, o efeito estufa natural é um fenômeno essencial para a manutenção do equilíbrio térmico e da vida na Terra. No entanto, sua ação quando relacionada com o aumento artificial e desproporcional dos gases do efeito estufa na atmosfera pode desencadear mudanças dramáticas no clima, com graves consequências socioambientais.

AO LEITOR PARA CRÍTICAS, SUGESTÕES E CONTATO:

EXPEDIENTE

sapiencia@fapepi.pi.gov.br - marcia@fapepi.pi.gov.br - www.fapepi.pi.gov.br OU PELOS TELEFONES: (86) 3216-6090 - Fax: (86) 3216-6092 Nº 24 Ano VI Junho de 2010 ISSN - 1809-0915 Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - FAPEPI PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

DIRETOR EDITORIAL Acácio Salvador Véras e Silva CONSELHO EDITORIAL Acácio Salvador Véras e Silva Francisco Laerte J. Magalhães Wellington Lage REVISÃO DE TEXTO Assunção de Maria S. e Silva EDITORA Márcia Cristina

REPORTAGEM E FOTOS Márcia Cristina (Mtb -1060) Roberta Rocha (Mtb - 1856) IMPRESSÃO Grafiset Gráfica e Editora TIRAGEM 9 mil exemplares PROJETO GRÁFICO Tony Cesar (86) 8832-5057

Assessora Jurídica FAPEPI eliana@fapepi.pi.gov.br


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ARTIGO A hegemonia política no Piauí atual A

rifa verde”, que ainda estaria no papel. As condições de crédito foram favoráveis às atividades produtivas. No Piauí, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) aplicou mais de R$ 790 milhões em 2008, representando um aumento de 62% em relação a 2007. Um destaque são as Parcerias Público-Privada (PPP), uma modalidade especial de concessão de crédito para infraestrutura, onde o BNB constituiu um Grupo de Trabalho para organizar e buscar investidores para diversas obras. Um projeto de PPP a ser desenvolvido no Piauí é para pavimentar a rodovia PI-397, conhecida como Transcerrados, por onde já escoa parte significativa da safra de grãos do Estado. Na avaliação do presidente da FAEPI, as agências de fomento ao crédito no estado – BB e BNB – têm tido uma atuação positiva para o agronegócio. DIVULGAÇÃO

lguns autores sustentam que na fase do capitalismo financeiro a diferenciação de interesses de frações no interior da classe dominante teria sido abolida. Essa é a posição, por exemplo, do economista francês Gérard Duménil. De fato, pode ocorrer de formarem-se os grupos multifuncionais, ou seja, os conglomerados econômicos que atuam em mais de uma esfera do capital (indústria, banco, comércio). No entanto, esse fenômeno não anula a Francisco existência das frações de classe, uma Pereira de Farias* vez que aqueles conglomerados tendem a sofrer o recorte dos interesses setoriais, em razão do impacto das políticas do Estado, no seio deles. No Piauí, no período anterior a 1964, o grande capital extrativo (cera de carnaúba e babaçu) era dividido por conflitos entre as suas várias dimensões (agrária, comercial, industrial), sendo que a política econômica do Estado piauiense favorecia o capital mercantil. Assim, diante de certas políticas, a família Freitas possuidora de fazenda e casa exportadora – podia perder como fazendeiro, mas ganhava como comerciante. Dessa forma, a classe dominante não é homogênea. Os conflitos, no seu interior, determinam o perfil da política econômica governamental. Isso em razão da capacidade de pressão sobre o aparelho do Estado, exercida pelos setores dominantes. Cabe, assim, indagarmos que fração do capital detém a hegemonia política no Piauí atual. A nossa hipótese de trabalho é que, a partir da eleição do governo estadual do Partido dos Trabalhadores – PT, em 2002, houve a mudança da preponderância do capital comercial (importador de bens manufaturados) para a hegemonia política da burguesia agrária (exportadora de bens primários). O sistema de estradas pavimentadas, constituído a partir dos anos 1960/70, ligava, sobretudo, as grandes cidades locais às estradas federais. As estradas rurais estavam sempre em dificuldades, pois, sob a responsabilidade das municipalidades, estas não tinham nunca os recursos para melhorá-las. A Associação dos Prefeitos do Piauí fazia reiteradas críticas a esse sistema, que favorecia o transporte de produtos de outros estados, em detrimento da produção agrícola local. A partir de 2002, esse quadro se altera, com a pavimentação das estradas rurais pelo governo estadual. Assim, no ano de 2007, a pavimentação de estradas estaduais (2.415 km) supera a de estradas federais (2.238 km). O sistema de energia elétrica era criticado pelos representantes do setor agrícola e os da indústria urbana. Como em outros estados, uma usina hidroelétrica foi construída no Piauí durante os anos de 1960; mas o governo local não foi capaz de praticar uma política de preços diferenciados, que favorecesse o consumo produtivo de energia – como foi o caso no Estado de São Paulo. No Piauí, os representantes do capital comercial – a Associação Comercial e a Câmara dos Dirigentes Lojistas – manifestaram uma forte oposição a uma política de preços diferenciados para a energia, ameaçando transferir suas atividades para outras regiões. Esses representantes argumentavam que uma prática de preços reduzidos para certos segmentos sociais implicaria necessariamente uma elevação de impostos locais, o que o comércio não estava “em situação de suportar”. Os representantes do setor agrário, através da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Piauí (FAEPI), passaram a reivindicar a “ta-

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vem investindo, no Piauí, em estradas e energia e o Governo Estadual mostra disposição de continuar atuando junto ao agronegócio. O cerrado piauiense é o quarto mais importante do Brasil e o primeiro do Nordeste, ocupando uma área de 11.856.866 milhões de hectares, o que corresponde a 46% da área do Estado. Os empreendedores agrícolas foram atraídos para os cerrados piauienses devido ao esgotamento do solo em outras regiões do país, ao preço extremamente baixo das terras, à proximidade do mercado externo, à existência de solos com características favoráveis à mecanização, aos baixos salários da mão-de-obra local e aos recursos governamentais facilitados, como incentivos fiscais e financeiros. A produção de grãos nos cerrados cresce a taxas elevadas: a produção de soja aumentou em 326,5% entre 20022004, enquanto a de arroz elevou-se em 89%, no mesmo período. Em 2005, a participação relativa da soja na pauta de exportação do estado era a maior (36%), se-

guida da cera de carnaúba (21%) e da castanha de caju (11%). Em 2009, a soja consolida-se como o produto líder da pauta de exportações: as vendas do produto representam quase 70% da pauta. Até 2002, a cidade de Guadalupe, apesar de estar às margens do rio Parnaíba e ter a barragem de Boa Esperança, importava 15 toneladas de frutas e legumes de Petrolina (PE), a cada semana. Sete anos depois, o presidente da Associação Central de Irrigantes do Perímetro Platôs de Guadalupe conta que o município exporta 15 toneladas de fruta por dia. Segundo o IBGE, o Sul do Piauí, área dos cerrados, é a região que mais cresceu em população nos últimos dois anos. Nas nove maiores cidades da região, a média de crescimento foi de 3,5%, acima da média do Estado, que ficou em 3,3%, e das cidades da região Norte, que ficou em 3,1%. Com a efetivação do projeto da ferrovia Transnordestina, o escoamento da produção de grãos até o porto de Suape no Estado de Pernambuco será facilitado e o Piauí muito beneficiado. As exportações, de janeiro a agosto de 2009, registraram U$ 110 milhões em vendas, crescimento de 40% em relação a igual período do ano de 2008. O desempenho das exportações do Piauí ignorou a média brasileira, que registrou uma queda de 25%. O crescimento de 40% foi o único entre os Estados do Nordeste e o maior aumento verificado no Brasil em termos percentuais. O PIB estadual saltou de R$ 7 bilhões, em 2002, para R$ 12 bilhões, em 2006, e a projeção para 2009 é de R$ 18 bilhões. O aumento do PIB de 2002 para 2009 é em torno de 157%. Isso se refletiu no Orçamento Geral do Estado, que era de R$ 1,5 bilhões em 2002, e foi para R$ 5 bilhões em 2009, aumentando cerca de 200%. A política econômica governamental (infraestrutura, crédito) voltada preferencialmente para a atividade produtiva refletiu-se no maior dinamismo do setor agrícola e pecuário. Assim, no período 2002-2004, a participação da atividade primária no valor adicionado no Estado passou de 9% para 13%; enquanto a atividade terciária decresceu do patamar de 65% para 60%. A arrecadação de ICMS por setor de atividade mostrou que o setor primário teve uma variação de 173% de recolhimento entre 2007 e 2008, enquanto o setor terciário ficou com uma oscilação de 12% no mesmo intervalo. A hegemonia política da burguesia agrária periférica implica uma redefinição na dependência interregional. O capital comercial periférico, por se ver atrelado ao capital industrial da região pólo, tende a se comportar como “burguesia compradora”, isto é, como simples intermediária dos interesses externos (nacionais e estrangeiros). Isso significa que os representantes políticos dessa fração de classe, no âmbito regional, não oferecem resistências às políticas nacionais (favoráveis à burguesia do centro econômico). Já a burguesia agrária periférica, por dispor de uma base de acumulação autóctone, tende a uma postura de “burguesia interna”, ou seja, de ambiguidade frente aos interesses externos (nacionais e estrangeiros): ora apoiando, ora resistindo as políticas ligadas a tais interesses. No Piauí, por exemplo, os representantes da burguesia agrária, através da FAEPI, posicionaram-se contrários à legislação ambiental do Governo Federal, que se adequaria aos interesses dos estados mais desenvolvidos, onde não existem mais áreas novas a serem exploradas na agropecuária, diferentemente de Estados como o Piauí. * Professor da UFPI e doutorando em Ciência Política na Unicamp. farias@ufpi.edu.br


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REPORTAGEM

de Novas Tecnologias para o Arranjo A

atividade extrativista do babaçu é uma das mais antigas e significativas no Estado do Piauí. As potencialidades da (Orbignya phalerata) vão desde o aproveitamento do coco, como o seu desdobramento em todas as frações primárias do epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoas. A sua exploração econômica é realizada de diversas formas: como alimento humano, na medicina popular e ainda como materiais de limpeza e cosméticos. Artesanalmente, podem-se obter vários utensílios domésticos a partir da manipulação de partes da planta. Por outro lado, tal aproveitamento sempre esbarrou na falta de tecnologia que viabilizasse a obtenção e a aplicação de tais produtos, uma vez que a inexistência de pesquisas tecnológicas torna a indústria incipiente. Mesmo com a carência de pesquisas, o babaçu constitui hoje fonte de emprego e renda para milhares de famílias, principalmente no Meio-Norte do Brasil, onde sua abundância é maior, numa área calculada em mais de 17 milhões de hectares. A partir do levantamento destes dados, pôde-se observar o rico potencial industrial e comercial que representa a exploração da palmeira. Com o objetivo de desenvolver a cadeia produtiva da exploração do babaçu, o Governo do Estado do Piauí, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico

e Tecnológico (SEDET), buscaram parceria com pesquisadores da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFPI) para realizarem um projeto com mote nas pesquisas científicas que viabilizasse recursos para a obtenção de novos produtos a partir da exploração da palmeira, começando com a implementação da base estrutural de laboratórios e mãode-obra especializada. A partir daí, criou-se um centro de produção de conhecimento e desenvolvimento de tecnologias apropriadas a sustentabilidade desse setor. Assim, formalizou-se o Núcleo Interinstitucional de Estudos e Geração de Novas Tecnologias para o Fortalecimento do Arranjo Produtivo Local do Babaçu – o GERATEC, que foi aprovado pela Financiadora Nacional de Estudos e Projetos (FINEP) e o Governo do Estado do Piauí. Trata-se de uma ação de grandes proporções que congrega instituições de CT&I do Piauí, com o objetivo de desenvolver ações voltadas para o atendimento das demandas de inovação tecnológica das atividades produtivas do agronegócio do babaçu no Estado. O GERATEC tem a função de dar suporte ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas à valorização de produtos e subprodutos do

babaçu com o estabelecimento de uma infraestrutura munida de equipamentos de caracterização química, física, biológica, mecânica e estrutural, respaldada por uma equipe técnica e científica especializada. Neste projeto, que teve início em 2009, está sendo investido um total de recursos de R$ 6.113.931,40, sendo a contrapartida do Governo Estadual mais de um milhão e meio. Do total, aproximadamente três milhões serão investidos na UESPI, compreendendo obras e instalações, equipamentos laboratoriais, reagentes, bolsas para pesquisadores visitantes, de Apoio Técnico e de Iniciação Científica. A proposta é obter novos produtos a partir da exploração dos compostos do coco babaçu, do mapeamento da cadeia produtiva e de estudos das folhas, amêndoa e fibra, como também da instalação de três modernos laboratórios de análises químicas. Os novos produtos e os derivados já conhecidos, a partir da pesquisa científica, deverão ter seu valor econômico aumentado, o que representará um reforço tanto na economia familiar, quanto na do próprio Estado do Piauí. As pesquisas pode-

rão inclusive produzir patentes de processos, máquinas, produtos para química fina, alimentícia, cosmética e de novos materiais, microbiologia etc. Além disso, também se produzirá conhecimentos sobre as extensões de nossas matas de babaçuais, preservação e povoamento. O coordenador geral do Projeto é o Prof. Dr. Nouga Cardoso Batista (curso de Química/UESPI); a Profª Drª Francisca Lúcia de Lima e a Profª Emília Odonis (ambas do curso de Biologia/UESPI) coordenam as pesquisas de três subprojetos no Núcleo de PD&I em Oleoquímica, no Núcleo de Pesquisa em substâncias antimicrobianas extraídas do babaçu e no Núcleo de Pesquisas em Biologia Vegetal do Babaçu. Dessa forma, foi


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possível montar o mais completo laboratório de análises químicas do Estado, o que dará a oportunidade de ampliar as atividades de pesquisa, melhorar atividades de ensino e prestar serviços à comunidade. “A pesquisa dentro da universidade tem que ter um direcionamento final, o de melhorar a vida em sociedade, daí porque nós temos pesquisa em medicamento, para que leve a cura

de pessoas; pesquisa em tecnologia, para que se possa produzir bens de consumo com custo mais barato. A pesquisa com o coco babaçu visa melhorar a vida das pessoas e, com interesse, as que vivem da extração e comercialização do coco, para que possam sobreviver de forma mais digna. Estamos realizando pesquisas para mais adiante apresentar respostas para a sociedade de produtos viáveis

social e economicamente”, disse Nouga Batista. Para o Prof. Dr. Ayrton de Sá Brandim, (IFPI), antes do GERATEC o babaçu não era considerado como um Arranjo Produtivo Local – APL, como o mel, a cachaça, a cajuína etc. “Estamos desenvolvendo várias pesquisas, uma delas tem como foco o levantamento georeferenciado das matas dos babaçuais no Meio-Norte. Outra linha

de pesquisa, no setor de engenharia, explora as fibras do coco e da palha do babaçu para obtenção de compósitos onde se desenvolve um aglomerante natural utilizando o mesocarpo associando a uma resina natural. Além disto, estamos realizando a caracterização fisicoquímica de biocombustível do babaçu e estudando o potencial para produção de alimentos”, explicou o pesquisador.

José Ribeiro dos Santos Júnior*

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Projeto GERATEC contempla cinco subprojetos, que já estão recebendo os recursos para o cumprimento dos objetivos e demandas durante as várias fases de vigência do convênio, que é de três anos e, caso não haja pedido de renovação, deverá ser concluído no final de 2010. O projeto nasceu pelo esforço conjunto do Governo Federal com o Governo Estado, em virtude da carência de uma base infraestrutural para desenvolvimento de ações científicas e tecnológicas no Piauí, que barravam o desenvolvimento, fortalecimento e integração da economia local do agronegócio do babaçu com a economia regional, nacional e internacional. Os subprojetos são: 1 - Núcleo de desenvolvimento de Tecnologias apropriadas à cadeia produtiva do babaçu (NUDETAPI), a ser implantado no IFPI; 2 – Núcleo de Desenvolvimento de Novos Materiais e de nanotecnologia (NANOTEC), a ser executado pela UFPI; 3 – Núcleo de P&DI em Oleoquímica de Derivados Químicos do Babaçu (P&DI-

OLEOQ), a ser executado pela UESPI; 4 – Núcleo de Pesquisa em substâncias antimicrobianas extraídas do Babaçu (LABMICRO), executado pela UESPI e 5 – Núcleo de Pesquisa em Biologia Vegetal do Babaçu (LABIOVEG), executado pela UESPI. Embora, eles sejam implantados e executados separadamente em uma das três instituições, UESPI, UFPI e IFPI, os pesquisadores e bolsistas atuarão em parceria com os laboratórios, como um projeto que funciona em rede. O NANOTEC é coordenado pelo Prof. Dr. de Química da UFPI, José Ribeiro dos Santos Júnior. Este subprojeto tem como objetivo implementar técnicas específicas de caracterização de materiais com o objetivo de gerar produtos tecnológicos de alto valor agregado. Os recursos do GERATEC são destinados a estruturar os laboratórios dos cursos de Química e de Física já existentes, como o Laboratório do Grupo de Materiais e de Nanobiotecnologia. Na Física, o coordenador das pesquisas é o Prof. Dr. Angel Alberto Hidalgo**. A aquisição de equipamentos de última geração é uma delas; apenas um deles custou mais de R$ 500 mil (228 mil Euros), um microscópio de força atômica (AFM). O equipamento faz foto quase em nível molecular e mapeamento de superfícies de filmes. Segundo José Ribeiro, o aparelho tem um RAMAM, que é um expectômetro que auxilia a identificação das substâncias analisadas. Outra vantagem do microscópio é que possibilitará as pesquisas em filmes e polímeros de óleos vegetais pela técnica LANGMUIR, acoplado com um elipsômetro, que é um aparelho que permite medir a espessura dos filmes estudados. “Esse estudo específico de óleos vegetais é muito importante porque essas camadas de óleos também podem ser estudadas para sistemas biológicos de membrana celular.

ARQUIVO UFPI

MÁRCIA CRISTINA

o Piauí em excelência na pesquisa

Microscópio de força atômica - sistema AFM-RAMAN

Todas as pesquisas com o babaçu irão beneficiar os programas de PósGraduação de Química e de Física da UFPI. O conhecimento da estrutura físico-química do babaçu será feita aqui, possibilitando o conhecimento e a divulgação posterior em artigos científicos”. A recém-doutoranda da UFPI pelo Programa RENORBIO, Ionara Naiana Gomes Passos, escolheu pesquisar o babaçu, já visando leque de possibilidades que encontraria com a implantação do GERATEC. Ela defenderá a tese “Isolamento, caracterização e aplicação do corante do coco babaçu”. Um estudo novo e o Dr. José Ribeiro acredita que a doutoranda será beneficiada com a tecnologia avançada para seus estudos. Sabe-se que o babaçu possui vários tipos de corantes e estes apresentam vários constituintes, que têm aplicação, por exemplo, para tingir fibras, como o algodão, e ainda aplicação em células solares, que utilizam a energia do sol e têm a capacidade de transformar em energia elétrica. A pesquisa de Ionara levará ao início do isolamento

desses corantes dentro da estrutura do coco. Se o Departamento de Química, por meio dos cursos de graduação e pós-graduação estudarão, entre outros, a morfologia em escala nanométrica de polímeros sintetizados a partir do óleo do babaçu e as fibras, o Departamento de Física faz a caracterização de transportes de cargas (condução de eletricidade) e a parte de ótica dos filmes, emissão e absorção de luz. LuizNouga Francisco Pianowski Cardoso Batista Coordenador da Pesquisa Prof. Dr. em Química da UESPI com onouga@uespi.br AM10 e AM11 luiz@pianowski.com.br Ayrton de Sá Brandim Prof. Dr. em Eng. de Materiais do IFPI sabrandim@yahoo.com.br * Prof. Dr. do Depto. de Química da UFPI jribeiro@ufpi.br ** Prof. Dr. do Depto. de Física da UFPI angel.ufu@gmail.com


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REPORTAGEM

Pesquisadoras realizam levantamento

da flora e da anatomia do babaçu

Coordenadoras das pesquisas Silvia Maria Barbeiro* e Maria de Fátima Oliveira Pires**

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professora da UESPI Silvia Maria Colturato Barbeiro é doutora em Botânica e desenvolve um subprojeto no GERATEC (Núcleo Interinstitucional de Estudos e Geração de Novas Tecnologias) para o fortalecimento do arranjo produtivo local do babaçu, tendo como linha de pesquisa a área da ecologia. O estudo de Silvia Barbeiro visa fazer o levantamento de epífitas que utilizam o babaçu como forófito e detectar a diversidade dessas espécies nas diversas áreas do Estado. A pesquisa analisa, além das epífitas, outras espécies que podem se desenvolver no suporte do babaçu. Epífitas são plantas autótrofas que se desenvolvem sobre outro vegetal, denominado forófito, vivendo todo o seu ciclo de vida, ou parte dele, sobre o hospedeiro. São independentes do forófito na obtenção e aproveitamento de nutrientes e água, embora sejam confundidas, frequentemente, com espécies parasitas. Essas epífitas apresentam uma relação harmônica, o epifitismo, caracterizada por não causar prejuízo no suporte proporcionado pela planta hospedeira. Segundo Silvia Barbeiro, os epífitos vasculares constituem uma das categorias ecológicas mais diversificadas de florestas úmidas tropicais e sub-

tropicais exercendo grande influência nos processos e manutenção dos ecossistemas, como ciclagem de água e nutrientes. Essas espécies contribuem, portanto, na manutenção da diversidade biológica e no equilíbrio interativo entre as espécies, tendo em vista que este grupo de plantas proporciona recursos, como alimento (frutos, néctar, pólen), além de microhabitats especializados para a fauna, constituída por uma infinidade de organismos. O objetivo desse trabalho é caracterizar a composição florística do componente epifítico vascular presente em indivíduos de babaçu de uma mata de cocais; classificar as espécies em categorias ecológicas, de acordo com sua relação com o forófito; comentar sobre os aspectos ecológicos e de distribui-

ção das espécies e comparar a flora epifítica com levantamentos existentes em outras áreas. Para Silvia Barbeiro, a pesquisa representa uma valiosa contribuição para a complementação do conhecimento da flora regional, visto que todo o restante das pesquisas com as comunidades vegetais da região concentram-se em espécies terrícolas. A pesquisadora explica que com esse estudo espera-se que a análise e o conhecimento dos componentes pertencentes à referida flora poderão se constituir em dados que possam reforçar a importância dessas matas e subsidiar a hipótese de que os cerrados do Nordeste compõem um dos supercentros de biodiversidade; auxiliar outros estudos, ampliando a base de conhecimento sobre a flora epifítica de uma mata de Orbignya sp, bem como da ecologia do forófito, inserida na área dos cerrados do Piauí, para que se possa auxiliar na tomada de decisões sobre a preservação e utilização de forma correta pela sociedade. O estudo encontra-se na fase inicial de seu desenvolvimento com as visitas de campo e a área escolhida para realização da pesquisa foi uma mata de babaçu pertencente à Fazenda Nazareth Eco Resort, localizada no município de José de Freitas. Esta área situa-se na microrregião de Teresina e na mesorregião centro-norte piauiense, com altitude de 138m. De acordo com a pesquisadora, a área estudada está inserida nos cerrados do Nordeste com clima caracterizado pela presença de uma estação seca e outra chuvosa bem definida. O

Corte transversal da lâmina foliar evidenciando fibras subepidérmicas (setas) do babaçu Orbignya sp. Escala: 50 μm

ciclo anual das chuvas começa em dezembro e a precipitação pode sofrer variações interanuais com anos relativamente mais secos. Silvia Barbeiro explica que, através de avaliação visual, pode-se constatar a presença de representantes da família Orchidaceae, com uma espécie pertencente ao gênero Vanilla sp e duas do gênero Catasetum spp, além de três espécies de Pteridophyta, todas classificadas como holoepífitas verdadeiras e geralmente localizadas no fuste alto (base das folhas verdes mais velhas) dos indivíduos adultos de babaçu. Nesta mesma altura, foram observadas espécies de eudicotiledoneas pertencentes, provavelmente, a categoria ecológica das holoepífitas acidentais e, no fuste baixo (cerca de 50cm do solo), uma espécie do gênero Paspalum sp da família Poaceae, classificada na mesma categoria. Por outro lado, ainda não foram realizadas coletas das espécies, pois estas dependem de épocas chuvosas para se desenvolver e florar. “Nas primeiras observações, as espécies não estavam em estágio fértil, período necessário para fazer as constatações da pesquisa, ou seja, os espécimes não foram coletados para posterior herborização por não se encontrarem em fase reprodutiva, estádio de desenvolvimento necessário para a sua correta identificação botânica”, esclarece a pesquisadora. Ela acrescenta que “esse ano foi muito anômalo em relação à chuva e, portanto, não tivemos uma resposta satisfatória dessas plantas; por este motivo não foram coletadas para identificação. Apesar das poucas constatações através do pequeno número observado de holoepífitas obrigatórias, vale ressaltar que as variações climáticas constituem um grande fator que é também responsável por influenciar os eventos fenológicos (enfolhamento, desfolhamento, floração, frutificação) regulando a época, a intensidade, a duração e a periodicidade dessas fenofases”. De maneira geral, Silvia Barbeiro destaca que os levantamentos que englobam toda a flora epifítica vascular


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e tem uma coisa que nenhum pesquisador já desenvolveu até hoje, quando o assunto é o babaçu, foi uma máquina que realmente servisse para a quebra de um dos cocos mais resistentes da natureza. Mas necessariamente os inventos nem sempre partem dos acadêmicos, basta alguém que tenha a façanha de criar algo inédito. Foi o que o maranhense Demóstenes Cardozo Leite, quer vive em Teresina há muitos anos fez: inventou e patenteou há três anos o projeto da máquina de beneficiamento do coco babaçu. Com o projeto pronto e pelo menos duas delas já em funcionamento, o inventor diz, com orgulho, que inventou a primeira máquina de beneficiamento de babaçu do mundo. A ideia parece genial, afinal, pesando 1,2 tonelada, feita do mais puro aço, visando resistir à rigidez do coco, a máquina faz o que toda quebradeira de coco gostaria: num piscar de olhos realiza a quebra separando, ao mesmo tempo, as principais partes da amêndoa, epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoa. A capacidade da engenhoca: três toneladas de coco quebradas por hora, ou seja, para uma

folha e o fruto do babaçu, enfocando principalmente as características das fibras, contribuindo, dessa forma, para ampliar a base do conhecimento sobre a biologia da espécie e servir como subsídio para os outros subprojetos do GERATEC. O objetivo deste subprojeto é ampliar estudos básicos e aplicados sobre

a biologia do babaçu, dando subsídios para o uso racional dos recursos associados à sua cadeia produtiva no Piauí. O estudo está sendo realizado em conjunto com o trabalho da professora Silvia Barbeiro, pois ambas utilizam a mesma área de campo para a coleta das folhas e frutos. A primeira fase da pesquisa foi iniciada a fim de avaliar a anatomia das folhas e o material botânico está em análise no Laboratório de Anatomia Vegetal da UESPI. Maria de Fátima revela que os próximos passos são as coletas em outras regiões do Estado e a aquisição de equipamentos para trabalhar com os frutos do babaçu.

“O nosso objetivo é caracterizar o conhecimento das fibras do babaçu, anatomicamente, e analisar as diferenciações nas áreas em que ocorrem. Uma das observações do estudo é analisar se existem mudanças nas folhas em ambientes secos e úmidos, a fim de traçar um comparativo da anatomia da planta em várias regiões; até o momento foi analisada a anatomia foliar de espécimes de uma população ocorrente no Município de José de Freitas (PI)”, explicou a pesquisadora, que acrescenta que os resultados de sua pesquisa, aliados aos obtidos dos outros subprojetos em desenvolvimento no Projeto GERATEC, são de fundamental importância e possibilitarão complementar os estudos sobre a cadeia produtiva do babaçu.

produção média de 10 horas/dia, a máquina rende o impensável até hoje: 30 toneladas de coco quebrados e divididos, prontas para comercialização ou para processos de industrialização. Uma das máquinas funciona hoje na empresa de Demóstenes, a Babaçu Brás, que funciona no município de Pirapemas-MA, a 320 Km de Teresina. A produção para comercializa-

Mas quem pensa que Demóstenes já está milionário com a sua obstinada e cobiçada invenção, que custa entre R$ 80 e R$ 100 mil, engana-se. “Ainda não vendemos nenhuma para os empresários, embora gente da Holanda, Japão e de outros países já tenha nos procurado. Nunca pensei em vender, mas transferir tecnologia, principalmente com o go-

elas caiam nas mãos de pessoas que visam apenas o lucro. Se a coisa não for feita de forma a valorizar quem vive da cata e quebra do babaçu, isto é, a máquina funcionando em um projeto que envolve o trabalho dessas pessoas, o processo de escravidão e pobreza vai continuar”, disse com sabedoria. Demóstenes informou que o Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário tem o seu projeto e já estuda a compra do mesmo, bem como os governos do Piauí e do Maranhão. “O Governo do Maranhão já manifestou maior interesse, tanto é que levamos a máquina para ser apresentada no I Congresso Brasileiro de Palmeira do Babaçu”, disse Demóstenes. O congresso, realizado pela UEMA, no último mês de abril, em São Luís, foi o primeiro evento nacional a discutir e apresentar os rumos da pesquisa agronômica, da tecnologia industrial e os aspectos social, econômico e ambiental e, sobretudo, objetivou incentivar o desenvolvimento sustentável do agronegócio e da indústria do babaçu.

Alstromeria SP

ARQUIVO PESSOAL

realizados no Brasil são ainda escassos, sendo que a maioria dos trabalhos efetuados nas diferentes formações vegetais são inventários de um determinado grupo taxonômico (Araceae, Bromeliaceae, Orchidaceae, Pteridophyta, por exemplo). “Até o momento não se conhece nenhum estudo relativo à diversidade das matas de babaçu envolvendo, quer a comunidade epifítica, quer a de apenas um determinado táxon”, enfatiza Silvia Barbeiro. Como as pesquisas desenvolvidas na UESPI abordam as áreas da fisiologia, anatomia e ecologia, a Profª Drª. Maria de Fátima de Oliveira Pires, do Curso de Licenciatura em Biologia, também faz parte do Projeto GERATEC, em um subprojeto na área de botânica e tem como finalidade realizar a caracterização anatômica da folha e do fruto do babaçu. A pesquisa propõe analisar a

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Produção da máquina é de até 3 toneladas por hora

ção é do pó do mesocarpo, que serve para alimentação e tem muitas propriedades terapêuticas.

verno. Este compraria as máquinas e repassaria para os extrativistas. Queremos agregar valor e impedir que

* Profª. Drª. do Departamento de Biologia da UESPI sbarbeiro@yahoo.com.BR Profª. Drª. do Departamento de Biologia da UESPI fopires@yahoo.com.br


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ENTREVISTA

GERATEC agrega valor aos produtos do babaçu O

coordenador Geral do Projeto GERATEC (Núcleo Interinstitucional de Estudos e Geração de novas tecnologias para o fortalecimento do arranjo produtivo local do Babaçu), Prof. Dr. Nouga Cardoso Batista, possui graduação em Licenciatura Plena em Ciências pela Universidade Federal do Piauí (1992), mestrado em Química (Química Analítica) pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em Química (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (1999). Atualmente é professor adjunto - DE da Universidade Estadual do Piauí. Tem experiência na área de Química, com ênfase em catálise homogênea e química analítica, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de química, metátese, análise química. Possui dezenas de publicações em artigos, congresso e eventos científicos, participações em bancas examinadoras e ainda participou de publicações técnicas. Como Coordenador geral do GERATEC, o Prof. Dr. Nouga Batista fala das propostas e metas do projeto.

Sapiência - Qual a relação do Projeto GERATEC com o setor produtivo? Nouga Batista – Na região denominada Meio Norte do Brasil, onde se situa os Estados do Piauí e Maranhão, a exploração do coco babaçu é utilizada como fonte de renda por milhares de famílias. Por isso, com o objetivo de desenvolver políticas de fixação do homem no campo e de forma digna é que o Governo do Estado através da FAPEPI e SEDET escolheram a cadeia

produtiva do coco babaçu como de interesse no desenvolvimento desta pesquisa. Através do GERATEC buscaremos alternativas para uma melhor exploração do coco babaçu, buscando a geração de novas tecnologias, agregar valor econômico a seus derivados. Não temos dúvida que este conjunto de ações levará a um aumento da renda de milhares de famílias e contribuirá significativamente para melhorar suas condições de vida. Sapiência – Ainda pouco estudado quanto às suas inúmeras aplicações, o babaçu já demonstrou que pode gerar diversos produtos, entre eles na alimentação, na cosmética, indústria farmacêutica, de lubrificantes, tintas, vernizes, borracha, plásticos, etc. Como as pesquisas podem ajudar a entender melhor este recurso natural tão importante do Piauí? Nouga Batista – Não podemos negar que já conhecemos muito sobre a possibilidade de exploração econômica deste vegetal. No entanto, ainda não conseguimos retirar do babaçu algo mais impactante que

possa mudar a vida das pessoas que lidam diretamente ou que sobrevivem da exploração do coco babaçu, nem tão pouco as riquezas produzidas hoje foram capazes de frear o desmatamento dos babaçuais em favor de outras atividades agropecuárias. Neste sentido, acreditamos que os novos conhecimentos que estamos buscando tornarão a exploração do coco babaçu mais atraente economicamente, o que certamente concorrerá para o estabelecimento de políticas e ações de preservação de nossas matas de babaçuais. Sapiência - Em relação ao babaçu, a maior carência é de conhecimento científico ou de conhecimento tecnológico? Nouga Batista - Os dois. Pouca tecnologia e conhecimento científico foram gerados no que se refere ao babaçu. No que se refere às formas como os frutos têm sido beneficiados ainda podemos dizer serem artesanais. Conhecemos poucas experiências que visam à industrialização do processo de quebra do fruto e que possibilite o aproveitamento integral do mesmo. Embora reconheçamos que muitas

Prof. Dr. Nouga Batista

MÁRCIA CRISTINA

Sapiência – O Projeto GERATEC começa a ser executado com recursos federais e com a contrapartida do Estado (FAPEPI e SEDET). Quais são as primeiras etapas de implantação do mesmo e quais resultados se pretende atingir, a princípio? Nouga Batista – O edital que concorremos na FINEP e deu origem ao projeto GERATEC denomina-se estruturante, o que em tese tem como objetivo melhorar as condições de infraestrutura de laboratório para o desenvolvimento de pesquisas. Portanto, a primeira etapa consiste em fazer aquisição de equipamentos e investimentos que visem à melhoria da estrutura física de laboratórios nas três instituições parceiras, UESPI, IFPI e UFPI. Neste projeto, o foco principal será transformar produtos naturais do coco babaçu de baixo valor agregado, por meio da pesquisa e desenvolvimento científico & tecnológico que visam a obter novos componentes tecnológicos, adicionando valor econômico às substancias e derivados da palmeira e do fruto do coco babaçu. Ainda, buscaremos conhecer a real situação da ocorrência dessa espécie vegetal e sua distribuição territorial, por meio de estudos de georeferenciamento.

tentativas tenham sido efetuadas. Outro fator relevante que devemos levar em consideração é que os produtos obtidos dos derivados das amêndoas têm muito pouco de conhecimento científico incorporado. Os constituintes químicos em menor escala e que conferem características especiais ao óleo como cor e odor, não foram totalmente identificados. Sapiência – O projeto GERATEC tem grandes proporções e envolve instituições de ensino e pesquisa, como a UESPI, a UFPI e o IFPI, além do setor produtivo. Como o projeto pretende articular as ações para que os estudos e investimentos aconteçam em sincronia nestas instituições, visando a atingir os objetivos propostos? Nouga Batista – A execução do projeto foi muito bem planejada. Temos um coordenador geral que acompanha a pesquisa como um todo e responde à todas as demandas dos coordenadores dos cinco subprojetos no que se refere às necessidades de compra de materiais e equipamentos, pagamentos de passagens e diárias de pesquisadores, todas antecipadamente elencadas quando da elaboração de cada subprojeto. Temos também um comitê gestor, composto pelos cinco coordenadores, que acompanha a execução do projeto e produz os relatórios, além de discutir e encaminhar soluções de questões eventuais. Importante colocar que embora o GERATEC seja executado em cinco subprojetos, cada subprojeto desenvolve atividades independentes e que se complementarão ao final do projeto. Sapiência - Houve insucessos na produção e comercialização de biocombustível à base da mamona, apesar da grande publicidade positiva e


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de promessas de resultados promissores. Sabese que o biodiesel com a mamona tem uma composição química que dificulta o seu controle de qualidade. Com relação às pesquisas de biocombustível com óleo de babaçu, existe potencial técnico, econômico e social? Nouga Batista – Sim, o principal constituinte do óleo de mamona (ácido ricinoléico), tem em sua estrutura uma hidroxila que é responsável pela alta viscosidade e outras propriedades indesejável no biodiesel. Já o óleo de babaçu obtido da amêndoa do coco é um óleo com características excelentes para a produção do biocombustível. O maior problema ainda é como obter amêndoas em quantidade capaz de fornecer matéria prima para a indústria de combustível. Esperamos também que a partir dos resultados desta pesquisa, essa demanda deve aumentar ainda mais com a perspectiva do desenvolvimento de novos produtos para as indústrias de cosméticos, farmacêuticas, etc. Aliado a tudo isso, temos que pensar que a exploração do coco babaçu deve ser rentável para todos que participam da cadeia produtiva e em especial as milhares de famílias que vivem e têm os babaçuais como alternativas de sustento. Sapiência – O GERATEC tem previsão de duração de 36 meses. Depois de findado este prazo, quando também deixarão de entrar recursos, como se sustentará toda a infraestrutura, humana e de equipamentos adquiridos, no sentido de se evitar, inclusive, que muitos investimentos fiquem obsoletos? Nouga Batista – Importante colocar que por meio do GERATEC está sendo feito o maior investimento em estrutura de laboratórios de pesquisa na UESPI desde sua criação. Disponibilizaremos de laboratórios que nos possibilitarão desenvolver novas pesquisas e em diferentes áreas da química e biologia. Fato semelhante ocorrerá nas outras instituições parceiras, IFPI e UFPI, onde os equipamentos conseguidos por meio do GERATEC se somarão a muito outros já disponíveis. Temos clareza que depois de terminado o GERATEC, os professores da UESPI, IFPI e UFPI deverão continuar desenvolvendo projetos de pesquisa com o coco babaçu, além de realizar novos projetos em outras linhas de pesquisa financiados pelo poder público ou privado. Estas novas pesquisas subsidiarão o funcionamento adequado dos equipamentos conseguidos e outros que deverão ser adquiridos. Sapiência – Sustentabilidade da cultura do babaçu no Piauí. Este é um dos objetivos do GERATEC. Qual a proposta para melhorar, de alguma maneira, a vida das famílias que sobrevivem do babaçu, a exemplo das “quebradeiras” de coco? Nouga Batista – Por meio da pesquisa científica poderemos agregar valor econômico aos derivados do coco babaçu e até desenvolver tecnologias mais eficientes de extração da amêndoa. Mas ao contrário de outras culturas, a presença humana na coleta será sempre insubstituível. No nosso entendimento também precisaremos desenvolver políticas de valorização dessa atividade e possibilitar que parte dos dividendos econômicos obtidos a partir do desenvolvimento dessas novas tecnologias sejam divididos

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de forma mais justa com essas pessoas. Além disso, imaginamos que os estudos apontarão maneiras viáveis, e até mais eficientes, de praticar culturas de legumes e cereais nas matas babaçuais, evitando assim derrubadas e preservando as palmeiras. Sapiência – Do fruto extraem-se produtos para a alimentação humana e animal, como o óleo, azeite, o coco. No entanto, pesquisas arrojadas buscam formular novos produtos, como até mesmo um substituto economicamente mais viável e mais nutritivo que o trigo, a partir das fibras da casca. O que o Sr. sabe sobre esses estudos? Nouga Batista – Temos notícias da aplicação de derivados do mesocarpo na merenda escolar em cidade aqui no Piauí, um exemplo que deve ser incentivado, pois está comprovado seu valor nutritivo e viabilidade econômica. Temos conhecimento de pesquisas nesta área e temos certeza que elas potencializarão ainda mais o nosso coco babaçu como fonte alternativa de aumentar a riqueza de nosso Estado. Sapiência – Quanto ao impacto ambiental, quais as ações que o projeto prevê para prevenir a ameaça da planta na natureza, já ameaçada pelas atividades pecuaristas? Nouga Batista – Este é outro aspecto importante do projeto. Ficando comprovadas as possibilidades de agregação de valor econômico aos derivados do coco babaçu, temos certeza que o desmatamento será evitado. Sendo o babaçu uma espécie vegetal que ajuda a fixar o solo por meio de suas inúmeras raízes e sendo sua ocorrência bastante frequente em margens de rios e mananciais, preservando as palmeiras, estaremos por consequência ajudando a preservar essas fontes de água e de vidas. Sapiência – Pouco se sabe do carvão produzido à base do endocarpo do babaçu. Uns dizem que polui menos o meio ambiente e ainda é fonte de energia térmica. O que se pode afirmar sobre isso? Nouga Batista – Sabemos que fontes alternativas de energia limpa são bem vindas, principalmente por causa do efeito estufa. Neste ponto, a queima do endocarpo do coco babaçu pode representar uma fonte importante. No entanto, do ponto de vista legal não se pode queimar o fruto inteiro do coco babaçu (Lei Estadual), embora se tenha conhecimento dessa prática em caldeiras de diversas empresas de grande porte. Já foi demonstrado que o mesocarpo tem um poder calorífico muito alto (quantidade de calor gerado por quilo), baixo teor de cinzas, baixa umidade, produz pouca fuligens; para uso siderúrgico apresenta boa resistência mecânica, e ainda é fonte de energia renovável. Os objetivos da lei que proíbe a queima do coco é garantir o trabalho das quebradeiras, o que é importante. No entanto, concordamos que a prática ilegal existente hoje em parte, é devido ao pouco valor econômico das amêndoas que pretendemos modificar com os resultados da pesquisa do GERATEC.


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TESES Desenvolvimento territorial recente em espaços sub-regionais dinâmicos do Piauí

Contribuição ao estudo dos metabólitos secundários do gênero Casearia e de algumas de suas atividades biológicas

Características de substratos e concentrações de soluções nutritivas para o cultivo do crisântemo em vaso

Antônio Cardoso Façanha Professor de Geografia da UFPI Defesa: Univiversidade. Federal. de Pernambuco, 2009 facanha@ufpi.br

Gerardo Magela Vieira Júnior Professor da UFPI Defesa: Universidade Estadual Paulista, 2010 gerardovieira@yahoo.com.br

Márkilla Zunete Beckmann-Cavalcante Professora da UFPI, Campus Profa. “Cinobelina Elvas” Defesa: Universidade Estadual Paulista, UNESP/FCAV, 2007 zunete@ufpi.edu.br

A pesquisa tem como objetivo central analisar os espaços sub-regionais dinâmicos recentes no Piauí à luz da perspectiva do desenvolvimento territorial. A trajetória está traçada com a discussão do tema do desenvolvimento, quando são levantadas as visões recentes de liberdade, capacidade e sustentabilidade, além de refletir sobre as dimensões exógenas e endógenas, e os reflexos da globalização e da inovação, fornecendo assim os aportes teóricos para as perspectivas do desenvolvimento territorial. Seguida da articulação do referencial teórico, com as bases e os contextos recentes da dinâmica territorial piauiense, adentra pela discussão dos espaços sub-regionais dos serviços de saúde, da apicultura, do turismo litorâneo, arqueológico, e da soja, seguindo o percurso de análise pela formação dos espaços sub-regionais, das articulações ocorridas no território, a participação do público e do privado até a reflexão sobre as consequências na sociedade e no meio ambiente. A metodologia utilizada foi sustentada, através do método de abordagem crítico-dialético, com uso de três níveis de apreensão da realidade: – técnico, teórico e epistemológico. Se fez uso de diversas fontes para a construção da revisão bibliográfica, acrescidos de visitas aos órgãos públicos e privados, a entidades sindicais, aos poderes públicos municipais, além dos trabalhos de campo em que foram realizadas entrevistas e com registros fotográficos nos municípios. Dessa forma, a incursão da relação entre Geografia e desenvolvimento territorial lança horizontes de reflexão do território, a partir dos espaços sub-regionais do Piauí, possuidores de expressivo dinamismo e diferenciação, permeados por novas redes sociais, e que articulam as potencialidades naturais, econômicas e espaciais.

Este trabalho relata o estudo fitoquímico de quatro espécies do gênero Casearia, bem como a avaliação de algumas atividades biológicas. O estudo da constituição química de C. gossypiosperma resultou no isolamento de três substâncias, (+)-taxifolina e quercetina e um novo ciclitol: rel-(2R, 3S, 4R, 5R)-3,4,5-trihidroxi-2-etóxi-ciclohexanona. De C. obliqua isolou-se nove substâncias: sitosterol, cinco diterpenos clerodânicos: (rel)-2β-benzoato-6β-hidroxizuelanina + (rel)-6β-benzoato-2α-hidroxizuelanina, 6β-cinamato-2β-hidroxizuelanina, sendo dois inéditos caseobliquina A e caseobliquina B, ácido cinâmico, N-trans-p-cumaroiltiramina e N-trans-feruloiltiramina. De C. rupestris foram isolados setes ubatâncias, a mistura de sitosterol + E-fitol e cinco diterpenos clerodânicos inéditos, as casearupestrinas A, B, C, D e G. A partir da casearupestrina A e D foram obtidos, por acetilação, mais dois diterpenos inéditos, as casearupestrinas E e F, respectivamente. Das folhas C. decandra foi isolada a hidroquinona. No perfil fitoquímico dos extratos hexânicos, obtido por CG-DIC, foi identificado o esteróide sitosterol em todos os extratos analisados. A atividade anticolinesterásica apresentou bons resultados para a (+)-taxifolina. A atividade antifúngica da casearupestrina A foi positiva frente a C. albicans, C. krusei e C. neoformans. A casearupestrina G também apresentou potente atividade antifúgica frente as cepas de C. krusei e C. neoformans. As substâncias (+)-taxifolina e hidroquinona mostraramse ativas frente as cepas de C. cladosporioides e C. sphaerospermum. As substâncias (rel)-2β-benzoato-6β-hidroxizuelanina + (rel)-6β-benzoato-2α -hidroxizuelanina, 6β -cinamato-2β-hidroxizuelanina, caseobliquina A, casearupestrinas A-G e a hidroquinona apresentaram atividade citotóxica. Em algumas lignhagens de células tumorais, as substâncias (rel)2β-benzoato-6β-hidroxizuelanina + (rel)-6β-benzoato-2α-hidroxizuelanina, casearupestrina A e casearupestrina G foram mais potentes que o controle positivo doxorubicina.

O presente trabalho teve por objetivo estudar: i) o efeito de diferentes soluções nutritivas; e, ii) diferentes condutividades elétricas da solução nutritiva e lixiviação de sais sobre o desenvolvimento e estado nutricional do crisântemo cv. Miramar cultivado em vaso; e na Alemanha; iii) caracterizar diferentes turfas e verificar a influência no crescimento e desenvolvimento do crisântemo cv. Sun City cultivado em vaso. No primeiro estudo, as diferentes soluções nutritivas não interferiram no diâmetro da haste, número e diâmetro de inflorescências e, massa seca de raízes, porém as soluções S3 e S4 promoveram a maior altura de plantas, área foliar, número de folhas, massa seca da parte aérea e total. No segundo estudo, o aumento da condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva inibiu o desempenho vegetativo, o acúmulo de micronutrientes e de nitrogênio na massa seca foliar do crisântemo, porém estimulou o diâmetro da haste e os teores de P, K, Ca, Mg e S. A lixiviação dos sais promoveu maior crescimento das variáveis fitotécnicas e maior acúmulo foliar de micronutrientes nas plantas. No terceiro estudo, o conteúdo de sais solúveis (SS), N, P, K, densidade seca e capacidade de retenção de água incrementaram durante o cultivo, enquanto o espaço de aeração diminuiu em todas as turfas. O crescimento das plantas de crisântemo foi superior quando cultivadas na turfa SP-9 e com qualidade inferior em FBP5. Os métodos VDLUFA e CEN apresentaram correlações significativas, embora os valores de pH, SS e concentrações de macro e micronutrientes das turfas não se encontrarem dentro das faixas sugeridas como ideais. Dentre as conclusões, recomenda-se a fertirrigação com a solução S4 para o cultivo do crisântemo cv. Miramar em vaso; a CE 2,1 dS m-1 possibilita a produção de crisântemo cv. Miramar com padrões produtivos e qualitativos de comercialização, lixiviando a solução do substrato com água destilada; os substratos devem ser analisados antes de realizar o cultivo de espécies vegetais em recipiente.

A experiência pedagógica de uma escritura dionisíaca

Avaliação de potencialidades e aplicações de espectrômetros com plasma acoplado indutivamente em análises químicas

A construção da memória cívica: as festas escolares espetáculos de civilidade no Piauí (1930-1945)

Cellina Rodrigues Muniz Professora da UESPI – Campus Picos-PI Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009 cellina.muniz@bol.com.br

Edivan Carlhalho Vieira Professor de Química da UFPI Defesa:Universidade Federal de São Carlos-SP, 2007 edivan@ufpi.br

Salânia Maria Barbosa Melo Professora da Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009 salaniamelo@yahoo.com.br

Este estudo traz uma análise de determinadas práticas de escrita de um grupo de indivíduos que conviviam no bairro Benfica, na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, no início dos anos 2000. Da vivência desses indivíduos, foram escritos, editados e distribuídos os fanzines PalavraDesordem (numa série de onze edições), Sarrabuio de Tertúlia (em três edições), além de uma edição da revista alternativa Pindaíba. Com o suporte do pensamento de autores como Nietzsche, Maffesoli, Foucault, Maingueneau e Larrosa, este estudo postula que as práticas implicadas na escritura dessa comunidade discursiva, observadas no cenário da pós-modernidade, podem ser interpretadas como uma experiência pedagógica que reatualiza o mito de Dioniso, a fazer valer princípios de errância e pluralidade nas sociedades contemporâneas. Os fanzines e a revista produzidos pelo grupo são abordados a partir de alguns princípios e procedimentos da Análise do Discurso, bem como são utilizados para análise depoimentos escritos e/ou orais concedidos pelos próprios indivíduos em entrevistas semiestruturadas. A análise parte de categorias como ritos genéticos, posicionamentos discursivos e formas de si associados à escritura em questão, em sua criação e circulação, e evidencia como a manifestação do dionisíaco se faz: a boemia, a indisciplina, o culto à vida em grupo, o elogio à embriaguez, o apelo ao riso, a crueldade à vista, o errádico (nas funções de autoria, nos cuidados de si e nas concepções de escrita) e a criação (nos modos de fazer e na apropriação de saberes). A tese conclui, assim, que o exercício de autoria de tal escritura possibilita a constituição desses indivíduos em sujeitos da experiência, o que, em última instância, traduz-se como uma pedagogia da vida.

Este trabalho está dividido em duas partes principais. Na primeira, foram avaliadas as condições de operação de um espectrômetro de emissão óptica com plasma acoplado indutivamente – ICP OES com configuração radial. Um planejamento fatorial foi efetuado para avaliação sistemática das condições de operação do equipamento, tendo-se estabelecido as condições 1,05 kW de potência, 0,6 L min-1 vazão de gás de nebulização e 8 mm de altura de observação como adequadas para a determinação de Al, B, Ba, Ca, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, P, S e Zn nas amostras estudadas, material de referência certificado (NIST, folhas de pessegueiro e farelo de milho) digeridos em diferentes meios oxidantes. A recuperação de Cu, Fe, Mn e Zn em extratos de solos em meio de DTPA (IAC 274) e a recuperação de Al, Ba, Ca, Cr, Cu, Fe, Mg, Mn, V e Zn em solo certificado (NIST, San Joaquim Soil) também foram avaliadas nas mesmas condições de operação do ICP OES. Foi realizada comparação de custos entre os diferentes procedimentos de determinação e proposto protocolo para uso do ICP OES em análises de rotina. Na segunda parte do trabalho, avaliou-se a biodisponibilidade de ferro em alimentos crus e processados. Metaloproteínas foram extraídas nos seguintes meios: tampão Tris 50 mmol L-1 e fluido gástrico simulado. Para a determinação de Fe nas soluções extratoras, foi utilizado espectrômetro de massa com plasma acoplado indutivamente - ICP MS e para a especiação das metaloproteínas foi utilizado uma coluna de exclusão por tamanho (SEC) acoplada em linha a detector UV e ao ICP-MS. Os resultados indicaram que processos de cozimento causaram mudanças significativas nos teores de Fe ligados às proteínas contidas em amostras de carne e alga marinha, apesar de continuarem biodisponíveis, fato verificado após a digestão com fluido gástrico simulado.

A pesquisa diz respeito à construção da memória cívica piauiense e à invenção das tradições, inserindo-a no campo da História da Educação e tem como foco principal as comemorações cívicas, que são as festas que acontecem com a participação da escola, desde as festas de 7 de setembro, festa da árvore, desfile da juventude e do pan-americanismo, as festas de inaugurações, festas de colação de grau, somando as homenagens às autoridades, aniversários de governantes, aniversários do Estado Novo, constituindo-se o calendário cívico, cumprido e organizado pela escola. Esta investigação tem como intuito analisar esta memória, destacando principalmente, os aspectos relevantes para compreendê-la, tais sejam: o tempo escolar, o disciplinamento, as disciplinas escolares e as festas cívicas, elementos que constituem a memória cívica, evidenciando, a cidade e a rua como palco dos eventos onde ocorriam as festas cívicas. Este caminhar faz-se metodologicamente pela História Oral pelas lembranças de pessoas com setenta ou mais anos que vivenciaram estes momentos e têm alguma relação com a escola e com a cidade e, ainda, no manejo das fontes escritas como os periódicos locais O Piauhy, O Momento, Diário Oficial, o Almanaque da Parnaíba e as Mensagens Governamentais. Mergulho nas práticas cotidianas e nas lembranças para problematizá-las e, por fim, compreender como ocorreu a invenção das tradições cívicas e suas relações com o ensino primário durante a Era Vargas (1930-1945), cientes de que nossa investigação constatou que este ensino deu-se no sentido do que era considerado moderno neste período, formando sujeitos que construíram as instituições pesquisadas, tornandoos civilizados, nacionalistas e amantes da Pátria.


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REPORTAGEM

O

Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, estimada em cerca de 20% do número total de espécies do planeta, o que demonstra a importância do estudo das potencialidades dessas plantas. Dentre essas potencialidades, destaca-se o babaçu, palmeira encontrada em território brasileiro, caracterizada pela graça e beleza da sua estrutura, por ser uma planta monocaule, com até 20 metros de altura e estipe liso, medindo até 41cm de diâmetro, frutos oblongos-elipsóides lisos, com 11,3 x 6,3cm de diâmetro, de coloração marrom na maturidade. Muitos são os usos populares do babaçu, desde estruturas na construção de casas (palha e tronco), passando pela alimentação (mesocarpo e óleo) até para tratamento de doenças. Muito se tem pesquisado com relação aos aspectos agronômicos e econômicos envolvendo, neste último caso, a produção do óleo e do carvão vegetal do coco como fonte energética. O seu uso popular, sobretudo na área alimentícia e medicinal possui escassos estudos científicos. Pensando em conhecer melhor as potencialidades do babaçu, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Piauí, coordenada pelo Prof. Dr. Lívio César Cunha Nunes e pela profª Waleska Ferreira de Albuquerque, do curso de Farmácia, juntamente com outros professores e alunos da graduação e pós-graduação, decidiram realizar um estudo para verificar as potencialidades do babaçu na indústria cosmetofarmacêutica e alimentícia. O objetivo é realizar a caracterização físico-química do mesocarpo do babaçu (Orbignya sp) extraídos em diferentes regiões do Piauí e Maranhão (tabela abaixo) para o auxílio de possíveis aplicações deste material no desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos e alimentícios.

MÁRCIA CRISTINA

O babaçu na indústria cosmetofarmacêutica e alimentícia

Lívio Nunes*: pesquisa na fase de caracterização

O Dr. Lívio Nunes esclarece que é cedo para relacionar a espécie a tratamentos farmacológicos e que prefere um passo após o outro. “Precisamos antes caracterizar o pó de mesocarpo do ponto de vista químico e fisico-químico, avaliar a sua toxicidade para, só então, partirmos para a pesquisa do seu uso farmacológico”. No entanto, o óleo do babaçu já é conhecido tanto na medicina popular, quanto na área de cosméticos. “O óleo possui ampla diversidade de ácidos graxos, como caprílico (4%), cáprico (5%), esteárico (7%), oléico (17%), linoléico (5%). Mas são as altas concentrações dos ácidos láurico (45%), mirístico (18%) e palmítico (10%), utilizados em todo o mundo para a produção de tensoativos, os maiores atrativos

para o aproveitamento dessas substâncias pelas indústrias cosméticas. Considerado um lipídeo polifuncional para uso em formulações cosméticas, o óleo de babaçu atua como emoliente, reequilibrante do manto hidrolipídico, umectante, hidratante, reengordurante, lubrificante, dispersante de pigmentos e solubilizante de componentes lipofílicos, descreve”. A época de frutificação dessa planta ocorre durante todo o ano, sendo os meses de agosto a janeiro considerados o pico da produção, podendo cada planta produzir até seis cachos de coco babaçu por vez. É uma árvore nativamente brasileira de suma importância na conservação e melhoramento do solo, encontrada em grande quantidade nos

estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Mato Grosso, tendo maior concentração no estado do Maranhão. Ela é distribuída de forma descontínua cobrindo cerca de 10 milhões de m2. O intuito é verificar se existe e em que extensão é a variação da composição química do mesocarpo de diferentes regiões. Com os dados relativos às propriedades químicas e físico-químicas do pó de mesocarpo, a equipe de pesquisadores passará para o desenvolvimento de produtos. Waleska Ferreira disse que muitas são as possibilidades e o importante é que os produtos desenvolvidos a partir dessa pesquisa possam ser licenciados para a produção em larga escala e venha beneficiar a cadeia produtiva do babaçu, levando renda à população e colocando à disposição um produto de qualidade. De forma preliminar, a empresa Ativa Vida (empresa regional inserida no mercado na área de produtos naturais e que beneficia o mesocarpo com fins alimentícios) já se mostrou interessada nos resultados desta pesquisa e pretende assinar um acordo de cooperação e parceria. “Com o início do programa de pós-graduação em ciências farmacêuticas, em 2010, acreditamos que vamos alavancar essas pesquisas bem como outras nos mesmos moldes, tendo em vista que a linha de pesquisa do citado mestrado é a Produção e Controle de Qualidade de Medicamentos”, destacou o Dr. Lívio Nunes, que é também o sub-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFPI. *Prof. Dr. do Depto. de Farmácia da UPFI liviocesar@hotmail.com


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REPORTAGEM

Estudo da microbiologia do babaçu pretende identificar agente transmissor de doença O

ROBERTA ROCHA

LABMICRO é um subprojeto do GERATEC que tem como objetivo estudar vários aspectos da microbiologia do babaçu, isolando e caracterizando mi-

Francisca Lúcia de Lima*

croorganismos do fruto e da planta. Estes seres isolados vão constituir o primeiro grupo da Bacterioteca e Micoteca, que serão mantidos na UESPI para preservação e desenvolvimento de futuras pesquisas. Coordenado pela pós-doutora em Microbiologia, Francisca Lúcia de Lima, o estudo pretende também analisar as propriedades antimicrobianas e antiinflamatórias do endocarpo do babaçu, extraindo o mesmo de frutos de diferentes localidades do Piauí e testando contra bactérias e fungos resistentes a antimicrobianos de uso clínico. Francisca Lúcia explica que a pesquisa consiste em estudar a microbiota do fruto do babaçu, o entorno da palmeira e ainda uma doença rara que é frequente nas quebradeiras de coco, trata-se de uma doença fúngica e que através dos estudos vai procurar identificar se o agente transmissor fica na palmeira, no entorno, no fruto ou no momento da quebra do babaçu. “Como é uma doença prevalente nas quebradeiras de coco e como

Livros

Las estaciones - H. Dobal

Organizadora e Tradutora: Divaneide Carvalho 319 páginas R$ 25,00 renoireditora@fapepi.pi.gov.br Esta obra organizada e traduzida para o espanhol pela Professora de Letras da UFPI, Divaneide Carvalho reúne os cem melhores poemas de H.Dobal, uma das maiores expressões da Literatura Brasileira de expressão piauiense. Este trabalho de pesquisa exaustiva representa uma valiosa contribuição a todos os falantes, estudantes e professores de língua espanhola. Juventude do Nordeste do Brasil, da América Latina e do Caribe

Organizadora: Vânia Reis 480 páginas www.flacso.org.br juventudeslatinas@gmail.com O livro reúne investigações de jovens do Nordeste acerca das realidades juvenis da região e artigos de especialistas da UFPI e do exterior. Experiência que se insere no Coletivo Latino Americano de Jovens, envolvendo 17 países da América Latina e do Caribe, executada pela Rede Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Rede FLACSO). A obra de Florbela Espanca na perspectiva da estética da recepção

Autora: Clêuma de Carvalho Magalhães 126 páginas R$ 25,00 cleumamag@yahoo.com.br O leitor que abrir este livro encontrará paixão. Tanto a paixão da poesia enamorada de Florbela Espanca, uma das autoras portuguesas mais populares no Brasil, quanto a paixão que transparece na análise poética elaborada por Clêuma Magalhães, leitora que se debruçou sobre a história dos livros, dos poemas e da repercussão dessa singular obra da modernidade da literatura ocidental.

não sabemos em que momento ocorre a contaminação, acreditamos que o contágio tenha relação com a extração do coco”, revela. O projeto conta com quatro bolsistas que passaram por um treinamento que consiste nas normas de segurança, no aprendizado da elaboração dos meios de cultura, do isolamento de microorganismos para a caracterização, identificação e manutenção, e somente, a partir daí, é que começam as coletas dos objetos a serem estudados. Francisca Lúcia acrescenta que o trabalho com microbiologia é minucioso e envolve biosegurança, pois trabalha com microorganismos que são patogênicos, por isso a necessidade do treinamento. Seu estudo será desenvolvido, tendo como base os dados obtidos através do resultado do projeto realizado pela professora Valdira Brito, do IFPI, que faz o georreferenciamento e a localização de todos os pontos de cocais existentes no Piauí. Além disso, as coletas do material serão feitas em conjunto com o projeto da professora Maria de Fátima Pires, responsável pela parte de fisiologia vegetal.

As coletas acontecerão em uma fazenda localizada no município de José de Freitas em outras regiões do Estado. Na oportunidade, os adquiridos frutos serão utilizados pelo laboratório da UFPI a fim de estudar a fibra do coco e a previsão é que os primeiros resultados da pesquisa aconteçam em agosto deste ano. “Nós somos o novo eldorado dos mega empreendimentos agropecuários e como está tendo um aumento das áreas cultivadas do Estado, haverá uma diminuição na área do babaçu. Portanto, é preciso conhecer e saber onde existe, realmente, o babaçu e quem e como são as pessoas que sobrevivem dele, a fim de que as pesquisas possam melhorar ou oferecer mudanças na vida dessa população, além de conseguir novas formas de utilização de produtos, pois financeiramente será muito importante”, destacou Francisca Lúcia. Luiz. Francisco Pianowski * Profª Drª. da Universidade Coordenador da EstadualPesquisa do Piauí com o AM10 e AM11 karnauba@gmail.com

FANZINES: Autoria, subjetividade e invenção de si

Organizadora: Cellina Rodrigues Muniz 140 Páginas R$ 20,00 cellina.muniz@bol.com.br Este livro reúne artigos de autores de Teresina, Fortaleza, São Paulo e Curitiba que estão pensando a produção e circulação dos fanzines (impressos informais, criados e distribuídos às margens do mercado editorial e do circuito profissional de escrita). Trazem a contribuição de áreas diversas sobre os fanzines. Vale a pena desfrutar da experiência de conhecer quantas interpretações essas práticas discursivas podem suscitar. O que os netos dos vaqueiros me contaram

Autor: Manuel Domingos Neto 465 páginas R$ 50,00 mdomingosneto@yahoo.com.br O livro problematiza a modernização capitalista do Brasil apontando como esta se complementa nas práticas econômicas, sociais e políticas dos coronéis e seus descendentes no Vale do Parnaíba. Profissionais da História, assim como de outras áreas de conhecimento, terão nesse livro uma rica fonte acerca da complexidade política e cultural do sertão nordestino e da história do Brasil. Favela COHEBE: uma história de luta por habitação popular

Autora: Antônia Jesuíta de Lima 175 páginas R$ 25,00 a.je.l@uol.com.br O livro Favela COHEBE trata dos conflitos urbanos em Teresina na década de 1970. Evidencia o período de maior expansão no processo de urbanização da capital piauiense e os principais atores sociais e políticos envolvidos naquele contexto. Também analisa as relações entre Estado e movimentos sociais urbanos, mediadas pela Política Nacional de Habitação, sob a égide do BNH, e a experiência de remoção da Favela COHEBE, na zona sul da cidade.


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REPORTAGEM

Distribuição espacial dos babaçuais

Valdira de Caldas Brito Vieira*

N

úmeros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a extração do babaçu envolve 300 mil pessoas nos Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará, Goiás e Mato Grosso. Atualmente, esta atividade está ameaçada por atividades pecuaristas e grandes plantações de soja, mamona e eucalipto. A preocupação com a ocupação de outros cultivos nas áreas cobertas por babaçuais chamou a atenção de pesquisadores piauienses. Pensando nisso, o projeto GERATEC inseriu o NUDETAPI, um subprojeto que está sendo desenvolvido no IFPI e que tem como função dar suporte ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas à valorização de produtos e subprodutos do babaçu relacionados ao arranjo produtivo local. Este subprojeto, coordenado pela professora Doutora Valdira de Caldas Brito Vieira, tem como objetivo realizar o mapeamento georreferenciado da distribuição geográfica do babaçu no Piauí e desenvolver um sistema de informações georreferenciadas para monitorar continuamente a produção, produtividade, investimentos e custos fixos e operacionais, visando o diagnóstico das variações de mercado, preço, demanda e oferta, viabilizando um planejamento seguro para o setor. Segundo Valdira Brito, a primeira fase do trabalho já está sendo realizada por um grupo formado por sete

bolsistas do CNPq, sendo quatro tecnólogos em Geoprocessamento e três alunos do curso de Tecnologia em Geoprocessamento do IFPI. Este grupo é responsável pelo mapeamento georreferenciado da distribuição espacial do babaçu no Estado. O grupo está localizando as áreas de existência do babaçu no do Estado, através de GPS, os dados serão transferidos para imagens de satélite e a partir desta coleta será possível identificar os demais pontos de cobertura do babaçu. “O trabalho está sendo realizado, através de levantamento em campo, utilizando equipamentos GPS para coleta dos dados de localização dos babaçuais. Os pontos levantados serão inseridos em um banco de dados, juntamente com imagens de satélites e serão posteriormente analisados através do SIG SPRING 4.3.2 para o processamento digital das imagens e geração dos mapas”, esclarece a pesquisadora. Além da necessidade de localizar geograficamente para identificar a quantidade que ainda existe de ba-

“ ”

ROBERTA ROCHA

será mapeada por satélite

A pesquisa irá gerar um software que será disponibilizado na web com todas as informações a respeito do babaçu

baçu, a pesquisa irá gerar um software que será disponibilizado na web com todas as informações .“A nossa intenção é incentivar a exportação dos produtos do babaçu, pois em qualquer lugar do mundo a pessoa que se interessar em saber mais sobre a palmeira poderá acessar e obter todas as informações que estão disponíveis no banco de dados sempre atualizado com as imagens de satélite”, destaca Valdira. A pesquisadora acrescenta que os dados de potencialidade, disponibilidade, análise econômica e demais in-

Babaçuais serão localizados e monitorados por GPS

formações levantadas durante o estudo serão utilizadas para a implantação de um sistema de informações para o monitoramento e diagnóstico da situação do mercado, viabilizando um planejamento seguro para o setor. Após a fase inicial do trabalho, serão coletadas amostras de matéria prima para os estudos laboratoriais e posterior processamento. Para Valdira Brito, o GERATEC é importante porque, através das pesquisas, será possível o fortalecimento do agronegócio do babaçu no Piauí e a partir daí identificar o potencial e o aproveitamento de derivados do mesmo; além de disponibilizar à sociedade produtos gerados através de articulação com o GERATEC. Já o grupo coordenado pelo Dr. Ayrton Brandim também do IFPI, está desenvolvendo análises referentes ao aproveitamento do potencial produtivo para geração de novos produtos. Os produtos com ênfase à engenharia estrutural serão caracterizados por meios de ensaios mecânicos de tração, compressão, flexão, dureza e micro dureza. Esses também passarão por uma caracterização microes-

trutural para levantamento das fases presentes. Para isso serão utilizados os recursos da microscopia ótica, eletrônica, difração de raios - X e granulometria. Também serão caracterizados biologicamente, em termos da estrutura e morfologia dos órgãos vegetativos e reprodutivos da espécie, além dos compostos associados ao desenvolvimento e adaptação, utilizados na indústria farmacológica para fins terapêuticos. A caracterização química passará por análise térmica diferencial, cromatografia gasosa e espectroscopia. Tais técnicas serão utilizadas para caracterização das propriedades térmicas dos produtos do babaçu por das análises termo-gravimétrica, termocalorimétrica e termo-diferencial, como também para caracterização química dos produtos da combustão do policarpo do babaçu e para análise das fases presentes nos biocombustíveis, leite da castanha do babaçu, como também dos produtos com aplicações terapêuticas. *Profª. Drª. em Agronomia do IFPI valdirabrito@hotmail.com


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REPORTAGEM

Catalogadas dezenas de espécies de insetos-pragas na cultura da cana-de-açúcar C

om o objetivo de registrar a ocorrência e análise de insetos fitófagos, predadores e parasitóides associados à cultura da cana-de-açúcar no Estado do Piauí, mais especificamente na Convap, localizada no município de União do Piauí, o agrônomo Rommel Tito Pinheiro Castelo Branco defendeu em 2008 seu trabalho de dissertação intitulado “Entomofauna associada à cultura da cana-de-açúcar mo município de União – Piauí”. O estudo foi iniciado em dezembro de 2006 e concluído no ano seguinte. O autor justificou sua escolha devido a cana ser uma das culturas mais importantes do Estado, perfazendo um total de quase 20 mil hectares e por não existir nenhum registro de levantamento entomofaunístico para o nosso Estado. A dissertação, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UFPI, foi orientada pelo Prof. Dr. em Biologia Animal Paulo Roberto Ramalho Silva, do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPI. Foram registradas 155 espécies de insetos predadores e parasitóides, distribuídos em 112 gêneros, 20 famílias e 07 ordens, sendo a família Carabidae a mais diversificada. Entre os insetos coletados, foram registradas 287 espécies fitófagas associadas à cana-de-açúcar, naquele município, distribuídas em 249 gêneros, 80 famílias e 09 ordens, sendo a ordem Coleoptera a mais diversificada e a família Scarabaeidae a mais numerosa. Nas coletas realizadas no município de União (PI), durante o período de 2006 e 2007, Rommel Tito informou que foram capturados 259.561 insetos, distribuídos em 576 morfo-espécies, 374 gê-

Rommel Tito Pinheiro Castelo Branco*

Paulo Roberto Ramalho Silva**

neros e 132 famílias, sendo por sua vez pertencentes a 16 ordens. Deste total, 233.176 indivíduos pertenciam a uma espécie de díptero da família Dolichopodidae, o que representou 89,83% do total dos insetos capturados. A espécie se encontrava no local devido à presença de cursos de água que se formam durante a estação chuvosa e à irrigação feita durante o período pós-corte da cana. A espécie Astaena sp foi a que apresentou maior número de indivíduos coletados entre os coleópteros, com 3.313 presentes em 44 das 52 coletas realizadas. Esta espécie surgiu como a mais representativa pela presença de irrigação com resíduo de vinhaça para elevar o teor de compostos nitrogenados e pela presença de tanques de vinhaça nas proximidades. As grandes extensões de áreas ocupadas pela monocultura canavieira, bem como as novas técnicas mecanizadas e colheita crua (sem queima) têm propiciado o aumento de insetos nocivos, que

ocasionam prejuízos. “Moscas d'água que são encontradas por conta da irrigação; besouros escaravelhos, que estão presentes por conta do vinhoto adicionado na água da irrigação, formigas argentinas, que são onívoras; e possíveis predadores de pequenos insetos, como pulgões, formiga de fogo, esta uma predadora voraz de pequenos animais, inclusive vertebrados”, destacou Rommel Tito sobre os nomes populares de alguns insetos encontrados. “A pesquisa deixa importantes resultados que poderão subsidiar futuras pesquisas. Esta cultura apresenta um grande número de insetos-pragas, podendo ultrapassar 1.500 espécies em todo o mundo. No Brasil, mais de 12 espécies de cupins já foram identificadas como pragas das raízes para a cultura da cana-de-açúcar, sendo que as mesmas podem causar prejuízos superiores a 10 toneladas por hectare no ano”, informou Paulo Ramalho. Dentre as espécies de cupins, os gêneros

mais importantes são Amitermes, Cylindrotermes e Nasutitermes, no Nordeste. Outra praga das raízes igualmente importante é o Migdolus frianus, um besouro da família Vesperidae que, em sua fase larval, destrói o sistema radicular de várias culturas, entre elas a cana. Além das dificuldades normais de controle de qualquer praga de solo, o desconhecimento de várias fases do ciclo desse coleóptero complica ainda mais o seu combate. As pragas que proporcionam os maiores prejuízos na cultura da cana são as brocas do colmo Lepidoptera (Crambidae), do gênero Diatraea. O principal prejuízo é causado pela ação de fitopatógenos, como o Fusarium moniliforme e Colletotrichum falcatum, que penetram pelos orifícios feitos pelas lagartas, causadores das podridões de fusário e podridão-vermelha, respectivamente, responsáveis pela inversão e perda de sacarose. Com distribuição bem mais restrita, é a broca gigante Castnia licus que tem provocado prejuízos que podem ultrapassar 60% em muitos canaviais do Nordeste. Outra praga citada no estudo são as cigarras Mahanarva fimbriolata e M. posticata, devido à prática cada vez mais freqüente do corte da cana crua (sem queima), de acordo com estudos já registrados na literatura. Estes insetos sugam a seiva, ocasionando a queima das folhas e podendo causar o definhamento do colmo. Luiz Pianowski *Mestre emFrancisco Agronomia na UFPI Coordenador da Pesquisa com rommeltito@bol.com.br o AM10 e AM11 **Prof. Dr.luiz@pianowski.com.br do Depto. de Fitotecnia – CCA UFPI pramalho@ufpi.br


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traça o perfil das quebradeiras A

pesar de variadas utilidades que podem ser extraídas desde a palha da árvore até o fruto do babaçu, muito pouco se tem pesquisado sobre a utilização do vegetal encontrado em maior abundância no Nordeste do Brasil. O babaçu ainda é visto como uma cultura marginalizada, predominando no sistema de subsistência. Sua exploração predomina em municípios do interior do Piauí e do Maranhão, Tocantins e Pará, onde milhares de famílias sobrevivem da extração da amêndoa, através do trabalho manual da sua quebra, comumente feito pelas quebradeiras de coco. Pouco se sabe sobre faturamento, formas de exploração, quantidade de amêndoas extraídas através do trabalho artesanal das quebradeiras, que, em sua grande maioria é vendida para os atravessadores que se encarregam de fornecer para os comerciantes para a produção de óleo, azeite, sabão, entre outros produtos. Um dado geral divulgado pelo IBGE, em 2007, mostrou que naquele ano o babaçu rendeu R$ 113 milhões, com uma produção de 114.874 toneladas. Estima-se que existam mais de 400 mil quebradeiras de coco, numa área de 18,5 milhões de hectares no Brasil. A exploração dos recursos vegetais para sobrevivência feita pelo homem é objeto de interesse do Governo Federal, que através do Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou em 2009 o Plano Nacional das Cadeias Produtivas da Sociobiodiversidade, com o objetivo de potencializar economicamente a castanha-do-pará, o babaçu e outros produtos da natureza. Nesse contexto, está sendo realizada no Piauí uma pesquisa junto às famílias que sobrevivem da exploração do babaçu, especialmente na região dos Cocais. A coleta de dados com as quebradeiras é executada pela GTZ, agência

alemã sem fins lucrativos de cooperação técnica internacional para o desenvolvimento sustentável. A GTZ apóia o governo alemão na concretização dos objetivos por ele almejados em sua política de desenvolvimento econômico, ecológico e social e apóia reformas e processos de mudança social. O governo brasileiro é parceiro econômico da Alemanha e, partindo de interesses comuns, a GTZ auxilia o Governo Federal no combate ao avanço das mudanças climáticas e a garantir o fornecimento de energia, por meio do uso sustentável das florestas tropicais. Através do MMA e do Ministério do Desenvolvi-

mento Agrário (MDA), a agência já atuou com outras cadeias produ-

Quebradeira de coco de assentamento no município de São João do Arraial

tivas, como a do leite, do biodiesel, da castanha do Pará e do buriti. O relatório ficará pronto no mês de julho deste ano. Depois, será repassado para órgãos do governo, universidades e empresários do setor. O Incra e a Fundação Banco do Brasil apoiaram a pesquisa, que terá um custo de mais de R$ 100 mil. A pesquisa essencialmente é voltada para conhecer o perfil das famílias e como se dá a extração e a venda do babaçu pelas quebradeiras de coco em 12 municípios da região Norte do Estado, onde está a maior área nativa de babaçu. Técnicos contratados pela agência fazem entrevista presencial juntos às famílias das quebradeiras, através de questionário e em seguida os dados serão tabulados para a produção do relatório final. Cerca de 15 mil famílias de quebradeiras estão sendo entrevistadas. A coordenadora da pesquisa é a pernambucana Rejane Tavares, que possui mestrado em Administração Rural pela UFRPE e é contratada da GTZ. Os municípios foco da pesquisa são: Barras, Batalha, Esperantina, Matias


Olímpio, São João do Arraial, Porto, Nossa Senhora dos Remédios, Madeiro, Joca Marques, Campo Largo, Luzilândia e Morro do Chapéu. Por falta de recursos e tempo hábil, alguns municípios ficaram de fora, entre eles União, Miguel Alves e Cabeceiras. “A GTZ atua no Nordeste há mais de 30 anos e visa inserir a agricultura familiar em mercados mais dinâmicos. Sua ação é voltada para aproximar agricultores familiares de empresas privadas para que se estabeleçam formas de contratações diferentes, de ajuda mútua, em um ambiente onde se firmem contratos que permitam ganhos bilaterais. Tudo dentro de uma nova perspectiva de visão de mercado, de responsabilidade social, de inclusão social e é dentro dessa perspectiva que iniciamos o nosso trabalho com as quebradeiras de coco”. Rejane informou que a proposta do trabalho era o de aproximar empresas que tenham o perfil de responsabilidade social e de compromisso com o desenvolvimento sustentável, que utilizem a amêndoa ou o óleo do babaçu no seu processo de produção -, com as quebradeiras de coco. “A GTZ identificou empresas em São Paulo, no Maranhão e no próprio Piauí. Só que nesse trabalho esbarramos com uma série de dificuldades, como a falta de informação sobre o pro-

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cesso produtivo, sobre a quantidade de mulheres que trabalham nesse processo, a sua capacidade de produção manual, para onde era levada a amêndoa por elas extraída, a casca, o carvão e os demais subprodutos do babaçu. Então, essas informações precisas não existiam. Há estudos macro, desenvolvidos pelo Ministério do Meio Am-

“ ”

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As mulheres quebradeiras vivem em situação de miséria, caraterizando a exploração do mercado

biente, que trabalha a cadeia do babaçu como um todo, caracterizando desde o Maranhão, Tocantins, Piauí, Pará, mas não chegando a esse nível de conhecimento e de cadastramento das mulheres, para um processo posterior de negociação com empresas”, esclareceu. O trabalho de aproximação entre quebradeiras de coco e empresas visa a que as famílias também façam parte do processo em alguns níveis de beneficiamento da produção, para agregar valor ao produto e principalmente restabelecer uma relação direta, na qual as mulheres passem a ter acesso, sem intermediadores, ao dinheiro da venda da amêndoa. “O que observamos na maioria dos municípios é que elas fazem todo o trabalho duro e manual e em vez de venderem o produto o que existe é a troca da amêndoa por alimentos. Nesse

contexto, elas e suas famílias vivem numa situação de miséria, caracterizando a exploração do mercado. Muitas mulheres são analfabetas e os índices são alarmantes, chegando a mais de 60% das entrevistadas”. Rejane disse que na pesquisa constatou que mesmo quando há a venda direta da amêndoa do babaçu pelas quebradeiras, o preço é inferior ao estabelecido pelo Governo Federal, no qual o quilo da amêndoa deve ser vendido pelo preço mínimo de R$ 1,46. “Através da proposta da Lei do Babaçu (ainda a ser sancionada), as mulheres que venderem a amêndoa com preço inferior a R$ 1,46, podem procurar a Conab para receber a diferença, mas no Piauí nenhuma mulher tem acesso a esse trâmite, por falta de informação mesmo. Para que elas tenham acesso a esse mecanismo, é necessário que estejam organizadas, que tenham a nota fiscal para comprovar que fez a venda, precisa de um cadastro que atesta que ela é uma agricultora familiar, entre outros requisitos”, explicou. Rejane espera que com a pesquisa, que fornecerá um banco de dados com todas as informações sobre as quebradeiras e como se dá o seu modo de vida e de produção, possa subsidiar políticas públicas voltadas para esse grupo produtivo. “O nosso trabalho não encerra na pesquisa. Nós temos toda uma estratégia de continuidade do processo de organização de grupos produtivos. A ideia é organizar essas mulheres por comunidade, discutir com elas

qual será o melhor formato legal para a sua organização, se é associação, cooperativa. No caso da cooperativa, depende do nível de maturidade do grupo, não adianta criar uma cooperativa, sem que elas estejam preparadas para gerenciar. É necessário preparar mulheres e jovens para que se transformem em empreendedores. Nesse processo, nós capacitamos alguns filhos de quebradeiras para atuarem na pesquisa e esse trabalho foi de fundamental importância, pela linguagem de aproximação, o que minimizou as barreiras”. O PERFIL – O município de Barras foi onde concentrou o maior número de quebradeiras, segundo o levantamento da GTZ, embora os números da pesquisa ainda não estejam disponíveis. Os municípios de Porto e Nossa Senhora dos Remédios também foram os que mais predominaram na atividade. Os dados preliminares mostram que as mulheres quebradeiras de coco no Piauí são jovens, entre 20 a 45 anos, e que sobrevivem de um trabalho pesado e sem condições mínimas de garantias para o futuro. Luiz Francisco Pianowski Rejane Tavares Coordenador da Coordenadora da GTZPesquisa no Piauí com o AM10 e AM11 rejanetavares@yahoo.com.br


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